INCLUSÃO SOCIAL DO DEFICIENTE AUDITIVO: UMA REFLEXÃO DO ATENDIMENTO DO PSICÓLOGO NA INTERNAÇÃO HOSPITALAR Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz1 Vanessa Marques Lopes2 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância do atendimento hospitalar ao portador de deficiência auditiva, por profissionais da área da saúde que tenham o conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Isso poderá gerar um recurso mais satisfatório para o paciente, assim, a equipe de saúde terá mais segurança nos procedimentos realizados; podendo ser, portanto, mais eficiente. Palavras-chave: Inclusão. Deficiente auditivo. LIBRAS. Ética. Psicólogo no atendimento hospitalar. ABSTRACT This work has as an objective to demonstrate the importance of hospitalar attendance to people with auditive deficit by professionals of the healthy area who have knowledge about the Brazilian Language of Signs (LIBRAS). The knowledge about that kind of language can bring an additional and most satisfactory resource to the patient, so the team of the healthy area will have more security in the procedures realized which will become, so far as, more efficient. Keywords: Inclusion. People with auditive deficit. Brazilian Language of Signs (LIBRAS). Ethics. Psychologist in the hospitalar care. Na atualidade, temos consciência da importância dos meios de comunicação em nossa vida tanto do ponto de vista biológico, pedagógico, histórico, sociológico, antropológico como do psicológico. Segundo Melo (1970), o vocábulo comunicação vem do latim, através do adjetivo communis, comum, isto é, aquele que introduz a idéia de comunhão, comunidade. O autor ressalta que, quando comunicamos, tratamos de estabelecer uma comunidade, ou seja, compartilhamos uma 1 Psicóloga, Psicanalista, Professora Titular do CES/JF. Orientadora de Projetos de Iniciação Científica do CES/JF. Didata em Psicanálise e Didata em Psicanálise da criança pela Sobrap Regional JF, Mestre em Psicologia e Psicanálise do CES/JF. 2 Graduada em Psicologia no Centro de Ensino Supeior de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2007 191 Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz/ Vanessa Marques Lopes informação, uma idéia, uma atitude. Velozo apud Melo (1970), afirma ao se estar isolado não se pode ser parte, não participa, chegando à conclusão de que comunicar é fazer participar, é trazer para a comunidade quem dela estava isolado. Assim, podemos entender o conceito de comunicação, dentro do conceito de inclusão, ou seja, para comunicar, o sujeito deve estar incluído em seu meio, mostrando-se apto àquele processo de comunicação, caso contrário, seria um indivíduo excluído, isolado da sociedade. Isso nos leva a refletir sobre as questões abordadas neste estudo, enfocando a comunicação 3 dos deficientes auditivos , nesse meio social, no qual o processo de comunicação foi construído para indivíduos sem nenhum tipo de deficiência. Evidencia-se que, quando pensamos a comunicação a partir desse ângulo, encontramo-nos diante de mais um fator de exclusão social, relacionado aos profissionais da área de saúde, tanto nos consultórios como nos hospitais, no que tange ao atendimento. Os deficientes auditivos têm o direito de ser tratados com respeito, dignidade; devendo haver, sobretudo, nesses locais, qualidade no atendimento. Nesse caso, a comunicação deve fluir para que esses sujeitos se façam entender diante de seus problemas e de suas doenças. Dessa forma, Melo (1970, p.14) afirma: “aí está implícito o papel decisivo da comunicação, que seria a transmissão de significados entre as pessoas, no processo de inserção e integração do indivíduo na organização social.” Com isso, percebemos a necessidade de os profissionais da área de saúde adquirirem aptidão para se comunicar com o deficiente auditivo; no entanto, diante de tal questão, procurando amenizar essa problemática, optam pela presença do intérprete para que, desse modo, possam melhor compreender esse indivíduo. Essa atitude nos leva aos seguintes questionamentos: será que essa seria uma boa tentativa de inclusão? Até que ponto a presença de um intérprete habilitado em LIBRAS poderia ajudar na comunicação entre equipe de saúde e paciente? E o paciente, enquanto sujeito desejante, como veria a atuação do intérprete durante o atendimento, principalmente, no que diz respeito a questões relativas à sua intimidade? Concordamos com Nunes4 (2004) quando afirma - em seu projeto intitulado Qualificação de profissionais da área da saúde para melhor 3 192 “São pessoas as quais em quem o sentido da audição não é funcional para as finalidades comuns da vida, ao passo que os de audição difícil são aqueles em que o sentido da audição, embora deficiente, é funcional com ou sem auxílio de um aparelho auditivo” (SAWREY; TELFORD, 1988, p. 516). 4 Técnico em Enfermagem, Instrumentador Cirúrgico. Cursou 3 módulos do curso de LIBRAS. C E S R e v i s t a , v. 2 1 Inclusão social do deficiente auditivo: uma reflexão do atendimento do psicólogo na internação hospitalar, p.191 - p.202 atender os usuários do SUS portadores de deficiência auditiva - que, geralmente, o deficiente auditivo, ao procurar o sistema de saúde, está acompanhado de um intérprete que pode ser um amigo, um familiar, um representante da Associação dos Surdos ou da Pastoral dos Surdos. É provável o constrangimento desse sujeito, pois alguns seres humanos sentem-se, às vezes, envergonhados por portarem um problema de saúde. Por isso é importante reservar-lhe o direito de falar sobre a questão, em consulta, somente com o profissional da saúde. Caso contrário alguém do seu convívio pessoal terá acesso ao depoimento, todavia nem sempre esse indivíduo gostaria de expor seu problema a outra pessoa que não fosse da equipe de saúde. Também, o acompanhante nem sempre está apto a interpretar uma consulta, podendo resultar em um diagnóstico ou em um tratamento errado. Podemos confirmar esse fato quando Sawrey e Telford (1988, p. 523) afirmam: Mesmo com intérpretes competentes, o abismo lingüístico apresenta problemas graves. A linguagem de sinais dos deficientes auditivos carece de equivalentes vocabulares precisos para muitos termos legais corriqueiros. Quando a tradução literal é impossível, os intérpretes tentam transmitir o sentido das enunciações. Verificamos, de acordo com Nunes (2004) e com nossa experiência prática, não haver uma estrutura, na área de saúde, em Juiz de Fora, para atender aos pacientes com deficiência auditiva. Percebe-se que a equipe de saúde tem dificuldade em dar um bom atendimento a esse paciente. Há um receio em consultá-lo, pois não ocorre confiança da equipe de saúde no intérprete. Esses profissionais sentem-se inseguros, por não estarem certos de que a interpretação esteja sendo feita na íntegra ou se ele transmite somente o que avalia como importante. Além disso, existem doenças e problemas de saúde que, por si só, causam um certo constrangimento, por exemplo, a Aids, distúrbios de hemorróida, ginecológicos, urológicos; questões relativas ao uso de drogas, dentre outros. Ressaltamos que a dificuldade avança quando o paciente necessita de um exame de endoscopia, uma ultra-sonografia, uma radiografia, um curativo, dentre outros procedimentos hospitalares. Assim, a partir das considerações apresentadas, questionamos se a participação do intérprete é viável para que se obtenha bons resultados no tratamento e, ainda, se este está mesmo apto a fornecer as informações de modo seguro tanto para a equipe hospitalar como para o paciente. Juiz de Fora, 2007 193 Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz/ Vanessa Marques Lopes Percebe-se, também, um certo despreparo por parte da equipe de profissionais de saúde quando o deficiente auditivo necessita de um internamento, uma vez que esses profissionais sentem-se limitados em atender o paciente devido à dificuldade de se fazerem entender por meio da comunicação. Observamos que a equipe de saúde sente dificuldade quando é 5 necessário fazer uma internação desse paciente em UTI e também quando ele necessita de uma intervenção cirúrgica, pois um ato cirúrgico é assustador para qualquer indivíduo e, na sala de cirurgia, os profissionais