Original Article / Artigo Original Areias SF, Sousa MIA, Paulino CA Lactose e Parabenos em Formulações Medicamentosas Orais Utilizadas Por Idosos Vestibulopatas Lactose and Parabens in Oral Medicines Formulations Used by the Elderly Sandra Faustino Areiasa; Maria Isabel de Araújo Sousaa; Célia Aparecida Paulinob* a Universidade Anhanguera de São Paulo, Campus Maria Cândida, SP, Brasil Universidade Anhanguera de São Paulo, Programa de Mestrado Profissional em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social, SP, Brasil b *E-mail: [email protected] Resumo As doenças vestibulares são comuns na população idosa e podem ocorrer em associação com outras doenças, levando ao maior consumo de medicamentos e risco de reações adversas provocadas por todos os componentes das formulações medicamentosas. Este estudo identificou a presença dos excipientes lactose e parabenos contidos em medicamentos utilizados por idosos com vestibulopatias. Para isso, foram utilizadas as informações de 100 idosos da comunidade com queixas vestibulares. Foram levantados os medicamentos em uso e identificados os excipientes das formulações orais. Sobre a amostra, 80% eram mulheres, 30% tinham entre 66 e 70 anos de idade e todos apresentavam alguma queixa vestibular. A lactose e os parabenos foram os excipientes mais frequentes. A lactose estava presente em medicamentos de 80% dos idosos, dos quais 61% usavam duas ou mais formulações concomitantes. Ainda, 43% utilizavam medicamentos contendo metilparabeno ou propilparabeno. Nas formulações contendo lactose foram mais frequentes os fármacos com ações anti-hipertensiva, antivertiginosa e diurética; naquelas contendo parabenos, ações antiulcerosa, antivertiginosa e repositora de cálcio. Além das queixas preexistentes, esses idosos vestibulopatas podem apresentar efeitos adversos causados pela lactose e parabenos em graus variados, sobretudo, pacientes intolerantes ou mais sensíveis a tais excipientes. A lactose pode causar flatulência, dor abdominal e até diarreia, desidratação, alergia, entre outras reações. Os parabenos podem causar urticária, dermatite de contato e até engioedema. Um tratamento criterioso e mais seguro impõe maior atenção e orientação quanto aos excipientes farmacêuticos presentes nos medicamentos, sobretudo a pacientes idosos em uso contínuo e prolongado de múltiplos medicamentos, alguns dos quais contendo lactose e parabenos. Palavras-chave: Excipientes Farmacêuticos. Lactose. Parabenos. Doenças Vestibulares. Saúde do Idoso. Abstract Vestibular disorders are common in the elderly and may occur in association with other diseases, leading to a higher consumption of medications and risk of adverse reactions caused by all components of drugs formulations. This study identified the excipients lactose and parabens contained in drugs used by the elderly with vestibular disorders. Information of 100 elderly patients from the community with vestibular complaints was used. Medicines used were raised and the excipients of oral formulations were identified. About the sample, 80% was women, 30% was aged between 66 and 70 years old and all of them presented some vestibular complaints. Lactose and parabens were the most common excipients. Lactose was present in medications of 80% of the elderly, from which 61% was using two or more concomitant formulations. Moreover, 43% of drugs contained methylparaben or propylparaben. In the formulations containing lactose the drugs with antihypertensive action, anti-vertigo and diuretic were the most frequent; those with parabens were antiulcer action, anti-vertigo and calcium replenisher. In addition to the pre-existing complaints, elderly patients can show adverse effects caused by lactose and parabens in varying degrees, mainly those who are intolerant or sensitive to such excipients. Lactose can cause flatulence, abdominal pain and even diarrhea, dehydration, allergy, among other reactions. Parabens can cause urticaria, contact dermatitis and even angioedema. A judicious and safer treatment requires more attention and guidance on pharmaceutical excipients present in drugs, mainly to elderly patients in continuous and prolonged use of multiple medications, some of which containing lactose and parabens. Keywords: Pharmaceutical Excipients. Lactose. Parabens. Vestibular Diseases. Health of the Elderly. 