UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS EMULSIONADOS LIPÍDICOS CONTENDO PRAZIQUANTEL AUTOR DISCENTE: MARGARETE MORENO DE ARAUJO Natal – RN 2013 Margarete Moreno de Araujo PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS EMULSIONADOS LIPÍDICOS CONTENDO PRAZIQUANTEL Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRN como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Arnóbio Antônio da Silva Júnior Coorientadora: Dra. Ana Luiza Porpino Fernandes Caroni Natal – RN 2013 MARGARETE MORENO DE ARAUJO PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SISTEMAS EMULSIONADOS LIPÍDICOS CONTENDO PRAZIQUANTEL Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFRN como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Comissão Examinadora: ______________________________________________________ Prof. Dr. Arnóbio Antônio da Silva Júnior (Orientador) - UFRN ______________________________________________________ Prof. Dr. José Luís Cardozo Fonseca - UFRN ______________________________________________________ Prof. Dr. Victor Hugo Vitorino Sarmento – UFS Dedico esse trabalho aos meus pais Daniel e Lurdinha, e às minhas irmãs, Magnollya, Magda e Magally. Amo muito vocês, esse trabalho é fruto de tudo que me ofereceram. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente ao meu bom Deus que nunca me abandonou e sempre me deu forças nos momentos mais difíceis. Aos meus pais, Daniel e Lurdinha, que nunca mediram esforços em oferecer a mim e a minhas irmãs segurança, apoio, carinho e todo empenho em nos garantir a melhor educação, tanto acadêmica como moral. Não há como expressar toda minha felicidade e orgulho em dedicar este trabalho a vocês, como forma de agradecimento a todo o amor dado. Agradeço às minhas irmãs queridas, Magnollya, Magda e Magally, por sempre estarem comigo, apesar da distância, dando-me toda força e apoio que precisei. À minha família agradeço por toda confiança depositada. A vocês meu eterno agradecimento e amor. Ao meu orientador Prof. Dr. Arnóbio Antônio da Silva Júnior, por me orientar sempre com dedicação, paciência, incentivo, contribuição na ampliação dos meus conhecimentos, tanto no profissional, como no pessoal. Por valiosas lições que ultrapassaram as barreiras do laboratório e certamente me acompanharão para toda a vida. Às minhas amigas do Programa de Pós-graduação, principalmente as que convivi diariamente no laboratório, Edilene (pelas boas risadas e almoços no RU), Polyanne (por ser minha confidente), Letícia (por compartilhar angústias do mesmo sistema emulsionado), Alice e Lilia (pelo incentivo em expandir meus horizontes), Karlinha e Ednara (por dividir as tarefas no liofilizador), Mayra, Ednara, Yamara, Ana Luiza e Mariana. Cada item deste trabalho tem a contribuição e ajuda de cada uma de vocês. Obrigada pelos momentos de alegria, e por tornarem o convívio no laboratório momentos de prazer e descontração. À minha querida aluna de iniciação científica, Izadora, por nunca dizer não para me ajudar em todos os experimentos, fossem eles durante a madrugada ou no final de semana. Muito obrigada Iza! Às minhas amigas, irmãs de coração, Carol e Hiala. Obrigada pelo silêncio que faziam quando precisava discutir algum resultado em casa, obrigada pela distração nos momentos em que precisava pensar em outra coisa que não mestrado, obrigada pela paciência e compreensão quando me encontravam estressada. E a Carol, principalmente, por ter me dado forças e mostrado que eu era capaz de continuar. Obrigada meninas! Ao Núcleo de Processamento Primário e Reúso de Água Produzida e Residuos (NUPRAR - UFRN) pelas analises reológicas. Ao Núcleo de Pesquisa em Petróleo e Gás (NUPEG - UFRN) pelas analises de espalhamento de luz e potencial Zeta. Aos professores componentes da banca de qualificação Márcio Ferrari, Márcia Rodrigues e Alcides de Oliveira; e aos professores componentes da banca de defesa da dissertação, pelas contribuições dadas ao nosso trabalho. À secretaria de Pós-graduação, aos funcionários, à Faculdade de Ciências Farmacêuticas e a CAPES pelo suporte financeiro. Meus sinceros agradecimentos a todos que participaram da minha jornada e que de muitas formas contribuíram para a realização desta dissertação. “Eu acredito demais na sorte. E tenho constatado que, quanto mais duro eu trabalho, mais sorte eu tenho.” Thomas Jefferson RESUMO O praziquantel (PRZ) é o fármaco de escolha para tratamento da esquistossomose no Brasil e está disponível comercialmente para administração oral na forma de comprimidos. No entanto, possui baixa solubilidade aquosa, o que limita o sucesso terapêutico desta forma farmacêutica e a disponibilização de formas líquidas. Os sistemas emulsionados lipídicos têm grande potencial para aumento da solubilização de fármacos lipofílicos, sendo, então, uma estratégia interessante para tal finalidade. O objetivo do presente estudo foi o desenvolvimento e a caracterização de sistemas líquidos emulsionados lipídicos do tipo óleo em água (O/A), a base de óleo de soja como fase interna estabilizada pelo par de tensoativos Tween® 80 e Span® 80, para melhorar a fase biofarmacêutica do PRZ. Depois de selecionar o melhor valor do Equilíbrio Hidrófilo-Lipófilo (EHL=11), os parâmetros de preparação das formulações pela técnica de emulsificação foram otimizados. As emulsões foram obtidas com sucesso, as formas líquidas apresentaram comportamento newtoniano e proporcionaram um aumento de solubilidade do PRZ superior a 20 vezes. O estudo de estabilidade acelerada demonstrou a estabilidade das emulsões e o efeito dos cotensoativos investigados. O estudo da dinâmica de interação entre os componentes pelo diagrama pseudoternário de fase demonstrou regiões de obtenção de emulsões do tipo O/A, enquanto que o estudo da interação dos componentes e o seu efeito na estrutura dos sistemas e na eficiência de incorporação do fármaco levaram a obtenção de sistemas com uma quantidade de fármaco solúvel ainda maior (cerca de 1,5%), o que demonstra o potencial deste novo insumo para o tratamento principalmente da esquistossomose, o qual resultou em um depósito de patente BR 10 2013 000455 3. Palavras-chave: praziquantel, estabilidade, reologia, esquistossomose, sistema emulsionado O/A. ABSTRACT Praziquantel (PRZ) is the main drug used for treatment of schistosomiasis in Brazil. It is administered by oral rout as tablets. However, has low aqueous solubility which limits this therapeutic success dosage form and availability of liquid forms. The emulsion systems have great potential and represent an interesting strategy to increase the solubility of drugs. The aim of study was the development and characterization of lipid-emulsified liquid systems of the type oil in water (O / W), the base of soybean oil as the internal phase stabilized by surfactants pair Tween® 80 and Span® 80, for improving the phase biopharmaceutical of PRZ. After selecting the best value of Hydrophilic-Lipophilic Balance (HLB = 11), the parameters of the preparation of the formulations were optimized emulsification technique. The emulsions were successfully obtained; the liquid forms provided exhibited Newtonian behavior and an increase in solubility of PRZ higher than 20 times. The accelerated stability study demonstrated the stability of the emulsions and the effect of cosurfactants investigated. The study of the dynamics of interaction between components in the diagram showed pseudoternary phase regions to obtain O/W emulsions, whereas the study of the interaction of the components and their effect on system structure and the efficiency of incorporation of the drug led to systems with an amount of soluble drug even higher (about 1.5%), which demonstrates the potential of this new input mainly for the treatment of schistosomiasis, which resulted in the filing of patent BR 10 2013 0004 55 3. Keywords: praziquantel, stability, rheology, schistosomiasis, emulsified system. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 - Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansoni. Fonte: SVS/MS, Brasil 2009. .......................................................................................................................................................... 19 FIGURA 2 - Representação esquemática da estrutura química do PRZ. ....................................... 21 FIGURA 3 - Representação esquemática de emulsões do tipo O/A (a) e A/O (b). Adaptado de Oliveira et al., 2004. ......................................................................................................................... 24 FIGURA 4 - Representação esquemática do processo de instabilidade física de emulsões do tipo O/A. Sendo a – floculação, b – cremagem, c – acomodação de Ostwald, d – coalescência. Adaptado de Taylor, 1998. ............................................................................................................... 27 ® ® FIGURA 5 – Estruturas químicas do Tween 80 (a) e Span 80 (b). .............................................. 29 FIGURA 6 – Estruturas químicas do álcool etílico (a) e álcool benzílico (b). .................................. 31 FIGURA 7 - Representação do Diagrama Ternário. O ponto M representa a concentração de 50% de fase aquosa, 20% de fase oleosa e 30% de tensoativos. .......................................................... 32 FIGURA 8 - Esquematização do ciclo tempo versus temperatura, o qual as emulsões foram submetidas. ...................................................................................................................................... 40 FIGURA 9 - Espectros de ultravioleta obtidos na região de 200 - 400nm. Sendo: azul = PRZ, ® ® vermelho = Tween 80 + Span 80, verde = tween + span + PRZ, laranja = FS + OS + PRZ, lilás = FS + OS. ........................................................................................................................................... 49 FIGURA 10 - Curva padrão de PRZ em solução alcoólica obtida por espectrofotometria UV-vis em 264 nm.............................................................................................................................................. 50 FIGURA 11 - Diagrama pseudoternário contendo água purificada como FA, óleo de soja como FO ® e a associação dos tensoativos Tween 80 + Span ® 80 (Tw80 + Sp80). As áreas delimitadas representam: SEOB (Sistema Emulsionado Opaco Branco), ST (Sistema Translúcido), SEOA (Sistema Emulsionado Opaco Amarelo) e SF (Separação de Fases)............................................. 57 FIGURA 12 – Pontos selecionados na região SEOB do diagrama pseudoternário. ....................... 58 FIGURA 13 - Gráficos correspondentes aos valores obtidos de IC e turbidez das emulsões durante 30 dias de estudo utilizando álcool etílico (A e A’) e álcool benzílico (B e B’) como cotensoativos. Sendo que ○ corresponde à emulsão 0:1 (razão de cotensoativo : tensoativo), ● 0,05:1, ▲ 0,1:1, e ■ 0,15:1. ........................................................................................................................................... 60 FIGURA 14 - Gráficos correspondentes aos valores obtidos de pH e condutividade das emulsões durante 30 dias de estudo utilizando álcool etílico (A e A’) e álcool benzílico (B e B’) como cotensoativos. Sendo que ○ corresponde à emulsão 0:1 (razão de cotensoativo : tensoativo), ● 0,05:1, ▲ 0,1:1, e ■ 0,15:1. .............................................................................................................. 63 FIGURA 15 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio. ............................................................................................................... 69 FIGURA 16 - Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio (aumento de 400x). ............................................................................................ 70 FIGURA 17 - Potencial zeta, condutividade elétrica e pH em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio ............................................................................................................................. 71 FIGURA 18 - Quantidade de PRZ incorporado nas emulsões em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio. ....................................................................................................................... 73 FIGURA 19 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de tensoativos no meio. ........................................................................................................................ 74 FIGURA 20 – Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de tensoativos no meio (aumento de 400x). ......................................................................................... 75 FIGURA 21 - Potencial zeta, condutividade elétrica e pH em função da concentração de tensoativos no meio. ........................................................................................................................ 76 FIGURA 22 - Quantidade de PRZ incorporado nas emulsões em função da concentração de tensoativos no meio. ........................................................................................................................ 77 FIGURA 23 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de PRZ no meio..................................................................................................................................... 78 FIGURA 24 - Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de PRZ no meio (aumento de 400x). ................................................................................................................. 79 FIGURA 25 - Valores correspondentes ao potencial zeta, à condutividade elétrica e ao pH versus à variação de PRZ no meio. ................................................................................................................ 79 FIGURA 26 - Reogramas da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento (A e B) e viscosidade versus taxa de cisalhamento dos sistemas (A’ e B’). ................................................... 83 FIGURA 27 - Reogramas da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento (A) e viscosidade versus taxa de cisalhamento dos sistemas (B) para as emulsões onde houve adição de PRZ. ............................................................................................................................................ 84 FIGURA 28 - Evolução dos módulos de armazenagem G’e de perda G” das emulsões contendo 0,75 e 1% de PRZ. ........................................................................................................................... 86 FIGURA 29 - Gráficos do efeito do fármaco na estabilidade das emulsões Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. ................................................................................................................................................. 87 FIGURA 30 - Gráficos do efeito do fármaco na estabilidade das emulsões Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. ................................................................................................................................................. 89 FIGURA 31 - Fotomicrografia das emulsões contendo 1% de PRZ e 1; 2,5 e 5% de tensoativos durante os 30 dias de estudo de estabilidade. Aumento de 400x. .................................................. 90 FIGURA 32 - Gráfico para determinação do teor de fármaco nas emulsões em 30 dias de estudo. Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. .................................................................................................................. 91 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Proporção entre mistura de tensoativos e fase oleosa para determinação do diagrama de fases. ..........................................................................................................39 TABELA 2 - Quantidade em % dos constituintes para formulação. ..................................43 TABELA 3 - Equações de modelos matemáticos para determinação do comportamento reológico. .........................................................................................................................46 TABELA 4 - Resultados dos parâmetros analisados na validação da metodologia analítica do PRZ. ...........................................................................................................................51 TABELA 5 - Valores encontrados para as médias do índice de cremagem (IC) medido 24h (antes e após centrifugação) e 7 dias após o preparo das emulsões. .......................55 TABELA 6 – Porcentagem de PRZ incorporado em emulsão por dois métodos diferentes. ........................................................................................................................................65 TABELA 7 - Resultado do teste para incorporação do PRZ em emulsões diferentes.......66 TABELA 8 – Valores correspondentes aos índices de polidispersão das diferentes emulsões em estudo. .......................................................................................................80 TABELA 9 - Valores correspondentes ao índice de comportamento (n), coeficiente de correlação linear (r), tensão de cisalhamento inicial (τ0) e o índice de consistência (K) para cada sistema emulsionado...............................................................................................81 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CV Coeficiente de variação DP Desvio padrão EHL Equilíbrio hidrófilo-lipófilo EF Incoporação do PRZ na emulsão formada EM Emulsões FA Fase aquosa FO Fase oleosa FS Fosfatidilcolina de soja IC Índice de cremagem O/A Óleo em água OS Oleato de sódio PRZ Praziquantel T Tensoativos TA Temperatura ambiente TIF TA Incorporação de PRZ na fase oleosa da emulsão Temperatura ambiente LISTA DE SÍMBOLOS Tensão de cisalhamento Taxa de cisalhamento Viscosidade K Índice de consistência N Índice de comportamento ou de fluxo ® Marca registrada Ζ Potencial zeta SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................18 2.1. ESQUISTOSSOME MANSÔNICA ............................................................. 18 2.2. PRAZIQUANTEL........................................................................................ 20 2.3. EMULSÕES ............................................................................................... 23 2.3.1 Estabilidade de emulsões ..................................................................... 26 2.3.2 Componentes ....................................................................................... 28 2.3.3 Diagrama de fases ................................................................................ 31 3. OBJETIVOS ...................................................................................................33 3.1. OBJETIVO GERAL .................................................................................... 33 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................... 33 4. MATERIAIS E MÉTODOS..............................................................................34 4.1. REAGENTES E SOLVENTES ................................................................ 34 4.2. EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS ......................................................... 34 4.3. DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE QUANTITATIVA DO PRZ ................................................................................. 35 4.3.1 Especificidade ....................................................................................... 35 4.3.2 Curva padrão ........................................................................................ 35 4.3.3 Linearidade e Intervalo ......................................................................... 