GESTÃO DE RISCOS EM PROJETOS: UMA ABORDAGEM CONTEMPORÂNEA Caroline Yamada dos Santos* Edson Alcebíades Spósito* *Caroline Yamada dos Santos é bacharel em Administração pelas Faculdades Integradas de Bauru – FIB, pós graduanda em Gestão de Projetos pela Faculdade Internacional Signorelli – FISIG. *Edson Alcebíades Spósito é bacharel em Administração de Empresas pela Instituição Toledo de Ensino – ITE, MBA em Estratégias para Altos Executivos FEA USP, MBA em Gestão de Pessoal na Fundação amando Alvares Penteado. Professor de temas como liderança, motivação, gestão da mudança, organização e responsabilidade social. RESUMO Modelo consolidado em meados da década de noventa, a gestão por projetos visa o alcance de objetivos em um tempo determinado, considerando as variáveis custo e qualidade 1. A realidade contemporânea traz um ambiente de rápidas mudanças, competição acirrada e dificuldades empresariais no que diz respeito a sua atuação no mercado. A gestão de riscos – gestão que faz parte da gestão por projetos – visa mapear, a partir da análise de ambiente, as incertezas a que a empresa pode estar submetida para o alcance de determinado resultado, minimizando o impacto de riscos negativos e maximizando a probabilidade de riscos positivos. Este modelo torna-se, portanto, uma opção para desenvolver e perenizar empresas em ambientes incertos. Palavras Chaves: Gestão riscos, gestão projetos, realidade contemporânea. ABSTRACT Consolidated model in the mid-nineties, management of projects aims at achieving goals in a given time, considering the variables cost and quality. The contemporary reality brings a rapidly changing environment, fierce competition and business difficulties with regard to its market performance. Risk management - management that is part of the project management - aims to map, from environmental analysis, the uncertainties to which the company may be subjected to the achievement of certain result, minimizing the impact of negative risks and maximizing the chances positive risk. Therefore, this model becomes an option to develop and perennialize companies in uncertain environments. Keywords: Risk management, project management, contemporary reality. 1 1. PMI, AIPM e IPMA: Siglas de associações e institutos que tratam a gestão de projetos. Project Management Institute, Australian Institute Project Management e International Project Management Association, respectivamente. 1 METODOLOGIA A metodologia de pesquisa utilizada nesse trabalho é a documental e bibliográfica, através da busca de dados e informações de documentos já existentes e sua interpretação, correlacionando-os ao objetivo do trabalho. Rampazzo (2005, p. 51) define a pesquisa documental como aquela que “procura os documentos de fonte primária, a saber, os “dados primários” provenientes de órgãos que realizaram as observações”. O mesmo autor ressalta que sua importância se deve ao fato de que pesquisas documentais apresentam uma visão mais ampla de um determinado problema. Já a pesquisa bibliográfica é a base de todo trabalho científico, em que os documentos literários já existentes sobre o assunto e/ou relacionados a ele são identificados e mencionados para que o posicionamento atual sobre o problema e seus possíveis desdobramentos sejam expostos. (MACEDO, 1996) INTRODUÇÃO A execução de projetos é exercida pelo homem de maneira empírica desde a antiguidade, sendo consolidado na década de 90 através de instituições como o PMI, o AIPM e a IPMA¹. Projeto pode ser definido como “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo” (PMI, 2013, p. 3). Ou seja, todo projeto deve - seja em algumas variáveis, seja no resultado como um todo – produzir um resultado único a partir do estabelecimento prévio da qualidade, custos e tempo. Atualmente projetos de diferentes complexidades são executados em todo o mundo, sendo utilizado como ferramenta de atingimento de necessidades estratégicas corporativas (KRAUSE, 2014). Para Krause (2014), a expansão da globalização (estreitamento das barreiras comerciais, culturais e de comunicação) é a principal causa do aumento da competitividade e é responsável pela mudança da forma de atuação das empresas, que precisam se ajustar às mudanças rápida e assertivamente para que seu lugar seja assegurado no ambiente. 