DEMÊNCIA - UMA REALIDADE PERTO DE NÓS A Demência é uma síndrome que se manifesta por uma diminuição progressiva da capacidade mental, acompanhada frequentemente por um compromisso da memória, da reflexão, do juízo crítico, da concentração e da capacidade de aprendizagem podendo configurar uma alteração da personalidade. Pode ter várias causas, normalmente associadas a doenças subjacentes, causadoras de perdas neuronais ou outros danos na estrutura cerebral. Estima-se que 8 a 10%, das pessoas com mais de 65 anos de idade, no mundo ocidental, sofram de Demência. Este valor aumenta à medida que a idade avança, podendo atingir 35% das pessoas que têm mais de 85 anos. Existe uma grande sobreposição entre as diferentes Demências. Muitas destas doenças neurodegenerativas possuem características patológicas comuns. O início e a evolução da doença são úteis para distinguir o tipo de Demência. Por exemplo a doença de Alzheimer tem uma natureza insidiosa e progressiva; a Demência Vascular pode avançar por fases e na doença de Creuzfeldt-Jakob, pode-se observar um declínio mais rápido. Deste modo é muito importante fazer uma anamnese/história clínica detalhada. Esta, normalmente é recolhida com o apoio do cuidador, passando por diversas áreas: cognição, comportamento, história de doenças, medicação, história familiar, social e cultural. As terapias disponíveis são ainda pouco eficazes… a estimulação das atividades, das funções cerebrais e dos sentidos parece ser a chave. Atualmente não existe cura para a Demência. O objetivo dos fármacos é controlar os sintomas que a doença provoca e, alguns destes medicamentos tentam impedir o avanço dos mesmos. A par desta intervenção existem estratégias não farmacológicas para atenuar a progressão da doença. A arteterapia e outras técnicas expressivas são consideradas intervenções importantes dentro da reabilitação psicossocial da pessoa com Demência, já que utilizam a expressão artística como instrumento terapêutico: cantar, dançar, desenhar, pintar, esculpir, recitar, representar e escrever, com o objetivo primordial de promover e estabelecer o bem-estar físico, mental e emocional da pessoa doente. A estimulação cognitiva também tem demonstrado benefícios, a nível da orientação verbal, cognição, função, comportamento e interação social, assim como na qualidade de vida e humor. 1 As terapias de orientação também são uma ferramenta importante que tem como objetivo orientar a pessoa sobre a realidade, de forma organizada, criando estímulos ambientais que facilitem a sua orientação a nível temporal. A aromaterapia já demonstrou evidências na redução de sintomas comportamentais. A luminoterapia tem sido defendida na reeducação dos ritmos circadianos (ciclo do sono) anormais principalmente nas pessoas institucionalizadas. A pessoa com Demência, muitas vezes, apresenta diminuição da capacidade de se manter independente sendo vista como um “caso irreparável”, no entanto isto é um erro, pois podem e devem ser feitas atividades que a estimulem, trabalhando a melhoria da capacidade psico-motora e as atividades pessoais e de vida diárias. Cuidados a ter Algumas medidas simples podem fazer a diferença no dia-a-dia quer da pessoa doente quer da família/cuidador, tornando a pessoa doente mais independente e melhorando a sua qualidade de vida. Para o doente poderá ser facilitador a instalação no domicílio de dispositivos de segurança, incluindo alarmes de incêndio e detetores de gás. Evitar pisos escorregadios, tapetes e obstáculos/barreiras que impossibilitem a marcha ou possam aumentar o risco de quedas, colocar apoios de segurança no duche/wc/quarto de dormir, controladores fixos de água, são outras ações preventivas de acidentes. A colocação de espelhos nas portas, fechos ocultos ou fechos de segurança, poderão ser úteis, no sentido de impedir o acesso da pessoa doente ao exterior. Para os familiares e ou cuidador poderá ser aconselhável frequentar programas educacionais a nível da expressão de emoções (trabalhar a super proteção, hipo proteção, a raiva e a angústia entre outras…), frequentar grupos de autoajuda, partilhando experiências e estratégias, principalmente na área da gestão de conflitos e na forma de abordagem do seu familiar doente. Como as atividades/tarefas domésticas são as primeiras a serem abandonadas (com a progressão da doença), com repercussão na participação das atividades sociais, as terapias devem incidir na área da prevenção do isolamento social e da inatividade, com o intuito de recuperar as atividades abandonadas, dando novo significado e sentido para o fazer, promovendo vivências positivas. Assim, a reabilitação destes doentes, tem de contemplar a estimulação cognitiva, a estimulação multi-sensorial e a intervenção motora. A reabilitação em pessoas com 2 Demência tem demonstrado resultados positivos, diminuindo os comportamentos agitados e agressivos, melhorando a comunicação e o humor dos doentes. Fazer valer a vontade antecipada à uma perda esperada… Não menos importantes são, as questões que têm a ver com as últimas vontades e os testamentos. Os testamentos e as últimas vontades são instruções orais ou escritas dadas por uma pessoa, num tempo em que se encontra na posse das suas faculdades mentais, relativamente ao seu futuro no que diz respeito às suas preferências e desejos, assim como a cuidados de saúde. Deste modo devemos ter em consideração antes do declínio cognitivo atingir o ponto da incapacidade mental, aperceber/conhecer os seus desejos de modo a poder respeitar as suas vontades. A tutoria, também é um direito consagrado na lei portuguesa e este deverá ser tomado em conta por via judicial como modo de proteção, amparo e defesa, assim como salvaguardar “os melhores interesses” do doente com Demência. O tutor poderá ser um parente ou não, o importante é que ainda numa fase inicial da doença, o doente possa decidir quem quererá para ser essa pessoa. O enfermeiro como profissional de referência… Os enfermeiros têm uma ação importante no apoio a estes doentes e famílias, pois o cuidar em enfermagem visa melhorar a qualidade de vida da pessoa doente e da família, contribuindo para o controlo da doença, a estabilização da mesma, a integração social, a cooperação na adesão ao tratamento, a adaptação da nova condição, a aceitação da doença e o encaminhamento para os recursos disponíveis da comunidade. O enfermeiro de família é um elemento fundamental no apoio a estes doentes e sua família, pelo seu grau de envolvência e conhecimento, quer da pessoa doente, quer de toda a dinâmica familiar. O enfermeiro está habilitado a intervir, quer a nível individual, quer a nível da família, traçando em conjunto com o cuidador, um plano de intervenção individual/familiar (pois cada doente/família são únicos e com necessidades especificas), de modo a diminuir a sobrecarga familiar e proporcionar maior e melhor qualidade de vida à pessoa com Demência. Ana Sofia Freitas Câmara Enfermeira 3