Reflexos Condicionados

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Reflexos Condicionados
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO:1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico: 3.1. O Problema da Originalidade; 3.2. De
Galenus (Galeno) a René Descartes; 3.3. De René Descartes a Thomas Willis.3.4. De Thomas
Willis a Pavolv. 4. Pavolv e os Reflexos Condicionados: 4.1. Ivã Pavlov; 4.2. A Técnica de
Pavlov; 4.3. Aplicação em Propaganda. 5. Espiritismo: 5.1. Automatismo e Corpo Espiritual;
5.2. Reflexos Psíquicos; 5.3. Fenômeno Hipnótico e Mediunidade. 6. Atitude e Mudança
Comportamental. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Uma das maiores generalizações da ciência biológica é que todo o organismo
vivo tende a variar suas atividades em resposta à mudança das condições do
ambiente. Quando as circunstâncias externas modificam-se, os animais
procuram adaptar-se à nova situação. O cão faminto, por exemplo, dirige-se ao
lugar em que normalmente come. Não encontrando o seu alimento, busca
outras alternativas até saciar a sua fome. Por outro lado, os pássaros
deslocam-se de um lugar para outro, a fim de se ajustarem às condições
climáticas. O propósito desta palestra é estudarmos, em conjunto, a mudança e
a adaptação do comportamento humano. Desta forma, o nosso trabalho
versará sobre os seguintes itens: o conceito de reflexo, histórico, a contribuição
de Pavlov, a ótica espírita e a mudança comportamental.
2. CONCEITO
Reflexão: ao incidir sobre uma superfície, a luz se reflete, ficando porém retida
uma parte, cuja energia é absorvida. A superfície da água pode ou não refletir a
luz de acordo com o seu estado. (Enciclopédia Luso-Brasileira)
Reflexo: - do lat. reflexu "voltado para trás", "revirado", "retorcido". Adj. Que se
volta sobre si mesmo; reflexivo (Dicionário Aurélio). Fisiologia: resposta de um
órgão efector (músculo ou glândula), resultado da estimulação de receptores
ou das vias nervosas que lhes correspondem. Será involuntário e automático.
Em outras palavras, reação involuntária, sensorial ou motora, a um estímulo
exterior. (Enciclopédia Luso-Brasileira)
Reflexos Congênitos ou Incondicionados: são os chamados protetores,
alimentares, posturais e sexuais, detentores de vias nervosas próprias, como
que hauridos da espécie, seguros e estáveis, sem necessidade do córtex.
(André Luiz, Mecanismos da Mediunidade, p. 92)
Reflexos Adquiridos ou Condicionados: respostas conseguidas por
estímulos diferentes daqueles que primitivamente as provocavam, por meio de
associação ao estímulo normal em condições preestabelecidas para se obter o
chamado condicionamento (Enciclopédia Luso-Brasileira). Em outras palavras,
são os que se produzem sob determinadas condições, independentemente do
estímulo direto.
3. HISTÓRICO
3.1. O PROBLEMA DA ORIGINALIDADE No campo religioso, reportamo-nos
ao clã totêmico; no campo da filosofia, ou dos temas filosóficos, buscamos
Sócrates, Platão e Aristóteles; no âmbito da medicina, Hipócrates etc. De
acordo com Pessoti, em Pré-História do Condicionamento, "A noção ou
conceito de movimento reflexo ou comportamento reflexo é, por exemplo, um
assunto no qual vários "pais" da idéia foram proclamados, de acordo com um
conceito de reflexo próprio de cada historiador e fruto da perspectiva histórica e
teórica de análise em que este se coloca" (1976, p. 1). Por exemplo, diversos
pesquisadores atribuíram a Albrecht von Haller (1708-1777) a descoberta de
dois fatos revolucionários na fisiologia do movimento: insensibilidade e
irritabilidade. Na verdade, Haller não descobriu a irritabilidade nem a
insensibilidade mas tentou com incoerência e alguma pressa contestar
conhecimentos solidamente estabelecidos por seus antecessores, servindo-se
de experimentos discutíveis embora numerosos (Pessotti, 1976, p.1).
