Capítulo 4 Limites e assíntotas 4.1 Limite no ponto x−1 . Observe que esta função não é denida em x−1 x = 1. Contudo, fazendo x sucientemente próximo de 1 (mais não igual a 1), mais próximo de 2 ∈ R serão os valores de f . Com efeito, √ (x − 1)( x + 1) √ x−1 = x+1 ∀ x 6= 1 = f (x) = √ x−1 x−1 Considere a função f (x) = √ Neste caso, dizemos que f tem por limite 2 quando x tende para 1 e escrevemos √ lim f (x) = 2. Se denimos g(x) := x + 1, vemos que f e g coincidem quando x→1 x 6= 0, mas g é bem denido no ponto 1 e temos lim g(x) = 2 = g(1). Isso x→1 indica que g é contínua em 1. 4.1.1 Continuidade Denição 4.1. Dizemos que uma função f é contínua num ponto x0 quando as seguintes condições estão satisfeitas: a) f está denida em x0 (ou seja, x0 ∈ Df ) b) f (x) tem limite com x → x0 e esse limite é igual a f (x0 ): lim f (x) = f (x0 ) x→x0 Dizemos que f é contínua num intervalo I se ela for contínua em cada ponto de I. Proposição. Se f é derivável no ponto x0 então f é também contínua em x0 . Uma função derivável num intervalo I é contínua em I . Observação. Uma função pode ser continua num ponto sem ser derivável nele (cf. f (x) = |x|). 25 26 CAPÍTULO 4. Proposição. Sejam Então: LIMITES E ASSÍNTOTAS f e g duas funções contínuas num intervalo I e λ ∈ R. • f + g é contínua em I . • λ.f é contínua em I . • f.g é contínua em I . • Se além das hipóteses g não zera em I , então 1 f e são contínuas em I . g g Proposição. Se f é contínua num intervalo I e g contínua num intervalo J contendo f (I). Então f ◦ g é contínua em I . Exemplo. A raiz duma função racional f é contínua em todo intervalo contido no domínio: Df ∩ R∗+ . Pelas proposições acima, podemos dizer que todas funções com que lidaremos nesse curso serão contínuas em seu domínio (e mesmo, em geral deriváveis). As vezes, a falta de continuidade num ponto fora do domínio é articial. Como por exemplo a função f dada na introdução que não é contínua em x = 1 somente porque não está denida neste ponto. Porque não denir f em 1 como sendo igual a 2? Isto é perfeitamente natural e sempre que uma função tiver limite l quando x → x0 , é natural denir f em x0 como sendo esse limite: f (x0 ) := lim f (x). x→x0 Exemplos. • f (x) = x2 + 8x − 20 , x 6= 2; lim f (x) = 4 x→2 x2 − x − 2 • f (x) = x2 − 4 , x 6= 4; lim f (x) = 8 x→4 x−4 Mas em geral, um ponto não pertence ao domínio porque a função não tem um limite nito nesse ponto. 4.1.2 Limite innito Não sempre uma função tem um limite nito quando nos aproximamos de um 1 ponto dado. Observe o comportamento da função f (x) = (1+x) 2 quando x está próximo de −1 (mas não igual a −1). Vemos que quando x se aproxima cada vez mais de −1, f (x) cresce sem limitação. 4.1. 27 LIMITE NO PONTO Denição 4.2. Seja f (x) uma função denida em um intervalo aberto contendo a, exceto, possivelmente, em x = a. Dizemos que lim f (x) = +∞ x→a se sempre que x se aproxima de a, f (x) cresce indenidamente. De modo semelhante podemos denir lim f (x) = −∞ quando f (x) decresce x→a indenidamente. Exemplo. f (x) = x−1 ; lim f (x) = −∞ |x| x→0 4.1.3 Limites laterais Algumas funções exibem comportamentos diferentes em cada um dos lados de 1 um ponto a. Por exemplo, a função inversa não tem limite em 0, os valores x 1 não cabem em nenhuma das denições acima porque a função cresce quando x nos aproximamos de x = 0 pelo lado direito mas decresce se nos aproximamos pelo lado esquerdo. Por isso, aprimorando nossas denições, vamos considerar o limite à direita e o limite à esquerda de uma função num dado ponto. Denotando 0+ para signicar que x se aproxima de 0 por valores superiores e 0− para signicar que x se aproxima de 0 por valores inferiores, poderemos escrever 1 1 lim− = −∞ e lim+ = +∞. x→0 x x→0 x Denição 4.3. Seja f uma função e a um número real; λ pode ser um número real, −∞ ou +∞. Dizemos que λ é o limite à esquerda de f quando x tende para a, e escrevemos lim f (x) = λ x→a− se e só se a restrição de f a ] − ∞, a[ tem λ por limite em a. Denição 4.4. Dizemos que λ é o limite à direita de f quando x tende para a, e escrevemos lim f (x) = λ x→a+ se e só se a restrição de f a ]a, +∞[ tem λ por limite em a. Exemplo. Seja f (x) = de f . |x| . Determine lim− f (x) e lim+ f (x). Esboce o gráco x x→0 x→0 O limite denido as seções anteriores é dito limite bilateral. O limite bilateral existe se e só se os limites laterais existem e coincidem: lim f (x) = λ ⇔ lim− f (x) = λ = lim− f (x). x→a x→a x→a 28 CAPÍTULO 4. LIMITES E ASSÍNTOTAS Denição 4.5. Se o limite de f em a ou a+ ou a− é o innito, dizemos que a curva y = f (x) tem a reta x = a como assíntota vertical. Exemplo. O eixo vertical x = 0 é assíntota vertical da função inversa. 4.2 Limites no innito Denição 4.6. Seja [a; +∞[. f uma função denida ao menos num intervalo do tipo • Se quanto maior for x, f (x) cresce sem limitação, então dizemos que f tem por limite +∞ quando x tende por +∞ e escrevemos lim f (x) = +∞ x→+∞ (Rigorosamente: ∀M > 0, ∃A ∈ R tal que x ≥ A ⇒ f (x) ≥ M .) (explo: f (x) = x2 ) • Se quanto maior for x, f (x) decresce sem limitação, então dizemos que f tem por limite −∞ quando x tende por +∞ e escrevemos lim f (x) = −∞ x→+∞ (Rigorosamente: ∀M < 0, ∃A ∈ R tal que: x ≥ A ⇒ f (x) ≤ M .) (explo: f (x) = − x2 ) 2 • Se quanto maior for x, f (x) aproxima-se cada vez mais de do valor l, então dizemos que f tem por limite l quando x tende por +∞ e escrevemos lim f (x) = l x→+∞ (Rigorosamente: por qualquer intervalo I =]l − ε; l + ε[, ε ∈ R∗+ existe um número real A tal que x ≥ A ⇒ f (x) ∈ I .) Denição 4.7. Quando x→+∞ lim f (x) = l dizemos que y = f (x) tem a reta y = l por assíntota horizontal. Exemplo. A função inversa tem por assíntota horizontal o eixo horizontal y = 0, tanto no innito positivo, como no innito negativo. Exercício 4.1. Seja f uma função denida ao menos num intervalo ] − ∞; a] e l um número. Escreva as denições de lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ e lim f (x) = l. x→−∞ x→−∞ x→−∞ 4.3. 29 TÉCNICAS PARA CALCULAR LIMITES 4.3 Técnicas para calcular limites 4.3.1 Limites de funções usuais no innito O mais importante para nós é aprender alguns limites fundamentais. • As funções f (x) = +∞. √ x, f (x) = xn , log(x) e ex têm por limite +∞ em • No innito (+∞ ou −∞) todo polinômio admite um limite qual é a limite do seu monômio de maior grau. • No innito (+∞ ou −∞) toda função racional admite um limite qual é a limite do quociente dos monômios de maior grau so numerador e denominador. • As funções sen e cos não têm limite no innito (nem +∞ nem −∞). 4.3.2 Operações com limites nitos Suponha que lim representa um dos limites laterais lim− , lim+ , lim , lim ou x→a x→+∞ x→a x→a lim . Se existem l1 = lim f (x) e l2 = lim g(x) números reais, então: x→−∞ a) lim [f (x) + g(x)] = lim f (x) + lim g(x) = l1 + l2 b) lim [f (x) − g(x)] = lim f (x) − lim g(x) = l1 − l2 c) lim [f (x).g(x)] = lim f (x). lim g(x) = l1 l2 d) lim f (x) lim f (x) l1 = = , se l2 6= 0 g(x) lim g(x) l2 Exemplos. Ache x→0 lim tan x sen(2x) sen(3x) , lim , lim . x→0 x→0 (5x) x x 4.3.3 Limite e composição Cada letra a, λ1 e λ2 designa umnúmero real, −∞ ou +∞. Se f e g são duas funções contínuas que vericam lim f (x) = λ1 x→a lim g(x) = λ2 ; então lim g ◦ f (x) = λ2 . x→a x→λ1 Conseqüências: a) lim (f (x))n = (lim f (x))n b) lim p p n f (x) = n lim f (x), desde que lim f (x) ≥ 0 se n for par 30 CAPÍTULO 4. LIMITES E ASSÍNTOTAS c) lim [ln f (x)] = ln (lim f (x)), desde que lim f (x) ≥ 0 Exemplo. lim x→+∞ r 3x2 − 2 √ = 3 x2 − 1 4.3.4 Operações com limites innitos e indeterminações lim f (x) lim g(x) h(x) = lim h(x) +∞ +∞ f (x) + g(x) +∞ +∞ +∞ f (x) − g(x) indeterminado +∞ l f (x) + g(x) +∞ +∞ +∞ f (x).g(x) +∞ +∞ l 6= 0 f (x).g(x) ±∞ ±∞ 0 f (x).g(x) indeterminado l ±∞ f (x)/g(x) 0 ±∞ ±∞ f (x)/g(x) indeterminado +∞ l 6= 0 f (x)/g(x) ±∞ l 6= 0 0± f (x)/g(x) ±∞ 0 0 f (x)/g(x) indeterminado Os limites indeterminados precisem um estudo caso por caso. As indeterminações do tipo 0/0 são freqüentemente assimiláveis a derivadas. 