2 1. GERENCIAMENTO DE PROJETOS Krause (2014) defende que o gerenciamento de projetos tem como objetivo a busca dos objetivos e metas empresariais em um contexto de rápidas mudanças, em que a estratégia é o ponto inicial para a identificação de oportunidades e elaboração de projetos para o alcance de resultados, conforme expresso na figura 1. Figura 1: Aplicação contemporânea de projetos nas empresas Fonte: Krause (2014, p. 16) A realização de um projeto sofre diversas influências, dentre elas, conforme o PMI (2013): da cultura da empresa, da forma de comunicação, da estrutura organizacional, dos fatores ambientais da empresa, das pessoas envolvidas nos processos e da equipe do projeto. A partir dessas influências e das necessidades identificadas nas análises e entrevistas, o gerente de projeto deve, de maneira geral, liderar a sua equipe para o alcance dos objetivos do projeto. Ou seja, eles “são responsáveis pelo atendimento de necessidades: de tarefas, necessidades de equipe, e necessidades individuais” (PMI, 2013, p. 17). Considerado como o “elo entre a estratégia e a equipe” (PMI, 2013, p. 17), o gerente de projetos deve - além de conhecer as ferramentas e as técnicas de boas práticas em projetos - possuir conhecimento em gerenciamento de projetos (vivência), ter bom desempenho quando da aplicação do seu conhecimento e habilidades pessoais relacionadas à liderança (PMI, 2013). As gestões necessárias a projetos e seus objetivos são, segundo o PMI (2013): 3 1. Gerenciamento da integração: unificar, consolidar, comunicar e agir de maneira integrada através do gerenciamento das dependências mútuas entre as áreas e processos do projeto; 2. Gerenciamento do escopo: garantir que o projeto inclui todo o trabalho necessário para seu término com sucesso; 3. Gerenciamento do tempo: assegurar o término pontual do projeto; 4. Gerenciamento dos custos: planejar e estimar orçamentos e financiamentos e gerenciar e controlar custos de modo a garantir o término do projeto dentro do orçamento aprovado; 5. Gerenciamento da qualidade: satisfazer as necessidades do projeto através de políticas de qualidade no planejamento, execução, controle e encerramento do projeto; 6. Gerenciamento dos recursos humanos: organizar, gerenciar e guiar a equipe do projeto através da distribuição de responsabilidades; 7. Gerenciamento das comunicações: assegurar o planejamento, coleta/criação, distribuição, armazenagem, recuperação, gerenciamento, controle e monitoramento adequado das informações do projeto; 8. Gerenciamento das aquisições: comprar ou adquirir produtos, serviços e/ou resultados externos à equipe de projetos; 9. Gerenciamento das partes interessadas: identificar, analisar e desenvolver estratégias de gerenciamento de pessoas, grupos e/ou organizações que impactam direta ou indiretamente no projeto; 10. GERENCIAMENTO DOS RISCOS: planejar e controlar respostas aos riscos de um projeto através da sua identificação, análise e categorização. Desde seu início até a entrega do produto, serviço ou resultado final, as gestões supracitadas encontram-se presentes no projeto e ajudam a determinar a entrega. No encerramento do projeto, quando é feita a “finalização de todas as atividades de todos os grupos de processos de gerenciamento do projeto” (PMI, 2013, p. 100), a documentação e a discussão das lições aprendidas são realizadas, para que as informações necessárias para o aumento da eficácia em casos futuros e o desenvolvimento e crescimento da equipe de projetos aconteça. 