Carteira de ativos reais : avaliação da eficiência econômica do processo de seleção dos projetos de investimento de uma empresa de petróleo Jalimar Guimarães Simplício UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Mestrado em Administração de Empresas Orientador : Celso Funcia Lemme, D.Sc. Rio de Janeiro 2001 ii Folha de Aprovação Carteira de ativos reais : avaliação da eficiência econômica do processo de seleção dos projetos de investimento de uma empresa de petróleo Jalimar Guimarães Simplício Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de mestre. Aprovada por : Prof. _________________________________________ - Orientador Celso Funcia Leme – D.Sc, COPPEAD/UFRJ Prof. _________________________________________ Prof. _________________________________________ iii Ficha Catalográfica Simplício, Jalimar G. Carteira de ativos reais : avaliação da eficiência econômica do processo de seleção dos projetos de investimento de uma empresa de petróleo/Jalimar G. Simplício. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD,2001. xv, 181p. il. Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD. Orientador : Celso Funcia Lemme, D.Sc. 1. Finanças. 2. Finanças Corporativa 3. Tese (Mestrado – UFRJ/COPPEAD). 4. LEMME, Celso Funcia. I. Título iv RESUMO SIMPLÍCIO, JALIMAR G. Carteira de ativos reais : avaliação da eficiência econômica do processo de seleção dos projetos de investimento de uma empresa de Petróleo. Orientador: Prof. Celso Funcia Leme. Rio de Janeiro: UFRJ/COOPEAD,2001. Dissertação. O estudo é uma aplicação da teoria de portfolio desenvolvida por Markowitz (1952) no contexto dos ativos reais. O trabalho propõe um modelo de estruturação do problema que permite avaliar a eficiência de carteiras formadas segundo a metodologia que ordena os projetos em rank tomando como referência (benchmark) os portfolios eficientes formados com base na aplicação da teoria de portfolio de Markowitz. A comparação dos dois ritos empregou o teste sugerido no trabalho de Wang (1998). A aplicação da teoria de portfolio de Markowitz aos ativos reais requer adaptações que considerem as particularidades desses ativos, tendo em vista que a teoria de Markowitz foi desenvolvida no âmbito dos ativos financeiros do mercado de capitais. Por meio de um estudo de caso o modelo de seleção de projetos é aplicado com vistas a constituir carteiras eficientes a partir de um conjunto de 14 oportunidades de investimento no desenvolvimento da produção de petróleo de uma empresa no período de 1992 a 2000. A conclusão do estudo sugere que a metodologia que prioriza os projetos segundo o rank do VPL/Ia do projeto resulta em perda de eficiência de média-variância nos portfolios formados comparativamente aos portfolios eficientes de Markowitz formados sem e com restrição de venda a descoberto de ativos reais. v ABSTRACT SIMPLÍCIO, JALIMAR G. Portfolio of Real Asset : economic efficiency evalution of the investiment project seletion process of a petroleum company. Orientador: Prof. Celso Funcia Leme. Rio de Janeiro: UFRJ/COOPEAD,2001. Dissertação. The study is an application of the portfolio theory developed by Markowitz (1952) in the context of the real assets. The work proposes a structuring model of the problem that allows to evaluate the efficiency of portfolios according to the methodology that orders the projects in rank taking as reference (benchmark) the efficient portfolios with base in the application of the Markowitz theory of portfolio. The comparison of the two ritual used the test suggested in the work of Wang (1998). The application of Markowitz portfolio theory to the real assets requests adaptations that consider the characteristics of those assets, in the sense that the theory of Markowitz was developed in the context of the financial assets of capital markets. Through a case study the projects selection model is applied to constitute efficient portfolios composed from a group of 14 investment opportunities in the petroleum production development of a company in the period from 1992 to 2000. The conclusion of the study suggests that the methodology that prioritizes the projects according to the rank of projects VPL/Ia results in loss of mean-variance efficiency in the rank portfolios comparatively to the efficient portfolios of Markowitz restriction. with and without real asset short sale vi “Pois tu, Senhor me alegraste com os teus feitos : exultarei nas obras das tuas mãos.” Salmo 92 :4 vii Esta é um parte especial da dissertação. Nela, o esforço do saber científico dá lugar a sinceros sentimentos de agradecimento. Dirijo o primeiro e principal dele à Deus, sem o qual, certamente, nada do que foi feito se fez. Um agradecimento especial a Bia e Israel, presentes de Deus, por suportarem muitos momentos de ausência, guardando-me em seus corações. Aos meus Pais agradeço a educação (valores e disciplina), incentivo e apoio sempre presentes no momento e dose certa. Ao meu irmão, cunhada e sobrinhos: obrigado pela torcida. À família Bron : obrigado pela enorme prestatividade e grande incentivo. Ao amigo Cavalieri, obrigado pela revisão do texto e pelas valiosas sugestões. Agradeço ao meu orientador, Prof. Celso Lemme, pelo imenso privilégio de ter sido seu primeiro orientando. Sem dúvida, grande parte das virtudes encontradas na forma e no conteúdo desta dissertação podem ser atribuidas às suas orientações competentes e ao sábio equilíbrio ao cobrar e incentivar. Aos professores da Coppead, agradeço pelo alto grau de competência com que desenvolvem a arte de ensinar. Agradeço à Comissão de Ensino. Obrigado Prof. Ricardo Leal por despertar e desenvolver nos alunos o gosto pela área de finanças. Obrigado Profa. Úrsula Wetzel e Prof. Eduardo Saliby pelo incentivo sempre tão solidário e humano. Agradeço aos funcionários do Instituto Coppead pela enorme disposição em nos ajudar nas suas respectivas áreas de competência. Obrigado, Cida, Carlos e Elza : voces são ótimos. Por fim, quero agradecer aos gerentes e colegas da Petrobras que acreditaram e cooperaram para que eu pudesse realizar este curso, este sonho. Uma gratidão especial ao Dr. Luiz Rodolfo Landim, Eduardo Bellot, João Carlos, Eduardo Bordieri, Maurício Diniz, Marcio Nauman, Guilherme Castro e Elias. viii Lista de Quadros Quadro 1 – Abordagem do risco em trabalhos anteriores 20 Quadro 2 – Quadro resumo das variáveis utilizadas como proxy do retorno de projetos nos trabalhos anteriores (virtudes e deficiências) 28 Quadro 3 – Quadro resumo das principais técnicas de análise de risco, características e trabalhos que as utilizaram 41 Quadro 4 – Quadro resumo das premissas da teoria de portfolios quando aplicada aos ativos reais 47 ix Lista de Tabelas Tabela 3.1 – Projetos de investimento e característica da origem do retorno econômico 63 Tabela 4.1 - Estatística descritiva do VPL/Ia dos 14 projetos de investimento gerada a partir das 1.000 iterações da simulação de Monte Carlo Tabela 4.2 – 81 Rank dos projetos segundo o retorno esperado (VPL/Ia médio), risco (desvio padrão do VPL/Ia) e relação retorno-risco (média/desvio padrão do VPL/Ia) conforme simulação 82 Tabela 4.3.a – Correlação entre os retornos (VPL/Ia) dos 14 projetos 83 Tabela 4.3.b – Covariância entre os retornos (VPL/Ia) dos 14 projetos 83 Tabela 4.4 – Rank de projetos segundo o VPL/Ia Simulado e o segundo o VPL/Ia estimado no EVTE 85 Tabela 4.5 - Retorno dos portfolios (VPL/Ia) formados segundo o rank do VPL/Ia estimado nos EVTE dos projetos 86 Tabela 4.6 – Percentual alocado aos projetos (P) nos portfolios (PF) formados com base no rank do VPL/Ia dos projetos 88 Tabela 4.7 – Percentual do capital global alocado aos projetos (P) nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto (PFE) 90 Tabela 4.8 – Percentual do capital global alocado aos projetos (P) nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto (PFECR) Tabela 4.9 94 Retorno e risco do VPL/Ia dos portfolios ordenadas segundo o rank do VPL/Ia 96 Tabela 4.10 – Retorno e risco do VPL/Ia dos portfolios eficientes 97 Tabela 4.11 – Resultado do teste de Wang Z. - Perda de eficiência dos portfolios rank (referência : portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto) Tabela 4.12 – 99 Retorno e risco (VPL/Ia) dos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto de ativos 101 Tabela 4.13 – Resultado do teste de Wang Z. - Perda de eficiência dos portfolios rank (referência : portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto) 102 x Tabela 4.14 – Resultado do teste de Wang Z. - Perda de eficiência dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto (referência : portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto) Tabela 4.15 - Investimento requerido a cada projeto 104 (P) e percentuais alocados aos projetos nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto (PFECR) 110 Tabela 4.16 Montante (investimento) global máximo a ser alocado aos projetos e aos portfolios eficientes de forma que não haja desperdício dos investimentos alocados aos projetos 111 Tabela 4.17 – Investimento máximo alocado aos projetos nos portfolios eficientes sem que venha a ocorrer desperdício 112 Tabela 4.18 – Percentuais (frações) a serem alocados pela empresa nos projetos de modo a evitar desperdícios Tabela 4.19 – 113 VPL dos projetos e dos portfolios eficientes considerando os percentuais alocados pela empresa nos projetos de forma a impedir que ocorram desperdícios de investimento nos mesmos 114 xi Lista de Figuras Figura 1 – Fronteiras eficientes em um portfolio formado por 2 ativos para correlações iguais a -1; -0,5 ; 0; 0,5 e 1 10 Figura 2 – Curvas de iso-utilidade no espaço risco retorno 13 xii Lista de Gráficos Gráfico 4.1 - Fronteira "Eficiente" e Portfolios Formados segundo o rank de projetos 100 Gráfico 4.2 - Portfolio "Eficiente" de Projetos com venda a descoberto proibida 103 Gráfico 4.3 - Portfolio de Projetos com e sem Restrição de venda a descoberto 105 Gráfico 4.4 - VPL do Portfolio "Eficiente" sem derperdício e da carteira de projetos formadas conforme rank 115 xiii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1.1 1.2 1.3 OBJETIVO RELEVÂNCIA DO ESTUDO DELIMITAÇÃO DO ESTUDO 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 2 3 4 5 2.1 A TEORIA DE PORTFOLIOS DE ATIVOS FINANCEIROS 2.2 TEORIA DE PORTFOLIOS DE ATIVOS REAIS - ESTUDOS ANTERIORES 2.3 MEDINDO RETORNOS EM ATIVOS REAIS 2.4 MEDINDO RISCO EM ATIVOS REAIS 2.4.1 EXOGENIA E ENDOGENIA NAS AVALIAÇÕES PROSPECTIVAS DE PROJETOS 2.4.2 TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCO 2.4.3 TÉCNICAS UTILIZADAS NOS TRABALHOS ANTERIORES 2.5 A TEORIA DE PORTFOLIO E OS ATIVOS REAIS 2.5.1 PREMISSAS ADOTADAS 2.5.2 A COVARIÂNCIA ENTRE O S RETORNOS DE ATIVOS REAIS 2.5.3 CONSISTÊNCIA E CASUALIDADE NA DIVERSIFICAÇÃO DOS PROJETOS 2.5.4 SEGMENTANDO OS PROJETOS 2.5.5 EXPLICITANDO A CORRELAÇÃO ENTRE RETORNOS DE ATIVOS REAIS 6 14 21 29 32 34 37 42 42 48 49 54 58 3 61 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA 3.2 UNIVERSO E AMOSTRA 3.3 HIPÓTESES AVALIADAS NO ESTUDO 3.4 PREMISSAS ADOTADAS NESTE ESTUDO 3.4.1 O RETORNO ESPERADO E A VARIÁVEL PROXY ADOTADA 3.4.2 O RISCO NOS RETORNOS DOS PROJETOS 3.4.3 A DIVERSIFICAÇÃO NO PORTFOLIO DE PROJETOS 3.4.4 OBTENDO O RETORNO , O RISCO E A MATRIZ DE COVARIÂNCIA 3.4.5 PREMISSAS DA TEORIA DE PORTFOLIO ADOTADAS NO ESTUDO 3.4.6 RESUMO DA SEÇÃO 3.5 COLETA DE DADOS 3.5.1 COLETA DE DADOS DAS VARIÁVEIS FUNDAMENTO 3.5.2 COLETA DE DADOS DA VARIÁVEL PROXY (VPL/IA) 3.6 TRATAMENTO DOS DADOS 3.6.1 A FUNÇÃO DE DENSIDADE DE PROBABILIDADE DAS VARIÁVEIS FUNDAMENTO 3.6.2 TRATAMENTO DE DADOS DOS RESULTADOS (VPL/IA) DOS PROJETOS 3.7 LIMITAÇÃO DO MÉTODO 61 62 64 64 64 65 65 66 66 67 68 70 74 74 74 77 78 xiv 4 RESULTADOS 79 4.1 AS FUNÇÕES DE DENSIDADE DE PROBABILIDADE DAS VARIÁVEIS FUNDAMENTO CONSIDERADAS 4.2 O RETORNO E O RISCO INDIVIDUAL DOS 14 PROJETOS 4.3 A DETERMINAÇÃO DA MATRIZ DE COVARIÂNCIA 4.4 DEFININDO O CONJUNTO DE RETORNOS REQUERIDOS DO PORTFOLIO 4.5 A DISTRIBUIÇÃO DO RECURSO GLOBA L DE INVESTIMENTO ENTRE OS PROJETOS 4.5.1 PORTFOLIOS FORMADOS S EGUNDO O RANK DE PROJETOS 4.5.2 PORTFOLIOS EFICIENTES SEM RESTRIÇÃO DE VENDA A DESCOBERTO DE ATIVOS 4.5.3 PORTFOLIOS EFICIENTES COM RESTRIÇÃO DE VENDA A DESCOBERTO DE ATIVOS 4.6 O RETORNO ESPERADO E O RISCO DOS PORTFOLIOS FORMADOS 4.6.1 OBTENDO O RISCO DOS PROJETOS ORDENADOS CONFORME RANK DO VPL/IA 4.6.2 RISCO NOS PORTFOLIOS EFICIENTES SEM RESTRIÇÃO DE VENDA A DESCOBERTO 4.6.2.1 A HIPÓTESE HO1 E O TESTE DE EFICIÊNCIA DOS PORTFOLIOS ORDENADOS 4.6.3 RISCO NOS PORTFOLIOS EFICIENTES COM RESTRIÇÃO DE VENDA A DESCOBERTO 4.6.3.1 A HIPÓTESE HO2 E O TESTE DE EFICIÊNCIA DOS PORTFOLIOS ORDENADOS 4.6.4 COMPARANDO PORTFOLIOS EFICIENTES COM E SEM RESTRIÇÃO DE VENDA A DESCOBERTO 4.7 PORTFOLIOS EFICIENTES (VPL/IA) : CONSEQÜÊNCIAS PRÁTICAS SOBRE OUTRAS 80 81 83 84 87 87 89 92 96 96 96 97 101 101 104 MEDIDAS DE RENTABILIDADE DO PORTFOLIO 106 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE PESQUISA 116 5.1 OBSERVAÇÕES ACERCA DO MODELO EMPREGADO 5.2 CONCLUSÕES ACERCA DOS RESULTADOS OBTIDOS 5.3 CONCLUSÕES PRAGMÁTICAS DO ESTUDO 5.4 OPORTUNIDADES DE ESTUDOS 117 118 123 125 6 128 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXO 1 ANEXO 2 ANEXO 3 ANEXO 4 ANEXO 5 ANEXO 6 133 152 154 166 168 178 xv Glossário EVTE - Estudo de viabilidade técnica e econômica realizado no momento em que surge uma oportunidade de investimento; consiste em avaliar as diversas alternativas com os enfoques técnico e econômico. FDP – A função de densidade de probabilidade é a função matemática probabilística que descreve o comportamento de uma amostra de dados. Ela é caracterizada conforme o tipo da distribuição e seus parâmetros. CRS - constant return to scale é um termo utilizado para indicar que o retorno monetário do ativo é diretamente proporcional à escala , ou seja, ao nível de investimentos. 1 Introdução O ambiente caracterizado pela crescente competitividade tem motivado as empresas no sentido de desenvolver habilidades gerenciais e técnicas que venham a aperfeiçoar o seu desempenho. Se não bastasse a necessidade de incrementar a competitividade, a sobrevivência de muitas empresas industriais está estreitamente associada ao aproveitamento eficiente das novas oportunidades de investimento. Os resultados econômico- financeiros dos setores industriais que lidam com recursos naturais não renováveis são sensivelmente afetados pelas decisões de investimento, pois delas dependem tanto a manutenção quanto o crescimento do valor da empresa. As empresas do segmento de mineração e de exploração e produção de petróleo são exemplos disto. Neste contexto, a eficiência econômica relacionada ao processo de alocar o capital de investimento torna-se um requisito indispensável para a administração da rentabilidade de longo prazo das empresas. Habitualmente as avaliações das oportunidades de investimento (projetos de investimentos) são suportadas em métodos de fluxos de caixa descontados a valor presente. O VPL (valor presente líquido), como uma medida do valor econômico dos projetos, é utilizado por muitas empresas como parâmetro de comparação de projetos e de priorização dos projetos que pertencem a uma carteira de oportunidades. Se avaliarmos o desempenho de um projeto após a sua implantação, a robustez e a consistência do método de fluxo de caixa descontado determinam o quanto este projeto efetivamente contrib uiu para a variação do valor da empresa. No entanto, os métodos de fluxos de caixa descontados são freqüentemente utilizados na fase pré-implantação, isto é, no momento da tomada de decisão. As análises ex-ante do valor econômico do projeto, por sua vez, são cercadas de premissas e estimativas incertas (Baídya e Aiube, 1997; Asrilhant, 1995). As incertezas abrangem o preço futuro de venda do produto, a quantidade a ser produzida e comercializada, os dispêndios, os cronogramas de implantação do projeto, o custo de capital da empresa, entre outros. Alguns destes fatores são, em maior ou menor grau, gerenciáveis. Outros são exógenos, influenciados pelas forças de mercado (oferta e demanda), sobre os quais nenhuma empresa isoladamente possui poder de mando. Percebe-se daí que avaliar o valor esperado do 2 projeto (retorno) é tão essencial quanto avaliar o grau de incerteza de que o resultado esperado não venha efetivamente a ocorrer. Neste estudo o termo incerteza é utilizado com a mesma conotação quantitativa do termo risco, apesar de não existir consenso semântico-acadêmico neste sentido. O risco pode ser entendido como uma propensão de que o resultado medido ex-post se distancie com maior ou menor intensidade da expectativa inicial. Este estudo avalia de que forma a quantificação do retorno e do risco do resultado dos projetos pode modificar as decisões de alocação do capital de investimento de uma empresa. O estudo é uma aplicação da teoria de portfolio desenvolvida por Markowitz (1952) no contexto dos ativos reais. O trabalho propõe um modelo de estruturação do problema que permite avaliar a eficiência de carteiras formadas segundo a metodologia de ordenamento (rank) e priorização de projetos tomando como referência de comparação os portfolios formados com base na aplicação da teoria de portfolio de Markowitz. A aplicação da teoria de portfolio de Markowitz aos ativos reais requer adaptações que permitam levar em consideração as peculiaridades destes ativos, tendo em vista que a mesma foi desenvolvida no âmbito dos ativos financeiros do mercado de capitais. O estudo inspira-se no trabalho de Hightower e David (1991), o qual utiliza a teoria de portfolio de Markowitz com vistas à seleção dos projetos de investimento de uma empresa petrolífera e à formação de carteiras eficientes por meio de um estudo de caso. 1.1 Objetivo O objetivo do estudo é propor um modelo de seleção de um conjunto de projetos de investimento (ativos reais) de uma empresa de petróleo empregando a teoria de portfolio de Markowitz. O estudo compara os resultados obtidos nos portfolios eficientes de Markowitz com aqueles alcançados nas carteiras formadas com base no rank de projetos. Por meio de um estudo de caso o modelo é aplicado na constituição de 3 carteiras eficientes a partir de um conjunto de 14 projetos de investimento de desenvolvimento da produção de petróleo. A comparação dos dois ritos empregou o teste sugerido no trabalho de Wang (1998), o qual é descrito no capítulo 4. A hipótese central do estudo considera que os portfolios formados com base na teoria de portfolio são mais eficientes do que aqueles constituídos segundo o rito de rank de projetos. Os resultados do teste são mostrados no capítulo 4. 1.2 Relevância do estudo Ainda que, ao identificar novas oportunidades de investimento, os resultados esperados pelos executivos e técnicos das empresas carreguem consigo um elevado grau de incerteza, as pesquisas de Fensterseifer e Saul (1993) e Eid (1996) evidenciam uma reduzida abordagem quantitativa do risco no rito de avaliação dos novos projetos por parte das empresas. O não reconhecimento do risco nos resultados dos projetos é apontado por Brashear (1999) como um dos fatores responsáveis pela baixa rentabilidade do segmento de exploração e produção de petróleo norte americano : 3,4% nos períodos de 1977 a 1986 e 7,6% na década seguinte, sendo as taxas mínimas de atratividade freqüentemente superiores a 10% . É interessante observar que o rendimento dos títulos de curto prazo do governo norte americano (livres de risco) foi de 5,5% nestes mesmos períodos. Paralelamente, a baixa liquidez dos ativos reais chama atenção para outro aspecto relevante das decisões de investimentos : o seu caráter quase irreversível. Ou seja, uma vez que a decisão de investir é tomada, as mudanças de rumo não são realizadas sem que delas resultem perdas ou prejuízos. Portanto, quanto maior a racionalidade das análises de projeto, menor probabilidade de acúmulo de resultados insatisfatórios, perda de rentabilidade e de eficiência. As análises quantitativas do retorno e risco, individual e coletivo, dos projetos de investimentos e o reconhecimento do trade-off risco-retorno contribuem no sentido de melhorar a estrutura de tomada de decisões. 4 Ainda como um desdobramento da alocação eficiente de capital, o uso da teoria de portfolio permite sustentar as decisões relativas a funding dos projetos, execução de parcerias e joint ventures. 1.3 Delimitação do Estudo O estudo possui um enfoque de avaliação estritamente econômico. Não serão abordados aspectos financeiros, sociais, políticos, mercadológicos, logísticos e outros que possam exercer influência sobre as decisões de investimento. Os aspectos tributários (alíquotas, tipos de tributação) levados em consideração nas avaliações econômicas são aqueles que constam da legislação vigente. As modificações nos cenários de taxa de câmbio e na estrutura de capital da empresa não são incorporadas ao estudo, de forma que este não agrega nenhuma informação relevante sob o ponto de vista das políticas de hedge cambial. Ainda que inspirado no trabalho de Hightower e David (1991), o estudo realizado difere deste nos seguintes aspectos : − não incorpora ao modelo de análise restrições financeiras e operacionais, − estrutura a análise no espaço média- variância e − quantifica a perda da eficiência dos portfolios formados segundo a metodologia de rank de projetos. O capítulo 2 revisa a bibliografia referente à aplicação da teoria de portfolio aos ativos reais. No capítulo 3 o estudo propõe um modelo de estruturação do problema. O capítulo 4 apresenta os resultados da aplicação do modelo proposto e o capítulo 5 descreve as conclusões do estudo, sugerindo tópicos a serem abordados em trabalhos futuros. 5 2 Revisão Bibliográfica Fensterseifer e Saul (1993) apresentam os resultados de pesquisa realizada em 1990/1991 cujo objetivo é avaliar de que forma são conduzidas as decisões de investimentos nas grandes empresas brasileiras e que metodologias são empregadas. O conteúdo da pesquisa é na realidade uma reedição da pesquisa efetuada pelos mesmos autores em 1985. No mesmo sentido Carter e Van Auken (1990) realizam uma pesquisa no universo de instituições financeiras norte-americanas que avaliam as empresas. O que distingue as duas pesquisas é que o foco de análise de Carter e Van Auken (1990) é o desempenho das empresas (rentabilidade, liquidez e endividamento) , ao passo que o trabalho de Fensterseifer e Saul (1993) concentra-se nos instrumentos de avaliação de projetos de investimentos. Primeiramente, estes indicadores econômicos auxiliam as empresas a decidir se uma oportunidade de investimento deve ou não ser aceita em sua carteira potencial. Em um segundo momento, algumas empresas utilizam estes mesmos indicadores com o fim de priorizar essas oportunidades. A necessidade de priorização é determinada a partir de restrições financeiras e/ou operacionais. Carter e Van Auken (1990) agrupam as diversas técnicas de análise em 5 grupos, a saber : análise fundamental, análise de portfolio, análise técnica, estratégia de opções e estratégia de futuro. Segundo a pesquisa, a análise fundamental é a técnica mais empregada pelas instituições respondentes. Contudo, uma conclusão é sugerida em ambas pesquisas : há uma evolução contínua no uso de modernas técnicas de análise com o fim de suportar as decisões de investimento, sendo que a intensidade no uso das técnicas disponíveis parece estar inversamente relacionado ao grau de sofisticação e complexidade teórica e metodológica da técnica. Hightower e David (1991) caracterizam a análise de risco e a análise de portfolio como metodologias que consideram a incerteza nos resultados esperados. A análise de risco considera o risco individual do projeto e a análise de portfolio avalia o risco dos portfolios de projetos. Ressalta-se contudo que a teoria de portfolios de Markowitz (1952) e os modelos de precificação de ativos dela derivados desenvolveram-se no contexto dos ativos financeiros. 6 Um dos primeiros esforços no sentido de estender a teoria de portfolios aos ativos reais ocorreu na década de 60, no trabalho de Cord (1964). Nas décadas de 80 e 90 encontram-se diversos estudos que buscam apoio na teoria de portfolio para desenvolver estruturas holísticas de análises e decisões relativas a um conjunto de produtos e de investimento em ativos reais. Dentre os exemplos temos os estudos de Leong e Lim (1991), que aplicam a teoria de portfolio nas decisões de marketing, e de Marchewka e Keil (1995) cuja aplicação é dirigida aos projetos de tecnologia da informação. Diversos outros estudos propuseram o uso da teoria de portfolios na avaliação de carteiras de oportunidades de investimentos de empresas industriais (Jones, 1985; Quick e Buck, 1983; Hightower e David, 1991; Brashear et al, 1999; Helfat , 1989; Orman e Duggan, 1998; Ball e Savage, 1999; Howell et al, 1998; Nepomuceno, 1997), o que sugere um interesse não só no sentido de introduzir análises de risco econômico a que estão expostos os resultados dos projetos, como também o risco da carteira de oportunidades. Os estudos chamam atenç ão para os possíveis ganhos de eficiência advindos de uma diversificação adequada na composição dos projetos do portfolio que, mesmo inseridos em um segmento do negócio comum, podem ter sensibilidades diferenciadas em relação aos fatores que produzem as receitas e gastos. Este capítulo é dedicado a uma revisão bibliográfica da teoria de portfolio e sua extensão aos ativos reais. A seção 2.1 destaca os conceitos abordados na teoria de portfolio aplicada aos ativos financeiros. A seção 2.2 apresenta os estudos que aplicam a teoria de portfolios às oportunidades de investimentos de empresas industriais. A seção 2.3 percorre as métricas utilizadas na obtenção de retornos esperados de ativos reais e descreve as medidas econômicas utilizadas como proxy do retorno nos estudos anteriores. A mensuração do risco no contexto dos ativos reais é discutida na seção 2.4. Finalmente, as premissas adotadas na teoria de portfolio aplicadas aos ativos reais são abordadas na seção 2.5, sendo as premissas adotadas neste estudo sumariadas na seção 3.4. 2.1 A teoria de portfolios de ativos financeiros Apesar do conhecimento estabelecido na teoria de portfolios aplicada a ativos financeiros, as premissas adotadas por ela são revistas nesta seção com o fim de 7 salientar os principais tópicos que são tomados como paralelo na aplicação da teoria para os ativos reais. O retorno de um ativo financeiro, medido ex-post de forma percentual pelo ganho de capital resultante da variação do preço de um ativo, incorporando-se a este os dividendos pagos, são representados nas avaliações ex-ante pela expectativa de ganho de capital do ativo financeiro se o mesmo for mantido pelo investidor na sua carteira de investimentos até o próximo período. (Carter e Van Auken, 1990). A expectativa do investidor , por sua vez, pode ser gerada de diferentes formas. Markowitz (1952) propõe que as informações históricas auxiliam na formação de expectativas futuras. Considera, entretanto, viável o julgamento do investidor relevante no ajuste destas expectativas. Ross et al (1995, p.202) categoriza os métodos prospectivos de geração de expectativas de retorno em : - retorno médio obtido de uma série de retornos históricos, - retorno obtido por meio de simulação computacional e - informação privilegiada. Ao considerar a formação de expectativas a partir de amostras ou ainda com base no julgamento do investidor, Fabozzi (1994) mostra que a medida central que domina a estruturação das análises de portfolios é a média ponderada dos retornos observados pelas respectivas probabilidades. A primeira abordagem associa probabilidades de ocorrência às taxas de retornos esperadas e a segunda associa a expectativa de retorno do ativo à média aritmética dos retornos observados em uma determinada janela histórica. A primeira abordagem não pressupõe que o retorno do ativo possua uma fdp específica. Por outro lado, a segunda, assume o pressuposto de normalidade dos retornos do ativo observados na janela histórica. Estudos empíricos avaliando o comportamento de ações norte-americanas sugerem que considerar a normalidade dos retornos diários destes ativos não é um pressuposto que se distancia do observado (Fama, 1976 apud Fabozzi, 1994). Mormente esta observação empírica seja constatável para diversas ações, a expectativa de retorno do ativo pode 8 modificar-se de acordo com a janela histórica, o que implica na possibilidade de ocorrerem erros amostrais. O risco de um ativo financeiro, por sua vez, também pode ser mensurado de diversas formas. O conceito normalmente atribuído ao risco é o da dispersão, com relação à média, dos valores observados na amostra (Ross et al, 1995, p.194). A expectativa de retorno (retorno médio) utilizada neste caso como ponto de referência, considera que a dispersão pode ser então mensurada por meio da variância (desvio padrão) dos retornos observados. A teoria de portfolio, conforme proposta por Markowitz (1952), foi desenvolvida no espaço média-variância e assume portanto a normalidade como pressuposto básico. A normalidade dos retornos dos ativos é uma premissa criticada em diversos trabalhos (Bawa e Lindenberg, 1997 apud Fabozzi, 1994; Sortino e Van Der Meer, 1991 apud Fabozzi, 1994; Chen et al, 1991; Hightower e David, 1991). Fabozzi (1994) apresenta uma crítica ao uso da variância (desvio padrão) como métrica do risco, ao descrever o conceito de semivariância segundo o qual a preocupação do investidor não é exatamente com a dispersão bilateral, mas tão somente com a dispersão dos retornos abaixo da sua expectativa. Markowitz (1959) reconhece a possibilidade e relevância desta e de outras formas de medir o risco (perda média, desvio médio absoluto são exemplos), ressaltando porém o aumento natural da complexidade matemática, sendo ele próprio limitado pelas restrições computacionais de sua época. Neste sentido Chen et al (1991) reconhece o valor informacional da semivariância tornando evidente o aumento da complexidade matemática resultante. Do ponto de vista do retorno esperado, algumas outras medidas centrais poderiam ser adotadas como forma de quantificar as expectativas de desempenho futuro. Markowitz (1959) argumenta que outros problemas numéricos poderiam conduzir a novas dificuldades. A título de exemplo, ele aponta a possibilidade de surgirem múltiplas modas nas amostras. 