UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ SUELE CAMATINI Trabalho de Estágio COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: ESTUDO DESCRITIVO DO COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES DA CASA DA INFORMÁTICA TIJUCAS 2013 SUELE CAMATINI Trabalho de Estágio COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR: ESTUDO DESCRITIVO DO COMPORTAMENTO DOS CONSUMIDORES DA CASA DA INFORMÁTICA Trabalho de Estágio desenvolvido para o Estágio Supervisionado do Curso de Administração do Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Gestão da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Prof. Dr. Luciano Dalla Giacomassa TIJUCAS 2013 Quando chega-se ao término de um longo período de trabalho árduo, muitos são os agradecimentos a serem realizados. Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, pois sem ele nada disso seria possível. Sua proteção guiou-me até as últimas palavras deste trabalho e tenho certeza que me acompanhará em muitos outros que irão surgir. Por falar em palavras, estas seriam insuficientes para descrever todo apoio e amor que recebi de minha família, em especial meus pais Marinho e Rita e meus irmãos Rodrigo e Romário. Eles representam os meus alicerces, meu porto seguro. É impossível deixar de citar nestes agradecimentos uma pessoa que pra mim é mais que especial, o meu namorado Jessé. Muito obrigada pelos momentos de paciência, sempre me incentivando a seguir em frente, você é a minha maior inspiração. Para estes peço sinceras desculpas a todas as minhas ausências no decorrer do ano que se seguiu. Agradeço também a todos os meus amigos, colegas e ex-colegas de trabalhos que, de maneira direta ou indiretamente, contribuíram e muito para a realização deste sonho. Em especial ao Everton e a Naiara que se despuseram a auxiliar-me com as correções. Dedico meus sinceros agradecimentos ao gestor da empresa Alex que forneceu total apoio durante a execução de todo o trabalho e também aos clientes da Casa da Informática que gentilmente abriram as portas de seus´- lares e trabalhos para eu conduzisse meus estudos. A todos os professores da UNIVALI que contribuíram e muito para tornar-me a acadêmica que sou, e em especial o professor orientador deste trabalho, Luciano Dalla Giacomassa. Este não mediu esforços para auxiliar-me e o resultado final deve-se em grande parte a ele. Enfim, obrigada a todos que estavam ao meu entorno durante este período e que carinhosamente compreenderam as minhas dificuldades, apresentando a paciência necessária para com a minha pessoa em certos momentos. 3 “O Senhor é meu pastor; nada me faltará. Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam [...]”. (Salmos 23) EQUIPE TÉCNICA a) Nome do estagiário Suele Camatini b) Área de estágio Marketing c) Orientador de conteúdo Prof. Dr. Luciano Dalla Giacomassa d) Supervisor de campo Alexsandro Bastos e) Responsável pelo Estágio Profª. Marisa Pigatto DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO a) Razão Social Casa da Informática LTDA EPP b) Endereço Av. Jacob Lameu Tavares n 185, Centro, Tijucas - SC c) Setor de Desenvolvimento do Estágio Setor de Vendas d) Duração do estágio 240 horas e) Nome e cargo do supervisor de campo Alexsandro Bastos – Gerente Administrativo f) Carimbo e visto da organização RESUMO Atualmente há preocupação por parte dos gestores das organizações na busca da maior compreensão de seus consumidores, no entanto as nuances encontradas no entorno deste tema ainda são pouco exploradas. Neste estudo procurou-se ampliar o entendimento a respeito do comportamento do consumidor da empresa Casa da Informática, no qual pretendeu-se descrever que elementos estão presentes na aquisição e posterior uso de computadores. De acordo com a investigação, adotou-se uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa, utilizando como instrumentos de coleta de dados entrevistas semiestruturadas. Divididas em duas etapas, a primeira foi realizada na própria empresa no momento em que os consumidores estavam adquirindo seus equipamentos. A segunda etapa das entrevistas foi feita posteriormente com os indivíduos já entrevistados. Dentre os resultados encontrados destacam-se que os principais usos do computador informados foram: redes sociais, acessos à internet não informados, diversão, informação, trabalho e aplicativos, faculdade, religião e vídeos. Quanto à presença de elementos constatou-se os de ordem racional, social, emocional, psicanalíticos e comportamentais, além do surgimento da dissonância cognitiva pós-compra. Outras situações não previstas anteriormente foi a verificação de uma participação efetiva dos idosos no uso de computadores, o crescimento das redes sociais e um tempo de utilização que superou as expectativas iniciais. Palavras-chave: Comportamento do consumidor, uso do computador. LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fachada da empresa Casa da Informática (matriz).......................... 81 Figura 2 – Organograma da empresa Casa da Informática................................ 82 Gráfico 1 – Sexo dos entrevistados................................................................... 83 Gráfico 2 – Idade dos entrevistados................................................................... 84 Gráfico 3 – Estado civil dos entrevistados........................................................ 84 Gráfico 4 – Nível de escolaridade dos entrevistados........................................ 85 Gráfico 5 – Renda dos entrevistados................................................................. 85 Quadro 1 – Evolução do tempo de uso por pessoa, número de usuários ativos e com acesso - Brasil..................................................................................................... 102 8 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 2 2.1 2.2 2.2.1 2.2.1.1 2.2.1.2 2.2.1.3 2.2.2 2.2.2.1 2.2.2.2 2.2.3 2.2.3.1 2.2.4 2.2.5 2.2.5.1 2.2.5.2 2.2.5.3 2.2.5.4 2.2.5.5 2.2.6 2.3 2.3.1 2.3.1.1 2.3.1.2 2.3.1.3 2.3.2 2.3.2.1 2.3.3 2.3.3.1 2.3.3.2 2.3.3.3 2.3.3.4 2.3.4 2.3.4.1 2.3.4.2 2.3.4.3 3 3.1 3.2 3.3 3.4 4 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 Objetivo geral ....................................................................................................... 11 Objetivos específicos ............................................................................................ 11 Justificativa da realização do estudo...................................................................... 11 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 11 O comportamento do consumidor ......................................................................... 13 Teorias sobre o comportamento do consumidor .................................................... 14 Teorias racionais sobre o comportamento do consumidor ..................................... 14 Teorias econômicas .............................................................................................. 14 Teoria da avaliação de risco e decisão................................................................... 16 Teoria racional aplicada ao consumidor organizacional ........................................ 18 As teorias da motivação do comportamento do consumidor .................................. 20 A teoria de Freud e a questão do inconsciente do consumidor ............................... 21 A teoria de Maslow e o consumo .......................................................................... 24 As teorias comportamentais sobre o consumidor................................................... 28 A teoria de B. F. Skinner e o comportamento do consumidor ................................ 28 As teorias sociais sobre o comportamento do consumidor ..................................... 30 As teorias de tipologias do consumidor................................................................. 36 A tipologia por critérios demográficos .................................................................. 36 A tipologia por características da personalidade .................................................... 38 A tipologia por estilos de vida .............................................................................. 41 A tipologia por ciclo de vida do produto ............................................................... 45 As tipologias de comportamentos de compras ....................................................... 49 As teorias existenciais sobre o comportamento do consumidor .............................. 52 Fatores que influenciam o comportamento do consumidor .................................... 55 Fatores culturais ................................................................................................... 55 Cultura ................................................................................................................. 55 Subcultura ............................................................................................................ 58 Classe social ......................................................................................................... 60 Fatores sociais ...................................................................................................... 63 Grupos de referência, família e papéis e status ...................................................... 63 Fatores pessoais .................................................................................................... 66 Estilo de vida, idade e estágio no ciclo de vida...................................................... 66 Ocupação ............................................................................................................. 68 Situação financeira ............................................................................................... 68 Personalidade e autoimagem ................................................................................. 69 Fatores psicológicos ............................................................................................. 70 Motivação e percepção ......................................................................................... 70 Aprendizagem ...................................................................................................... 73 Crenças e atitudes ................................................................................................. 74 MÉTODO ............................................................................................................. 76 Delineamento ........................................................................................................ 76 Participantes da pesquisa ....................................................................................... 77 Coleta de dados ..................................................................................................... 78 Análise dos dados .................................................................................................. 79 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ........................................................ 80 9 4.1 Histórico................................................................................................................. 80 4.2 Ramo de atividade e produtos ................................................................................. 81 4.3 Estrutura organizacional ......................................................................................... 81 4.4 Visão ...................................................................................................................... 82 4.5 Missão .................................................................................................................... 82 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................ 83 5.1 Perfil dos participantes da pesquisa ......................................................................... 83 5.2 Usos informados e usos efetivos do computador ..................................................... 86 5.2.1 Redes sociais .......................................................................................................... 86 5.2.2 Acessos à internet não informados .......................................................................... 90 5.2.3 Diversão ................................................................................................................. 92 5.2.4 Informação ............................................................................................................. 93 5.2.5 Trabalho e aplicativos ............................................................................................. 94 5.2.6 Faculdade ............................................................................................................... 96 5.2.7 Religião .................................................................................................................. 97 5.2.8 Vídeos .................................................................................................................... 98 5.3 Tempo de utilização do computador ........................................................................ 99 5.3.1 Tempo de uso durante o dia .................................................................................. 100 5.3.2 Tempo de uso durante a semana ............................................................................ 101 5.4 Elementos presentes na aquisição e no uso de computadores ................................ 103 5.4.1 Elementos racionais ............................................................................................. 103 5.4.2 Elementos sociais ................................................................................................. 105 5.4.3 Elementos emocionais.......................................................................................... 109 5.4.4 Elementos psicanalíticos ...................................................................................... 110 5.4.5 Elementos comportamentais................................................................................. 113 5.5 Dissonância cognitiva pós-compra ........................................................................ 114 5.6 A participação dos idosos ..................................................................................... 115 6 SUGESTÕES PARA A ORGANIZAÇÃO ........................................................... 117 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 119 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 121 APÊNDICES ..................................................................................................................... 127 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista - 1° Etapa .............................................................. 127 APÊNDICE A – Roteiro de entrevista - 2° Etapa .............................................................. 127 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS ............................................................................ 