36 4.3.4 Precisão ................................................................................................ 36 4.3.5 Exatidão ................................................................................................ 36 4.3.6 Robustez aparente................................................................................ 37 4.4. ESTUDO DA OBTENÇÃO E ESTABILIDADE DE EMULSÃO TIPO O/A COM ÓLEO DE SOJA ...................................................................................... 37 4.4.1 Construção do diagrama de fases ........................................................ 37 4.4.2 Efeito dos cotensoativos na estabilidade acelerada da emulsão .......... 40 4.5. ESTUDO DE INCORPORAÇÃO DO PRZ NA EMULSÃO ÓLEO DE SOJA/ÁGUA ..................................................................................................... 41 4.6. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO PRZ COM OS COMPONENTES DA EMULSÃO ........................................................................................................ 42 4.6.1 Interação fármaco-componentes nas propriedades dos sistemas emulsionados................................................................................................. 42 4.6.2 Efeito do fármaco na estabilidade da emulsão ..................................... 47 4.7. ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................ 47 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................49 5.1. DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE MÉTODO PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DO FÁRMACO ....................................................................... 49 5.2. ESTUDO DA OBTENÇÃO E ESTABILIDADE DO SISTEMA EMULSIONADO ÓLEO DE SOJA/ÁGUA ......................................................... 53 5.2.1 Construção do diagrama de fases ........................................................ 53 5.2.2 Efeito dos cotensoativos na estabilidade acelerada da emulsão óleo de soja/água ....................................................................................................... 59 5.3. ESTUDO DE INCORPORAÇÃO DO FÁRMACO ..................................... 64 5.3.1 Escolha do método de incorporação..................................................... 64 5.3.2 Efeito do etanol na incorporação do PRZ na emulsão .......................... 66 5.4. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO PRZ COM OS COMPONENTES DA EMULSÃO ........................................................................................................ 67 5.4.1 Efeito do fármaco nas propriedades físico-químicas dos sistemas ...... 67 5.4.2 Efeito do fármaco na estabilidade da emulsão ..................................... 87 6. CONCLUSÃO ...................................................................................................92 PERSPECTIVAS...................................................................................................94 ANEXOS .............................................................................................................108 ANEXO I ......................................................................................................... 109 Introdução _________________________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO Considerada uma importante doença no contexto da saúde pública brasileira, a esquistossomose mansônica é uma enfermidade parasitária tropical desencadeada pelo helminto Schistosoma mansoni (VITORINO et al., 2012). As formas adultas deste verme habitam nos vasos mesentéricos do hospedeiro definitivo, no caso, um hospedeiro vertebrado (homem ou outro animal suscetível), e as formas intermediárias se desenvolvem em caramujos aquáticos do gênero Biomphalaria (CLERINX, GOMPEL, 2011). O Ministério da Saúde estima que cerca de 25 milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença (SVS – MS, BRASIL, 2009). O tratamento da esquistossomose consiste na utilização de medicamentos específicos, para a cura da infecção. Dentre as alternativas terapêuticas disponíveis, o praziquantel (PRZ) é o fármaco de primeira escolha, sendo administrado por via oral na forma de comprimido de 600 mg em dose única de 50 mg/kg para adultos e 60 mg/kg para crianças (BRASIL, 2009). Entretanto, por ser um fármaco de classe biofarmacêutica II, o PRZ apresenta uma baixa solubilidade em água (0,4 mg/mL) (LINDENBERG, KOPP, DRESSMAN, 2004), limitando assim, seu sucesso terapêutico, uma vez que o paciente deve ingerir uma alta dose de fármaco para alcance de efeito farmacológico (MOURÃO et al., 2005). Os fármacos pouco solúveis em água em especial aqueles enquadrados na Classe II do Sistema de Classificação Biofarmacêutica (SBC), para os quais a dissolução é um fator limitante da absorção, representam um grande desafio para o farmacêutico e, nesse sentido, a utilização de recursos capazes de promover a maior solubilização do agente terapêutico e, consequentemente, melhorar a sua dissolução e biodisponibilidade, representa uma alternativa bastante viável. Tais recursos envolvem uma vasta gama de tecnologias; os sistemas emulsionados lipídicos, por exemplo, são amplamente utilizados com esse propósito. As emulsões lipídicas são sistemas potencialmente interessantes para liberação de fármacos, devido a sua habilidade para incorporar agentes terapêuticos de baixa solubilidade aquosa dentro da fase dispersa hidrossolúvel. Com o uso dessas emulsões, o contato direto do fármaco com os fluidos e tecidos 16 Introdução _________________________________________________________________ corporais podem ser evitados, minimizando os possíveis efeitos adversos, além de que, quando comparadas com as formulações convencionais, são bem aceitáveis por aumentar a biodisponibilidade de fármacos e por prolongar o efeito farmacológico, (WANG et al., 2006; HUNG et al., 2007). O presente trabalho buscou o desenvolvimento e a caracterização físicoquímica de sistemas emulsionados lipídicos (emulsões) para administração do praziquantel na forma líquida, levando a obtenção de um novo insumo. 17 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. ESQUISTOSSOME MANSÔNICA A humanidade convive com a esquistossomose desde a antiguidade, pois estudos verificaram a presença de ovos de Schistosoma em múmias egípcias de 3.500 a.C. Apesar de estudos destacarem que no Brasil a esquistossomose se estabeleceu durante o período colonial, seu primeiro relato só foi descrito entre os anos de 1907 e 1908, por Pirajá da Silva, no Estado da Bahia, que supriu as incertezas taxonômicas quanto ao parasita. A partir de então surgiram as investigações sobre a distribuição geográfica e dados parasitológicos da doença. Todavia, sua importância só foi evidenciada na década de 50 com a realização, por Pellon & Teixeira (1950), do grande inquérito coproscópico nacional de prevalência, inicialmente no nordeste do país e, posteriormente, em áreas supostamente não endêmicas do sul e sudeste. Desde então, houve um crescimento exponencial nas pesquisas sobre o Schistosoma mansoni e a doença por ele provocada (KATZ & PEIXOTO, 2000; ANDRADE, 2002; COURA & AMARAL, 2004; SOUZA et al., 2008). A esquistossomose mansônica é causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni e constitui uma das doenças parasitárias mais importantes com elevada prevalência nos países em desenvolvimento. Apesar dos esforços de inúmeros países, estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas estejam infectadas, onde 120 milhões são sintomáticos e 20 milhões sofrem severamente com a doença (OPAS, 2011). Esta doença é um grande problema de saúde pública, afetando principalmente as zonas rurais, estando associada à pobreza e a falta de saneamento devido ao baixo desenvolvimento econômico (MUNIZ-JUNQUEIRA, TOSTA & PRATA, 2009; PALMEIRA et al. 2010; TIBIRIÇA et al. 2011). No Brasil, a esquistossomose mansônica afeta mais de 6 milhões de pessoas e está presente, de forma endêmica, do Maranhão até Minas Gerais, com focos no Pará, Piauí, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul (Figura 1). As principais causas de óbito estão relacionadas às formas clínicas graves. Estima-se que cerca de 25 18 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ milhões de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair essa doença (SVS – MS, BRASIL, 2009; WHO, 2010; OPAS, 2011). FIGURA 1 - Áreas endêmicas e focais da esquistossomose mansoni. Fonte: SVS/MS, Brasil 2009. O ciclo de vida do Schistosoma mansoni é complexo, envolvendo uma fase de reprodução sexuada no hospedeiro definitivo, no caso, um hospedeiro vertebrado (homem ou outro animal suscetível), e uma fase assexuada no hospedeiro intermediário, este representado pelos moluscos aquáticos do gênero Biomphalaria. Em humanos infectados, os parasitas na fase adulta se desenvolvem na luz dos vasos sanguíneos habitando, preferencialmente, as vênulas do plexo hemorroidário superior e as ramificações mais finas das veias mesentéricas, onde põem seus ovos. Depois de atravessarem a mucosa intestinal, os ovos são eliminados com as fezes. Em contato com águas superficiais, os ovos eclodem e libertam os miracídios, que nadam até encontrar o hospedeiro intermediário, onde se alojam (SOUZA et al., 2011). Posteriormente, os moluscos contaminados liberam as cercárias, que voltam ao meio aquático e infectam um hospedeiro vertebrado. Ao penetrar na 19 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ pele ou mucosas deste hospedeiro, as cercárias perdem sua cauda bifurcada, transformando-se em esquistossômulos. Estes atingem a circulação sanguínea e, posteriormente, o sistema porta intra-hepático, onde se desenvolvem, alcançam a fase adulta, reproduzem e eliminam seus ovos, reiniciando o ciclo. Devido à sua localização no corpo humano, o parasita ocasiona obstrução das veias do intestino e fígado, sendo esta a causa da maioria dos sintomas da doença que podem tornar-se crônicos e levar à morte (SOUZA et al., 2011). A fase inicial da doença pode ser assintomática ou sintomática caracterizada por dermatite cercariana. A fase tardia, caracterizada pelas formas crônicas, inicia-se a partir dos seis meses após a infecção, podendo durar vários anos. Podem surgir os sinais de progressão da doença para diversos órgãos, chegando a atingir graus extremos de severidade, como hipertensão pulmonar e portal, ascite e ruptura de varizes do esôfago (SVS – MS, BRASIL, 2009). Atualmente, no Brasil, apenas dois fármacos esquistossomicidas são utilizados: a oxamniquina e o praziquantel. A oxamniquina apresenta efeitos colaterais no sistema nervoso central, efeitos mutagênicos e carcinogênicos. A distribuição deste fármaco não é adequada, uma vez que a única indústria farmacêutica que o produz e comercializa mantém sua produção reduzida. Assim, o praziquantel é atualmente o fármaco de escolha para o tratamento da esquistossomose no Brasil, devido ser altamente efetivo contra esta patologia, apresenta pouco ou nenhum efeito adverso e, nos últimos anos, seu preço tem sido reduzido substancialmente. 2.2. PRAZIQUANTEL O praziquantel (PRZ) foi desenvolvido no início da década de 70, como resultado de um trabalho cooperativo entre as indústrias farmacêuticas Bayer AG e a Merck. O medicamento ficou disponível no mercado internacional a partir da década de 80, e segundo a publicação Tropical Disease Report (Twelfth Programme for Research and Training in Tropical Diseases, 1995) foi demonstrada, em pouco tempo, sua maior eficácia e menor toxicidade em relação aos demais fármacos esquistossomicidas (WHO, 1998; BERGE et al., 2011). É 20 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ também o único agente ativo contra todas as cinco espécies de esquistossomo, além de atuar frente a outros helmintos patogênicos ao homem, sendo altamente eficaz contra as formas adultas e larvares de cestóides tais como Taenia solium, Taenia saginata e Himenolepis nana (ARAGON et al, 2009). Conforme visto, o PRZ é a principal forma de tratamento para a esquistossomose no Brasil. Sua ação anti-helmíntica ocorre, provavelmente, devido à inibição da bomba de Na+ e K+ dos esquistossomos, aumentando a permeabilidade da membrana do helminto a certos cátions monovalentes e bivalentes, principalmente o cálcio que leva à intensificação da atividade muscular, seguida por contração e paralisia espástica. Como consequência, os helmintos se separam dos tecidos do hospedeiro e são rapidamente deslocados das veias mesentéricas para o fígado, ao passo que os helmintos intestinais são expelidos (LACY et al., 2010; VITORINO et al., 2012). O PRZ também compromete o tegumento do parasita, disponibilizando novos antígenos, e como resultado, ele pode torna-se mais suscetível às respostas imunológicas normais do hospedeiro (GREENBERG, 2005; ARAGON et al., 2009). O PRZ [(±)-2ciclo-hexilcarbonil-1, 2, 3, 6, 7,11b-hexa-hidro-4H-pirazino (2,1-a) isoquinolin-4-ona, C19H24N2O2] (Figura 2), pertence ao grupo químico isoquinolino-pirazino (VITORINO et al., 2012), apresenta-se como um pó fino branco, inodoro, solúvel em etanol, facilmente solúvel em clorofórmio e diclorometano; com faixa de fusão entre 136 °C e 140 °C (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). O H N N O FIGURA 2 - Representação esquemática da estrutura química do PRZ. No entanto, este fármaco é pouco solúvel em água (0,4 mg/mL), o que limita a utilização na forma líquida e constitui um desafio para a formulação de comprimidos (MOURÃO et al., 2005). Isto ocorre devido às suas propriedades 21 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ biofarmacêuticas (classe II no Sistema de Classificação Biofarmacêutico) (LINDENBERG, KOPP & DRESSMAN, 2004; SOUZA, FREITAS & STORPIRTS, 2007), o qual possui baixa solubilidade em água e alta permeabilidade; sendo rapidamente absorvido pelo trato gastrintestinal e também rapidamente excretado (SILVA, 2006). Estas características tornam necessária a administração de uma maior dose de fármaco para alcance do efeito terapêutico. O PRZ, na apresentação de comprimidos de 600 mg, é administrado por via oral na forma de 20 mg/kg, três vezes em um dia de tratamento com intervalos de, no mínimo, 4 h e, no máximo, 6 h, ou dose única de 40-60 mg/kg (KOROLKOVAS, 2000; REY, 2001; MONTRESOR et al., 2002; CINERMAN, 2005; SILVA, 2006; BRASIL, 2009; LACY, 2010), o que potencialmente promove maior possibilidade de reações adversas. A pesquisa crescente em sistemas de liberação de fármacos é impulsionada pelo aumento na quantidade de fármacos lipofílicos e por novas oportunidades de simplificar o perfil de carreadores provenientes da inovação tecnológica (CHUAN et al., 2012). Os sistemas de liberação de fármacos e a nanotecnologia farmacêutica apresentam algumas estratégias para o aumento da solubilidade aparente ou da velocidade de dissolução do PRZ. Algumas dessas estratégias já estão descritas na literatura, como: os complexos de inclusão com ciclodextrinas (BECKET, SCHEP & TAN, 1999; JESUS et al., 2006); as dispersões sólidas, lipossomas (AMMAR et al., 1994; MOURÃO et al., 2005; FREZZA et al., 2007); os sistemas micro/nanoparticulados (MAINARDES et al., 2006; PASSERINI et al., 2006); e, até mesmo, os implantes poliméricos de uso subcutâneo (CHENG, LEI e GUO, 2010). Além disso, o PRZ também é um fármaco amplamente utilizado em medicina veterinária. Recentemente foi aprovada, nos testes clínicos de fase I, a primeira vacina para prevenção da esquistossomose, mostrando ser segura e capaz de induzir imunidade à doença (FIOCRUZ, 2012). No entanto, ainda há muito a se fazer para a completa imunização de todos os habitantes, principalmente das áreas endêmicas, e eliminação desta doença, o que ainda torna necessário a disponibilidade de formulações mais efetivas para tratamento dos pacientes infectados. 22 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ Na literatura não foi encontrado até o presente, trabalho que envolva incorporação do PRZ em sistemas emulsionados lipídicos, o que configura claramente a inovação desta proposta. 2.3. EMULSÕES A palavra emulsão (EM) deriva do verbo latino emulgeo, que significa mungir, aplicando-se, de um modo geral, a todas as preparações de aspecto leitoso com as características de um sistema disperso de duas fases liquidas. Atribui-se a Grew a obtenção das primeiras emulsões para uso medicinal (PRISTA et al., 1995). Uma emulsão é um sistema constituído basicamente por uma fase líquida dividida na forma de gotículas no interior de outro líquido imiscível, estabilizada por tensoativos associados ou não a cotensoativos (OLIVEIRA et al., 2004; MCCLEMENTS, 2012; TANG et al., 2013). Correspondem a sistemas de liberação convenientes para incorporação, proteção e liberação de fármacos pouco solúveis em água (LI et al., 2012). Apresentam-se como sistemas termodinamicamente instáveis cineticamente dependentes da formulação e técnica de obtenção (FERNANDEZ et al., 2004). Assim, não se formam espontaneamente e suas propriedades dependem não apenas de condições termodinâmicas como também do método de preparo, das características de cada componente e da ordem de adição dos mesmos (LIN, KURIHARA & OHTA, 1975; SAJJADI, 2006a; MCCLEMENTES, 2012; ZHANG, LIU & FAN, 2013). A fase que está presente como gotículas nas emulsões é geralmente chamada de fase interna, descontínua ou dispersa, enquanto a fase na qual as gotículas encontram-se dispersas é denominada de fase externa, dispersante ou contínua. A maioria das emulsões tem gotículas com diâmetros de 0,1 a 100 µm e consiste em sistemas inerentemente instáveis (CONSTANTINIDES, TUSTIAN & KESSLER, 2004; AULTON, 2005; MCCLEMENTES, 2012). As emulsões simples são compostas basicamente de três componentes: água, óleo e tensoativo, sendo que as propriedades físico-químicas destes influenciam consideravelmente o comportamento do sistema (SAJJADI, ZERFA, 23 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ BROOKS, 2003). Podem ser classificadas em dois tipos distintos, de acordo com a natureza da respectiva fase dispersa, como emulsão óleo em água (O/A), no caso da fase orgânica imiscível dividida no interior da água ou solução aquosa. O inverso corresponde às emulsões do tipo água em óleo (A/O) (AULTON, 2005; USHIKUBO & CUNHA, 2012), conforme Figura 3. Nas emulsões lipídicas, a fase orgânica consiste em um tipo de óleo de origem mineral, vegetal ou sintético. FIGURA 3 - Representação esquemática de emulsões do tipo O/A (a) e A/O (b). Adaptado de Oliveira et al., 2004. A administração parenteral de fármacos lipofílicos é o problema principal no desenvolvimento de formulações farmacêuticas. As emulsões lipídicas são sistemas potencialmente interessantes para liberação de fármacos devido a sua habilidade para incorporar farmacos de baixa solubilidade aquosa dentro da fase dispersa. Com o uso de emulsões lipídicas, o contato direto do fármaco com os fluidos e tecidos corporais pode ser evitado minimizando os possíveis efeitos adversos, além de que são bem aceitáveis por aumentar a biodisponibilidade de fármacos e por prolongar o efeito farmacológico em comparação com as formulações convencionais (WANG et al., 2006; HUNG et al., 2007; SCHMIDTS et al., 2010). As emulsões lipídicas são usualmente utilizadas como meio para administração de fármacos insolúveis em água, por dissolução da substância na fase oleosa de emulsões O/A para prevenir hidrólise, aumentar a fração solúvel do fármaco ou para a captura do mesmo por infusão (FORMARIZ et al., 2004; HUNG et al., 2007). 