APRENDIZAGEM MATEMÁTICA EM AMBIENTES INFORMATIZADOS SOUZA, Cleusa Ap. Didomenico do Nascimento1 INTRODUÇÃO Entre as diversas abordagens propostas nos últimos anos sobre a utilização da informática no processo ensino e aprendizagem, este trabalho procura, a partir do estabelecimento de relações entre aprendizagem e processos cognitivos, evidenciar o quanto certos ambientes informatizados, embasados em uma metodologia contextualizada, são ferramentas de grande potencial em projetos educativos dentro de perspectiva construtivista. O homem, ao longo de sua existência, vem assistindo às diversas transformações ocorridas nos meios utilizados para a produção do conhecimento sistematizado. Da argila, para o papiro, passando pelo papel até chegar ao computador, percebe-se, não somente o incontestável avanço tecnológico, mas também o esforço incessante da escola em busca da formação de um indivíduo crítico, com capacidade de resolver problemas e de se posicionar adequadamente no mercado de trabalho. No entanto, se os objetivos da Educação Básica é promover a leitura, a escrita, a interpretação e a inserção crítica do jovem no mundo do trabalho a maioria das escolas está muito aquém desses objetivos. Já há algum tempo autores e pesquisadores chamam a atenção para os problemas da educação no Brasil. Para SAVIANI (1986): ...o fundamental hoje no Brasil é garantir uma escola elementar que possibilite o acesso à cultura letrada para o conjunto da população. Logo, é importante envidar todos os esforços para a alfabetização, o domínio da língua vernácula, o mundo dos cálculos, os instrumentos de explicação científica estejam disponíveis para todos indistintamente. Portanto, aquele currículo básico da escola elementar (Português, Aritmética, História, Geografia e Ciências) é uma coisa que temos de recuperar e colocar como centro das nossas escolas, de modo a garantir, que todas as crianças, assimilem esses elementos, pois sem isso elas não se converterão em cidadãos com a possibilidade de participar dos destinos do país e interferir nas decisões e expressar seus interesses, seus pontos de vista. Neste contexto, surgem na sociedade contemporânea, e mais precisamente nas duas últimas décadas, as discussões de um grande problema educacional: O ensino de Matemática. Em meio as transformações tecnológicas, a matemática continua sendo apresentada de forma desinteressante, obsoleta, tradicional e na maioria das vezes, inútil aos olhos do educando. O descontentamento e o fracasso do ensino de matemática se mostra no momento em que esta 1 Professora Mestre em Educação pela UNICS – Centro Universitário Católico do Sudoeste do Paraná Professora PDE Titulada – UNIOESTE. E-mail: [email protected] ciência, não consegue possibilitar ao indivíduo atingir seu potencial crítico, fazer análises, conjecturas, se apropriar de conceitos e formular idéias. O tema desta pesquisa teve suas origens na necessidade de mudanças da prática pedagógica por perceber, enquanto educadora, que um número crescente de alunos não gostam de Matemática, não entendem para que serve, não compreendem sua relevância e mesmo as boas notas conseguidas por eles são devidas a uma maior adaptação ao estilo das lições oferecidas (Piaget, 1979). O problema que a orientou foi: O uso da metodologia contextualizada auxiliada pela tecnologia, mais especificamente, o computador, influi na melhoria da aprendizagem, no sentido de desenvolver o raciocínio lógico matemático, bem como, a compreensão dos processos e aplicações dos conteúdos em situações da vivência do aluno? A resposta, no início, com certeza, seria um pouco diferente, pois, não se tinha noção da dimensão do que é investigar um processo de ensino e aprendizagem. No processo de construção desta investigação, necessitou-se utilizar a metodologia de abordagem qualitativa, no intuito de buscar desvelar as relações que se estabelecem entre a aprendizagem da Matemática em ambientes informatizados. A investigação aconteceu numa turma de 25 alunos, (11 feminino e 14 masculino), da 1ª série do Ensino Médio de um Colégio Público do interior do Estado do Paraná. Inicialmente, ocorre a identificação das dificuldades dos alunos, no que tange à aprendizagem matemática, que se dá através do questionário, contendo duas perguntas de investigação, anterior e posterior ao desenvolvimento da pesquisa de campo. Depois se