encontram-se de máscara, impossibilitando qualquer tentativa de o deficiente auditivo fazer uma leitura labial. Também surge dificuldade quando o deficiente auditivo necessita de tratamentos prolongados tais como hemodiálise, diálise peritonial, exame pré-natal, quimioterapia, radioterapia, troca de bolsa de colostomia, o que dá margem ao seguinte questionamento: como a equipe dará suporte técnico e emocional para esse paciente se não consegue comunicação? Nunes (2004), ao realizar atendimentos como técnico de enfermagem a pacientes com deficiência auditiva, constatou serem urgentes mudanças para melhorar o atendimento. Observamos, assim, a necessidade de os profissionais da saúde adquirirem aptidão para esse atendimento, oferecendo o suporte necessário para as intervenções hospitalares para que, dessa forma, possamos crescer com as diferenças e dar a esses indivíduos o direito de qualidade no atendimento, demonstrando que o trabalho social pode ter suporte e qualificação para recebê-los. Cumpre ressaltar que, para que o sistema de saúde esteja apto a dar esse atendimento, é preciso que seus profissionais tenham o conhecimento da LIBRAS, que, segundo Lacerda, Nakamura e Lima (2000), constitui um sistema de sinais independente das línguas faladas. Contrariamente a uma língua pré-concebida, não existe uma língua de sinais utilizada e compreendida universalmente. As línguas de sinais, praticadas nos diferentes países, diferem-se umas das outras. No Brasil, esse sistema se intitula LIBRAS; nos EUA, American Sign Language (ASL) e, na França, a Langue de Signes Français (LSF). Existem, também, como para as línguas orais, dialetos ou variabilidade regional dos sinais, ressaltando que a língua de sinais é dotada de dimensões espacial e corporal. Constatamos que a parceria entre os deficientes auditivos e os 5 194 “Unidade de Terapia Intensiva seria um lugar destinado a receber pacientes em estado grave, com possibilidade de recuperação, exigindo permanente assistência médica e de enfermagem, além da utilização eventual de equipamento especializado” (PROAHSA, 1978 apud ROMANO, 1999, p. 62). C E S R e v i s t a , v. 2 1 Inclusão social do deficiente auditivo: uma reflexão do atendimento do psicólogo na internação hospitalar, p.191 - p.202 profissionais da saúde é uma excelente alternativa para melhorar a qualidade do atendimento, porém, é preciso, acima de tudo, que o paciente saiba a LIBRAS. Para Lacerda, Nakamura e Lima (2000, p. 95), a aprendizagem da língua de sinais é a base fundamental de apropriação do deficiente auditivo da fala vocal, a qual o acesso não lhe pode ser natural, mas do qual ele pode compreender o uso que se utiliza uma língua que domina totalmente. Por conseguinte, pode-se afirmar ser de fundamental importância que o deficiente auditivo aprenda a LIBRAS, fazendo dela seu meio de comunicação na sociedade, pois somente a Língua de Sinais permite que seja restabelecida, para o deficiente auditivo, as condições naturais de apropriação da linguagem materna de todos os indivíduos portadores de deficiência auditiva (NAKAMURA; LIMA, 2000, p. 96). A partir dessas considerações, pode-se levantar o seguinte questionamento: qual seria o papel do psicólogo como parte da equipe de saúde e de que modo seria o seu atendimento para o deficiente auditivo no âmbito hospitalar? Sabemos que a inserção da Psicologia no hospital é bastante recente e essa é uma área que vem crescendo muito na atualidade. Esse profissional tem sido cada vez mais solicitado dentro da equipe de saúde, mas, apesar disso, a função do psicólogo ainda se encontra, por vezes, um pouco incompreendida, mesmo quando a equipe de saúde reconhece sua importância e solicita seu atendimento. Botega (1993)apud Romano (1999, p. 26), afirma que Os médicos e profissionais de saúde deram-se conta de que há um lado obscuro: o inconsciente, que gera conflitos, queixas, que complicam evoluções e reduzem a eficácia terapêutica prevista. Verificamos que a Psicologia entra no hospital e descobre o lado humano da dor, do sofrimento, da doença, de um período de internação gerador de