9 Fabozzi (1994) ressalta ainda que a presença de momentos centrais superiores na distribuição amostral não é considerada na abordagem bi-paramétrica da teoria de portfolio. Os estudos empíricos sugerem, entretanto, que a distribuição dos retornos dos ativos financeiros do mercado de câmbio e o ouro possuem função de densidade de probabilidade com caudas gordas, assimetria e elevados valores de quarto momento. (VENKATARAMAN, 1997). Ao traduzir a expectativa de retorno dos ativos pela média amostral e o risco pela variância, Markowitz (1952) demonstra que o investidor pode traduzir sua expectativa de retorno do portfolio ponderando as expectativas de retornos individuais pelas respectivas frações do capital alocadas aos ativos e o risco do portfolio nas parcelas que medem a variâ ncia individual do retorno do ativo (desvio padrão) e nas parcelas que medem covariância entre o retorno dos ativos. A expressão que determina o risco do portfolio, conforme apresentado por Haugen (1997), destaca a viabilidade matemática de reduzir o risco do portfolio com o aumento do número de ativos no portfolio na medida em que a parcela do risco não sistemático reduz-se assintóticamente com a redução da fração de capital alocada aos ativos individualmente. No limite, esta redução elimina o risco residual do portfolio, permanecendo apenas o risco sistemático. (3) 2 m 2 m σ (rp) = (Σ xj. βj) . σ (rm) + Σ xj2 . σ2 (ej), onde 2 j=1 j=1 xj - peso do ativo ´j` no portfolio ; βj - beta do ativo ´j` ; σ2 (rm) - variância do portfolio de mercado; e σ2 (ej), - variância residual do ativo j. Ross et al (1995), entretanto, ressaltam o efeito dominante das parcelas de covariância na expressão que determina o risco do portfolio. A baixa possibilidade prática de existirem dois ativos negativamente correlacionados assumindo posições longas em uma carteira, conforme Fisher e Jordan (1995), reduz igualmente a possibilidade de 10 eliminar por completo o risco de um portfolio quando não se permite venda a descoberto. A admissibilidade da venda a descoberto irrestrita, segundo Haugen (1997) viabiliza a eliminação do risco do portfolio ainda que os ativos da carteira sejam positivamente correlacionados. Haugen (1997) mostra o efeito da correlação entre dois ativos no qual as linhas de comb inação são construídas no espaço média- variância, conforme mostra a figura 1. Figura 1 – Fronteiras eficientes em um portfolio formado por 2 ativos para correlações iguais a –1; -0,5; 0; 0,5 e 1. Markowitz (1952) mostra que ao combinarmos três ativos em proporções não nulas, o conjunto de possibilidades amplia-se, sendo formado não só pelos pontos na linha de combinação múltipla, mas por toda a região de pontos no interior da mesma. Na linha de combinação múltipla, conhecida como conjunto de mínima variância encontra-se o ponto de mínima variância. (HAUGEN, 1997) “Dado um nível particular de expectativa de retorno, o portfolio de mínima variância possui o menor desvio padrão (variância) atingível com a população de ativos disponível”. (HAUGEN, 1977, p. 94) 11 Nepomuceno (1997) descreve o conjunto eficiente como o lugar geométrico dominante onde as melhores combinações de ativos do portfolio possibilitam obter o maior retorno esperado dado um nível de risco. A dominância geométrica do conjunto eficiente é demonstrada por Markowitz (1952), traduzindo-se pela tangência das linhas de iso-expectativa de retorno com as elipses de iso-variância, tangência esta que determina a linha crítica no espaço de alocações. (Haugen, 1997; Markowitz, 1952). A linha crítica é de relevância didática nos textos de Haugen (1997) porque sua passagem pelo interior ou por fora do poliedro desenhado no espaço de alocações determina a forma perimétrica do conjunto eficiente diante de possíveis restrições às operações de venda a descoberto. O conjunto de mínima variância é obtido utilizando programação quadrática e multiplicadores lagrangian (Canada et al, 1996; Haugen, 1997), sendo n n A função objetivo : min σ2 (rp) = Σ Σ [ xi.xj.σ(ri,rj)] + b. [E(R*p)- Σ xi. E(ri)], j=1 i=1 onde ´b` é multiplicador lagrangian ; ´n` é o número de ativos e E(R*p) é a expectativa de retorno requerida do portfolio n e a restrição é : Σ xi = 1 i=1 A solução da função objetivo é obtida igualando-se as derivadas parciais da variância do portfolio, em relação aos pesos dos ativos do portfolio, a zero. ∂ σ2 (rp) = 0 ∂ xi 12 A solução determina as distribuições (xi) que resultam em portfolios eficientes de média-variância. O tratamento matricial utilizado na determinação do risco do portfolio é mostrado por Ross et al (1995), que evidencia a dominância dos termos de covariância entre ativos na obtenção da variância do portfolio. Neste sentido, Markowitz (1959) ressalta, que o risco de um portfolio composto por ´n` ativos possui ´n` termos de variância dos retornos do ativo e ´(n2 -n)/2` diferentes termos de covariâncias entre os retornos dos ativos. Dada a predominância dos termos de covariância na determinação do risco do portfolio, Markowitz (1959) propõe que uma seleção conveniente dos ativos permite minimizar o risco de um portfolio sem contudo reduzir a sua expectativa de retorno. Fabozzi (1994) denomina esta estratégia de “diversificação de Markowitz”. A estratégia, que tem implicações diretas no processo de seleção e de gerenciamento dos ativos que devem constituir-se em portfolios eficientes, não trata a questão de forma subjetiva (Fabozzi , 1994). A “diversificação de Markowitz” produz resultados quantificáveis. Simkowitz e Beedles (1978) argumentam, entretanto, que o terceiro momento central exerce influência na decisão de diversificação do investidor que aplica em um ativo financeiro. A abordagem analítica e quantitativa apresentada pelos autores sugere que a presença de assimetria positiva no retorno do portfolio pode reduzir a atratividade da diversificação que visa reduzir o risco bilateral representado na variância do portfolio. Ao permanecermos no espaço média-variância, sem considerar o efeito dos momentos superiores da distribuição, o objetivo permanece inalterado : obter o benefício máximo da diversificação buscando, em um grande número de ativos, os pares de ativos que possuem as mais baixas correlações entre si e simultaneamente atendem à expectativa de retorno requerido do portfolio. Tendo em vista as diversas condições de contorno descritas, Fabozzi (1994) sumaria as premissas assumidas por Markowitz na teoria de portfolios nos seguintes pontos : (a) espaço média-variância : dois parâmetros influenciam as decisões dos investidores - expectativa de retorno e risco do ativo ou portfolio ; 13 (b) todos os investidores são avessos a risco, o que implica em optar pelo ativo de menor risco considerando dois ativos com iguais expectativas de retorno ; (c) todos os investidores são tomadores de preço, o que implica em optar pelo ativo de maior retorno entre dois ativos de mesmo risco; (d) todos os investidores possuem expectativas homogêneas de média-variância a respeito dos ativos; (e) todos os investidores possuem um horizonte de tempo comum - um período simples. Adicionalmente, Haugen (1997) considera a inclusão de restritividade quanto a venda a descoberto e de um mercado sem fricção (custos de transação). A premissa (b), que qualifica um investidor como avesso a risco surge da teoria da utilidade, que classifica a atitude do investidor frente ao risco de um investimento monetário em : aversão a risco, neutralidade a risco e propensão a risco admite a existência de um portfolio ótimo na fronteira eficiente. A teoria de utilidade busca descrever o processo de tomada de decisão do investidor segundo o seu comportamento frente ao risco. Figura 2 – Curvas de iso-utilidade no espaço risco retorno 14 Conquanto a teoria de utilidade seja importante ao fornecer sustentação teórica na definição do perfil de um tomador de decisão e na determinação do portfolio ótimo, esta não é inserida no escopo deste trabalho dado que o mesmo não busca identificar o portfolio “ótimo”, mas evidenciar a racionalidade dos portfolios “eficientes” e suas conseqüentes implicações pragmáticas com relação ao rito de seleção de projetos de investimentos das empresas. 2.2 Teoria de portfolios de ativos reais - estudos anteriores As análises de investimentos em ativos reais, considerando o retorno esperado e o risco, são encontradas em diversos trabalhos. Um dos trabalhos seminais é o apresentado por Cord (1964), que chama atenção para o fato que os retornos esperados dos projetos de investimento (ativo real) estão sujeitos à incerteza. Assim, o autor propõe um método de alocação ótima do capital de investimento considerando o universo de 25 projetos de uma empresa industrial sujeita a restrições orçamentárias. Mais adiante Leong e Lim (1991) propõem adaptações na teoria de portfolios buscando por meio delas decidir a respeito da alocação de capital nas diversas linhas de produtos de uma empresa. Quatro adaptações são sugeridas com vistas a contextualizá- las às decisões de marketing e às peculiaridades dos produtos envolvidos. São elas : - considerar a não estacionariedade da expectativa de retorno e do risco dado que estes ativos estão sujeitos ao denominado ciclo de vida; - não permitir rebalanceamento dos ativos do portfolio, dado que estes possuem baixa liquidez; - considerar a expectativa de retorno e o risco do ativo (produto) em função do nível de investimento alocado ao produto; e - considerar a não estacionariedade da correlação do retorno dos ativos, dado que os produtos possuem sinergia que se modifica ao longo de seus diferentes ciclos de vida. 15 Marchewka e Keil (1995), por sua vez, buscam maximizar o retorno esperado em projetos de tecnologia da informação de uma empresa gerenciando a contribuição do risco de cada projeto para o risco do portfolio. O modelo proposto pelos autores explicita a correlação entre os retornos dos projetos considerando o impacto de 4 diferentes dimensões do projeto sobre o seu fluxo de caixa : tamanho do projeto, estruturação, tecnologia empregada e impacto estratégico. De modo semelhante Gava (1998) explicita o risco de um portfolio de ativos reais considerando a covariância entre os fluxos de caixa de 5 projetos de investimento segundo três cenários macroeconômicos. O risco obtido do portfolio de 5 projetos é comparado com o nível máximo de risco a que a empresa aceita expor-se. Uma abordagem diferenciada é empregada no trabalho de Helfat (1989). O autor faz uso da teoria de portfolios a fim de propor um modelo de avaliação do preço de equilíbrio em ofertas de contratos de concessão de áreas para exploração de petróleo no período pré e pós-embargo de petróleo (1973 e 1974). O modelo captura o risco de covariância entre os projetos de exploração marítima de petróleo e os projetos de investimentos em outras áreas correlatas do negócio (refino de petróleo, minas de carvão, combustíveis sintéticos, petroquímica e recuperação de óleo) a fim de sugerir um preço de equilíbrio a ser pago nos contratos de concessão tomando como referência um portfolio formado exclusivamente por projetos de exploração de petróleo no mar. Tratando do mesmo tema (ofertas em contratos de concessão), Tavares (1999) apresenta as teorias que influenciam as decisões de ofertas (bids) no segmento de exploração e produção de petróleo. As teorias econômicas de auction, da utilidade e de portfolios (Markowitz, 1952) suportam o modelo de estratégias que visam uma participação bem sucedida nos leilões brasileiros de blocos de exploração e produção de petróleo. O critério de sucesso considera tanto a obtenção do direito de exploração quanto o winner curse resultante. O trabalho não se propõe a mensurar os ganhos ou perdas resultantes da obtenção das concessões visto que os campos de produção de petróleo ainda estavam em desenvolvimento por ocasião do estudo. Em outra linha de mensuração do risco em portfolios de ativos reais, Chen et al (1991), motivados pelos argumentos que atribuem a semivariância um maior conteúdo 16 informacional do risco, propõem um modelo de regressão linear que obtém um resultado muito próximo ao valor analítico encontrado para a semivariância. O modelo baseia-se na relação da semivariância com momentos superiores da distribuição e é construído assumindo-se independência entre os fluxos de caixa dos projetos. Os autores indicam os ajustes que devem ser efetuados no modelo caso os investimentos entre os projetos sejam correlacionados, evidenciando o crescimento na complexidade do modelo. Na década de 90 diversos trabalhos são propostos sugerindo a extensão da teoria de portfolio aos projetos de investimentos em exploração e produção de petróleo. Chua e Woodward (1992) avaliam o pressuposto, então esposado pelos administradores das empresas de petróleo norte-americanas, que considerava os projetos de exploração no estrangeiro (fora dos EUA) mais arriscados do que os domésticos, o que implicava em aumentar as taxas de desconto dos projetos de exploração fora dos EUA. Os autores demonstram, com base no custo do capital próprio (equity), que o beta das indústrias de petróleo fora dos EUA não era significativamente maior do que o beta das indústrias de petróleo que conduziam projetos de exploração exclusivamente nos EUA. Neste sentido, Asrilhant (1995) incorpora o risco na taxa de desconto de projetos de investimentos da indústria do petróleo. Além do prêmio de risco de mercado, Asrilhant (1995) adiciona duas outras categorias de risco na taxa de desconto do projeto : o risco de liquidez do projeto derivado do conceito de duration e o risco de perdas e estimativas com base na teoria prospectiva. Nepomuceno (1997), por outro lado, sugere um modelo de tomada de decisão que permite determinar o nível ótimo de participação de uma empresa de petróleo em cada um dos projetos de sua carteira de oportunidades de investimento em exploração. O modelo teórico de decisão traduz o valor incerto do projeto em seu equivalente certo empregando a teoria de utilidade multi-atributos, capturando o risco a que está sujeito o VPL do projeto devido à variabilidade do preço do petróleo, do custo operacional, dos gastos de investimentos e do volume produzido. A função objetivo corresponde a maximização do equivalente certo do projeto (VEU - valor esperado da utilidade). Os atributos avaliados abrangem o risco político relacionado à localização geopolítica do 17 projeto e o risco econômico inerentes às decisões de investimentos. A seleção e a priorização de projetos em função do racionamento de capital da empresa, é realizada com base no ranking do VEU do projeto e nos níveis ótimos de participação propostos no modelo. Semelhantemente Castro (1999) propõe um modelo de análise multiatributos ao avaliar a forma de gerenciamento de campos de petróleo. O autor realiza um estudo de caso no qual as dimensões econômicas e tecnológicas do projeto formam a estrutura de análise. Tanto o trabalho de Nepomuceno (1997) quanto o de Castro (1999) consideram o risco individual dos projetos. A teoria de portfolio é utilizada por Howell et al (1998) com a finalidade de construir a fronteira eficiente a partir de um conjunto de projetos de exploração e produção de petróleo. Os autores mostram que a adoção de metas de VPL excessivamente altas conduz os portfolios à condição de risco elevado. O impacto da escolha de um portfolio na fronteira eficiente sobre outras metas financeiras (lucro) e operacionais (produção e reservas) da companhia também é avaliado. Assim sendo, os autores sugerem que o trade-off risco-retorno do portfolio de projetos seja avaliado observando-se o quadro de metas corporativas. Ball e Savage (1999) abordam a questão do risco sob ótica da falibilidade dos resultados dos projetos de exploração de petróleo. O benefício obtido pela diversificação é ilustrado por meio de um exemplo no qual se distribuem os recursos de investimentos da empresa entre dois projetos com mesma expectativa de retorno e diferentes níveis de risco. Os autores mostram que, considerando independência entre os projetos, distribuir os recursos nos dois projetos produz resultados mais eficientes, no sentido de redução do risco e manutenção do nível de expectativa de retorno, do que direcionar todos os recursos orçamentários no projeto de menor risco. 5 fatores são avaliados com o fim de capturar os projetos que possuem menor correlação mútua : localização geológica, preço do produto, perfil do fluxo de caixa, influências políticas e das regulamentações no setor, e tecnologia empregada. O racionamento de capital é também utilizado na estrutura de análise e na seleção dos projetos. Em Brashear et al (2000) os fatores são classificados em fatores no subsolo (geológicos e de reservatório) e fatores de superfície (macroeconômicos e logísticos). As análises do impacto dos fatores de superfície sobre o resultado dos projetos são utilizadas a fim de formar portfolios eficientes construídos a partir de três cenários, 18 considerando-se quatro dimensões de contingências. Evidenciando os benefícios obtidos pelo uso teoria de portfolios na alocação eficiente dos recursos orçamentários de investimentos Brashear et al (2000) contrapõem os resultados atingidos aos resultados obtidos pelo método de alocação que ordena os projetos segundo um indicador econômico pré-definido (p.e. VPL). A condição de maximização do retorno e do risco do portfolio também é mostrada no trabalho de Orman e Duggan (1999). Os autores mostram, por meio de um exemplo numérico, o quanto o nível de risco de um portfolio eficiente é significativamente reduzido (50%) sem que disto resulte uma redução expressiva da expectativa de retorno do portfolio (1,2 %). No trabalho de Orman e Duggan (1999) faz-se menção das políticas de parcerias e de transferências comerciais de concessões (farmouts) como estratégias para que as empresas trabalhem com portfolios eficientes. McVean (1998) destaca o valor das análises de risco nas decisões de alocação do capital de investimento de uma empresa. O uso das técnicas de simulação de Monte Carlo é proposto como uma alternativa adequada na estruturação das análises de portfolios eficientes. Segundo o autor a robustez da teoria de portfolio, associada ao método de simulação de Monte Carlo, fornece subsídios à empresa a fim de tomar a melhor decisão. Um interessante estudo foi desenvolvido de Hightower e David (1991). Nele, os conceitos de risco e retorno dos projetos de investimento em exploração e produção são avaliados de forma sistemática primeiramente nas análises isoladas de risco dos projetos e posteriormente nas análises de portfolio. Os autores percorrem os conceitos relevantes da teoria de portfolios e sugerem o uso da semivariância como medida de risco no modelo de eficiência. O VPL mínimo, a reserva mínima de petróleo e o orçamento máximo são informações incorporadas como restrições no modelo. Atendidas as restrições, os autores sugerem que o portfolio ótimo seja o de menor risco. Finalmente, Baídya e Aiube (1997) utilizam a teoria de opções reais a fim de determinar o valor monetário de um projeto de investimentos. O modelo de precificação do projeto proposto incorpora as incertezas referentes ao preço do óleo e ao volume do reservatório 19 de uma jazida petrolífera. O risco, a semelhança do trabalho de Nepomuceno (1997), é considerado de forma individualizada, ou seja, projeto a projeto. O quadro a seguir sumaria os estudos anteriores que incorporam o risco nas análises e decisões acerca dos projetos de investimento : 20 Quadro 1 – Abordagem do risco em trabalhos anteriores Tópicos relevantes Trabalhos que abordam o tema Percepção do risco nos projetos de Cord (1964), Leong e Lim (1991), Marchewka e Keil (1995), Gava (1998), Chua J., Woodward R. investimento em ativos reais (1992), Asrilhant (1995), Howell et al (1998), Brashear et al (2000), Helfat (1989), Orman e Duggan (1999), Ball e Savage (1999), Hightower e David (1991), Baídya e Aiube (1997), Nepomuceno (1997), Castro (1999), Tavares (1999) e McVean (1998) Análise do risco isolado do projeto Chua e Woodward (1992), Asrilhant (1995), Baídya e Aiube (1997), Nepomuceno (1997), Castro (1999) Classificação das dimensões Marchewka e Keil (1995), Brashear et al (2000), Helfat (1989), Orman e Duggan (1999), Ball e responsáveis pelo retorno dos projetos Savage (1999), Hightower e David (1991), Baídya e Aiube (1997), Nepomuceno (1997), Castro (1999) Teoria de portfolios e as análises de Cord. J (1964), Leong e Lim (1991), Marchewka e Keil (1995), Gava (1998), Howell et al (1998), retorno e risco do portfolio Brashear et al (2000), Helfat (1989), Orman e Duggan (1999), Ball e Savage (1999), Hightower e (explicitando a covariância entre David (1991) e McVean (1998) retornos dos projetos) Uso da teoria de portfolio como base Helfat (1989) de um modelo de preço de equilíbrio Incerteza no prazo de recebimento Asrilhant (1995) dos fluxos de caixa do projeto Estruturas de análise multiatributos : Howell et al (1998), Brashear et al (2000), Helfat (1989), Orman e Duggan (1999), Ball e Savage Introdução de outras metas no modelo (1999), Hightower e David (1991), Baídya e Aiube (1997), Nepomuceno (1997), Castro (1999), (financeiras e operacionais) como Tavares (1999) e McVean (1998) restrições Parcerias como estratégia de Helfat (1989), Orman e Duggan (1999), Ball e Savage (1999), Hightower e David (1991), diversificação Nepomuceno (1997), Tavares (1999) e McVean (1998) Horizonte multiperíodo de análise e Cord. J (1964), Leong e Lim (1991), Kim S-H et al (1999) e Burness et al (1997) otimização Risco no âmbito da teoria da utilidade Nepomuceno (1997), Castro (1999) e Tavares (1999) 21 2.3 Medindo retornos em ativos reais Ross et al (1995, p. 127) sugerem que as principais virtudes dos indicadores contábeis de rentabilidade residem na disponibilidade e facilidade de cálculo. Todavia, os indicadores contábeis de rentabilidade são deficientes na medida em que trabalham com fluxos contábeis e não com a perspectiva fluxos de caixa dos projetos, além de não considerar o valor temporal do dinheiro. Este é o caso, por exemplo, da taxa média de retorno (Fensterseifer e Saul, 1993 e Ross et al, 1995, p.127). Considerando as deficiências descritas, fica evidente a inadequação do uso dos indicadores contábeis como variáveis proxy da expectativa de retorno de projetos de investimentos. Os projetos de investimento possuem fundamentações teóricas próprias de avaliação. Fensterseifer e Saul (1993) relacionam as seguintes medidas de rentabilidade dos projetos de investimentos : - Taxa interna de retorno (TIR); - Valor presente líquido (VPL); - Pay back sem atualização (PBSA); - Pay back com atualização (PBCA); - Taxa média de retorno (TMR); e - Índice de lucratividade (IL). Ross et al (1995, p. 122 - 137) apresentam pormenorizadamente os conceitos e a formulação empregada na definição de cada uma destas medidas. Ross et al (1995, p. 123 - 127) observam ainda que, à exceção da TMR e do PBSA, os demais indicadores econômicos seguem o princípio da atualização. Wang et al (1999) apud Castro (1999) sugere que se acrescente à lista de indicadores econômicos de lucratividade de projetos um indicador próprio ao segmento de exploração e produção de petróleo : - VPL / IaRa / RBOE , onde ´Ra` são os fluxos de caixa das receitas descontados à valor presente e ´RBOE` é a reserva em barris de óleo equivalente do campo petrolífero a ser explorado e desenvolvido no projeto de investimento avaliado. 22 Com exceção deste último indicador, todos os demais avaliam de forma prospectiva o retorno de projetos de investimento de qualquer segmento de negócio. A pesquisa de Fensterseifer e Saul (1993) indica que o método de avaliação de projetos mais utilizado pelas empresas brasileiras é a TIR (49,6%). Os autores sugerem que a facilidade de entendimento gerencial e a inclusão do método nos roteiros de avaliação de projetos pelo BNDES sejam os principais fatores responsáveis por isto. De acordo com a mesma pesquisa, o segundo método mais empregado é o Pay back, que por sinal possui percentual de uso significativamente inferior ao da TIR : 14,3%. Segue-se então, na lista de preferência, o VPL (10,9%) e a TMR (7,5%). A pesquisa realizada em 1990/1991 sugere que houve um pequeno aumento no uso do VPL e do IL comparando-se os seus resultados com os obtidos na pesquisa anterior (1985). A comparação mostra ainda que houve uma redução no uso do PBCA e da TMR. A TIR aparece nas duas pesquisas com o mesmo patamar percentual de preferência. A pesquisa de 1990/1991 também avaliou que método é usado complementarmente nas decisões de investimento. Neste enfoque o VPL apresenta uma tendência de uso crescente comparando-se os resultados das duas pesquisas. Continua, porém, sendo preterido em relação ao PBCA (preferência pelo VPL = 20,4 %, preferência pelo PBCA = 23,0 %). Eid (1996), em pesquisa mais recente, sugere que estes três indicadores (TIR, VPL, Pay back) continuam concentrando a preferência dos analistas de projetos e dos tomadores de decisão nas empresas brasileiras, sendo a ordem de preferência e emprego a seguinte : Pay back (25%), TIR (23%) e VPL (22%). Quando observamos os estudos descritos na seção anterior, que utilizam a teoria de portfolio aplicada aos ativos reais, verifica-se uma predominância no emprego do VPL como medida de retorno do projeto. (Mcvean, 1999; Howell et al, 1999; Marchewka e Keil, 1995; Orman e Duggan, 1999; Ball e Savage, 1999; Nepomuceno, 1997; Castro, 1999). A maximização do valor da empresa por meio da maximização do VPL a cesta de projetos parece ser o objetivo central destes estudos. 23 Por outro lado encontramos os trabalhos de Gava (1998), Leong e Lim (1991) e Cord (1964) que adotam a TIR como variável proxy da expectativa de retorno do projeto. Leong e Lim (1991) adotam a TIR com o objetivo de maximizar a taxa de retorno nas decisões de investimento multi-períodos na linha de produção de três mercadorias. O trade-off risco-retorno avaliado com base na TIR conduz as avaliações de 49 alternativas de investimentos. Gava (1998) e Cord (1964), entretanto, adotam a minimização da variabilidade da TIR do portfolio como função objetivo. O enfoque destes autores reside na busca da redução da volatilidade da taxa de interna de retorno do portfolio de projetos a partir da expectativa de retorno da TIR. Brashear et al (1999), Brashear et al (2000) e Helfat (1989) adotam um terceiro índice econômico como variável proxy de expectativa do retorno dos projetos: o índice de lucratividade VPL / Ia (VPL sobre os investimentos descontados à valor presente). Brashear et al (1999), Brashear et al (2000) o fazem na intenção de maximizar o retorno econômico do projeto. Helfat (1989) focaliza a minimização da variância do VPL/Ia com o intuito de assegurar um patamar de retorno econômico mínimo do portfolio de projetos de investimento, de modo semelhante ao que fazem Gava (1998) e Cord (1964) ao adotarem a TIR como medida de retorno. Finalmente encontramos os trabalhos de Hightower e David (1991), Baídya e Aiube (1997) e Burness et al (1997) que utilizam outros métodos de valoração de projetos como variáveis proxy da expectativa de retorno. Burness et al (1997) utilizam o lucro econômico (NOPAT 1 - custo de capital x capital) como medida de valor dos projetos, porém não efetuam uma análise do risco nas avaliações da rentabilidade dos projetos. Hightower e David (1991) utilizam a taxa de retorno do crescimento (GRR - Growth Rate of Return). A conceituação da taxa de retorno do crescimento (GRR) é apresentada detalhadamente no trabalho de Capen et al (1976). Basicamente a GRR é obtida levando a valor futuro todos os fluxos de caixa positivos do projeto (B) e a valor presente todos os fluxos de caixa negativos (I). Os fluxos positivos capitalizados à taxa de reinvestimento da empresa e os negativos descontados ao custo de capital da empresa. A 1 NOPAT - net operating profit after tax 24 GRR representa a taxa de retorno que seria obtida de um investimento que possui estes dois vetores (B e I) de fluxo de caixa, no horizonte de tempo considerado. A expressão que determina a GRR é : I (1+GRR)t = B, onde ´t` é o período de tempo arbitrado como aquele para o qual os fluxos de caixa positivos são levados a valor futuro. Hightower e David (1991) demonstram que a GRR um possui estreito relacionamento com o VPL/Ia, além de possuir um forte apelo de compreensão intuitiva que as taxas percentuais evocam. Entretanto, são os próprios autores do texto que descrevem dificuldades de operacionalizar a taxa quando lidamos com portfolios. A GRR do portfolio não é a média ponderada das GRR dos projetos. Há que se converter a GRR dos projetos para o VPL/Ia dos projetos, obter o VPL/Ia do portfolio ponderando-se o VPL/Ia dos projetos, para reconvertê- los ao VPL/Ia do portfolio e enfim ao GRR do portfolio. O texto de Hightower e David (1991) não descreve a forma como estas conversões são tratadas no cálculo do risco do portfolio, entretanto, não é difícil de perceber que tratamento semelhante deve ser adotado. Todo este esforço é necessário porque a relação entre o VPL/Ia e a GRR não é uma relação de proporcionalidade, mas sim uma relação polinomial de grau ´t`. Finalmente, vale destacar, que a medida (GRR) é desconhecida da maioria das empresas e que seus conceitos não aparecem sequer na literatura acadêmica mais recente de finanças corporativas. Oliveira e Resende (1990) sugerem que os métodos de valoração de projetos sejam avaliados segundo 5 critérios : - devem considerar todo o fluxo de caixa do projeto; - devem obedecer premissas imutáveis ; - devem descontar os fluxos de caixa ao custo de oportunidade; - devem poder selecionar um projeto de forma independente dos demais; e - devem salientar os projetos que maximizam o valor da empresa. 