dá com a pesquisa de campo, através da observação participante2. A observação foi realizada num período de 45 dias, participando de 26 aulas de matemática. Tendo como pano de fundo o estudo das Funções à luz das teorias da aprendizagem de Piaget, Bruner e Ausubel e, comungando com a concepção de que o produto final da análise de uma pesquisa, por mais brilhante que pareça, deve ser sempre encarado de forma provisória e aproximativa, é que se apresentam algumas das observações e reflexões realizadas durante a observação participativa. Reporta-se às palavras de D’Ambrósio (1997), “Nenhuma teoria é final, assim como nenhuma prática é definitiva, e não há teoria e prática desvinculadas.” Percebe-se, nessa referência, que as afirmações podem superar conclusões prévias e as mesmas podem, por sua vez, ser superadas por outras futuras, quando se buscam alternativas metodológicas para mudar a realidade posta em questão. 2 A pesquisa aplicada neste estudo, desenrolou-se tendo por princípio que: (...) observação participante refere-se a uma situação onde o observador fica tão próximo quanto um membro do grupo do qual ele esta estudando e participa das atividades normais deste (MANN, 1975, p.95). Portanto, não é objetivo esgotar as discussões em torno da aprendizagem matemática e, sim, analisar e tecer algumas considerações sobre o assunto. Os computadores estão presentes nas escolas, mas não são utilizados pelos alunos e professores com fins pedagógicos. O não uso do laboratório de informática, na escola onde foi desenvolvida essa pesquisa, se dá pelo fato de que 90% dos professores não trabalham com o computador. E, os que conhecem e trabalham, utilizam-no somente como instrumento de trabalho burocrático. No momento em que os alunos foram levados ao laboratório a fim de desenvolver uma situação problema, ouviu-se as seguintes falas: Eu não sei mexer, fica você na frente. (Si). Como eu não sei nada, vou esperar. (Gl). Vai ser difícil aprender se eu não sei nem ligar essa máquina. (Fr) Pode-se observar que a frustração e a incapacidade gerada pela matemática, não se reduzem a ela mesma. Esses sentimentos se fazem presentes, também, na relação que os alunos têm com a tecnologia. Essa atitude em relação ao computador pode ser mudada se o professor levar o aluno a entender sua utilidade na aprendizagem da matemática, tornando a aprendizagem ainda mais fácil. Até que enfim viemos trabalhar aqui, agora talvez eu aprenda. (Ti). Vamos ver como se faz matemática, nesta máquina. (Ro). Será que o computador ajuda a resolver qualquer problema de matemática? (Pa). Diante dessa realidade, volta-se às palavras de D’Ambrósio (1990), “ignorar a presença de computadores e calculadoras na Educação Matemática é condenar os estudantes a uma subordinação total a subempregos”. A importância de que todos os alunos tenham uma formação matemática que lhes permita interpretar, analisar e intervir criticamente numa sociedade cada vez mais matematizada reúne grande consenso. Também se sublinha que uma educação para todos deve incluir a compreensão das suas características como modo de pensar e como atividade humana. Integrar o computador nas aulas de matemática, fazendo com que os alunos descubram a relação existente entre tecnologia, a matemática e o seu dia a dia. Ao se deparar com algo que não estão acostumados a lidar, os alunos não sentem que o laboratório de informática pode ser um ambiente de aprendizagem. Portanto, no início, tendem a distrair-se mais, brincando com os computadores, do que a usá-los como recurso pedagógico, pois o efeito da novidade – não de ter um laboratório, ou computador na escola, mas, a oportunidade de estar trabalhando com o mesmo - é grande e é natural um certo período de exploração da tecnologia, como pode-se observar nas seguintes falas: Entra nos jogos, pois tem um joguinho muito massa (...) (Di). Deixa eu brincar um pouco. Gosto de desenhar. (Ma). Será que podemos navegar na internet? Queria lhe mostrar meu e-mail. (Wi) Neste período, o professor necessitou de muita tolerância, consigo próprio e com os alunos, pois, o rendimento não estava sendo o ideal. No entanto, durante e após a interação com o computador e com o grupo, os alunos relatam suas dificuldades iniciais e seus avanços durante o processo. Durante a realização de uma das atividades, alguns alunos se manifestaram com muito