1 Introdução O envelhecimento é um processo natural, mas está relacionado ao aparecimento de doenças e alterações das atividades da vida diária1. Por isso, as doenças crônicas e as limitações da capacidade física, comuns entre os idosos, exigem cuidados especiais com a saúde2. De fato, melhorar a qualidade de vida durante o envelhecimento depende de um diagnóstico precoce das doenças crônicas - evitando o aparecimento de complicações -, da demonstração ao paciente sobre a importância do cuidado 34 à saúde e do estabelecimento das terapias adequadas3. Os distúrbios do equilíbrio corporal (vestibulopatias) são comuns na população idosa e levam a sintomas como: tontura, vertigem, zumbido, perda auditiva, perda da visão e outros sinais e sintomas. Desequilíbrio emocional, grande variedade de doenças crônicas, uso contínuo de medicamentos também favorecem o aparecimento das disfunções vestibulares4. Os distúrbios do equilíbrio não podem ser tratados de forma isolada, pois se outras doenças estiverem em desequilíbrio afetando o sistema vestibular, o tratamento Rev. Equilíbrio Corporal Saúde, v. 6, n. 2, p. 34-39, 2014 Lactose e Parabenos em Formulações Medicamentosas Orais Utilizadas Por Idosos Vestibulopatas não terá eficácia5. Cada vez mais há pessoas apresentando distúrbios no sistema vestibular, principalmente as que estão acima dos 65 anos6. A falta de equilíbrio corporal no idoso faz parte da chamada síndrome geriátrica, situação que envolve a ocorrência de diversas doenças, além dos efeitos adversos das medicações utilizadas para o seu tratamento7. De fato, comparados com os jovens, os idosos são os que mais utilizam medicamentos, exigindo uma maior atenção quando da realização dos seus respectivos tratamentos8. Segundo Rozenfeld9, como os idosos fazem uso de vários medicamentos, é crescente a quantidade de reações adversas relacionadas à farmacoterapia. As formulações medicamentosas são os meios pelos quais o fármaco (ou princípio ativo) dos medicamentos pode alcançar seu alvo farmacológico no organismo. Para que isto aconteça, são adicionados às formulações os excipientes farmacêuticos, substâncias que permitem conservar, assegurar estabilidade, evitar crescimento de microrganismos durante o armazenamento, deixar o sabor mais agradável às substâncias químicas, tornar o fármaco solúvel, misturar substâncias imiscíveis, entre outras funções10. De acordo com Lass et al.11, os excipientes farmacêuticos são substâncias que compõem o medicamento e, embora tenham pouco ou nenhum valor terapêutico, são essenciais para a sua fabricação, composição, armazenamento etc., a fim de serem garantidas certas propriedades químicas e farmacológicas, tais como: a solubilidade do fármaco, sua biodisponibilidade e a estabilidade da forma farmacêutica. Existem diferentes tipos de excipientes farmacêuticos, de acordo com a finalidade farmacotécnica. Assim, as formulações medicamentosas para uso interno podem conter os seguintes excipientes: conservantes, corantes, aromatizantes (flavorizantes), adoçantes (edulcorantes), espessantes, emulsificantes, estabilizantes ou antioxidantes12,13. Todos os excipientes podem, eventualmente, causar algum tipo de reação indesejável no organismo; entretanto, como são utilizados em concentrações baixas, essas reações adversas não são tão comuns e podem ser erroneamente atribuídas ao(s) fármaco(s) contido(s) no medicamento13. De todo modo, como nem sempre é possível evitar os excipientes contidos nas formulações medicamentosas a serem utilizadas, é importante o acesso às informações que permitam aos profissionais de saúde avaliar os riscos e monitorar os pacientes que forem vulneráveis