conflitos e angústias; e de uma equipe de saúde que, por vezes, não Juiz de Fora, 2007 195 Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz/ Vanessa Marques Lopes dá conta de seu próprio emocional no que tange ao atendimento ao paciente hospitalizado. O papel do psicólogo hospitalar é amplo e sua função principal é minimizar o sofrimento humano com relação à hospitalização. Desafio ou não, cabe a esse profissional, segundo Romano (1999, p. 27), “saber a que se veio e emprestar-se ao saber de modo eficiente e eficaz”. O papel do psicólogo, no hospital, poderá estar relacionado ao setor de Recursos Humanos e esse profissional deverá ter Especialização em Psicologia Organizacional ou poderá exercer sua função na assistência direta ao paciente e à sua família. Pretendemos, a seguir, realizar um estudo sobre sua atividade nas unidades hospitalares. Ao realizarmos atendimentos em enfermarias, observamos diversas situações que podem ser apresentadas a um psicólogo no ambiente hospitalar, dentre as quais, destaca-se aquela em que o deficiente auditivo busca atendimento como forma de obter um suporte no que se refere ao processo de internação e hospitalização. Esse profissional trabalha, basicamente, com a escuta, com a linguagem, seja ela corporal ou falada, por isso, questionamos: como atender o deficiente auditivo? E a linguagem, a comunicação, como ficariam? Segundo Nasio (1980, p. 120), não escutamos com o ouvido, e a escuta não consiste em destacar as combinações significantes, nem entender o som ou apreender o sentido da palavra. No entanto, é bem o significante que se escuta, assim escutar, como diria Heidegger, é recolher-se ao dizer. Em outras palavras, compreender-se o dizer significante, o do analisando quando se faz parte dele. 196 Então, podemos afirmar que cabe ao psicólogo a escuta do não dito, ou seja, o que está por trás daquilo que não foi falado, então, com base nessas considerações, refletimos sobre o atendimento do psicólogo hospitalar no que se refere à internação dos deficientes auditivos. Ressaltamos que o deficiente auditivo, segundo Sawrey e Telford (1988, p. 531), “no que diz respeito aos determinantes hereditários do nível intelectual as crianças com deficiência auditiva não são significativamente diferentes dos encontrados em seus irmãos com audição normal”. Dessa forma, estamos diante de um ser humano que possui capacidade intelectiva e se relaciona com o meio, de modo a responder, positivamente, aos estímulos. Sarmento (1997, p. 171), ao referir-se ao tratamento do deficiente C E S R e v i s t a , v. 2 1 Inclusão social do deficiente auditivo: uma reflexão do atendimento do psicólogo na internação hospitalar, p.191 - p.202 auditivo, afirma que: Tendo em vista o percurso desse tratamento, o estabelecimento da transferência, observa-se que em termos de estruturação psíquica poderia ser um caso de um paciente ouvinte. O deficiente auditivo, como o ouvinte, pode ficar num autismo ou ser sujeito da linguagem, estruturando-se numa neurose, numa psicose ou numa perversão. Assim, dentro da enfermaria do hospital, o psicólogo, em contato com o deficiente auditivo, poderá usar de uma série de recursos que podem fazer desse paciente um sujeito apto a realizar um processo terapêutico. Na pediatria, esse paciente poderá ser abordado através do lúdico, porquanto, ao brincar, a criança demonstra seus conflitos, colocando à prova seus fantasmas diante da família em que está inserida, fazendo referência a seu relacionamento com a equipe de saúde dentro do hospital, demonstrando sua angústia diante da doença e do processo de internação que, para ela, é singular. O brincar é uma manifestação do inconsciente. Arfouilloux (1983, p. 116) afirma: O brinquedo é projeção sobre os objetos personificados no jogo, objetos parciais interiorizados. Ele permite assim a criança projetar no mundo exterior os conflitos internos de que sofre e triunfar sobre uma realidade interna penosa: o brinquedo transforma a angústia de uma criança normal em prazer. Dessa forma, a partir do brincar, o psicólogo poderá abordar a criança. Também, o