25 Considerando-se os 5 mencionados e os fundamentos de cada um dos indicadores citados na pesquisa de Fensterseifer e Saul (1993) é possível considerar que o pay back com ou sem atualização não pode ser considerado um indicador de rentabilidade monetária de projetos. Seu uso está intimamente relacionado com a expectativa de tempo de recuperação do capital investido e, como tal, pode ser entendido como o tempo de nivelamento (breakeven) do projeto. Assim sendo, o PBCA é uma medida inadequada do valor monetário ou de retorno econômico de projetos dado que desconsidera os fluxos de caixa após o tempo de recuperação do capital. (Ross et al , 1995, p.124). Ao avaliar o uso da TIR encontram-se as seguintes virtudes : levar em conta todo o fluxo de caixa do projeto e considerar o valor temporal do dinheiro. Em segundo lugar, Fensterseifer e Saul (1993) destacam que as taxas percentuais são de fácil compreensão por parte dos administradores da empresa. Entretanto, ao avaliar a rentabilidade econômica do projeto utilizando a TIR, o analista defronta-se com diversas ´ciladas clássicas` que podem resultar em avaliações equivocadas. Ross et al (1995, p. 128 136) e Oliveira e Resende (1990) descrevem e ilustram situações nas quais a robustez do método torna-se susceptível a tais equívocos. São elas : modificação da natureza do fluxo de caixa (investimento ou financiamento); existência de TIR múltiplas em projetos independentes que possuem mais do que uma inversão no sinal do fluxo de caixa e dificuldade de comparação direta da TIR de dois projetos de investimentos mutuamente excludentes. Neste ponto, é importante lembrar, que na formação de portfolios eficientes, todos os projetos são ´comparados` em todo o processo seleção. Portanto, o problema das diferenças de escala e das distribuições dos fluxos de caixa é ampliado quando se considera a formação de um portfolio composto por ´n` projetos (n>>1). Neste mesmo sentido Orman e Duggan (1999) destacam a inadequação do uso da TIR quando os projetos possuem diferentes horizontes de maturidade temporal. Oliveira e Resende (1990) citam ainda problemas da TIR em situações nas quais as taxas de desconto do projeto variam ao longo dos períodos do fluxo de caixa. Finalmente, o método supõe que os fluxos de caixa do projeto podem ser reinvestidos, a cada período, à taxa interna de retorno do projeto (TIR), o que é inconcebível quando a 26 TIR do projeto assume valores elevados (acima das taxas de investimentos praticadas pelo mercado) ou quando não existem projetos de igual rentabilidade interna na carteira de oportunidades de investimento da empresa. O método do VPL apresenta como virtude sua coerência com o objetivo de maximização do valor da companhia. Todos os 5 critérios de avaliação indicados por Oliveira e Resende (1990) são atendidos pelo método do VPL. As dificuldades descritas por Ross et al (1995, p. 155 - 159) no uso do VPL referem-se as decisões de substituição e reposição de equipamentos. Os índices de lucratividade, por sua vez, são quocientes que utilizam os métodos de atualização e, como indicadores, possuem a virtude de medir a potência econômica dos projetos. Tavares (1999) destaca que o VPL/Ia do projeto fornece boas informações quando o cenário financeiro da empresa é restritivo, pois este mede o quanto o projeto acrescenta de valor à empresa por unidade de gastos de investimento. Ou seja, o VPL/Ia relaciona o benefício do projeto (VPL) ao seu gasto inicial (Ia). Sendo assim, o VPL / Ia é um índice que maximiza o valor da empresa por cada unidade monetária investida. Quando a abordagem incorpora o racionamento de capital, Wilkes (1977) apresenta o problema clássico de racionamento de capital em que Lorie-Savage adotam a maximização do VPL como função objetivo, e consideram a proibição de venda a descoberto como restrições. No caso proposto o rank de projetos segundo o VPL não resulta na solução que maximiza o VPL. Por outro lado, o uso do VPL/Ia produz alguns bons resultados na priorização de projetos quando se utiliza horizonte de um período simples e quando as proporções dos investimentos dos projetos sobre orçamento total são reduzidas. Os projetos podem ainda ser valorados pelo método de opções reais. Porém o uso do método excede o escopo deste estudo. Pelo exposto verifica-se que não existe um consenso acerca da medida de retorno a ser utilizada como variável proxy da expectativa de retorno do projeto. Ressaltamos, entretanto, que algumas das métricas utilizadas possuem problemas e deficiências que 27 não recomendam o uso (a TIR, por exemplo). O VPL e índices de rentabilidade derivados possuem robustez teórica suficiente capaz de caracterizá- los como variável proxy do retorno. O VPL, por sinal, como medida do valor monetário do projeto, assemelha-se ao preço de uma ação. Se houvesse um mercado no qual os projetos fossem transacionados, o preço justo a ser pago pelo projeto (desconsiderando os aspectos tratados na teoria de opções reais) seria o seu VPL. Entretanto, se o VPL fosse utilizado como preço do ativo real, a variável proxy do retorno deste ativo deveria ser a variação percentual do VPL de um período para outro e não o seu valor absoluto, à semelhança do que é feito com o preço das ações onde o retorno do ativo financeiro não é o preço corrente da ação, mas sim sua variação percentual. Desta forma é possível comparar o nível de retorno dos ativos que possuem diferentes escalas (valor absoluto), o que pode ser entendido como um axioma subjacente à teoria de portfolios. Quando lidamos com os índices de lucratividade tal axioma é preservado, na medida em que as escalas dos projetos não determinam seu valor. O efeito monetário escalar, que descredencia o uso VPL como variável proxy do retorno, se estende a todos os demais indicadores monetários de projetos. Por outro lado, o uso do VPL/Ia ao desconsiderar a escala dos projetos pode conduzir os portfolios eficientes a resultados pouco práticos. Podemos ilustrar esta deficiência se considerarmos um pequeno projeto (pouco intensivo em capital) possuindo um VPL/Ia superior ao VPL/Ia de um projeto grande. Supondo-se que ambos possuam mesmo risco, poderemos ter como resultado portfolios eficientes alocando maior parcela dos investimentos globais ao pequeno projeto à medida que cresce o retorno requerido do portfolio, o que pode implicar em alocações surrealistas do capital de investimento. O quadro a seguir sumaria as medidas de retorno de projetos utilizadas como proxy do retorno nos trabalhos anteriores, suas virtudes e deficiências. 28 Quadro 2 – Quadro resumo das variáveis utilizadas como proxy do retorno de projetos nos trabalhos anteriores (virtudes e deficiências) Proxy de retorno TMR PBCA TIR VPL VPL / Ia Estudos que as utilizaram Gava (1998), Leong e Lim (1991) e Cord (1964) Mcvean(1999) , Howell et al (1999) , Marchewka e Keil (1995), Orman e Duggan (1999), Ball e Savage (1999), Nepomuceno (1997) e Castro (1999) Não segue o princípio de atualização Mede tempo de recuperação do capital Armadilhas clássicas : TIR múltiplas, diferenças de escala e de horizonte Medida de valor monetário, onde a escala do investimento é variável endógena ao modelo (investimento alocado ao projeto interfere no retorno do ativo e do portfolio). Brashear et al (1999), Brashear et al (2000) e Helfat (1989) VPL / (Ia/Ca) VPL/Ia.Ra/RBO E NOPAT Deficiências - Burness et al (1997) Taxa Hightower e David (1991) crescimento do retorno (GRR) Medida monetária (efeito de escala) - Medida monetária (efeito de escala) Virtudes Facilidade de obtenção de dados Segue o princípio de atualização Segue o princípio de atualização e indica o valor agregado pelo projeto Indica o quanto o projeto reforça a capacidade financeira da empresa e desconsidera a escala do projeto Segue o princípio de atualização . Indica a relação entre o benefício monetário e a reserva adicionada pelo projeto Indica o lucro econômico do projeto Necessidade de processo intensivo de Taxa percentual que indica a média conversão do índice ao lidar com portfolios. geométrica do retorno do projeto Indicador desconhecido das empresas. 29 Independente do indicador utilizado como proxy do retorno dos projetos Orman e Duggan (1999) e Ball e Savage (1999) ressaltam que os projetos de investimentos não têm registrado seus preços em jornais diários como os ativos financeiros. Aliás, não há nem sequer registros históricos de preços de projetos a não ser aqueles indicados nos EVTE realizados por ocasião da tomada de decisão. Além disto, os ativos reais possuem baixa liquidez. Transferências de direitos sobre áreas de concessões para exploração e produção de petróleo e o estabelecimento de parcerias industriais são formas de negociação comercial ocasionalmente utilizadas pelas empresas petrolíferas (Orman e Duggan., 1999). Contudo, sendo o projeto ou a concessão negociados uma primeira vez dificilmente o são numa segunda ou terceira oportunidade. As freqüências dessas transações e de suas repetições são insignificantes. Desta forma, não existe uma base de registros que suporte um tratamento histórico convencional à semelhança do que ocorre com os ativos financeiros. Não é sem motivo que muitos estudos de portfolios em ativos reais optam por utilizar métodos de simulação computacional. Orman e Duggan (1999) e Ball e Savage (1999), McVean (1999) Hightower e David (1991) propõem o uso de técnicas de simulação de Monte Carlo. De um modo geral, o que estes trabalhos procuram é associar às variáveis fundamentos dos projetos (preço , produção, gastos de investimento, custo operacional) distribuições probabilísticas estimadas pelos especialistas das empresas. 2.4 Medindo risco em ativos reais Ross et al (1995), ao mesmo tempo em que destacam a robustez teórica dos indicadores que seguem o princípio da atualização, chamam atenção para o falso sentimento de segurança que os números gerados produzem. Contudo, é evidente para os executivos experientes que tais projeções raramente ocorrem conforme previsto e que em alguns casos avaliações positivas, ex-ante, terminam resultando em prejuízos para a companhia, ex-post. Jorion (1997) recorre às origens epistemológicas do risco mostrando que o termo era empregado a fim de representar o sentimento de perigo que envolvia os navegantes ao 30 passarem com seus navios por rochas pontiagudas. Risco, portanto, representava o perigo de não alcançar um destino. Fensterseifer e Saul (1993) apresentam o risco de um projeto como o desvio em relação a uma expectativa de rentabilidade. O mesmo conceito é utilizado por Cord (1964) ao apresentar uma metodologia de alocação de capital em projetos cujos retornos são incertos. O autor propõe que se as avaliações de projetos de investimento produzissem estimativas de rentabilidade exatas, o ranking dos projetos segundo VPL seria o melhor critério para alocação de recursos considerando-se racionamento de capital. Ao admitir que fluxos de caixa são incertos admite-se igualmente que os resultados dos projetos também o são. A mesma associação conceitual entre risco e incerteza está presente no trabalho de Chen et al (1991). Tavares (1999), entretanto, distingue o conceito de risco do conceito de incerteza. O conceito de risco é descrito por ele como a possibilidade de que um evento venha ocorrer ou não. A incerteza, por sua vez, considera a probabilidade de ocorrência do evento em diferentes níveis ou intensidade. Ainda que esta distinção seja apropriada, Tavares (1999) reconhece que o uso do conceito de risco normalmente é empregado no mesmo sentido da incerteza. A incerteza, por sua vez, pode ser motivada por dois fatores distintos: - dificuldades em lidar com as estimativas acerca das variáveis fundamento (investimentos, custos operacionais, eficiência operaciona, quantidade produzida e/ou comercializada) e - alterações mercadológicas inesperadas sobre as quais a empresa não possa individualmente exercer influência. A primeira incerteza descrita é de ordem técnica e muitas das vezes retrata a imaturidade das informações do projeto. Ela reduz-se na medida em que cresce o conhecimento acerca das variáveis técnicas do projeto (Baídya e Aiube , 1997). A segunda incerteza é de caráter exógeno e permanece inalterada ao longo de todo horizonte de vida do projeto. 31 De uma forma geral, todas as variáveis fundamento estão sujeitas às incertezas. Todavia, ao analisarmos o efeito isolado de cada uma delas sobre o retorno do projeto, veremos que a sensibilidade do VPL modifica-se de uma variável fundamento para outra considerando o mesmo delta percentual de variação. A questão crucial nestas análises é traduzir esta incerteza em uma medida quantitativa do risco do projeto assim como do risco do portfolio de projetos. De acordo com a teoria de portfolios, a dispersão dos valores observados do preço do ativo constitui-se na amostra base utilizada na quantificação do risco. O conceito de risco, segundo March e Shapira (1987) apud Asrilhant (1995), reflete a variabilidade ou difusão da distribuição dos possíveis resultados, de suas probabilidades e va lores subjetivos. Esta difusão é associada ao conceito estatístico da variância. Quanto maior a dispersão dos valores observados em relação a sua expectativa, maior o risco do ativo. Semelhantemente, quanto maior a variabilidade do indicador econômico do projeto (p.e. VPL/Ia) maior risco do projeto. Todavia, alguns dos estudos citados na seção 2.3 consideram o risco como sendo mais apropriadamente associado à possibilidade de perda ou prejuízo. (Ball e Savage,1999 , Orman e Duggan.,1999 e Hightower e David , 1991). Neste sentido Fabozzi (1994) aponta para duas críticas referentes ao uso da variância como medida de risco. Em primeiro lugar a variância é uma informação que considera tanto os desvios acima quanto abaixo do valor esperado. Markowitz (1959) reconheceu este fato ao sugerir que um conceito chamado de semivariância pudesse melhor representar o risco. Na semivariância tão somente os retornos abaixo do esperado são considerados na formulação. Nas aplicações do conceito de risco em portfolios de ativos financeiros a possibilidade de que o ativo possa assumir posições longas ou a descobertos sugere a adequação em se considerar tantos os desvios acima quanto abaixo do valor esperado. Chen et al (1991) mostram, entretanto, que as dificuldades computaciona is crescem sobremaneira ao se utilizar a semivariância como parâmetro associado ao risco do ativo. Isto ocorre porque a semivariância está relacionada ao terceiro e quarto momento da distribuição. Com isto, Chen et al (1991) propõem um método de regressão linear que aproxima a semivariância de uma combinação linear de fluxos de caixa independentes. 32 A segunda crítica mencionada por Fabozzi , 1994 destaca que ao desconsiderar a presença de assimetria nas distribuições de probabilidades despreza-se informação também relacionada ao risco do ativo. (Simkowitz e Beedeles, 1978). Assim sendo, podemos fazer distinção entre as análises de risco de domínio completo, representadas principalmente pela variância (segundo momento), e as análises de domínio parcial, entre as quais destaca-se a semivariância (abrangendo o terceiro e quarto momento da distribuição). 2.4.1 Exogenia e endogenia nas avaliações prospectivas de projetos Haugen (1997) classifica os eventos que resultam na variabilidade do retorno de ativos financeiros em macroeventos e microeventos. São considerados macroeventos aqueles que impactam o mercado de capitais como um todo e microeventos aqueles que impactam isoladamente as empresas. Uma classe intermediária de evento é a dos eventos industriais. Tais eventos são caracterizados por influenciar o comportamento de um setor industrial específico e não dos demais. Os macroeventos são utilizados na modelagem e precificação dos ativos do mercado de capitais pelo CAPM (Capital Asset Pricing Model). Os microeventos e os eventos industriais, ao afetarem uma empresa ou setor industrial em particular, representam os desvios do comportamento do retorno esperado do ativo conforme CAPM. Tais desvios, denominados resíduos, são responsáveis pela variância residual do retorno do ativo. A teoria que suporta o CAPM classifica, portanto, o risco em : risco sistemático, função dos macroeventos e risco não sistemático ou idiossincrático, função dos microeventos e dos eventos industriais. O risco total do ativo é o somatório do risco sistemático e do risco residual. (Haugen, 1997). A parcela do risco total que pode ser anulada pela diversificação é a do risco residual. Haugen (1997) mostra que a variância residual de um portfolio de ativos financeiros pode ser representada de forma análoga à variância do portfolio, por uma matriz de covariâncias. n n ´ σ (εp) = Σ Σ xi . σij (εi) . xi , onde σ2 (εp) - variância residual do portfolio 2 33 i=1 j=1 xi - peso do ativo ´i` no portfolio σij (ε i) - covariância entre o resíduo do ativo ´i` e ´j` Considerada a independência dos resíduos, a covariância entre os resíduos torna-se nula, o que reduz a expressão à : n σ (εp) = Σ x2 i . σ2 (εi) . 2 i=1 Haugen (1997) evidencia o efeito da diversificação resultante do aumento do número de ativos do portfolio ao mostrar que este crescimento reduz o valor de ´xi `. Logo, à medida que se acrescentam novos ativos no portfolio reduz-se a variância residual do portfolio. Implícita a esta conclusão está a restrição de venda a descoberto. O CAPM, adota a premissa simplificadora de que os resíduos dos ativos são não correlacionados. Na seção anterior mencionou-se algumas das variáveis que são responsáveis pelas incertezas quanto ao valor de um projeto de investimento. Não é escopo deste trabalho propor um modelo de precificação de ativos reais. Em primeiro lugar porque não existe um mercado formalizado para estes ativos. Em segundo lugar porque a teoria de finanças corporativas já o faz por meio de métodos de fluxos de caixa descontados a valor presente ou pela metodologia de opções reais. Entretanto, os conceitos de risco sistemático e idiossincrático chamam atenção para classificações que são extrapoláveis para a análise do comportamento das variáveis fundamento e seus impactos sobre o valor do projeto. Primeiramente é importante perceber-se que uma ou mais variáveis fundamento podem impactar todos os projetos, enquanto outras, apenas uma classe destes projetos e finalmente outras produzem impactos isolados em um determinado projeto. O preço do petróleo é um exemplo de variável fundamento que impacta igualmente toda a valoração dos projetos de produção de petróleo. Neste sentido Dias (1995) apud Castro (1999) sugerem que somente os riscos financeiros sejam considerados na análise de projetos, sendo os risco técnicos diversificáveis. 34 2.4.2 Técnicas de análise de risco As principais técnicas de análises de risco existentes são : - Árvore de decisão ; - Análise de sensibilidade ; - Análise de cenários ; - Teste de stress ; - Simulação e - Amostragem histórica. Árvore de decisão : Ross et al (1995) apresentam o método clássico de árvore de decisão cuja abordagem consiste em desdobrar o projeto em ramos derivados de nós de decisões e nós de informações. Aos nós de informação são associadas probabilidades de ocorrência. Assim, o conceito de risco é associado ao exercício de atribuir probabilidade de ocorrência a eventos. Nepomuceno (1997), a partir do método do valor monetário esperado (VME), evolui para o conceito de equivalente certo onde o valor de uma alternativa com risco é comparado ao valor de uma alternativa sem risco. Utilizando uma função de utilidade do tipo exponencial : -cx U(x) = 1 - e c , onde ´c` é o coeficiente de aversão ao risco e ´x` é o valor monetário da variável U(x) é o valor da utilidade de ‘x` Nepomuceno (1997) apresenta a expressão que determina o equivalente certo para um diagrama simples com dois resultados possíveis : EqC (x) = - 1 . ln ( p1 . e- c..x.VPL1A + p2 . e- c..x.VPL2A ), onde EqC (x) - equivalente certo do projeto pi - probabilidade de ocorrência do evento ´i` ; x - percentual de participação financeira no projeto e VPLiA - VPL do projeto A na ocorrência do evento ´i`. 35 Nestas análises o risco é avaliado considerando nos possíveis resultados e suas respectivas probabilidades de ocorrência. - Análise de sensibilidade : Esta técnica é descrita por Ross et al (1995) como uma análise MOP - Mais provável, Otimista e Pessimista. Nela o especialista analisa o impacto isolado de cada variável fundamento sobre o retorno do projeto utilizando as três condições da análise MOP. A análise MOP é uma análise discreta. Entretanto, nada impede que a análise de sensibilidade seja feita de forma contínua. Independentemente do tipo de análise realizada (discreta ou contínua) o que distingue a análise de sensibilidade é forma de tratamento das variáveis : uma a uma, ou seja, variável a variável. - Análise de cenários : Ross et al (1995) a apresenta como uma variante da análise de sensibilidade. O enfoque se desloca da análise isolada de cada variável fundamento para o exame de cenários. Em um mesmo cenário mais de uma variável fundamento pode ter seu valor alterado. Segundo Ross et al (1995) a análise de cenários é melhor esclarecedora das questões que afetam o resultado do projeto. As análises de cenários macroeconômicas são as mais utilizadas. Elas avaliam o impacto de uma economia em expansão, estável e em recessão sobre os fluxos de caixa do projeto. - Teste de stress - Jorion(1997) apresenta o teste de stress no contexto de sua aplicação a ativos do mercado financeiro visando a determinação do valor a risco (VaR) de um portfolio. A metodologia focaliza as análises de cenários catastróficos. Em tais circunstâncias a robustez do valor do projeto é avaliada e o risco de perda determinado. O teste de stress está assim associado às medidas de risco referentes ao lado da perda. Sua grande contribuição é imaginar e valorar situações anormais sem que as mesmas possuam antecedentes históricos. 36 - Simulação - O método requer a associação de uma distribuição ao comportamento das variáveis fundamento. A determinação da distribuição a ser associada , bem como dos parâmetros da distribuição são normalmente obtidos de séries históricas ou por meio de estimativas fornecidas por especialistas. Concluída a modelagem, o método consiste em simular simultaneamente as diversas trajetórias de comportamento das variáveis fundamento. Os fluxos de caixa assim gerados resultam em uma amostra de retornos dos projetos por meio da qual é possível obter a expectativa de retorno (média) e o risco (variância). O método de Monte Carlo estruturado é o mais utilizado em simulações. Jorion (1997) destaca duas vantagens do método : capacidade de trabalhar com um número grande de variáveis e de considerar a correlação entre elas. - Amostragem Histórica : Finalmente temos o método histórico, cuja base de informação são os dados históricos de comportamento do ativo. Os ativos financeiros são de alta liquidez se comparados aos ativos reais e possuem uma base histórica com registro do preço das transações. A mesma base histórica não é formalmente encontrada no caso dos ativos reais (projetos). Do conjunto de técnicas disponíveis, segundo Fensterseifer e Saul (1993) a análise de sensibilidade é a técnica mais utilizada pelas empresas brasileiras na mensuração do risco de um projeto : 81,2% das empresas respondentes. Outros métodos também empregados são : - Elaboração da distribuição probabilística dos rendimentos ........ 10,6% - Cálculo da probabilidade de prejuízo .......................................... 10,6% - Avaliação da covariância do projeto com outros projetos de investimentos da empresa ............................................................. 9,4% Dos percentuais indicados, percebe-se que poucas são as empresas (9,4% ) que se preocupam em avaliar o risco do seu portfolio de projetos de investimento, avaliando a 37 sinergia e a covariância entre os possíveis resultados dos projetos. Fensterseifer e Saul (1993) sugerem que a complexidade dos três métodos citados seja a responsável pelo seu baixo percentual de uso. 2.4.3 Técnicas utilizadas nos trabalhos anteriores Asrilhant (1995) utiliza análise de cenários a fim de constituir uma amostra de TIR de projetos. A cada cenário são geradas estimativas de fluxo de caixa para cada projeto. As variabilidades dos gastos e da quantidade produzida são definidas de acordo com a classificação do projeto (nova descoberta, em Estudo de viabilidade técnica e econômica - EVTE - preliminar, em EVTE de desenvolvimento, em implantação e em operação). Neste mesmo sentido Gava (1998) utiliza os resultados da análise de três cenários macroeconômicos na mensuração do risco de um portfolio de 5 projetos de investimento. A cada cenário equiprovável corresponde um fluxo de caixa para cada projeto. A TIR, obtida para os projetos em cada um dos cenários, é utilizada a fim de computar a variância individual dos projetos, bem como a covariância entre os projetos. Por semelhante modo Brashear et al (1999) utilizam análises de cenários mercadológicos (agressivo, status quo, restrito) para gerar as expectativas e a variabilidade do VPL/Ia de projetos. Marchewka e Keil (1995) utilizam análise de sensibilidade discreta visando determinar a expectativa e o risco do VPL de projetos de tecnologia da informação. O projeto é avaliado quanto ao risco de expansão ou retração em 4 dimensões : tamanho, estrutura, tecnologia e impacto estratégico. A percepção quanto à possibilidade de expansão ou retração é estimada em termos de percentual de redução ou aumento do VPL inicialmente estimado para o projeto. A obtenção da covariância entre os projetos utiliza a mesma metodologia da teoria de portfolios. Howell et al (1998) utilizam simulação de Monte Carlo na geração da amostra dos possíveis resultados de VPL. O risco do portfolio é definido como a semivariância dos resultados observados considerando-se somente os valores inferiores a uma determinada meta. Os autores trabalham dentro de um quadro multidimensional de metas (produção de petróleo, reserva, lucro) e utilizam programação quadrática a fim de selecionar um 38 conjunto de projetos da fronteira eficiente. A mesma técnica é utilizada também nos trabalhos de Mcvean(1999), Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999) e Orman e Duggan (1999). O estudo de Mcvean(1999) propõe um modelo baseado em simulação de Monte Carlo que considera a distribuição das variáveis fundamento de projetos de exploração de petróleo, ou seja, do preço do petróleo, do custo operacional, dos investimentos, e da produção. Orman e Duggan (1999) abordam duas questões importantes com relação ao risco. Em primeiro lugar eles sugerem que a distribuição do VPL dos projetos não é normal, possuindo forte assimetria, o que a aproxima de uma log-normal : baixa probabilidade de obter altos retornos e alta probabilidade de obter baixos retornos. Em segundo lugar consideram que o uso da variância penaliza igualmente os retornos positivos e negativos dos projetos. Utilizam, portanto, a semivariância como parâmetro de risco : n Sb = [ (1/ N). Σ (xi - b)2 ]1/2 , xi<b onde Sb - semivariância N - número de VPL gerados na simulação xi - variável que representa o valor do projeto na saida ´i` b - valor a abaixo do qual se considera o risco de perda. A semelhança de Orman e Duggan (1999), Hightower e David (1991) utilizam a semivariância como medida de risco do projeto. A justificativa é a mesma : rentabilidades acima da expectativa não são indesejáveis, portanto, não representam risco. Ball e Savage (1999) desenvolvem um modelo no qual a incerteza do VPL do projeto é gerada por meio de simulação de Monte Carlo, sendo permitida flexibilidade na definição do parâmetro de risco (semivariância, desvio médio absoluto, etc...). Entretanto, os autores assumem a mesma premissa : apenas o lado da perda (resultados negativos) dos projetos representa o risco. 39 Leong e Lim (1991) utilizam o espaço média-variância na determinação do risco do portfolio de três produtos de uma empresa. Como propõem um modelo de análise multiperíodos, modelam o comportamento estocástico do risco considerando : ⊥σ/⊥t < 0, onde σ é o desvio padrão e t o período. O ciclo de vida do produto é a variável que influencia a variabilidade do retorno. Finalmente, incorpora-se o efeito do nível de investimento alocado aos produtos na variabilidade dos retornos dos produtos : ⊥σ/⊥Ι < 0, onde σ é o desvio padrão e I o nível de investimento. Helfat (1989) também trabalha no espaço média- variância, propondo um modelo estocástico de estimativa do VPL/Ia de projetos de investimento em exploração e produção de petróleo, conforme segue : V = - Σ e(1- Γt) dt + Σ Qt [P1 (1 + p)t-1 - ct ] (1-Γt) dt , t=y onde V - VPL, y - ano do início da produção, e - custo de exploração perfuração e construção antes da produção, Γ − taxa de imposto, dt - fator de desconto (1/(1+r)), Q - produção anual, P1 - Preço do óleo no primeiro ano do projeto, p - taxa anual de crescimento do preço, c - custo anual de perfuração e outras operações (em termos reais). r – taxa de desconto do projeto No período anterior ao início da produção o fator de desconto e o imposto são considerados não estocásticos. Os preços futuros do petróleo são estimados para o primeiro ano. Para os demais anos, o autor utiliza uma taxa de crescimento do preço constante. Custos operacionais são considerados com taxa anual de crescimento real nula. A média, variância e covariância entre as variáveis fundamento são estimadas com a finalidade de determinar a estimativa de média e variância do VPL/Ia. Os modelos 40 estocásticos prospectivos dos custos de perfuração, abandono, entre outros, baseiam-se no trabalho de Mead (1980a) apud Helfat (1989). Os preços dos contratos de concessão (lease) e o nível de produção são obtidos da base de dados histórica do Golfo do México. As estimativas de média-variância da produção são extraídas de bases de dados anuais dos contratos de lease. A produção média de um contrato de lease é menos incerta, quanto maior o número de contratos ganhos pela empresa. Assim, a variância amostral do contrato é dividida pelo número de contratos ganhos pela empresa durante os períodos estudados. Nepomuceno (1997), por sua vez, busca maximizar o valor esperado da utilidade (VEU) de um conjunto de projetos considerando-se a maximização do VPL e a minimização dos riscos políticos. Portanto, o nível de participação ótimo em cada projeto é obtido por meio de uma análise de sensibilidade contínua sendo o ponto ótimo determinado pelo VEU máximo. Castro (1999) avalia 6 alternativas de sistemas visando a explotação de um novo campo de petróleo determinando o VPL de cada alternativa. Utiliza análise de sensibilidade contínua das variáveis que mais impactam o resultado do projeto, para, em uma segunda fase, empregar simulação de Monte Carlo na geração da curva de distribuição acumulada do VPL. O quadro a seguir sumaria as técnicas empregadas nas análises de risco, suas características e os trabalhos que as utilizam. 