24 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ Para obtenção destes sistemas emulsionados, as propriedades físicoquímicas e a concentração do tensoativo são fatores relevantes para determinar o tipo de estruturas e as propriedades reológicas do sistema (FORMARIZ et al., 2010). Outra variável importante é a escolha da fase oleosa, pois, além de garantir a biocompatibilidade do sistema, deve levar a obtenção de sistemas cineticamente estáveis. Os tensoativos são essenciais para estabilizar os sistemas emulsionados. Geralmente, estas moléculas se auto-arranjam em água ou em óleo, levando à formação de microestruturas bem definidas como micelas, cristais líquidos ou sistemas emulsionados (FORMARIZ et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2004; URBAN, MAINARDES & GREMIÃO, 2009; YANG et al., 2013; XIN et al., 2013). Os agentes emulsionantes são moléculas constituidas por uma parte polar (hidrofílica) e uma parte apolar (lipofílica) razoavelmente equilibradas, denominados de anfífilicos, atuando na redução da tensão interfacial. Como resultado desta estrutura anfifílica, na presença de água e óleo, atraem as partes oleosa e aquosa do sistema, residindo preferencialmente na interface com seus grupos orientados para as respectivas fases nas quais é solúvel (SILVA & SOARES, 1996; AZZINI, 1999; RIBEIRO, 2002; PICHOT et al., 2010; MAINDARKAR et al., 2013). Os tensoativos atuam na formação de emulsões por meio de diferentes mecanismos, como redução da tensão interfacial favorecendo a estabilização termodinâmica; formação de um filme rígido interfacial, favorecimento da permanência de barreira mecânica que se opõe a coalescência; formação de uma dupla camada elétrica na superfície dos glóbulos, o que apresenta barreira elétrica que evitará a aproximação das partículas (SILVA & SOARES, 1996; YANG et al., 2013; ZÜGE et al., 2013). Segundo Azzini (1999), a natureza da interface é fator decisivo na estabilidade da emulsão, e por isso, a escolha adequada dos tensoativos é muito importante. Na tentativa de sistematizar a seleção de tensoativos, Griffin em 1947 desenvolveu um método empírico, conhecido como sistema do Equilíbrio Hidrófilo-Lipófilo (EHL), que reflete a relação entre as propriedades lipofílicas e hidrofílicas dos mesmos em escala numérica, atribuindo valores de 1 a 20 para 25 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ aqueles não iônicos. Quanto maior o valor de EHL, maior a hidrofilicidade da substância. A aplicação de cada tensoativo está relacionada com o valor calculado para seu EHL: aqueles com valor de EHL baixo tendem a formar emulsões A/O, enquanto os de valor de EHL alto predispõem a formação de emulsões O/A. No valor de EHL requerido, o tamanho do glóbulo é mínimo, o que explica a estabilidade do sistema. Cada matéria prima oleosa possui valor de EHL requerido para a formação de emulsões estáveis (PRISTA, 1995; LACHMAN, LIEBERMAN & KANIG, 2001; FLORENCE & ATTWOOD, 2003; AULTON, 2005; PICHOT et al., 2010; LOSADA-BARREIRO et al., 2013). 2.3.1 Estabilidade de emulsões Uma emulsão estável pode ser definida como um sistema no qual os glóbulos dispersos mantêm suas características iniciais, permanecendo uniformemente distribuídos pela fase contínua (AULTON, 2005; HUCK-IRIART et al., 2011). A não ser que a tensão interfacial seja zero, os glóbulos tendem a se aproximar reduzindo a área de contato entre os dois líquidos, favorecendo um estado de menor energia livre, ou seja, termodinamicamente mais estável (CAPEK, 2004). Para as emulsões o estado de maior estabilidade termodinâmica ocorre quando uma camada de óleo está sobre a água. Se as modificações que o sistema sofre durante o período de análise são mínimas, este sistema pode ser considerado como cineticamente estável, mesmo que se torne instável num período de tempo mais prolongado (LACHMAN, LIEBERMAN, KANIG, 2001; ZHANG, LIU & FAN, 2013). A instabilidade física de um sistema disperso, em particular, das emulsões, é causada pela separação de fases, promovendo mudança considerável na aparência, na consistência, na redispersibilidade e na “performance” do produto (IDSON, 1993a). Este tipo de instabilidade pode apresentar-se sob vários mecanismos, tais como, a cremagem (creaming), a floculação, a coalescência ou a inversão de fases (Figura 4) (HUCK-IRIART et al., 2011; ZHANG, LIU & FAN, 2013). Pode resultar ainda, da instabilidade química como, alteração dos valores 26 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ de pH, hidrólise de tensoativos, contaminação microbiana e processos fotoquímicos (AZZINI, 1999). FIGURA 4 - Representação esquemática do processo de instabilidade física de emulsões do tipo O/A. Sendo a – floculação, b – cremagem, c – acomodação de Ostwald, d – coalescência. Adaptado de Taylor, 1998. A floculação, representado pela letra a da Figura 4 pode ocorrer quando as gotículas se agregam em aglomerados que mantém o filme da fase contínua, dentro da emulsão, conservando sua identidade individual, mas cada aglomerado comporta-se fisicamente como uma unidade única. Os glóbulos não coalescem e podem ser redispersos por agitação. (AULTON, 2005; FRANGE & GARCIA, 2009; HUCK-IRIART et al., 2011). Acontece em emulsões quando a energia de atração de Van der Waals excede a energia de repulsão entre as micelas, fazendo com que essas se aproximem. A floculação pode ser reduzida ou eliminada pela criação de uma barreira de energia entre as gotículas, prevenindo sua aproximação (TRADOS, 2004; XIN et al., 2013). A cremagem (creaming) e a sedimentação (letra b da Figura 4) são processos ocasionados pela ação da gravidade quando a fase dispersa, conforme sua densidade relativa à fase contínua, sobe até à superfície ou desce até o fundo 27 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ da emulsão, formando uma camada de emulsão mais concentrada. A floculação pode ocorrer de modo concomitante ao creaming, mas não necessariamente (LIEBERMAN et al., 1988; AULTON, 2005). A acomodação de Ostwald (Ostwald ripening), letra c da Figura 4, acontece quando as partículas maiores crescem de tamanho devido à dissolução das partículas menores (WELIN-BERGER & BERGENSTÅHL, 2000; FRANGE & GARCIA, 2009). A acomodação de Ostwald ocorre devido à diferença de solubilidade entre pequenas e grandes partículas, ou seja, as gotículas menores, devido a sua maior solubilidade, tendem a se dissolver durante o armazenamento e tornam-se depositadas sobre as maiores (TAYLOR, 1998; WEISS, CANCELIERE & MCCLEMENTS, 2000; TADROS, 2004; LIM et al., 2011; XIN et al., 2013). A coalescência, letra d da Figura 4, resulta da redução da espessura e ruptura do filme líquido entre as gotículas, ocasionando junção dessas gotículas e, finalmente, separação da fase oleosa. A coalescência é caracterizada por uma larga distribuição de tamanho das gotículas, resultando na separação de fases de forma visível ao olho nu (ZÜGE et al., 2013). A inversão de fases é resultante da troca de posição entre a fase dispersa e o meio, ou seja, o meio dispersante forma as gotículas, e as gotículas dispersas formam a fase contínua (por exemplo, uma emulsão O/A revertendo para emulsão A/O). A instabilidade física desses processos é bastante complexa e pode ocorrer simultaneamente ao invés de ocorrer consecutivamente. Dois processos de inversão de fases podem ser distinguidos: indução pelo aumento do volume da fração da fase dispersa, e transição produzida por alteração de temperatura e/ou adição de eletrólitos (TRADOS, 2004; AULTON, 2005; ZÜGUE et al., 2013). 2.3.2 Componentes Embora muitas emulsões tenham sido descritas na literatura, um grande desafio para o pesquisador farmacêutico é predizer quais os óleos e tensoativos são os mais adequados para uma determinada aplicação, levando em conta sua aceitabilidade e o seu potencial tóxico. 28 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ Os tensoativos não-iônicos são os mais aplicados no desenvolvimento de sistemas de liberação de fármacos, pois sua concentração micelar crítica é geralmente muito menor que a dos tensoativos ionicamente carregados, e por isso são menos irritantes e mais tolerados, apresentam menos problemas de compatibilidade e são menos sensíveis a mudanças de pH ou à adição de eletrólitos. Trata-se de um grupo bastante numeroso e integra compostos tanto hidrossolúveis como lipossolúveis, o que permite obter emulsões A/O ou O/A. É possível utilizar uma combinação de ambos com o objetivo de obter uma película interfacial densa, necessário para a formação de emulsões mais estáveis (MALMSTEN, 1999; AULTON; 2005; ZÜGUE et al., 2013). Os ésteres de sorbitano também conhecidos como a série Span® (Figura 5), nome como são comercializados, exibem propriedades lipofílicas e tendem a formar emulsões A/O. Na prática, o mais frequente é utilizá-los em combinação com polissorbatos para obter emulsões O/A e A/O. Os polissorbatos são derivados polietilenoglicólicos dos ésteres de sorbitano correspondendo comercialmente a série dos Tween® (Figura 5). Estes compostos dão melhor estabilidade à emulsão, assegurando melhor incorporação e liberação controlada da espécie encapsulada quando comparados com os tensoativos de menor massa molar (JATO, 1997; BONNET et al., 2010b; ZÜGUE et al., 2013). (a) (b) ® ® FIGURA 5 – Estruturas químicas do Tween 80 (a) e Span 80 (b). 29 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ Os polissorbatos além de apresentarem baixa toxicidade, são compatíveis com praticamente todos os outros tipos de tensoativos, sendo também solúveis em água. Possuem, por outro lado, um pH neutro e são estáveis ao calor, às variações de pH e às elevadas concentrações de eletrólitos (JATO, 1997; AULTON, 2005; HUCK-IRIART et al., 2011). Entre os principais óleos estudados, o triglicerídeo de cadeia longa de origem vegetal e os triglicerídeos de cadeia média têm sido utilizados, assim como o miristato de isopropila e o óleo de soja (TROTTA et al., 2002; POYATO et al., 2013). O grau de pureza destes óleos deve ser elevado, no sentido de prevenir a ocorrência de irritação que pode ser provocada pelos contaminantes presentes em óleos com baixa pureza (CONSTANTINIDES, TUSTIAN & KESSLER, 2004). Os óleos tipicamente utilizados para emulsões farmacêuticas consistem de óleos digeríveis a partir de fontes naturais, incluindo o óleo de soja, óleo da semente de sésamo, óleo da semente de algodão e semelhantes (CONSTANTINIDES, TUSTIAN & KESSLER, 2004). Existe uma necessidade para surgimento de novas formulações que sejam biocompatíveis, não irritantes, e susceptíveis de serem esterilizadas antes da aplicação (HUNG et al., 2007). O óleo de soja é um óleo vegetal bastante popular sendo o segundo mais consumido mundialmente, atrás apenas do óleo de palma. Esse óleo vegetal é altamente poli-insaturado, sendo particularmente rico em ácidos graxos ômega 3, portanto possui boa aceitabilidade por suas propriedades nutricionais. No entanto, esse atributo é simultaneamente a principal causa da baixa estabilidade oxidativa do óleo (RODRIGUES et al., 2012). A típica composição de soja é principalmente de ácidos graxos poliinsaturados, incluindo ácido oléico (C18:1), ácido linoléico (C18:2) e ácido linolênico (C18:3) (WANG et al., 2006). A função do cotensoativo é diminuir a tensão interfacial para valores abaixo dos limites proporcionados pelo agente emulsivo comum (tensoativo). No entanto, nos casos em que os tensoativos são capazes de cumprir integralmente essa função, a presença dos cotensoativos não é necessária e a composição da microemulsão restringe-se aos outros três componentes (OLIVEIRA et al., 2004). 30 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ O álcool etílico e o álcool benzílico (Figura 6) são amplamente utilizados em várias formulações farmacêuticas e industriais e são largamente usados como solventes orgânicos. (a) (b) FIGURA 6 – Estruturas químicas do álcool etílico (a) e álcool benzílico (b). Devido à sua polaridade e baixa toxicidade, o álcool benzílico é usado como um solvente geral e como um diluente para substâncias aromatizantes em alguns alimentos e bebidas (MAULA, WESTERLUND & SLOTTE, 2009). O álcool etílico é amplamente utilizado em formulações farmacêuticas e cosméticas devido à baixa toxicidade tópica e a propriedade de se combinar facilmente em proporções variadas com tensoativos para formar misturas com alto poder de dissolução (RESENDE et al., 2008). 2.3.3 Diagrama de fases Na preparação das emulsões, a construção de diagramas de fase (Figura 7) pode ser uma ferramenta fundamental para caracterizar em que condições experimentais as EM existem e em que proporções dos componentes outras estruturas tais como microemulsões e cristais líquidos podem estar presentes. O diagrama ternário é representado no plano como um triângulo equilátero, onde os três constituintes são simétricos. Os três vértices do triângulo correspondem a 100% dos constituintes: óleo, tensoativos e água. Na Figura 7, para determinar as concentrações de cada constituinte no ponto M, deve-se traçar sucessivamente por este ponto as paralelas aos lados opostos aos vértices 100% de cada constituinte. 31 Fundamentação teórica _________________________________________________________________ FIGURA 7 - Representação do Diagrama Ternário. O ponto M representa a concentração de 50% de fase aquosa, 20% de fase oleosa e 30% de tensoativos. Os diagramas pseudoternários podem ser obtidos a partir de dados de titulação ou pela preparação de amplo número de amostras com diferentes proporções dos componentes. A vantagem do primeiro método é que este pode ser usado para estudar amplo número de amostras de diferentes composições de maneira rápida (BHARGAVA et al., 1987; LAWRENCE e REES, 2000). O presente trabalho propõe um estudo sistemático na busca dos componentes e técnica de preparo ideal para o desenvolvimento e a caracterização físico-quimica de um sistema emulsionado lipídico (emulsão do tipo O/A) para incorporação e aumento da solubilidade aquosa aparente do PRZ, com a possível administração desse fármaco em uma forma farmacêutica líquida para tratamento da esquistossomose. 32 Objetivos _________________________________________________________________ 3. OBJETIVOS 3.1. OBJETIVO GERAL Desenvolver um sistema emulsionado lipídico (emulsão do tipo O/A), para incorporação e aumento da solubilidade aquosa aparente do praziquantel (PRZ), com a possível administração desse fármaco em uma forma farmacêutica líquida. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Obtenção e estudo da estabilidade de emulsão óleo de soja/água, empregando a associação de tensoativos não iônicos (Tween ® 80 e Span® 80) em diferentes proporções; Estudo da dinâmica de formação de sistemas coloidais envolvendo os componentes utilizados, pelo diagrama de fases pseudoternário; Efeito da adição de cotensoativos na estabilidade do sistema emulsionado; Validar a metodologia analítica a ser utilizada na quantificação do PRZ; Avaliar a incorporação do PRZ nos sistemas emulsionados obtidos; Estudo do efeito da quantidade do PRZ, relação tensoativos/fase oleosa na estrutura das dispersões coloidais e parâmetros importantes de dispersão como: Determinação da distribuição e do tamanho de gotículas dispersas utilizando a técnica de espalhamento dinâmico da luz (Dynamic Light Scattering); Caracterização, através de medidas de potencial zeta, da superfície das gotículas dispersas; Determinação do comportamento reológico dos sistemas emulsionados. 33 Materiais e métodos _________________________________________________________________ 4. MATERIAIS E MÉTODOS 4.1. REAGENTES E SOLVENTES Praziquantel (Roche, Brasil, doado pela Fio Cruz); Água obtida por meio de purificador do tipo osmose reversa (condutividade média:1,25 µS/cm); Álcool benzílico absoluto (Fenilmetanol, Synth, Brasil); Álcool etílico absoluto (Etanol, 99,5 %, Synth, Brasil); Tween® 80 [Monooleato de polioxietileno (20) sorbitano Synth, Brasil]; Span® 80 (Monooleato de sorbitano, Sigma Aldrich, EUA); Oleato de sódio (Sigma Aldrich, EUA); Fosfatidilcolina de soja (Lipóide S®100, Gerbras, Brasil); Óleo de soja (Sigma Aldrich, EUA). 4.2. EQUIPAMENTOS E ACESSÓRIOS Balança analítica (GEHAKA, modelo: AG-200); Espectrofotômetro UV-Vis (Thermo Scientific Evolution 60); Condutivímetro Microprocessado de Bancada (TECNOPON, modelo: MCA 150); Banho-Maria de Bocas Microprocessado (QUIMIS, modelo: Q334M28); Ultra-turrax (IKA T18 basic); pHmetro de bancada (PG1800, Gehaka); Centrífuga de Bancada (Excelsa® II modelo 206 BL); Vortex Motion II (Logen); Estufa de Esterilização e Secagem Línea (Olidef CZ); Reômetro (Anton Paar Physica MCR – 301 Rheometer); ZetaPlus (Brookhaven Instruments Co., EUA); 34 Materiais e métodos _________________________________________________________________ Microscópio óptico Trinocular (DM 500 – Leica); Refratômetro Abbe Digital de Bancada (Quimis). 4.3. DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE QUANTITATIVA DO PRZ O método para análise quantitativa do PRZ, em solução alcoólica foi validado empregando a técnica de espectrofotometria na região do ultravioleta, de acordo com os parâmetros estabelecidos na resolução RE 899 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 2003 e no Guia do International Conference on Harmonisation (ICH) 1996. Estes parâmetros compreenderam: especificidade, linearidade, intervalo, precisão, exatidão e robustez. 4.3.1 Especificidade A especificidade do método proposto foi avaliada comparando-se os espectros de absorção obtidos na região de ultravioleta apresentando um comprimento de onda de 200 a 400 nm da (a) solução do PRZ na concentração de 0,4 mg/mL, obtida a partir de uma diluição da solução estoque; (b) matriz do sistema emulsionado com o PRZ incorporado na concentração de 0,4 mg/mL; e, (c) matriz do sistema emulsionado. Esta matriz era composta por 70% de água, 25% de óleo de soja e 5% de tensoativos. Foram utilizadas duas associações diferentes de tensoativos: oleato de sódio e fosfatidilcolina de soja; e, Tween® 80 e Span® 80. 4.3.2 Curva padrão A solução estoque de fármaco foi preparada com 0,05 g de PRZ dissolvidos em uma quantidade suficiente de álcool etílico PA e, em seguida, diluída em balão volumétrico de 50,0 mL com álcool etílico para obter a concentração de 1,00 mg/mL. Diferentes alíquotas desta solução foram 35 Materiais e métodos _________________________________________________________________ transferidas para balões volumétricos de 10,0 mL e o volume foi completado com etanol a fim de obter soluções de diferentes concentrações (0,08; 0,16; 0,24; 0,32; 0,40; 0,48; 0,56; 0,64; 0,72 e 0,80 mg/mL). A absorbância das soluções foi determinada por espectrofotometria na região do ultravioleta em 264 nm, usando cubeta de quartzo de 1 cm e álcool etílico como branco. A partir da curva padrão obtida, ou seja, da relação gráfica entre a concentração do fármaco (mg/mL) em função dos valores de absorbância obtidos, foi realizada uma regressão linear determinando, assim, a equação da curva e seu coeficiente de correlação. Todas as concentrações de PRZ utilizadas neste estudo resultaram em valores de absorbância inferiores a 2, seguindo, desta forma, a Lei de Lambert-Beer. 4.3.3 Linearidade e Intervalo A linearidade foi determinada por meio da análise do coeficiente de correlação da curva padrão do PRZ e o intervalo correspondeu à faixa de concentração compreendida na curva padrão. 4.3.4 Precisão A precisão foi avaliada para cinco concentrações diferentes de PRZ na curva padrão (0,16; 0,24; 0,40; 0,56; e, 0,64 mg/mL) e os ensaios foram realizados em triplicada. Este parâmetro foi estudado em um curto intervalo de tempo, pelo mesmo analista (precisão intra-corrida) e em dias diferentes (precisão inter-corrida). 