3.2. DE GALENUS (GALENO) A RENÉ DESCARTES
A história do reflexo está estreitamente ligada quer às origens do estudo
experimental do comportamento, quer à formação da fisiologia nervosa. Muitas
pesquisas sobre a gênese da noção de reflexo atribuem a René Descartes. Há
interpretações controvertidas acerca do papel da fisiologia mecanicista
cartesiana na formação histórica do conceito de reflexo. A teoria cartesiana é
incontestavelmente uma "teoria mecanicista, mas não é a teoria do reflexo"
(Pessotti, 1976, p.16). Galeno (131-200 d. C.) não se enveredou pelo lado
filosófico, mas sim pela observação sistemática e controlada, o que foi possível
graças à introdução da técnica da vivissecção.
3.3. DE RENÉ DESCARTES A THOMAS WILLIS
Os elementos fundamentais da neurofisiologia cartesiana eram: a) concepção
dos "espíritos animais"; b) concepção de nervo; c) processo de condução do
impulso nervoso. Os espíritos animais, para Descartes, eram o resultado de
transformação do sangue aquecido pelo coração. Para Willis, são produzidos
no encéfalo e mais exatamente no cérebro e cerebelo, mas não no coração
(Pessotti, 1976, p. 20).
3.4. DE THOMAS WILLIS A PAVLOV
Borelli, fundador da escola iatromecanica, cuja explicação do movimento deve
ser procurada nas leis da mecânica e da matemática, substitui os "espíritos" de
Descartes e de Willis, por um líquido nervoso, succus nerveus, que corre
através das fibras dos nervos. Von Haller estuda a irritabilidade. Robert Whytt é
o primeiro a falar da ação reflexa em harmonia com os dados experimentais,
Marshall Hall (1790-1857) apresenta uma rigorosa distinção entre movimentos
voluntários e involuntários, num artigo lido diante da Royal Society, I. M.
Séchenov estuda os reflexos do cérebro e Ivan Pavlov o condicionamento dos
reflexos. (Pessotti, 1976, p. 28 a 122)
4. PAVLOV E OS REFLEXOS CONDICIONADOS
4.1. IVÃ PAVLOV
Nasceu em 1849, ano em que morria um importante especialista da fisiologia
experimental, Filomafitsky (autor da primeira fístula estomacal), cujo nome está
ligado à história de Pavlov, por causa da abertura do estômago, in vivo.
Pavlov completara quatro anos de idade, quando as idéias de Marshall Hall
sobre a "função reflexa" eram já de domínio geral entre os fisiologistas. Aos
onze anos, Pavlov era estudante no seminário de Riazan e em 1861 conheceu
os princípios de Pissarov que atacava os preconceitos relativos à pesquisa
científica e às resistências que se opunham ao desenvolvimento cultural do
país.
O método científico absorvido de Pissarov fê-lo dar importância à
experimentação, passando a combater toda a forma de preconceito metafísico
no estudo dos processos fisiológicos (Pessotti, 1976, p. 113).
Seus professores são expulsos do país. Tem dificuldade de arrumar emprego.
Por fim é convidado por Botkine, e pode realizar importantes pesquisas sobre a
digestão, que o tornaram uma personalidade científica de fama internacional:
tratava-se de numerosos trabalhos com os quais aperfeiçoou a técnica de abrir
"fistulas" ou "janelas" para observar in vivo os processos internos dos animais.
4.2. A TÉCNICA DE PAVLOV
Pavlov, como fisiologista, esteve por muito tempo interessado em glândulas e
suas secreções. Por esta razão e porque as reações glandulares são
facilmente medidas, as primeiras reações condicionadas são salivares.
A Experiência de Pavlov foi feita sob rigoroso controle. Pegou um cão,
amarrou-o, isolou-o de muitos barulhos externos, tais como os da rua e de
outros cachorros, a fim de ter o mínimo de discrepância em sua conclusão.
Pavlov sabia que colocando um pouco de ácido na boca do cão, este emitia
saliva. Por outro, um som qualquer não o fazia emitir. O seu experimento
consistia, então, em colocar o ácido na boca do cão, ao mesmo que tocava
uma campainha. Depois de várias repetições, deixava de colocar o ácido e
somente com o som da campainha, o cão começava a salivar. Quis mostrar
que o estímulo inicial cessado, o cão reagia pelo efeito condicionado (Shaffer,
1936, p.56-57)
4.3. APLICAÇÃO EM PROPAGANDA
Os operadores de marketing, aqueles que querem vender os seus produtos,
utilizam o processo de reação condicionada (de compra), baseado em Pavlov.
As condições são: repetição, intensidade e clareza (ou simplicidade) dos
estímulos. Observe que os anúncios são cheios de cores, rápidos e repetitivos.