entusiasmo: Nossa que legal. Eu não sabia que era tão fácil. (Ta) E não é que deu certo. Deu o mesmo resultado que eu demorei tanto a encontrar. (Sil). Oba! Encontrei todos os pares ordenados. (Ro) Quanto a esse aspecto, na concepção desta pesquisadora, o Excel é um ambiente extremamente importante no processo de ensino/aprendizagem da Matemática, tanto pelos seus aspectos interativos, quanto pela sua filosofia subjacente, com base nas palavras de PAPERT (1996, p. 1): Em toda parte do mundo há um amor apaixonado entre crianças e computadores. Trabalhei com crianças e computadores na África, na Ásia e na América, em cidades, em subúrbios, em fazendas e nas selvas. Trabalhei com crianças pobres e ricas; com filhos de pais letrados e analfabetos. Mas essas diferenças não parecem ter importância. Por toda parte, com muito poucas exceções, eu vi o mesmo brilho nos olhos, o mesmo desejo de se apropriar daquela coisa. E, mais do que querer isso, elas parecem saber que podem comandá-lo mais facilmente e mais naturalmente do que os seus pais. Elas sabem que são a geração dos computadores. (tradução da autora) Analisando-as, tanto dos alunos quanto do autor, enfatiza-se, novamente, que a Educação deve estar em consonância com os avanços tecnológicos que perpassam a sociedade atual, para que os alunos possam vivenciar ambientes significativos de aprendizagem, nos quais as novas tecnologias estejam presentes, possibilitando-lhes desenvolverem novas maneiras de gerar e disseminar o conhecimento. No entanto, alguns alunos encontraram algumas dúvidas que, por vezes, é causa da ansiedade do momento, pois os alunos tornam-se imediatistas, querendo sempre ir além do que lhes é solicitado. Mas, e agora como fazer o gráfico? (Kr) O que fazer para chegar ao gráfico? Será que tenho de desenhar no Word, como fizemos com a piscina? (Je) A aplicação de Bruner (1974) é evidente: Se um aluno é motivado, se sua curiosidade é estimulada, se desafios lhes forem lançados, ele terá interesse em explorar o programa, ele fará relações e inter-relações internas e externas ao assunto abordado. Ele terá condições de aplicar os conhecimentos adquiridos a uma nova situação. Através dos momentos de dúvidas e sucessos é que se chegou às respostas dadas no questionário pós-teste e que demonstra o avanço em relação ao processo ensinoaprendizagem, com a introdução do computador nas aulas de matemática. Eu nunca vou esquecer essa experiência, pois aprendi a trabalhar com um computador, que era o meu sonho. No começo eu e minha colega ficamos com medo e tivemos muitas dificuldades para trabalhar e mexer no computador. Demorei um pouco para aprender a controlar o mouse. Foi até motivo de risadas na sala, mas graças a Deus, no final eu já estava “craque” no computador. (Ca) Além de achar a matemática difícil, no começo eu não consegui fazer nada no computador. Aprendi um pouco sobre digitação, mas foi difícil entender o excel. Qualquer “numerozinho” que digitasse errado, já errava tudo. (Ro) Sofri um pouco para aprender a mexer no mouse. Confesso que essa parte do computador foi a mais difícil. A minha colega Ca conseguiu aprender logo e eu ainda sinto um pouco de dificuldade. (Gl) É necessário que os alunos aprendam um mínimo de manejo da máquina: lidar com um mouse, desenvolver certa destreza com o teclado, executar procedimentos para iniciar a atividade com um determinado software e procedimentos finais para fechamento da atividade. O fato de estar trabalhando com algo diferente, fez com que eu me sentisse interessada e quisesse aprender. No computador foi possível ver o que nós tínhamos feito em sala de aula. E a cada análise de gráfico que era feita eu aprendia uma coisa diferente. (Ta) Realmente, os ambientes informatizados apresentam-se como ferramentas de grande potencial frente aos obstáculos inerentes ao processo de aprendizagem. É a possibilidade de "mudar os limites entre o concreto e o formal" (Papert, 1988). O computador permite criar um novo tipo de objeto, ou seja, os objetos “concretoabstratos”. Concreto por existir e, aparecer na tela, como por exemplo, o gráfico de uma função que pode ser manipulado e transformado. Abstrato por se tratar de realizações feitas a partir de construções mentais. A sociedade do futuro, voltada à aprendizagem, às tecnologias de informação e para a acelerada divulgação de conhecimentos científicos, não