4.3.5 Exatidão A exatidão foi determinada pelo método do placebo contaminado (Equação 1), avaliando-se a adição e a recuperação do método em cinco níveis de concentração de PRZ e em quintuplicata (n = 5). Em 1000 mg da matriz do sistema emulsionado (70% de água + 25% óleo de soja + 5% tensoativos), foram 36 Materiais e métodos _________________________________________________________________ adicionadas quantidades conhecidas da solução estoque do PRZ a fim de obter diferentes concentrações deste fármaco (0,16; 0,24; 0,40; 0,56; e, 0,64 mg/mL). A recuperação do método de análise proposto foi obtida para dois tipos de associações de tensoativos: oleato de sódio e fosfatidilcolina de soja; e, Tween® 80 e o Span® 80; conforme descrito no ensaio de especificidade. Exatidão = 100 Concentração média experimental de PRZ Concentração teórica de PRZ (1) 4.3.6 Robustez aparente Para verificar a robustez do método, foram avaliadas as variações na curva padrão à medida que também alterava a concentração do PRZ na amostra e a concentração do álcool etílico utilizado como solvente das soluções analíticas. As análises foram realizadas em quintuplicata para cinco níveis de concentração de PRZ (0,16; 0,24; 0,40; 0,56 e 0,64 mg/mL) e três níveis de concentração de álcool etílico (99,5; 90 e 85 % v/v). 4.4. ESTUDO DA OBTENÇÃO E ESTABILIDADE DE EMULSÃO TIPO O/A COM ÓLEO DE SOJA 4.4.1 Construção do diagrama de fases Com o intuito de se determinar a melhor proporção de tensoativos para a construção do diagrama de fases, inicialmente realizou-se o estudo para determinação do melhor valor de EHL. Para o presente estudo foram escolhidos dois tensoativos não iônicos, um hidrofílico Tween® 80 ( EHLTw80 15 ) e um hidrofóbico Span® 80 ( EHLSp80 4,3 ), (Figura 5). As concentrações dos componentes utilizados foram: 85% de água, 10% de óleo de soja e 5% de tensoativos. Segundo Griffin, emulsões do tipo O/A 37 Materiais e métodos _________________________________________________________________ são produzidas usando uma combinação de tensoativos com valor de EHL entre 9 e 12. O estudo da proporção de tensoativos foi determinado anteriormente dentro do nosso grupo de pesquisa, conforme mudança de valor do EHL, a qual variou de 4,3 a 15 (STRECK, 2013). Para o presente estudo, foram comparados apenas os melhores resultados que correspondem aos valores de EHL entre 8 e 11 associando diferentes quantidades de Tween® 80 e Span® 80. O cálculo da razão de cada tensoativo na mistura foi realizado pela aplicação da Equação 2 e 3: %Tw80 = 100 ( x EHLSp80 ) EHLTw80 EHLSp80 , %Sp80 100 %Tw80 , (2) (3) sendo %Tw80 a concentração percentual do tensoativo hidrofílico (Tween® 80) e %Sp80 a concentração porcentual do tensoativo hidrofóbico (Span ® 80) necessários para obter uma mistura com valor x de EHL (AULTON, 2005). As emulsões foram preparadas pelo método de inversão de fases a 70 ± 2 ºC, no qual a fase aquosa (água purificada) foi vertida sobre a oleosa contendo os tensoativos, sob agitação constante em um ultra turrax a 11000 rpm durante um minuto, seguido por agitação de 7000 rpm por dez minutos. As condições de temperatura de inversão de fases, a velocidade e o tempo de agitação foram previamente padronizados em nosso laboratório (STRECK, 2013). O produto foi deixado em repouso por 24 horas, em um recipiente hermeticamente fechado à temperatura ambiente. Para escolha do melhor EHL, as emulsões foram submetidas a ensaios de estabilidade preliminar utilizando o índice de cremagem como parâmetro. As analises foram realizadas, 24 horas antes e após a centrifugação [950 (x g) por 30 min] e 7 dias depois da preparação das emulsões. O ensaio foi realizado em duplicata. O índice de cremagem (IC) foi mensurado por meio de um paquímetro digital, sendo calculado de acordo com a Equação 4. 38 Materiais e métodos _________________________________________________________________ IC 100 hc , ht (4) h sendo IC corresponde ao valor em porcentagem do índice de cremagem, c ao valor da altura da camada de creme e ht é o valor total da altura da emulsão contida no tubo. De acordo com esta equação, é importante notar que um valor menor de IC é indicativo de uma emulsão mais estável. Depois de estabelecido o melhor EHL para estudo e consequentemente a melhor proporção de tensoativos, partiu-se para a construção de um diagrama de fases para determinação da região de emulsão utilizando-se dos mesmos constituintes (água, óleo de soja e Tween 80® + Span 80®), sendo que cada vértice do diagrama indica um destes componentes. As amostras foram preparadas partindo-se de uma mistura de tensoativos e fase oleosa variando a proporção entre 1:9 a 9:1 de acordo com a Tabela 1. TABELA 1 - Proporção entre mistura de tensoativos e fase oleosa para determinação do diagrama de fases. Proporção da mistura de tensoativos: fase oleosa 1:9 2:8 3:7 4:6 5:5 6:4 7:3 8:2 9:1 Cada ponto do diagrama foi obtido por titulação com água purificada obtida em aparelho de osmose reversa a 70 ± 5ºC, utilizando micropipetas automáticas. Após cada titulação a amostra foi homogeneizada a 7000 rpm em um aparelho Ultra turrax. Durante o processo de titulação, os tipos de sistemas formados e suas fluências foram analisados visualmente. Os volumes de água adicionados às preparações e que provocaram tais alterações foram anotados. Após a titulação aquosa foram calculadas as concentrações de cada componente da formulação obtendo-se pontos os quais foram utilizados na delimitação das diferentes regiões existentes no diagrama de fases. Dessa forma delimitaram-se os pontos em que se deu a transição de fases de sistema emulsionado opaco branco (SEOB), sistema emulsionado opaco amarelo (SEOA), sistema translúcido (ST) ou separação de fases (SF). 39 Materiais e métodos _________________________________________________________________ 4.4.2 Efeito dos cotensoativos na estabilidade acelerada da emulsão Depois de selecionado o melhor valor de EHL para a emulsão em estudo, foi realizada a análise do efeito da adição de cotensoativos (álcool etílico ou álcool benzilico) na estabilidade preliminar do sistema emulsionado. O estudo do efeito da presença de álcool etílico e do álcool benzílico (Figura 6) como cotensoativos na estabilidade aparente da emulsão foi realizado para cada substância em três diferentes concentrações (5, 10 e 15% m/m) em relação à concentração de tensoativos. Os ensaios foram realizados em triplicata e a emulsão sem cotensoativos foi utilizada como controle. As emulsões foram preparadas de acordo com o item 4.4.1, sendo os cotensoativos adicionados diretamente na fase oleosa momentos antes da inversão de fases. Logo após foram acondicionadas em frascos de vidro hermeticamente fechados. O ensaio consistiu em submeter as amostras a ciclos de 72 horas (Figura 8), em diferentes condições de temperatura, a fim de avaliar a estabilidade acelerada das amostras frente a mudanças bruscas de temperatura (ANVISA, 2004). 24 horas REFRIGERAÇÃO AQUECIMENTO 4 ± 2ºC 45ºC Ciclo de 72 horas 24 horas 24 horas TEMPERATURA AMBIENTE 25 ± 2ºC FIGURA 8 - Esquematização do ciclo tempo versus temperatura, o qual as emulsões foram submetidas. 40 Materiais e métodos _________________________________________________________________ Cada ciclo correspondeu a 24 h sob temperatura ambiente (25 ± 2 °C), 24 h sob aquecimento (45 °C) e 24 h sob refrigeração (4 ± 2 °C), completando assim um ciclo, de acordo com a Figura 8. As amostras foram avaliadas em intervalos de tempo pré-determinados: 1º, 7º, 15º e 30º dia. O 1º dia do teste, nesta metodologia, corresponde a vinte e quatro horas após o preparo das formulações. Os parâmetros avaliados foram pH, condutividade elétrica, índice de cremagem e turbidez. O índice de cremagem foi aferido por meio de um paquímetro digital e calculado conforme a Equação 4. Para medida da condutividade elétrica, aferiu-se o condutivímetro com uma solução padrão de KCl 0,1N, em seguida determinou-se a condutividade elétrica das emulsões inserindo o eletrodo diretamente na amostra à temperatura ambiente (25 ± 2 °C). Já para medir o pH, as emulsões foram diluídas com água (1:10 v/v), e as análises foram também realizadas à temperatura ambiente (25 ± 2 °C). Para verificar a turbidez, as emulsões foram diluídas com água purificada (1:20 v/v) e as medidas foram realizadas em um espectrofotômetro UV-Vis no comprimento de onda de 860 nm, utilizando cubeta de vidro com caminho óptico de 1 cm (POLICONTROL, 2006). 4.5. ESTUDO DE INCORPORAÇÃO DO PRZ NA EMULSÃO ÓLEO DE SOJA/ÁGUA Neste estudo, o PRZ foi adicionado às emulsões por meio de dois métodos diferentes. No primeiro, o PRZ foi adicionado diretamente na fase oleosa da emulsão (TIF) antes da inversão de fases; enquanto que no segundo, o PRZ foi adicionado diretamente na emulsão formada à temperatura ambiente (EF). Em ambos os testes, o fármaco foi adicionado em excesso e a emulsão submetida a uma agitação no vortex periodicamente durante um minuto, seguida de quinze minutos em banho de ultrassom a cada 12 horas durante um período de 72 horas. Após essa etapa, as emulsões foram centrifugadas por 30 minutos na velocidade de 950 (x g) e uma alíquota foi retirada da porção média do tubo. Em seguida, 41 Materiais e métodos _________________________________________________________________ cada alíquota foi filtrada em uma membrana apresentando um diâmetro de poro de 0,45 µm para obter 0,5 g do filtrado, o qual foi transferido para um balão volumétrico de 25,0 mL e o volume completado com álcool etílico. Os valores de concentração de PRZ foram determinados usando um espectrofotômetro UVvisível, a um comprimento de onda de 264 nm, a partir de uma curva de calibração, conforme a metodologia analítica validada (item 4.3.). Em decorrência do resultado obtido no estudo 4.4.2, o efeito da adição de álcool etílico como cotensoativo na concentração de 15% m/m (em relação à concentração da associação dos tensoativos Tween® 80 e Span® 80) foi também avaliado, para verificação do aumento do teor de fármaco incorporado. Neste estudo, o fármaco foi adicionado na fase oleosa antes da inversão de fases. Todos os ensaios foram realizados em triplicata. 4.6. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO PRZ COM OS COMPONENTES DA EMULSÃO Ao adicionar o fármaco nos sistemas emulsionados foi observada a alteração da viscosidade dos sistemas. Um estudo foi realizado para avaliar o efeito da composição na eficiência de incorporação do PRZ e da sua presença na estrutura dos sistemas. 4.6.1 Interação fármaco-componentes nas propriedades dos sistemas emulsionados Preparo das amostras Com o intuito de verificar o comportamento do fármaco no sistema emulsionado, diferentes proporções entre os componentes foram estudadas. Sendo que todas permaneceram na região de emulsão O/A presente no diagrama de fases obtido (Figura 12). Primeiramente, a quantidade da associação dos tensoativos Tween ® 80 e Span® 80 foi fixada em 5% m/m e foi variada a quantidade da fase oleosa em 5%, 10%, 20% e 30% m/m (respectivamente pontos A, B, C e D da Figura 12). 42 Materiais e métodos _________________________________________________________________ Posteriormente, a quantidade de fase oleosa foi fixada em 10% m/m e foi variada a concentração da associação dos tensoativos Tween ® 80 e Span® 80 em 1%, 2,5%, 5% e 10% m/m (respectivamente pontos E, F, B, G da Figura 12). Em seguida, as quantidades de óleo de soja e associação de tensoativos foram fixadas em 10% e 5% m/m, respectivamente, enquanto que a quantidade de PRZ incorporada foi variada em 0,125%, 0,250%, 0,500%, 0,750% e 1,0% m/m. Para melhor ilustração, todas essas formulações estão indicadas na Tabela 2. Após a preparação das formulações, ensaios de pH, microscopia óptica, turbidez, condutividade elétrica, índice de refração, potencial Zeta, diâmetro médio da gotícula por espalhamento de luz dinâmico e comportamento reológico dos sistemas foram realizados para acessar as características físico-químicas desses sistemas. TABELA 2 - Quantidade em % dos constituintes para formulação. Tensoativos 1º 2º 3º Fase oleosa Fármaco Fase aquosa (%) (%) (%) Óleo de soja PRZ Água purificada 5,0 5,0 0,0 90,0 FO 10% 5,0 10 0,0 85,0 FO 20% 5,0 20 0,0 75,0 FO 30% 5,0 30 0,0 65,0 T 1% 1,0 10 0,0 89,0 T 2,5% 2,5 10 0,0 87,5 T 5% 5,0 10 0,0 85,0 T 10% 10,0 10 0,0 80,0 PRZ 0,125% 5,0 10 0,125 84,87 PRZ 0,25% 5,0 10 0,250 84,75 PRZ 0,5% 5,0 10 0,500 84,50 PRZ 0,75% 5,0 10 0,750 84,25 PRZ 1% 5,0 10 1,000 84,00 Grupo de (%) formulações Tween® 80 + Span® 80 FO 5% Adicionalmente, PRZ em excesso foi adicionado ao primeiro e ao segundo grupo de formulações com o intuito de averiguar a quantidade de fármaco que 43 Materiais e métodos _________________________________________________________________ essas emulsões foram capazes de incorporar. A metodologia empregada foi a mesma do item 4.5. (estudo anterior). Ensaios de pH, condutividade, microscopia óptica, turbidez e índice de refração Para os ensaios de condutividade elétrica, índice de refração e microscopia óptica, não houve necessidade de diluição das emulsões para adequar aos parâmetros do aparelho. Para avaliação microscópica, uma pequena quantidade de cada formulação foi colocada sobre uma lâmina de vidro e coberta com uma lamínula sob ligeira pressão, em seguida foi submetida a análise microscópica na lente de aumento de 400x de um microscópio óptico com câmera acoplada. O índice de refração foi determinado nas amostras após 24 h de preparo, utilizando-se de um refratômetro calibrado com água purificada, cujo índice de refração a 20 °C é de 1,3330 (KOROLKOVAS, 1988). Conforme metodologia descrita na Farmacopéia Brasileira (2010), as leituras foram realizadas em triplicata, colocando-se quantidade suficiente de cada amostra individualmente para cobrir a face do prisma (KOROLKOVAS, 1988). Para determinação do pH e da turbidez, as amostras foram diluídas com água purificada na proporção de 1:10 e foram lidas em um pHmetro digital e em um espectrofotômetro no comprimento de onda de 860 nm (POLICONTROL, 2006). Ensaios de diâmetro hidrodinâmico médio e potencial zeta A análise do diâmetro médio das gotículas e do índice de polidispersidade foi realizada pela técnica de espalhamento dinâmico de luz (Dinamic Light Scattering), também denominada espectroscopia de correlação de fótons (PCS do inglês Photon Correlation Spectroscopy), com um feixe de luz de comprimento de onda de 659 nm, a 25 ºC, com um ângulo de incidência de 90º, por meio do software 90Plus/BI-MAS. A aquisição e o tratamento de dados foram realizados 44 Materiais e métodos _________________________________________________________________ através do software ZetaPALS. Todas as medidas foram realizadas a uma temperatura constante de aproximadamente 25 °C. Na obtenção do tamanho da gotícula e do potencial zeta (ζ) as amostras foram diluídas com água purificada na proporção de 1:100, para uma melhor condição de preparo da amostra, e foram mensuradas em um Zeta Plus. Se o sistema é concentrado, ou seja, se a fase dispersa está em elevadas concentrações, a interpretação torna-se dificultada em razão das interações intergotículas. Para suprimir a interação entre gotículas, a diluição do sistema com a fase dispersante foi necessária (LAWRENCE, REES, 2000; FORMARIZ et al., 2005). Ensaios de reologia Para determinação do comportamento reológico, a quantidade de amostra analisada foi cerca de um grama de cada emulsão. Para todas as emulsões com exceção das emulsões que continham 0,75 e 1% de PRZ, a geometria de medida, de material aço inox, utilizada foi a do tipo cone placa de 5 centímetros de diâmetro com o cone apresentando ângulo de curvatura de 1º e distancia entre as placas de 0,102 mm. A vantagem desta geometria é que não ocorre variação na tensão de cisalhamento através da amostra, porque à distância entre o cone e a placa é muito pequena (da ordem de dezenas ou centenas de microns), fazendo com que a tensão de cisalhamento seja praticamente uniforme por toda a amostra (TOKUMOTO, 1996). Para as outras duas emulsões (PRZ 0,75% e PRZ 1%) foi utilizada a geometria placas paralelas de material aço inox com diâmeto de 3,5 centímetros, devido a viscosidade dessas amostras ser diferente e, portanto, não haver uma correta aferição da reologia para os sistemas. Durante o ensaio, a temperatura foi mantida constante em 25,0 ± 0,1 ºC com o auxílio de um banho termostatizado. Os dados do segmento ascendente e descendente do gradiente de cisalhamento foram plotados em um modelo de leis de potência utilizando o software Rheoplus/32 (dados V3.60 da versão) para descrever as características de fluxo das EM. As leituras foram feitas no intervalo de 0 a 100 s-1 (curva ascendente) e 100 s-1 a 0 (curva descendente). 45 Materiais e métodos _________________________________________________________________ Para os testes de fluxo e escoamento, os modelos matemáticos utilizados para determinação do comportamento reológico estão apresentados na Tabela 3, onde corresponde à tensão de cisalhamento, à taxa de cisalhamento e à viscosidade. TABELA 3 - Equações de modelos matemáticos para determinação do comportamento reológico. Modelo matemático Equação do modelo Newton Bingham Ostwald de Waele Herschel-Bulkley Os parâmetros reológicos da lei de potência são o índice de consistência, K, que indica o grau de resistência do fluido frente ao escoamento, quanto maior o valor de K mais “consistente” é o fluido, e o índice de comportamento ou de fluxo, n, que indica fisicamente o afastamento do fluido do modelo newtoniano. O modelo de potência pode ser usado para representar fluidos pseudoplásticos (n < 1), fluidos newtonianos (n = 1) ou fluidos dilatantes (n > 1) (KELESSIDIS et al., 2006; KELESSIDIS, POULAKAKIS, CHATZISTAMOU, 2011). Apenas as formulações que tiveram comportamento pseudoplástico (PRZ 0,75% e PRZ 1%) foram submetidas ao teste de análise oscilatória. Sendo realizada na temperatura de 25,0 ± 0,1 ºC, utilizando um reômetro no modo oscilatório, com geometria de placas paralelas de 2,0 cm de diâmetro, separadas por uma distância fixa de 0,102 mm. O teste de oscilação realizado foi o de varredura de frequência. As formulações foram estudadas com solicitações oscilatórias para determinar a evolução dos módulos de armazenagem (G’) e de perda (G”) em função da frequência (0,1 Hz a 100 Hz) a uma tensão de amplitude oscilatória fixa (1,00 Pa) obtida a partir da região viscoelástica linear. As amostras foram cuidadosamente aplicadas à placa inferior, assegurando o mínimo cisalhamento. 46 Materiais e métodos _________________________________________________________________ 4.6.2 Efeito do fármaco na estabilidade da emulsão O aspecto dos sistemas após a incorporação do fármaco levou à suspeita de que o PRZ poderia estar interagindo com os componentes da formulação como um tensoativo. Assim, um estudo de estabilidade foi realizado modificandose a concentração da associação dos tensoativos Tween ® 80 e Span® 80 na emulsão na presença de fármaco. Para isto, três diferentes emulsões foram produzidas alterando a quantidade da associação dos tensoativos (1%, 2,5% e 5% m/m) onde todas possuíam 1% de PRZ. Os ensaios foram realizados em triplicata. Depois de acondicionadas em frascos de vidro hermeticamente fechados, as formulações foram submetidas a ciclos de 24 horas em diferentes condições de temperatura como esquematizado na Figura 8. Medidas de índice de cremagem, turbidez, pH, condutividade elétrica, teor do fármaco e análises de microscopia óptica foram realizadas à temperatura ambiente (25 ± 2 °C) após o 1º, 7º, 15º e 30º dia da preparação. A preparação das amostras para análise nos parâmetros citados procedeu à mesma metodologia descrita no item 4.4.2 e 4.5. 4.7. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados experimentais e analíticos foram expressos como os valores médios acrescidos dos valores de desvio padrão. Para as comparações entre dois grupos, foi utilizado o teste t Student´s, enquanto que para a comparação entre mais de três grupos foi realizada a análise de variância com uma entrada (ANOVA-One Way), sendo os resultados apresentados da seguinte maneira: [F(x,y)= valor de F; (p= valor de p)], onde “F” corresponde à variância dos resultados, “x” corresponde ao número de tratamentos menos um (k - 1), “y” equivale ao resíduo, ou seja, o numero de amostras (n) menos o numero de tratamentos (n - k) e “p” equivale ao índice de confiança. Para confronto dos valores médios estatisticamente diferentes foi utilizado quando apropriado, o teste Student-Newman-Keus (SNK) para comparações 47 Materiais e métodos _________________________________________________________________ múltiplas e o teste de Dunnet para comparações em relação a um grupo controle, sendo considerados significativamente diferentes os valores de p < 0,05. 48 Resultados e discussão _________________________________________________________________ 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE MÉTODO PARA ANÁLISE QUANTITATIVA DO FÁRMACO A validação do método analítico é um passo obrigatório para avaliar a capacidade do método desenvolvido de fornecer resultados precisos para a sua aplicação de rotina. A utilidade de um método analítico baseia-se nos valores dos parâmetros de validação (ROZET et al., 2011). A validação deve garantir, por meio de estudos experimentais, que o método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos resultados. Para tanto, deve apresentar especificidade, linearidade, intervalo, precisão, sensibilidade, limite de quantificação, exatidão, adequados à análise (ANVISA - BRASIL, 2003; ICH, 1996). Dessa forma, iniciou-se a validação do método analítico realizando uma varredura do comprimento de onda do PRZ com e sem a presença das matrizes. A Figura 9 apresenta o espectro de absorção na região do ultravioleta. 264 nm Absorbancia (A) 0,6 0,4 0,2 0,0 200 225 250 275 300 325 Comprimento de onda (nm) FIGURA 9 - Espectros de ultravioleta obtidos na região de 200 - 400nm. Sendo: azul = PRZ, ® ® vermelho = Tween 80 + Span 80, verde = tween + span + PRZ, laranja = FS + OS + PRZ, lilás = FS + OS. 49 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Tal espectro foi obtido na faixa de 200-400nm da solução matriz com 1,00 g de emulsão (70% água destilada; 25% óleo de soja; 2,5% fosfatidilcolina de soja; 2,5% oleato de sódio) e (70% água destilada; 25% óleo de soja; 2,5% Tween® 80; 2,5% Span® 80), solução de PRZ (0,4 mg/mL) e solução do fármaco juntamente com as matrizes (PRZ + MATRIZ). O método de análise proposto mostrou-se seletivo e específico para ambos os tipos de emulsões, mostrando que a matriz não absorve energia no comprimento de onda selecionado para a análise quantitativa do PRZ e assim os componentes da matriz não influenciam na determinação do fármaco. Depois de observada a especificidade e seletividade do método, a curva padrão do fármaco em solução alcoólica foi obtida por espectrofotometria na região ultravioleta. A Figura 10 apresenta a curva padrão do fármaco em solução alcoolica obtida por espectrofotometria na região ultravioleta. Absorbancia (A) 1,2 0,8 0,4 0,0 0,0 0,3 0,6 0,9 Concentraçao (mg/mL) FIGURA 10 - Curva padrão de PRZ em solução alcoólica obtida por espectrofotometria UV-vis em 264 nm. A equação da reta foi y = 1,1912x + 0,0993 e a análise quantitativa do PRZ, proposta pelo método de espectrofotometria, mostrou linearidade na faixa de concentração de trabalho, de 0,08 a 0,80 mg/mL, o coeficiente de correlação calculado foi r2 > 0,99984, valor que se encontra de acordo com limite adequado estabelecido (ANVISA - BRASIL, 2003). Os dados foram ainda submetidos à 50 Resultados e discussão _________________________________________________________________ análise de variância, a qual demonstrou não haver diferença estatística significante [F (5,54) = 0,00504, (p = 1)]. Os resultados experimentais para os diferentes parâmetros analisados estão apresentados na Tabela 4. TABELA 4 - Resultados dos parâmetros analisados na validação da metodologia analítica do PRZ. Parâmetros analíticos Concentração + DP (CV%) 0,16 mg/mL 0,24 mg/mL 0,4 mg/mL 0,56 mg/mL 0,64 mg/mL Precisão (mg/mL) Intra-dia 0,17 + 0,01 (4,9) 0,24 + 0,01 (0,4) 0,40 + 0,01 (1,2) 0,56 + 0,01 (2,5) 0,65 + 0,01 (1,5) Inter-dia 0,16 + 0,01 (2,8) 0,24 + 0,01 (1,4) 0,40 + 0,01 (2,4) 0,57 + 0,01 (0,9) 0,64 + 0,01 (1,0) Exatidão (%) PRZ + FS e OS 91,16 + 1,39 94,47 + 3,10 97,04 + 2,15 96,75 + 2,29 97,68 + 2,90 (1,5) (3,2) (2,2) (2,4) (3,0) PRZ + Tween® e Span® 96,58 + 1,69 99,01 + 2,58 99,21 + 1,87 98,45 + 1,70 99,96 + 2,11 (1,8) (2,6) (1,8) (1,7) (2,1) Robustez (mg/mL) etanol 85% 0,16 + 0,01 (0,6) 0,23 + 0,01 (0,6) 0,39 + 0,01 (1,0) 0,55 +0,01 (1,3) 0,62 + 0,01 (1,0) etanol 90% 0,16 + 0,01 (1,6) 0,23 + 0,01 (1,5) 0,39 + 0,01 (1,1) 0,55 +0,01 (1,0) 0,62 + 0,01 (0,8) etanol 99,5% 0,17 + 0,01 (4,9) 0,24 + 0,01 (0,4) 0,40 + 0,01 (1,2) 0,56 + 0,01 (2,5) 0,65 + 0,01 (1,5) DP = Desvio padrão; CV = coeficiente de variação 51 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A precisão é a concordância entre os resultados dentro de um curto período de tempo com o mesmo analista e mesma instrumentação. A repetibilidade do método é verificada por, no mínimo, 9 determinações, contemplando o intervalo linear do método, ou seja, 3 concentrações, baixa, média e alta, com 3 réplicas cada ou mínimo de 6 determinações a 100% da concentração do teste (ANVISA - BRASIL, 2003). E é normalmente expressa pelo desvio padrão relativo (coeficiente de variação) (USP, 1990; ICH,1996). O valor máximo aceitável para o coeficiente de variação (CV) é 5% (ANVISA - BRASIL, 2003). Os resultados obtidos pelo método espectrofotométrico UV mostraram-se precisos para análise quantitativa do fármaco, sendo que os valores de CV foram menores que 5%, encontrando-se dentro do limite especificado pelas normas (ICH, 1996; ANVISA - BRASIL, 2003). Adicionalmente, os resultados obtidos no estudo de precisão foram submetidos a uma análise estatística, onde não foi observado diferença significativa para os valores intra-dia [F (2,12) = 0,00588, (p = 0,994)] e para os valores inter-dia [F (2,12) = 0,00153, (p = 0,998)]. A exatidão de um método pode ser definida como a proximidade dos resultados obtidos em relação ao valor verdadeiro (ICH, 1996; ANVISA - BRASIL, 2003). Os compêndios oficiais e a legislação vigente preveem que o ensaio de determinação da exatidão pode ser realizado para análise quantitativa de fármacos, formas farmacêuticas e para impurezas (ICH, 1996; ANVISA - BRASIL, 2003). Para análise quantitativa do fármaco em formas farmacêuticas, o ensaio de recuperação pode ser realizado pelo método de adição de padrão ou pelo método do placebo contaminado. O primeiro consiste em analisar uma amostra a qual foi adicionada quantidade conhecida de fármaco (padrão de referência) à forma farmacêutica e o segundo consiste em adicionar quantidade conhecida de fármaco (padrão de referência) a uma mistura dos excipientes da forma farmacêutica (ICH, 1996; ANVISA - BRASIL, 2003). Dessa forma, nesse estudo a exatidão foi avaliada pelo método do placebo contaminado, adicionando concentrações conhecidas da solução padrão do fármaco a uma solução contendo os componentes da matriz (25% de óleo de soja, 5% de tensoativos e 70% de água destilada). 52 Resultados e discussão _________________________________________________________________ De acordo com os valores apresentados na Tabela 4, o método de análise proposto pode ser considerado exato, para ambos os conjuntos de tensoativos, já que a recuperação encontrada na totalidade das concentrações estudadas mostrou-se adequada para análise quantitativa do PRZ nas matrizes emulsionadas. Não houve diferença estatística significante para o uso do OS e FS [F (2,12) = 0,0113, (p = 0,989)], valor mínimo de 91,16 ± 1,39% e valor máximo de 97,68 ± 2,9%, e nem para Tween® 80 e Span® 80 [F (2,12) = 0,00693, (p = 0,993)] sendo o valor mínimo de 96,58 ± 1,69% e valor máximo de 99,96 ± 2,11%. Robustez é a medida de sua capacidade em resistir a pequenas e deliberadas variações dos parâmetros analíticos. Durante o desenvolvimento da metodologia deve-se considerar a avaliação da robustez. Constatando que a susceptibilidade do método a variações nas condições analíticas, estas deverão ser controladas e precauções devem ser incluídas no procedimento (ANVISA BRASIL, 2003). A avaliação da robustez (Tabela 4) foi realizada pela análise do coeficiente de variação entre as médias das concentrações, observando que não ocorreu interferência com a variação do grau alcoólico, o coeficiente de variação foi menor que 5% seguindo os padrões da ANVISA. Os valores não apresentaram diferenças estatísticas quando comparados entre si [F (2,12) = 0,00440, (p = 0,996)]. Portanto, o método analítico proposto foi considerado robusto frente a variação do teor alcoólico nos sistemas emulsionados. O estudo, dos diferentes parâmetros analíticos, confirmou que a metodologia foi validada com sucesso e pode ser utilizada para a análise quantitativa do PRZ nos sistemas emulsionados, garantindo a confiabilidade dos resultados. 5.2. ESTUDO DA OBTENÇÃO E ESTABILIDADE DO SISTEMA EMULSIONADO ÓLEO DE SOJA/ÁGUA 5.2.1 Construção do diagrama de fases 53 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Com o intuito de se determinar a melhor proporção de tensoativos para a construção do diagrama de fases, inicialmente realizou-se o estudo para determinação do melhor valor de EHL. Numa fase inicial do processo de desenvolvimento da formulação é de grande importância avaliar o valor de EHL dos tensoativos utilizados e também o valor requerido de EHL da fase oleosa, isso caracterizará o tipo de emulsão que se deseja produzir (A/O ou O/A). Por meio dessas determinações, o número de experimentos pode ser reduzido precocemente durante a escolha da formulação (SCHMIDTS et al., 2010). O valor de EHL necessário para emulsificar um determinado óleo pode ser determinado empiricamente, isto é, pela preparação de emulsões com tensoativos de diferentes valores de EHL, e assim determinar em qual destes valores se obtém a emulsão mais estável (LACHMAN, LIEBERMAN, KANIG, 2001). Nesse caso, o EHL para a formulação desejada foi escolhido pelo ensaio de estabilidade preliminar, o qual foi determinado pelo índice de cremagem das emulsões em estudo. Este parâmetro foi medido 24 h após o preparo, antes e depois da centrifugação [950 (x g) por 30 min], e após 7 dias. Foi utilizado como conjunto de tensoativos o Tween® 80 e o Span® 80 para o sistema em estudo, pois é mais frequente o preparo de emulsões estáveis recorrendo a uma combinação de um tensoativo lipofílico com um hidrofílico, especialmente para emulsões O/A. Essas combinações produzem interfaces mistas revestindo a fase interna devidamente, para conferir ao sistema uma viscosidade suficiente para evitar a cremagem e assim promover a estabilidade da emulsão (LACHMAN, LIEBERMAN, KANIG, 2001). Além de que, a estabilização de emulsões pelo uso de tensoativos não iônicos se faz através de impedimento estérico e ligações de hidrogênio. A porção não polar do tensoativo se insere nas partículas do óleo e os grupos de óxido de etileno na fase aquosa. Os grupos de óxido de etileno causam impedimento estérico que inibe as partículas de óleo sofrerem colisão e coalescer, além de formarem ligações de hidrogênio com a água (FOX, 1986; SILVA & SOARES, 1996; GULLAPALLI & SHETH, 1999). O processo de cremagem é causado devido à ação da gravidade e pode ocorrer quando a densidade da fase dispersa é menor do que a fase dispersante. 54 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A centrifugação pode ser aplicada para acelerar a taxa de cremagem ou sedimentação e é considerada um método para determinar a estabilidade preliminar das emulsões baseado no processo de separação acelerada, que normalmente ocorre sob condições de armazenamento (BRASIL, 2004; CASTELI 2008; SINKO, 2008; BONTORIM 2009). As emulsões recém-preparadas não devem ser submetidas a testes de estabilidade, seja pela exposição imediata às condições de tensão ou a procedimentos de teste, pois esses sistemas podem apresentar uma instabilidade intrínseca, não adquirindo uma estabilidade logo após a obtenção. É desejável um período inicial de espera para que ocorra a estabilização, sendo usualmente aceito um período de 24 a 48 horas após o preparo (RIEGER, 1996; MASSON, 2005). Assim, tanto para este estudo, quanto para os estudos seguintes, padronizou-se um período de 24 horas, após o preparo, para a realização das análises nas emulsões. Neste trabalho, o EHL para a formulação desejada foi escolhido pelo ensaio de estabilidade preliminar, o qual foi determinado pelo índice de cremagem (IC) das emulsões em estudo. Este parâmetro foi medido 24 horas após o preparo, antes e após a centrifugação [950 (x g) por 30 min], e 7 dias após a obtenção das emulsões. Os valores dos IC encontrados estão apresentados na Tabela 5. TABELA 5 - Valores encontrados para as médias do índice de cremagem (IC) medido 24h (antes e após centrifugação) e 7 dias após o preparo das emulsões. EHL Antes da Após centrifugação centrifugação (24h) (24h) 7 dias Média (± DP) 8 13,40 ± 0,00 10,75 ± 0,21 12,15 ± 2,33 9 12,35 ± 1,77 9,95 ± 1,77 11,12 ± 3,80 10 11,00 ± 1,56 9,05 ± 2,19 9,90 ± 5,09 11 6,35 ± 2,05 7,35 ± 2,90 8,95 ± 3,04 Valores semelhantes de IC foram observados para os EHL 8, 9 e 10 durantes os sete dias de estudo, enquanto que a formulação obtida com o EHL 11 55 Resultados e discussão _________________________________________________________________ apresentou valores menores de IC, quando comparado aos demais, indicando maior estabilidade, uma vez que de acordo com a equação para cálculo do índice de cremagem, quanto menor o valor do IC, menor o valor da porção de creme (TC) na emulsão. O presente estudo permitiu estabelecer que a emulsão com EHL 11 apresentou uma maior estabilidade, uma vez que este sistema apresentou um índice de cremagem significativamente menor, quando comparado aos valores das amostras com EHL 8, 9 e 10. Sendo o EHL 11, portanto, o valor usado para realização dos demais estudos. Após estabelecer o melhor EHL para estudo, deu-se continuidade ao trabalho com o estudo termodinâmico dos sistemas coloidais. Quando se modifica progressivamente a composição de uma mistura de solventes imiscíveis, as mudanças que produzirão na dispersão podem ser traduzidas por importantes variações nas propriedades termodinâmicas dos constituintes que a compõe (OLIVEIRA et al., 2004). Normalmente, o diagrama de fases, representado por um triangulo equilátero, é chamado de diagrama ternário, pois haverá a mistura de três componentes: fase aquosa, fase oleosa e tensoativo. Esses diagramas também podem ser chamados de pseudoternários, pois o ponto, que representa normalmente apenas um tensoativo, passa a ser representado por uma mistura de tensoativos. Portanto, o diagrama será a representação da mistura de quatro substâncias no triângulo equilátero (LAWRENCE & REES, 2000; CORREA et al., 2005; SILVA et al., 2009; DAMASCENO et al., 2011). A Figura 11 representa um triângulo equilátero onde cada região contém pontos cuja composição corresponde a uma mistura pseudoternária (Tween® 80 + Span® 80, óleo de soja e água purificada) em porcentagem. Cada vértice do triângulo representa 100% de cada um dos componentes. A construção desse diagrama teve como objetivo definir a região de emulsão O/A para posterior caracterização. 56 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 11 - Diagrama pseudoternário contendo água purificada como FA, óleo de soja como FO ® e a associação dos tensoativos Tween 80 + Span ® 80 (Tw80 + Sp80). As áreas delimitadas representam: SEOB (Sistema Emulsionado Opaco Branco), ST (Sistema Translúcido), SEOA (Sistema Emulsionado Opaco Amarelo) e SF (Separação de Fases). A construção do diagrama de fases é importante, pois com ela é possível prever o comportamento de fases dos sistemas quando seus constituintes são alterados. Como observado na Figura 11, cada área demarcada corresponde a pontos no diagrama que representam uma forma de organização diferente do sistema, detectada visualmente após cada titulação. A região SEOB corresponde a área onde houve a formação de sistema opaco branco o que pode indicar, devido a concentração de cada componente, a formação de sistemas emulsionados do tipo O/A; a área ST refere-se à presença de sistemas translúcidos, o que indica a possível formação de sistemas micro/nanoemulsionados; e, a região SF corresponde à área com ocorrência de separação de fases. Ainda nessa figura, pode ser observado o predomínio da região SEOA, o que indica a possível formação de sistemas emulsionados do tipo A/O, devido à alta concentração de FO, e/ou à formação de sistemas emulsionados do tipo O/A, que foram caracterizados com uma coloração amarela, devido à alta quantidade de tensoativos. 57 Resultados e discussão _________________________________________________________________ No diagrama observou-se que a região de emulsões O/A foi formada em altas concentrações de água (acima de 45%). A região de ST se encontra em altas concentrações tensoativos (30 a 75%) e em concentrações intermediárias de água e óleo. Com o par de tensoativos em estudo, Tween® 80 e Span® 80, foi possível obter sistemas homogêneos com concentrações de óleo abaixo de 75%. Foi observada também uma região de separação de fases, onde a proporção dos tensoativos é baixa, não sendo suficiente para a estabilização do sistema. Por meio do diagrama, a região SEOB foi estudada selecionando-se pontos conforme Figura 12. FIGURA 12 – Pontos selecionados na região SEOB do diagrama pseudoternário. A construção do diagrama pseudoternário mostrou que é possível se obter emulsões do tipo O/A com as concentrações de 5% de tensoativos, 10% de óleo de soja e 85% de água purificada (ponto B, Figura 12). Portanto, essas concentrações foram as padronizadas para a realização dos demais estudos. Os demais pontos serão abordados no decorrer da discussão. Emulsões estáveis são melhor formuladas com tensoativos os quais possuam valores de EHL próximo ao do chamado EHL requerido da fase oleosa usada. No entanto, não só o valor EHL, mas também o tipo de emulsionante químico pode influenciar na estabilidade das emulsões (SCHMIDTS et al., 2010). Dessa forma, foi realizado o estudo seguinte. 58 Resultados e discussão _________________________________________________________________ 5.2.2 Efeito dos cotensoativos na estabilidade acelerada da emulsão óleo de soja/água Os estudos de estabilidade preliminar consistem na realização dos testes da fase inicial do desenvolvimento do produto, utilizando diferentes formulações com durações reduzidas (30 dias). É um estudo planejado para acelerar a degradação química e/ou mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições forçadas de armazenamento, sendo empregadas condições extremas de temperatura. Pelas condições em que é conduzido, o estudo não tem finalidade de estimar a vida útil do produto, mas auxiliar a triagem das formulações (BRASIL, 2004; CASTELI 2008; BONTORIM, 2009). Vários fatores podem comprometer a estabilidade físico-química e microbiológica de um sistema emulsionado: a escolha de constituintes incompatíveis, tipo e concentração de emulsificantes, velocidade de agitação, tempo de aquecimento e arrefecimento, quantidades das fases, temperatura e ambiente de estocagem e contaminação por microrganismos (ALVAREZ et al. 2007; PIANOVSKI et al, 2008). O ensaio foi realizado em um período de 30 dias avaliando a estabilidade da emulsão na presença ou ausência de cotensoativos, no caso, álcool etílico e álcool benzílico. Os parâmetros avaliados foram índice de cremagem, turbidez, pH e condutividade elétrica. Os valores obtidos para o índice de cremagem e turbidez estão apresentados na Figura 13. De acordo com a Figura 13-A, a análise do índice de cremagem das emulsões obtidas permitiu inferir que não houve mudanças na estabilidade dos sistemas quando adicionado álcool etílico como cotensoativo em diferentes concentrações, os valores para tal ficaram entre 10-20%. A análise estatística dos valores corroborou com os resultados não havendo diferença estatística significante [F (3,12) = 0,214 (p = 0,885)]. Verificou-se que durante todo o estudo, as emulsões apresentaram-se branco leitosas. 