mdulo 05 - UNIPVirtual

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A LEITURA E A ESCRITA - LINGUAGENS EXPRESSIVAS COMO
INSTRUMENTOS DE INTEGRAÇÃO NOS PROJETOS – O PAPEL DO
PROFESSOR NESSE PROCESSO
A leitura e a escrita
Entre todas as linguagens expressivas — pintura, desenho, escultura,
música —, a oralidade e a escrita são as mais utilizadas. Na linguagem oral, a
fala antecede a escrita e está presente em todas as situações cotidianas. Em
qualquer contexto social, em qualquer ambiente, utiliza-se a fala como
expressão de idéias. Mesmo pessoas mudas e surdas utilizam a linguagem de
sinais, que é um tipo de comunicação que se assemelha à fala, pela rapidez e
eficiência.
A linguagem oral é a primeira forma de expressão utilizada na vida.
Desde muito cedo, os bebês balbuciam, emitem sons e choram na tentativa de
comunicar e chamar a atenção para os seus prazeres e desconfortos. À
medida que percebem as regras da expressão oral, vão testando e ampliando
possibilidades, comunicando-se cada vez mais e melhor com o mundo.
Ao expressar-se oralmente com clareza, a criança adquire confiança na
sua capacidade de transmitir suas idéias, e logo essa forma de comunicação
passa a ser o recurso mais usado por ela. A linguagem oral permeia toda
atividade infantil. Enquanto brinca, a criança vai narrando suas ações como
uma forma de organizar o pensamento e, por isso, linguagem e pensamento
caminham sempre juntos.
O mesmo ocorre na linguagem escrita. Desde que nasce, a criança é
exposta a uma infinidade de estímulos escritos e vai gradualmente
desenvolvendo interesse por eles. A criança também aprende fora da escola.
Muitos professores imaginam, equivocadamente, que a criança começa a
aprender a ler e escrever por volta dos seis anos de idade, quando ele passa a
apresentar-lhe uma série de atividades relacionadas a leitura e escrita
convencionais.
A escrita é a representação da linguagem, portanto é uma construção de
códigos, transcrição gráfica dos elementos sonoros. Para alfabetizar-se, a
criança precisa compreender a utilização dos signos para representar o real.
Nesse processo, não basta decifrar os códigos, mas compreendê-los dentro de
um contexto específico, pois há diferenças nos significados a eles atribuídos.
Analisando suas produções, percebe-se que estão tentando descobrir o
código e essa atividade não é simplesmente um jogo de faz-de- conta no qual
ela finge que sabe escrever, imitando a ação dos adultos. As crianças têm
disponibilidade para aprender a ler e a escrever. Muitas vezes, o adulto é quem
dificulta o processo. Os instrumentos de alfabetização não cumprem os
objetivos de levar a criança a obter prazer com a leitura e a ter liberdade para
expressar-se de forma escrita.
Na história da Educação Infantil, os materiais didáticos e manuais para
alfabetização sempre estiveram muito presentes e sua organização seguia a
orientação de um determinado método. Tradicionalmente, os métodos para
alfabetização de crianças e adultos restringiam-se à memorização e à
decodificação dos signos. Esses métodos se dividiam em dois grupos, os
Métodos Analíticos e os Métodos Sintéticos.
Métodos analíticos - do todo para as partes
Nos métodos analíticos, normalmente eram apresentadas frases e delas
retirada uma palavra considerada de fácil compreensão para a criança. Essa
palavra inteira era desmembrada em sílabas e letras.
Exemplo: O gato bebe leite.
Gato
ga – to
g-a-t-o
Os Métodos Sintéticos - da parte para o todo
Os Métodos Sintéticos têm por característica analisar pequenas partes
das palavras para depois perceber o todo. Eles se subdividiam em:
Soletração - nomes das letras
Método que consiste em memorizar os nomes das letras e suas junções,
como, por exemplo, na música do Mané Pipoca. A letra dizia o seguinte:
Eme a ma, ene é né, Mané,
Pê i Pi, Mané Pi, Pê ó Pó, Mané Pipó
Cê a Ca, Mané Pipoca...
Depois a música era repetida de trás para frente.
Fônico ou fonético - sons das letras
As crianças repetiam os sons das letras e sua junção com as vogais,
como, por exemplo:
ssssssssss (osom do s) com a, fica sa;
l (o som da letra ele se parece com lan ou lã) com a fica la e assim por
diante.
Silabação ou método silábico
Provavelmente é o mais usado, especialmente preferido nos materiais
organizados para a alfabetização como as cartilhas. Consiste em apresentar
uma “família de sílabas” associada a uma palavra com a letra inicial destacada
e a uma figura ou desenho. Há também a escrita em todos os tipos de letras.
Exemplo: gato
No método silábico, as famílias são apresentadas em uma ordem,
organizada pelo adulto em função do que ele considera que sejam dificuldades
para as crianças. Então, primeiramente vêm as vogais e suas possibilidades de
combinatórias com alguma intenção de dar sentido a elas.