pode limitar-se a uma escola de hábitos milenares baseada no falar ditar do professor (Levy, 1993), mas, nortear-se para o desenvolvimento do indivíduo em todas as suas manifestações, para o acesso a cultura geral e para o desenvolvimento de aptidões. O computador é uma ferramenta para atingir estes objetivos de forma integrada na medida em que, promove transformações na escrita, leitura, nas formas de comunicação e representação e por outro, funciona como uma fonte geradora de conflitos cognitivos que possibilita a articulação e ampliação dos esquemas operatórios do indivíduo. No computador, nós encontrávamos os erros que às vezes tínhamos feito na resolução em sala. Quando inseria uma fórmula e não dava certo é porque algo estava errado, então precisava ser corrigido. Acho que a turma toda conseguiu perceber a utilidade do computador nas aulas de matemática. (Wi) Foi muito bom trabalhar com o computador, pois percebi que não era tão difícil como parecia. (Pa) Ver no computador o resultado do meu trabalho foi maravilhoso. Depois de erros e acertos, conseguia analisar o gráfico e falar sobre o que tinha feito. (Ti) Nas exposições acima, fica explícito de que houve um progresso e uma mudança positiva de comportamento em relação à tecnologia, neste caso, o computador. Nesse processo de resolução e interação dos alunos nos ambientes informatizados pode-se observar que essa ambiência, estrategicamente programada, auxilia o professor a perceber a riqueza do trabalho cooperativo, onde o saber pode ser reconstruído numa troca contínua e mútua entre os mesmos. Para aceitar a colaboração dos alunos é necessário experimentar, acolher o erro como possibilidade da trajetória e vê-lo como momento de aprendizagem, tanto quanto com o acerto. Diante da exposição: “E o professor estava sempre do nosso lado para nos questionar. Isso nos ajudava a pensar. Foi muito bom”(Br), é possível observar que o professor é o elemento integrador desse processo, pois como coloca Lévy (1999) “o professor é incentivado a tornar-se um animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de conhecimentos”. Portanto, um dos aspectos fundamentais, consiste na mediação do professor. Nesse sentido, pode-se reportar a Bruner, citado por Garton (1995), na apresentação da metáfora “Scaffolding”, para conceituar o processo em que o professor atua como mediador na construção do conhecimento pela criança, partindo de sua etapa de desenvolvimento e do seu conhecimento atual. O professor pode intervir com perguntas, colocações, novas informações e sugestões de novas relações, ajudando o aluno no desenvolvimento do seu potencial como um todo. O ambiente, por mais rico e construtivo que seja, por si só, não é suficiente para promover contextos propícios para a construção do conhecimento. Apesar do nosso professor não conhecer muito sobre informática, ele nos auxiliou, sentando ao nosso lado e tentando descobrir junto uma solução. (Si). Observa-se através das falas dos alunos, que a dificuldade do professor em relação ao uso do computador não afetou o trabalho no laboratório, pois o mesmo se mostrou aberto às descobertas e se posicionou com humildade diante das dificuldades encontradas. Como vocês sabem, eu também não sei lidar muito bem com o computador, mas com a ajuda dos nossos colegas que já trabalham com o computador, há algum tempo, vamos tentar juntos aprender e sanar nossas dúvidas. (PR). Di, por favor, nos auxilie aqui, pois as meninas não conseguiram completar essa tabela. (PR). Aguarde só um minuto que eu vejo com a La, o que fazer (...). (PR) Nesse contexto, o professor necessita estar sempre aberto e pronto para aprender com os alunos e com os demais colegas monitores, na medida em que o aprendizado sempre ocorre para todos. Segundo FREIRE (1987) O educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem. Em que, para ser-se funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas. Na construção do conhecimento, numa perspectiva interdisciplinar, professor e alunos engajam-se, numa relação cooperativa de interações e intercâmbios, entrando o aluno com todas as suas vivências e conhecimentos anteriores sobre os temas tratados, e o professor ajudando a explicitar os conceitos que vão sendo intuitiva ou intencionalmente manipulados no desenvolvimento dos trabalhos e das novas descobertas, convergindo para o que