41 Quadro 3 – Quadro resumo das principais técnicas de análise de risco, características e trabalhos que as utilizaram Técnicas de análise de risco Árvore de decisão Análise de sensibilidade Análise de cenários Teste de stress Simulação Série Histórica Característica Trabalhos que a utilizaram Desdobramento do projetos em eventos Nepomucemo (1997) probabilísticos Análise dos fatores de risco do resultado Marchewka e Keil (1995), Nepomucemo (1997), Castro isolado do projeto (1999) Análise do impacto conjunto dos fatores de risco sobre os resultados : ênfase nos cenários Análise de comportamentos extremos dos fatores de risco Associação de uma fdp ao comportamento de cada fator de risco e simulação do comportamento combinado dos fatores nos ´n` retornos do projeto Gava (1998), Asrilhant (1995), Brashear et al (1999) Howell et al (1998), Mcvean(1999), Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999) e Orman e Duggan (1999) e Leong e Lim (1991) Adota uma janela histórica na qual são Helfat (1989) modelados estocasticamente os retornos do projeto 42 2.5 A teoria de portfolio e os ativos reai s As seções seguintes avaliam a aplicação das premissas assumidas da teoria de portfolio aos ativos reais e descreve de que forma os trabalhos anteriores explicitaram a covariância entre os retornos dos ativos reais. 2.5.1 Premissas adotadas A fronteira efic iente de um portfolio de ativos financeiros é definida combinando os ativos de forma a atingir a máxima eficiência da relação risco-retorno, assumindo-se as seguintes premissas : - Permissão de venda a descoberto de ativos ; - Expectativa homogênea de risco e retorno dos ativos e da matriz de covariância ; - Horizonte temporal singular ; - Mercado sem fricção ; e - Retorno invariante com escala Venda a descoberto : A operação descrita em detalhes por Haugen (1997) não é considerada realizável no mercado financeiro de forma irrestrita. (Markowitz , 1990). Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999) não consideram viável a venda a descoberto de ativos reais. Haugen (1997) mostra que, na impossibilidade de realizar venda a descoberto, pode ocorrer uma retração da fronteira eficiente em portfolios onde proporções não positivas de alocação de capital sejam necessárias a fim de obter eficiência de média- variância (linha crítica atravessando o poliedro no espaço de alocações). Expectativas homogêneas - A segunda premissa admite que a fronteira eficiente é construída a partir de expectativas homogêneas com respeito ao risco e retorno dos ativos. (Haugen, 1997) . Desconsiderar esta premissa implica em admitir a existência de tantas fronteiras eficientes quantas forem as diferentes expectativas. Jorion (1997) 43 sugere a presença de instabilidade nestas expectativas, ao abordar questões referentes à escolha da janela histórica. Séries históricas a descobertos estão sujeitas a um maior erro amostral. Séries longas, por sua vez, perdem o conteúdo adicional das informações mais recentes. A premissa de homogeneidade de expectativas é considerada essencial na teoria de portfolios dado que os parâmetros de média-variância são adotados como representativos do retorno esperado e do risco do ativo. Assim sendo, toda a informação necessária acerca do comportamento do retorno dos ativos está sintetizada na sua média e variância e estas são por sua vez são estáveis. Neste sentido Nepomuceno (1997) assume em seu estudo que os VPL esperados dos projetos e as funções de densidade de probabilidade não são alteradas pelo nível de participação da empresa no projeto. Entretanto, ao utilizar a teoria da utilidade multi-atributos o autor traduz a distribuição do VPL do projeto em seu equivalente certo que, por sua vez, não é linearmente proporcional ao nível de participação da empresa no projeto. Isto significa que a expectativa acerca do resultado do projeto e o risco percebido não se alteram, porém a percepção do risco e o nível de aversão a risco do tomador de decisão modificam o valor do equivalente certo do projeto em função do nível de participação da empresa no projeto. Assim sendo, quanto maior o risco do projeto e/ou a aversão a risco do tomador de decisão menor é o equivalente certo do projeto e menor será a parcela de participação no projeto que a empresa desejará possuir. A premissa de expectativas homogêneas é extensiva a matriz de covariância dos retornos dos ativos. Homogeneidade presumida, todos os investidores defrontam-se com a mesma fronteira eficiente. (Ross et al, 1995). Horizonte singular - Markowitz (1952) adota a premissa de singularidade do horizonte de análise na geração das expectativas dos investidores. Quando lidamos com ativos reais a singularidade do horizonte de análise é representada por todo o ciclo de vida de um projeto de investimentos, ao final do qual o retorno do projeto realiza-se. Os estudos que adotam estruturas de análise multi-periódos, usam a cronologia de ano fiscal e ano 44 orçamentário, com o fim de suportar as decisões de distribuição do capital de forma plurianual. A estrutura de análise multi-períodos está presente no trabalho de Leong e Lim (1991), que realizam análises envolvendo a decisão de alocação de capital em três produtos admitindo que o ciclo de vida destes produtos exerce influência direta sobre os resultados esperados ao longo dos períodos em análise. Na fase inicial e média do ciclo de vida, o produto tem retornos maiores do que na fase final onde se espera um declínio natural dos resultados. O modelo multi-períodos proposto por Leong e Lim (1991) incorpora portanto os efeitos da temporalidade nas expectativas de retorno dos projetos: ⊥r / ⊥t > 0 ; ⊥ 2 r / ⊥t2 < 0. Cord (1964) considera o horizonte singular, no sentido de ano orçamentário, porém admite que em períodos subseqüentes as decisões de alocação de capital passadas impliquem em redução do orçamento disponível, dado que existem empenhos assumidos. Ao admitir tal situação, o autor sugere uma estrutura de análise na qual os resultados dos projetos são avaliados no tempo calendário. No horizonte de tempo singular, representado por todo o ciclo de vida do projeto, a decisão de distribuir o capital de investimentos é realizada uma única vez envolvendo os projetos correntes. Conquanto o rebalanceamento do portfolio seja uma prática usual e muitas das vezes recomendável, o presente estudo não avalia tal situação. Mercado sem fricção - Sugere-se que o mercado de projetos de investimentos seja sem fricção (sem spread ask-bid ou quaisquer outros custos significativos de transação). Naturalmente, esta premissa não leva em consideração os custos de administração de parcerias. Orman e Duggan (1999) sugerem que estes custos começam a se tornar significativos na medida em que uma parcela expressiva dos projetos da empresa seja envolvida em negociações de parceiras. Retorno constante com escala - Uma das premissas fundamentais que suportam este trabalho é o denominado Constant Returns to Scale (CRS). Helfat (1989) adota esta 45 premissa em seu estudo sobre portfolios de projetos de exploração de petróleo no mar. A premissa de CRS também está presente nos trabalhos de Marchewka e Keil (1995) e Howell et al (1998). Adotar a CRS implica em não modificar a expectativa de risco e retorno esperado do projeto seja qual for o nível de investimentos alocado ao mesmo. Considerando-se as associações de empresas. a transposição desta premissa para o mundo real não parece impróprio visto que as parcerias prevêem distribuições equânimes dos investimentos e dos resultados do projeto. Outra forma de tratamento dado a esta questão é encontrada no estudo de Cord (1964), que adota restrições quanto ao fracionamento de projetos em seu modelo de alocação de capital em projetos de investimento (´xi` = 0 ou 1). Gava (1998) também considera que o projeto tenha presença integramente incluída ou excluída do portfolio. Contudo, é no estudo de Leong e Lim (1991) que se adota um tratamento mais elaborado da questão. Nele, os níveis de investimentos alocados aos produtos modificam os seus resultados. Assim, os autores sugerem que o nível de investimento alocado ao projeto (produto) modifica a expectativa de retorno e o seu risco. A economia de escala é outro fator utilizado com a finalidade de modelar o comportamento do retorno e risco do portfolio em função do nível de investimentos. Cortes de investimentos produziriam redução da escala e conseqüentemente da expectativa de retorno do produto. Assim : ⊥r / ⊥ I > 0 e ⊥σ / ⊥ I < 0. Leong e Lim (1991) consideram ainda o efeito multi-períodos das decisões de investimento na modelagem do comportamento da covariância dos retornos dos projetos. O modelo incorpora os efeitos do ciclo de vida (tempo) e do nível de investimentos (escala) na determinação da matriz de covariância : σij (t,I,∆I) , onde ∆I representa a variação do investimento líquido alocado ao produto. A esta altura vale distinguir entre o nível de participação da empresa no projeto e o nível de participação do projeto no investimento global da empresa. O nível de participação do projeto no investimento global da empresa representa o percentual do investimento 46 global alocado a um determinado projeto de investimento. Por outro lado, o nível de participação da empresa no projeto representa o percentual do investimento demandado pelo projeto com o qual a empresa deseja empenhar-se. Este nível está diretamente relacionado à formação de parcerias. O nível de participação do projeto no investimento global, resultado da aplicação da teoria de portfolio eficientes, pode implicar em um nível de participação da empresa no projeto igual, superior ou inferior a 100% dos investimentos requeridos no projeto. A primeira situação (nível de participação igual a 100%) é um caso especial que corresponde à equivalência entre o investimento alocado ao projeto e a demanda de investimento do projeto. Quando o nível de investimento alocado ao projeto no portfolio eficiente é inferior ao requerido pelo projeto há necessidade de se estabelecer uma parceira. Finalmente, quando o nível de participação da empresa no projeto implica em um investimento superior ao requerido pelo projeto o desperdício resultante implica em redução da expectativa de retorno do projeto. Ball e Savage (1999) prevêem a necessidade de reconstrução da fronteira eficiente todas as vezes que o nível de participação do projeto no investimento global não for compatível com o investimento requerido pelo projeto. Hightower e David (1991) propõem que o portfolio eficiente obtido na primeira iteração representa tão somente um direcionador de esforços no sentido de obter as melhores condições de risco-retorno. Orman e Duggan (1999) ressaltam ainda que pequenos níveis de participações em projetos implicam em elevação do custo de administração das parcerias sugerindo que estes custos sejam considerados na construção de portfolios eficientes. Para Helfat (1989) o efeito escala é considerado inexistente em projetos de investimentos na indústria do petróleo. Esta é uma abordagem coerente com o comportamento de projetos cujos produtos são commodities e onde os preços não são determinados isoladamente por nenhuma empresa e o ciclo de vida do produto não é variável relevante no modelo de valoração do ativo. A seguir sumariamos as premissas adotadas nos estudos que aplicam a teoria de portfolio aos ativos reais : 47 Quadro 4 – Quadro resumo das premissas da teoria de portfolios quando aplicada aos ativos reais Premissas Venda a descoberto de ativos Ativos financeiros É considerada. Markowitz (1990) questiona sua aplicabilidade prática Expectativas homogêneas de média-variância Horizonte singular É adotada na teoria de portfolio de Markowitz e nos modelos de precificação de ativos financeiros Considerada nos estudos de séries históricas e na teoria de portfolios. Os modelos derivados do ICAPM de Merton admitem horizontes contínuos e extensos de análise Mercado sem fricção É considerada na teoria de portfolio e nos modelos clássicos de precificação de ativos CRS (retorno constante com a escala) Adotada na teoria de portfólios e nos modelos clássicos de precificação de ativos Ativos reais Não considerada viável nos estudos de Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999) É adotada nos estudos de Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999), Leong e Lim (1991) É adotada nos estudos de Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999). Leong e Lim (1991) adotam horizontes de análise multi temporais e Cord (1964) sugere uma forma de tratar a questão considerando o racionamento de capital Os estudos de Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999), Leong e Lim (1991) e Cord (1964) sugerem a inexistência de custos de transação. Orman e Duggan (1999) admitem um crescimento dos custos de administração em um número significativo de participações reduzidas em projetos com parceria Presente nos estudos de Marchewka J. T. , Keil M. (1995) , Howell et al (1998), Helfat (1989). Cord (1964) e Gava (1998) adotam a indivisibilidade do projetos em seus estudos. Leong e Lim (1991) modelam a função estocástica do nível investimento. 79 Destaca-se ainda que uma situação particular diferencia os ativos reais dos ativos financeiros. A priori a possibilidade de alocar investimento em ativos financeiros é ampla, podendo a sua escala assumir diferentes ordens de grandezas sem que o retorno percentual esperado varie. Obviamente, mesmo no caso de ativos financeiros do mercado de capital há um limite no capital social da empresa que determina o nível máximo de investimento que se pode alocar naquele ativo. Entretanto, este limite é superior à pretensão da maioria dos investidores, a menos nos casos em que o investidor deseja deliberadamente assumir o controle decisório da empresa. Por outro lado, os projetos de investimento de empresas possuem uma demanda fixa de investimento que determina o nível máximo de investimento que se pode alocar ao projeto sem que ocorram desperdícios. As modularizações de projetos e a possibilidade de parceiras permitem investir frações inferiores à demanda de investimentos total do projeto. Entretanto, os projetos assim modularizados possuem um retorno que não é necessariamente igual ou proporcional de uma fase para outra. A parceria pressupõe proporcionalidade. Este estudo considera projetos não modularizados, porém admitindo a possibilidade de que se estabeleçam parcerias , o que implica em adotar a CRS como premissa básica do modelo de eficiência. A CRS, quando se considera como variável proxy do retorno o VPL ou outro índice econômico monetário, implica em variar proporcionalmente o VPL do projeto de acordo com o nível de investimento. Utilizando-se o VPL/Ia ou a TIR isto representa obter um índice constante independente do nível de investimento alocado. 2.5.2 A covariância entre os retornos de ativos reais Na seção 2.2 mencionamos a necessidade de obter a correlação entre os retornos de ativos financeiros, sem o que não é possível determinar adequadamente o risco do portfolio. Nessa mesma seção destacamos que os parâmetros de covariância entre retornos dos ativos possuem a dominância na expressão que determina o risco de um portfolio : 80 n n n σrp = Σ xi2 . σi2 + Σ Σ xi. xj . σij i=1 i=1 j=1 iΗj Nesta seção focalizamos as abordagens que podem ser adotadas a fim de capturar correlações não unitárias entre os retornos de projetos, com destaque para as causas e os efeitos da diversificação entre os retornos dos projetos. Fensterseifer e Saul (1993) mostram que apenas 9,4% das grandes empresas brasileiras respondentes consideram a covariância entre os projetos de investimentos da empresa na avaliação do risco de um portfolio. Dado que 90,6% não avaliam a covariância entre projetos, à luz da teoria de portfolio, 90,6% não determinam o risco global do portfolio da empresa. Carter e Van Auken (1990) sugerem que a deficiência de conhecimento e domínio das técnicas de aná lises de portfolio seja a causa básica que explique percentuais tão reduzidos de uso. 2.5.3 Em Markowitz Consistência e casualidade na diversificação dos projetos (1952) duas hipóteses, assumidas como representativas acerca do comportamento do investidor em ativos financeiros, são refutadas. A primeira hipótese atribuía como regra de comportamento do investidor, única e exclusivamente, a maximização do retorno. Markowitz argumenta que, se apenas este critério descrevesse o comportamento típico do investidor, todos os seus fundos seriam alocados ao ativo de maior retorno esperado e assim sua carteira seria composta de um único ativo. “Como em um caso dinâmico, se o investidor deseja maximizar o retorno antecipado do portfolio, ele colocaria todos os seus recursos naquele título com o retorno antecipado máximo” 2 Markowitz (1952) Obviamente esta atitude não representava o comportamento típico do investidor. A preferência pela diversificação (distribuição do investimento em diferentes ativos) dava a entender que o risco era um dado relevante e que este se traduzia na incerteza sobre a expectativa de retorno do ativo formada por este investidor. Ao mensurar o risco de um 2 Tradução livre do autor 81 ativo, por meio da variância dos retornos históricos, Markowitz inicia uma abordagem onde o risco é avaliado quantitativamente ativo por ativo. A segunda hipótese refutada por Markowitz sugeria que o investidor deveria alocar todos os seus recursos em títulos que maximizassem o retorno esperado. Esta regra, conhecida como “lei dos grandes números”, afirmava que o retorno de tal portfolio seria muito próximo ao retorno esperado do portfolio com risco mínimo. Markowitz (1952) argumenta contrariamente a esta hipótese escrevendo : “Esta premissa, que a lei dos grandes números aplica-se a um portfolio de títulos, não pode ser aceita. Os retornos dos títulos são bastante correlacionados. Diversificação não pode eliminar toda a variância. Portfolio com máximo retorno esperado não é necessariamente o de variância mínima”. 3 Markowitz (1952). Ao contrapor-se às duas hipóteses citadas Markowitz (1952) chama atenção para um efeito da maior relevância nas análises de portfolios : a diversificação pela razão certa. Assim a questão vai além do número de ativos no portfolio e do retorno esperado de cada um deles. O passo seguinte trata da forma de como os retornos dos ativos interagem. A lei dos grandes números ficou conhecida na moderna teoria de finanças como estratégia de diversificação ingênua, casual ou simplista. Tão simples quanto “não colocar todos os ovos na mesma cesta”. Fabozzi (1994) a ilustra como sendo tão somente a formação de um portfolio composto de ações de diferentes setores industriais, ou em diferentes classes de ativos, na “esperança” de que a variância do retorno esperado do portfolio reduza-se. Fisher e Jordan (1995) também ilustram a diversificação casual da seguinte forma : um portfolio composto por 50 títulos é 5 vezes mais diversificado do que um portfolio composto por 10 títulos. As hipóteses de maximização do retorno e da “lei dos grandes números” (diversificação ingênua) são deficientes na medida em que são avaliações parciais. Por certo todo o investidor busca maximizar o retorno do seu portfolio, mas é igualmente evidente que 82 ao fazê- lo não deixa de considerar o risco de cada ativo. Também é certo que o número de títulos no portfolio contribui para redução do risco do portfolio, mas esta é apenas uma parcela do efeito da diversificação e, conforme evidencia a teoria, por vezes, o menos relevante. Brashear et al (2000) mostra que a lógica dominante acerca da diversificação de projetos de exploração na indústria do petróleo é orientada no sentido de reduzir a probabilidade de perda distribuindo os recursos financeiros em um número ´n` de projetos (onde ´n` >> 1). Ross et al (1995) demonstra que o efeito da matriz de covariância sobre o risco de um portfolio é expressivamente superior ao efeito do aumento do número de ativos no portfolio. Assumida como relevante o efeito da matriz de covariância na determinação do risco do portfo lio, adotar hipóteses tão simplificadoras como considerar independência (correlação nula) ou correlação perfeitamente positiva entre os retornos de projetos torna ineficiente ou sem sentido os benefícios que se pode extrair da diversificação. Estas formas de tratar o efeito da diversificação em portfolios são soluções particulares e simplistas. (Gava, 1998); Orman e Duggan (1999), ao caracterizar que os resultados dos projetos de exploração e produção de óleo e gás são altamente incertos, ressalta que as técnicas que alocam o capital conforme o rank de retorno esperado dos projetos deixam os gerentes cegos sobre o risco do projeto. Os autores destacam que entre as décadas de 1950 a 1970 afirmava-se que, conquanto, a diversificação era considerada uma poderosa ferramenta para os investimentos do mercado financeiro, esta não se aplicava às decisões das empresas. A primeira razão apontava para a possibilidade de diversificação que os investidores podiam realizar por si só e a custos mais enxutos. A proposição I de Modgliani e Muller é semelhantemente usada para justificar o comportamento dos gerentes no sentido de maximizar o valor da empresa deixando com o investidor a questão do risco e da diversificação. Bastava ao gerente da empresa decidir por incorporar à sua carteira de projetos todas as oportunidades com VPL positivo. Neste 3 Tradução livre do autor 83 sentido Helfat (1989) observa que o mercado de capital assume que o investidor usa as demais ações para diversificar o risco de reter a ação de uma dada empresa, considerando por detrás desta ação os projetos de investimentos que geram as expectativas dos fluxos de caixas futuros da mesma. Portanto, a empresa carregaria em si mesma apenas o risco sistemático. Entretanto, o autor afirma que esta premissa desconsidera a aversão a risco dos gerentes e o custo de falência da empresa (vender ou refinanciar ativos). Nos dois casos o que importa é o risco total (sistemático + residual ou não sistemático). Assim sendo, a abordagem que considera o risco não sistemático ganha relevância quando se observa que uma consistente diversificação do portfolio de projetos possa reduzir o risco do portfolio de projetos e talvez das ações da empresa, na medida em que os resultados estarão sujeitos à uma menor volatilidade. Orman e Duggan (1999) ressaltam que a indústria do petróleo percebeu o valor prático da diversificação de portfolio antes dos teóricos quando adotou estratégias de fracionamento na participação dos projetos. Os autores destacam que são poucos os projetos nos quais as empresas norte-americanas retêm 100% da participação. Contudo, as decisões relativas ao nível de participação eram feitas de maneira ad hoc ou casual. As atitudes daqueles que diversificam casualmente podem ser sumariadas do seguinte modo e nos seguintes estágios : - Não levam em consideração a presença das incertezas (risco) dos projetos, focalizando apenas as medidas de retorno econômico ; - Quando utilizam alguma abordagem que quantifica o risco, fazem- no de forma isolada, projeto à projeto ; - Ao pensar sob a ótica de um portfolio, consideram o risco do projeto irrelevante, pois este já estaria diversificado no conjunto dos demais projetos do portfolio. Ou seja, o único risco relevante na carteira de projetos seria o risco sistemático da empresa, sendo a diversificação atribuíd a ao investidor; - O grande número de ativos é igualmente diversificador porque, por meio dele, um portfolio estaria na sua melhor condição de retorno. 84 - Não leva em consideração a covariância entre os retornos dos projetos ao simplificar sua quantificação, reduzindo-a as soluções particulares (correlação nula ou unitária). Estabelecido o espaço média-variância e a estruturação matricial da covariância, é possível evidenciar os benefícios da diversificação de Markowitz. n n σ2 (rp) = Σ Σ xi. xj. σij i=1 j=1 Brashear et al (2000) ressalta que correlações lineares negativas reduzem o risco do portfolio a ponto de produzir um efeito de hedge natural. Portanto, mais do que adicionar projetos, extrair o benefício máximo da diversificação implica em selecionar projetos independentes (correlação nula) ou negativamente correlacionados. Markowitz (1952), Haugen (1997), Ross et al (1995) mostram que todo o benefício de redução do risco obtido por meio de uma diversificação adequada de ativos não ocorre às expensas da expectativa de retorno do portfolio : E(Rp) = Σ xi. Ri. Portanto, a essência da diversificação de Markowitz é buscar constituir um portfolio com ativos, sejam eles financeiros ou reais, que possuem uma baixa correlação de seus retornos admitindo-se restrição de venda a descoberto. Ball e Savage (1999) apresentam um exemplo do efeito da diversificação que surpreende a intuição comum : - duas oportunidades de investimentos (A e B) são sugeridas a um gerente. Ambas possuem iguais expectativas de VPL. Entretanto, o projeto B é considerado mais arriscado do que o projeto A, pois a probabilidade do projeto B apresentar um VPL negativo é maior do que a probabilidade do projeto A. Sendo os resultados dos dois projetos considerados independentes, a probabilidade de obter insucesso nos dois projetos simultaneamente é dada pela expressão : prob (VPLA < 0) x prob (VPLB < 0), o que demonstra que distribuir os recursos nos dois projetos supera a estratégia de concentração dos recursos no projeto menos arriscado, visto que prob (VPLA < 0) x prob (VPLB < 0) sempre é menor do que as probabilidades isoladas (prob (VPLA < 0) ou prob (VPLB < 0)). Os autores chamam atenção que a EVPL (VPL 85 esperado) permanece constante em todas as situações. Ball e Savage (1999) , Orman e Duggan (1999) e McVean (1999) propõem um modelo de análise de portfolios de projetos onde o efeito da covariância entre os projetos é capturado simulando possíveis trajetórias de comportamento das variáveis fundamento. Independentemente do método proposto a fim de compor o efeito da correlação entre ativos reais, o que fica evidente na teoria de portfolio é o potencial da diversificação em mitigar o risco do portfolio, o que torna a seleção de projetos uma atividade mais sofisticada (olhar não apenas o retorno, mas também o risco) e mais criteriosa (selecionar projetos menos correlacionados). Neste mesmo sentido Brashear et al (1999) argumentam que gerenciar efetivamente o risco requer a seleção adequada de projetos cujos resultados sejam independentes ou cujos eventos incertos possuam movimentos de compensação que reduzam o risco do portfolio de projetos. A diversificação é efetiva na medida em que o mesmo cenário produz efeitos opostos sobre os fluxos de caixa dos diferentes projetos. A nível comportamental, Ball e Savage (1999) destacam também que o principal ganho no processo é a mudança de cultura intuitiva gerencial, no qual o inter-relacionamento entre os resultados dos projetos seja efetivamente considerado. 