4 2. GERENCIAMENTO DE RISCOS Segundo guia PMBOK (PMI, 2013), gerenciamento de riscos refere-se ao planejamento e controle de riscos de um projeto, sendo risco “um evento ou condição incerta que, se ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo em um ou mais objetivos do projeto” (PMI, 2013, p. 310). Sua origem pode ser interna ou externa à organização, sendo que os riscos externos devem ser analisados com maior cautela, por se tratarem de fatores que fogem ao controle da empresa. Alguns exemplos de condições de risco interno que pode impactar nos riscos do projeto são “práticas imaturas de gerenciamento de projetos, falta de sistemas integrados de gerenciamento, vários projetos simultâneos ou dependência de participantes externos fora do controle direto do projeto” (PMI, 2013 p. 310). Os riscos podem ser conhecidos ou desconhecidos, sendo os conhecidos aqueles que foram identificados, classificados e possuem programa de resposta. Já os desconhecidos referem-se àqueles que a empresa e/ou gestor do projeto não identificou e, portanto, não podem ser gerenciados (PMI, 2013). Tanto os riscos positivos e negativos, quanto os conhecidos e desconhecidos possuem uma reserva previamente estipulada de acordo com cada empresa e projeto. Este valor baseia-se, de maneira geral, no grau de tolerância a risco a que a empresa está disposta a se sujeitar. O PMI (2013, p. 311) classifica este grau de tolerância a riscos em três tópicos: 1. Apetite de risco: quantidade ou grau de riscos/incertezas a que a empresa está disposta a aceitar em troca de uma recompensa; 2. Tolerância a riscos: quantidade ou grau de riscos/incertezas a que a empresa está disposta a aceitar; 3. Limite de riscos: limite total de incertezas a que a empresa pode se submeter com relação a determinado projeto. Considerando o grau de tolerância a risco, realiza-se o mapeamento de riscos e planejamento de respostas a eles. O PMBOK (PMI, 2013) aponta a análise qualitativa e quantitativa importantes para que as respostas sejam trabalhadas a partir de grupos de riscos, minimizando o tempo e esforço despedido no assunto. 5 A partir do planejamento do gerenciamento de riscos, identificação, categorização e tratamento dos riscos, é realizado o monitoramento e controle para que, caso o risco venha a acontecer, a empresa consiga agir de maneira proativa. Tema de muita importância, principalmente no século XXI, em que o ambiente torna-se cada vez mais incerto nos negócios e em diversos outros fatores, a Organização Internacional de Normalização (ISO) lançou em 2009 a ISO 31000:2009 - norma de gestão de riscos. O livro Gestão de Riscos, publicado pela editora Risc Tecnologia, aponta algumas bases para a gestão de riscos: 1. Riscos podem ser positivos ou negativos (respectivamente, oportunidades e ameaças); 2. A gestão de riscos pode ser utilizada como ferramenta para melhoria de eficácia e eficiência de desempenho e, para isso, precisa estar atrelada à rotina de trabalho; 3. A gestão de riscos visa identificar possibilidades futuras e preparar a empresa caso elas se concretizem; 4. A gestão de riscos requer apoio da alta e direção e equilíbrio entre a responsabilidade de um risco e a habilidade em controlá-lo; 5. Por tratar-se de assunto que acontece no contexto social, a gestão de riscos exige eficiência de comunicação; 6. A gestão de riscos requer equilíbrio entre o variável custo, risco e benefícios. No mesmo livro, alguns dos benefícios que podem ser alcançados através da gestão de riscos são: redução de surpresas, aproveitamento de oportunidades, melhoria no planejamento, desempenho e eficácia, economia e eficiência, melhoria das relações com os stakeholders 2 do negócio, melhoria das informações de tomada de decisão, melhoria da reputação, proteção de diretores e gerentes e bem estar pessoal. 2. ANÁLISE DE CONTEXTO Alguns destaques em sites e revistas conhecidos no Brasil podem ser considerados como exemplo de riscos e/ou oportunidades para empresas de 2 Stakeholders: Derivado do inglês, são as partes interessadas do projeto. Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/>. Acesso em: 20 nov 2016. 