Pierre Lévy (1999) chama de aprendizagem cooperativa. Os professores aprendem ao mesmo tempo que os estudantes e atualizam continuamente tanto os seus saberes 'disciplinares' como suas competências pedagógicas. (...) A partir daí, a principal função do professor não pode mais ser uma difusão dos conhecimentos, que agora é feita de forma mais eficaz por outros meios. Sua competência deve deslocar-se no sentido de incentivar a aprendizagem e o pensamento. Levando em consideração o ambiente de cooperação que se estabeleceu na relação professor-aluno, o professor solicitou a ajuda dos alunos Di, Wi e La, para que fizessem a apresentação do programa Excel. Apesar de os mesmos não trabalharem com a matemática no computador conheciam as funções básicas do programa. Para fazer a explicação sobre a inserção de uma fórmula no Excel, o PR pediu auxilio ao professor de informática do Pós-médio e se preparou para o trabalho que seria realizado durante a aula. Além das tarefas, das dificuldades, das dúvidas e dos progressos em relação à aprendizagem, há dois registros que avaliam o programa Excel no desenvolvimento do conteúdo de funções. O programa Excel é um programa maravilhoso para fazer muitos cálculos matemáticos, mas o professor estava certo quando disse que o computador não faz sozinho, pois se eu não entender a situação problema e não souber inserir corretamente a fórmula, ele não fará isso. (Di) É superada, portanto, a concepção do computador como uma "máquina de ensinar", na qual eram introduzidas informações, para que depois fossem repassadas, "ensinadas", ao aprendiz. Como já foi apresentado no capítulo I dessa dissertação, com essa metodologia não é, o computador que ensina o aluno, mas sim o aluno que aprende "ensinando o computador", ou seja, criando, desenvolvendo novos conhecimentos. Apesar de eu ter que saber o que inserir em uma planilha do excel, o programa me ajudou muito para que eu pudesse entender a linguagem dos gráficos. Eu não sabia o que significava a parábola virada para cima ou para baixo e agora, não esquecerei mais sobre os parâmetros, ou seja, o porque de uma parábola gorda e outra magra. (Wi). Quanto ao aspecto envolvimento do usuário, como um dos componentes fundamentais no processo da construção do conhecimento, faz-se necessário ressaltar que, quando se utiliza o Excel, o usuário insere-se em um ambiente de aprendizagem, no qual seu envolvimento e interação são traduzidos no processo de resolução de problemas, na visualização dos gráficos e principalmente na análise e interpretação dos mesmos. Nesse ambiente, os alunos criaram suas próprias estratégias, avaliaram e redefiniram suas estratégias sempre que necessário, refletiram sobre os seus objetivos e metas. Trata-se, portanto, de um ambiente extremamente rico e poderoso de que os professores podem lançar mão para desenvolverem assuntos e temas relacionados à aprendizagem da matemática. Outro aspecto a ser considerado em um ambiente informatizado e explicitado pelos alunos na exposição abaixo é a importância da colaboração entre os próprios pares e da cooperação dos alunos monitores. Nas atividades realizadas no laboratório, acho que o momento que mais aprendi foi quando cada grupo apresentava a solução do problema e quando o meu estava errado eu descobria onde estava o erro. Um ajudava o outro para que o grupo fizesse certo. (Cr) O meu colega Ti aprendeu mais rápido do que eu, por isso ele me ajudou muito quando eu não sabia resolver o problema ou inserir uma fórmula no computador. (Sil) Observa-se, que durante o desenvolvimento de atividades cooperativas a Educação apropria-se de um dos recursos mais humanizantes das novas tecnologias, que é a possibilidades do contato dos alunos com os próprios pares e também com a turma, no momento em que os mesmos estão no laboratório de informática. Nesse contexto, percebe-se que a informática não isola as pessoas em torno da máquina, mas sim, abre uma porta para a amizade e a cooperação. No entanto, realizar atividades pedagógicas em uma sala cheia de computadores, com um, dois ou mais alunos por máquina, não é tarefa fácil. As máquinas ocupam muito espaço e estão próximas umas das outras. O espaço de cada aluno (ou dupla) é preenchido pelo teclado e pelo mouse e quase não há lugar nas “mesinhas” para se fazer anotações ou usar outros materiais. O uso de papel ainda é