aos efeitos adversos desses componentes11. Portanto, o objetivo deste estudo foi o de investigar os excipientes lactose e parabenos presentes nas formulações orais de medicamentos utilizados por idosos vestibulopatas. O estudo fez parte de uma pesquisa mais ampla aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (Protocolo nº 146/10). Os dados foram coletados no Laboratório de Estudos e Pesquisas do Programa de Mestrado em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da Universidade Anhanguera de São Paulo, campus Maria Cândida, em São Paulo. A amostra do estudo foi constituída pelas informações de 100 idosos com queixas vestibulares e frequentadores do referido Laboratório de Estudos e Pesquisas, dos quais foram coletados os dados sociodemográficos (idade, gênero e escolaridade), as queixas vestibulares principais e os medicamentos em uso pelos idosos vestibulopatas do estudo. Todos os medicamentos em uso pelos idosos foram levantados, e seus fármacos foram identificados e classificados com auxílio de material bibliográfico de referência em farmacologia e terapêutica, sobretudo o Dicionário de Especialidades Farmacêuticas - DEF (2012/2013), a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME (2010), a Lista de Medicamentos de Referência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (2012) e o Bulário Eletrônico - ANVISA (2013). Somente os medicamentos de uso oral tiveram seus excipientes farmacêuticos identificados por meio do Bulário Eletrônico - ANVISA (2013). Os dados obtidos foram agrupados e tabulados, sendo posteriormente submetidos a uma análise descritiva, com apresentação dos resultados em frequências absolutas e relativas. 3 Resultados e Discussão O estudo reuniu informações sociodemográficas e de saúde de 100 idosos vestibulopatas da comunidade, em uso de diferentes tipos de medicamentos por via oral. Todos os idosos do estudo apresentavam alguma queixa vestibular, e as mais frequentes foram: tontura, vertigem e zumbido. O Gráfico 1 ilustra a distribuição percentual de idosos vestibulopatas avaliados na pesquisa, segundo o gênero. A Tabela 1 apresenta a distribuição desses idosos, de acordo com a faixa etária e o gênero, sendo 85 mulheres (85%) e 15 homens (15%). Gráfico 1: Distribuição percentual de idosos vestibulopatas segundo o gênero 2 Material e Métodos Foi realizado estudo descritivo e retrospectivo com dados secundários de uma amostra de idosos vestibulopatas provenientes da comunidade. Rev. Equilíbrio Corporal Saúde, v. 6, n. 2, p. 34-39, 2014 Fonte: Dados da pesquisa. 35 Areias SF, Sousa MIA, Paulino CA Tabela 1: Distribuição dos idosos vestibulopatas por faixa etária e gênero Faixa Etária (Anos) Mulheres (n) (%) Homens (n) (%) (n) Total 65 20 24 3 20 23 23 66 - 70 24 28 6 40 30 30 71 - 75 20 24 2 13 22 22 17 (%) 76 - 80 13 15 40 27 17 81 - 85 7 8 - - 7 7 ≥ 86 1 1 - - 1 1 Total (N=100) 85 100 15 100 100 100 Fonte: Dados da pesquisa. De todos os excipientes, foram identificados os mais frequentes: a lactose e os parabenos (metil e propilparabeno). O Gráfico 2 ilustra o percentual de idosos que utilizavam medicamentos contendo os excipientes farmacêuticos: 80% (lactose), 24% (metilparabeno) e 19% (propilparabeno). Gráfico 2: Distribuição percentual dos excipientes lactose e parabenos em formulações de medicamentos em uso pelos idosos vestibulopatas Fonte: Dados da pesquisa. A maior quantidade de formulações medicamentosas do estudo apresentava o excipiente lactose e muitos idosos utilizavam um ou mais desses medicamentos, aumentando a sua exposição a esse excipiente. O Quadro 2 apresenta tais resultados. Quadro 2: Quantidade de medicamentos em uso contendo o excipiente lactose e frequência de idosos vestibulopatas expostos à lactose desses medicamentos Quantidade de medicamentos em uso contendo lactose (n.º) Frequência de idosos expostos à lactose dos medicamentos em uso (n.