2.5.4 Segmentando os projetos A segmentação dos projetos segundo a tipologia da incerteza é uma das abordagens utilizadas na formação de um portfolio de projetos diversificado. Asrilhant (1995) indica 13 formas de classificar o risco dos projetos de exploração e produção de petróleo. São eles: 1) Atos divinos : eventos de força maior ; 2) Físicos : associados a danos às instalações ou pessoas ; 3) Mercado : flutuação de preço do produto ; 4) Geológico : relativo ao volume de hidrocarboneto na jazida ; 5) Econômicos : incertezas nas estimativas do fluxo de caixa ; 86 6) Financeiros : dispor do capital necessário para executar os projetos ; 7) Políticos : mudanças na legislação ou regulamentação ; 8) Externalidades : interações e pressões da sociedade ; 9) Concepções : erros ou omissões em projetos de engenharia ; 10) Tecnológicos : inovatividade do projeto ; 11) Questões trabalhistas : variações de produtividade e disputas trabalhistas ; 12) Execução : atraso no cronograma de obras ; e 13) Contratuais : restrições ou imposições acordadas (p.ex.: take or pay) Chua e Woodward (1992) utilizam semelhante classificação de risco em projetos. Conquanto todas estas dimensões do risco possam refletir-se no fluxo de caixa do projeto, portanto no seu resultado, apenas as dimensões econômico- financeiras são consideradas neste trabalho. A prática do processo orçamentário da empresa estudada segmenta os projetos de exploração e produção de petróleo nas seguintes categorias : - Projetos de Exploração - Projetos de Desenvolvimento da Produção - Projetos de Suporte e Melhoria de Gestão - Projetos de Tecnologia. Os projetos de exploração são aqueles desenvolvidos com o fim de localizar novas acumulações petrolíferas. São projetos de resultado econômico altamente incerto, dado que os investimentos realizados podem não resultar em acumulações efetivas ou mesmo em acumulações comercialmente atrativas. Asrilhant (1995) mostra que o primeiro esforço de avaliação econômica do projeto ocorre logo após a identificação das condições geológicas de acumulação de petróleo. Caso a avaliação seja positiva, o prospecto irá concorrer com tantos outros projetos pelos gastos com perfurações de poços pioneiros. O up-grade das informações 87 geológicas, após a perfuração do poço pioneiro, permite elaborar um EVTE preliminar considerando a perfuração de poços de extensão ou delimitatórios. Quando a maturidade delimitatória da jazida é atingida deflagra-se o EVTE de desenvolvimento do campo produtor. Concluído o EVTE de desenvolvimento, caso o VPL do projeto seja positivo, seguem-se as fases de implantação do projeto e de produção em escala comercial. Asrilhant (1995) mostra ainda como a variabilidade das estimativas é reduzida quando o projeto caminha da fase de prospecto exploratório para a fase de implantação em função do incremento da quantidade e qualidade das informações. Os Projetos de desenvolvimento da Produção, objeto do estudo de caso mostrado nos capítulos 3 e 4, subdividem-se em : - Projetos que visam melhorar as condições operacionais de instalações existentes, resultando na melhoria de desempenho operacional (eficiência ) ou na redução de custos ; - Projetos que visam ampliar a capacidade produtiva da planta industrial ; e - Projetos que resultam em aumento da produção devido à entrada de novos poços de óleo ou gás. Os Projetos de Suporte e Melhoria de Gestão visam a desenvo lver as condições logísticas das unidades produtivas e normalmente atendem as necessidades de hotelaria, administração, segurança e meio ambiente. Estes projetos caracterizam-se por não ter receita, sendo os seus benefícios de difícil mensuração. Conforme seção 1.4, estes projetos não são analisados neste estudo. Os Projetos Tecnológicos estão inseridos na área de P&D da empresa. Seus benefícios possuem resultados econômicos, porém, sua quantificação é complexa, a começar pela incerteza com relação ao sucesso ou insucesso da nova tecnologia e quanto a sua viabilidade comercial. A categorização de gastos de investimentos, apesar de atender inicialmente a objetivos orçamentários, sob certos aspectos pode ser proveitosa. O primeiro proveito reside em 88 distinguir os projetos que possuem receita dos que não possuem. Conforme já descrito, os projetos sem receita normalmente são motivados por razões estratégicas não financeiras ou por imposições legais. Certamente tais projetos não se prestam às análises de retorno e risco econômicos. Os projetos de P&D constituem uma categoria especial de análise, pois na realidade possuem receita. Existem diversos estudos que avaliam estes projetos com vistas à formação de portfolios. (Matheson e Menke, 1994 e Cooper et al, 1997). Entretanto, devido a sua especificidade, os projetos de P&D não são escopo deste trabalho. Na caracterização dos projetos com receita, a distinção dos projetos exploratórios dos projetos de desenvolvimento da produção parece evidente do ponto de vista da incerteza presente. Os projetos exploratórios são de resultados altamente incertos (maior risco) : resultados negativos não são pouco prováveis - poços secos. Resultados positivos podem ser altamente promissores do ponto de vista de volume descoberto e portanto, do valor econômico. Este critério de segmentação é empregado no trabalho de Orman e Duggan (1999). Ainda assim, o volume descoberto está sujeito a um alto grau de incerteza técnica e econômica. (Baídya e Aiube, 1997). O volume das reservas de petróleo está sujeito a modificações constantes à medida que novas informações são agregadas. Dado que os projetos de desenvolvimento da produção são menos sujeitos a incertezas técnicas de ordem geológica, o que determinará a capacidade explotativa do campo são os parâmetros de reservatório e as tecnologias necessárias e disponíveis para extração do óleo ou gás. Sendo assim, o escopo do projeto de desenvolvimento da produção está mais claramente definido, particularmente no que se refere às estimativas de gastos e volume de produção. Howel et al (1998), por sua vez, distinguem os projetos segundo sua maturidade geológica em : projetos de exploração, projetos de produção, projetos de identificação de plays. Brashear et al (2000) também utiliza esta forma de segmentação incorporando as incertezas derivadas dos cenários mercadológicos. No conjunto dos aspectos técnicos e geológicos, a unicidade da rocha geradora, da rocha migratória e da rocha selo afetam igualmente todos os prospectos no mesmo play. Similaridades deposicionais entre reservatórios determinam o uso da mesma tecnologia de explotação. No âmbito das 89 condições de cenários mercadológicos, as correlações incluem preços e custos, mudanças de demanda logística de transporte e armazenagem, mudanças na tecnologia de exploração e produção, mudanças nas regulamentações e no regime fiscal ou nos termos de contratos. Por semelhante modo Ball e Savage (1999) sugerem a caracterização de projetos em função das diferenças de sua : localização geológica , premissa de formação do preço, perfil do fluxo de caixa de investimento, aspectos políticos e regulatórios, e de procedimentos e tecnologias empregadas. A segmentação tecnológica é empregada por Castro (1999) ao diferenciar os projetos de desenvolvimento da produção de petróleo. Helfat (1989), por sua vez, busca incluir 5 outros segmentos de negócio a fim de obter um portfolio eficiente benchmark que sirva de referencial para o preço de equilíbrio de ofertas em processos de aquisição de concessões de novas áreas de exploração de petróleo. 2.5.5 Explicitando a correlação entre retornos de ativos reais Gava (1998) , quando aplica a teoria de portfolios em um estudo de caso, sugere que a própria sobrevivência das empresas pode estar em risco quando este tipo de análise não é realizado. Ao avançar para além do mérito da questão, Brashear et al (1999) sugerem que a interdependência entre projetos de investimentos pode originar-se de inúmeros fatores condicionantes. Procurando classificar estes fatores, os autores iniciam distinguindo os fatores geológicos (não gerenciáveis) dos fatores operacionais que cercam os projetos (gerenciáveis). Assim sendo, em função dos fatores geológicos é conveniente fazer distinção entre as diferentes propriedades geológicas de reservatórios, noção esta contida na definição dos plays e prospectos da exploração. Tais incertezas refletem-se nas diferenças de produção de campos petrolíferos de mesma dimensão possuindo diferentes parâmetros geológicos. Os fatores classificados como de superfície envolvem diferenças na formação do preço do óleo, diferenças na logística existente, diferenças na tecnologia de produção e diferenças nas regulamentações governamentais. Segundo os autores, estas diferenças refletem-se sobre os custos, a eficiência 90 operacional das unidades individualmente - projeto a projeto. As diferentes sensibilidades dos retornos dos projetos aos impactos de um ou mais dos fatores de superfície (à exceção do preço do óleo) implicam em correlações não unitárias entre os resultados dos projetos. De forma semelhante Marchewka e Keil (1995) utilizam as informações das análises de sensibilidade nas dimensões : - tamanho, estruturação, tecnologia e impacto estratégico, buscando explicitar a covariância entre os retornos dos projetos. Os resultados dos projetos obtidos à cada uma das dimensões citadas são tratados na forma convencional : σ (a,b) = Σ wi. [ ria - E(ra)] . [ rib - E(rb )] . O mesmo procedimento é adotado no estudo de Gava (1998), que determina a matriz de covariância a partir da TIR obtida em três cenários macroeconômicos igualmente prováveis. O tratamento convencional é empregado no cômputo da covariância. Outra forma de tratar a questão é adotada no estudo Leong e Kim (1991). Nele um portfolio constituído a partir de três produtos, tem os valores de covariância entre os retornos dos projetos definidos por meio de estimativas elaboradas pelos técnicos de planejamento e marketing da empresa. McVean (1999) utiliza essa mesma técnica com o fim de gerar estimativas para os resultados dos projetos adotando métodos não analíticos. As estimativas, entretanto, não são associadas diretamente aos resultados dos projetos, mas sim às variáveis fundamento dos projetos (produção, preço, custos operacionais e investimentos). Simulação de Monte Carlo é a metodologia utilizada na determinação do perfil de risco de cada projeto e posteriormente da covariância entre os resultados dos projetos. Ball e Savage (1999) utilizam simulação de Monte Carlo com o fim de explicitar a correlação entre os resultados dos projetos assumindo duas condições particulares : independência e interdependência (ρab = 0 e ρab = 1, respectivamente). Os autores não evidenciam de que forma a correlação entre os projetos é obtida, porém sugerem que 5 fatores venham a originar as interdependências entre projetos : localização, preço, perfis, políticas e procedimentos tecnológicos. 91 No estudo de Orman e Duggan (1999) o retorno estocástico dos projetos é estimado pelos membros da equipe técnica responsável (geólogos, engenheiros de reservatório) pelas avaliações dos projetos. Hightower e David (1991) chamam atenção para uma outra medida estatística utilizada em seu estudo de portfolios com a finalidade de considerar a inter-relação entre os resultados dos projetos. Diferentemente dos estudos citados, Hightower e David (1991) determinam as semicovariâncias entre os retornos dos projetos, retornos estes obtidos por meio de simulação. A superioridade do enfoque analítico é ressaltada por McVean J. (1999) ao sugerir que a principal deficiência da simulação de Monte Carlo é gerar resultados aleatórios que não reflitam adequadamente a correlação entre os resultados de projetos e em função disto não asseguram a inexistência de portfolios de média- variância mais eficientes. De forma a compensar esta deficiência McVean (1999) propõe um aumento do número de corridas da simulação (da ordem de milhares). Zinn et al (1997) acrescenta ainda que os resultados gerados nas simulações de Monte Carlo são experimentais e que suas estimativas estatísticas não podem ser considerados resultados efetivos. O que implica em que a correlação obtida pode não corresponder ao “real” movimento relativo entre o retorno dos projetos. Helfat (1989) não utiliza estimativa de cenários ou simulações a fim de obter a covariância entre retornos dos projetos. Determina, outrossim, a covariância entre as variáveis responsáveis por gerar os fluxos de caixa dos projetos, a qual denomina covariância interna entre projetos. Preliminarmente o autor assume que os retornos dos investimentos dos projetos de exploração e produção de petróleo possuem correlação não unitária com os retornos de outros tipos de projetos de investimentos da empresa (gás, refino, petroquímica, mineração, óleos sintéticos e recuperação de óleo). A empresa, ainda que permanecendo no setor de energia, diversifica sua carteira de projetos nos diversos segmentos do negócio. O ponto de vista de sua análise e deste trabalho é a de um executivo gestor da empresa e não a de um investidor externo. 92 3 Metodologia 3.1 Tipo de Pesquisa Este estudo pode ser classificado, quanto aos fins, como uma pesquisa exploratória conforme taxionomia indicada por Vergara (1997), tendo em vista que há poucos trabalhos que aplicam a teoria de portfolio no contexto dos ativos reais. Nestes trabalhos pode-se dizer que há um consenso quanto à aplicabilidade da teoria. Entretanto, a forma como a teoria é contextualizada difere de um estudo para o outro. Este estudo difere dos trabalhos anteriores ao utilizar um teste quantitativo que permite avaliar a eficiência de carteiras formadas segundo diferentes metodologias. No estudo realizado, a eficiência das carteiras de projetos formadas conforme o rank do retorno do projeto é comparada à eficiência das carteiras constituídas com base na teoria de portfolio de Markowitz. A pesquisa também pode ser classificada como pesquisa aplicada porque é movida pela necessidade de aprimorar os resultados práticos do processo seletivo das oportunidades de investimento de uma empresa. Quanto aos meios de investigação, a pesquisa combina características de uma investigação documental e de um estudo de caso, recorrendo a documentos e sistemas de informação da empresa não acessíveis ao público, aprofundando-se nas questões relativas ao tema proposto no âmbito de uma das unidades de negócio da empresa. A seção 3.2 descreve o universo e amostra dos projetos de investimentos inseridos no estudo, sendo que a seção 3.3 cita as duas hipóteses avaliadas no estudo. Na seção 3.4 são descritas as premissas adotadas. As seções 3.5 e 3.6 detalham a origem e o tratamento dos dados, respectivamente. Finalmente, a seção 3.7 relaciona as limitações metodológicas do estudo. 93 3.2 Universo e Amostra O universo de projetos pesquisado é formado pelas oportunidades de investimento no segmento de produção de petróleo. Estas oportunidades, denominadas projetos de investimento, possuem receita e/ou retorno econômico positivo conforme os Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTE) realizados. São, portanto, excluídos da amostra todos os projetos gerados a partir de imposições legais tais como : - projetos associados à preservação do meio ambiente ; - projetos de segurança operacional de instalações e pessoas e - projetos de infra-estrutura logística. Contudo, nem todos os projetos que possuem retorno econômico positivo são inclusos na amostra. Não integram o conjunto amostral os projetos : - pertencentes a outras áreas de negócio da empresa tais como os projetos de investimento no refino ; - de P&D ; - de tecnologia da informação ; - de distribuição e comercialização de derivados e - relacionados à imagem da companhia Finalmente, cha mamos atenção para o fato da amostra não abranger todos os projetos de investimento do segmento de exploração e produção de petróleo que possuem retorno econômico positivo. A base amostral foi constituída por alguns projetos de produção de petróleo pertencentes a uma das unidades de negócio da empresa. O que determinou a formação deste conjunto de projetos foram a disponibilidade e a facilidade no rastreamento das informações. O resultado é a constituição de uma amostra contendo 14 oportunidades de investimento aprovadas pelos executivos da empresa. Tais oportunidades de investimento estão em fase de implantação (gastos de investimentos) já iniciada ou a iniciar. A implantação do projeto mais remoto foi iniciada em 1992. No período estudado (1992 a 2000), nenhum dos 14 projetos teve a fase de implantação concluída, interrompida ou abandonada. 94 É importante ressaltar que o estudo não avalia um conjunto de oportunidades de investimentos que surgem simultaneamente e são submetidas à aprovação e a um processo de formação de uma carteira de projetos. Ao invés disto, o estudo abrange uma cesta de oportunidades de investimentos correntes que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento (em implantação e a implantar). Neste sentido ele se assemelha a um processo de gerenciamento de portfolio. A fim de não ferir a política de confidencialidade de informações da empresa estudada, os projetos não são identificados. Além disto, todos os valores monetários dos projetos (VPL e investimentos nominais, etc...) são multiplicados por um fator que preserva as proporções dimensionais entre eles. Este fator é conhecido apenas pelo autor da dissertação. A tabela 3.1 mostra quais são as características básicas dos 14 projetos de investimento e a origem dos seus valores econômicos. Tabela 3.1 – Projetos de investimento e característica da origem do retorno econômico P1 1o . ano com investimentos previstos no EVTE 2001 Último ano com investimentos previstos no EVTE 2001 Caracterização da origem do retorno econômico Aumento da Produção P2 1995 1997 Aumento da Produção P3 1998 1998 Aumento da Produção P4 1997 1998 Aumento da Produção P5 1992 2000 Aumento da Produção P6 1996 2000 Aumento da Produção P7 1993 1997 Aumento da Produção P8 1996 2002 Aumento da Produção P9 1996 2002 Aumento da Produção P10 1996 2000 Aumento da Produção P11 1996 1999 Aumento da Produção P12 2000 2001 Redução do Custo P13 2000 2001 Aumento da Produção P14 2001 2001 Aumento da Produção Projeto de Investimento 95 3.3 Hipóteses avaliadas no estudo Duas hipóteses são testadas : Ho1 : As carteiras de projetos de investimento formadas conforme o rank de projetos não são eficientes no espaço média- variância, se comparadas aos portfolios constituídos segundo a teoria de portfolio de Markowitz, considerando-se a admissibilidade de venda a descoberto de ativos. Ho2 : As carteiras de projetos de investimento formadas conforme o rank de projetos não são eficientes no espaço média- variância, se comparadas aos portfolios constituídos segundo a teoria de portfolio de Markowitz, considerando-se a restrição de venda a descoberto de ativos. 3.4 Premissas adotadas neste estudo O capítulo 2 foi dedicado a revisar a bibliografia existente sobre o assunto e nele foram descritas as diversas premissas assumidas nos estudos anteriores. Apesar desses estudos estarem suportados pela mesma teoria (teoria de portfolios de Markowitz), não há um consenso a respeito das medidas de retorno e risco adotadas e das metodologias utilizadas para obtê- las. Nesta seção são descritas as premissas adotadas no estudo a partir das quais o modelo foi concebido, obtendo-se os resultados mostrados no capítulo 4 e as conclusões no capítulo 5. 3.4.1 O retorno esperado e a variável proxy adotada Diversos indicadores econômicos podem demonstrar a rentabilidade de projetos (VPL, TIR, VPL/Ia, etc...). Este estudo adotou o VPL/Ia devido ao amplo conhecimento técnico, à robustez e relevância econômica e à não dimensionalidade do indicador. O Anexo 6 mostra que o indicador utilizado como proxy não pode ser monetário, do contrário o nível de investimento requerido pelo projeto torna-se determinante na 96 distribuição de recursos entre os projetos do portfolio. Elimina-se, portanto, o VPL. A TIR, por sua vez, apresentou problemas de convergência numérica em diversas iterações da simulação. O estudo utilizou a média aritmética como indicador não enviesado da expectativa de retorno dos projetos. 3.4.2 O risco nos retornos dos projetos O estudo utilizou a variância (desvio padrão) dos retornos dos projetos como medida de risco. Conquanto a semivariância possua um forte apelo intuitivo e conceitual, seu uso faz crescer significativamente a complexidade dos modelos por estar associada a momentos superiores da distribuição (terceiro e quarto momentos). Considerou-se, ainda, que os termos de covariância na matriz que determina o risco do portfolio sejam dominantes, o que reduz a influência das parcelas do risco isolado dos projetos. 3.4.3 A diversificação no portfolio de projetos A diversificação presente no portfolio é obtida por meio do cálculo da covariância entre os retornos dos projetos. Naturalmente, esta definição de premissa é coerente com o uso da variância como medida de risco. A semicovariância considera tão somente os movimentos relativos entre os retornos dos projetos, abaixo de um valor pré-determinado (Hightower e David, 1991). Neste estudo ela não é utilizada porque desconsidera o efeito pleno dos movimentos opostos dos retornos dos projetos. Assim sendo a análise empregada neste estudo de portfolio de ativos reais é uma análise de domínio completo (variância e covariância). 97 3.4.4 Obtendo o retorno, o risco e a matriz de covariância Na ausência de um conjunto de registros históricos, a amostra de retornos dos projetos foi gerada por meio de simulação de Monte Carlo. A amostra de retornos obtida na simulação é utilizada a fim de determinar os parâmetros de retorno e risco dos projetos e a matriz de covariância entre os retornos dos projetos. 3.4.5 Premissas da teoria de portfolio adotadas no estudo O estudo assumiu as seguintes premissas na extensão da teoria de portfolios de Markowitz aos ativos reais : - Permissão de venda a descoberto ilimitada ; - Expectativa homogênea de risco-retorno dos portfolios e da matriz de covariância; - Horizonte temporal singular ; - Mercado sem fricção ; - Retorno constante com escala (CRS). Diferentemente dos estudos de Hightower e David (1991), Ball e Savage (1999), McVean (1999), Nepomuceno (1997), Orman e Duggan (1999) este trabalho considerou a possibilidade e a impossibilidade de venda a descoberto de ativos reais. A premissa que considera “homogeneidade de expectativas” é essencial nos estudos de portfolios tendo em vista que os parâmetros de média-variância são considerados representativos do comportamento do retorno e do risco do ativo. Adotou-se ainda a singularidade do horizonte de análise, sendo esta representada pelo ciclo de vida completo de um projeto de investimento. Os portfolios eficientes são, portanto, constituídos uma única vez, selecionando-se do conjunto de projetos correntes aqueles que maximizam o retorno do portfolio para um dado risco, quer sejam os projetos aprovados “em implantação”, quer sejam eles aprovados “não iniciados”. 98 Na ausência de um mercado formal de liquidação das operações de transferências de projetos, considera-se que as trocas de ativos reais ou de formação de parcerias ocorram em um mercado sem fricção. Naturalmente esta premissa não considera os custos de avaliação de ativos e de administração das parcerias. O retorno constante com a escala (Constant Return to Scale – CRS), premissa fundamental que suporta os estudos anteriores, também é adotado neste estudo, admitindo a possibilidade de investimento fracionário. Quando a variável proxy do retorno é o VPL/Ia, assumir a CRS implica em considerar que o valor do VPL/Ia do projeto permanece inalterado independentemente do nível de investimento alocado ao ativo real. 3.4.6 Resumo da seção Em resumo, o estudo emprega o método de simulação de Monte Carlo com a finalidade de obter o retorno esperado e risco dos ativos reais além da covariância entre os retornos dos ativos. A obtenção de portfolios eficientes no espaço média-variância utiliza a mesma abordagem da teoria de portfolio de Markowitz (programação quadrática). Os benefícios da diversificação são obtidos por meio da determinação da matriz de covariância e as premissas adotadas contextualizam a teoria de portfolio de ativos financeiros às peculiaridades dos ativos reais. Duas hipóteses são testadas no estudo : Ho1 : As carteiras de projetos de investimento formadas conforme o rank de projetos não são eficientes no espaço média- variância, se comparadas aos portfolios constituídos segundo a teoria de portfolio de Markowitz, considerando-se a permissão de venda a descoberto de ativos. Ho2 : As carteiras de projetos de investimento formadas conforme o ranking de projetos não são eficientes no espaço média- variância, se comparadas aos portfolios 99 constituídos segundo a teoria de portfolio de Markowitz, considerando-se a proibição de venda a descoberto de ativos. As próximas seções descrevem o modelo de simulação empregado. 3.5 Coleta de dados Esta seção é dividida em duas partes. Na primeira delas indicamos as origens dos dados das duas variáveis fundamento empregadas no estudo. Antes porém, são relacionadas as principais variáveis fundamento dos 14 projetos considerados. Destacam-se, então, os aspectos relevantes que motivaram a escolha de duas dessas variáveis. É oportuno dizer que o autor da dissertação não busca estabelecer por meio destas duas variáveis um modelo econométrico de valoração estocástica de projetos, tendo em vista que o ponto central do trabalho não é avaliar o processo de valoração de projetos. Outrossim, o que esta dissertação busca é mensurar o risco a que estão sujeitos os valores esperados dos ativos reais e verificar como as correlações existentes entre os retornos dos projetos contribuem na formação de portfolios eficientes. No conjunto das variáveis fundamento sujeitas a variações inesperadas, destacam-se o preço do produto (petróleo), as previsões de gastos de investimento e de custos operacionais e a previsão de quantidade produzida/comercializada em função do projeto. Na segunda parte desta seção lidamos com os resultados obtidos por meio de simulação de Monte Carlo. Esses resultados constituem a série amostral de retornos dos projetos utilizada nas análises de risco dos mesmos (variância dos retornos dos projetos) e nas análises de portfolio (determinação da matriz de covariância e do risco e retorno do portfolio). 100 O diagrama 3.1 descreve as etapas do processo de coleta e de tratamento dos dados : Diagrama 3.1 – Seqüência do processo de seleção de projetos 1 Definir a amostra (conjunto de projetos) Obter a matriz de covariância entre os retornos dos projetos Definir a variável proxy do retorno Definir os retornos requeridos para gerar fronteira eficiente Relacionar as variáveis que podem impactar o retorno dos projetos Obter o risco dos projetos ranqueados conforme retorno requerido Definir as variáveis fundamento que serão utilizadas na simulação Construir fronteira eficiente sem restrição de venda a descoberto Coletar os dados históricos das variáveis fundamento Definir a fdp associada às variáveis fundamento Simular 1.000 retornos possíveis do VPL/Ia dos 14 projetos Calcular a perda de eficiência dos portfolios ranqueados (referência : portfolios eficientes sem restrição de venda curta) Construir fronteira eficiente sem restrição de venda a descoberto Obter os parâmetros de média e variância do VPL/ Ia dos 14 projetos Calcular a perda de eficiência dos portfolios ranqueados (referência : portfolios “eficientes” com restrição de venda curta) 1 FIM 101 3.5.1 Coleta de dados das variáveis fundamento O estudo selecionou duas variáveis fundamento do conjunto de variáveis possíveis. A partir delas é obtida uma série amostral de retornos dos ativos reais. A primeira variável é o preço do petróleo; variável de mercado responsável por gerar a receita nos projetos que resultam em aumento da produção de petróleo. A segunda variável tem relação com os gastos de investimento do projeto. De um modo geral todos os projetos possuem uma fase inicial, que denominamos fase de implantação. Esta fase é definida pelo período em que ocorrem os gastos que viabilizam o incremento de produção ou a redução dos custos operacionais. A rentabilidade de todos os projetos varia em função do perfil de investimentos. É lícito considerarmos que todas as oportunidades de investimento que possuam um VPL esperado positivo são aceitos pelos tomadores de decisão da empresa. Entretanto, há dois possíveis desdobramentos a partir desta aceitação : a) Aceitar um projeto não implica necessariamente em implantá-lo tendo em vista que ele compete com outros projetos pelo capital de investimento da empresa. b) Mesmo que a implantação do mesmo seja priorizada, a rentabilidade esperada não é necessariamente a rentabilidade realizada, visto que várias incertezas permeiam as estimativas do EVTE. Uma delas é o gasto de investimento no projeto. Esta incerteza é medida neste estudo pelo índice de realização de gastos de investimentos (IRGI). O índice de realização de gastos de investimentos (IRGI) é obtido por meio da expressão : IRGI = Gasto de Investimento realizado Gasto de Investimento previsto (3.1) 102 O IRGI será igual a 100% sempre que os gastos previstos forem iguais aos realizados. IRGI maiores do que 100% sugerem que a realização foi maior do que a previsão e, menores do que 100%, o oposto. O IRGI é uma variável fundamento intrínseca ao projeto. Os IRGIs observados tanto podem evidenciar algum viés sistemático presente nas estimativas efetuadas nos EVTE quanto sugerir deficiências recorrentes no processo de implantação de projetos. Avaliadas isoladamente tais deficiências tornam o IRGI diferente de 100%. Analisados conjuntamente as deficiências podem compensar-se mutuamente. Entretanto, este estudo não avalia seus efeitos isolados e sim o resultado final obtido por meio da expressão (3.1). Além do preço do petróleo e do IRGI, outras variáveis fundamento e premissas assumidas por ocasião do EVTE poderiam ter sido incorporadas ao modelo. A seguinte relação menciona algumas delas : - Alíquotas de impostos ; - Curva de produção de óleo e gás ; - Eficiência operacional das plantas industriais e - Custos operacionais . Esta relação não exaure o conjunto das variáveis fundamento que estão sujeitas à incerteza e podem modificar os resultados econômicos dos projetos. Entretanto, tais variáveis não foram incorporadas ao modelo de simulação, fundamentalmente devido à ausência de registro histórico discricionário ou devido à expectativa de estabilidade da variável no horizonte futuro. No subconjunto das variáveis com ausência de registros históricos discricionários destacam-se os custos de produção marginais, as eficiências operacionais e as produções incrementais. Os custos e as produções incrementais são variáveis fundamento inerentes aos projetos de investimento cuja implantação venha a ocorrer em plantas industriais que já estão em operação. É igualmente difícil avaliar e quantificar o 103 reflexo do início da produção de um projeto sobre a eficiência operacional da planta industrial existente sem assumir algum critério arbitrário. As alíquotas de impostos governamentais (imposto de renda, contribuição social, PIS/PASEP, COFINS, royalties, etc...), por sua vez, apresentam forte tendência de estabilidade no horizonte futuro. Portanto, o estudo levou em conta tão somente as variáveis fundamento preço do petróleo e índice de realização de gastos de investimento (IRGI). Antes de descrevermos a origem dos dados destas duas variáveis fundamento, convém destacar as etapas mostradas no diagrama 3.1, que antecedem a seleção das mesmas. Definir a amostra (conjunto de projetos) - conforme descrita na seção 3.3, a amostra de projetos é constituída por 14 projetos de desenvolvimento da produção de petróleo, cujos dados estavam disponíveis nos sistemas de informação da empresa estudada. Definir a variável proxy do retorno - a variável utilizada como proxy do retorno dos projetos de investimento é o VPL/Ia. Definir as variáveis fundamento que serão utilizadas na simulação – as variáveis fundamento utilizadas são o preço do petróleo e os IRGI históricos. As origens dos dados são as seguintes : a) Preço do petróleo : as informações (preço diário do petróleo do tipo Brent) foram obtidas da Petroleum Argus e recebidos via correio eletrônico a partir do portal www.petroleumargus.com . O Anexo 1 contém a série dos preços diários do barril de petróleo tipo Brent de 1988 a 2000. Os preços diários referentes ao ano de 2000 foram disponibilizados pela Petroleum Argus até o mês de outubro (mês no qual a informação foi solicitada). A fim complementar a série do ano 2000, em março de 2001 foi solicitado, à mesma empresa, o envio dos preços do período de outubro a dezembro. Todavia, as mesmas não foram disponibilizadas. 