4.3.5 Limites fundamentais Para tratar de certos limites indeterminados, aplicaremos os chamados limites fundamentais (dadas sem demonstrações). • ex = +∞, ∀n ∈ N x→+∞ xn lim 4.4. • 31 ESTUDO DO COMPORTAMENTO DAS FUNÇÕES lim x→+∞ • lim x→0 ln x = 0, ∀n ∈ N∗ xn sen(x) = 1 (demonstração no capítulo 3). x 4.3.6 Teoremas de comparação Teoremas de minoração, majoração Teorema 4.1. Sejam f , u e v funções denidas num intervalo do tipo [a, +∞[. • Se por x suciente grande temos f (x) ≥ u(x) e se então lim f (x) = +∞. lim u(x) = +∞, x→+∞ x→+∞ • Se por x suciente grande temos f (x) ≤ v(x) e se então lim f (x) = −∞. lim v(x) = −∞, x→+∞ x→+∞ Existe teoremas análogos para limites em −∞ e em a. Exemplos. a) Seja f (x) = −x + sen x, calcule lim f (x). x→+∞ b) Seja g(x) = √ 1 + x2 1 , calcule lim g(x). Dica: u(x) = 2 . x→0 x2 x Teorema do confronto Teorema 4.2. Sejam f , u e v funções denidas num intervalo do tipo [a, +∞[ e l um número real. Se por x suciente grande temos u(x) ≤ f (x) ≤ v(x) e se lim u(x) = lim v(x) = l, então lim f (x) = l. x→+∞ x→+∞ x→+∞ Existe teoremas comparaveis para limites em −∞ e em a. Exemplo. Seja f (x) = 1 + e v(x) = 1 + 1/x. sen x , calcule lim f (x). Dica: u(x) = −1 − 1/x x→+∞ x 4.4 Estudo do comportamento das funções 4.4.1 Assíntota obliqua Seja f uma função denida ao menos num intervalo do tipo [a, +∞) (resp. (−∞, a]) e δ uma reta de equação y = ax + b. Dizemos que δ é assíntota obliqua a f no innito positivo (resp. negativo) se lim [f (x) − (ax + b)] = 0. x→∞ 32 CAPÍTULO 4. LIMITES E ASSÍNTOTAS Geometricamente, a curva gráco de f vem aproximar-se cada vez mais da reta quando x tend para o innito. Exemplo. A reta x + 1 é assintota obliqua a curva y = innitos. x2 + x + 1 em ambos x 4.4.2 TVI, Rolle e valor médio Teorema do valor intermediário. Seja f uma função contínua num intervalo [a, b]. Então dado um número qualquer r entre f (a) e f (b), existe pelo menos um número c entre a e b, tal que r = f (c). Corolário. Se f é contínua em [a, b] e se f (a) e f (b) têm sinais opostos, então existe pelo menos um número c ∈ [a, b] tal que f (c) = 0. Exemplos. a) Mostre que x3 − 4x + 1 = 0 tem uma solução em [1, 2]. b) Seja P (x) um polinômio de grau impar, então P tem no mínimo uma raiz real. Corolário. Se f continua e estritamente monotonia num intervalo I ⊂ Df então f é uma bijeção em I . Demonstração. Já que f é injetiva, o TVI mostra que f é sobrejetiva. O teorema de Rolle, diz que se uma função derivável f , assume o mesmo valor em diferentes pontos a e b, então existe pelo menos um ponto do gráco de f , entre (a, f (a)) e (b, f (b)) = (b, f (a)), em que a reta tangente a ele é horizontal. y f (a) = f (b) x a b 4.4. ESTUDO DO COMPORTAMENTO DAS FUNÇÕES 33 Teorema 4.3 (Rolle). Se f é uma função contínua em [a, b] e derivável ]a, b[, com f (a) = f (b), então existe um ponto crítico de f em ]a, b[. Tem a seguinte interpretação dinâmica: se, num movimento retilíneo, um ponto retorna, num instante t1 à posição inicial, ocupada no instante t0 < t1 , então há um instante τ , t0 < τ < t1 , quando sua velocidade é nula. O teorema de Rolle dá condições apenas de existência de pontos críticos, não fornece nenhum método para determiná-los. Também não há, em geral, unicidade desses pontos. O Teorema do Valor Médio é uma generalização do Teorema de Rolle. Teorema 4.4 (do Valor Médio). Se f é uma função contínua em [a, b] e derivável em ]a, b[, então existe c ∈]a, b[ tal que f (b) − f (a) = f ′ (c)(b − a). 4.4.3 Tabela de variações Ao acrescentar a tabela de variação com o estudo dos limites de f no bordo do seu domínio (e então determinar assíntotas eventuais), essa tabela nos fornece um esquema bastante preciso do gráco de f . 34 CAPÍTULO 4. LIMITES E ASSÍNTOTAS