Quantas vezes não vemos uma mesma informação? Ou um mesmo comercial?
Além do mais, os psicólogos sociais observam a questão do comportamento
refletido, que se aproxima do homo aeconomicus e o comportamento semi-
refletido ou irrefletido, que deste se distancia. (Reynaud, 1967, p. 58 e 59).
5. ESPIRITISMO
5.1. AUTOMATISMO E CORPO ESPIRITUAL
Atividades reflexas do inconsciente: a proposição de escrever requer todo
um aprendizado prévio. Como? Aprender letra, soletrar, escrever etc. No
campo do Espírito é vestir a matéria densa e desvestir-se. É o processo de
encarnação e desencarnação.
Automatismo e herança: "Se, no círculo humano, a inteligência é seguida pela
razão e a razão pela responsabilidade, nas linhas da civilização, sob os signos
da cultura, observamos que, na retaguarda do transformismo, o reflexo precede
o instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade refletida que é base da
inteligência nos depósitos do conhecimento" (André Luiz, Evolução em Dois
Mundos, p. 39)
5.2. REFLEXOS PSÍQUICOS
Toda a mente vibra na onda de estímulos e pensamentos em que se identifica.
Nos cães de Pavlov, comer é ato automático. A carne é hábito adquirido. É
nesses reflexos condicionados da atividade psíquica que principiam para o
homem de pensamentos elementares os processos inconscientes da
conjugação mediúnica, ou seja, emissão e recepção de ondas. Nesse sentido,
conversação, leitura e filmes representam agentes de indução extremamente
vigorosos (André Luiz, Mecanismos da Mediunidade, p. 93).
5.3. FENÔMENO HIPNÓTICO E MEDIUNIDADE
Atenção, concentração, meditação e êxtase são fases para melhoria da
passividade mediúnica. O hipnotismo, o circuito magnético, o circuito mediúnico
são termos que usamos para facilitar a comunicação mediúnica. Assim sendo,
todos somos médiuns, porque todos somos passíveis de receber as
inspirações do mundo espiritual.
6. ATITUDE E MUDANÇA COMPORTAMENTAL
Atitude é a maneira coerente e peculiar de reagir a determinados estímulos.
Seus componentes são: "pensamentos", "crenças", "sentimentos ou emoções"
e "tendências para reagir". As atitudes são aprendidas pelos princípios da
"associação, da "transferência" e da "satisfação das necessidades"
Por que a mudança de atitude é mais difícil do que o aprendizado?
É que alteramos o componente pensamento-crença, sem afetar o sentimento e
tendência reativas. Estudos da Psicologia Social tem mostrado que existe
primeiramente dificuldade de persuasão, principalmente nos crédulos, que
dependem do líder e dificultam a absorção de proposições alheias. Esses
psicólogos verificaram que a estratégia para mudar um componente da atitude
realinha todos os outros componentes na mesma direção. Quanto maior o
tempo que um automatismo foi recalcado mais difícil é sua mudança. Veja-se
por exemplo, a obsessão que segue varias encarnações. Como rebentar de
uma vez os laços que estão jungidos por longo tempo.
A CONFIANÇA NO PROFESSOR SOCIAL, afirmam eles, é extremamente útil
para auxiliar nossas mudanças comportamentais. (Kardec, 1978, p. 4 a 18)
7. CONCLUSÃO
A questão da reformulação de nossas atitudes é uma questão de profundidade.
O que seria a reforma íntima no contexto dos reflexos condicionados? Seria
mudar as nossas respostas aos velhos estímulos. É como uma pessoa no
trânsito em que costuma responder com um palavrão ao estímulo de uma
fechada. Até que se exercitando acaba por aceitar a situação, não se
ofendendo com o que aconteceu.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1975.
KARDEC, A. A Obsessão. 3. ed., São Paulo, O Clarim, 1978.
PESSOTTI, I. Pré-História do Condicionamento. São Paulo, Hucitec, 1976.
REYNAUD, P. L. A Psicologia Econômica. São Paulo, Difusão Européia, 1967.
SHAFFER, L. F. The Psychology of Adjustment: An Objective Approach to Mental Hygiene.
USA, Houghton Mifflin, 1936.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de
Janeiro, FEB, 1977.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito André Luiz. 8. ed., Rio
de Janeiro, FEB, 1977.
São Paulo, abril de 1996
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