104 Os preços diários foram convertidos para a base anual de modo a compatibilizálos com a forma como eles são previstos. b) IRGI : sendo o IRGI obtido a partir da expressão (3.1), duas séries são necessárias. A série de gastos de investimentos previstos e a série de gastos de investimentos realizados. Gastos de Investimentos previstos : as informações referentes à previsão anual de gastos de investimentos efetuada por ocasião do EVTE foram obtidas de planilhas EXCEL contendo as estimativas efetuadas pelos técnicos da empresa. Gastos de Investimentos realizados : os gastos anuais de investimentos realizados foram obtidos do sistema de contábil gerencial da empresa, que os acumula por projeto de investimento. Índice de realização de gastos de investimentos (IRGI) : o Anexo 2 contém a série com o índice de realização de gastos de investimentos nos 14 projetos. É interessante observar que o uso dos registros históricos dos IRGIs permite verificar a combinação do risco decorrente das incertezas técnicas dos projetos com o risco relacionado ao desempenho histórico da empresa na implantação dos 14 projetos considerados. O autor da dissertação reconhece a fragilidade da representatividade da série dos IRGI considerando-se a dinâmica das mudanças nas condições estruturais e conjunturais a que estão sujeitos os projetos da empresa. Assim sendo, se fosse outro o horizonte histórico de análise, ou outros os projetos analisados, a amostra do IRGI poderia ser igualmente diferente. Naturalmente, com outra amostra de IRGI, os resultados também poderiam ser diferentes, o que é próprio à natureza exploratória do estudo. Definir a função de densidade de probabilidade associada às variáveis fundamento : As fdps associadas às variáveis fundamento são obtidas a partir dos registros históricos do preço do petróleo e dos IRGI dos projetos. O modelo de simulação de Monte Carlo 105 utiliza estas fdps a fim de gerar os parâmetros de retorno esperado (VPL/Ia médio) e risco (desvio padrão da série de VPL/Ia) de cada projeto, assim como a matriz de covariância dos retornos dos 14 projetos. Esses parâmetros são posteriormente utilizados na quantificação do retorno e do risco dos portfolios eficientes. 3.5.2 Coleta de dados da variável proxy (VPL/Ia) Simular 1.000 retornos possíveis do VPL/Ia dos 14 projetos : A amostra dos resultados econômicos dos 14 projetos (VPL/Ia) foi obtida simulando-se 1.000 trajetórias de comportamento das duas variáveis fundamento (preço do petróleo e IRGI) a partir das fdp associadas aos mesmos. O resultado é a formação de 14 séries de 1.000 VPL/Ia, uma série para cada um dos projetos. O Anexo 3 mostra essas séries. 3.6 Tratamento dos dados A seção de tratamento dos dados descreve de que forma os dados foram trabalhados no modelo proposto. 3.6.1 A função de densidade de probabilidade das variáveis fundamento Conforme a seqüênc ia descrita no diagrama 3.1 é necessária a associação de uma fdp, que melhor se ajuste ao comportamento das variáveis fundamento a fim de viabilizar a geração dos valores aleatórios no processo de simulação. Essas fdp foram obtidas com o uso do software BestFit, que determina o tipo de distribuição e os parâmetros que mais se aproximam da amostra de dados. A aproximação é feita com base na MLE (maximum likelihood estimators) balizados no valor do teste χ2 , do teste Kolmogorov-Smirnoff ou do teste Anderson-Darling. Este estudo utilizou os resultados do teste χ2 a fim de ordenar as fdp que mais se ajustaram às séries. No Anexo 4 são apresentadas as três fdp associadas à variável fundamento preço anual do petróleo, que possuem os menores valores no teste de χ2 . 106 Definida a fdp, os valores aleatórios dos preços de petróleo gerados na simulação pelo software @riskT M, foram limitados a intervalos mais próximos dos reais. Neste sentido, o preço mínimo permitido para o barril de petróleo do tipo Brent é de zero US$/bbl. O limite de preço máximo foi arbitrado em 40 US$/bbl. Destaca-se que, no período de 1988 a 2000, o maior valor observado na série de preços anuais do petróleo é de 28,72 US$/bbl (ano 2000). A fdp definida para a variável fundamento preço do petróleo em um determinado ano cronológico é a mesma utilizada para todos os projetos da amostra. Entretanto, em uma mesma iteração, podem ser gerados diferentes preços a cada um dos diferentes anos do período considerado. Assim sendo na mesma iteração o @riskT M pode gerar um preço de petróleo equivalente a 15,00 US$/bbl para o ano 1997 e 13,45 US$/bbl para o ano 1998. Esses mesmos valores serão utilizados por todos os projetos para os anos 1997 e 1998, respectivamente. Os IRGI, mostrados no Anexo 2, são tratados de forma diferente. Preliminarmente, os gastos de investimentos (previstos e realizados) de cada projeto foram transportados para mesma data base4 e nível de preço5 , isto é, janeiro de 2000. Os IRGI são tratados segundo o ano evento e não segundo o ano calendário (cronológico). Assim sendo, são formadas três amostras dos IRGI : uma amostra para o primeiro ano com previsão de gastos no EVTE , outra para o segundo ano com previsão de gastos no EVTE e outra amostra para terceiro ano com previsão de gastos no EVTE. Isto requer a determinação de três fdp que são associadas aos IRGI conforme o ano evento. As três amostras de IRGI, segundo o ano evento, são assumidas por todos os 14 projetos segundo o ano evento analisado. Isto é, o IRGI relativo aos projetos no primeiro ano com gastos previstos no EVTE formam a amostra utilizada para definir a fdp associada ao IRGI no primeiro ano evento. 4 A data base corresponde ao mês e ano para o qual o fluxo de caixa é atualizado pelo método do fluxo de caixa descontado a valor presente. 107 Os IRGI não foram agrupados conforme o ano cronológico tendo em vista que os projetos encontram-se em diferentes estágios de implantação. Por exemplo, observandose a tabela 3.1 podemos perceber que os projetos P12 e P13 possuem a fase de investimento iniciando em 2000 ao passo que os projetos P3 e P4 terminam seus investimentos em 1998. Se os projetos fossem agrupados segundo o ano cronológico seriam formadas 11 pequenas amostras, cujas fdp possuiriam pouca significância estatística. Além disto, o cross-section do IRGI segundo o ano evento permite avaliar vieses sistemáticos nas previsões. Podemos supor, por exemplo, que quanto mais distante no tempo está a estimativa do EVTE da sua efetiva realização, tanto maior a propensão de dispersão dos IRGI. A suposta heterocedasticidade das séries não é testada neste estudo. O estudo também não considera a fdp dos IRGI para anos superiores ao terceiro ano evento devido à redução significativa da amostra6 . Entretanto, nos projetos em que existe um horizonte de gastos previstos que ultrapassa o terceiro ano evento, nesses anos (anos evento 4, 5, 6,..., e ´n`), utilizou-se a mesma fdp definida para o terceiro ano evento. Um tratamento adicional dado aos IRGI refere-se à possibilidade de antecipação dos gastos previstos (um ano de antecipação) e de postergação dos gastos previstos (um ano de postergação ou de atraso). O IRGI do ano evento de antecipação é calculado conforme a expressão (3.2) a seguir : IRGI (ano t-1) = Gasto de Investimento realizado no ano t-1 Gasto de Investimento Previsto no ano t (3.2) onde “ano t-1” é o ano anterior ao primeiro ano com gastos previstos e “ano t” é o primeiro ano com gastos previstos O IRGI do ano evento de postergação de gastos previstos é determinado conforme seguinte expressão : 5 6 O nível de preço corresponde ao mês e ano de referência para as estimativas de gastos. Apenas 50% do projetos possuem um prazo de implantação superior a três anos. 108 IRGI (ano t+n+1) = Gasto de Investimento realizado no ano t+n+1 (3.3) Gasto de Investimento Previsto no ano t+n onde “ano t+n+1” é o ano seguinte ao último ano com gastos previstos e “ano t+n” é o último ano com gastos previstos O Anexo 2 contém a amostra dos IRGI do ano de antecipação de gastos (ano evento anterior ao primeiro ano com previsão de gastos), do primeiro ano evento (primeiro ano com previsão de gastos) , do segundo ano evento, do terceiro ano evento e do ano de postergação de gastos (ano evento posterior ao último ano com previsão de gastos). Finalmente ressalta-se que, na simulação, as fdp relativas ao ano de antecipação e ao ano de postergação foram adicionadas respectivamente ao primeiro ano com previsão de gastos e ao último ano com previsão de gastos. Para isto, a fdp do ano de antecipação foi multiplicada por 1,15 (taxa de desconto adotada nos EVTE = 15%) ao passo que a fdp do ano de postergação foi dividida por 1,15. O intervalo que limites a geração de valores aleatórios dos IRGI nos anos evento foi de 0% (considerando-se que não existem gastos negativos) a uma vez e meia o maior IRGI observado na amostra do respectivo ano evento. 3.6.2 Tratamento de dados dos resultados (VPL/Ia) dos projetos Da simulação de Monte Carlo, que gerou valores aleatórios para as variáveis fundamento (preço do petróleo e IRGI) resultou a formação da amostra de 1.000 VPL/Ia para cada um dos 14 projetos de investimentos. A cada uma das 1.000 iterações, os projetos foram expostos ao mesmo conjunto IRGI, conforme o ano evento, e à mesma estrutura a termo do preço do petróleo no ano cronológico. Com isto, as variações do VPL/Ia de cada projeto refletiram as sensibilidades que os projetos possuem com relação às variações dos IRGI e do preço. Destaca-se que os 1.000 resultados (VPL/Ia) para os 14 projetos foram obtidos a partir de uma única simulação, onde os preços do petróleo foram os mesmos para cada projeto conforme o ano cronológico e os IRGI foram os mesmos segundo o ano evento. 109 Esta forma de tratar os valores aleatórios gerados na simulação, permite obter não apenas os parâmetros de risco e retorno dos projetos, mas também a matriz de covariância entre os retornos dos projetos. Assim sendo, a consistência da matriz de covariância entre os retornos dos projetos (VPL/Ia) está em capturar a sensibilidade relativa dos projetos ao movimento das variáveis fundamento, a partir da série de resultados obtidos nas iterações da simulação. 3.7 Limitação do método O modelo adotado no estudo contém duas limitações : − não representa o risco na perspectiva de desvio inferior a uma meta prédeterminada, desconsiderando desta forma os momentos superiores da distribuição dos retornos observados. A razão para isto, já citada anteriormente, é que a incorporação destes momentos superiores aumentaria significativamente a complexidade matemática do modelo. (CHEN et al, 1991) − a ordenação de projetos conforme o rank do VPL/Ia não utiliza metodologias de racionamento de capital (métodos de programação linear ou inteira). Assim sendo, o rank decrescente de projetos presta-se tão somente à função de formar portfolios potenciais ordenados segundo um parâmetro de rentabilidade adotado como proxy do retorno (neste estudo, o VPL/Ia). É válido destacar que o estudo se restringe à busca de eficiência na relação risco-retorno da variável proxy (VPL/Ia). Assim sendo, não são incorporadas ao modelo outras metas relevantes da companhia (econômicas ou operacionais), o que pode gerar resultados pouco práticos ou resultados que suscitem conflitos recorrentes entre as metas. 110 4 Resultados O capítulo 4 apresenta os resultados (retorno e risco) obtidos nas carteiras formadas conforme o rank dos projetos segundo o VPL/Ia, comparando-os aos resultados alcançados nos portfolios eficientes de média- variância. De um modo geral os resultados mostrados neste capítulo podem ser distinguidos em : resultados relacionados aos objetivos intermediários e resultados relativos ao objetivo final. O diagrama 3.1 mostra que os objetivos intermediários correspondem às etapas percorridas no processo de formação dos portfolios eficientes. Dentre os objetivos intermediários destacam-se : − a obtenção das funções densidade de probabilidade (fdp) associadas às variáveis fundamento, − a determinação do retorno e do risco individual dos projetos, − a determinação da matriz de covariância, − a definição dos retornos requeridos do portfolio e − a distribuição percentual do recurso global de investimento entre os projetos Os objetivos finais estão diretamente associados aos resultados que permitem comparar as metodologias : o retorno esperado e o risco dos portfolios formados e a verificação da eventual perda de eficiência do método de rank de projetos. Como desdobramento dos resultados relacionados aos objetivos finais, o estudo avalia o impacto dos portfolios eficientes de média-variância (VPL/Ia) sobre outra medida de rentabilidade de projetos, o VPL. Naturalmente que os resultados obtidos no estudo poderiam ser diferentes caso o universo de projetos proposto fosse outro (projetos do mesmo segmento de negócio ou de outro setor produtivo), em uma outra a janela histórica (considerando o mesmo 111 conjunto de projetos estudado), ou utilizando outras as variáveis fundamento no modelo de simulação. A seção seguinte (4.1) descreve as fpd associadas às variáveis fundamento. As seções 4.2 e 4.3 mostram os resultados da simulação : retorno e risco dos 14 projetos de investimento e matriz de variância e covariância. Na seção 4.4 definem-se os retornos requeridos dos portfolios, a partir do qual é determinado o risco dos mesmos. A seção 4.5 mostra a distribuição dos recursos nos portfolios formados, sendo o retorno o risco obtidos indicados na seção 4.6. A última seção do capítulo (4.7) considera os efeitos dos resultados dos portfolios eficientes sobre o VPL agregado dessas carteiras. 4.1 As funções de densidade de probabilidade das variáveis fundamento consideradas Preço do petróleo tipo Brent (US$/bbl) : a amostra do preço de petróleo tipo Brent é apresentada no Anexo 1 (preços diários e médias anuais). Conforme descrito na seção 3.6.1 a distribuição e os parâmetros das fdp que mais se ajustam à amostra anual do preço do petróleo foram obtidos por meio do software BestFit, com base no MLE (maximum likelihood estimators , teste χ2 ). Por meio do teste χ2 , a fdp que mais se ajusta ao preço do petróleo do tipo Brent é a do tipo “valor extremo” com parâmetros α = 17,06 e β = 3,14 (ver Anexo 4). Índices de realização de gastos investimentos (IRGI) : a amostra dos IRGI é apresentada no Anexo 2. Os parâmetros das fdp e os resultados do teste χ2 são mostrados no Anexo 5. Considerando-se o tratamento de dados descrito na seção 3.6.1, as fdp obtidas pelo software BestFit para os IRGI são as seguintes : − IRGI relativo ao ano evento de antecipação : tipo “chi-quadrado” − IRGI relativo ao primeiro ano evento : tipo “log-normal” 112 − IRGI relativo ao segundo ano evento : tipo “gama” 7 − IRGI relativo ao terceiro ano evento : tipo “gama” 8 − IRGI relativo ao ano evento de postergação : tipo “valor extremo” 4.2 O retorno e o risco individual dos 14 projetos A tabela 4.1 mostra a estatística descritiva dos 1.000 resultados (VPL/Ia) obtidos na simulação dos 14 projetos. Os 1.000 resultados (VPL/Ia) dos 14 projetos são mostrados no Anexo 3. Tabela 4.1 - Estatística descritiva do VPL/Ia dos 14 projetos de investimento gerada a partir das 1.000 iterações da simulação de Monte Carlo VPL/Ia P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Mínimo Maximo Média Desvio Padrão Assimetria Curtose -0,41 0,97 -0,5 -0,13 -0,22 0,31 0,3 0,16 0,36 0,55 0,15 1,08 -0,24 -0,63 331,82 309,01 213,48 182,5 25,15 69,76 25,06 46,02 41,3 33,6 15,91 108,75 57,82 228,23 6,37 7,32 5,13 2,67 2,27 6,08 4,62 4,47 5,11 5,26 2,69 8,53 1,85 4,13 18,23 12,59 14,5 6,52 2,63 6,48 3,3 4,45 4,68 4,27 2,03 9,08 2,9 12,66 9,35 15,67 7,82 21,71 3,24 3,7 2,06 3,53 3,01 2,3 2,09 4 9,83 9,23 127,31 342,54 82,51 582,41 15,17 22,56 6,28 19,44 12,76 7,73 6,86 28,54 160,23 123,86 Os resultados mostram que o VPL/Ia esperado (média) dos 14 projetos varia entre 1,85 (Projeto P13) e 8,53 (Projeto P12). Por sua vez, o risco (desvio padrão) isolado dos 14 projetos varia entre 2,03 (Projeto P11) e 18,23 (Projeto P1). Percebe-se então que o projeto P12, de maior nível de retorno esperado, não é o de maior risco (VPL/Ia médio equivale a 8,53 e o desvio padrão a 9,08). O oposto ocorre com relação ao projeto P13, 2 Conquanto a distribuição “weibull” seja aquela que apresentou o menor valor no teste χ , o fenômeno que ela representa não se compatibiliza com o comportamento de eventos associados à implantação de projetos. 8 2 Conquanto a distribuição “weibull” seja aquela que apresentou o menor valor no teste χ , o fenômeno que ela representa não se comp atibiliza com o comportamento de eventos associados à implantação de projetos. 7 113 que possui o menor nível de retorno esperado, mas não o menor risco (VPL/Ia médio equivale a 1,85 e o desvio padrão a 2,90). Assim sendo, as características peculiares a cada projeto e suas diferentes sensibilidades ao movimento das variáveis fundamento, sugerem que os comportamentos, no que tange ao risco e retorno individual, não são homogêneos e colineares. Os valores mínimos de VPL/Ia mostrados na segunda coluna da tabela 4.1 indicam que há possibilidade de perda de valor (VPL) em 6 dos 14 projetos. Observa-se ainda que as distribuições dos retornos são leptocúrticas e positivamente assimétricas, sendo que 6 delas são significativamente leptocúrticas (curtose acima de 30) e 5 são extremamente assimétricas (assimetria superior a 9). A partir dos resultados mostrados na tabela 4.1 é possível estabelecer um rank decrescente de projetos segundo o VPL/Ia esperado, um outro rank crescente de projetos segundo o risco do VPL/Ia e um terceiro rank decrescente de projetos segundo a relação retorno-risco. A tabela 4.2 mostra estes rank e seus valores serão objeto de análise nas seções que apresentam os resultados associados aos objetivos finais. Tabela 4.2 – Rank dos projetos segundo o retorno esperado (VPL/Ia médio), risco (desvio padrão do VPL/Ia) e relação retorno-risco (média/desvio padrão do VPL/Ia) conforme simulação Rank Retorno Projetos Retorno Rank Risco Projetos Risco Rank Retorno-Risco Projetos Retorno/Risco P12 P2 P1 P6 P10 P3 P9 P7 P8 P14 P11 P4 P5 P13 P11 P5 P13 P7 P10 P8 P9 P6 P4 P12 P2 P14 P3 P1 P7 P11 P10 P9 P8 P12 P6 P5 P13 P2 P4 P3 P1 P14 8,53 7,32 6,37 6,08 5,26 5,13 5,11 4,62 4,47 4,13 2,69 2,67 2,27 1,85 2,03 2,63 2,90 3,30 4,27 4,45 4,68 6,48 6,52 9,08 12,59 12,66 14,50 18,23 1,40 1,33 1,23 1,09 1,00 0,94 0,94 0,86 0,64 0,58 0,41 0,35 0,35 0,33 114 Segundo o rank do retorno esperado, o projeto mais atrativo (maior expectativa de retorno) é o projeto P12, segundo o rank do risco, o projeto P11 e segundo o rank da relação retorno-risco, o projeto P7. 4.3 A determinação da matriz de covariância As tabelas 4.3.a e 4.3.b mostram as matrizes de correlação e covariância dos projetos, obtidas a partir da série de 1.000 retornos (VPL/Ia) gerados na simulação. Tabela 4.3.a – Correlação entre os retornos (VPL/Ia) dos 14 projetos CORREL P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 1,00 0,01 0,99 0,08 0,18 0,48 0,12 0,38 0,18 0,09 0,02 0,49 0,26 1,00 0,01 1,00 0,02 0,83 0,03 0,07 0,17 0,06 0,04 0,08 0,28 0,36 0,63 0,01 0,99 0,02 1,00 0,09 0,20 0,52 0,13 0,41 0,19 0,10 0,03 0,52 0,28 0,98 0,08 0,83 0,09 1,00 0,04 0,14 0,11 0,10 0,04 0,05 0,19 0,59 0,87 0,08 0,18 0,03 0,20 0,04 1,00 0,69 0,89 0,85 0,99 0,93 0,63 0,22 0,13 0,18 0,48 0,07 0,52 0,14 0,69 1,00 0,61 0,96 0,69 0,51 0,29 0,56 0,35 0,48 0,12 0,17 0,13 0,11 0,89 0,61 1,00 0,75 0,91 0,92 0,75 0,21 0,18 0,12 0,38 0,06 0,41 0,10 0,85 0,96 0,75 1,00 0,85 0,69 0,43 0,47 0,29 0,38 0,18 0,04 0,19 0,04 0,99 0,69 0,91 0,85 1,00 0,94 0,64 0,22 0,13 0,18 0,09 0,08 0,10 0,05 0,93 0,51 0,92 0,69 0,94 1,00 0,81 0,13 0,10 0,09 0,02 0,28 0,03 0,19 0,63 0,29 0,75 0,43 0,64 0,81 1,00 0,15 0,20 0,02 0,49 0,36 0,52 0,59 0,22 0,56 0,21 0,47 0,22 0,13 0,15 1,00 0,89 0,50 0,26 0,63 0,28 0,87 0,13 0,35 0,18 0,29 0,13 0,10 0,20 0,89 1,00 0,26 1,00 0,01 0,98 0,08 0,18 0,48 0,12 0,38 0,18 0,09 0,02 0,50 0,26 1,00 Tabela 4.3.b – Covariância entre os retornos (VPL/Ia) dos 14 projetos COVAR P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 332,00 2,27 260,68 9,56 8,55 56,57 7,15 30,90 15,06 7,19 0,85 81,77 13,81 230,26 2,27 158,47 2,89 68,44 1,03 6,06 7,02 3,25 2,39 4,11 7,27 41,31 23,02 1,71 260,68 2,89 209,92 8,50 7,58 48,50 6,41 26,59 13,14 6,44 0,94 68,48 11,69 180,53 9,56 68,44 8,50 42,50 0,68 5,82 2,27 3,03 1,24 1,34 2,56 34,72 16,37 6,75 8,55 1,03 7,58 0,68 6,93 11,69 7,76 9,92 12,20 10,48 3,37 5,31 1,02 5,90 56,57 6,06 48,50 5,82 11,69 42,00 12,92 27,62 21,03 14,14 3,79 33,00 6,61 39,10 7,15 7,02 6,41 2,27 7,76 12,92 10,86 10,94 13,98 12,96 5,03 6,20 1,67 4,91 30,90 3,25 26,59 3,03 9,92 27,62 10,94 19,76 17,75 13,10 3,83 18,80 3,75 21,38 15,06 2,39 13,14 1,24 12,20 21,03 13,98 17,75 21,85 18,81 6,09 9,32 1,80 10,42 7,19 4,11 6,44 1,34 10,48 14,14 12,96 13,10 18,81 18,22 6,98 5,01 1,18 5,00 0,85 7,27 0,94 2,56 3,37 3,79 5,03 3,83 6,09 6,98 4,11 2,68 1,19 0,59 81,77 41,31 68,48 34,72 5,31 33,00 6,20 18,80 9,32 5,01 2,68 82,39 23,33 57,06 13,81 23,02 11,69 16,37 1,02 6,61 1,67 3,75 1,80 1,18 1,19 23,33 8,40 9,67 230,26 1,71 180,53 6,75 5,90 39,10 4,91 21,38 10,42 5,00 0,59 57,06 9,67 160,10 115 A tabela 4.3.a indica que todos os projetos são positivamente correlacionados. Ou seja, em nenhum dos pares de projetos observou-se correlação negativa. Contudo, as correlações entre os projetos variaram entre 0,01 (projetos independentes – p.e.. par de projetos P1 e P2) e 1 (projetos fortemente correlacionados – p.e.. par de projetos P1 e P14). É interessante notar que os projetos P1 e P14, ambos, visam o aumento da produção e tem os gastos de investimentos previstos em 2001 (ver tabela 3.1). Os projetos P1 e P2, por sua vez, possuem diferentes horizontes de investimento (ver tabela 3.1) Os valores apresentados na tabela 4.3.b , à semelhança de toda e qualquer matriz de covariância, são de difícil análise devido ao efeito escala da medida. A normalização dos mesmos, obtida na matriz de correlação, explicita de forma mais adequada a força do movimento conjunto entre os retornos dos projetos. 4.4 Definindo o conjunto de retornos requeridos do portfolio A definição dos retornos requeridos dos portfolios é necessária a fim de construir portfolios eficientes, com base na teoria de portfolios, que sejam comparáveis aos portfolios obtidos no rank de projetos. Antes porém, convém observar que o rank decrescente de projetos segundo o VPL/Ia estimado no EVTE não corresponde ao rank de projetos formado segundo VPL/Ia esperado obtido na simulação. A tabela 4.4 mostra as alterações no posicionamento dos projetos de um rank para o outro. 116 Tabela 4.4 – Rank de projetos segundo o VPL/Ia Simulado e o segundo o VPL/Ia estimado no EVTE 1o 2o 3o 4o 5o 6o 7o 8o 9o 10o 11o 12o 13o 14o Simulação de Monte Carlo Projeto VPL/ Ia P12 8,53 P2 7,32 P1 6,37 P6 6,08 P10 5,26 P3 5,13 P9 5,11 P7 4,62 P8 4,47 P14 4,13 P11 2,69 P4 2,67 P5 2,27 P13 1,85 1o 2o 3o 4o 5o 6o 7o 8o 9o 10o 11o 12o 13o 14o * Teste de Spearman (correlação do rank) : 0,398 Estimativa do EVTE Projeto VPL/Ia P12 9,22 P2 2,98 P4 2,77 P13 2,51 P6 2,31 P10 1,80 P8 1,65 P9 1,64 P1 1,51 P7 1,24 P11 1,20 P3 1,10 P14 0,74 P5 0,47 A tabela 4.4 indica que o projeto P12 se mantém na primeira posição tanto no rank do VPL/Ia estimado no EVTE e quanto no rank obtido a partir da simulação. Observamos, no entanto, acentuadas modificações no posicionamento dos projetos P4 (3o no rank segundo o EVTE e 12o no rank da Simulação), P1 (9o no rank segundo o EVTE e 3o no rank da Simulação) e P13 (4o no rank segundo o EVTE e 14o no rank da Simulação). Os projetos P2, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11, por sua vez, sofreram pequenas modificações de posicionamento nos ranks. O resultado do teste de Spearman (0,398) sinaliza que há uma baixa correlação entre os ranks. Há, portanto, necessidade de se definir que rank será utilizado para comparar os resultados obtidos nas metodologias (método de rank x método usado na teoria de portfolio). Tendo em vista que os dados disponíveis para os tomadores de decisão da empresa são oriundos do EVTE, o rank utilizado é o estabelecido conforme os VPL/Ia estimados nos 117 EVTE. Contudo, considerando-se que as estimativas do EVTE não avaliam o risco dos projetos, há necessidade de se recorrer aos parâmetros de retorno e risco gerados na simulação do VPL/Ia. Assim sendo, foram constituídos 14 portfolios conforme o rank de projetos segundo estimado nos EVTE, sendo o primeiro portfolio composto pelo projeto de maior VPL/Ia (P12), o segundo pelos dois projetos de maior VPL/Ia (P12 e P2) e assim sucessivamente até o décimo quarto portfolio, formado pelos 14 projetos. Os dados apresentados na tabela 4.5 mostram as medidas de retorno resultantes da simulação utilizando o posicionamento do rank de projetos definidos pelos valores estimados nos EVTE. Estes retornos esperados serão utilizados como retornos requeridos nos portfolios eficientes. Tabela 4.5 - Retorno dos portfolios (VPL/Ia) formados segundo o rank do VPL/Ia estimado nos EVTE dos projetos Projeto P12 P2 P4 P13 P6 P10 P8 P9 P1 P7 P11 P3 P14 P5 VPL/Ia acumulado simulado 8,525 7,477 4,884 4,391 5,997 5,756 5,392 5,332 5,336 5,296 5,198 5,197 5,195 4,178 Investimento Acumulado (100 US$) 1,12 8,38 18,19 21,73 416,64 618,14 861,62 1.096,20 1.100,20 1.165,24 1.211,02 1.228,96 1.231,23 1.888,40 A segunda coluna da tabela 4.5 mostra os valores dos VPL/Ia acumulado das carteiras formadas. Observa-se que o VPL/Ia acumulado (2a coluna), indicado na segunda linha da tabela 4.5, corresponde ao VPL/Ia da carteira formada pelos projetos P12 e P2. O VPL/Ia 118 acumulado (2a coluna), indicado na terceira linha desta tabela, corresponde ao portfolio formado pelos projetos P12 , P2 e P4. A tabela 4.5 mostra ainda um resultado interessante. O VPL/Ia acumulado nos portfolios formados pelos projetos P12/ P2/ P4 e P12/ P2/ P4/ P13 são menores do que o VPL/Ia acumulado dos portfolios que adicionam sucessivamente os projetos P6, P10, P8, P9, P1, P7, P11, P3 e P14. Esse fato ocorre em função das diferenças existentes no posicionamento dos projetos do rank simulado para o rank baseado na estimativa do EVTE. 4.5 4.5.1 A distribuição do recurso global de investimento entre os projetos Portfolios formados segundo o rank de projetos Uma das características inerente ao processo de priorização e ordenamento de projetos em rank é que as distribuições percentuais de recursos entre os projetos são determinadas no momento em que o rank é estabelecido. Isto ocorre devido à adoção da premissa de inclusão ou exclusão integral do projeto nos portfolios formados. Logo, o primeiro portfolio formado segundo o rank é constituído exclusivamente pelo projeto P12 , ao qual é alocado 100% do investimento global, isto é, 112 US$ mil (ver tabela 4.5). O segundo portfolio é formado pelos projetos P12 e P2, que demandam respectivamente 112 US$ mil e 726 US$ mil, totalizando um investimento global de 838 US$ mil. A parcela do investimento global alocada ao projeto P12 é de 13% (112/838) e ao projeto P2 é de 87% (726/838). Segundo este processo de distribuição de recursos, e por meio desta regra de inclusão ou exclusão, a tabela 4.6 mostra as alocações percentuais distribuídas a cada um dos 14 projetos constituídos em portfolios segundo o rank do VPL/Ia. 119 Tabela 4.6 – Percentual alocado aos projetos (P) nos portfolios (PF) formados com base no rank do VPL/Ia dos projetos Projeto PF14 P1 PF13 PF3 PF2 PF12 PF11 PF10 PF8 PF9 0% PF7 0% PF6 0% PF5 0% PF4 0% PF1 0% P2 P3 87% 40% 33% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 0% 1% 54% 45% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% P4 P5 P6 95% 64% P7 P8 46% 36% 36% 34% 33% 32% 32% 35% 21% 28% 22% 22% 6% 21% 5% 20% 5% 20% 5% 20% 3% 13% 21% 21% 20% 19% 19% 19% 12% P9 P10 P11 P12 P13 P14 100% 13% 6% 5% 16% 0% 1% 33% 23% 18% 18% 17% 17% 4% 16% 4% 16% 4% 11% 2% 0% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 120 4.5.2 Portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto de ativos A formação de portfolios eficientes de média-variância sem restrição de venda a descoberto é uma abordagem que permite alcançar as melhores relações retorno -risco possíveis admitindo-se um conjunto de projetos potenciais. Esta abordagem possui um caráter estritamente de pesquisa, tendo em vista que a possibilidade de venda a descoberto de ativos reais é improvável. Portanto, os resultados obtidos nesta seção prestam-se tão somente a realização de comparações teóricas, sem o correspondente compromisso com a sua exeqüibilidade prática. Mais adiante, na seção 4.5.3, a admissibilidade de venda a descoberto é suprimida. Os portfolios eficientes de média- variância são obtidos por meio da solução numérica do método de programação quadrática, sendo que n n a função objetivo é : min σ 2 (rp) = Σ Σ [ xi.xj.