130 10 1 INTRODUÇÃO O mundo permanece em constante movimento resultando em um cenário de constantes mudanças. A globalização transformou o modo com que o ser humano via-se neste ambiente, aproximando fronteiras, facilitando as comunicações e modificando uma série de respeitados conceitos que vão desde métodos de produção a modelos de gestão. As mudanças continuam e há poucos anos iniciou-se o que acredita ser mais uma importante revolução: a revolução tecnológica. Neste emaranhado de transformações encontram-se as organizações e seus gestores lutando diariamente na busca do tão idealizado “lugar ao sol”. Mas então, qual o segredo das vitoriosas? Quais as estratégias para o alcance do sucesso? As respostas destes questionamentos poderiam evitar um dado alarmante: atualmente oito em cada dez novos produtos lançados ao mercado fracassam nos três primeiros meses e, no Japão, este índice aumenta para 9,7 em cada dez produtos (LINDSTROM, 2009). Há algo a ser melhor conhecido para conduzir organizações a atingirem os seus objetivos. Para muitos o comportamento do consumidor tem representado a “chave” para decifrar qual é este ingrediente misterioso. Conhecer como os consumidores se comportam, quais são os seus desejos, suas motivações e necessidades tem colaborado com inúmeros gestores para obterem seus resultados. No entanto, não trata-se de uma tarefa fácil, visto que, o comportamento do consumidor é uma disciplina muito recente com os primeiros estudos feitos escritos na década de 60 (MOWEN; MINOR, 2003). Neste cenário encontra-se a empresa Casa da Informática, há 14 anos localizada no Vale do Rio Tijucas. Seu ramo de atividade, o comércio de produtos de informática, apresentou um crescimento além do esperado nestes últimos anos. Em função desta e de outras questões faz-se necessário um conhecimento mais profundo de seus consumidores. Que elementos podem ser evidenciados na aquisição e posterior uso dos computadores? Um tema nunca antes levantado na empresa pode ser agora estudado por meio desta pesquisa. 11 1.1 Objetivo geral Descrever os elementos que estão presentes na aquisição e posterior uso de computadores. 1.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos se dividem em procedimentais e em termos de novos conhecimentos a serem atingidos. Quanto aos objetivos específicos em termos de novos conhecimentos ao tema: • Identificar os motivos que levam os consumidores a adquirirem novos computadores; • Identificar os usos efetivos do computador após a aquisição; • Traçar o perfil dos consumidores; • Elaborar comparações entre usos declarados e usos efetivos. Quanto aos objetivos específicos procedimentais, relatados no método: • Elaborar instrumentos para a coleta de dados; • Aplicar instrumentos de coletas de dados na primeira e segunda etapa da pesquisa; • Tratar e analisar os dados coletados. 1.3 Justificativa da realização do estudo A empresa Casa da Informática ao longo de sua trajetória sempre mostrou-se preocupada em proporcionar a plena satisfação de seus consumidores. Para tanto, busca oferecer produtos de qualidade e uma assistência técnica especializada, aliados a um ótimo atendimento. Tais ações tornaram a empresa uma referência em produtos de informática não só na cidade Tijucas, mas em toda a região. Contudo, nestes 14 anos de existência a empresa nunca teve a oportunidade de realizar maiores estudos a respeito de seus consumidores, até o presente trabalho. E este, tornou-se 12 possível graças ao apoio incondicional do gestor Alexsandro Bastos, mostrando-se entusiasmado com o tema e disposto a proporcionar ao responsável pelo estudo todos os subsídios necessários para a sua elaboração. Entende-se que as contribuições oriundas deste trabalho sejam de grande importância para a Casa da Informática e para a acadêmica. Tendo em vista que, tal proporcionará a possibilidade de maiores conhecimentos sobre os consumidores e, futuramente poderão serem aplicados as práticas da organização. Quanto acadêmica, além disso, o estudo será importante para a assimilação de grande parte dos conhecimentos adquiridos por intermédio da teoria, e que serão colocados em prática. Para a academia, se possível, as expectativas são para que o estudo contribua na ampliação do acervo bibliográfico, proporcionando novos conhecimentos e que podem ser utilizados em futuros trabalho. E por fim, busca-se contribuir positivamente para o incentivo a novas pesquisas na área do comportamento do consumidor, haja visto que é uma tema de relevante importância para qualquer que seja a organização. 13 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste capítulo serão apresentados fundamentos teóricos que irão sustentar o trabalho durante todas as etapas da pesquisa, objetivando explorar os conceitos relacionados ao comportamento do consumidor. A primeira parte desta revisão teórica segue uma estrutura baseada na obra de Giglio (2002). 2.1 O Comportamento do Consumidor Os consumidores tomam uma infinidade de decisões de compras comuns em seus cotidianos. Desvendar os motivos destes comportamentos de compra não é algo fácil (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Para o termo comportamento, compreende-se como uma “maneira de se comportar; procedimento, conduta. Conjunto de atitudes e reações do indivíduo em face do meio social” (FERREIRA, 1986, p.441). Já o termo consumidor, também denominado de cliente, pode ser entendido como um conjunto de pessoas, organizações ou grupos que exercem diferentes papéis no decorrer do processo de compra e utilização de produtos e serviços (LIMEIRA, 2008). Na concepção de Gade (1998, p. 01), o comportamento do consumidor pode ser considerado um conjunto de “atividades físicas, mentais e emocionais realizadas na seleção, compra e uso de produtos e serviços para a satisfação de necessidades e desejos”. Os autores Mowen e Minor (2003) destacam que o comportamento do consumidor tem como base todos os atos adotados pelos consumidores que estão relacionados à compra, descarte e a utilização de produtos e serviços. É papel fundamental dos profissionais de marketing a compreensão do comportamento do consumidor, entendendo como os mesmos se comportam às diferentes características, preços e apelos publicitários do produto (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Para Barbosa (2008), os autores que buscam compreender o processo de consumo, investigam sob perspectivas altamente relevantes o significado e a importância do consumo, como um processo mediador de relações e práticas sociais, as razões que levam o indivíduo a consumir tipos de produtos em determinadas maneiras e num dado momento, o papel da cultura no 14 desenvolvimento desse processo, e em que medida o consumo atua como uma “janela” para o entendimento de múltiplos processos culturais e sociais. Seria então, possível a elaboração de uma única teoria para a explicação do comportamento do consumidor? Até o momento não existe uma teoria específica que possa explicar o comportamento de consumo de indivíduos e grupos. O entendimento desse comportamento é sustentado com conhecimentos da área de Psicologia, Sociologia, Economia e Antropologia (GIGLIO, 2005). 2.2 Teorias sobre o Comportamento do Consumidor 2.2.1 Teorias Racionais sobre o Comportamento do Consumidor Giglio (2002) enfatiza que as teorias racionais encontram-se fundamentadas nos pressupostos que o ser humano possui um traço que o distingue dos demais: sua capacidade de consciência e raciocínio. Tais teorias são constantemente aplicadas no estudo de consumidores. 2.2.1.1 Teorias Econômicas Uma das teorias racionais mais conhecidas considera que o consumo é regido por escolhas racionais sobre a disponibilidade dos produtos e recursos necessários. Possuidor de infinitos desejos, o ser humano dispõe de limitadas possibilidades de satisfazê-los. Devido a isso, ele precisa optar pelos produtos e serviços que melhor o satisfazem (GIGLIO, 2002). Por sua vez, Gade (1998) salienta que neste processo de escolha, o indivíduo tende a procurar bens e serviços que lhe proporcionem o máximo de prazer dentro de suas possibilidades, assumindo uma postura hedonista em busca do prazer no consumo. Na teoria econômica podem ser consideradas duas posições: primeiro, o indivíduo escolhendo o que 15 para ele mostra-se mais proveitoso; segundo, a empresa que está em busca de ganhar a opção, ou seja, que o consumidor escolha o seu produto. A procura de satisfação no produto acontece até o ponto de saturação, momento em que o bem adquirido não proporciona mais a sensação de utilidade maior. A sensação de satisfação, segundo muitos autores, diminui à medida que o consumidor consome o produto (GADE, 1998). Para a teoria econômica o fator renda é fundamental quando se estuda o comportamento do consumidor. Pesquisas demonstram que o aumento da renda está diretamente relacionado ao aumento de despesas absolutas da família com bens de consumo. A proporção entre rendas e dispêndios relevantes pode ser melhores compreendidas com o apoio da clássica Lei de Engel, estabelecendo empiricamente que à medida que a renda amplia-se, os gastos com alimentação decrescem, e as despesas com habitação e vestuário continuam quase iguais, porém cresce à proporção que é gasta com supérfluos (GADE, 1998). Churchill (2010) ressalta que existem três medidas de renda que costumam estimular um maior interesse por parte dos profissionais de marketing, são elas: • Renda bruta: Refere-se à soma total de moeda adquirida por um indivíduo ou família em um ano. Esta renda é utilizada para a divisão do mercado em vários grupos de renda; • Renda disponível: Tal renda corresponde ao montante de moeda que sobra para o indivíduo ou família após o pagamento dos impostos; • Renda discriminatória: Refere-se ao dinheiro que sobra para os consumidores gastarem após o pagamento dos impostos e do montante de despesas essenciais. Esta renda, na maioria das vezes, é utilizada para despesas com lazer, hobbies, férias, presentes e entre outros. O mundo é retratado como uma competição perfeita na teoria econômica, e o consumidor geralmente é caracterizado por tomar decisões racionais. Entretanto, devido a esta visão idealista e simplista, tal teoria tornou-se alvo de várias críticas por parte dos pesquisadores do comportamento do consumidor. Uma destas críticas refere-se ao fato que, para se comportar racionalmente, no sentido econômico, o comprador deveria estar ciente de todas as alternativas de produtos disponíveis no mercado e, com base nisto, ser capaz de classificar cada alternativa de forma correta, considerando todos os seus benefícios e suas desvantagens. Por fim, optando pela melhor alternativa. Porém, nem sempre os compradores dispõem de todas estas informações ou de informações suficientemente precisas para tomar a melhor decisão (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). 16 Um estudo realizado pelos autores Ângelo, Luppe e Fouto (2010), com o intuito de analisar e discutir a racionalidade das decisões de consumo, principalmente relacionadas às vendas no varejo brasileiro compreendidas entre 2000 a 2007, concluiu por meio de dados levantados a hipótese de que a racionalidade limitada é a que melhor explica o comportamento de consumo brasileiro. Esta hipótese é sustentada por meio de evidências encontradas que demonstram que os consumidores não são capazes de escolher a melhor alternativa. Para a tal, a renda não se revelou significativa, mas flutuações de taxas de juros demonstram claramente uma dificuldade por parte do indivíduo na capacidade de realização nos ajustes do padrão de consumo com base exclusivamente nos valores passados. 2.2.1.2 Teoria da Avaliação de Risco e Decisão Para Giglio (2002), esta teoria faz uso do risco para explicar o comportamento do consumidor. Tem como pressuposto que o fundamento da decisão de compra consiste na análise de risco que o indivíduo realiza. Contudo, um dos problemas da teoria de risco é que o mesmo produto ou serviço pode ser estimado, com diferentes níveis de risco, por diferentes consumidores, ou diferentemente pelo mesmo consumidor em diferentes momentos de sua vida. Os autores Schiffman e Kanuk (2000, p. 130) definem o risco percebido como “a incerteza que os consumidores encontram quando não podem prever as consequências de suas decisões de compra”. Incerteza que pode variar de indivíduo para indivíduo (GADE, 1998). Alguns consumidores mais prudentes, buscam reduzir matematicamente a margem de erro e adquirem grandes noções dos riscos. Eles procuram aumentar os seus conhecimentos a respeito do que irão comprar por meio de informações, acerca do produto, preços e qualidade. Na tentativa de garantir uma maior segurança, constata-se que, quanto maior a noção de risco, maior será a lealdade a marcas (GADE, 1998). Os autores Mowen e Minor (2003) e também os autores Schiffman e Kanuk (2000) destacam que o consumidor poderá reagir aos seguintes tipos de riscos: • Risco funcional ou de desempenho: É o risco correspondente ao fato de que o produto não mostre o efeito esperado; 17 • Risco físico: É o risco que o produto possa vir a prejudicar a saúde física do consumidor e dos outros; • Risco financeiro: É o risco de que o produto possa prejudicar financeiramente o consumidor e que também não valha o seu custo; • Risco social: É o risco de que uma escolha errada possa resultar em constrangimento do consumidor perante os seus amigos e conhecidos; • Risco psicológico: É o risco de que o produto possa diminuir a imagem que o consumidor tem de si mesmo e possa acabar ferindo o seu ego; • Risco de tempo: É o risco que a decisão leve tempo demais e que isto possa ser um desperdício se o produto não funcionar como o esperado. Além destes seis riscos, os autores Mowen e Minor (2003) apresentam um sétimo risco denominado custo de oportunidade, risco este, relacionado ao fato de que caso o consumidor tome uma atitude, poderá vir a perder a chance de fazer algo que ele realmente gostaria de fazer. Ainda para estes autores, o número de risco que os compradores percebem em uma dada situação, pode ser influenciado por uma série de fatores, são eles: • Características do consumidor: Elas influenciam na percepção que o consumidor possui de risco. Algumas características podem estar associadas a uma maior vontade de correr risco, são elas: autoestima, autoconfiança, menor ansiedade e entre outras; • Natureza da tarefa: Os indivíduos aceitam mais os riscos voluntários dos que involuntários. Os riscos voluntários são, por exemplo, dirigir um carro em uma viagem ou tirar férias para praticar esportes radicais, como escalar uma montanha. Já o risco involuntário é, por exemplo, morar em uma casa perto do local em que está sendo construída uma usina nuclear; • Características do produto ou serviço: Produtos e serviços em que sua utilização poderá acarretar como consequência resultados bem negativos, costumam ser percebidos pelos consumidores como de risco mais elevado. Um exemplo é ter o porte de um revólver; • Resultados negativos advindos de uma compra ou atividade: Quando os resultados negativos provenientes das deficiências do produto ou serviço são muito graves. Tais podem ficar mais presentes na lembrança dos compradores e eles podem perceber de maneira errada o produto ou serviço como mais arriscado do que na verdade é (MOWEN; MINOR, 2003). 