6 diferentes setores. Considera-se aqui que oportunidades e ameaças podem distinguir-se na maneira de o gestor e/ou empresa agir sobre o assunto, considerando sua estratégia, experiências, conhecimento e maturidade. Temas atuais e de preocupação mundial, a discussão sobre a evolução da internet (e outras tecnologias) e questões de ordem ambiental podem ser considerados como as próximas “fontes” de riscos. A página UOL vestibulares³, por exemplo, trouxe temas em 2016, como: 1. “Desinformação na era da informação: o compartilhamento de mentiras e boatos na internet”; 2. “Tecnologia: moeda virtual é o dinheiro do futuro?”; 3. “Internet: Privacidade versus segurança digital”; 4. “Poluição: Superfície da Terra está dominada por partículas de plástico”; 5. “Poluição: 92% da população global respira ar poluído”. Alguns exemplos de temas que podem ser abordados a partir desses assuntos são: os rumos da tecnologia e seus possíveis impactos no ambiente interno e externo à empresa; o nível de preparação e os treinamentos necessários para adequação a essas novas realidades e possíveis mudanças com relação à própria estratégica e/ou planejamento das empresas perante o mercado. Já o site da revista EXAME 3, aborda temas como: 1. “Holandeses apresentam aspirador gigante de partículas ultrafinas”; 2. “Países fecham acordo para reduzir gases do efeito estufa”; 3. “Estudo mostra grande declínio de áreas naturais em 20 anos”; 4. “Poluição do ar custa (muito) caro à China”; 5. “Domino’s faz primeira entrega de pizza do mundo usando um drone”; 6. “Brasil pode ter 100 milhões de objetos conectados em 2025”. Já no caso das manchetes da revista EXAME, pode-se trabalhar temas como: As possíveis mudanças nas leis, entrega e manuseio de matérias que dizem respeito à produção de uma empresa, como a utilização de madeira, borracha e 3 4. Disponível em: <http://exame.abril.com.br>. Acesso em: 22 nov 2016. 7 petróleo; as novas adequações sobre logística e descarte de resíduos da produção e o aumento monetário de penalidades relacionadas à questão ambiental. Em um mundo com características globalizadas, notícias de ordem cultural, econômica, financeira, política e de tecnologia podem ou não afetar a forma com que as pessoas vivem e, consequentemente, os modelos de negócios. Estar atento a mudanças pode trazer vantagens e avisos sobre possíveis ameaças futuras e novas discussões sobre como a empresa se coloca no mercado. Diferentes questionamentos que acercam o assunto “riscos” surgem a medida que essas mudanças afetam o perfil de consumo, as preferências dos consumidores e a concorrência. CONSIDERAÇÕES FINAIS Novos dilemas e impasses surgem na sociedade como um todo e afetam o ambiente de negócios. Este fato se deve ao que Alvin Roth, professor da Universidade Stanford (EUA), defende: “mercados não são criações da natureza, imutáveis como a chuva. Eles são ferramentas feitas para atender à sociedade. Por isso, devem ser compreendidos e aperfeiçoados para obedecer a seus desejos”4 Por tratar-se de um modelo de gestão ágil e dinâmico, a gestão de projetos e, consequentemente, a gestão de riscos, tornam-se uma boa opção para o ambiente incerto e volátil a que as empresas estão submetidas atualmente, pois sua boa aplicação permite a análise de diversos fatores ao mesmo tempo, considerando os eventos presentes e passados, visando aplicação em possíveis realidades futuras. Além, provoca o desenvolvimento do conhecimento interno da empresa e reforça o trabalho em equipe, diminuindo os riscos e desperdícios internos e aumentando a probabilidade de sucesso. 4 5. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/11/1831683-premio-nobel-analisa-mercados-em-qu e-so-o-dinheiro-nao-basta.shtml>. Acesso em: 22 nov 2016. 8 REFERÊNCIAS GESTÃO de riscos: diretrizes para a implementação da ISO 31000:2009. [s.l.]: Risk Tecnologia Editora, [1993]. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=PFq1CgAAQBAJ&printsec=frontcover &hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 21 nov 2016. KRAUSE, W. ISO 21500: orientações sobre o gerenciamento de projetos. Rio de Janeiro: Brasport, 2014. PMI. Um guia do conhecimento em gerenciamento de projetos: guia PMBOK. 5 ed. Pennsylvania: Project Management Institute, 2013. MACEDO, N. D. de. Iniciação à pesquisa bibliográfica. 2 ed. São Paulo: Loyola, 1996. RAMPAZZO, L. Metodologia científica: para alunos dos cursos de graduação e pós-graduação. 3 ed. São Paulo: Loyola, 2005. Recebido: 10/11/16 Aprovado: 15/11/16 9