σ(ri,rj)] + b. [E(R*p)- Σ xi. E(ri)], j=1 i=1 onde ´b` é multiplicador lagrangian ; ´n` é o número de ativos e E(R*p) é a expectativa de retorno requerida do portfolio E (ri) é o retorno esperado no ativo ´i` xi é peso alocado ao ativo ´i` xj é o peso alocado ao ativo ´j` e σ(ri,rj) é a covariância entre os retornos dos ativos ´i` e ´j` n e a restrição é : Σ xi = 1 i=1 As alocações eficientes (xi) do investimento global entre os projetos são mostradas tabela 4.7 a cada nível de retorno requerido, estabelecido na seção 4.4. 121 Tabela 4.7 – Percentual do capital global alocado aos projetos (P) nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto (PFE) Portfolio Retorno Risco PFE1 PFE2 PFE3 PFE4 PFE5 PFE6 PFE7 PFE8 PFE9 PFE10 PFE11 PFE12 PFE13 PFE14 4,18 4,39 4,88 5,19 5,20 5,20 5,30 5,33 5,34 5,39 5,76 6,00 7,48 8,53 2,38 2,48 2,70 2,85 2,85 2,85 2,89 2,91 2,91 2,94 3,11 3,22 3,90 4,39 Peso P1 Peso P2 Peso P3 Peso P4 Peso P5 Peso P6 Peso P7 Peso P8 Peso P9 Peso P10 Peso P11 Peso P12 Peso P13 Peso P14 5% 6% 9% 10% 10% 10% 10% 10% 10% 11% 13% 14% 22% 27% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 0% 1% 1% 1% 1% 1% 1% 1% -3% -4% -4% -4% -4% -4% -4% -4% -4% -5% -5% -5% -7% -8% -20% -20% -21% -21% -21% -21% -21% -21% -21% -21% -21% -21% -23% -24% -100% -108% -127% -139% -139% -139% -146% -146% -146% -146% -160% -170% -227% -267% -13% -13% -16% -18% -18% -18% -18% -18% -18% -18% -20% -20% -28% -33% 62% 65% 71% 75% 75% 75% 77% 77% 77% 77% 82% 85% 104% 117% 28% 28% 33% 36% 36% 36% 37% 37% 37% 37% 41% 39% 55% 64% 36% 40% 47% 52% 52% 52% 55% 55% 56% 55% 60% 67% 87% 103% -32% -33% -35% -36% -36% -36% -38% -37% -37% -37% -38% -42% -45% -50% 86% 90% 97% 101% 101% 101% 104% 104% 104% 104% 109% 114% 135% 150% 2% 3% 5% 6% 6% 6% 6% 6% 6% 7% 8% 9% 15% 19% 52% 51% 49% 47% 47% 47% 47% 47% 47% 46% 45% 43% 37% 32% -4% -5% -8% -10% -10% -10% -10% -10% -10% -11% -13% -14% -24% -31% 122 As distribuições, mostradas na tabela 4.7, indicam que os projetos P3, P4, P5, P6, P10 e P14 sempre assumem posições negativas nos portfolios eficientes e os projetos P1, P2, P7, P8, P9, P11, P12, e P13 sempre assumem posições positivas. No conjunto dos projetos que assumem posições positivas, P7, P9 e P11 são dominantes e assumem posições crescentes à medida que aumenta o retorno requerido do portfolio. No conjunto dos projetos que assumem posições negativas, os projetos P4, P5 e P10 são dominantes e assumem posições crescentes (em módulo) à medida que aumenta o retorno requerido do portfolio. O projeto P5, destaca-se dos demais, ao atingir uma posição negativa de 267% no portfolio PFE14. A tabela 4.8 mostra ainda que o projeto P2 possui uma baixa participação (percentual alocado) em todos os portfolios eficientes apesar de possuir um elevado retorno esperado (ver tabela 4.2). Um dos motivos para isto pode ser o alto nível de risco do projeto. Quando analisamos a participação de P5 nos portfolios eficientes, verificamos o oposto. O projeto P5, que possui elevadas correlações com muitos dos projetos da carteira potencial, apresenta o segundo menor risco entre todos os projetos. Desta forma é possível que P5 esteja “contribuindo” para alavancar recursos para os projetos que possuem uma maior retorno esperado (P7 e P9). De modo semelhante, P10 é um projeto que possui correlações elevadas com os projetos P7, P9 e P11, sugerindo-se que o mesmo esteja contribuindo para alavancar as posições assumidas nestes projetos. Uma questão para a qual estas alavancagens chamam atenção trata da identificação das características comuns aos projetos P7, P9 e P11, que os leva a assumirem posições positivas crescentes à medida que cresce o retorno requerido do portfolio. Da tabela 4.2 é possível notar que estes três projetos possuem elevadas relações retorno-risco (três das quatro maiores), o que representa contribuir com parcelas maiores de retorno a cada unidade de risco. Em segundo lugar, os projetos P7 e P11 possuem uma característica adicional : um baixo nível de risco individual (variância). 123 Dentre todas as alocações efetuadas nos portfolios eficientes, destaca-se a do portfolio PFE14. Nele, o máximo retorno requerido (VPL requerido = 8,53) é atingido mediante a participação de todos os projetos, seja contribuindo com posições a descobertos (curtas) seja com posições longas. Sem dúvida, isto ocorre a fim de atender à função objetivo, que é a de minimizar o risco do portfolio. Este forma de alocação difere da utilizada na metodologia de rank, onde a participação do projeto P12 resulta em igual retorno esperado (VPL/Ia = 8,53). 4.5.3 Portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto de ativos A abordagem que considera restrição quanto à venda a descoberto possui estreita ligação com a realidade dos ativos reais. Conseqüentemente sua relevância prática é de particular interesse e análise. Preliminarmente sabe-se que as alocações percentuais dos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto irão diferir das alocações nos portfolios onde tal restrição inexiste visto que vários projetos assumiram posições curtas nos portfolios eficientes formados sem restrição. Os portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto são obtidos por meio da solução numérica do método de programação quadrática, sendo que n n a função objetivo é : min σ2 (rp) = Σ Σ [ xi.xj.σ(ri,rj)] + b. [E(R*p)- Σ xi. E(ri)], j=1 i=1 onde ´b` é multiplicador lagrangian ; ´n` é o número de ativos e E(R*p) é a expectativa de retorno requerida do portfolio E (ri) é o retorno esperado no ativo ´i` xi é peso alocado ao ativo ´i` xj é o peso alocado ao ativo ´j` e σ(ri,rj) é a covariância entre os retornos dos ativos ´i` e ´j` n e as restrições são : Σ xi = 1 i=1 e xi ≥0 124 As distribuições do investimento global nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto são mostradas na tabela 4.8. A partir dela observamos que os projetos P1, P3, P4, P5, P6, P8, P9, P13 e P14 não participam em nenhum dos portfolios “eficientes” formados. Todos esses projetos estão entre os 11 projetos de menores relações retorno-risco (ver tabela 4.2). Nota-se que, do conjunto de projetos que assumiam posições a descoberto nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto, apenas o projeto P10 teve participação nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto . Os resultados mostram também que apenas 5 projetos participam dos portfolios “eficientes” formados : P2, P7, P10, P11 e P12 . Observa-se ainda que os projetos P7 e P11 são dominantes quando o retorno requerido é baixo ou médio (<5) . À medida que o retorno requerido se eleva, cresce a participação dos projetos P10 e P12 nos portfolios eficientes formados. A razão para a dominância dos projetos P7 e P11 no terço inicial parece estar associada a uma combinação de fatores. Primeiramente nota-se que o projeto P7 possui um baixo risco (4o projeto de menor risco - VPL/Ia) e a melhor relação retorno-risco de todos os projetos (ver tabela 4.2). Logo, sugere-se que sua participação venha a ser crescente conforme aumenta o retorno requerido do portfolio. A participação do projeto P7 nos portfolios eficientes começa a se reduzir no momento em que sua contribuição para o retorno requerido não é suficiente para sustentar seu crescimento. Neste momento, o projeto P7 “abre espaço” para o projeto P10, visto que este possui um maior retorno esperado. O projeto P11, por sua vez, possui participação dominante no portfolio inicial (menor retorno requerido) e, na medida em que o retorno requerido cresce, diminui sua participação nos portfolios eficientes até a sua completa exclusão no portfolio final (de maior retorno requerido). Dentre os fatores que podem explicar este comportamento destaca-se o baixo retorno esperado no projeto P11. 125 Tabela 4.8 – Percentual do capital global alocado aos projetos (P) nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto (PFECR) Portfolio Retorno PFECR1 PFECR2 PFECR3 PFECR4 PFECR5 PFECR6 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 4,18 4,39 4,88 5,19 5,20 5,20 5,30 5,33 5,34 5,39 5,76 6,00 7,48 8,53 Risco 2,60 2,74 3,08 3,32 3,32 3,32 3,39 3,42 3,42 3,47 3,76 3,99 6,43 9,08 Peso P1 Peso P2 Peso P3 Peso P4 Peso P5 Peso P6 Peso P7 Peso P8 Peso P9 Peso P10 Peso P11 Peso P12 Peso P13 Peso P14 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 2% 2% 2% 2% 3% 3% 3% 3% 4% 5% 7% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 39% 47% 63% 66% 66% 66% 67% 67% 67% 67% 45% 25% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 5% 5% 5% 8% 8% 8% 10% 30% 46% 29% 0% 48% 40% 20% 9% 9% 9% 6% 5% 5% 3% 0% 0% 0% 0% 12% 13% 15% 17% 17% 17% 17% 17% 17% 17% 21% 24% 63% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 106 A tabela 4.8 mostra ainda que a participação do projeto P12 cresce à medida que aumenta o retorno requerido do portfolio. Observando-se os parâmetros (retorno esperado e risco) do projeto P12 9 é possível sugerir que sua participação seja desejável e importante apenas no momento em que o retorno requerido é tão elevado que os demais projetos possam oferecer pouca contribuição. Aliás é isto que ocorre no portfolio “eficiente” PFECR14, onde a participação do projeto P12 é exclusiva, ou seja, 100%. Observado-se que o projeto P10 possui uma alta relação retorno-risco (3a maior) e que sua participação nos portfolios “eficientes” cresce com o aumento o retorno requerido. Este comportamento está relacionado também com a alta correlação que o projeto possui com os projetos que dominam o terço inicial de retornos requeridos (ρP7 P10 = 0,92 e ρP11 P10 = 0,81) e com as baixas correlações com os projetos que dominam o terço final (ρP2 P10 = 0,08 e ρP12 P10 = 0,13). Com relação do projeto P2, sua participação sempre foi pouco significativa. Os motivos para isto podem estar relacionados a três fatores : seu alto nível de risco, sua baixa relação retorno-risco e sua alta correlação com os projetos dominantes P7 e P11 (ver tabela 4.3.a). A participação do projeto P2 só cresce quando estes projetos (P7 e P11) reduzem suas participações nos portfolios formados. Finalmente, destaca-se que o comportamento das participações dos projetos P7, P9 e P11 nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto diferiu expressivamente das participações desses projetos nos portfolios eficientes sem esta restrição. Nestes, suas participações sempre foram positivas e crescentes. A partir do momento em que a venda a descoberto é proibida, suas participações decrescem conforme aumenta o retorno requerido do portfolio. O projeto P9 sequer participa nos portfolios “eficientes” formados com restrição de venda a descoberto. 9 P12 é o projeto de maior retorno esperado do conjunto de 14 projetos (ver tabela 4.2) 107 4.6 O retorno esperado e o risco dos portfolios formados 4.6.1 Obtendo o risco dos projetos ordenados conforme rank do VPL/Ia A fim de determinar o risco das carteiras ordenadas segundo o rank do VPL/Ia, as alocações percentuais mostradas na tabela 4.6 são multiplicadas pela matriz de covariância. [risco do portfolio] = [pesos mostrados na tab. 4.6]´ . [matriz de covariância tab.4.3b] . [pesos mostrados na tab. 4.6] A tabela 4.9 mostra o risco e o retorno dos portfolios (PF) ordenados segundo o rank do VPL/Ia. Tabela 4.9 Retorno e risco do VPL/Ia dos portfolios ordenados segundo o rank do VPL/Ia Portfolios PF1 PF2 PF3 PF4 PF6 PF5 PF7 PF8 PF9 PF10 PF11 PF12 PF13 PF14 4.6.2 Retorno VPL/Ia 4,18 4,39 4,88 5,19 5,20 5,20 5,30 5,33 5,34 5,39 5,76 6,00 7,48 8,53 Risco VPL/Ia 3,76 7,47 8,47 4,48 4,48 4,46 4,59 4,69 4,70 4,86 5,04 6,21 11,40 9,08 Risco nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto A tabela 4.10 mostra os resultados (retorno e risco) dos portfolios eficientes considerando os retornos requeridos (E(R*p)) estabelecidos nos portfolios ordenados 108 segundo o rank do VP L/Ia. O risco dos portfolios eficientes é obtido por meio da expressão matricial : [risco do portfolio] = [pesos mostrados na tab. 4.7]´ . [matriz de covariância tab.4.3b] . [pesos mostrados na tab. 4.7] Tabela 4.10 – Retorno e risco do VPL/Ia dos portfolios eficientes Portfolio PFE1 PFE2 PFE3 PFE4 PFE5 PFE6 PFE7 PFE8 PFE9 PFE10 PFE11 PFE12 PFE13 PFE14 Retorno Requerido 4,18 4,39 4,88 5,19 5,20 5,20 5,30 5,33 5,34 5,39 5,76 6,00 7,48 8,53 Risco 2,38 2,48 2,70 2,85 2,85 2,85 2,89 2,91 2,91 2,94 3,11 3,22 3,90 4,39 Os resultados (retorno e risco) dos portfolios eficientes caracterizam a função quadrática na relação risco retorno, o que define uma taxa marginal decrescente do retorno em função do risco. 4.6.2.1 A Hipótese Ho1 e o teste de eficiência dos portfolios ordenadas A hipótese Ho1 deste estudo considera que há perda de eficiência das carteiras formadas com base no rank dos projetos segundo o VPL/Ia ao comparar os seus resultados (risco) com os obtidos nos portfolios eficientes de média-variância sem considerar restrição de venda a descoberto dos ativos reais. − Ho1 : Os portfolios formados com base no rank de projetos segundo o VPL/IA não são eficientes tomando como referencial os portfolios formados com base na teoria de portfolios sem restrição de venda a descoberto. 109 Com o fim de quantificar a perda de eficiência utilizou-se o teste de Wang (1998). Basicamente, o teste de Wang (1998) propõe três formas de medir a perda de eficiência. A primeira delas é um teste de comparação de médias no qual se mede o retorno de dois portfolios diferentes que possuem o mesmo nível de risco (σp). O teste parte da premissa que, se as eficiências dos dois portfolios são iguais, esta diferença deve ser nula. Matematicamente a expressão que mostra esta diferença é a seguinte: - 1a. forma : RPFE – RPF | σp, onde RPFE é o retorno do portfolio eficiente de Markowitz RPF é o retorno da carteira formada segundo o rank e σp o risco do portfolio As segunda e terceira formas do teste são conceitualmente equivalentes e comparam o nível de risco de dois portfolios diferentes que possuem o mesmo retorno esperado. O tratamento matemático é o seguinte : - 2a. forma : σPFE/σPF | Rp - 3a. forma : ln σPF – ln σPFE | Rp , onde σPFE é o risco do portfolio eficiente σPF é o risco da carteira segundo o rank e Rp é o retorno requerido do portfolio Do ponto de vista da 2a forma do teste de Wang, as carteiras possuem eficiências similares se o valor médio for igual a 100%. Quanto menor o valor médio obtido menor a eficiência dos portfolios formados segundo o rank de projetos. Na 3a forma do teste, o critério de análise é o oposto : quanto menores os valores médios obtidos maior a eficiência. Ou seja, segundo a 3a forma do teste, eficiências iguais resultam em valores médios nulos. 110 O desvio padrão dos resultados obtidos no teste indica a significância do resultado médio encontrado. O pressuposto do teste é de normalidade amostral. Neste estudo, a comparação dos resultados obtidos nos portfolios formados segundo o rank, utiliza a 2a forma do teste de Wang (1998), o que implica em avaliar comparativamente o risco obtido dos 28 portfolios (14 eficientes e 14 segundo o rank) que possuem os mesmos retornos requeridos (ver tabelas 4.9 e 4.10). A tabela 4.11 a seguir coloca os dois resultados (retorno e risco dos portfolios formados) lado a lado e nas duas últimas colunas são mostrados os resultados da 2a forma do teste de Wang (1998). Nas duas últimas linhas desta tabela mostramos o grau médio de eficiência dos portfolios formados segundo o rank e o seu respectivo desvio padrão. Tabela 4.11 – Resultado do teste de Wang - Perda de eficiência dos portfolios rank (referência : portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto) VPL/Ia dos Portfolios VPL/Ia dos Portfolios Rank Eficientes Portfolio Retorno Risco Retorno Risco PF1 4,18 3,76 4,18 2,38 PF2 4,39 7,47 4,39 2,48 PF3 4,88 8,47 4,88 2,70 PF4 5,19 4,48 5,19 2,85 PF5 5,20 4,48 5,20 2,85 PF6 5,20 4,46 5,20 2,85 PF7 5,30 4,59 5,30 2,89 PF8 5,33 4,69 5,33 2,91 PF9 5,34 4,70 5,34 2,91 PF10 5,39 4,86 5,39 2,94 PF11 5,76 5,04 5,76 3,11 PF12 6,00 6,21 6,00 3,22 PF13 7,48 11,40 7,48 3,90 PF14 8,53 9,08 8,53 4,39 Eficiência média dos portfolios rank Desvio padrão da eficiência dos portfolios rank Teste de Wang (%) σport / σrank 63,29% 33,16% 31,93% 63,51% 63,55% 63,92% 63,06% 62,02% 61,94% 60,45% 61,59% 51,77% 34,25% 48,35% 54,48% 12,47% Conforme o resultado do teste de Wang (1998), mostrado na tabela 4.11, a “eficiência” média obtida nos portfolios formados com base no rank corresponde a 54,48% da eficiência dos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto. O desvio padrão é de 12,47%, o que sugere uma baixa probabilidade (0,01%) de que as 111 eficiências das duas carteiras (portfolios eficientes de média-variância e portfolios formados segundo o rank de projetos) sejam iguais do ponto de vista do risco. O resultado do teste sugere, portanto, que portfolios formados segundo o rank do VPL/Ia dos projetos apresentam uma perda média de eficiência de 45,52% com relação aos portfolios eficientes de média-variância sem restrição de venda a descoberto. O gráfico 4.1 permite visualizar a ineficiência dos portfolios formados segundo o rank do VPL/Ia . Os pontos indicados no interior da fronteira eficiente representam os portfolios formados segundo o rank e sugerem que estes possuem um elevado nível de risco se comparados aos portfolios na fronteira eficiente. 112 4.6.3 Risco nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto Os resultados (VPL/Ia esperado e desvio padrão do VPL/Ia) obtidos dos portfolios eficientes de média- variância, considerando os 14 retornos requeridos estabelecidos e a restrição de venda a descoberto, são mostrados na tabela 4.12. O risco dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto é obtido por meio da expressão: [risco do portfolio] = [pesos mostrados na tab. 4.8]´ . [matriz de covariância tab.4.3b] . [pesos mostrados na tab. 4.8] Tabela 4.12 – Retorno e risco (VPL/Ia) dos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto de ativos Portfolio PFECR1 PFECR2 PFECR3 PFECR4 PFECR5 PFECR6 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 Retorno Requerido 4,18 4,39 4,88 5,19 5,20 5,20 5,30 5,33 5,34 5,39 5,76 6,00 7,48 8,53 Risco 2,60 2,74 3,08 3,32 3,32 3,32 3,39 3,42 3,42 3,47 3,76 3,99 6,43 9,08 A tabela 4.12 mostra que os resultados (risco) são menores dos que os obtidos nos portfolios formado segundo o rank considerando-se o mesmo retorno esperado, à exceção do portfolio PFECR14. As diferenças observadas estão diretamente relacionadas às alterações nas alocações percentuais distribuídas aos projetos. 4.6.3.1 A Hipótese Ho2 e o teste de eficiência dos portfolios ordenadas A hipótese Ho2 difere da hipótese Ho1 ao introduzir a restrição quanto à venda a descoberto : 113 − Ho2 : Os portfolios formados com base no rank de projetos segundo o VPL/IA não são eficientes tomando como referencial os portfolios formados com base na teoria de portfolios com restrição de venda a descoberto. Conforme Haugen (1997) a restritividade quanto à venda a descoberto pode provocar retração da fronteira eficiente. O resultados mostrados nas tabelas 4.10 e 4.12 evidenciam que houve a retração. Nesta seção avaliamos com que intensidade a retração observada reduziu a perda de eficiência dos portfolios formados com base no rank com relação aos portfolios “eficientes” com restrição da venda a descoberto. Neste caso a redução da perda de eficiência pode ser parcial ou integral. Analogamente, com o fim de quantificar esta perda de eficiência dos portfolios formados com base no rank foi utilizada a 2a forma do teste de Wang (1998) descrito na seção 4.6.2.1. Os resultados são mostrados na tabela 4.13. Tabela 4.13 – Resultado do teste de Wang - Perda de eficiência dos portfolios rank (referência : portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto) VPL/Ia dos Portfolios VPL/Ia dos Portfolios Rank Eficientes com retrição Portfolio Retorno Risco Retorno Risco PFECR1 4,18 3,76 4,18 2,60 PFECR2 4,39 7,47 4,39 2,74 PFECR3 4,88 8,47 4,88 3,08 PFECR4 5,19 4,48 5,19 3,32 PFECR5 5,20 4,48 5,20 3,32 PFECR6 5,20 4,46 5,20 3,32 PFECR7 5,30 4,59 5,30 3,39 PFECR8 5,33 4,69 5,33 3,42 PFECR9 5,34 4,70 5,34 3,42 PFECR10 5,39 4,86 5,39 3,47 PFECR11 5,76 5,04 5,76 3,76 PFECR12 6,00 6,21 6,00 3,99 PFECR13 7,48 11,40 7,48 6,43 PFECR14 8,53 9,08 8,53 9,08 Eficiência média dos portfolios rank Desvio padrão da eficiência dos portfolios rank Teste de Wang (%) σport / σrank 69,14% 36,64% 36,42% 73,99% 74,04% 74,48% 73,95% 72,89% 72,83% 71,32% 74,65% 64,24% 56,39% 99,95% 67,92% 16% Conforme o resultado do teste de Wang (1998), mostrado na tabela 4.13, a “eficiência” média obtida nos portfolios formados com base no rank equivale a 67,92% da eficiência dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto. O desvio padrão é de 114 16%, o que sugere uma baixa probabilidade (2,37%) de que as eficiências das duas carteiras (portfolios eficientes de média- variância e rank) sejam iguais do ponto de vista do risco. O resultado do teste sugere, portanto, que portfolios formados segundo o rank do VPL/Ia dos projetos apresentam uma perda média de eficiência de 32,08% comparativamente aos portfolios formados com base na teoria de portfolios com restrição de venda a descoberto. O gráfico 4.2 permite visualizar a ineficiência dos portfolios formados segundo o rank quando é introduzida restrição quanto à venda a descoberto. Os pontos no interior da fronteira eficiente sugerem que os portfolios formados segundo o rank possuem um nível de risco superior ao risco dos portfolios “eficientes”, mantido constante o retorno requerido. 115 4.6.4 Comparando portfolios eficientes com e sem restrição de venda a descoberto Nesta seção verificamos o grau de eficiência dos portfolios formados com restrição de venda a descoberto em relação à eficiência dos portfolios onde tal restrição inexiste. A tabela 4.14 (teste de Wang) apresenta a quantificação da perda de eficiência e o gráfico 4.3 auxilia na visualização da mesma. Tabela 4.14 – Resultado do teste de Wang - Perda de eficiência dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto (referência : portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto) VPL/Ia dos Portfolios VPL/Ia dos Portfolios Eficientes com restrição Eficientes sem restrição de venda curta de venda curta Portfolio Retorno Risco Retorno Risco PFECR1 4,18 2,60 4,18 2,38 PFECR2 4,39 2,74 4,39 2,48 PFECR3 4,88 3,08 4,88 2,70 PFECR4 5,19 3,32 5,19 2,85 PFECR5 5,20 3,32 5,20 2,85 PFECR6 5,20 3,32 5,20 2,85 PFECR7 5,30 3,39 5,30 2,89 PFECR8 5,33 3,42 5,33 2,91 PFECR9 5,34 3,42 5,34 2,91 PFECR10 5,39 3,47 5,39 2,94 PFECR11 5,76 3,76 5,76 3,11 PFECR12 6,00 3,99 6,00 3,22 PFECR13 7,48 6,43 7,48 3,90 PFECR14 8,53 9,08 8,53 4,39 Eficiência média dos portfolios “eficiente” com restrição Desvio padrão da eficiência dos portfolios “eficiente” Teste de Wang (%) σport / σrank 91,5% 90,5% 87,7% 85,8% 85,8% 85,8% 85,3% 85,1% 85,1% 84,8% 82,5% 80,6% 60,7% 48,4% 81,4% 12,0% Considerado-se o conjunto de projetos proposto, a eficiência média dos portfolios “eficientes” formados na presença de restrição de venda a descoberto equivale a 81,4% da eficiência obtida pelos portfolios eficientes sem esta restrição, conforme teste de Wang. Isto representa 18,6% de perda de eficiência. Com relação ao desvio padrão de 12% (6a.coluna, ultima linha), este aponta para uma probabilidade de 5,98% de que as eficiências sejam iguais do ponto de vista do risco. 116 117 4.7 Portfolios eficientes (VPL/Ia) : conseqüências práticas sobre outras medidas de rentabilidade do portfolio Conforme já foi descrito na seção 2, o ativo real pode ter sua rentabilidade medida por meio de indicadores monetários (p.ex.:VPL) ou de índices adimensionais (p.ex. TIR, VPL/Ia). Na aplicação da teoria de portfolio é essencial que a medida de retorno seja adimensional a fim de não tornar o nível de investimento alocado ao projeto uma variável endógena ao modelo de eficiência. Entretanto, não é evidente até este momento como se refletem os resultados dos portfolios eficientes (VPL/Ia) sobre as medidas de rentabilidade monetárias dos projetos (p.e.: VPL). Nesta seção avaliamos este impacto. Considerando-se que o investimento alocado ao projeto é uma variável relevante para as medidas de rentabilidade monetárias10 , o investimento global a ser alocado ao portfolio torna-se uma informação essencial nas distribuições percentuais. É lícito considerarmos que cada projeto possui um nível máximo de investimentos até onde retornos monetários (VPL) podem ser considerados proporcionais aos investimentos direcionados ao projeto. Este valor é o investimento requerido pelo projeto. Parece razoável admitir que a partir deste limite máximo de investimento requerido, cada unidade monetária aplicada ao projeto resulta em desperdício, ou seja, em perda do valor monetário esperado do projeto. Ou seja, a partir deste ponto a denominada CRS não é mais válida. Desta forma, quando analisamos o impacto dos resultados dos portfolios eficientes (VPL/Ia) formados sobre o VPL das carteiras, temos que determinar o montante máximo de investimentos a ser alocado aos mesmos sem que disto resultem desperdícios monetários nos projetos que constituem o portfolio. Dado que as distribuições percentuais são conhecidas e que investimento requerido em cada projeto também, resta avaliar qual é o montante máximo de investimentos a alocar em cada um dos 14 portfolios eficientes formados, considerando-se o requisito de não admitir desperdício. 10 Neste estudo, a adoção da premissa denominada CRS implica em termos o VPL do projeto linearmente proporcional ao investimento alocado ao projeto. 118 O nível máximo de investimento a ser alocado ao projeto de modo a que não ocorra desperdício é obtido da expressão : IPImáx. = IPIreq. xPief. , onde IPIreq é a demanda por investimento do projeto PI ; xPief é o percentual eficiente alocado ao projeto PI e IPimáx é o investimento máximo a ser alocado de modo a não ocorrer desperdício no projeto PI Por exemplo : supondo-se que em um portfolio eficiente hipotético PEH1 foram distribuídos recursos a 3 projetos nas proporções : P1=20%, P2=30% e P3=50%, e que a demanda por investimentos nestes três projetos é de $250, $300 e $400 respectivamente, teremos os seguintes montantes globais máximos a serem alocados ao portfolio de modo a que não ocorram desperdícios nos projetos : $1250 no projeto P1 ($250/20%), $1000 no projeto P2 ($300/30%) e $800 no projeto P3 ($400/50%). Naturalmente, para que não venha a ocorrer desperdício em nenhum dos projetos, o montante global máximo alocado ao portfolio não pode exceder o menor dos montantes máximos calculados, neste exemplo, $800 obtidos no projeto P3. Assim sendo, admitindo-se a distribuição eficiente do portfolio hipotético PEH1, a parcela de investimento alocada ao projeto P1 é de $160 (20% x $800), ao projeto P2 $240 (30% x $800) e ao projeto P3 $400 (50% x $800). O investimento adicional requerido pelos projetos P1 ($90=$250-$160) e P2 ($60=$240-$300), podem ser obtidos por meio de parceiros. Ao estabelecer essas parcerias, a empresa estará não apenas repartindo os investimentos, mas também os resultados do projeto. Do ponto de vista do VPL, adotar este critério de alocação, implica em obter apenas 64% ($160/$250) do VPL esperado no projeto P1, 80% ($240/$300) do VPL esperado no projeto P2 e 100% ($400/$400) do VPL esperado no projeto P3. Supondo-se ainda que o VPL esperado do projeto P1 seja $1000, do projeto P2 $1200 e do projeto P3 $1500, o VPL da carteira eficiente formada, sem desperdício, equivale a $3100 (64% x $1000 + 80% x $1200 + 100% x $1500). Este mesmo roteiro de cálculo será seguido em todos os 14 portfolios eficientes. 119 Dado a natureza pragmática desta análise, os portfolios “eficientes” avaliados são aqueles formados com a restrição de venda a descoberto. A tabela 4.15 mostra o nível de investimento requerido por cada projeto e as respectivas distribuições percentuais nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto. Por meio da expressão que determina o IPImáx encontramos o montante global máximo de investimentos que atende ao requisito de não desperdício (ver última linha da tabela 4.16). Os valores dos montantes globais máximos de investimentos multiplicados pelas alocações eficientes definem os investimentos alocados a cada projeto em cada portfolio (ver tabela 4.17). Das relações entre estes investimentos eficientes e os investimentos requeridos pelos projetos resultam as frações percentuais alocadas aos mesmos (ver tabela 4.18). Finalmente, a fim de se obter o VPL dos portfolios eficientes, as frações percentuais alocadas aos projetos são multiplicadas pelo VPL esperado em cada projeto e, do somatório destes VPL, resulta o VPL de cada portfolio eficiente. A tabela 4.19 mostra o VPL dos portfolios eficientes com restrição de venda descoberto considerando o não desperdício. Os resultados são de significativa importância, pois mostram como se comporta o VPL das carteiras eficientes formadas. Obviamente, tanto o requisito que impede desperdícios quanto à introdução de restrições de VPL mínimo podem modificar os resultados obtidos, tornando-os mais atrativos do ponto de vista do crescimento do valor da empresa. Entretanto, a eliminação do requisito de “não desperdício” implica em mensurar a perda de VPL nos projetos em que tais desperdícios ocorreriam, o que não é objeto deste estudo. 