18 Os consumidores também costumam desenvolver suas próprias estratégias que permitem reduzir o risco percebido, é o que afirmam os autores Schiffman e Kanuk (2000). Estas transmitem ao consumidor uma maior confiança ao tomarem suas decisões a respeito dos produtos. Como estratégias mais comuns podem ser citadas as seguintes: a busca de informação acerca do produto e de sua classe por meio da comunicação “boca a boca”, de vendedores e da mídia; manter-se fiel as marcas com as quais ficaram satisfeitos; escolha do produto, cujas marcas, são preferidas e conhecidas; comprar em lojas de boa reputação e adquirir os modelos de produtos que sejam mais caros (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). Entretanto, também existem os consumidores que não percebem nenhum risco, são consumidores compulsivos (GADE, 1998). De acordo com Blackwell, Miniard e Engel (2005) o consumo compulsivo faz referência a determinadas ações exageradas e destrutivas para a vida dos indivíduos envolvidos, mesmo que tais sejam realizadas com o objetivo de melhorar a autoestima. Observa-se nestes comportamentos inicialmente um descontrole das ações, seguidos de uma sensação de gratificação efêmera e como resultado final o indivíduo apresenta culpa e o triste sentimento de incompetência. Solomon (2002) acrescenta que muitos portadores deste comportamento compulsivo, utilizam o ato de compra como um remédio para suas ansiedades, tensões e até mesmo depressão. Funciona de modo semelhante aos dependentes químicos que utilizam o álcool e as drogas, no entanto, neste caso os viciados em compras recorrem ao consumo. 2.2.1.3 Teoria Racional Aplicada ao Consumidor Organizacional O comportamento de compra das organizações também pode ser compreendido com a utilização das teorias racionais. Neste, o processo de compra é completamente delimitado, com passos e pessoas com funções também delimitadas. Processo de compra que tem como o objetivo a compra do estritamente necessário, com o menor preço sob as melhores condições e maiores qualidades (GIGLIO, 2002). Kotler e Armstrong (2003), assim como Giglio (2002), consideram que o comportamento de compra organizacional é fortemente influenciado pelo fator econômico. Todavia, os mesmos alertam para o fato de que muitas empresas acreditam que os compradores organizacionais dão maiores preferências apenas aos fornecedores que ofereçam 19 grandes benefícios econômicos. Esta crença pode ser errônea, pois não leva em consideração que tais compradores são humanos e sociáveis e são regidos tanto à razão quanto a emoção. Complementando a afirmação anterior, Solomon (2002) assegura que a percepção dos compradores organizacionais da conjuntura de compra é influenciada por uma série de fatores. Dentre estes fatores, estão inclusos o clima organizacional de sua própria empresa, as suas expectativas quanto ao fornecedor e a avaliação do comprador de sua própria performance. O mercado organizacional compreende os seguintes mercados: o mercado da produção industrial, composto de indivíduos que adquirem bens e serviços, direta ou indiretamente utilizados na produção de outros produtos e serviços que são vendidos, alugados ou fornecidos a terceiros; o mercado revendedor que consiste principalmente em varejistas e atacadistas que compram produtos para revender ou alugar a outros, obtendo lucro; o mercado governamental incluindo os governos federal, estadual e municipal e o mercado institucional formado por uma ampla variedade de organizações, incluindo igrejas, escolas, hospitais, fundações, bibliotecas, clínicas, prisões e organizações não lucrativas (SANDHUSEN, 2003). Na concepção de Churchill (2010), o mercado organizacional é composto de menos compradores que o mercado de consumo, entretanto, estes costumam fazer maiores pedidos do que os demais consumidores. Isto se deve ao fato de conseguirem preços unitários mais baixos e níveis mais altos de serviços de acordo com grandes quantidades. Diferentemente do mercado de consumo, em que as decisões de compra são tomadas por uma única pessoa, ou com auxílio do cônjuge ou amigo, na organização estas decisões tendem a envolver vários indivíduos. Outra característica importante do mercado organizacional é que as compras, muitas vezes, envolvem uma maior interdependência entre o comprador e o vendedor (CHURCHILL, 2010). De acordo com os autores Kotler e Armstrong (2003) e Churchill (2010) dentre as compras realizadas pelas organizações existem três tipos principais: • Recompra direta ou recompra simples: Este é o tipo mais comum e mais simples de compra realizada pelas organizações. Trata-se da repetição rotineira da compra de um produto de necessidade constante, como produtos de limpeza, na qual a compra normalmente é efetuada em um mesmo fornecedor. Geralmente acontece de forma rápida requerendo pouco tempo e esforço dos funcionários envolvidos; • Recompra modificada: Ocorre quando certos aspectos da situação de compra são diferentes, envolvem a análise de uma série de alternativas antes de se optar pela escolha e normalmente mais indivíduos participam da decisão de compra comparada 20 a recompra simples. Neste tipo de compra os compradores consideram novas informações e decidem quais mudanças devem ser realizadas. Caso o produto seja usado de forma rotineira e o comprador ficar satisfeito, ele por torná-lo um novo item da recompra direta; • Compra nova: Este tipo de compra é utilizado com maior constância quando os itens a serem adquiridos são caros, grandes e apresentam um maior custo de erro. Muito comum no caso de grandes investimentos em máquinas, imóveis e equipamentos, envolvendo uma extensa busca de informações e amplo processo decisório. É comum em muitas compras realizadas pelas organizações o envolvimento de vários de seus membros, dos quais, participam das decisões de escolha do produto. Tais membros são conhecidos como centro de compra e sua importância relativa pode variar de acordo com o tipo de compra. Estes indivíduos podem desempenhar os seguintes papéis dentro do centro de compras: • Iniciadores: São os indivíduos que apontam uma necessidade ou problemas que poderá vir a ser solucionado com a compra; • Usuários: Membros da organização que farão uso do produto ou serviço; • Influenciadores: Geralmente são estes indivíduos que ajudam a definir as especificações do produto e também podem oferecer informações para a avaliação das alternativas; • Compradores: São os indivíduos que possuem autoridade e responsabilidade para selecionar ou aprovar os fornecedores e negociar com tais os termos do contrato; • Decisores: Aqueles que detêm o poder formal ou informal de selecionar e aprovar os fornecedores finais; • Guardiões: São os indivíduos responsáveis por controlar os fluxos de informações para o centro de compra e podem ter autoridade para impedir os vendedores de ver os usuários e decisores (CHURCHILL, 2010). 2.2.2 As Teorias da Motivação do Comportamento do Consumidor Estas teorias entendem que o comportamento do consumidor pode ser entendido no plano das emoções e afetos que fluem nos sujeitos (GIGLIO, 2002). 21 2.2.2.1 A Teoria de Freud e a Questão do Inconsciente do Consumidor A teoria de Freud considera que ser humano não conhece seus verdadeiros desejos. Segundo ele há uma espécie de mecanismo de avaliação que estabelece quais deles poderão tornar-se conscientes e quais não. Com a observação de seus pacientes Freud criou o conceito de inconsciente e o mecanismo de repressão, as ideias que seriam prejudiciais à saúde do indivíduo seriam reprimidas tornando-se inconscientes (GIGLIO, 2002). Para Freud, a mente era semelhante a um iceberg: aquela parte menor que aparecia sobre da superfície da água simbolizava a região da consciência, ao passo que a massa muito maior abaixo da água simbolizava a região do inconsciente, composto pelos impulsos, ideias, paixões e sentimentos reprimidos. Há um “mundo subterrâneo” e invisível, que exerce um controle dominador sobre os pensamentos e ações das pessoas (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Sigmund Freud contribuiu de forma relevante para a compreensão de processos sociais e históricos por meio da investigação de problemas como: a inferioridade do homem, os “processos misteriosos” do psiquismo e suas “regiões obscuras” representadas pelos sonhos, fantasias e esquecimentos. Modificando, de forma radical, a maneira de pensar sobre a vida psíquica (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Ainda de acordo com estes autores, no ano de 1900 Freud expressa o seu primeiro conceito sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade em seu livro a interpretação dos sonhos. Ele atribuiu a esta teoria a existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente. Anos mais tarde, entre 1920 e 1923, Freud reorganiza tal teoria e estabelece os conceitos de id, ego e superego para se referir aos três sistemas da personalidade. Segundo os autores Hall, Campbell e Lindzey (2000), os conceitos de id, ego e superego podem ser entendidos como: • Id: Representa tudo que é psicológico, matriz da qual se originam o ego e o superego. Consiste no depósito da energia psíquica e fornece toda a energia para o exercício dos outros dois sistemas. O id não admite aumentos de energia, que são entendidos como estados de tensão desconfortáveis. Ele tem sob seu comando dois processos que visam atingir seu objetivo de evitar dor e obter prazer, são eles: as ações reflexas que são ações inatas e automáticas como espirrar e piscar e os processos primários que envolvem uma reação psicológica um pouco mais complexa. Ele tenta dissipar a tensão, formando a imagem de um objeto que vai remover a tensão. Um exemplo de 22 processo nos indivíduos normais é o sonho noturno, que para Freud representava a realização ou a tentativa de realização de um desejo; • Ego: Executivo da personalidade tendo controle sobre todas as funções cognitivas e intelectuais do indivíduo, decidindo quais os instintos serão satisfeitos e de que forma. Seu principal objetivo distinguir as coisas da mente das coisas do mundo objetivo da realidade e busca evitar a descarga de tensão do id até ser encontrado um objeto apropriado para a satisfação da necessidade. Funciona por meio do processo secundário onde cria um plano para a satisfação da necessidade e depois testa-o, geralmente com algum tipo de ação, para ver se ele vai funcionar ou não; • Superego: Representa a força moral da personalidade, delegador interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme interpretados pelos pais e transmitidos para a criança por meio da imposição de um sistema de recompensas e punições. Entre suas funções estão: impelir os impulsos do id, principalmente àqueles de natureza sexual ou agressiva; convencer o ego a substituir objetivos realistas por objetivos moralistas e encontrar a perfeição. Tendo como principal inquietude a determinação de que alguma atitude possa ser certa ou errada, para poder atuar de acordo com os padrões morais autorizados pelos agentes da sociedade. O id, ego e o superego representam nomenclaturas para os vários processos psicológicos que obedecem a diferentes princípios de sistemas. Trabalhando juntos como uma equipe e sob a liderança administrativa do ego, podem ser considerados de forma ampla, o id como elemento biológico da personalidade, o ego como o elemento psicológico e o superego como um elemento social (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Anna Freud (1946 apud HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000) afirma que sob pressão de demasiada ansiedade, o ego em determinados momentos é forçado a adotar medidas extremas para aliviar a pressão. Medidas estas, que são chamadas de mecanismos de defesa e possuem duas características em comum: eles recusam, falsificam ou mudam o sentido da realidade e agem de forma inconsciente, de modo que a pessoa não tem consciência do que está ocorrendo. Os autores Bock, Furtado e Teixeira (1999), citam alguns dos mecanismos de defesa: • Recalque: O sujeito “não vê”, “não ouve” o que se passa. Existe a anulação de uma parte da realidade. Como não é percebido pelo sujeito que faz parte do todo, ao ficar encoberto, altera, deforma a ideia do todo; 23 • Formação reativa: Em determinadas ocasiões o ego busca afastar o desejo em determinada direção, em função disto, o sujeito adota uma atitude oposta a este desejo. Um exemplo são atos de exacerbada ternura e superproteção que ocultam o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso; • Regressão: O sujeito retrocede a etapas anteriores de seu desenvolvimento, representa uma passagem para modos de expressão mais primitivos; • Projeção: Representa a junção de distorções de mundo externo e interno. O sujeito encontra algo de si no mundo externo e não reconhece aquilo que foi projetado como algo seu que julga ser indesejável; • Racionalização: O sujeito edifica uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica os estados “deformados” da consciência. No mecanismo de racionalização, o ego coloca a razão a serviço do irracional e aproveita para isto o material fornecido pela cultura, ou mesmo pelo saber científico. Na área de marketing muitos profissionais utilizam o conceito de inconsciente para elaborar as mais diversas explicações sobre os motivos de consumo. Para Giglio (2002, p. 61) “o consumo seria explicado [...] como o comportamento resultante desses conteúdos inconscientes, isto é, o comportamento de consumo é uma das formas de satisfação dos desejos inconscientes”. Corroborando com a afirmação anterior, os autores Schiffman e Kanuk (2000) enfatizam o conceito que os impulsos humanos são na maioria das vezes inconscientes e que os consumidores basicamente não têm consciência de suas verdadeiras razões para a compra e nem para o que compram. Solomon (2002) salienta que a perspectiva de Freud possibilita ao ego se basear no simbolismo dos produtos para realizar um acordo entre as exigências do id e as proibições do superego, por intermédio do consumo o indivíduo canaliza seu desejo inaceitável em saídas aceitáveis, utilizando produtos que signifiquem tais desejos profundos e torna-se possível experimentar do fruto proibido. Em função disto, grande parte das aplicações freudianas no marketing encontra-se relacionada com aspectos sexuais dos produtos, principalmente com a utilização dos chamados símbolos fálicos, objetos que se assemelham aos órgãos sexuais, como por exemplo, charutos, árvores ou espadas para órgãos sexuais masculinos e túneis para os órgãos sexuais femininos. Entretanto, mesmo com infinitas possibilidades de utilização da teoria freudiana para a compreensão do comportamento do consumidor, Giglio (2002), alerta para o fato que tal teoria deve ser utilizada com cautela, pois não fornece instrumentos concretos de avaliação. 24 Segundo os autores Kotler e Armstrong (2003) em alguns casos, os pesquisadores com o intuito de conhecer os motivos profundos que induzem os consumidores a escolher determinados produtos, utilizam de entrevistas em profundidade com pequenas amostras de consumidores. Estas entrevistas não são direitas e fazem uso de “técnicas projetivas” para ultrapassarem as barreiras do ego, técnicas de associação de termos, interpretação de figuras e complementação de frases. Algumas conclusões obtidas pelos pesquisadores se mostram bem curiosas, como por exemplo, um estudo famoso que identificou que muitos consumidores não optam pela compra de ameixas secas pelo fato de possuírem um aspecto enrugado que lembram indivíduos idosos e doentes. 