59 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A B A’ B’ FIGURA 13 - Gráficos correspondentes aos valores obtidos de IC e turbidez das emulsões durante 30 dias de estudo utilizando álcool etílico (A e A’) e álcool benzílico (B e B’) como cotensoativos. Sendo que ○ corresponde à emulsão 0:1 (razão de cotensoativo : tensoativo), ● 0,05:1, ▲ 0,1:1, e ■ 0,15:1. Por meio da Figura 13-B, observa-se que houve um ligeiro aumento do índice de cremagem, com o passar do tempo, nas emulsões onde houve a adição de álcool benzílico Esses valores apresentaram diferenças estatísticas significantes (ANOVA one-way e Dunnet pós-teste). É interessante a análise dos próximos parâmetros para sugerir se o álcool benzílico interfiriu na estabilidade do sistema. Esses resultados podem ser atribuídos à natureza menos polar do etanol (constante dielétrica em torno de 24) em relação ao álcool benzílico, que favorece uma possível localização na interface, sendo as interações ocasionadas tanto por ligações de hidrogênio quanto por interações hidrofóbicas. Indicando que o álcool etílico favorece a uma maior estabilização da vesícula emulsionada. Este cotensoativo é organizado com seu grupo OH localizado entre o grupo polar dos 60 Resultados e discussão _________________________________________________________________ tensoativos e as moléculas de água e seu grupo apolar localizado entre as cadeias apolares dos tensoativos. No entanto, todas as moléculas de álcool etílico não residem apenas dentro da região interfacial, uma fração encontra-se distribuida entre as fases de óleo e da água de acordo com sua solubilidade relativa (RESENDE et al., 2008; WIA CEK, 2012). Sabe-se que um aumento nos valores de índice de cremagem durante um estudo de estabilidade é ocasionado pelo aumento das forças de interação entre as gotículas dispersas resultantes da diminuição da repulsão eletrostática, ou devido à fragilidade do filme interfacial responsável pela estabilização estérica em emulsões não iônicas (LACHMAN, LIEBERMAN & KANIG, 2001; CAPEK, 2004). Dessa forma, a análise desse parâmetro indica que o álcool benzílico não contribuiu para a estabilização do filme interfacial das emulsões. Além da análise de IC, a estabilidade ao longo do tempo foi também avaliada pela turbidez, pH e pela condutividade elétrica. Na turbidimetria, também conhecida por opacimetria, mede-se a intensidade da luz transmitida no mesmo sentido da luz incidente. Embora existam turbidímetros destinados especificamente à medida de turbidez, colorímetros e espectrofotômetros convencionais são satisfatórios para medida da luz transmitida, desde que ajustados para comprimento de onda apropriado (FARMACOPÉIA BRASILEIRA, 2010). Analisando-se os dados obtidos na turbidimetria, observa-se que não houve modificações dos valores de turbidez para as formulações que utilizaram álcool etílico como cotensoativo (Figura 13-A’). Sendo que estas não apresentaram diferenças estatísticas significantes ([F (3,12) = 2,269, (p = 0,133)]), durante os 30 dias, em diferentes tempos e temperaturas. Este resultado corrobora com o obtido para índice de cremagem, uma vez que não foi observado alterações acentuadas nos valores durante os 30 dias de estudo. Na Figura 13-B’, é possível observar que a adição do álcool benzílico não alterou o valor da turbidez das emulsões quando adicionado em diferentes concentrações. Quando analisados estatisticamente não apresentaram diferenças significantes ([F (3,12) = 1,284, (p = 0,324)]). Para esse parâmetro, permitiu-se inferir que o cotensoativo em estudo não promoveu modificação na estabilidade das emulsões. Se as modificações que o sistema sofre durante o período de 61 Resultados e discussão _________________________________________________________________ análise são mínimas, este sistema pode ser considerado como cineticamente estável, mesmo que se torne instável num período de tempo mais prolongado (LACHMAN, LIEBERMAN & KANIG, 2001). Por meio das medidas de pH (Figura 14) é possível presumir alterações na estrutura do sistema, como oxidação, que nem sempre são visualmente detectáveis. As avaliações físico-químicas permitem ao detectar futuros problemas que podem afetar a estabilidade e a qualidade do seu produto (BRASIL, 2004; BONTORIM, 2009). A diminuição do pH pode representar uma oxidação da fase de óleo com a formação de hidroperóxidos ou a hidrólise de triglicéridos que conduz à formação de ácidos graxos (MASMOUDI et al., 2005; FORMIGA et al., 2007). O valor de condutividade também foi determinado (Figura 14), pois alterações em tal valor permitem a detecção de cremagem, sedimentação ou inversão de fases. Esta técnica é muito utilizada para verificar a integridade da fase interna, visto que esta é dependente da natureza da fase externa da formulação (FERRARI, 1998). A condutividade é frequentemente utilizada para determinar a natureza da emulsão (O/A ou A/O) e para controlar a sua estabilidade durante o período de armazenagem. Através desse método é possível avaliar a variação no conteudo de água livre do sistema emulsionado e, desta maneira, identificar mudanças estruturais que possam ocorrer (CASTELI, 2008; MASMOUDI et al., 2005; MASSON, 2005). Dessa forma, o pH e a condutividade das quatro diferentes emulsões com diferentes proporções de cotensoativos foi medido (Figura 14). Como mostrado na Figura 14-A, o valor de pH, para as emulsões onde utilizou-se alcool etilico como cotensoativo, permaneceu constante durante os trinta dias de estudo não apresentando diferenças estatísticas significantes [F (3,12) = 0,784, (p = 0,526)], indicando que o etanol não promoveu alteração na estabilidade química da fase oleosa, uma vez que esse álcool encontra-se na interface da vesícula emulsionada (RESENDE et al., 2008; WIA CEK, 2012). 62 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A B A’ B’ FIGURA 14 - Gráficos correspondentes aos valores obtidos de pH e condutividade das emulsões durante 30 dias de estudo utilizando álcool etílico (A e A’) e álcool benzílico (B e B’) como cotensoativos. Sendo que ○ corresponde à emulsão 0:1 (razão de cotensoativo : tensoativo), ● 0,05:1, ▲ 0,1:1, e ■ 0,15:1. Com a adição do álcool benzílico à formulação (Figura 14-B), houve uma redução gradativa dos valores do pH, a partir do sétimo dia de estudo. As diferenças entre os valores de pH para as quatro emulsões da Figura 14-B foram estatisticamente significantes (ANOVA one-way e Dunnet pós teste) em relação ao grupo controle. Tais resultados podem ser atribuídos a uma provável hidrólise parcial do óleo de soja gerando ácidos graxos na FO. Este fato é comum em sistemas emulsionados lipídicos (FORMIGA et al., 2007), uma vez que, devido à presença do anel aromático na estrutura do álcool benzílico, não houve uma boa inserção deste álcool junto aos tensoativos contribuindo, assim, para uma desestabilização da vesícula emulsionada e uma provável exposição da FO às moléculas de água (ZHANG et al., 2000). Atribui-se também, esta diminuição nos valores de pH, a ocorrência de uma oxidação do álcool benzílico transformando-o em ácido 63 Resultados e discussão _________________________________________________________________ benzóico, tanto que esse composto é amplamente utilizado em formulações farmacêuticas como agente antioxidante (MAULA, WESTERLUND, SLOTTE, 2009). Os valores para condutividade variaram de 34,98 a 79,69 µS/cm para o álcool benzílico e 33,58 a 74,56 µS/cm para o álcool etílico. Esses altos valores encontrados confirmam que as emulsões são do tipo O/A (FUJII, OKADA & FURUZONO, 2007). Tanto para as quatro formulações da Figura 14-A’ quanto para as formulações da Figura 14-B’ não houve diferenças estatisticamente significantes ([F (3,12) = 0,626, (p = 0,608)]) e ([F (3,12) = 1,361, (p = 0,290)]), respectivamente, durante os 30 dias de estudo, em diferentes tempos e temperaturas, sugerindo-se que não houve modificações na estruturação dos sistemas (MASMOUDI et al., 2005; CASTELI, 2008). Masmoudi e colaboradores (2005) relataram que é dificil avaliar a estabilidade de emulsões somente pela condutividade elétrica, porque não há uma relação linear entre o aumento da condutividade elétrica e o fenômeno de instabilidade. O presente estudo permitiu estabelecer que os cotensoativos escolhidos não levaram ao aumento na estabilidade física ou química dos sistemas. Ao contrário do que ocorreu com o álcool benzílico, não ocorreu nenhum efeito negativo na presença do álcool etílico, quando levado em conta os resultados obtidos para o índice de cremagem, turbidez, pH e condutividade elétrica, o que possibilita o seu uso na formulação na tentativa de aumentar a eficiência de incorporação do fármaco. 5.3. ESTUDO DE INCORPORAÇÃO DO FÁRMACO 5.3.1 Escolha do método de incorporação De acordo com a metodologia utilizada, o PRZ foi adicionado em excesso às emulsões por meio de dois métodos diferentes: no primeiro, o fármaco foi adicionado diretamente na fase oleosa da emulsão (TIF) no momento da inversão de fases; e, em um segundo método, o fármaco foi adicionado diretamente na 64 Resultados e discussão _________________________________________________________________ emulsão pronta (EF). Em seguida, foram feitas soluções com essas emulsões e submetidas à leitura no espectrofotômetro a 264 nm (comprimento de onda selecionado e validado para análise quantitativa do PRZ). A solubilidade do fármaco foi determinada por meio da equação da reta obtida pela análise de regressão linear da curva de calibração (y = 1,1912x + 0,0993). Os resultados encontram-se na Tabela 6. TABELA 6 – Porcentagem de PRZ incorporado em emulsão por dois métodos diferentes. % do PRZ na emulsão Tipo de incorporação N1 N2 N3 Média ± Desvio padrão EF 0,755 0,776 0,769 0,766 ± 0,011 TIF 0,898 0,900 0,887 0,895 ± 0,007* *Diferença estatística TA x FO: t valor = -17,393; P = < 0,001 O estudo permitiu observar que o método de incorporação do fármaco na fase oleosa da emulsão (TIF) incorpora uma maior quantidade de fármaco (0,895 ± 0,007%) quando comparado ao método de adição do fármaco na emulsão a frio (EF) (0,766 ± 0,011%). Esse resultado deve-se, provavelmente, ao fato de a energia necessária para o PRZ ser solubilizado na fase oleosa ser menor do que a energia necessária para o fármaco ser incorporado nas vesículas emulsionadas, uma vez que as emulsões comportam-se como sistemas reservatórios, onde as vesículas emulsionadas encontram-se separadas do meio por uma interface, assim o fármaco deve transpor essa barreira para então ser solubilizado (OLIVEIRA et al., 2004). Dessa forma, há uma facilidade maior em solubilizar o fármaco antes do momento da inversão de fases do que na emulsão pronta, como já era esperado, uma vez que o PRZ apresenta maior afinidade pela FO. Pestana e colaboradores (2008), estudando o comportamento da Anfotericina B em sistemas emulsionados O/A, observaram que fármacos neutros interagem fortemente com a fase interna do sistema por meio de um efeito hidrófobo, sendo típico da sua incorporação em agregados supramoleculares como micelas. C. Washington (1996), para fins de formulação de emulsão, classificou fármacos com base em suas características de solubilidade e as suas propriedades de ionização, as quais não são completamente independentes. 65 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Fármacos da Classe II do Sistema de Classificação Biofarmacêutica são predominantemente solúveis em óleo, dessa forma, em uma emulsão O/A seria particionado preferencialmente para a fase oleosa. Tais materiais são bons candidatos para serem incorporados em emulsão e pode normalmente ser formulado por dissolução do fármaco no óleo antes da emulsificação. No entanto, é interessante destacar que a solubilidade do fármaco na fase interna depende das interações com este solvente, a qual muitas vezes não está relacionada apenas com suas propriedades físico-químicas como o coeficiente de partição. A solubilidade aquosa do PRZ descrito na literatura é 0,4 mg/mL (LINDENBERG, KOPP & DREESMAN, 2004). No entanto, em nosso laboratório foi encontrado o valor analítico de 0,2 mg/mL, para tanto o método da TIF aumentou em 44,75 vezes a fração solúvel do fármaco, enquanto que o método de incorporação por EF aumentou em 38,3 vezes, o que demonstra o potencial destes sistemas. 5.3.2 Efeito do etanol na incorporação do PRZ na emulsão Uma vez que foi demonstrado que o etanol, quando utilizado como cotensoativo, não afetou a estabilidade da emulsão em estudo, foi proposta a análise do efeito deste cotensoativo na incorporação do PRZ, ou seja, se tal álcool influenciaria na quantidade de fármaco solubilizado no sistema. A Tabela 7 apresenta os valores encontrados para o estudo da incorporação do fármaco na emulsão simples e na emulsão com adição de etanol como cotensoativo, utilizando o método de adição de PRZ na fase oleosa da emulsão (TIF). TABELA 7 - Resultado do teste para incorporação do PRZ em emulsões diferentes. Tipo de emulsão Emulsão simples Emulsão com etanol % do PRZ na emulsão N1 N2 N3 Média ± Desvio padrão 0,898 0,900 0,887 0,895 ± 0,007 0,751 0,779 0,807 0,779 ± 0,028 66 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Como mostrado na Tabela 7, observa-se que houve diferença estatística significante entre os valores de teor de PRZ entre a emulsão simples e a emulsão com o cotensoativo (t valor = 6,961; p = 0,002). Por meio desse resultado, percebe-se que a adição do álcool etílico à emulsão não contribuiu para um aumento da concentração de fármaco incorporado. 5.4. ESTUDO DA INTERAÇÃO DO PRZ COM OS COMPONENTES DA EMULSÃO 5.4.1 Efeito do fármaco nas propriedades físico-químicas dos sistemas Avaliando o aspecto de fluidez vertendo-se os tubos que continham as emulsões, observou-se que à medida que o PRZ era adicionado ao sistema, havia um aumento relativo da viscosidade. Dessa forma, um estudo foi planejado com o objetivo de avaliar a interação do PRZ com os demais componentes da formulação. Para tanto, o estudo foi baseado nas diferenças de concentração dos constituintes nas formulações quanto à fase oleosa, quanto à concentração dos tensoativos (pontos A, B, C, D, E, F e G da Figura 12) e quanto à concentração do fármaco. Para todos os grupos de formulações os parâmetros analisados foram pH, turbidez, condutividade elétrica, índice de refração, diâmetro médio da gotícula e potencial zeta. Parâmetros esses importantes como técnicas de caracterização física dos sistemas (CONSTANTINIDES et al., 1995; FORMARIZ, et al., 2005). Adicionalmente, foi realizada a incorporação de PRZ no primeiro e no segundo grupo de formulação. O fenômeno de dispersão da luz pelas emulsões pode ser avaliado de maneira eficiente através da técnica de espalhamento de luz dinâmico (Dynamic Light Scattering), a qual fornece informações diretas sobre o movimento translacional das gotículas da emulsão e permite o cálculo do tamanho da gotícula através de relações teóricas fundamentadas no movimento Browniano das gotículas em dispersão, sendo o coeficiente de difusão das gotículas no meio o principal parâmetro levado em consideração (FORMARIZ et al., 2005). O índice 67 Resultados e discussão _________________________________________________________________ de polidispersão fornece informações sobre a homogeneidade da distribuição dos tamanhos das gotículas (NEMEN & LEMOS-SENNA, 2011). Já a técnica do índice de refração corresponde a uma relação entre a velocidade da luz no vácuo pela velocidade da luz no meio, no caso a emulsão. A maioria das partículas em contato com um líquido adquire uma carga elétrica na sua superfície, este potencial elétrico é chamado de potencial zeta e é influenciado pelas mudanças na interface com o meio dispersante, em razão da dissociação de grupos funcionais na superfície da partícula ou da adsorção de espécies iônicas presentes no meio aquoso de dispersão (HEURTAULT et al., 2003; SCHAFFAZICK et al., 2003). A medida de potencial zeta pode ser utilizada para prever a estabilidade físico-química de suspensões e emulsões coloidais. De acordo com a teoria DLVO, a fronteira entre emulsões estáveis é considerada como sendo o valor de potencial zeta de ± 30 mV (WANG et al., 2006). Sendo assim, emulsões com valores acima de +30 mV, bem como com valores inferiores a -30 mV são consideradas estáveis. Já emulsões com valores entre -30 e +30 mV são instáveis, sendo o valor de 0 mV como o de maior instabilidade, o chamado ponto isoelétrico. Evidentemente essa não é uma regra, considerando que partículas também podem ser preparadas com materiais que proporcionam um impedimento estérico que desfavorece fenômenos de agregação. Na Figura 15, encontram-se os resultados para as análises de diâmetro da gotícula, turbidez e índice de refração para o primeiro grupo de sistema emulsionado (Tabela 2). A análise do diâmetro médio da gotícula, assim como o índice de refração foram realizadas em associação com a turbidez, para que as três metodologias em conjunto pudessem oferecer maiores informações a respeito da caracterização das emulsões. 68 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 15 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio. O aumento dos valores da turbidez, do diâmetro hidrodinâmico e do índice de refração em relação à FO (Figura 15), pode ser explicado pelo fato de que se elevando a quantidade de fase oleosa para uma quantidade fixa de tensoativos, haverá um aumento do número e do tamanho dessas gotículas, resultado esse comprovado pelas fotomicrografias dos sistemas (Figura 16). O aumento no diâmetro médio das gotículas em função do aumento da FO foi também observado por Pestana e colaboradores (2008). Esse resultado deve-se a quantidade de tensoativos para recobrir aquela gotícula de óleo ser fixa, dessa forma a vesícula emulsionada tende a aumentar de tamanho para que a área interfacial do meio permaneça a mesma. Assim, se aumentasse ainda mais a quantidade de FO para uma mesma quantidade de tensoativos a emulsão provavelmente apresentaria indícios de instabilidade (HSU, NACU, 2003). O aumento da quantidade e do tamanho das gotículas ofereceu resistência à passagem da luz nas análises de turbidez e índice de refração (Figura 15) o que justifica o aumento progressivo para ambos os valores. Além de que para o índice de refração, a organização das microgotículas na fase interna da emulsão refrata 69 Resultados e discussão _________________________________________________________________ mais luz do que a água destilada, isto pode ser constatado pelo maior índice de refração do óleo (1,470) do que da água (1,3321) (RESENDE et al., 2008). Havendo uma redução da quantidade de fase aquosa nas formulações haverá um aumento do índice de refração, tornado-o mais próximo do índice de refração do óleo de soja. A Figura 16 representa a avaliação microscópica de cada emulsão do primeiro grupo de formulação. 