120 Tabela 4.15 - Investimento requerido a cada projeto (P) e percentuais alocados aos projetos nos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto (PFECR) Investimento Requerido no projeto (100 US$) Portfolio ===> Retorno Risco (VPL/Ia) (VPL/Ia) PFECR1 4,18 2,60 PFECR2 4,39 2,74 PFECR3 4,88 3,08 PFECR4 5,19 3,32 PFECR5 5,20 3,32 PFECR6 5,20 3,32 PFECR7 5,30 3,39 PFECR8 5,33 3,42 PFECR9 5,34 3,42 PFECR10 5,39 3,47 PFECR11 5,76 3,76 PFECR12 6,00 3,99 PFECR13 7,48 6,43 PFECR14 8,53 9,08 4,00 7,26 17,94 9,81 657,17 394,92 65,04 243,48 234,57 201,50 45,78 1,12 3,54 2,27 P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 - - - - - - - - - 0% 0% 1% 2% 2% 2% 2% 3% 3% 3% 3% 4% 5% 7% 0% 0% 0% 0% 0% 39% 47% 63% 66% 66% 66% 67% 67% 67% 67% 45% 25% 0% 0% 0% 5% 5% 5% 8% 8% 8% 10% 30% 46% 29% 0% 48% 40% 20% 9% 9% 9% 6% 5% 5% 3% 0% 12% 13% 15% 17% 17% 17% 17% 17% 17% 17% 21% 24% 63% 100% 0% 0% 121 Tabela 4.16 – Montante (investimento) global máximo a ser alocado aos projetos e aos portfolios eficientes de forma que não haja desperdício dos investimentos alocados aos projetos Projeto P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Investimentos requeridos PFECR1 Portfolios Eficientes com restrição de venda a descoberto PFECR2 PFECR3 PFECR4 PFECR5 PFECR6 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 4,00 7,26 17,94 9,81 657,17 394,92 65,04 243,48 234,57 201,50 45,78 1,12 3,54 2,27 1.842,01 164,67 95,35 9,28 - 889,37 139,56 115,82 8,60 - 404,38 103,11 230,64 7,35 - 294,81 98,02 3.712,58 499,57 6,77 - 294,76 98,02 3.707,60 501,56 6,76 - 294,54 98,03 3.707,88 502,41 6,75 - 271,06 97,25 2.679,83 781,81 6,58 - 263,32 96,98 2.431,09 980,06 6,52 - 262,55 96,93 2.410,41 1.007,88 6,52 - 251,58 96,50 2.113,29 1.691,75 6,43 - 184,51 145,61 672,21 5,24 - 155,23 260,97 438,88 4,59 - 99,33 685,92 1,77 - 1,12 - Montante Máx. (100 US$) 9,28 8,60 7,35 6,77 6,76 6,75 6,58 6,52 6,52 6,43 5,24 4,59 1,77 1,12 122 Tabela 4.17 – Investimento máximo alocado aos projetos nos portfolios eficientes sem que venha a ocorrer desperdício Projeto P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Investimentos requeridos PFECR1 PFECR2 PFECR3 PFECR4 Portfolios Eficientes com restrição de venda a descoberto PFECR5 PFECR6 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 4,00 7,26 17,94 9,81 657,17 394,92 65,04 243,48 234,57 201,50 45,78 1,12 3,54 2,27 0,00 0,04 0,00 0,00 0,00 0,00 3,67 0,00 0,00 0,00 4,46 1,12 0,00 0,00 0,00 0,07 0,00 0,00 0,00 0,00 4,01 0,00 0,00 0,00 3,40 1,12 0,00 0,00 0,00 0,13 0,00 0,00 0,00 0,00 4,64 0,00 0,00 0,00 1,46 1,12 0,00 0,00 0,00 0,17 0,00 0,00 0,00 0,00 4,49 0,00 0,00 0,37 0,62 1,12 0,00 0,00 0,00 0,17 0,00 0,00 0,00 0,00 4,48 0,00 0,00 0,37 0,62 1,12 0,00 0,00 0,00 0,17 0,00 0,00 0,00 0,00 4,48 0,00 0,00 0,37 0,62 1,12 0,00 0,00 0,00 0,18 0,00 0,00 0,00 0,00 4,40 0,00 0,00 0,49 0,39 1,12 0,00 0,00 0,00 0,18 0,00 0,00 0,00 0,00 4,37 0,00 0,00 0,54 0,30 1,12 0,00 0,00 0,00 0,18 0,00 0,00 0,00 0,00 4,37 0,00 0,00 0,54 0,30 1,12 0,00 0,00 0,00 0,19 0,00 0,00 0,00 0,00 4,33 0,00 0,00 0,61 0,17 1,12 0,00 0,00 0,00 0,21 0,00 0,00 0,00 0,00 2,34 0,00 0,00 1,57 0,00 1,12 0,00 0,00 0,00 0,21 0,00 0,00 0,00 0,00 1,14 0,00 0,00 2,11 0,00 1,12 0,00 0,00 0,00 0,13 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,52 0,00 1,12 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,12 0,00 0,00 Montante Máx. (100 US$) 9,28 8,60 7,35 6,77 6,76 6,75 6,58 6,52 6,52 6,43 5,24 4,59 1,77 1,12 123 Tabela 4.18 – Percentuais (frações) a serem alocados pela empresa nos projetos de modo a evitar desperdícios Projeto P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Investimentos requeridos PFECR1 PFECR2 PFECR3 4,00 0% 0% 0% 7,26 1% 1% 2% 17,94 0% 0% 0% 9,81 0% 0% 0% 657,17 0% 0% 0% 394,92 0% 0% 0% 65,04 6% 6% 7% 243,48 0% 0% 0% 234,57 0% 0% 0% 201,50 0% 0% 0% 45,78 10% 7% 3% 1,12 100% 100% 100% 3,54 0% 0% 0% 2,27 0% 0% 0% Montante Máx. (100 US$) 9,28 8,60 7,35 Portfolios Eficientes com restrição de venda a descoberto PFECR4 PFECR5 0% 0% 2% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 7% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 6,77 6,76 PFECR6 0% 2% 0% 0% 0% 0% 7% 0% 0% 0% 1% 100% 0% 0% 6,75 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 2% 2% 2% 3% 3% 3% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 7% 7% 7% 7% 4% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 1% 1% 0% 0% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0% 0% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 0% 6,58 6,52 6,52 6,43 5,24 4,59 1,77 1,12 124 Tabela 4.19 – VPL dos projetos e dos portfolios eficientes considerando os percentuais alocados pela empresa nos projetos de forma a impedir que ocorram desperdícios de investimento nos mesmos Projeto P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 VPL total VPL (100 US$) PFECR1 PFECR2 PFECR3 PFECR4 PFECR5 PFECR6 PFECR7 PFECR8 PFECR9 PFECR10 PFECR11 PFECR12 PFECR13 PFECR14 6,06 21,62 19,78 27,16 308,82 914,03 80,36 401,39 385,35 362,35 55,03 10,36 8,88 1,68 0,00 0,11 0,00 0,00 0,00 0,00 4,53 0,00 0,00 0,00 5,36 10,36 0,00 0,00 0,00 0,21 0,00 0,00 0,00 0,00 4,95 0,00 0,00 0,00 4,09 10,36 0,00 0,00 0,00 0,39 0,00 0,00 0,00 0,00 5,73 0,00 0,00 0,00 1,75 10,36 0,00 0,00 0,00 0,50 0,00 0,00 0,00 0,00 5,55 0,00 0,00 0,66 0,75 10,36 0,00 0,00 0,00 0,50 0,00 0,00 0,00 0,00 5,54 0,00 0,00 0,66 0,74 10,36 0,00 0,00 0,00 0,50 0,00 0,00 0,00 0,00 5,53 0,00 0,00 0,66 0,74 10,36 0,00 0,00 0,00 0,52 0,00 0,00 0,00 0,00 5,44 0,00 0,00 0,89 0,46 10,36 0,00 0,00 0,00 0,54 0,00 0,00 0,00 0,00 5,40 0,00 0,00 0,97 0,37 10,36 0,00 0,00 0,00 0,54 0,00 0,00 0,00 0,00 5,40 0,00 0,00 0,98 0,36 10,36 0,00 0,00 0,00 0,55 0,00 0,00 0,00 0,00 5,35 0,00 0,00 1,10 0,21 10,36 0,00 0,00 0,00 0,61 0,00 0,00 0,00 0,00 2,89 0,00 0,00 2,83 0,00 10,36 0,00 0,00 0,00 0,64 0,00 0,00 0,00 0,00 1,41 0,00 0,00 3,79 0,00 10,36 0,00 0,00 0,00 0,39 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,94 0,00 10,36 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10,36 0,00 0,00 2.602,85 20,36 19,61 18,24 17,81 17,80 17,79 17,68 17,64 17,63 17,58 16,69 16,20 11,68 10,36 125 Os resultados dos portfolios “eficientes” com restrição de venda a descoberto, mostrados na tabela 4.19, apresentam portfolios deprimidos do ponto de vista do VPL. O gráfico 4.4 evidencia o comportamento do VPL dos portfolios formados segundo o rank e do VPL dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto de ativos. Gráfico 4.4 126 5 Conclusões e sugestões de pesquisa Este estudo considerou a presença do risco nas análises econômicas de projetos. Ao fazê-lo, buscou compreender de que a forma a teoria de portfolio de Markowitz pode auxiliar a condução do processo de seleção de projetos. Evidentemente, desconsiderar o risco a que estão sujeitos os resultados dos projetos não parece ser a maneira mais adequada de tratar a questão. Entretanto, isto é o que ocorre quando se estabelecem ranks de projetos “olhando” apenas para a rentabilidade esperada. A teoria de portfolios evidencia a relevância do risco ao ampliar a perspectiva de análise ao espaço média-variância e propor que se leve em consideração o efeito da interação que existe entre os retornos dos projetos. As conclusões do estudo ressaltam em que grau as hipóteses propostas Ho 1 e Ho 2 foram verificadas. Vale lembrar que essas hipóteses sugerem que os portfolios formados com base no rank de projetos não são eficientes quando comparados aos portfolios eficientes de Markowitz com e sem restrição de venda a descoberto de ativos. O trabalho estabelece, portanto, uma comparação direta entre os resultados de duas metodologias : o rank que a prioriza projetos e a teoria de portfolios que visa atingir eficiência de média-variância. As conclusões são subdivididas em três seções, ou tópicos. A seção 5.1 contém as conclusões relativas à estruturação do modelo, onde se destacam as observações concernentes às etapas intermediárias. Tais etapas são mostradas no diagrama 3.1 (seção 3.5). Na seção 5.2 destacam-se as conclusões referentes aos resultados quantitativos do estudo, sugerindo-se os parâmetros de distribuição de recursos que os proporcionaram. Finalmente, na seção 5.3 encontram-se as conclusões qualitativas, que são de particular interesse e relevância em estudos de natureza exploratória como este. Além destas seções de conclusões, a seção 5.4 sugere diversas oportunidades de estudos como desdobramento deste trabalho. 127 5.1 Observações acerca do modelo empregado O diagrama 3.1 descreve as etapas básicas que foram seguidas na formação do modelo de carteiras eficientes. O diagrama também mostra etapas que foram inseridas no processo de modo a viabilizar a comparação das metodologias (portfolios rank x portfolios eficientes). A primeira etapa que merece destaque refere-se a definição da amostra de projetos. Observa-se que da amostra não constam projetos de exploração de petróleo em função das dificuldades encontradas no rastreamento de dados. Tais exclusões reduzem o potencial de ganhos de diversificação decorrentes da natureza geológica de elevada incerteza que os distinguem dos projetos da produção. A segunda observação refere-se à definição da variável proxy do retorno. Conquanto diversos estudos 11 tenham utilizado uma variável monetária como proxy do retorno, a estrutura do modelo da teoria de Markowitz requer uma variável proxy que garanta independência entre o nível de investimento alocado ao ativo e a distribuição percentual eficiente (ver Anexo 6). Sendo assim conclui-se ser impróprio o uso do VPL como variável proxy. Por outro lado, a adoção de proxies tais como a TIR e o GRR aumentam significativamente a complexidade e o tratamento matemático requerido no modelo. Considerando-se que a formação de portfolios eficientes é um processo contínuo de “comparação” de projetos, a adoção da TIR como proxy expõem os projetos às armadilhas clássicas tais como a comparação de projetos com diferentes horizontes de implantação e a presença de mais de uma inversão de sinal no fluxo de caixa do projeto. Esta última pode ser a causa dos problemas de convergência numérica observada em diversas iterações da simulação. Desta forma sugere-se que as variáveis proxy mais adequadas sejam os índices de rentabilidade de projetos. Neste trabalho o uso do VPL/Ia como proxy do retorno decorre da sua robustez conceitual e da facilidade no manuseio matemático do modelo. 11 Ver quadro 2. 128 Com relação às variáveis fundamento utilizadas na simulação é interessante observar que a variável fundamento preço do petróleo é não gerenciável (variável de mercado) e a variável IRGI é gerenciável (a empresa possui poder de influência direta). Observa-se também que as sensibilidades relativas do retorno dos projetos, em resposta aos movimentos das variáveis fundamento, deram consistência ao processo refletindo-se na matriz de correlação obtida. Quanto à definição dos retornos requeridos, verificou-se que há uma diferença no posicionamento dos projetos no rank dos projetos conforme o retorno obtido na simulação em relação ao rank conforme os retornos estimados nos EVTEs 12 . Não se investigaram as causas das diferenças. Contudo, a presença de elevados 3o e 4o momentos nas distribuições dos retornos dos 14 projetos, sugere possíveis razões para as distorções observadas. Neste sentido é interessante observar que os projetos que sofreram os maiores deslocamentos no posicionamento são aqueles que apresentaram os maiores valores de terceiro (assimetria) e quarto momentos (curtose) nas distribuições do retorno. 5.2 Conclusões acerca dos resultados obtidos Sem dúvida a conclusão de maior relevância deste estudo mostra que a metodologia que ordena projetos em rank implica em perda de eficiência nos portfolios formados13 . Os resultados do teste de Wang (1998)14 indicam que os portfolios formados com base a metodologia que estabelece rank de projetos são em média 45,52% meno s eficientes do que os portfolios eficientes admitindo-se a venda a descoberto dos ativos. O desvio padrão observado indica que há uma baixa probabilidade (0,01%) de que as eficiências médias obtidas nos portfolios do rank e nos portfolios eficientes sejam iguais do ponto de vista do risco. 12 Ver tabela 4.4. Ver tabelas 4.11, 4.13 e 4.14. 14 Ver tabela 4.11. 13 129 O pragmatismo dos portfolios eficientes com a restrição de venda a descoberto de ativos torna o seu resultado de particular relevância. A tabela 4.13 indica que os portfolios formados com base no rank de projetos são menos eficientes do que os portfolios de Markowitz, mesmo na presença de restrição de venda a descoberto. A perda média de eficiência é de 32,08%, sendo o desvio padrão 16%. Logo, há uma probabilidade de apenas 2,73% de que as eficiências sejam iguais do ponto de vista do risco. Este é um importante resultado do estudo posto que a perda média de eficiência permanece significativa. A leitura e a relevância destes resultados permanecem intactas mesmo quando consideramos as limitações do modelo (2 variáveis fundamento). Tendo em vista as diferenças verificadas entre a perda média de eficiência dos portfolios do rank frente aos portfolios eficientes com e sem restrição, é possível assegurar que houve retração da fronteira eficiente nos portfolios eficientes quando se introduziu a condição restritiva. Podemos avançar um pouco mais nas conclusões do estudo sabendo-se que as diferenças observadas nas eficiências das carteiras formadas (portfolios rank x portfolios eficientes) não são casuais. Por detrás das diferenças observadas, estão as alterações nas distribuições de recursos, que são fruto das desigualdades no critério de seleção de projetos. O critério de maximização do retorno, inerente ao rank de projetos, é substituído pelo critério de eficiência de média-variância da teoria de portfolios. Nos portfolios formados segundo o rank de projetos, as distribuições do montante globais de investimento entre os projetos são definidas momento em que o rank é formado.15 Nos portfolios eficientes, a lógica de alocação desvincula-se do investimento requerido pelo projeto e da sua posição em um rank, vinculando-se à função objetivo de redução do risco do portfolio, dado um nível de retorno requerido. Nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto observa-se que : 15 Ver seção 4.5.1. 130 - Os projetos P3, P4, P5, P6, P10 e P14 sempre assumem posições negativas. Neste conjunto, destacam-se os projetos P5 e P10 , que possuem posições dominantes e crescentes (em módulo) à medida que aumenta o retorno requerido do portfolio. P4 é um projeto que possui uma participação razoável (-21%) e estável em todos os portfolios formados. - Os projetos P1, P2, P7, P8, P9, P11 e P13, por sua vez, sempre assumem posições positivas. Destacam-se, neste conjunto, os projetos P7, P9 e P11, em função da dominância nos portfolios formados e das posições crescentes que assumem à medida que aumenta o retorno requerido do portfolio. - Os projetos P2 e P3 sempre assumiram posições inexpressivas nos portfolios formados. Primeiramente chama-se atenção para os seguintes fatos : no conjunto de projetos que possuem posições dominantes (P5, P7, P9, P10, P11 e P13), positivas ou negativas, todos estão entre os projetos que possuem os menores riscos próprios (variância)16 . Este fato permite que as posições assumidas nos portfolios não resultem em aumentos significativos no risco do portfolio. É interessante observar também que os projetos P7, P9 e P11 estão entre os 4 projetos de maior relação retorno-risco, condição esta que favorece a assunção de posições positivas crescentes a fim de atingir o retorno requerido do portfolio sem que isto implique em aumento significativo do risco do portfolio. Observando-se as correlações entre P5 e os projetos P7, P9 e P11, verifica-se que as mesmas são elevadas (0,89; 0,99 e 0,63 respectivamente) o que sugere que P5 assuma posição de sinal oposto à dos projetos P7, P9 e P11. Por outro lado, P13 possui correlações baixas com P7, P9 e P11 (0,18; 0,13 e 0,20 respectivamente), o que sugere que P13 assuma posições de mesmo sinal que P7, P9 e P11. Em sendo assim, P5 e P13 16 Ver tabela 4.2. 131 são separados entre os grupos de posições negativas e de posições positivas em função das correlações alta e baixa que estes possuem com os projetos P7, P9 e P11. Conclui-se daí que os projetos P5 e P10 estão alavancando os projetos P7 e P11, viabilizando o aumento do retorno do portfolio sem que isto resulte em um incremento significativo no risco do portfolio. A conveniência da venda a descoberto é gerada na solução numérica do método de programação quadrática. O baixo nível de risco do projeto e a alta relação retorno-risco parecem ser os fatores responsáveis pela participação positiva dominante dos projetos P5, P7, P9 e P11 nos portfolios formados. As correlações exercem também um papel essencial para o alcance da eficiência. Nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto observa-se que as participações dos projetos P1, P3, P4, P5, P6, P8, P9, P13 e P14 são nulas nos portfolios formados. Destes projetos, P3, P4, P5, P6 e P14 sempre assumiram posições negativas nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto. Observa-se ainda que esses projetos possuem as piores relações retorno-risco, donde se conclui que este é um parâmetro importante na construção dos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto. Um parâmetro de particular interesse nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto é a correlação entre projetos. Enquanto nos portfolios eficientes com possibilidade de venda a descoberto, as correlações positivas altas são bem-vindas quando dois projetos assumem posições de sinais opostos, nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto apenas as correlações positivas baixas interessam dado que os projetos possuem posições de mesmo sinal. Observa-se ainda que a participação dos projetos nos portfolios eficientes com restrição de venda a descoberto altera-se em função do nível de retorno requerido. Quando o retorno requerido é baixo, o parâmetro relevante parece ser o risco próprio do projeto, razão pela qual os projetos P7 e P11 são dominantes no terço inicial dos retornos 132 requeridos17 . Por outro lado, a participação reduzida do projeto P12 nestes portfolios pode ser atribuída ao alto risco isolado deste projeto18 . À medida que o retorno requerido do portfolio cresce, a relação retorno-risco do projeto começa a ganhar importância, como já foi ilustrado por meio das participações do projeto P7 e P11 (os dois possuem as duas melhores relações retorno-risco). Contudo, quando o retorno requerido é muito alto (ou máximo) , o retorno esperado do projeto torna-se o parâmetro mais relevante nas distribuições, motivo do surpreendente crescimento da participação do projeto P12 nos portfolios com os 2 maiores retornos requeridos. Destaca-se ainda que a tendência de participação crescente dos projetos P7, P9 e P11 nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto altera-se quando a restrição é introduzida. A impossibilidade de alavancagem dos projetos P7 e P11 por conta das posições a descoberto dos projetos P5 e P10 parece ser um fator determinante para esta mudança de comportamento. No balanço das influências dos parâmetros das distribuições nos portfolios formados, sugere-se que o risco próprio (variância) dos projetos seja o principal fator responsável pelas alocações nos portfolios com baixo retorno requerido e que, o alto retorno esperado no projeto seja determinante nas alocações dos projetos nos portfolios com alto retorno requerido. Nos portfolios eficientes sem restrição de venda a descoberto a matriz de covariância é de particular importância na redução do risco do portfolio. A introdução da restrição de venda a descoberto reduz a importância da matriz de covariância tendo em vista que apenas as correlações baixas são importantes a fim de reduzir o risco dos portfolios formados. Todavia, isto não torna inexpressivo o efeito da correlação. A participação de P2 em mais de 70% dos portfolios eficientes formados só pode ser atribuída às baixas correlações que este projeto possui com os demais, considerando-se o seu elevado risco próprio. 17 Ver, na tabela 4.2, que P11 possui o menor risco entre todos os projetos e P7 o 4o menor risco. 133 Um importante desdobramento da análise de portfolios eficientes foi realizado na seção 4.7. Nela mostramos que, por ser um índice de rentabilidade adimensional, o VPL/Ia torna a alocação do investimento surrealista, ou seja, atribui um maior percentual do investimento global aos projetos menores (investimento baixo) e um menor percentual aos grandes projetos19 . Tais alocações deprimiram o VPL dos portfolios formados, considerando-se o critério que impede desperdícios nos projetos. Seguem então algumas conclusões interessantes : − Um aperfeiçoamento da modelagem do problema dever introduzir restrições quanto ao VPL mínimo esperado do portfolio e/ou outras medidas de rentabilidade econômica ou de natureza operacional, de modo a aumentar a atratividade do modelo de eficiência. − O critério que restringe os desperdícios a zero pode ser flexibilizado e modelado a fim de atender a outras metas relevantes do quadro analítico da empresa. 5.3 Conclusões pragmáticas do estudo Não há dúvida que a teoria de portfolio de Markowitz é perfeitamente adequada aos ativos financeiros, a menos da possibilidade irrestrita de venda a descoberta , questionada em alguns estudos. Entretanto, os resultados obtidos no estudo ganham relevância expressiva na medida em que são exeqüíveis. Neste sentido, o primeiro questionamento pragmático a ser reconhecido na seleção de ativos reais, de corre justamente da possibilidade que as empresas possuem de decidir aproveitas ou não uma oportunidade. Particularmente, no caso das empresas do segmento de petróleo, 18 19 O risco do projeto P12 = 9,08 (ver tabela 4.2) Ver tabelas 4.6 e 4.7. 134 esta é uma faculdade real , seja devido ao número expressivo de oportunidades disponíveis, seja em função das restrições na sua capacidade produtiva ou financeira. Ou seja, nem todas as oportunidades de investimento que surgem, mesmo apresentando indicadores econômicos positivos, podem ser realizadas de imediato. Surge daí a necessidade de formar um portfolio no qual as “melhores” oportunidades são selecionadas. Conclui-se então que a possibilidade de seleção eficiente aplica-se tanto aos ativos reais quanto o é aos ativos financeiros : o gestor executivo de empresa , pode decidir , assim como o investidor do mercado financeiro , que ativos melhor se ajustam ao seu portfolio. O segundo aspecto de interesse pragmático refere-se à possibilidade de investir em ativos reais de forma fracionária, ou seja em uma fração não unitária do ativo real. Avaliando o segmento de exploração e produção de petróleo, esta é uma oportunidade real. As parcerias são formas de investimento no qual as empresas participantes definem a fração “ideal” de participação nos projetos de interesse. Assim sendo, sob este segundo aspecto, o estudo apresenta importantes resultados que podem subsidiar tais negociações. O estudo mostra que , mesmo possuindo plena capacidade operacional e financeira para investir em todos os projetos potenciais, esta possibilidade pode não ser a melhor opção do ponto de vista a eficiência de média-variância. O terceiro aspecto interessante refere-se a possibilidade prática de realizar operações (transações) de venda a descoberto de ativos reais.Esta operação pode ser ilustrada pela aquisição de um direito de execução de uma oportunidade de investimento por parte de uma empresa (valor $ 150), que por sua vez transfere este direito a um terceiro , recebendo , por exemplo , $ 200. Naturalmente, que tal operação não é rotineira, porém o que se quer destacar é sua viabilidade. O quarto e último aspecto relevante do estudo é que o modelo permite tanto a seleção de um conjunto de projetos quanto o gerenciamento eficiente de uma 135 carteira potencial de projetos. Ambas as formas de tratamento da questão são importantes para qualquer empresa que possui um voluma de projetos de investimento que lhes permita selecionar deste conjunto , os projetos mais adequados do ponto de vista da eficiência de média-variância. Com o uso do modelo de eficiência de Markowitz , aplicado aos ativos reais, a empresa ganha com a possibilidade de gerenciar ativamente seus portfolios de projetos reconhecendo e administrando o seu risco e aumentando a eficiência de média-variância das carteiras formadas. 5.4 Oportunidades de estudos O estudo de caso realizado sugere diversas oportunidades a serem desenvolvidas em futuros trabalhos. Um modelo de avaliação multi-atributos, que incorpore outras dimensões econômicas monetárias (p.e. VPL) e operacionais (p.e. nível de produção) como restrições, pode produzir portfolios e resultados mais compatíveis com o esperado pelas empresas. O estudo de Hightower e David (1991) é um exemplo disto. A incerteza temporal do fluxo de caixa é outro importante aspecto de análise. Nele seria a avaliado o risco nos cronogramas de implantação de projetos por meio da aplicação do conceito de duration. A inclusão de novas variáveis fundamento no processo de simulação, por sua vez, permite ampliar a abrangência das análises de risco e da análise de portfolio. Variáveis operacionais tais como os custos de produção e a quantidades produzidas e/ou comercializadas são exemplos disto. Contudo, há necessidade de se dispor de sistemas de informação que discriminem tais informações à nível do projeto. Um dos assuntos que despertou maior interesse neste estudo diz respeito à definição da variável proxy para o retorno do projeto. Mesmo permanecendo no campo econômico, 136 existem outros indicadores de rentabilidade de projetos que poderiam ter sido utilizados como proxy do retorno. Naturalmente, o uso de outros indicadores como proxy podem produzir resultados diferentes em termos de seleção de projetos. Avaliar as diferentes proxies, comparando-se os resultados obtidos em cada uma delas é uma valiosa oportunidade de pesquisa. Outro estudo comparativo que pode ser efetuado trata da avaliação dos resultados obtidos na seleção de projetos utilizando a teoria de portfolio de Markowitz em relação aos resultados obtidos pelos métodos de programação linear ou inteira. Naturalmente, a proxy utilizada deveria ser a mesma, ou seja, um indicador econômico adimensional. Além do nível de risco obtido nos portfolios em cada método, os VPL obtidos nos portfolios formados poderiam ser comparados com o fim de avaliar o grau de atratividade das soluções encontradas. Todavia, dentre os temas de pesquisa sugeridos, o de maior relevância seja a realização de um estudo que incorpore ao modelo de eficiência os momentos superiores das distribuições dos retornos dos projetos, considerando-se que, neste estudo em particular, as distribuições do VPL/Ia dos projetos se mostraram significativamente leptocúrticas e assimétricas à direita20 . Simkowitz e Beedles (1978), por exemplo, propõem que o terceiro momento central exerce influência na decisão acerca da diversificação do investidor que aplica em ativos financeiros. Os autores sugerem que o risco torna-se desejável nos casos em que os retornos dos ativos possuam distribuições expressivamente assimétricas à direita (os investidores tornam-se tomadores de risco). Neste sentido, o uso da semivariância como parâmetro de risco é oportuno na medida em que esta introduz o 3o e 4o momentos da distribuição nas análises, sinalizando que informações importantes podem alterar os resultados do modelo de eficiência. Todas estas propostas de pesquisa certamente enriqueceriam as análises de portfolios de ativos reais, como o fazem no caso dos ativos financeiros. Contudo, o que fica de mais relevante neste estudo é que, no que se refere à seleção da carteira de projetos de uma empresa, existe uma metodologia alternativa à que estabelece um rank de projetos. 20 Ver tabela 4.1. 137 Baseado na aplicação da teoria de portfolios de Markowitz, o estudo conclui que a análise quantitativa do risco (variância) e retorno do portfolio, e a interação entre projetos (covariância) modificam significativamente a distribuição eficiente dos recursos de capital. A principal implicação prática disto é a de adjudicar consistência econômica às análises de parcerias por meio da teoria de portfolios. A teoria de portfolio chama atenção para a propriedade econômica de se estabelecer alianças com parceiros a fim de formar portfolios eficientes mesmo quando a empresa possui recursos suficientes para investir em todos as suas oportunidades de investimento. Esta, sem dúvida é a maior contribuição prática da aplicação da teoria de portfolios aos ativos reais, uma vez que o investimento alocado a um projeto nem sempre pode ser fracionário dado que nem todos os projetos podem ser modularizados de forma discreta ou, menos ainda, de forma contínua. Extrapolar as conclusões obtidas nesta dissertação para toda e qualquer amostra de projetos de investimento, não nos parece conveniente tendo em vista a especificidade dos projetos avaliados, a natureza mercadológica do produto e as incertezas técnicas do negócio. Entretanto, a relevância dos resultados obtidos favorece e motiva o desenvolvimento de modelos mais ajustados à realidade incerta dos projetos de investimento. 138 6 Referências Bibliográficas ASRILHANT, B. Avaliação dos projetos de produção de petróleo através de taxas de desconto variáveis com o grau de risco. Boletim Técnico Petrobras, v.38, n.1-2, p.15-29. Jan/Jun. 1995. BAIDYA, T. K. N.; AIUBE, F. A. L. Avaliação econômica de concessões na indústria de produção de petróleo. Revista Brasileira de Economia, v.51, n.1, p.53-76, Jan/Mar. 1997. BALL, B. C. Jr; SAVAGE, S. L. Holistic vs. Hole- istic E&P strategies. Journal of Petroleum Technology, v.51, n.9, p. 74, 76, 78, 80, 82, 84, Sep. 1999. BRASHEAR, J. P. et al. Interdependencies among E&P projects and portfolio risk management. In: ANNUAL SPE TECHNOLOGY CONFERENCE. Houston : 1999. p.447-459 . _______________________ Managing scenario risk in offshore development projects. Offshore Int, v.60, n.1, p.122-124, January, 2000. 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