2.2.2.2 A Teoria de Maslow e o Consumo Qualquer que seja o indivíduo, este possuirá distintas necessidades, algumas são de ordem biológica, tais como sede, fome ou desconforto. Existem também as de ordem psicológica, ocasionadas pela necessidade de respeito, reconhecimento ou associação. Normalmente a maioria das necessidades se mostra insuficiente para levá-lo à ação. Esta, transforma-se em um motivo apenas quando atinge certo nível de intensidade, neste caso, o motivo resultará em um movimento por parte do indivíduo a fim de satisfazê-lo (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Na percepção de Gade (1998), a motivação ou comportamento motivado são aquelas atividades em que uma pessoa está empenhada na busca de um objetivo. Os autores Schiffman e Kanuk (2000) complementam a afirmação anterior ao evidenciarem que a motivação é a força interna determinante que conduz os indivíduos a ação. Muitas teorias foram desenvolvidas a respeito da motivação humana, no campo de marketing as mais conhecidas são a teoria de Sigmund Freud e a de Abraham Maslow (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). A tese de Maslow considera que as pessoas estabelecem cinco planos básicos na sua vida: satisfazer necessidades fisiológicas, segurança, afeto, relacionamento e autorrealização. Tais planos são independentes uns dos outros, sendo a predominância dada por uma valoração do sujeito (GIGLIO, 2002). Esta abordagem foi adotada pelos profissionais de marketing, pois possibilita especificar os mais variados tipos de benefícios proporcionados pelos produtos que 25 os consumidores estão em busca, dependendo de suas condições ambientais e/ou das diversas fases de seu desenvolvimento (SOLOMON, 2002). Para Maslow (1987) o indivíduo durante toda a sua vida será dominado por uma série de necessidades. Estas, movidas por um processo dinâmico, na qual certas necessidades surgem, são preenchidas e novamente surgem novas necessidades. Deste modo, elas também podem ser organizadas em uma hierarquia, podendo ser divididas da seguinte forma: • Necessidades fisiológicas: Representam as necessidades básicas para a sobrevivência do indivíduo, motivo pelo qual, dentre todas as necessidades ela é a que apresenta uma maior influência sobre o mesmo. Para uma pessoa que não possui comida, segurança, amor ou estima, certamente que fome falará mais alto do qualquer outra coisa. Maslow (1987) enfatiza que uma maneira de encobrir as motivações mais elevadas e obter uma visão desequilibrada das habilidades e natureza humana é deixar um indivíduo com extrema sede e fome; • Necessidades de segurança: A partir do momento em que são satisfeitas as necessidades fisiológicas, surgem um novo conjunto de necessidades, denominadas necessidades de segurança. Estas estão relacionadas à segurança física, proteção, liberdade do medo, da ansiedade e estabilidade do indivíduo. São como as necessidades fisiológicas, mas possuem uma menor intensidade; • Necessidades de pertencimento e amor: Quando as necessidades de segurança estão satisfeitas, surgem estas necessidades. Elas envolvem amor, dar e receber afeto, quando não atendidas o indivíduo sente de forma profunda a ausência do companheiro (a), amigos ou crianças. É como ter fome para relação com os demais, com intuito de satisfazer esta necessidade existe um forte esforço para se fazer parte do grupo ou da família; • Necessidades de estima: Esta necessidade reside no desejo de realização, competência, confiança face ao mundo, no entanto, possuindo o desejo de chamar a atenção do outro por meio da reputação ou prestígio, status, fama e reconhecimento; • Necessidade de autorrealização: Esta aparece quando todas as necessidades estão satisfeitas. Poderão surgir ainda no indivíduo um novo descontentamento e breve agitação resultantes da busca de encontrar a paz interior e mantendo-se fiel a sua própria natureza. Denomina-se necessidade de autorrealização (MASLOW, 1987). No entanto, Maslow (1987) chama a atenção para o fato de que existem determinadas condições que são como pré-requisitos imediatos para a satisfação das necessidades básicas. 26 Entre elas estão, a liberdade do indivíduo falar e fazer o que deseja, desde não represente nenhum dano para o próximo, a liberdade de expressar-se, investigar e buscar a informação, a liberdade de se defender e ordem do convívio em grupo. Os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005) consideram que a concepção de Maslow, sobre a ordenação hierárquica das necessidades, nem sempre corresponde à prioridade de todo indivíduo nas mais diversas situações. Certos deles costumam ignorar as necessidades dos níveis inferiores a fim de alcançar uma necessidade do nível mais alto. Um bom exemplo é o amor de uma mãe que a leva ser indiferente a sua própria segurança em uma situação que a segurança de seu filho está em risco. Mowen e Minor (2003) também contribuem para a afirmação anterior ao alegarem que indivíduos mais jovens dedicam-se mais a satisfazer as necessidades de realização pessoal do que os indivíduos mais velhos. E isto, é contrário aos conceitos estabelecidos por Maslow na qual a necessidade de realização pessoal é a última das necessidades a ser atendida. Sob o enfoque mercadológico, para Karsaklian (2004), as necessidades poderão ser classificadas considerando dois tipos de benefícios que são obtidos pelos consumidores por consequência da compra e do consumo, e estes geralmente atuam concomitantemente no processo de decisão, são elas: as necessidades hedônicas ou experimentadas que são aquelas que almejam respostas subjetivas com estética, sonhos e prazer e as necessidades utilitárias que são as cogitadas por seu aspecto funcional e objetivo. A aquisição de uma casa é um exemplo. Ela é adquirida com o objetivo funcional de abrigo, mas ao mesmo tempo, também é analisada pelo ponto de vista subjetivo de bom gosto, prestígio e status. As necessidades de um indivíduo resultam na aquisição dos mais variados produtos, como por exemplo, as necessidades de segurança que motivam a aquisição de sistemas de segurança para a casa e proteção individual, bem como a compra de armas de fogo. A atual sociedade de consumo resultou no surgimento de uma nova necessidade que vem crescendo constantemente, é a chamada necessidade de posse. Algumas pesquisas demonstram que os consumidores estão em busca de mais, eles almejam uma vida melhor, com mais e melhores produtos e serviços. Um exemplo interessante é que em 1970 as casas comuns nos Estados Unidos apresentavam 500m² e menos de um terço possuía lareira. Já em 1996, o tamanho médio da casas apresentou um aumento 40% e quase dois terços delas apresentavam lareiras (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Todavia, nem sempre os consumidores conseguem satisfazer todas as suas necessidades, geralmente ele é obrigado a abrir mão de certas necessidades e de seu valioso 27 tempo para satisfazer outras. Esta situação pode resultar no indivíduo um conflito motivacional podendo assumir três tipos básicos, são eles: • Atração-atração: Ocorre quando um indivíduo é obrigado a escolher entre duas opções desejáveis, como por exemplo, decidir entre redecorar seu apartamento ou viajar para a Europa nas suas férias; • Rejeição-rejeição: Ocorre quando o sujeito deve decidir entre duas ou mais opções que para ele se mostram indesejáveis, como por exemplo, cortar a grama do jardim ou arrumar sua garagem; • Atração-rejeição: Ocorre quando um comportamento do indivíduo possuiu ambas as consequências, positivas e negativas. Um exemplo é aquele indivíduo que sempre faz horas extras no trabalho, sua dedicação poderá promovê-lo na carreira, mas em função disso terá menos tempo para estar em companhia de seus filhos e de sua esposa (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Schiffman e Kanuk (2000) ressaltam que as necessidades dos consumidores representam a essência do conceito de marketing moderno. No atual ambiente de marketing super competitivo o segredo para a sobrevivência e sucesso das organizações deve-se a sua capacidade de apontar e satisfazer necessidades de cada consumidor, estando sempre à frente da concorrência. Góes (2010) em seu estudo exploratório procurou descrever as motivações do consumidor de móveis para uso residencial embasado nas diversas necessidades humanas sugeridas por Maslow. Foram realizadas entrevistas em profundidade específicas com dois grupos de entrevistados. O primeiro grupo abordado foram 26 consumidores de móveis para uso residencial, entre eles homens e mulheres, com idade entre 29 e 55 anos e todos habitantes na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Já o segundo grupo tratou-se de 10 especialistas atuantes no segmento moveleiro. Nos depoimentos obtidos foi possível perceber que o consumidor é sensibilizado no momento da compra de móveis residências pelas mais variadas necessidades sugeridas por Maslow. As necessidades de ordem fisiológica podem ser percebidas por meio de declarações de consumidores que adquirem móveis para a casa com o intuito de satisfazer as necessidades de descanso, como a cadeira para sentar ou descansar, a cama para dormir e a mesa para se alimentar, trabalhar ou estudar. As necessidades de segurança e sociais podem ser compreendidas em declarações que afirmam que os móveis são instrumentos que permitem as residências um ambiente acolhedor, tornando-as em um lugar harmônico para a convivência familiar ou com os amigos. As necessidades de estima foram percebidas por meio da 28 demonstração de status e poder, posicionando as pessoas em uma determinada classe social, já as necessidades de autorrealização podem ser observadas em declarações por meio da busca pela melhoria dos ambientes, seja por meio de uma melhor beleza e composição (GÓES, 2010). 2.2.3 As Teorias Comportamentais sobre o Consumidor A compreensão do comportamento do consumidor pode seguir uma linha positivista. Nesta perspectiva o consumidor é colocado como objeto de estudo por meio de fenômenos observáveis, desconsiderando emoções, afetos e qualquer noção de inconsciente (GIGLIO, 2002). 2.2.3.1 A Teoria de B. F. Skinner e o Comportamento do Consumidor Algumas ciências biológicas, como a Neurologia e a Fisiologia, possibilitaram aos behavioristas a elaboração de várias pesquisas em laboratório que muito auxiliaram para a compreensão do ser humano. Frederick B. Skinner com sua teoria do condicionamento está entre os mais importantes autores estudados em marketing. Ele questionava o uso de teorias que utilizavam conceitos não-observáveis, como a inteligência (GIGLIO, 2002). B. F. Skinner (1904-1990) fazia parte do movimento psicológico conhecido como behaviorismo, termo este, que foi citado pela primeira vez em 1913 pelo americano John B. Waston em um artigo seu, na qual defendia um ponto de vista mais funcionalista para a Psicologia, isto é, o comportamento deveria ser compreendido por funções de certas variáveis do meio. O behaviorismo vem do inglês behavior, que significa “comportamento”, destinado a compreender o ser humano a partir de suas interações com o ambiente, entre as ações do sujeito e o ambiente. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo visto como um produto e produtor destas interações (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Ainda, na concepção de Karsaklian (2004) o behaviorismo supõe que todo o comportamento seja uma função de impulsos, resultados de necessidades biológicas, e de 29 hábitos. Estes impulsos conduzem o indivíduo cegamente à ação, e os hábitos nascem a partir do contato da resposta ao reforço. Para Skinner o comportamento do ser humano é condicionado pelos estímulos reforçadores. Com a repetição de tais comportamentos o indivíduo cria hábitos e não pensa mais a respeito da situação (SKINNER, 1950 apud GIGLIO, 2002). A classificação mais relevante do comportamento elucidada por Skinner foi à distinção operante e respondente. O maior interesse dele estava no comportamento operante que é manifestado na ausência de qualquer estimulo motivador. Já o comportamento respondente, é estimulado por um estímulo conhecido e pode ser mais bem explicado por uma resposta, como reflexo pupilar (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Para os autores Bock, Furtado e Teixeira (1999), no comportamento operante existe uma interação entre indivíduo e ambiente, resultando em uma relação fundamental, que nada mais é, que a relação entre a ação do sujeito e as consequências. Este comportamento envolve uma infinidade de atividades humanas, desde os comportamentos de um bebê, como: agarrar objetos, balbuciar e olhar os enfeites no berço, aos mais sofisticados expressados pelo adulto. Na visão dos autores Hall, Campbell e Lindzey (2000) dar um pirulito a uma criança pode representar um exemplo bem simples de condicionamento operante. É possível ensinar uma criança a pedir pirulitos regularmente, dando-lhe pirulitos sempre que ela pedir. Deste modo, reforça-se positivamente a resposta de pedir pirulitos. Ou resultado contrário também é possível, poderá ser extinta a resposta de pedir pirulitos, apenas não dando mais pirulitos quando a criança pedir. A frequência da ocorrência de pedir diminui. Há também, outra maneira pela qual se pode reduzir a ocorrência da resposta. No momento em que a criança pedir pirulitos, deverá ser punida dando-lhe um beliscão. Ao realizar esta ação, de acrescentar alguma coisa à situação que reduz a possibilidade da resposta, diz-se que puniu-se a resposta. Mowen e Minor (2003) citam alguns princípios do condicionamento operante, são eles: • Reforçador: Todo o fato que ocorra após um comportamento e modifique a possibilidade de ocorrer novamente, ou seja, um incentivo que aumente a probabilidade de repetição do comportamento anterior; • Reforçador positivo: Força cuja presença, após um determinado comportamento resulta na possibilidade do aumento da repetição deste comportamento; • Reforçador negativo: comportamento comportamento. resulta Força na cujo desaparecimento, possibilidade do após aumento da um determinado repetição deste 30 Ainda existem outros termos utilizados pela teoria behaviorista, a citar: reforçador secundário, punidor, modelagem, extinção, programa de reforço e estímulos discriminativos (MOWEN; MINOR, 2003). A teoria behaviorista tem sido constantemente utilizada no campo do marketing, principalmente quando se tratam de produtos que exijam uma alta frequência de recompra por parte dos consumidores, o caso de produtos limpeza, higiene e alimentos. As organizações estão utilizando estratégias de presentes e brindes para atrair os consumidores, com o intuito de induzirem a criação do hábito de compra. Outro ramo de negócio que costuma fazer uso da teoria behaviorista são os empresários da linha de eletrodomésticos, que acompanham o comprador muitas semanas após a realização da compra, enviando cartões de felicitações pela aquisição, e até mesmo, colocando à disposição dele revisões gratuitas, tudo a fim de reforçar o comportamento (GIGLIO, 2002). 