desenho pode ser algo da própria criação do paciente que, por meio dessa atividade, pode dizer muito a seu respeito. Para Arfouilloux (1983, p. 136), “[...] através de seus desenhos a criança exprime também os problemas de sua vida afetiva, na qual eles estão indiretamente implicados, e a execução de um desenho, que se suponha capaz de decifrar-lhe.” Verificamos que há diversas formas de se chegar ao mundo da criança hospitalizada e, no caso do deficiente auditivo, a intervenção não é diferente, podendo surgir a comunicação. Nesse momento, o conhecimento da LIBRAS constitui um fator de fundamental importância tanto para o paciente como para o profissional que o atende, levando-o à aceitação e à segurança e, acima de tudo, à inclusão social. Então, ao remetermos ao atendimento dentro de uma enfermaria não só de adulto como também de adolescente, Juiz de Fora, 2007 197 Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz/ Vanessa Marques Lopes principalmente, quando o paciente é deficiente auditivo, acreditamos que seria importante para os profissionais da saúde adquirir o conhecimento da LIBRAS. Sabemos o quanto é difícil haver a intervenção de um psicólogo dentro de uma UTI, pois, nesse setor, podemos ver desencadear diversas reações emocionais no paciente. Esse local, para muitos, parece ser um lugar assustador e com possibilidade de morte eminente para o paciente internado. Pennock (1994), citado por Romano (1999, p. 65), afirma que revê estudos sobre os maiores agentes de estresse de pacientes internados em UTI, e diz que os mais freqüentes são a dor, aspectos emocionais como: medo, ansiedade, conflitos, revisão de vida, sucção de secreções, impossibilidade de falar, presença de tubo endotraqueal, restrição ao leito, dentre outros. Então, diante de tudo isso, questionamos: como atender o deficiente auditivo? O atendimento psicológico, no caso citado acima, seria o de procurar, amparar, mostrar que o psicólogo, enquanto profissional, está ali com o objetivo de situar o paciente no tempo e no espaço por meio de sua fala, de modo que, dependendo de seu estado de saúde, haja permissão para que apenas esse profissional o escute. Mas escutar? Como? Trata-se aqui do atendimento a um deficiente auditivo e, nesse caso, nos limites da profissão do psicólogo, é possível apenas confortá-lo por meio do toque, fazendo valer sua presença. Vale ressaltar que, nesse caso específico, saber a LIBRAS ou não, para esse profissional, não faria diferença, pois a ação é apenas pelos sentidos, mas isso não seria só com o deficiente auditivo em especial, mas com qualquer paciente deficiente ou não. Dessa forma, cabe ao psicólogo, seja qual for a sua área profissional, respeitar, acima de tudo, o Código de Ética e fazer valer o seu princípio fundamental, ou seja: I - O Psicólogo baseará o seu trabalho no respeito à dignidade e integridade do ser humano. II - O Psicólogo trabalhará visando promover o bem-estar do indivíduo e da comunidade, bem como a descoberta de métodos e práticas que possibilitem a consecução desse objetivo (MINAS GERAIS, 2001, p. 42). 198 C E S R e v i s t a , v. 2 1 Inclusão social do deficiente auditivo: uma reflexão do atendimento do psicólogo na internação hospitalar, p.191 - p.202 Evidencia-se que apoiar um projeto que visa à qualificação dos profissionais da saúde a aprender a LIBRAS constitui função do psicólogo de modo que, nesse caso, o objetivo principal seria a inclusão social do deficiente auditivo, conforme prevê o parágrafo IV do Código de Ética: “A atuação profissional do Psicólogo compreenderá uma análise crítica da realidade política e social” (MINAS GERAIS, 2001, p. 42). Nesse caso, estaria relacionada à inclusão do paciente portador de deficiência auditiva. Também, no que diz respeito às responsabilidades, bem como às relações com as instituições empregadoras e outras, cabe ao psicólogo, de acordo com os Princípios Fundamentais desse Código, atuar na instituição de forma a promover ações para que esta possa se tornar um lugar de crescimento dos indivíduos, mantendo uma posição crítica que garanta o