necessário, pois o aluno não dispõe de computadores todo o tempo. Na sala de aula pesquisada também se observou essa dificuldade. No entanto, não foi muito difícil contornar, pois, nos momentos de resolver os problemas os alunos se reuniam nas mesas que ficavam no centro do laboratório. Em seguida retornavam aos computadores. Além de dedicar sua atenção à aula, o professor regente necessitou se desdobrar para atender a problemas de manejo dos computadores. A aula, representou uma quebra na rotina da uma sala pesquisada, especialmente porque foram relativamente poucas as atividades, para cada aluno, com este novo recurso na escola. Um recurso valioso, disponível na própria sala de aula, foram os alunos que tinham conhecimento do manejo de computadores e que ajudaram o professor e os colegas na nova sala de aula informatizada. Discutia com o colega e muitas vezes com outros grupos para descobrir o erro. Muitas vezes não era erro na resolução e sim um símbolo que digitávamos errado. Nesses momentos os colegas Di, La e Wi, foram muito importantes, pois eles sabiam trabalhar no computador e nos ajudavam. (Je) A experiência com alunos monitores teve um caráter educativo, pois ensinando é que se aprende. Eles desenvolveram habilidades de ensino com novas tecnologias e certamente poderão se auxiliar mutuamente em outras atividades. Wi, por favor auxilie a Ju e a Pa que não estão conseguindo chegar ao gráfico. (PR) A participação dos monitores foi essencial, pois atuaram como elementos de comunicação entre os vários grupos da turma e na comunicação dos colegas com os professores (regente e pesquisadora). Assim foi possível desenvolver atividades de aprendizagem mais ricas do que aquelas em situações assimétricas como professor – aluno. A função de monitor não interferiu com as atividades de estudo, mas sim contribuiu para torná-lo um aluno melhor. Pode-se inferir também de que ambientes informatizados são ativos e os alunos nesses ambientes, envolvem-se em simular fenômenos reais e imaginários. Eles podem processar entradas, variáveis, planejar ações, analisar problemas, tomar decisões, monitorar os progressos e coordenar seus esforços para alcançarem os objetivos delineados. Diante da interação dos alunos durante a pesquisa e o processo de resolução apresentada pelos mesmos durante as atividades no ambiente informatizado, pode-se colocar a real necessidade de envolvimento no processo de ensino aprendizagem e um professor novo, um ativador intelectual, disposto a mudar, para que se possa ouvir do aluno “Aprendi o máximo”, chegando assim a resultados positivos. Nesse contexto pode-se inferir que no momento em que se trabalha com um ensino tradicional ou com a informatização do ensino tradicional, este se baseia apenas na transmissão de conhecimento. Nesse caso, tanto o professor quanto o computador são proprietários do saber, e assume-se que o aluno é um recipiente que deve ser preenchido. O resultado dessa abordagem é o aluno passivo, sem capacidade crítica e com uma visão de mundo limitada. Esse aluno, quando formado, terá pouca chance de sobreviver na sociedade atual. A angústia que se sente ao perceber que, apesar dos esforços, o ensino da matemática está sendo improdutivo, levando, conseqüentemente, ao insucesso na aprendizagem, foi se dissipando no decorrer da experiência e mesmo sabendo que não há um método infalível para melhorar a aprendizagem, conseguiu-se chegar a uma alternativa para que as aulas de matemática não sejam tão desprezadas e temidas pelos alunos. Enquanto pesquisadora e, ao mesmo tempo, observadora participante, conclui-se que a contextualização pode ser realmente, um recurso que o professor tem para retirar o aluno da condição de expectador passivo, pois a contextualização facilita a ponte entre a teoria e a prática. Nas observações realizadas, foi possível constatar um envolvimento quase que total dos alunos, nas atividades práticas, de laboratório e também nas atividades teóricas. A aplicação de problemas envolvendo situações vivenciadas pelos alunos desenvolveu uma disposição para aprender. Percebeu-se que no processo de ensino, importa que a aprendizagem seja significativa, isto é, que o material a ser aprendido faça sentido para o aluno. No início, alguns alunos não manifestaram interesse em participar das atividades. Acredita-se que o pouco entusiasmo se deu pela falta