2.2.4 As Teorias Sociais sobre o Comportamento do Consumidor O comportamento do consumidor pode ser compreendido sob a ótica social. O ser humano pertence ou procura pertencer a grupos distintos. Tais grupos exercem influências no comportamento de consumo do indivíduo, como por exemplo, grupos de referência, grupos de aspiração e a família. A causa do consumo pode estar ligada a cultura do sujeito, ao considerarmos de forma mais sociológica, compreendendo a ideia de cultura como um conjunto de regras e valores que orientam o os pensamentos e ações das pessoas (GIGLIO, 2002). Entende-se por grupo social toda a união de pessoas, que partilham de certas peculiaridades, relacionando-se umas com as outras, acatando direitos e obrigações como integrantes do grupo e compartilhando de uma identidade em comum (LIMEIRA, 2008). Para Karsaklian (2004), a ideia de grupo utilizada nas Ciências Sociais, distingue um pouco da linguagem popular, que considera que o grupo é toda reunião de diversas pessoas. Na concepção dos psicossociólogos, além da reunião das pessoas é necessário ser compartilhado um objetivo comum entre todos. Kotler e Armstrong (2003), assim com Sandhusen (2003) salientam que o comportamento de uma pessoa pode receber influências diretas ou indiretas de uma infinidade 31 de grupos. Atualmente, sociólogos consideram que a influência social nunca foi tão forte. O consumidor tolera cada vez menos as adversidades sozinho, e a necessidade de querer fazer parte de um determinado grupo de referência o leva prontamente a adquirir certos produtos, e estes produtos, serão responsáveis pela “permissão” de sua entrada em tais grupos (KARSAKLIAN, 2004). Os autores Mowen e Minor (2003) salientam que há uma infinidade de termos que são utilizados para descrever os vários tipos de grupos com os quais o indivíduo pode pertencer, são eles: • Grupo de referência: São os grupos possuidores de normas, valores, crenças ou atitudes que são utilizadas por um indivíduo como orientações para o seu comportamento; • Grupo de aspiração: Representa aquele grupo em que o indivíduo almeja pertencer. Caso torne-se impossível a participação deste grupo ele passará a ser um grupo simbólico para o indivíduo; • Grupo de dissociação: É o grupo em que o indivíduo recusa-se a pertencer; • Grupo primário: Representa o grupo na qual o indivíduo pertence e participa ativamente, aquele em que o mesmo mantém contato face a face com os membros. São caracterizados pelo alto grau de intimidade entre os membros do grupo e pela discussão de uma infinidade de assuntos; • Grupo formal: Grupo que possui estrutura e organização determinadas por escrito. As universidades e os sindicatos trabalhistas são exemplos deste tipo de grupo; • Grupo informal: Grupos frequentemente baseados no fator social, como um grupo de amigos, e que não possuem estrutura por escrito. Atualmente, por intermédio da internet, tornou-se possível ao indivíduo compartilhar interesses com pessoas e grupos do qual ele não tem contato pessoal e talvez nunca venha a ter. O autor Solomon (2002), além desta questão, chama a atenção para o surgimento de comunidades virtuais de consumo, que representam grupos de indivíduos cujas interações online, baseiam-se em interesses e informações compartilhadas de certa atividade de consumo, incluindo as mais diversas, desde brinquedos até vinhos finos. Na opinião dos autores Blackwell, Miniard e Engel (2005) há três tipos de influências provocadas pelos grupos que podem afetar os comportamentos, as decisões, as compras e até o estilo de vida do indivíduo, são elas: 32 • Influências normativas: Sucede no momento em que as pessoas modificam seus comportamentos e crenças com o intuito que atender as expectativas de um grupo. Neste caso, as normas do grupo influenciam desde a forma de como a pessoa se veste até a marca do automóvel que dirige; • Influências de expressão do valor: Ocorre quando busca de associação psicológica com um grupo gera no indivíduo a aprovação de seus valores, normas, comportamentos e atitudes; • Influências informacionais: Acontece quando os indivíduos possuem dificuldades de acesso a informações de um produto ou marca por meio de contato ou observação. Eles passam a considerar as experiências e recomendações de outros membros do grupo e utiliza as informações adquiridas em seu processo de decisão. Mowen e Minor (2003) enfatizam a importância dos estudos dos grupos, pois segundo eles, quando os indivíduos passam a fazer parte de um grupo, geralmente atuam de modo diferente de quando encontram-se sozinhos. Corroborando com a afirmação anterior, Solomon (2002) salienta que, até o comportamento de compra é modificado quando os indivíduos compram em grupos. Indivíduos que vão as compras com pelo menos mais uma pessoa costumam realizar mais compras não-planejadas, acabam comprando mais e abarcando uma maior quantidade de áreas da loja, diferente de quando compram normalmente sozinhas. Isto deve-se ao fato do membro do grupo estar convicto que a obtenção da compra lhe concederá uma maior aprovação por parte dos outros ou simplesmente pelo fato de ter sido exposto a uma maior quantidade de produtos e lojas devido à reunião de informações com o grupo. Outra questão importante a ser considerada pelos profissionais de marketing é que o nível de influência de um determinado grupo pode variar de acordo com os produtos e marcas, assim concordam os autores Kotler e Armstrong (2003), Karsaklian (2004) e Solomon (2002). Para Karsaklian (2004), os produtos que representam primeira necessidade e são consumidos de forma íntima, como sabonetes e cremes dentais, não sofrem influências do grupo, afinal não estão na esfera das trocas sociais. Já os produtos relacionados a despesas discricionárias, como carros e cigarros, estão presentes em uma área de interação, neste caso, o grupo influenciará na escolha da marca e consequentemente na aquisição do produto. Desta forma, Karsaklian (2004) sugere que a influência do grupo torna-se mais forte no momento em que: o produto tem um valor alto ou é visto como tal; a compra apresenta um ou mais riscos; o produto é inovador e pouco disseminado; o produto apresenta-se intangível e complexo e o ato do consumo acontece na presença de outros indivíduos. 33 Alguns grupos aos quais o indivíduo faz parte ou se referencia se destacam a família e os líderes de opinião. Família A família representa um grupo primário da qual o indivíduo faz parte. Sua importância deve-se ao fato de representar uma fonte básica de aprendizagem e de atitudes que contribui na formação total da personalidade deste indivíduo. Ela também atua, com forte influência na constituição de gostos, crenças e preferências, e são estes os que mais atuam diretamente sobre o comportamento de compra (KARSAKLIAN, 2004). Corroborando com a afirmação anterior, Gade (1998), expõem que é na família que ocorre a primeira interação social da pessoa com o mundo e com as atitudes. Junto a eles dará início à formação de seus primeiros valores e crenças referentes ao que vestir, o que comer, a quem respeitar, o que frequentar e como viver. Consideraram-se dois tipos de família. A família de orientação representada pelos pais e irmãos do consumidor e a família de procriação constituída pelo cônjuge e as crianças do consumidor, e esta representa o grupo, que entre os demais grupos, é o que possui a maior influência direta no comportamento de compra do consumidor (SANDHUSEN, 2003). Na concepção dos autores Mowen e Minor (2003), a família representa um subgrupo compreendido dentro de uma classificação ampla, o domicílio. Os domicílios são constituídos por todos os indivíduos que moram em uma residência. Alguns exemplos de domicílios são amigos que dividem um apartamento ou casais vivendo juntos ou separados na mesma casa. Ainda para estes autores, há vários tipos de famílias, são elas: a família nuclear que consiste em um marido, uma esposa e seus filhos; a família por extensão representada pela família nuclear somada a outros parentes, como pais do marido, da esposa e tios e a família nuclear separada que ocorre quando os filhos das famílias de classe média vivem sozinhos e formam suas famílias longe de seus pais (MOWEN; MINOR, 2003). Blackwell, Miniard e Engel (2005) mencionam que as decisões de compra dentro das famílias irão depender dos papéis que os seus vários membros desempenharão na compra, consumo e influência do produto. Certos produtos poderão ser comprados por apenas um membro, mas consumidos por vários indivíduos é o caso de produtos alimentícios, xampu e 34 sabonete, enquanto outros como itens pessoais poderão ser comprados por um único integrante da família para seu próprio uso. Produtos com custos mais altos, como casas e veículos, são geralmente adquiridos pelo casal, talvez com o envolvimento dos filhos ou de outros membros da família. A família é um grupo que se diferencia dos outros grupos em termos de consumo, como basicamente toda a família está dentro de um orçamento comum os seus indivíduosmembros são obrigados a buscarem satisfazer suas necessidades e gostos individuais dentro deste orçamento (GADE, 1998). As decisões de consumo na família costumam envolver, ao menos, cinco papéis definidos. Estes papéis podem ser exercidos pelas crianças, esposo, esposa e outros membros do lar, são eles: • Iniciador: Representado por aquele que inicia no pensamento da família a necessidade da aquisição de um determinado produto, ele quem acumula as informações para auxiliar no processo de decisão; • Influenciador: Aquele cuja opinião é procurada no que se refere aos critérios que a família deverá utilizar na compra e quais os produtos e marcas que melhor se adaptam a esses critérios de avaliação; • Decisor: Representa o membro da família possuidor de autoridade financeira ou o poder de decisão de como o dinheiro da família será gasto e com que produtos e marcas; • Comprador: Agente comprador que vai até a loja, entra em contato com os fornecedores, realiza o pagamento e traz os produtos para a casa; • Usuário: Membro da família que utilizará o produto (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Líderes de Opinião Os líderes de opinião são indivíduos pertencentes a um grupo de referência, possuidores de habilidades particulares, personalidade, conhecimentos e uma série de outros traços capazes de exercerem influência sobre os outros indivíduos (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). O autor Solomon (2002) contribui com a afirmação anterior ao 35 salientar que, um líder de opinião é representado pelo indivíduo que é constantemente hábil em influenciar os comportamentos e atitudes dos demais. Para os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005), entre as características mais comuns nos líderes de opinião das mais variadas categorias de produtos, encontram-se o seu alto grau de envolvimento com o produto, o que os leva a um constante contato com publicações especiais, informativos em veículos de mídia e outros recursos que destacam o produto em questão. Além disso, são extremamente extrovertidos, sociáveis, dotados de intensa autoconfiança e procuram sempre compartilhar seus conhecimentos com a maioria e buscam as opiniões alheias. Solomon (2002), afirma que um dos fatores que tornam valiosas as informações cedidas por um líder de opinião é o fato que ao buscar informações em fontes pessoais, os consumidores não costumam considerar a opinião e os conselhos de qualquer pessoa, mas sim, de alguém que conhece muito sobre o assunto. Ainda para este autor, existem outros fatores que contribuem para que os líderes de opinião sejam considerados uma importante fonte de informação, são elas: • São mais confiáveis e convincentes do que as demais fontes de informação, pois possuem o poder do conhecimento, entretanto, sem interesses pessoais. As informações a respeito do produto são selecionadas, avaliadas e sintetizadas por eles sem segundas intenções; • Costumam ser socialmente ativos e ligados com a comunidade da qual fazem parte, e geralmente apresentam um poder legítimo em virtude de suas posições sociais; • São semelhantes aos compradores segundo valores, crenças e pertencentes de uma mesma classe social, mas tendem a serem um pouco superiores em questões como educação e status do que aqueles que influenciam; • São eles, em muitos casos, os primeiros a adquirir novos produtos e suas experiências com o desempenho do produto, positivas ou negativas, são compartilhadas com os demais. Encorajando os mais receosos a adquirem ou não o produto (SOLOMON, 2002). Cientes da importância dos líderes de opinião os profissionais de marketing procuram reconhecer os indivíduos influentes para cada tipo de produto, utilizando em vários casos, anúncios com informações técnicas que visam atingi-los e não o comprador comum. Mas, nem sempre é uma tarefa fácil encontrá-los, considerando que grande parte dos líderes de opinião trata-se de consumidores comuns (SOLOMON, 2002). 36 Karsaklian (2004) enfatiza que as empresas apelam para dos tipos de estratégias quando tem por objetivo a utilização da liderança de opinião: a estratégia de simulação na qual o produto ou marca é apoiado com a popularidade de um líder de opinião para ser comercializado. E a outra estratégia é a estimulação da influência pessoal, buscando transmitir as informações em primeira mão para os indivíduos julgados especialistas em determinadas áreas, para que os mesmo contribuam na disseminação de tais informações, concedendo-lhes credibilidade devido ao seu status de especialistas. 2.2.5 As Teorias de Tipologias do Consumidor Assim como nas ciências, o marketing também utiliza os recursos da classificação e generalização. Existem numerosas tipologias, que são sistemas classificatórios utilizados com o intuito de compreender o comportamento do consumidor (GIGLIO, 2002). 2.2.5.1 A Tipologia por Critérios Demográficos A divisão dos grupos humanos pode ser realizada considerando algumas variáveis facilmente mensuráveis, como: idade, estado civil, renda, entre outros. Esta divisão é chamada de demografia (GIGLIO, 2002). Entende-se por demografia a observação atenta da população considerando seu tamanho, localização, densidade, raça, idade, ocupação, sexo e outras informações estatísticas (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). De forma simplificada, trata-se da descrição das peculiaridades de uma determinada população (MOWEN; MINOR, 2003). Schiffman e Kanuk (2000) enfatizam que no marketing a utilização da demografia origina a tipologia por segmentação demográfica, segmentação estabelecida como o processo de divisão de um determinado mercado em pequenos conjuntos de diferentes compradores, com características e necessidades semelhantes. Além desta, existem várias outras segmentações para definir grupos de consumidores, entre as categorias mais populares de segmentação utilizadas pelos profissionais de marketing, encontram-se: geográfica, 37 demográfica, psicográfica, sociocultural, relacionada com o uso, por uso-situação, por benefício e híbrida. Uma das variáveis demográficas mais utilizadas nas teorias do comportamento de consumo é a classe social. Contudo, o autor Giglio (2002) considera que, quanto mais variáveis forem utilizadas em uma amostra, mais específica ela será, aumentando assim às probabilidades de se criarem previsões confiáveis. Para os autores Blackwell, Miniard Engel (2005) as variáveis demográficas utilizadas no estudo do consumidor são: idade, etnia, renda, educação, gênero, tamanho da família, estágio da vida, nacionalidade, estado civil, ocupação, religião e arranjos de moradia. O cenário demográfico é de grande interesse para o marketing, porque envolve pessoas e o mercado é composto por pessoas. Os fatores demográficos representam a base mais conhecida para a segmentação de consumidores. Isto deve-se ao fato de que os desejos, as necessidades e os indicadores de utilização variam segundo as variáveis demográficas, somados a sua fácil mensuração (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). O autor Sandhusen (2003) corrobora com afirmação anterior ao alegar que, as variáveis demográficas além de serem facilmente obtidas, geralmente, podem ser correlacionadas com o comportamento do consumidor. Para Giglio (2002), a utilização da tipologia demográfica possibilita análises macroeconômicas, pelo fato de permitir a consideração de uma enorme massa de indivíduos em áreas como habitação, estudos e esportes. Pode-se, por exemplo, perceber uma movimentação das classes B e C da periferia para o centro da cidade, o que auxiliará nos negócios imobiliários e no planejamento urbano. As informações demográficas podem ser utilizadas também, como orientações para a criação e o reposicionamento de novos produtos, para as extensões de marca, estratégias de distribuição ou propagandas criativas. No caso dos profissionais de marketing não contarem com pesquisas primárias (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Entretanto, os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005) e também Limeira (2008) chamam a atenção para o seguinte fato. Mesmo representando a segmentação mais utilizada e mais simples de realizar, não se faz suficiente, tendo em vista que não proporciona um maior conhecimento das motivações e reações dos compradores. Os indivíduos podem em situações semelhantes, adquirirem produtos iguais, mas nem sempre é assim. Eles podem atuar de formas diferentes em função de suas características sócio psicológicas, que refletem seus valores pessoais, personalidades e estilos de vida. Dificultando, em alguns casos, a construção de eficientes estratégias de marketing. 