desenvolvimento da instituição e da sociedade. Nesse caso, o psicólogo, na área hospitalar, com conhecimento da LIBRAS, poderá promover grandes conquistas no âmbito de seu exercício profissional. Também, sobre as relações com outros profissionais ou psicólogos, o Código de Ética esclarece: Art. 14 - O Psicólogo, atuando em equipe multiprofissional, resguardará o caráter confidencial de suas comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo (MINAS GERAIS, 2001, p. 46). Nesse caso, questionamos sobre a atuação de um intérprete, por exemplo, diante do atendimento do psicólogo no hospital, tornando-se necessário saber se esse profissional permite a presença do intérprete durante o atendimento e se essa atitude estaria infringindo o Código de Ética, mas, ao mesmo tempo, é preciso refletir se este não seria um meio de integração desse indivíduo. Como já visto anteriormente, questiona-se muito a presença do intérprete, avaliando-se seria positiva ou não sua presença para a equipe do hospital e para o paciente, contudo, no que diz respeito à Psicologia, pode-se afirmar que seria desrespeitar os direitos do paciente, por isso, é fundamental, para esse profissional, saber a LIBRAS, uma vez que, sobre o sigilo profissional, temos o Art. 21: “o sigilo protegerá o atendido em tudo aquilo que o psicólogo ouve, vê ou de que tem conhecimento como decorrência do exercício da atividade profissional” (MINAS GERAIS, 2001, p. 47). Como psicólogos, cabe-nos agir perante o Código de Ética, mesmo que este hoje nos leve a questionamentos sobre nossa profissão. Juiz de Fora, 2007 199 Mafalda Luzia Coelho Madeira da Cruz/ Vanessa Marques Lopes Romano (1999, p. 96) afirma que: [...] as reflexões éticas para a prática em hospitais devem ser mais especulativas e muito mais amplas. A área da saúde está em contínua evolução e com mudanças, visões e ações novas que exigem posturas velozes frente a elas. E para ser efetivo, um código de ética deve ser constantemente revisto e atualizado. Evidencia-se que, quando destacamos o papel do psicólogo, principalmente no hospital, pensamos no vocábulo humanizar que, para Romano (1999, p. 26), significa particularizar, atender às circunstâncias e necessidades individuais. Mas não se trata de qualidade do serviço prestado, de um algo a mais. Humanização é obrigação, é exigência do consumidor, é revitalização de preceitos éticos. Dessa forma segundo Nunes (2004), o psicólogo, em sua tarefa de humanizar, cumpriria também a Lei nº. 10.436, de 24 de abril de 2002, que determina igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. As instituições públicas e empresas privadas de serviços de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva. Ainda, no que se refere aos direitos do deficiente, temos a Lei nº. 6 7.853 , de 24 de outro de 1989, que, no Parágrafo Único (II - Área de saúde), determina: Art. 2 – Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive os direitos á educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo a infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico. Concluímos este estudo, afirmando que esta atitude do psicólogo – 200 6 Disponível em: <http:// www.RT.com.br>. Acesso em: 11 maio 2005. C E S R e v i s t a , v. 2 1 Inclusão social do deficiente auditivo: uma reflexão do atendimento do psicólogo na internação hospitalar, p.191 - p.202 adquirir a competência na LIBRAS – dará ao deficiente auditivo igualdade no atendimento, fato que provocará uma mudança na sociedade, pois esses indivíduos serão tratados com mais respeito e dignidade. A Psicologia, enquanto proposta de trabalho, em suas áreas de atuação, tem como objetivo o bem-estar social, priorizando a saúde mental. Então, no que diz respeito à atuação do psicólogo no hospital, faz-se necessário que ele demonstre o real sentido de sua profissão e aprenda a LIBRAS como forma de garantir a inclusão social dos deficientes auditivos e o bom atendimento durante a internação hospitalar daqueles que necessitam de seu trabalho. 201 Juiz de Fora, 2007 REFERÊNCIAS ARFOUILLOUX, J. C. 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