de expectativa positiva em relação à aprendizagem da Matemática. Afinal, as aulas eram vistas como chatas e desinteressantes. Todavia, ao longo da experiência, esses mesmos alunos foram sendo contagiados pelos outros que assumiram a posição de investigadores, proporcionando uma integração e conseqüentemente uma melhoria na aprendizagem. O trabalho em grupo permitiu que os alunos evoluíssem enquanto seres humanos, uma vez que adquiriram valores e atitudes fundamentais para a formação do cidadão, proporcionando a oportunidade de comparar, mais facilmente, as idéias, opiniões e justificativas e minimizou a dificuldade que existe, por vezes, em explicar um raciocínio ou um ponto de vista. Ao falar em formação do cidadão, reporta-se à informática, elemento essencial no desenvolver da experiência. Na era da informação, sente-se tristeza ao perceber que a maioria dos alunos são totalmente analfabetos digitais. Na turma de 25 alunos, apenas três tinham um conhecimento básico de informática. E, o mais decepcionante é que a maioria das escolas de Ensino Médio estão equipadas com um laboratório de informática. Muito embora as escolas possuam os Laboratórios de Informática, muitos estudos e a própria realidade da escola pesquisada, apontam que os professores não utilizam estes recursos como ferramenta didática e que o computador ainda é um mito para o professor. Um fato interessante, que vale salientar, é que os alunos conhecedores de informática, demonstravam muito mais agilidade de pensamento no momento de resolverem os problemas em sala de aula, ou mesmo ao fazerem a análise de um gráfico. Faz-se necessário ressaltar que, apesar da maioria dos alunos chegarem ao laboratório sem experiência em informática, ao final do trabalho saíram conhecendo as ferramentas básicas para a realização de suas tarefas escolares e, para isso, não foi preciso nenhum curso especializado de informática. O conhecimento técnico aconteceu concomitantemente com a aprendizagem dos conteúdos. Evidentemente que dificuldades surgiram no momento de trabalhar com o computador. Alguns alunos foram mais rápidos, outros mais lentos, mas o essencial foi conseguido: demonstrar que a tecnologia está aí e não está fora da realidade, como eles imaginavam; que não é necessário ser um especialista em informática para trabalhar com um computador e que eles têm o direito de usufruir algo que a escola, muitas vezes, se nega de oportunizar. Ao se trabalhar com o aplicativo do Word, na digitação das situações problema, tevese a grata satisfação de observar a aprendizagem em relação à ortografia, pois em várias situações os alunos, com espanto, percebiam que há muito, escreviam uma palavra com grafia errada. No momento em que a palavra aparecia grifada em vermelho, eles próprios riam, ao perceberem “a burrada” (fala deles), que haviam feito. Isso demonstra que em busca de um objetivo pode-se alcançar outros que não se imaginava ser possíveis. A aprendizagem mais significativa aconteceu nos momentos em que os pares discutiam sobre a melhor forma de construir uma tabela, a unidade ou a escala mais adequada para aquela situação e a construção dos gráficos das funções. O erro foi um aliado nessa aprendizagem, pois, ao observar, na tela do computador, que o resultado estava diferente dos outros, era comum, a discussão entre as duplas para encontrarem qual estava errado. Isso gerou um ambiente de cooperação, no qual o diálogo foi a principal ferramenta e o aluno passou a perceber o erro como parte do processo de ensino-aprendizagem de forma natural. Foi possível também, perceber que as aulas não podem ser ministradas de forma vazia e desconexa. Neste sentido, os descontos oferecidos numa loja de roupas, a quilometragem entre uma cidade e outra, uma tempestade que se aproxima, um passeio no clube, a construção de um galinheiro e até mesmo um jogo de basquete, tudo é um bom motivo para aprender Matemática. O aluno quando vê a Matemática no seu dia a dia, quando percebe que em tudo há um pouco dela, fica mais interessado e a aprendizagem acontece com mais fluência. A Matemática deixa de ser aquele bicho de sete cabeças. Através da metodologia utilizada, constatou-se que o aluno aprende a pensar criticamente, a desenvolver a capacidade de reconhecer a realidade e seus problemas, e a se preparar para uma ação transformadora na sociedade. No entanto, um ponto