38 O gênero mostra-se uma variável demográfica muito importante para a compreensão do comportamento do consumidor. Um estudo elaborado pelos autores Zampieri et al (2012) utilizando o sexo como um fator moderador na relação entre materialismo e estilo de consumo, constatou que existem importantes diferenças entre os gêneros. Segundo os dados obtidos, o nível de materialismo influenciado pela importância atribuída à marca do produto é mais relevante para as mulheres do que para os homens. No entanto, entre os homens, percebe-se que o materialismo apresenta uma forte relação com o comportamento de compra compulsivo, isto é, naquelas compras que são realizadas sem necessidades, apenas com a finalidade de experimentação. Os homens materialistas são muito mais passíveis a compras compulsivas do que as mulheres. O estudo ainda conclui que as ações de marketing devem ter focos distintos para homens e mulheres. Estratégias centradas em aspectos relacionados à marca dos produtos devem ser mais direcionadas para o público feminino, e para o público masculino as ações devem estar voltadas para inovação do produto, estimulando a compra compulsiva (ZAMPIERI et al, 2012). 2.2.5.2 A Tipologia por Características da Personalidade Algumas dessas tipologias focam o lado emocional, na área de marketing uma das mais utilizadas está relacionada às características da chamada personalidade. A compra ou o consumo de determinado produto ou serviço pode ser explicado conforme se o sujeito for introvertido, extrovertido, impulsivo, racional, afetivo (GIGLIO, 2002). Os autores Mowen e Minor (2003) destacam que a palavra personalidade originou-se de um termo do latim persona, que significa “máscara facial do ator”. Para os autores Kotler e Armstrong (2003) a personalidade é a união de várias características psicológicas únicas que levam a reações relativamente coesas e contínuas em relação ao ambiente. Schiffman e Kanuk (2000, p. 81) corroboram com a afirmação anterior ao evidenciar que, a personalidade é definida como “características psicológicas interiores que tanto determinam, quanto refletem como uma pessoa responde ao seu ambiente”. Ainda, para Gade (1998), a personalidade pode ser considerada um arranjo dinâmico de traços internos que definem o modo do indivíduo 39 desempenhar seus papéis sociais. A totalidade dos traços psicológicos desenvolvidos em relação com o meio ambiente resultará nas formas de perceber, sentir e agir do indivíduo. Karsaklian (2004) enfatiza que, a definição do termo personalidade tem gerado polêmicas até os dias atuais. Em 1937, o psicólogo Gordon Allport elencou 50 definições desta palavra e após observações profundas, a classificou em categorias gerais. Tal estudo proporcionou a identificação de ideias fundamentais comuns referentes à personalidade, originando os seguintes princípios subjacentes: • Princípio da globalidade: Os diversos traços, características e os sistemas cognitivos, afetivos e conotativos são complementares e fundidos. Elementos inatos, sociais, obtidos e orgânicos. Personalidade é tudo o que as pessoas são; • Princípio social: A personalidade consiste nos hábitos e nas características obtidas por meio das interações sociais, que ocasionam a união do indivíduo ao meio social; • Princípio da dinamicidade: A definição de personalidade é basicamente dinâmica. Os diversos elementos interagem, combinando-se e causam novos efeitos e originais formas de comportamento e características do indivíduo, de tal forma que haja certa coerência neste comportamento; • Princípio da individualidade: A personalidade é constantemente um conjunto de todos os aspectos próprios da pessoa, que marca e diferencia um ser de outro. Cada pessoa é única no mundo (KARSAKLIAN, 2004). Na concepção dos autores Schiffman e Kanuk (2000), três particularidades distintas são de essencial importância no estudo da personalidade: primeiro, ela reflete as disparidades individuais, cada indivíduo representa uma combinação de características interiores únicas não havendo dois indivíduos extremamente iguais; segundo, a personalidade é constante e duradoura e terceiro, a personalidade pode mudar, mesmo apresentando uma tendência a ser constante e duradoura, ela poderá ser alterada sob certas situações. Por exemplo, a personalidade de uma pessoa pode mudar por eventos importantes no decorrer de sua vida, como um nascimento de um filho ou a falecimento de um ente muito querido. Para o estudo do comportamento do consumidor, a personalidade trata-se de uma variável interpessoal e individual, vista com muito interesse por parte dos profissionais de marketing que almejam explicar comportamentos, como, por exemplo, a escolha de certas marcas. Isto deve-se ao fato de ela ter sido em termos históricos a primeira variável a ser analisada e nos dias atuais continua intrigando muitos deles quanto a sua utilização (KARSAKLIAN,2004). 40 Mowen e Minor (2003) ponderam duas diferentes abordagens da personalidade que são exclusivas para os pesquisadores que exploram o consumidor: • Abordagem da teoria psicanalítica: Elaborada por Sigmund Freud, esta representou um impacto significativo na compreensão das características humanas. Ele explicou que a personalidade humana é resultante de uma luta dinâmica entre os impulsos fisiológicos internos e as pressões sociais, para que regras, leis e códigos morais sejam seguidos pelo indivíduo. Esta abordagem pode ser melhor observada no capitulo 2.2.2.1 deste presente trabalho; • Abordagem da teoria das características: Tal abordagem classifica os indivíduos considerando suas peculiaridades ou traços dominantes. Estes traços psicológicos básicos podem ser: traços elementares que são resultantes do histórico genético e da aprendizagem precoce do sujeito e traços compostos que resultam do aprendizado de um sujeito e do ambiente cultural em que está inserido. Todavia, os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005), consideram que a variável personalidade tem se mostrado capaz de explicar cerca de 10% das variações de comportamento dos compradores, isto está levando alguns profissionais de marketing a associar dados da personalidade às informações sobre as situações econômicas e sociais particulares. Para Sheth, Mittal e Newman (2001) a variável personalidade influência os diversos papéis dos compradores. Indivíduos extrovertidos costumam participar de atividades sociais e ao ar livre como mais assiduidade, e como resultado, acabam consumindo produtos e serviços relacionados a tais atividades de recreação. Os indivíduos com gostos artísticos são grandes frequentadores de eventos de arte. Já indivíduos dirigidos para as realizações procuram desenvolver suas habilidades e aptidões, inscrevendo-se em cursos universitários e adquirindo produtos e serviços voltados para completar o seu aperfeiçoamento. Os autores Schiffman e Kanuk (2000) confirmam a afirmação anterior ao alegar que, a personalidade é capaz de influenciar as escolhas de produtos do indivíduo e também o modo como o comprador responde aos esforços promocionais de uma organização. Os autores também chamam a atenção para fato de que o reconhecimento de aspectos específicos da personalidade, associados ao comportamento de compra, podem ser altamente importantes para o desenvolvimento de estratégias de segmentação de mercado de uma empresa. 41 2.2.5.3 A Tipologia por Estilos de Vida As rotinas de comportamentos do sujeito também podem ser utilizadas para compreender o seu processo de consumo. Características de personalidade, rotinas de trabalho, crenças e valores, estudo e laser formam um conjunto denominado estilo de vida (GIGLIO, 2002). Na visão dos autores Mowen e Minor (2003) e também o autor Solomon (2002), o estilo de vida reporta-se a forma como os indivíduos optam por gastar sua renda disponível e utilizar seu o tempo, um modelo de consumo que reflete ações e comportamento dos compradores. Gade (1998) sugere que o estilo de vida seja resultado de fatores pessoais e demográficos, como idade, sexo, posição do ciclo de vida. Estes, somados a fatores internos, como atitudes, valores, emoções e personalidade do indivíduo em questão. Na concepção dos autores Kotler e Armstrong (2003), o estilo de vida evolve a avaliação das fundamentais dimensões do consumidor, são elas: as atividades, os interesses, e as opiniões. Ainda para eles, o estilo de vida encontra-se além da personalidade e da classe social de um indivíduo. Ele evidencia todo um padrão de atuação e interação do indivíduo com o mundo. Barbosa (2008) alega que o estilo de vida e a identidade de um indivíduo tornaram-se opcionais e transitórios. Ambos não dependem da idade, posição social ou ocupação do indivíduo, ele pode ser quem escolher ser. Nos dias atuais, nem mesmo a renda atua com uma barreira limitante. Consumidores utilizam produtos similares e “piratas”, o que lhes possibilita fazer parte de determinados estilos de vida, mesmo que suas rendas não sejam condizentes com o uso de muitos destes produtos nas suas respectivas versões originais. A técnica utilizada habitualmente para determinar o estilo de vida de uma pessoa é chamada psicografia (SANDHUSEN, 2003). Técnica que segundo Solomon (2002), em sua grande parte de pesquisas, costuma reunir em grupos os compradores considerando algumas combinações de três categorias de variáveis - atividades, interesses e opiniões, formando o que denomina-se como AIOs. Esta, possibilita aos profissionais de marketing a utilização de dados de uma ampla amostra para a criação de perfis de consumidores que se assemelham em termos de suas atividades e padrões de uso dos mais variado produtos. Outra técnica psicográfica para a identificação dos estilos de vida dos consumidores é o diagrama de classificação VALS 2 (valuesandlifestyles – valores e estilos de vida), que objetiva apontar relações específicas entre as atitudes do comprador e o seu comportamento de compra (MOWEN; MINOR, 2003). De acordo com os autores Blackwell, Miniard e Engel 42 (2005) os resultados do VALS 2 são obtidos com a captura das atitudes e valores dos compradores a partir da mensuração de quão fortemente eles concordam ou discordam com determinadas frases. O modo como os compradores respondem a estas frases possibilita a classificação das suas auto orientações, ou seja, os objetivos e comportamentos aos quais eles anseiam. Tais, são divididas em três categorias distintas, são elas: • Orientadas por princípios: Neste caso os compradores adotam as suas decisões de compras de acordo com seus princípios e crenças e não conforme o que os outros pensam; • Orientados por status: Nesta situação os compradores têm suas decisões de compras fortemente influenciadas pelas opiniões, crenças e pontos de vistas alheios; • Orientadas pela ação: Neste caso os consumidores adquirem produtos que dizem respeito a seu ambiente, buscando atividades diversas e optam por correr riscos. Afora a auto orientação, o diagrama de classificação do VALS 2 também considera as dimensões psicológicas, materiais, demográficas e físicas dos indivíduos (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Mowen e Minor (2003) e também os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005), ressaltam que o VALS 2 define oito categorias de estilos de vida dos consumidores, são elas: • Efetivadores ou realizadores: Indivíduos bem-sucedidos e com nível universitário. São detentores de altos recursos, elevada autoestima e focados em princípios e ação. Com idade média entre 43 anos, a sua renda encontra-se em torno de 58 mil dólares; • Realizados ou satisfeitos: Indivíduos focados em princípios, geralmente maduros, bem informados, satisfeitos e casados. E estes, atribuem pouca importância a sua imagem, buscando nos produtos adquiridos durabilidade, funcionalidade e valor. Com idade média entre 48 anos, a sua renda encontra-se em torno de 38 mil dólares; • Crentes: Indivíduos tradicionais e moralistas, orientados por princípios. Seu estilo de vida é fortemente ligado a família e a igreja. Formados no ensino médio, são leais aos produtos, sua idade média está entre 58 anos e renda em torno de 21 mil dólares; • Realizadores ou controladores: Indivíduos bem-sucedidos, orientados para a carreira e focados em status. Escolhem estar no controle de suas vidas e optam por correrem menores riscos. Quanto à escolha de produtos, preferem marcas famosas que demonstre seu sucesso. Possuem nível superior, idade média entre 36 anos e sua renda encontra-se em torno de 50 mil dólares; 43 • Esforçados: Indivíduos orientados para o status, mas detentores de poucos recursos. Sua busca constante é a aprovação dos demais, e muitas vezes simulam a ter a vida daqueles pelos quais se esforçam em ser. Para estes, o dinheiro define o sucesso. Geralmente têm educação universitária e sua renda encontra-se em torno de 25 mil dólares; • Experimentadores: Indivíduos jovens, entusiastas, consumidores impulsivos e focados na ação. Detentores de altos recursos, apreciam produtos e atividades novas que muitas vezes ainda não foram aceitas, gostam de assumir riscos. Normalmente são solteiros e ainda não finalizaram os estudos, sua idade média está entre 26 anos e sua renda encontra-se em torno de 19 mil dólares; • Executores ou fazedores: Indivíduos focados na ação prática, normalmente são conservadores e práticos, vivendo dentro do contexto da família e do trabalho. Possuem ensino médio completo e desempenham atividades braçais, sua idade média está entre 30 anos e sua renda encontra-se em torno de 30 mil dólares; • Batalhadores ou lutadores: Indivíduos pobres e normalmente com baixa educação, preocupados com sua sobrevivência a cada instante. São prudentes e leais aos produtos, sua idade média está entre 61 anos e sua renda encontra-se em torno de 9 mil dólares (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005), (MOWEN; MINOR, 2003). As técnicas psicográficas VALS e VALS2 devem ser utilizadas com critério por parte dos pesquisadores. Segundo os autores Mowen e Minor (2003), mesmo frequentemente utilizadas nas organizações