º) (%) 1 31 39 2 21 26 3 25 31 ≥4 3 4 Fonte: Dados da pesquisa. Diferentes fármacos foram identificados nas formulações medicamentosas orais contendo lactose e parabenos. Nas formulações com lactose foram mais frequentes: captopril e enalapril (anti-hipertensivos), hidroclorotiazida (diurético), cinarizina, betaistina e Ginkgo biloba (antivertiginosos). Nas 36 formulações com parabenos foram: omeprazol (antiulceroso), cálcio (tratamento de osteopenia/osteoporose), dimenidrinato (antivertiginoso). A pesquisa identificou grande número de idosos que apresentavam algum sintoma ao equilíbrio corporal e que utilizavam algum tipo de medicamento. Neste sentido, de acordo com Ruwer et al.14, o envelhecimento traz alterações funcionais e estruturais ao organismo que resultam em doenças, dentre as quais os distúrbios do equilíbrio corporal, frequente em idosos. O estudo também mostrou que 85% dos idosos pesquisados e vestibulopatas eram mulheres. A maior presença de mulheres vestibulopatas idosas já foi descrita em outros estudos15-18. Ainda, segundo Paulim et al.19, as variações hormonais e as alterações no metabolismo contribuem para a maior frequência de distúrbios do equilíbrio corporal em mulheres. Foi possível observar que a maioria dos idosos tinha de 60 a 92 anos e fazia uso de vários medicamentos para tratar suas doenças crônicas. De fato, os idosos são os indivíduos que mais consomem medicamentos na população8. Para Ganança et al.20, o tratamento medicamentoso das doenças vestibulares traz bons resultados terapêuticos em pacientes vestibulopatas, além dos exercícios de reabilitação e das mudanças no estilo de vida; a terapia medicamentosa Rev. Equilíbrio Corporal Saúde, v. 6, n. 2, p. 34-39, 2014 Lactose e Parabenos em Formulações Medicamentosas Orais Utilizadas Por Idosos Vestibulopatas correta para cada sintoma é fundamental para restaurar o conforto desses pacientes. De todo modo, aqueles os quais apresentam doenças vestibulares e fazem uso da farmacoterapia devem ter seus sinais e sintomas monitorados para uma eventual intervenção sobre os efeitos adversos que possam surgir21. Neste sentido, é importante que o cuidado terapêutico seja ainda maior em pacientes idosos, pois, do ponto de vista farmacológico, os processos de absorção, biotransformação e excreção dos componentes dos medicamentos são mais lentos, quando comparados ao organismo de uma pessoa mais jovem. Importante destacar que, em muitas situações, há disfunções nos sistemas hepático e renal dos idosos que alteram de modo relevante a farmacocinética22. Entre os diferentes excipientes dos vários tipos de medicamentos utilizados pelos idosos do estudo foram selecionados aqueles mais frequentes nas formulações e que podem causar reações adversas, destacando-se assim a lactose e os parabenos. Segundo Castro et al.23, apesar da possibilidade de causar algum tipo de reação adversa, os excipientes são utilizados nos produtos farmacêuticos por razões farmacotécnicas; isso quer dizer que essas substâncias são importantes para que o fármaco alcance seu alvo celular e promova sua ação farmacológica. Como constituintes das formulações farmacêuticas, os excipientes garantem a estabilidade química e as propriedades físico-químicas, organolépticas e biofarmacêuticas; em relação à farmacodinâmica, geralmente os excipientes são considerados inertes, ou seja, não interferem na ação do princípio ativo ou fármaco24. Todavia, apesar dos excipientes serem considerados sem atividade terapêutica (ingredientes inertes ou inativos), quando são adicionados às formas farmacêuticas podem influenciar no resultado da ação do fármaco e, ainda, podem até interagir com outros excipientes; sua ação tóxica pode ser aumentada em função da idade ou devido à presença de certas doenças crônicas dos pacientes25. São poucos os estudos citados na literatura a respeito dos efeitos dos excipientes presentes nas formulações medicamentosas26. Em uma revisão de Araújo e Borin25, as autoras relatam que os excipientes não podem ser considerados totalmente inertes, uma vez que podem causar reações adversas por diferentes mecanismos de ação, e