que deve ser salientado é que a duração do desenvolvimento de um conteúdo na metodologia tradicional é diferente se aplicar a metodologia contextualizada, usando a informática. No segundo caso, o trabalho de investigação e, posteriormente, laboratorial, exige um tempo extra para organização e aplicação das novas tecnologias. O tempo a mais gasto no laboratório é, com certeza, compensado na aprendizagem, pois durante o desenvolvimento da experiência, a avaliação foi contínua, durante o processo e não houve necessidade de recuperação. O voltar atrás no conteúdo e revisar, não foi necessário. O professor regente assumiu uma posição de mediador e, apesar de o mesmo não ter um grande conhecimento de informática, ao final da experiência o mesmo chegou à conclusão de que um ambiente informatizado pode trazer melhoria na aprendizagem, transformando as atitudes negativas dos alunos, em relação à Matemática, em atitudes positivas. Com todos os significativos benefícios apresentados acima, pode-se concluir, então, que o computador, sempre será um fator de eficácia na aprendizagem da matemática? Certamente que não. Não se pode fazer essa afirmação, assim, de forma generalizada, por tudo o que foi colocado anteriormente, na fundamentação teórica, quando expostas as maneiras de se utilizar o computador. A utilização do computador como máquina de ensinar ou como auxiliar do processo de construção do conhecimento, no qual o mesmo é usado como uma máquina para ser ensinada. Acredita-se que no último caso, no qual o aluno é quem deve passar as informações para o computador, a aprendizagem aconteça de forma mais significativa. A metodologia utilizada, no momento da inserção do computador nas aulas de matemática, deve ser de extrema preocupação, pois, levar o aluno ao laboratório de informática sem uma fundamentação e uma explicitação sobre o que buscar no computador, tornaria a aula mais tradicional que o uso de quadro negro e giz. Acredita-se que metodologia da contextualização, leva o aluno a processar novas informações ou conhecimentos que fazem sentido para ele em sua própria estruturação de referências (seu mundo interior de memória, experiência e resposta), isso faz com que o mesmo se sinta instigado a buscar respostas às suas indagações. Nesse caso, deve-se utilizar todos os recursos disponíveis para isso, inclusive o computador. Mesmo sabendo que não se está usando os mais sofisticados sistemas computacionais, faz-se necessário ter muito claro o que é importante do ponto de vista pedagógico e como tirar proveito da tecnologia para atingir tal objetivo. Se, por um lado, é verdadeiro que o acesso à tecnologia ainda não é majoritário, no caso da realidade da escola pública brasileira, por outro lado, tudo leva a crer que, assim como ocorreu com outras tecnologias (TV, vídeo, etc), este acesso tende a popularizar-se e massificar-se rapidamente. No entanto para que isso aconteça de maneira efetiva no processo ensino e aprendizagem da matemática implica em uma alteração de postura dos profissionais em geral e, portanto, requer o repensar dos processos educacionais. Mas não é possível restringir a reflexão e os processos apenas ao nível da educação escolar. É necessário ampliar os questionamentos ao nível de toda a sociedade, com seus dramas e contradições. Portanto, ao final deste trabalho, chega-se à conclusão de que a efetiva utilização dos ambientes informatizados e a aprendizagem da matemática, ainda são grandes desafios, para os professores e para todos os envolvidos na esfera educacional. São desafios que envolvem aspectos como a própria construção dos ambientes, a formação de professores e novas propostas curriculares. Por fim, percebe-se que sempre existe uma alternativa para uma mudança, por menor que seja: na sala de aula, na comunidade escolar, na sociedade, enfim, na realidade humana. REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P., NOVAK, J. D., & HANESIAN, H. Psicologia Educacional. 2ª edição. Rio de Janeiro: Interamericana. 1980. BRUNER, J. S. Toward a Theory of Instruction. Cambridge, MA: Harvard University Press. 1966. BRUNER, J. S. Uma nova teoria da aprendizagem. Rio de Janeiro: Bloch, 1969. BRUNER, J. S. O processo da educação. Trad. Lobo L. de Oliveira. 4. ed. São Paulo. Nacional, 1974. BRUNER, J. S. Tradução adaptada. 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