com o intuito se segmentar o mercado e promover o desenvolvimento de estratégias e propagandas para os mais variados produtos. Ambas tratamse de instrumentos que não são de domínio público. Esta situação dificulta uma maior avaliação da validade e confiabilidade das técnicas. Limeira (2008) e Karsaklian (2004) expõem em seus estudos do comportamento do consumidor uma pesquisa realizada em 2003 no Brasil, pela Agência de Marketing juntamente com a Clínica de Comunicação e ABA nas principais capitais do país, que estabeleceu as seguintes tipologias do consumidor brasileiro: • Liberais: Representam 10% da população brasileira, são ambiciosos, dinâmicos e competitivos. Neste grupo encontram-se os que apresentam a renda mais alta, entre eles há um maior número de indivíduos que possuem diploma universitário, profissionais autônomos e com negócio próprio; 44 • Sonhadores: Representam 12% da população brasileira, buscam alcançar a realização afetiva e identidade pessoal nas suas escolhas de consumo. Almejam sentirem-se felizes, interessantes e atraentes perante os demais; • Ideológicos: Representam 12% da população brasileira, são os que acreditam em colocar em prática seus ideais. Atuam de forma conservadora e humanitária combatendo a corrupção e defendendo a educação, a solidariedade e a família; • Batalhadores: Representam 14% da população brasileira, desejam uma vida mais instável e confortável. Lutam contra a exclusão e exigem uma maior democratização das oportunidades de crescimento e acesso aos confortos e benefícios do consumo; • Retraídos: Representam 13% da população brasileira, buscam um modelo de felicidade que seja menos vinculado ao dinheiro e a consumo. Expõem-se pouco na busca de prazer, realização e qualidade de vida; • Conservadores: Representam 12% da população brasileira, são os mais pessimistas e apreensivos e acreditam que tudo representa o enfraquecimento da moral da humanidade; • Transgressivos: Representam 15% da população brasileira, mostram-se rebeldes e desafiam tudo que e aceito pela maioria, são radicais na defesa do direito de cada um ser e assumir aquilo que é ou deseja ser; • Progressistas: Representam 12% da população brasileira, é o grupo que apresenta o maior número de mulheres, são entusiastas do avanço e da contribuição feminina na vida pública e privada. No marketing, o estudo dos estilos de vida dos indivíduos possibilita às empresas a compreensão que é inviável a destinação dos mesmos tipos de produtos para todos os consumidores, afinal eles podem não corresponder às expectativas particulares de cada um. Ao contrário, deve-se buscar a realização de uma melhor adaptação dos produtos para cada perfil de consumidor (KARSAKLIAN, 2004). O autor Solomon (2002) contribui para a afirmação anterior ao evidenciar que, os compradores geralmente escolhem determinados produtos, serviços e atividades porque os associam com certo estilo de vida. Todavia, o mesmo autor chama a atenção para o fato de que os estilos de vida não ficam imóveis. As preferências e os gostos dos indivíduos sofrem modificação no decorrer do tempo, de forma que, certos padrões de consumo que eram interpretados de modo favorável durante uma fase da vida, podem se transformarem em motivo de riso alguns anos mais tarde. 45 Sendo assim, Kotler e Armstrong (2003) consideram que, empregados com o devido cuidado, o conceito de estilo de vida poderá auxiliar o profissional de marketing a compreender as alterações nos valores do comprador e maneira com elas afetam seu comportamento de consumo. 2.2.5.4 A Tipologia por Ciclo de Vida do Produto Alguns profissionais de marketing preferem compreender o processo de consumo considerando o ciclo de vida dos produtos. Tais identificam quais serão os possíveis compradores logo no início, no meio e no final do ciclo de vida dos produtos (GIGLIO, 2002). Para Churchill (2010), os produtos, assim como os seres vivos, ao longo de sua trajetória no mercado passam por determinados estágios de vida. O ciclo de vida de um produto representa as fases do histórico de comercialização e lucros deste. Existem quatro estágios de ciclo de vida a serem considerados, são eles: • Introdução: Estágio em que o produto é introduzido no mercado. Busca-se neste, o reforço da construção da demanda primária, levando a consciência dos compradores potenciais a existência do produto e que os mesmos possam vir a experimentá-lo. É um estágio em que geralmente os lucros são negativos e a comercialização inicia-se lentamente, mas com um consequente aumento; • Crescimento: Neste estágio as vendas tendem a subir drasticamente, porque cada vez mais um número maior de compradores inicia o processo de experimentação do produto. Por consequência os lucros também aumentam, entretanto, neste estágio há um importante desafio de seguir a demanda e evitar os concorrentes que surgem atraídos para o mercado em função do aumento das vendas e dos lucros atingidos pela empresa; • Maturidade: Estágio atingido pelo produto no momento em que passa a ser conhecido pelo mercado e suas vendas sobem paulatinamente até atingirem o ápice. Devido ao fato de muitos consumidores já terem o produto, o aumento das vendas é mais vagaroso e pode vir a cair no final desse estágio; 46 • Declínio: Estágio em que a quantidade de vendas da maioria dos produtos começa a cair. Esta queda pode estar relacionada a uma série de razões em que o produto deixa de ser fundamental ou atraente para o comprador. Os valores e as necessidades dos compradores podem ter se modificado, uma nova tecnologia resultou em uma opção de produto superior. Neste momento os profissionais de marketing buscam reduzir os custos ou até mesmo modificar os produtos a procura de novos mercados, a fim de conterem o declínio das vendas e manter o produto lucrativo. Churchill (2010) em suas afirmações pondera que os produtos podem galgar pelos vários estágios do ciclo de vida de maneira diferente. Uma infinidade de produtos fracassa, sem mesmo passar por todos os estágios. Existem também variações no ciclo de vida, duas delas são conhecidas como modas e os modismos. A moda pode ser entendida como um conjunto de comportamentos passageiros adotados por um povo, em função de tais são julgados como socialmente oportunos para a época e a situação (MOWEN; MINOR, 2003). Ainda, para Solomon (2002), a moda representa um processo complexo que pode atuar em vários níveis, ela pode se tratar de um fenômeno social que diz respeito a muitas pessoas ao mesmo tempo ou poderá afetar apenas o comportamento individual. O ciclo da moda é comum em roupas, cosméticos e estilos de cabelo. Já o modismo, trata-se de uma moda com pouquíssima duração e frequentemente é adotado por um número limitado de indivíduos que fazem parte de uma subcultura comum. Estes produtos normalmente são adquiridos sem um processo de decisão racional, por impulso, e não possuem funções significativas, exemplos destes produtos são: pedras da sorte, bambolês e pulseiras de pressão (SOLOMON, 2002). Os produtos de modismo sofrem um período intenso, no entanto com uma curta popularidade, como uma moda transitória. É comum poucos concorrentes tirarem vantagem do modismo devido ao fato de ser tão breve (CHURCHILL, 2010). Quando um produto é inserido no mercado de modo recente ou é entendido como novo no momento da aquisição, ao invés de produtos já existentes, recebe o nome de inovação de produto ou novo produto (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Em uma mesma cultura, nem todos os indivíduos aceitam uma inovação de um produto na mesma proporção. Certos indivíduos adotam inovações rapidamente, entretanto, outros nunca o fazem (SOLOMON, 2002). Para os autores Sheth, Mittal e Newman (2001) existem dois fatores que podem explicar a recusa por parte alguns compradores em adotar inovações, o hábito, que se trata da sequência assimilada de resposta a um estímulo descoberto anteriormente, e o risco 47 percebido, representado pela dúvida quanto à existência de alguma desvantagem e quanto à ocorrência de um possível resultado negativo. Na concepção dos autores Schiffman e Kanuk (2000), o consumidor inovador pode ser distinguido do não-inovador por meio da existência de alguns traços da personalidade. Consumidores inovadores tendem a serem menos dogmáticos, costumam adquirir novos produtos e não-familiares com considerável abertura e pouca ansiedade e confiam em seus próprios valores ou paradigmas no momento de tomada de decisão. São indivíduos decididos a correr o risco de optar por uma má escolha de um produto, aumentando assim, a sua exposição a novos produtos que os deixarão satisfeitos. Churchill (2010) corrobora com o posicionamento dos autores anteriores, ao alegar que os consumidores que conhecem e adquirem os produtos no início de seus ciclos de vida costumam possuir características diferentes daqueles que adquirem mais tarde. O processo em que os novos produtos dispersam-se por uma população é denominado de difusão do produto. Considerando os autores Churchill (2010) e Kotler e Armstrong (2003) neste processo existem cinco tipos de adotantes, são eles: • Inovadores: São os primeiros indivíduos a adquirir um produto novo. Frequentemente são jovens, instruídos, tentem a ser ousados e decididos a correr riscos. Os inovadores também podem ser compradores organizacionais, que costumam fazer parte de organizações que buscam estarem sempre à frente de seus concorrentes por meio do uso das mais atualizadas tecnologias e ideias; • Adotantes iniciais ou imediatos: São indivíduos guiados pelo respeito aos líderes de opinião e começam a adquirir os novos produtos caso percebam que a experiência destes tenha se mostrado positiva. Costumam adotar as novas ideias com considerável rapidez e cuidado, servindo de influência para o restante do mercado; • Maioria inicial ou imediata: Indivíduos cuidadosos que evitam os riscos e aderem às novas ideias antes da média dos demais indivíduos; • Maioria tardia ou posterior: Indivíduos descrentes as novas ideias, que evitam os ricos ao máximo e somente aderem a uma inovação após a maioria dos indivíduos tê-las adotado; • Retardatários: Indivíduos aprisionados as tradições, resistentes em fazer mudanças, e que dispostos a adotarem o produto apenas quando ele torna-se comum (CHURCHILL, 2010), (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). 48 As características de um novo produto também influenciam a sua taxa de adoção, enquanto certos produtos transformam-se em populares da noite para o dia, outros custam um bom período de tempo para ganhar a aceitação por parte dos compradores. Isto é evidenciado pelos autores e Kotler e Armstrong (2003) e também pelos autores Blackwell, Miniard e Engel (2005). Estes mesmos autores destacam as principais características dos produtos que costumam atuar sobre a taxa de adesão, são elas: • Vantagem relativa: É o nível com o qual os compradores podem perceber que tal inovação superior aos produtos existentes lhe proporcionará maiores benefícios que o produto atual. Quanto maior for à vantagem relativa percebida no produto pelo comprador, este será adotado de forma mais rápida; • Compatibilidade: Refere-se ao nível com que o produto é condizente com os valores, necessidades, práticas e experiências vivenciadas dos compradores potenciais. Esta característica pode ser evidenciada nas decisões sobre produtos de software e hardware, onde o comprador costuma compará-los com o sistema que ele já utiliza; • Complexidade: Trata-se do nível com que uma inovação é difícil de ser compreendida e utilizada. Quanto mais complicado o novo produto parecer para o comprador, mais difícil será para se obter aceitação. A complexidade representa um obstáculo significativo para a adoção de uma tecnologia; • Divisibilidade ou facilidade de teste: É o nível em que a inovação pode ser experimentada. Os novos produtos são prontamente bem-sucedidos quando o indivíduo tem a possibilidade de experimentá-los ou examinar a ideia mesmo em base limitada, onde o risco financeiro também é limitado; • Comunicabilidade ou facilidade de observação: Refere-se ao nível em que os resultados do uso do novo produto podem ser descritos e observados pelos indivíduos. É possível que um produto seja bem-sucedido e se difunda rapidamente quando o comprador pode observar os outros se favorecendo ao utilizá-lo. Os profissionais de marketing devem estar atentos ao ciclo de vida dos produtos, devendo observar a necessidade de campanhas promocionais separadas, visando alcançar desde os inovadores até os adotantes tardios (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). Estes autores consideram a inserção de novos produtos e serviços, essenciais para os compradores, que possibilita uma maior oportunidade de satisfação de suas necessidades pessoais, sociais e ambientais; para as empresas, pois representam uma importante ferramenta para mantê-las 49 lucrativas e competitivas; e para a economia como um todo, afinal novos produtos e serviços evidenciam melhoras possíveis na vida para bilhões de pessoas. 2.2.5.5 As Tipologias de Comportamentos de Compras Um indivíduo pode apresentar uma infinidade de comportamentos de compra dependendo do produto em questão. As decisões mais complexas, como a compra de uma casa ou carro zero quilômetro, geralmente abarcam mais participantes e com mais cautela por parte do comprador, o que pode não ocorrer em decisões mais comuns, como a compra de um creme dental ou um pacote de biscoitos (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Os autores Schiffman e Kanuk (2000) destacam que as pessoas tomam diversas decisões referentes aos mais variados aspectos de suas vidas cotidianas. De modo geral, a decisão é uma seleção de uma opção entre duas ou mais alternativas. Comportamento de Compra Complexo Este comportamento é frequentemente apresentado por indivíduos que estão prestes a adquirir produtos que lhe pareçam caros, complexos, não muito conhecidos ou também muito expressivos para o mesmo. Exemplos destes produtos são a compra de uma casa ou de um carro novo (CHURCHILL, 2010). Kotler e Armstrong (2003) contribuem para a afirmação anterior ao evidenciar que, os compradores normalmente expressam este comportamento de compra quando se mostram fortemente envolvidos com a compra e identificam diferenças relevantes entre as marcas. Ainda a para estes, neste comportamento o consumidor, com intuito de realizar uma compra consciente, sofrerá um processo de aprendizagem desenvolvendo suas crenças e atitudes em relação ao produto. 