5% 10% 20% 30% FIGURA 16 - Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio (aumento de 400x). A análise microscópica das formulações (Figura 16) revelou um crescimento do diâmetro dos glóbulos proporcional à quantidade de óleo no sistema, confirmando o resultado encontrado na determinação do diâmetro da gotícula encontrado pela técnica de espalhamento de luz. Para as amostras de 10, 20 e 30% de FO os glóbulos encontram-se, floculados, com distribuição heterogênea de tamanho. Dessa maneira, para esse primeiro grupo de formulação, os dados das Figuras (15 e 16) sugerem que com o aumento da proporção de fase oleosa, a mistura de tensoativos torna-se cada vez mais ineficaz na diminuição da tensão 70 Resultados e discussão _________________________________________________________________ interfacial. Assim, a curvatura do filme interfacial não se faz suficiente para conferir as gotículas da fase interna tamanhos diminutos e as mesmas acabam por assumir um tamanho maior. Na Figura 17, encontram-se os resultados dos parâmetros analisados para o primeiro grupo de formulação: pH, condutividade elétrica e potencial zeta. FIGURA 17 - Potencial zeta, condutividade elétrica e pH em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio Analisando a Figura 17 é possível perceber que os valores de pH, potencial zeta e condutividade diminuíram, o que pode indicar que houve ou uma redução de cargas no meio ou que houve uma diminuição da condutividade à medida que houve aumento da FO. A redução do valor do pH de 7,01 para 5,60 pode ter ocorrido devido a um aumento proporcional da presença de ácidos graxos solúveis decorrentes da hidrólise da FO (FORMIGA et al., 2007), uma vez que nas formulações não foi adicionado agentes antioxidantes (RODRIGUES et al., 2012). O parâmetro mais influente no potencial zeta é o pH, considerando que o pH do colóide pode fornecer informações quanto a cargas positivas ou negativas que irão interagir com as partículas. No caso, o pH diminuiu indicando que houve um aumento de H + no meio promovendo assim uma consequente diminuição do 71 Resultados e discussão _________________________________________________________________ potencial zeta de |-33,09| a |-15,01|. O valor negativo significa que as vesículas apresentam superfície externa com predominância de cargas negativas. Além do impedimento estérico dos tensoativos, pode-se inferir que esse fator proporciona uma proteção iônica às partículas e desta forma, quando uma partícula em difusão encontra outra na emulsão, ambas se auto-repelem devido à carga superficial. Os estudos que relacionam análise de potencial zeta e pH de emulsões demonstram que geralmente, o potencial Zeta tende a se tornar mais negativo com o aumento do pH (WASHINGTON, 1996; WIACEK & CHIBOWSKI, 1999; WIACEK & CHIBOWSKI, 2002) o que corresponde ao resultado encontrado para esses parâmetros. Avaliando o parâmetro de condutividade elétrica (Figura 17), observou-se também uma diminuição de 74,60 para 40,51 µS/cm. O óleo de soja não é um bom condutor de eletricidade (0,5 µS/cm) e se houvesse um aumento da quantidade de FO na emulsão, esse sistema mudaria de fase interna (CASTELLI, 2008). O mecanismo sugerido para a condução elétrica na água, conforme proposta de Agmon (1995), é que há transferência de próton entre duas moléculas de água vizinhas quando uma molécula tem posição que permite que uma ligação de hidrogênio -O-H O- se transforme em uma ligação -H H-O- , como houve uma redução da quantidade de fase aquosa à medida que se aumentou a massa de fase oleosa, contribuiu-se também para uma redução dos valores de condutividade elétrica (DJORDJEVIC et al., 2004). A análise da Figura 18, que apresenta os resultados para teor de fármaco incorporado nesse grupo de formulação, permite inferir que a concentração de PRZ dissolvido foi notavelmente aumentada pela adição de FO, aumentando provavelmente até um patamar de alta proporção deste componente. Estas características demonstram claramente que o PRZ (fármaco da Classe II do Sistema de Classificação Biofarmacêutica) interage com a fase interna (óleo de soja) do sistema através de um efeito hidrófobo (WASHINGTON, 1996). 72 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 18 - Quantidade de PRZ incorporado nas emulsões em função da concentração de óleo de soja (FO) no meio. A estabilização de emulsões pelo uso de tensoativos não-iônicos se faz através de impedimento estérico e ligações de hidrogênio. A porção apolar do tensoativo se insere nas gotículas de óleo e os grupos de óxido de etileno na fase aquosa. Os grupos de óxido de etileno causam impedimento estérico que inibe as gotículas de óleo sofrerem colisão e coalescer, além de formarem ligações de hidrogênio com a água (FOX, 1986; SILVA & SOARES, 1996; GULLAPALLI & SHETH, 1999). Entretanto, a estabilização de emulsões pode também ser obtida usando concentração mais elevada de agentes emulsificantes, pois isso resultará num filme ao redor das gotículas de óleo mais firme e compacto reduzindo a coalescência (FOX, 1986). Na Figura 19, encontram-se os resultados das análises de diâmetro hidrodinâmico, turbidez e índice de refração para o segundo grupo de sistemas emulsionados (Tabela 2), quando foi variada a quantidade de tensoativos (T). 73 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 19 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de tensoativos no meio. No processo de emulsificação as moléculas do tensoativo interagem com as gotículas de óleo e entre si durante a etapa de homogeneização de modo a formar uma interface em torno dos glóbulos que protela processos como floculação e coalescência (FLORENCE & ATTWOOD, 2003). Analisando os resultados (Figura 19) encontrados para turbidez, índice de refração e diâmetro médio hidrodinâmico, sugere-se que o excesso de tensoativos no meio foi adsorvido na interface óleo-água levando a uma redução do tamanho da gotícula, devido ao aumento da área interfacial do tensoativo e diminuição na tensão interfacial do sistema (TADROS et al., 2004). Consequentemente, elevaram-se os valores do índice de refração e da turbidez uma vez que se acentuou o numero de gotículas e um crescimento proporcional da viscosidade das emulsões indicando maior estruturação do sistema. A Figura 20 representa a avaliação microscópica de cada emulsão do segundo grupo de formulações. 74 Resultados e discussão _________________________________________________________________ 1% 2,5% 5% 10% FIGURA 20 – Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de tensoativos no meio (aumento de 400x). As fotomicrografias (Figura 20) apresentaram, de maneira geral, diminuição no tamanho dos glóbulos conforme aumento na concentração de tensoativo, confirmando o resultado encontrado na determinação do diâmetro da gotícula encontrado pela técnica de espalhamento de luz. Este foi um resultado esperado e vastamente descrito na literatura (TADROS et al., 2004; FERNANDEZ et al., 2004; IZQUIERDO et al., 2005; LIU et al., 2006; PESTANA, et al., 2008). As amostras de 1, 2,5 e 5% de tensoativos apresentam glóbulos com distribuição heterogênea de tamanho. Na Figura 21 encontram-se os resultados encontrados para pH, condutividade elétrica e potencial zeta do segundo grupo de formulações. 75 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 21 - Potencial zeta, condutividade elétrica e pH em função da concentração de tensoativos no meio. Os resultados apresentados na Figura 21, mostram que com um aumento dos tensoativos no sistema houve uma leve alteração do valor do pH (5,58 a 5,82), um aumento da condutividade (29,51 a 87,35 µS/cm), e uma redução do potencial zeta. Os valores do pH não apresentaram diferença estatística significantes [F (3,8) = 1,636 (p = 0,257)], indicando que a quantidade de tensoativos no meio não influenciou no valor desse parâmetro. Analisando os resultados encontrados para tais parâmetros, permite-se inferir que o uso de tensoativo não iônico (Tween® 80 e Span® 80) resulta na formação da dupla camada elétrica ao redor da gotícula dispersa. Essa maior estabilização da fase interna pode impedir uma maior interação dos ácidos graxos na interface com a fase aquosa, o que levou a redução do potencial zeta. Segundo a literatura, tal observação se deve ao pH e à força iônica da fase aquosa. A carga elétrica mensurada em emulsões estabilizadas com tensoativos não iônicos tem sido atribuída à adsorção dos íons H3O+ (em pH baixo) ou OH(em pH alto) da água (FRANGE & GARCIA, 2009), o que pode indicar possíveis alterações na estruturação do sistema (ZHANG & MICHNIAK-KOHN, 2011). 76 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A Figura 22 apresenta os resultados encontrados para teor de fármaco incorporado nesse grupo de formulação. FIGURA 22 - Quantidade de PRZ incorporado nas emulsões em função da concentração de tensoativos no meio. É possível observar, por meio da Figura 22, que à medida que se aumentou a quantidade de tensoativos no meio, houve um aumento da quantidade de PRZ incorporado. Isso porque, conforme mostrado nas Figuras 19 e 20, sugere-se que o excesso de tensoativos no meio foi adsorvido na interface óleo-água levando a um aumento da área interfacial das gotículas (TADROS et al., 2004), proporcionando assim a possibilidade de se incorporar uma maior quantidade de fármaco. Isto demonstra que o fármaco possui não somente uma boa interação com a fase interna, mas também com a interface. Na Figura 23, encontram-se os resultados do efeito da quantidade de fármaco nos parâmetros de diâmetro hidrodinâmico, turbidez e índice de refração para o terceiro grupo de formulações de sistemas emulsionados (Tabela 2). 77 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 23 - Diâmetro das gotículas, turbidez e índice de refração em função da concentração de PRZ no meio. Analisando a Figura 23 é possível perceber que à medida que se aumentou a quantidade de PRZ incorporado às emulsões houve uma diminuição do diâmetro médio das gotículas e um crescimento dos valores de índice de refração e de turbidez. Esse resultado pode ter ocorrido devido a alta solubilidade do PRZ tanto na FO quanto também nos tensoativos o que acarretou com que o fármaco tivesse uma localização inicialmente no interior da gotícula devido a sua hidrofobicidade e com o aumento da concentração do PRZ no meio, esse passou a se localizar na interface da gotícula, competindo com os tensoativos, acarretando na diminuição do tamanho devido a um aumento da área interfacial dessas gotículas. A maior interação do fármaco na interface ficou comprovada com este resultado. Este fenômeno pode fazer com que o fármaco atue como um cotensoativo ou atue deslocando as moléculas de tensoativos aumentando assim a concentração aparente dessas moléculas no meio. Isto explica a diminuição do tamanho de gotículas. A Figura 24 representa a avaliação microscópica de cada emulsão do terceiro grupo de formulação. 78 Resultados e discussão _________________________________________________________________ 0% 0,125% 0,25% 0,50% 0,75% 1,0% FIGURA 24 - Fotomicrografias dos sistemas emulsionados em função da concentração de PRZ no meio (aumento de 400x). A análise microscópica das formulações (Figura 24) revelou uma diminuição do diâmetro dos glóbulos proporcional à quantidade de PRZ no sistema, confirmando o resultado encontrado na determinação do diâmetro da gotícula encontrado pela técnica de espalhamento de luz (Figura 23). Na Figura 25, encontram-se os resultados encontrados para pH, condutividade elétrica e potencial zeta do terceiro grupo de formulação. FIGURA 25 - Valores correspondentes ao potencial zeta, à condutividade elétrica e ao pH versus à variação de PRZ no meio. 79 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Por meio da Figura 25, é possível observar que está havendo uma mudança de cargas quando a concentração do PRZ está entre 0,125 e 0,5% sendo, provavelmente, este o intervalo de concentração que o fármaco satura a FO e parte para a interface da vesícula emulsionada. Não foi observada uma tendência em toda a faixa de concentração de fármaco estudada, mas sim uma inflexão depois de 0,5%, o que potencialmente indica uma mudança relevante da estrutura do sistema coloidal. Para investigar isso, as amostras foram submetidas ao estudo reológico. Analisando-se os valores para potencial Zeta observou-se diferenças estatísticas significantes (ANOVA one-way, Dunnet pós-teste). Na Tabela 8 encontram-se os resultados encontrados para índice de polidispersidade das emulsões. TABELA 8 – Valores correspondentes aos índices de polidispersão das diferentes emulsões em estudo. Índice de polidispersão 1º Grupo 2º Grupo 3º Grupo FO 5% 0,323 ± 0,018 T 1% 0,376 ± 0,006 PRZ 0,125% 0,321 ± 0,018 FO 10% 0,338 ± 0,021 T 2,5% 0,345 ± 0,014 PRZ 0,25% 0,318 ± 0,026 FO 20% 0,315 ± 0,008 T 5% 0,332 ± 0,030 PRZ 0,5% 0,319 ± 0,021 FO 30% 0,291 ± 0,017 T 10% 0,330 ± 0,013 PRZ 0,75% 0,328 ± 0,015 PRZ 1% 0,312 ± 0,037 - - - - Em geral, os índices de polidispersão observados (Tabela 8) para as emulsões obtidas (1º, 2º e 3º grupo) foram acima de 0,300, sendo este um indicativo que as formulações estudadas são sistemas polidispersos (NEMEN & LEMOS-SENNA, 2011). Esta característica pode também ser observada pelas fotomicrografias das emulsões (Figuras 16, 20 e 24). A reologia consiste no estudo do escoamento ou deformação do material em estudo quando submetido a uma tensão. Este método é aplicável na caracterização de sistemas emulsionados, pois o comportamento do fluido está relacionado com o tipo e grau de organização do sistema. Também pode ser empregado para checar a qualidade durante o processo de produção, além de permitir o estudo do efeito de aditivos na formulação (MACHADO, 2002; FORMARIZ et al., 2005). 80 Resultados e discussão _________________________________________________________________ Dessa forma, o estudo do comportamento reológico dos sistemas aplicado ao modelo matemático de Herschel-Bulkley está apresentado na Tabela 9. TABELA 9 - Valores correspondentes ao índice de comportamento (n), coeficiente de correlação linear (r), tensão de cisalhamento inicial (τ0) e o índice de consistência (K) para cada sistema emulsionado. n r τ0 K FO 5% 1,146 0,991 0,020 0,001 FO 10% 1,020 0,991 0,004 0,002 FO 20% 1,009 0,998 0,004 0,003 FO 30% 0,992 0,999 0,543 0,005 T 1% 1,617 0,943 0,048 0,001 T 2,5% 1,879 0,956 0,059 0,001 T 5% 1,020 0,991 0,004 0,002 T 10% 1,030 0,999 0,011 0,003 PRZ 0,125% 1,167 0,988 0,021 0,001 PRZ 0,250% 1,148 0,991 0,020 0,001 PRZ 0,500% 1,083 0,991 0,011 0,001 PRZ 0,750% 0,747 0,759 0,708 0,056 PRZ 1,0% 0,532 0,907 0,158 0,164 Grupo de formulações 1º 2º 3º O modelo matemático que mais se adequou ao comportamento dos sistemas foi a equação de Herschel-Bulkley, isso pode ser notado pelo valor de r que está próximo a 1. Por meio desse modelo matemático, foi possível extrair os valores de K (índice de consistência) que indica o grau de resistência do fluido diante do escoamento. Para todos os sistemas os valores de K estiveram abaixo de 1, indicando que não há resistência ao fluxo. Foi possível extrair também o valor de n, que para todas as amostras, está próximo a 1, indicando que os sistemas possuem comportamento de fluidos newtonianos. No entanto, as amostras contendo 0,75 e 1,0 % de fármaco apresentaram valores característicos de fluido pseudoplástico, confirmando a hipótese antes levantada nos resultados apresentados na Figura 26. Os dados da Tabela 9 mostram que os valores de n para as EM contendo PRZ na concentração de 0,75 e 1,0 % são menores do que 1, indicando que 81 Resultados e discussão _________________________________________________________________ estes sistemas apresentam comportamento pseudoplástico. O grau de “pseudoplasticidade” pode ser medido pelo comportamento de fluxo (n) que aumenta com a diminuição da pseudoplasticidade. Assim, de maneira geral, à medida que aumenta a quantidade de PRZ no sistema, o grau de pseudoplasticidade torna-se maior. Por meio do modelo matemático utilizado também foi possível extrair o valor de τ0 que indica a tensão de cisalhamento inicial necessária para que o escoamento ocorra. Para todos os sistemas o valor da tensão de cisalhamento ficou abaixo de 1, confirmando que esses sistemas não apresentam resistência ao fluxo. Analisando os resultados dos índices de consistência (K) mostrados na Tabela 9, observa-se que, para os três grupos de formulações, tal parâmetro apresenta um leve aumento à medida que há um aumento de cada constituinte no sistema. Como já era esperado para o primeiro grupo, uma vez aumentando-se a fase oleosa, aumenta-se também a quantidade e o tamanho das gotículas no meio. Correa e colaboradores (2005) mostraram que a viscosidade aparente de sistemas microemulsionados e emulsionados é dependente do volume de fase e da natureza da fase oleosa, visto que o aumento do volume de fase interna oleosa provocou aumento da viscosidade aparente. Este comportamento foi identificado anteriormente nas análises de índice de refração e turbidez (Figura 15), confirmando o aumento na estruturação do sistema. Para o segundo grupo de formulações, o aumento do valor de K corrobora com os resultados obtidos para o tamanho da gotícula (Figura 19), indicando que houve aumento da estruturação do sistema, conforme discutido anteriormente. Já para o terceiro grupo, o aumento do índice de consistência pode indicar que o fármaco foi de fato incorporado nas vesículas emulsionadas, modificando, assim, a estruturação do sistema e, consequentemente, a viscosidade do meio. A construção de reogramas é útil para caracterizar quaisquer tipos de emulsões. Neste sentido, realizou-se um estudo mostrando a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento (curvas ascendente e descendente) e a viscosidade versus à taxa de cisalhamento para emulsões onde 82 Resultados e discussão _________________________________________________________________ se variou a quantidade de fase oleosa, a quantidade de tensoativos e a quantidade de fármaco, respectivamente (Figura 26 e 27). FO 5% FO 10% FO 20% FO 30% 0,4 0,3 0,2 0,1 Ida (simbolo cheio) Volta (simbolo vazio) 0,0 0 20 FO 5% FO 10% FO 20% FO 30% 0,012 Viscosidade (Pa x s) Tensao de cisalhamento (Pa) A’ A 0,5 40 60 80 0,008 0,004 0,000 -0,004 -0,008 100 20 Taxa de cisalhamento (1/s) 60 80 100 B’ B 0,5 T 1% T 2,5% T 5% T 10% 0,4 0,3 0,2 0,1 Ida (simbolo cheio) Volta (simbolo vazio) 0,0 0 20 T 1% T 2,5% T 5% T 10% 0,012 Viscosidade (Pa x s) Tensao de cisalhamento (Pa) 40 Taxa de cisalhamento (1/s) 40 60 80 0,008 0,004 0,000 -0,004 -0,008 100 20 Taxa de cisalhamento (1/s) 40 60 80 100 Taxa de cisalhamento (1/s) FIGURA 26 - Reogramas da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento (A e B) e viscosidade versus taxa de cisalhamento dos sistemas (A’ e B’). Pode ser observado que as amostras estudadas apresentaram comportamento newtoniano, não sofrendo deformação em função da tensão aplicada. Segundo a lei de Newton, para líquidos ideais a tensão de cisalhamento é diretamente proporcional à velocidade de cisalhamento (ALMEIDA et al., 2003). A viscosidade é independente da velocidade de deformação. Sabe-se que as curvas de líquidos newtonianos são linhas retas que passam através da origem (SCOTT, 2000). Por meio da determinação da viscosidade das amostras Figura 26-A’ e B’, confirma-se que as mesmas são fluidos Newtoniano mantendo a viscosidade constante com a velocidade de cisalhamento aplicada. Pode-se notar também que a viscosidade aumentou à medida que se aumentou a concentração dos 83 Resultados e discussão _________________________________________________________________ componentes no sistema (Figura 26-A’ e B’). Estes resultados confirmam que o aumento da fase oleosa provoca um aumento da viscosidade das EM, pois promove um maior empacotamento das moléculas de tensoativos e induzem a formação de uma estrutura mais organizada, mais rígida e com menor mobilidade (TIROSH et al., 1997). Hung e colaboradores (2007) e Wang e colaboradores (2006) observaram que o aumento do diâmetro da gotícula também acarretava um aumento da viscosidade de suas emulsões. Na Figura 27 encontra-se a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento e a viscosidade versus à taxa de cisalhamento para emulsões onde se variou a quantidade de fármaco. Tensمo de cisalhamento (Pa) 0,4 4 A PRZ 0,75% PRZ 1,0% 3 0,3 0 0 20 40 60 80 100 0,2 0,1 Ida (simbolo cheio) Volta (simbolo