Exemplo:
ai - e, ao lado, a figura de uma criança machucada
oi - uma criança acenando
ui - uma criança com o dedo inchado e um martelo na outra mão,
fazendo alusão a que ela tivesse martelado o próprio dedo.
ei - uma criança chamando outra.
Depois são apresentadas as famílias, na ordem do alfabeto, porém, na
letra c, apenas ca, co, cu; na letra g, apenas ga, go, gu, o h é deixado para o
final, junto com outras junções consideradas como dificuldades que é o caso do
r e s no meio das palavras, rr, ss, sc, ç, ch, lh, gu, qu. As letras k, Y e W
parecem não existir nesses manuais.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil orienta sobre
a importância do trabalho com o nome da criança e seus colegas de grupo para
a formação da identidade. O nome é a marca de cada pessoa e está aí sua
importância. Porém, se fossem levados em conta os princípios dos manuais de
alfabetização para trabalhar os nomes das crianças, muitas crianças os
aprenderiam sabe-se lá quando. O mundo está repleto de pessoas chamadas
Henrique, Gabriela, Jennifer, Michely, Thais, Guilherme, enfim, todos com as
chamadas “dificuldades” em seus nomes.
Por isso, os manuais são materiais que não correspondem às
necessidades de alfabetização das crianças. Se o ponto de partida para o
planejamento do professor é o conhecimento prévio do aluno, é preciso saber
do que esse aluno gosta, quais são os assuntos de seu interesse, quais são
suas brincadeiras favoritas, quais são suas preferências alimentares e,
definitivamente, todas essas coisas não estão dispostas em uma ordem
alfabética ou de dificuldades de leitura e escrita.
Mas é esse o mundo que a criança lê. Quando ela pergunta o que está
escrito aqui e ali, não está preocupada com os códigos, mas está
compromissada com a sua curiosidade. A boneca “Barbie”, os carrinhos “Hot
Wheels”, a “Coca-Cola” são do cotidiano de várias crianças brasileiras. Ela
identifica a marca do sorvete no carrinho do vendedor. Tudo isso é leitura de
mundo, e como explicar para a criança que palavras em inglês ainda não são
apropriadas em seu processo de alfabetização? Como dizer a ela que as
marcas de produtos das prateleiras do mercado não têm relação com as
palavras que devem ser lidas na escola?
As palavras servem para serem lidas porque significam alguma coisa. A
leitura tem uma função social importante de inserção do cidadão no mundo
letrado, para que ele possa agir com segurança e consciência, fazer escolhas,
tomar decisões adequadas ao seu modo de vida e de acordo com as
interpretações que realiza a respeito de informações adquiridas e
acontecimentos vividos.
Se a leitura e a escrita não estiverem inseridas no contexto da criança
ela não saberá qual é a importância de usá-la. Se a criança não sabe para que
vai usar a leitura e a escrita, dificilmente será capaz de interessar-se por ela.
Se o professor não oferece materiais variados, envolventes, ricos em
estímulos, a criança não tem vontade de ler. Se o professor não tiver a
preocupação em formar leitores na Educação infantil, vai deixar para quando?
Para a universidade?
O compromisso com a alfabetização e a formação de leitores é nacional.
Muitos professores reclamam que seus alunos de Ensino Fundamental, Médio
e Superior não gostam de ler. Os índices de pesquisa mostram que o brasileiro
lê muito pouco e a escola de Educação Infantil tem responsabilidade em todo
esse processo. Afinal, é ela que dará condições para a criança construir seus
alicerces nesse processo.
A alfabetização na escola de Educação Infantil: as contribuições de Emília
Ferreiro
Emília Ferreiro e Ana Teberosky desenvolveram uma pesquisa que
questiona os métodos escolares tradicionais para a alfabetização, por
perceberem que a criança não se depara com a linguagem escrita no primeiro
dia de aula. Elas possuem um variado leque de idéias próprias a respeito da
escrita.
Dessa pesquisa resultou uma série de idéias que continham implicações
pedagógicas importantes e que outros educadores se propuseram a estudar.
Esse é o caso de uma equipe de psicólogos e pedagogos da Espanha que,
baseados no construtivismo, formaram uma rica experiência relacionada à
alfabetização e organizaram seus conhecimentos no livro “Escrever e Ler como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e
ler“.
Esse livro será a base para a descrição do processo de aquisição da
leitura e da escrita pela criança, bem como para os pressupostos do papel do
professor na construção do conhecimento da criança.
Em sua pesquisa, Emília Ferreiro e Ana Teberosky afirmam que o
mundo que rodeia a criança é um mundo gráfico, no qual ela vê objetos reais e
representações; por isso, a maioria das crianças chega à escola sabendo a
diferença entre desenho e escrita.
Conforme vai explorando o seu meio, repleto de imagens e informações
escritas, a criança, gradualmente constrói seu próprio sistema de escrita e de
leitura por um processo independente do método usado pela escola. Esse
processo de aprendizagem da escrita ocorre por etapas ou fases evolutivas
universais. Em cada fase não há um evento único possível. Todas elas
possuem uma trajetória não-linear, na qual a criança vai avançando e
retrocedendo, avançando novamente até passar para uma nova etapa. Veja
quais são elas no próximo módulo.
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