as equipes de saúde normalmente subnotificam tais casos em razão de desconhecimento sobre o problema. Este estudo mostrou que os idosos vestibulopatas, na sua maioria mulheres de faixa etária entre 66 a 70 anos, utilizavam medicamentos contendo lactose e/ou parabenos na sua formulação. A lactose estava presente em 80% dos medicamentos em uso e os parabenos em 43%. Apenas alguns poucos medicamentos continham na mesma formulação os dois excipientes. A lactose estava presente de modo mais frequente em Rev. Equilíbrio Corporal Saúde, v. 6, n. 2, p. 34-39, 2014 formulações contendo alguns fármacos muito usuais entre os idosos, tais como: enalapril e captopril (anti-hipertensivos) e hidroclorotiazida (diurético), assim como formulações contendo alguns fármacos com ação antivertiginosa, como: betaistina, cinarizina e Ginkgo biloba. Ressalte-se que todos esses fármacos são comumente utilizados no tratamento de idosos, em especial aqueles acometidos de doenças vestibulares e suas comorbidades. A lactose é um açúcar amplamente utilizado como edulcorante, estabilizante ou diluente nas formulações de medicamentos25,26. Na indústria farmacêutica a lactose é usada para ajudar a dar forma aos comprimidos, uma vez que tem excelente capacidade de reduzir seu volume quando é submetido à pressão, além de dissolver na água com facilidade25. A lactose pode ser apresentada como lactose hidratada, lactose anidra, lactose monoidratada ou lactose seca por pulverização27. Na população, há indivíduos que reagem mal à lactose, manifestando alergia ou intolerância. O grau de sensibilidade à lactose é muito variável entre os indivíduos com intolerância a este açúcar; de todo modo, podem ocorrer manifestações clínicas que variam desde a ausência de sintomas até eritema e diarreia grave28. De acordo com Stefani et al.26, as pessoas que apresentam deficiência da enzima lactase, importante para a transformação da lactose, são diagnosticadas como intolerantes à lactose e podem apresentar sintomas como: aumento no número de evacuações, aumento da produção de gases intestinais e dores abdominais; também pode ocorrer reação alérgica com manifestação de manchas ovais na pele. A deficiência da enzima lactase dificulta a hidrólise da lactose no organismo e pode causar reações adversas pela formação de ácido lático pelas bactérias intestinais ou formação de dióxido de carbono e gás hidrogênio pelas bactérias fermentadoras. Isso provoca, sobretudo, flatulência e dor estomacal, podendo ocorrer também, em casos mais graves, dor de cabeça, cãimbras musculares e, ainda, quando não absorvida, a lactose pode impedir a reabsorção de água e causar diarreia24,25. Em concordância, para Ursino et al.24, as reações adversas provocadas pela lactose são atribuídas à intolerância à lactose, comum em indivíduos com deficiência da lactase intestinal, nos quais qualquer quantidade de lactose ingerida não é completamente hidrolizada, levando à maior produção de gases intestinais e outras substâncias. Além disso, de acordo com Stefani et al.26, pode ocorrer reação alérgica com uma ou mais manchas ovais na pele, desidratação e excesso de acidez no sangue. Neste estudo, é importante destacar que 80% dos idosos vestibulopatas faziam uso de medicamentos que continham lactose e 61% deles estavam expostos à lactose pelo uso concomitante de 2 ou mais medicamentos contendo este excipiente, o que poderia representar um risco maior para aqueles mais sensíveis ou intolerantes à lactose. 