vazio) 0,0 0 20 40 PRZ 0% PRZ 0,125% PRZ 0,25% PRZ 0,5% 0,012 2 1 60 80 Taxa de cisalhamento (1/s) 100 B 1,00 Viscosidade (Pa x s) PRZ 0% PRZ 0,125% PRZ 0,25% PRZ 0,5% 0,5 0,008 PRZ 0,75% PRZ 1,0% 0,75 0,50 0,25 0,00 -0,25 -0,50 0,004 0 20 40 60 80 100 0,000 -0,004 -0,008 0 20 40 60 80 100 Taxa de cisalhamento (1/s) FIGURA 27 - Reogramas da tensão de cisalhamento versus taxa de cisalhamento (A) e viscosidade versus taxa de cisalhamento dos sistemas (B) para as emulsões onde houve adição de PRZ. Na Figura 27, nas concentrações de 0 a 0,5% foi observado uma sobreposição nas curvas indicando que a viscosidade dessas emulsões não sofreu alteração de valor, corroborando com a teoria proposta de que o fármaco inicialmente é solubilizado no interior da vesícula emulsionada para depois que saturada, próximo a 0,5% de PRZ, passa para a interface da gotícula competindo com os tensoativos. Nas concentrações de 0,75 a 1,0% há um aumento da viscosidade, sugerindo-se que ocorreu a formação de microestruturas mais volumosas provocada pelas interações do PRZ com a interface dos sistemas, podendo perturbar a organização da interface, promovendo espaçamento entre as moléculas de tensoativo, formando uma estrutura mais organizada, que reflete 84 Resultados e discussão _________________________________________________________________ diretamente sobre a viscosidade do sistema, corroborando com os resultados obtidos para turbidez e índice de refração na Figura 23. Por serem sistemas que se comportam como fluidos pseudoplásticos (PRZ 0,75% e PRZ 1%), as altas taxas de cisalhamento aplicadas provocam além da desestruturação, a diminuição da viscosidade. No caso dessas emulsões, isto se deve ao alinhamento das gotículas coloidais na direção do escoamento, diminuindo a resistência interna e consequentemente a viscosidade (SCHRAMM, 2006). As alterações que ocorrem sobre as propriedades reológicas ao longo do tempo podem ser verificadas determinando a viscosidade em função da velocidade de cisalhamento de modo ascendente e descendente continuamente. Quando as curvas se sobrepõem, o sistema é caracterizado como tempo independente e indica que apresenta uma rápida reestruturação. Quando a curva ascendente indica valores maiores que os da curva descendente, o sistema é chamado de tixotrópico, e quando ocorre o contrário, o sistema tem comportamento reopético. A diferença entre as curvas ascendentes e descendentes dos reogramas ilustra o fenômeno de histerese e sua área indica a energia requerida para a quebra da estrutura do sistema (LABBA, 1993). Os resultados apresentados na Figura 26 e 27 indicam que a maioria das amostras são tempo independentes, o que já era esperado uma vez que essas amostras apresentam comportamento newtoniano. Já as amostras PRZ 0,75% e PRZ 1%, comportam-se como fluidos pseudoplásticos e apresentam área de histerese com comportamento tixotrópico. Dessa maneira, resolveu-se estudar também as propriedades tixotrópicas dessas emulsões por meio de testes oscilatórios. Nos ensaios oscilatórios podem ser obtidos os módulos elásticos (G´) e viscosos (G´´) e a magnitude destes módulos é uma indicação qualitativa da estrutura do sistema. Se G’ >> G”, pode-se sugerir que o sistema está interligado quimicamente, ou se G’ > G” o sistema está estruturado por ligações secundárias, mas se G’ ≤ G”, diz-se que as moléculas do sistema estão ligadas apenas por interações físicas (CEULEMANS; VINCKIER; LUDWIG, 2002). A viscoelasticidade é usada para descrever comportamento de materiais, os quais apresentam comportamento intermediário entre os elásticos clássicos extremos, que são 85 Resultados e discussão _________________________________________________________________ chamados de sólidos hookeanos e líquidos newtonianos. Materiais viscoelásticos têm simultaneamente propriedades elástica e viscosa (KORHONEN, 2003). A Figura 28 mostra a evolução dos módulos de armazenagem (G’) e de perda (G”) das EM contendo PRZ na concentração de 0,75% e 1%. FIGURA 28 - Evolução dos módulos de armazenagem G’e de perda G” das emulsões contendo 0,75 e 1% de PRZ. Analisando o gráfico plotado para o teste oscilatório (Figura 28) é possível perceber que o módulo de perda (habilidade do material dissipar energia) é maior do que o modulo de armazenagem (habilidade do material armazenar energia) para as duas amostras em estudos, o que confirma que o sistema apresenta comportamento viscoelástico. O comportamento viscoelástico das formulações é coerente com a análise visual das amostras que continham PRZ, podendo-se observar a relação entre o aumento de fármaco na formulação, que a torna mais viscosa, ou seja, mais organizada e com o aumento da componente elástica. Sugere-se então, que ao se aumentar a quantidade de PRZ, o fármaco organiza-se de maneira a saturar a parte hidrofóbica dos tensoativos, formando mesofase cristalinas, o que justifica o aumento na viscoelasticidade apresentada por essas formulações. Pode-se sugerir também que a interação do PRZ com a FO provoca a formação de 86 Resultados e discussão _________________________________________________________________ microestruturas mais volumosas, que se refletem diretamente no índice de consistência (PESTANA, et al., 2008). Por fim, partiu-se para a análise da estabilidade acelerada da emulsão com fármaco incorporado. 5.4.2 Efeito do fármaco na estabilidade da emulsão A partir da suspeita de que o PRZ poderia estar interagindo com os componentes da formulação como um tensoativo, um estudo de estabilidade foi realizado modificando-se a concentração de tensoativos na emulsão na presença de fármaco. O ensaio foi realizado em um período de 30 dias avaliando-se o índice de cremagem, o pH, a condutividade elétrica, a turbidez, o teor do fármaco e a microscopia óptica com aumento de 400x. Todas essas foram realizadas em associação, para que essas metodologias em conjunto pudessem oferecer maiores informações a respeito da caracterização das emulsões. A Figura 29 apresenta os resultados para dois desses parâmetros: o índice de cremagem (Figura 29 - A) e a turbidez (Figura 29 -B). A B FIGURA 29 - Gráficos do efeito do fármaco na estabilidade das emulsões Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. Na Figura 29-A, observou-se que a emulsão sem o fármaco apresentou índice de cremagem quase constante durante os 30 dias, variando esse índice na faixa de 12-14%. Para os sistemas com PRZ e adição de 1 e 2,5% de tensoativos, 87 Resultados e discussão _________________________________________________________________ observa-se um aumento gradativo de ambos os índices, ficando próximo de 15% ao longo dos 30 dias de avaliação. Para as emulsões com 5% de tensoativos não foi observado variação do IC, indicando que tal emulsão foi a mais estável frente às demais emulsões analisadas. Isso porque, a estabilização de emulsões pelo uso de tensoativos não-iônicos se faz através de impedimento estérico e ligações de hidrogênio. A porção apolar do tensoativo se insere nas partículas de óleo e os grupos de óxido de etileno na fase aquosa. Os grupos de óxido de etileno causam impedimento estérico que inibe as partículas de óleo sofrerem colisão e coalescer, alem de formarem ligações de hidrogênio com a água (FOX, 1986; SILVA & SOARES, 1996). Entretanto, a estabilização de emulsões pode também ser obtida usando concentração mais elevada de agentes emulsificantes, pois isso resultará num filme ao redor das gotículas de óleo mais firme e compacto reduzindo a coalescência (FOX, 1986). Estes resultados demonstram que o fármaco aumenta a estabilidade dos sistemas, pois aquelas contendo 1% de tensoativos foram mais estáveis do que aquelas contendo 5% de tensoativos sem fármaco. Este resultado demonstra claramente que o fármaco interage preferenciamente na interface e que age como um tensoativo nos sistema. Analisando a Figura 29-B, é possível afirmar que o menor valor de turbidez é para a emulsão sem PRZ, no entanto, para as emulsões com o fármaco, com o aumento da concentração dos tensoativos, os valores da turbidez aumentaram relativamente. Indicando, conforme visto no estudo anterior (5.4.1), que o aumento da quantidade de tensoativos promoveu uma maior estruturação no sistema. Pode-se observar essa estruturação do sistema, também, na Figura 31, uma vez que existe uma maior uniformidade do tamanho e quantidade de gotículas para 5% de tensoativos. Os resultados de turbidez confirmam os resultados obtidos para IC. Estudou-se também o pH e a condutividade das diferentes emulsões, com o objetivo de se avaliar também processos de instabilidade. Os resultados do estudo estão apresentados na Figura 30. 88 Resultados e discussão _________________________________________________________________ A B FIGURA 30 - Gráficos do efeito do fármaco na estabilidade das emulsões Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. Avaliando estatisticamente os valores obtidos do pH para as diferentes emulsões (Figura 30-A), não foi observado alteração significativa [F (3,12) = 0,665, (p = 0,590)], indicando que a mudança na quantidade de tensoativos no meio não é um indicativo de instabilidade para esse parâmetro. Percebe-se na Figura 30–B que a condutividade aumentou com o aumento da concentração de tensoativos, resultado esse observado também no estudo do item anterior (5.4.1) onde houve variação de tensoativos de 1 a 10%. Esse aumento da condutividade está relacionado à formação de uma camada elétrica ao redor da gotícula dispersa ocasionado pelo uso dos tensoativos não iônicos (FRANGE, GARCIA, 2009). Para uma análise morfológica, foram obtidas as fotomicrografias dos diferentes sistemas emulsionados em função do tempo (Figura 31). 89 Resultados e discussão _________________________________________________________________ FIGURA 31 - Fotomicrografia das emulsões contendo 1% de PRZ e 1; 2,5 e 5% de tensoativos durante os 30 dias de estudo de estabilidade. Aumento de 400x. Por meio da Figura 31, é possível observar que para as emulsões contendo 1 e 2,5% de tensoativos, os glóbulos encontram-se heterogêneos, variando de tamanho durante os 30 dias de estudo. Já para as emulsões contendo 5% de tensoativos observa-se uma maior homogeneidade dos glóbulos durante os 30 90 Resultados e discussão _________________________________________________________________ dias de estudo. Esse resultado indica que na concentração de 5% de tensoativo e 1% de PRZ há uma boa estabilização do sistema emulsionado. Avaliou-se também a eficiência de incorporação do fármaco nos sistemas obtidos com o intuito de averiguar se o aumento da quantidade de tensoativos no meio alterava a eficiência de incorporação do PRZ. O resultado dessa avaliação está apresentado na Figura 32. FIGURA 32 - Gráfico para determinação do teor de fármaco nas emulsões em 30 dias de estudo. Sendo emulsões: (○) com 5% de T, sem PRZ; (●) com 1% de T + PRZ, (▲) com 2,5% de T + PRZ, (■) com 5% de T + PRZ. Na Figura 32 observou-se que somente as emulsões contendo 5% de tensoativos foram capazes de incorporar cerca de 1% de fármaco, a quantidade de PRZ incorporado ao sistema está associada ao aumento de tensoativos. Tal efeito pode ser explicado pela ocorrência de uma maior estabilização da vesícula emulsionada, o que proporcionou um aumento da quantidade de fármaco incorporado. Isso pode ser observado na Figura 30 onde as gotículas parecem mais homogêneas para os sistemas com 5% de tensoativos. Para tal estudo, o sistema que apresentou melhor estabilidade quando observado todos os parâmetros analisados foi o sistema contendo 5% de tensoativos. Para uma quantidade de tensoativos inferior a 5%, observaram-se processos de instabilidade e um menor teor de fármaco incorporado ao longo dos 30 dias. 91 Conclusão _________________________________________________________________ 6. CONCLUSÃO O método de análise por espectrofotometria UV proposto foi validado para doseamento do PRZ, demonstrando ser simples, rápido, específico, preciso, exato e robusto. Dessa forma, o método analítico constituiu uma ferramenta útil, de baixo custo e fácil execução para a quantificação do fármaco nos sistemas emulsionados. O estudo de estabilidade aparente ao longo de 7 dias das emulsões, contendo Tween® 80 e Span® 80, por meio do índice de cremagem, possibilitou a determinação do melhor EHL, estando em 11. O emprego do diagrama pseudoternário se mostrou bastante simples ajudando na escolha das concentrações água/óleo/tensoativos que foram empregadas para formulação emulsões O/A. Através do diagrama, foi também possível determinar e identificar as várias regiões geradas como sistemas emulsionados opaco brancos, sistemas translúcidos, sistemas emulsionados opaco amarelos e separação de fases. Além de indicar a melhor combinação dos componentes das fórmulas em suas respectivas quantidades a fim de produzir um sistema mais estável. O sistema emulsionado apresentou estabilidade, quando submetido a um estresse térmico, durante trinta dias de estudo sem cotensoativo, bem como quando adicionado álcool etílico como cotensoativo. O melhor método para a incorporação do fármaco foi a adição do mesmo na fase oleosa antes da inversão de fases, entretanto, a adição de álcool etílico não contribuiu para o aumento da quantidade de fármaco incorporado. No estudo da interação do fármaco com o sistema, foi observado através da caracterização físico-química por medidas de turbidez, condutividade, índice de refração, reologia e análise morfológica que o fármaco encontra-se incorporado à vesícula emulsionada promovendo uma modificação na estruturação do sistema proporcional à quantidade incorporada. No estudo de estabilidade da emulsão com o fármaco incorporado, mediante a avaliação do índice de cremagem, pH, condutividade, turbidez, índice 92 Conclusão _________________________________________________________________ de refração, teor de fármaco e microscopia óptica, o sistema que apresentou maior estabilidade foi aquele contendo 5% de tensoativos na sua formulação. Dessa forma, o sistema emulsionado em estudo apresentou estabilidade e capacidade de incorporar alta quantidade de PRZ, sendo interessante para desenvolvimento de uma nova formulação farmacêutica para o combate da esquistossomose. 93 Perspectivas _________________________________________________________________ PERSPECTIVAS Considerando a experiência profissional adquirida por ocasião da realização deste trabalho, experiência esta que veio se somar à minha formação escolar e superior anteriormente adquirida, pretendo continuar desenvolvendo projetos na área de tecnologia farmacêutica no doutorado. Somado a esse trabalho existem resultados que não foram aqui divulgados, mas que serão publicados em um artigo cientifico, segue resumo: Obtention and characterization oil-in-water soybean nanoemulsions as a potential delivery system for drug water insoluble Nanoemulsion systems composed of water, polysorbate 80 (tween® 80), sorbitan monooleate (span® 80) and soybean oil, were investigated as potential drug delivery vehicles for insolubles drugs. Pseudo-ternary phase diagram of the investigated system, was constructed at room temperature by titration, and the oilto-surfactants mass ratios (O/SC) that exhibit the maximum in the solubilization of water were found. This allowed the investigation of the continuous structural inversion from water-in-oil to oil-in-water nanoemulsions on dilution with water phase. The microstructures of the system were characterized by polarized light microscopy, zeta potential, dynamic light scattering (DLS) and rheological behavior that the size of the oil droplets increased proportionally with increase in amount of oil phase and decreased with increase amount of surfactants. In all cases the Zeta potential resulted below |-40 mV|. For all samples a Newtonian behavior was found. The obtained results suggest that the samples show droplets with an interior capable of incorporating hydrophobic drugs with low aqueous solubility. The investigated nanoemulsions should be very interesting as new drug carrier systems. Key-words: phase diagram, nanoemulsion, soybean oil. 94 Referências bibliográficas _________________________________________________________________ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGMON, N. The Grotthuss mechanism. Chemical Physics Letters, 244, p. 456462, 1995. ALMEIDA, I. F.; BAHIA, M. F. Reologia: interesse e aplicações na área cosméticofarmacêutica. 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O sistema lipídico emulsionado pode se apresentar como emulsão, microemulsão e/ou nanoemulsão, dependendo da composição e o do método de fabricação empregados. Os referidos sistemas aumentam a quantidade de fármaco solúvel em um sistema aquoso por até mais de 100 vezes, o que potencialmente intensifica sua absorção oral e possibilita sua administração parenteral, modificando desta forma biodisponibilidade em relação às formas de administração disponíveis. REIVINDICAÇÕES 1 COMPOSIÇÃO E PROCESSO DE PRODUÇÃO DE FORMA LÍQUIDA DE ADMINISTRAÇÃO A BASE DE SISTEMAS LIPÍDICOS EMULSIONADOS, DO TIPO EMULSÃO, MICROEMULSÃO E/OU NANOEMULSÃO CONTENDO PRAZIQUANTEL, caracterizado por uma forma líquida de administração do praziquantel incorporado em uma fase oleosa emulsificada por tensoativos no interior de uma fase aquosa, a qual pode ser administrada por via oral e/ou parenteral para todas as faixas etárias de humanos ou animais (uso veterinário). 2 Sistema lipídico emulsionado para a administração do praziquantel de acordo com a reivindicação 1, caracterizado pelo fato de que o sistema pode se apresentar na forma de emulsão, microemulsão e/ou nanoemulsão, de acordo com a composição, estabilidade termodinâmica ou método de produção utilizados para a 109 concepção dos mesmos. 3 Sistema lipídico emulsionado para a administração do praziquantel de acordo com a reivindicação 1, caracterizado pelo fato de que a referida fase externa aquosa é composta por água, podendo ser acrescida de agentes estabilizantes, como conservantes, antioxidantes e tampões, equanto a fase interna oleosa pode ser constituída por óleo sintético, preferencialmente a base de triglicerídeos de cadeia média (MCT) como fase oleosa, o qual compreende ésteres de glicerídeos predominantemente saturados com número de carbonos igual a oito (50-80%) e dez (20-45%) podendo variar conforme a disponibilidade do mercado, ou por óleo vegetal de uso farmacêutico, preferencialmente o óleo de soja; ou ainda por por óleo mineral de uso farmacêutico. 4 Sistema lipídico emulsionado para a administração do praziquantel de acordo com a reivindicação 1, caracterizado pelo fato que o referido agente tensoativo é selecionado de um ou mais do grupo que consiste em polissorbatos, monoesteres do sorbitano, oleato de sódio, fosfatidilcolina de soja e fosfatidilcolina de gema de ovo, podendo estar associados a agentes cotensoativos. 5 Sistema lipídico emulsionado para a administração do praziquantel de acordo com a reivindicação 1, caracterizado pelo fato de alguma molécula de direcionamento como por exemplo o colesterol estar contida, preferencialmente adsorvida na interface óleo/água pela sua potencial capacidade de promover o direcionamento do sistema lipídico contendo o fármaco para o parasita. 6 Método de fabricação de sistema lipídico emulsionado para a administração do praziquantel de acordo com a reivindicação 1, caracterizado pelo fato de que os componentes da fase oleosa são misturados com os componentes da fase aquosa, em uma faixa de temperatura de 25 a 75ºC, preferencialmente a 75ºC, utilizando agitadores do tipo magnético, mecânico com hélices e ou pás, do tipo ultra-turrax, sonda de ultrassom ou ainda extrusão em alta pressão, nos quais o fármaco pode ser incorporado no momento da mistura ou depois de obtidos os sistemas emulsionados. 110