37 Areias SF, Sousa MIA, Paulino CA Estudo comparativo para se analisar diferenças entre os 98 produtos medicinais de uso oral comercializados em diferentes países revelou que a lactose e os parabenos estavam entre os 11 excipientes com impacto sobre a segurança desses produtos; também não houve diferença entre os países pesquisados24. O estudo também mostrou que os parabenos (metil e propilparabeno) estavam presentes em 43% das formulações utilizadas pelos idosos vestibulopatas do estudo. Esses excipientes são utilizados como conservantes antifúngicos nos produtos medicamentosos10. Os fármacos mais frequentemente encontrados nos medicamentos contendo parabenos foram: omeprazol (antiulceroso), cálcio (para tratamento de osteopenia/ osteoporose) e dimenidrinato (antivertiginoso), todos muito usuais na terapêutica de idosos, com destaque para o dimenidrinato, utilizado no tratamento de idosos com vestibulopatias. A associação de metilparabeno e propilparabeno, comum em muitas formulações medicamentosas, pode aumentar a ocorrência de reações adversas em graus variados, ou seja, ela pode ser leve, moderada ou grave, sobretudo as reações de hipersensibilidade, que podem ser explicadas pelo fato dos parabenos serem convertidos em ácido para-hidroxibenzoico, que possui estrutura relacionada ao ácido acetilsalicílico29. Geralmente, o uso tópico de medicamentos contendo parabenos induz reações de hipersensibilidade do tipo retardadas, que aparecem como uma dermatite de contato; todavia, após o uso oral dessas substâncias, reações alérgicas também foram observadas24. No que se refere às reações dérmicas, é relatado que os parabenos podem causar urticária, dermatite de contato e até angioedema em indivíduos com intolerância aos salicilatos30. No estudo de Silva et al.10, foram avaliados 12 produtos amplamente comercializados no mercado brasileiro e identificados os excipientes da fórmula farmacêutica dos produtos, dos quais nove eram possíveis causadores de reação adversa - entre eles, o metilparabeno e o propilparabeno. Para os autores, os prescritores devem analisar cuidadosamente a relação de causalidade entre o medicamento e a reação adversa suspeita, já que a causa da reação pode ser o excipiente e não o fármaco. Além de tudo, um estudo com pacientes idosos e não idosos antes da admissão hospitalar mostrou que o número de diagnósticos aumenta com a idade, e que, comparadas com os homens, as mulheres apresentavam mais reação adversa a medicamento, uma característica relatada em outros estudos. Foi destacado que, segundo a Organização Mundial da Saúde, reação adversa a medicamento é qualquer evento nocivo e não intencional que ocorreu na vigência do uso de um medicamento utilizado com finalidade terapêutica, profilática ou diagnóstica, em doses normalmente recomendadas31. Na prática clínica, os efeitos adversos são frequentemente atribuídos, de forma equivocada, ao princípio ativo do medicamento, sem se considerarem as ações dos excipientes. 38 Dessa forma, é fundamental que seja feita uma abordagem mais adequada durante a avaliação dos casos suspeitos de reações adversas a medicamentos13. 4 Conclusão A presença de excipientes farmacêuticos, como a lactose e os parabenos, foi frequente em diferentes formulações orais de medicamentos e representam um risco para a saúde de idosos vestibulopatas, principalmente para aqueles que apresentam intolerância e maior sensibilidade a essas substâncias, sobretudo a lactose, e são usuários crônicos desses produtos. Um tratamento farmacológico criterioso e mais seguro envolve, também, uma maior atenção e orientação sobre os excipientes farmacêuticos presentes nos medicamentos, em especial quando envolve pacientes idosos, que normalmente fazem uso contínuo e prolongado de múltiplos medicamentos, alguns dos quais contendo a lactose e os parabenos. Referências 1. Fonseca AM, Paúl C. Saúde e qualidade de vida ao envelhecer: perdas, ganhos e um paradoxo. Rev Geriatr Gerontol 2008;2(1):32-7. 2. Carvalho JAM, Garcia RA. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfico. Cad Saúde Pública 2003;19(3):725-33. 3. Veras RP, Murphy E. The ageing of the third world: tackling the problems of community surveys. Part II: A community survey of the elderly population in Rio de Janeiro: a methodological approach. Int J Geriatr Psychiatry 1991;6(9):629-37. 4. Gazzola JM, Ganança FF, Aratani MC, Perracini MR, Ganança MM. Caracterização clínica de idosos com disfunção vestibular crônica. 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