50 Comportamento de Compra com Dissonância Cognitiva Reduzida Neste comportamento de compra o indivíduo costuma está fortemente envolvido em uma aquisição cara, singular e que envolve certos riscos, também observado na compra complexa. Todavia, o consumidor constata pouquíssimas diferenças entre as opções de marcas disponíveis. Esta ausência de diferenças no mercado possibilita ao consumidor a realização da compra de forma consideravelmente rápida, levando em consideração um melhor preço ou à melhor conveniência da compra. Por trata-se de uma escolha rápida de produtos caros, em alguns casos, os compradores podem experimentar depois da aquisição uma dissonância pós-compra. Isto deve-se ao fato de encontrarem certas desvantagens na marca que escolheram ou ainda por ouvirem pareceres favoráveis às outras. É importante que os profissionais de marketing estejam preparados para proporcionarem apoio a estes compradores, a fim de que se sintam felizes com a escolha da marca e possam vir a realizar futuras aquisições e indicações para seus conhecidos (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Comportamento de Compra Habitual O autor Churchill (2010) conceitua que o comportamento de compra habitual ocorre na situação de compra em que o comprador não considera muito importante e tente a se envolver pouco, acontece repetidamente com produtos baratos, simples e conhecidos. Tal modalidade de consumo costuma seguir uma sequência frequente de crença, atitude e comportamento por parte do comprador, levando-o a não investigar informações e características das marcas existentes, porque para ele são pouquíssimas diferenças observáveis entre as marcas. Um exemplo costumeiro desta forma de compra é a compra do sal de cozinha, os compradores se deslocam até o supermercado e escolhem uma marca sem o auxílio de nenhuma pesquisa. Em certas situações o indivíduo pode sempre optar pela mesma marca, mas este fato acontece mais por hábito do que por lealdade (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). 51 Comportamento de Compra em Busca de Variedade É marcado pela observação de poucas diferenças entre as marcas existentes e o baixo envolvimento por parte do comprador. Contudo, existe uma constante troca de marcas de um mesmo produto, resultada mais pela busca de variedade do que insatisfação do comprador. Um exemplo comum é a compra de biscoitos, o comprador escolhe uma determinada marca sem uma considerável avaliação, apenas baseado em algumas crenças. Entretanto, em sua próxima compra de biscoitos poderá optar por outra marca pela simples curiosidade de querer experimentar algo diferente (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Mowen e Minor (2003) consideram como uma explicação possível para a de busca de variedade, a procura de situações que visam diminuir o seu tédio por intermédio da aquisição de uma marca nova. Esta explicação também é sugerida pelos autores Blackwell, Miniard e Engel (2005), que além desta, enfatizam que o comprador também pode ser estimulado por situações externas, como as queimas de estoque de marcas ou cupons que promovam trocas. Compra por Impulso Neste tipo de comportamento de compra o indivíduo vivencia uma necessidade súbita e persistente de adquirir algo imediatamente, trata-se de um sentimento tão forte que, muitas vezes, o indivíduo não consegue resistir e acaba desconsiderando as consequências de seus atos momentâneos (SOLOMON, 2002), (MOWEN; MINOR, 2003), (LIMEIRA, 2008). Para Karsaklian (2004), na compra impulsiva o sentimento de necessidade é mais forte que nos demais tipos de compra, ocasionando uma diminuição de autocontrole do indivíduo. O comprador entende que não pode ficar mais um minuto sem o determinado produto, em função disso não consegue se controlar. Em muitos casos, a compra espontânea ocorre quando as pessoas a entendem como um comportamento apropriado e aceitável, como por exemplo, escolher uma refeição ou compra um presente para um ente querido doente (SOLOMON, 2002). A compra impulsiva pode ser entendida como um resultado da constante luta entre o desejo e a vontade, isto é, a desejo de obter e o autocontrole, que neste caso o desejo 52 predomina. Esta modalidade de compra compreende três dimensões perceptíveis: a circulação do comprador na loja, o comportamento impulsivo do sujeito e a influência dos elementos ambientais (LIMEIRA, 2008). Com o intuito de desvendar o perfil de impulsividade os autores Araújo e Ramos (2010) realizaram um estudo, em compras nos shopping centers de Brasília e Natal, com 458 respondentes, dentre eles, 60% eram mulheres e 40% homens. Buscou-se averiguar ainda, se as variáveis dos compradores como renda, idade, escolaridade e sexo exerciam algum tipo de influência na inclinação para consumir por impulso. Constatou-se que, nestes locais, o próprio ambiente contribuiu mais para um comportamento impulsivo, do que os fatores internos do consumidor. Ambos os sexos compram por impulso, os maiores compradores impulsivos são os que apresentam uma maior quantidade de dinheiro vivo disponível. Contudo, existem os que recorrem às compras a prazo, mesmo incertos de que poderão pagar. O estudo revelou que, uma significativa parcela de indivíduos apelam às compras em shopping como uma maneira de fugir do estresse ou de sentimento de tristeza, e também pela necessidade de projetar o status social. O ato de fazer compras no shopping proporciona uma sensação de poder. Quanto às variáveis demográficas, estas representam importantes influenciadoras deste comportamento, os mais jovens e com menor renda demonstraram uma maior propensão a serem influenciados pelo ambiente do que os da renda mais elevada. O perfil de consumidor mais propício a comprar por impulso são as mulheres mais jovens, que fazem uso desta forma de consumo para compensar sentimentos depressivos (ARAÚJO; RAMOS, 2010). 2.2.6 As Teorias Existenciais sobre o Comportamento do Consumidor O movimento existencialista também é utilizado para a compreensão do comportamento do consumidor. Este, considera que o indivíduo possui uma relação indissociável com o mundo, considerando horizontes básicos que referem-se ás suas relações com o espaço, o tempo, o outro, o corpo, o simbólico e o transcendente (GIGLIO, 2002). Um dos mais conhecidos representantes do movimento existencialista foi Jean-Paul Sartre (1905-1980), para ele o existencialismo pode ser entendido como “uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda a verdade e a toda ação 53 implicam um meio e uma subjetividade humana” (SARTRE, 1978, p. 04). O existencialismo representa uma teoria singular, atribuindo dignidade ao homem, pois não faz dele um mero objeto apresentando reações determinadas. Por apresentar valores distintos, o reino humano deve ser separado do reino material (SARTRE, 1978). Na concepção dos existencialistas não existe um Deus, mas permanece a ideia de que a essência antecede a existência. Significando que o homem inicialmente existe, se descobre, emerge no mundo e que somente depois se define. Ele está só e sem desculpas, é o único responsável por sua própria existência e pelo que realmente é. Seu principal compromisso e profunda responsabilidade encontram-se na escolha do que pretende ser, a ponto de representar um legislador, influenciando toda a humanidade. Sua condenação é a de ser livre para eternidade, condenado pelo fato de ter criado a si próprio, pois é responsável por tudo aquilo que irá fazer e quando fizer (SARTRE, 1978). Giglio (2002) menciona que, o existencialismo é um movimento que renega os rígidos princípios impostos pela ciência, assegurando que existe uma relação indissociável do ser humano com o mundo que o cerca. Cujo ideal, é o de descobrir as bases do comportamento humano. Assumindo uma postura mais questionadora ao invés de respondente, particularizando mais do que generalizando, evidenciando um dualismo de prática-teoria, em que uma complementa e transforma a outra. No campo de marketing o posicionamento existencialista surge possibilitando uma ideia de particularidade dos indivíduos, buscando fugir da ideia que apenas a análise dos grupos é importante e praticável. É possível encontrar estudos que demonstram nichos de mercado, na qual são estudados pequenos grupos ou até mesmo um único indivíduo (GIGLIO, 2002). Para os existencialistas existem horizontes básicos que possibilitam explicar o comportamento do ser humano, o autor Keen, (KEEN, 1979 apud GIGLIO, 2002), realizou um resumo destes horizontes, são eles: • Horizonte da transcendência: Todo indivíduo possui uma capacidade fantástica de experimentar um estado condicional, um “como se”, adotando por um curto período de tempo outras maneiras de existir. Tal capacidade reside no alcance dos planos de possuir uma vida diferente da atual, e de certo modo o indivíduo vislumbra no ato de consumir a realização do imaginário de outra vida; • Horizonte do corpo: Superar os limites do corpo é comum em diversos comportamentos humanos. Assim, como o indivíduo deseja ter outra vida, seu desejo também é o de possuir um corpo diferente de seu atual, motivado pelo desejo de 54 melhorá-lo em diversos aspectos ou mesmo conquistar a permanência da juventude. Este comportamento pode ser percebido no consumo de dietas, exercícios e diversos esportes; • Horizonte do espaço: Os planos de uma vida e um corpo diferente estão atrelados a vontade de estar em um local diferente do atual. A este espaço estão inclusos novos países, cidades e também a relação do indivíduo com os objetos, como os móveis e a ordem em que são dispostos no armário. Os profissionais de marketing devem compreender as diversas maneiras com que os indivíduos se relacionam como seu espaço e objetos de convivência para poder criar relações com formas de consumo destes; • Horizonte do tempo: Intimamente ligado ao espaço encontra-se a dimensão do tempo, e este está presente nas expectativas dos indivíduos, que constantemente planejam o fim do expediente, o fim de semana, as próximas férias. No consumo os produtos e serviços, como fast-food, compras online e telefone celular aproveita-se do objetivo de ganhar tempo dos indivíduos; • Horizonte do outro: Os horizontes anteriores estão interligados com as relações que os indivíduos estabelecem com os demais, sejam eles próximos ou não. Atualmente muitas destas relações são marcadas por uma falta de compromisso do eterno, separações não representam mais motivos de dramas. Por este motivo, tem surgido mercados destinados a atender indivíduos que se separam, como por exemplo, serviços domésticos em geral, bares, restaurantes e até mesmo agências de relacionamentos visando facilitar o busca de um companheiro; • Horizonte do simbólico: A fim de classificar e orientar grupos e pessoas o homem cria símbolos que possam transmitir mensagens. O comportamento de consumo é percebido no instante em que indivíduos necessitam e desejam ostentar seus símbolos para fazerem parte de determinados grupos; • Busca da ordenação das experiências: Além da busca do novo os indivíduos também costumam buscar a rotina, dirigindo-se para uma tentativa de ordem. Determinados comportamento de consumo, como repetir férias em locais conhecidos, rotinas de compras no supermercado, pode ser considerados exemplos do ordenamento das experiências por parte do indivíduo (GIGLIO, 2002). Para o autor Sartre (1978) a consciência (ser-para-si) do homem é responsável por sua capacidade de poder ultrapassar seus próprios limites, o poder da transcendência. O ser 55 humano é, antes de tudo, o que se lança para o futuro. A afirmação do autor anterior pode ser percebida nas próximas afirmações do autor Giglio (2002) que considera que uma das principais diferenças da utilização do existencialismo adaptado ao comportamento do consumidor reside na substituição do conceito desejo pela utilização das palavras, planos ou expectativas, palavras estas que fazem referência ao futuro. O indivíduo almeja mudar o seu rumo, sendo outro diferentemente do que é no presente e do que foi no passado. Vários comportamentos de compras, como fazer um curso de especialização, adquirir um carro de luxo ou viajar ao redor do mundo representam fortes exemplos de planos com o intuito de superação da vida atual. 2.3 Fatores que Influenciam o Comportamento do Consumidor O consumidor durante o processo de compra pode vir a sofrer fortes influências dos mais variados fatores, sejam eles culturais, sociais, pessoais ou psicológicos. Estes, na maioria das vezes, impossibilitam os profissionais de marketing de exercer qualquer tipo controle (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). 2.3.1 Fatores Culturais A cultura, a subcultura e a classe social representam fatores culturais que constantemente exercem uma ampla e profunda influência nas decisões de compra do consumidor. 2.3.1.1 Cultura A cultura pode ser definida como “um todo complexo, aprendido e compartilhado pelos componentes de uma sociedade, abrangendo convicções, valores, linguagem, religião, 56 arte, princípios, leis, educação, costumes, hábitos e capacidades” (SANDHUSEN, 2003, p.77). Limeira (2008) evidencia que o significado de cultura está relacionando ao comportamento aprendido, produzido e cedido de uma geração à outra, que se opõem ao que foi proporcionado ao indivíduo por intermédio da natureza ou biologia. Ainda para ele, a cultura diferencia-se da natureza e torna uma sociedade diferente de qualquer outra. Na visão de Karsaklian (2004), o que torna diferente uma cultura de outra é de certo modo a maneira como seus integrantes se alimentam, moram, se vestem, falam e expressam seus sentimentos. Os autores Mowen e Minor (2003) consideram que para a total compreensão do significado de cultura deve-se levar em conta uma série de outras ideias, são elas: • A cultura é aprendida: Ela não está presente nos genes de cada indivíduo, mas sim, é transmitida para gerações subsequentes influenciando os posteriores membros da sociedade; • A cultura é adaptativa: A cultura se modifica na medida em que a sociedade é afrontada como novos problemas e oportunidades. Esta ideia é reforçada por Karsaklian (2004) ao afirmar que, a cultura não deve ser considerada passiva, para sobreviver, ela necessita evoluir, pelo fato de se situar em um ambiente aberto sofrendo as mais diversas influências, seja do desenvolvimento dos meios de comunicação, das inovações tecnológicas e até mesmo do progresso das ideias; • A cultura satisfaz necessidades: A cultura confere uma regularidade à sociedade por intermédio de suas normas e regras de condutas, demonstrando aos indivíduos o que se espera deles e de que forma devem agir nas mais variadas situações. Ela fornece aos seus membros a determinação do que é apropriado, bom e importante. Blackwell, Miniard e Engel (2005) chamam a atenção para o fato que a cultura não comporta instintos ou condutas individuais, que surgem com um recurso de momento para um problema particular. Ela reúne elementos abstratos como atitudes, valores, ideias, tipos de personalidade e constructos sumários. Ainda segundo estes autores, a cultura também é composta por artefatos culturais, que são componentes materiais, como livros, ferramentas, computadores, edifícios e produtos específicos. Em uma cultura são encontrados valores, ideais muito comuns a todos os membros. Destes valores surge o que é denominado como normas ou regras, e são responsáveis por determinar ou que é correto ou errado, admissível ou inadmissível (SOLOMON, 2002). Todas as sociedades apresentam um conjunto diverso de normas, estas são mais específicas que os valores. As normas geralmente são divididas em dois tipos: as normas decretadas que são formalmente expressas, às vezes na forma de leis; e as normas implícitas que são conhecidas 57 por meio de uma longa interação com os membros da cultura em questão. Entre as normas implícitas estão inclusos três tipos: os costumes, transmitidos para várias gerações, que referem-se a atos corriqueiros, com os quais as cerimônias são conservadas e os papéis exercidos de acordo com o sexo do indivíduo; as tradições são costumes que ressaltam os aspectos morais de conduta, geralmente estas são aplicadas a comportamentos proibidos; e as convenções que delineiam o modo de agir diário dos indivíduos (MOWEN; MINOR, 2003). Entretanto, os autores Schiffman e Kanuk, (2000) salientam que as crenças, os costumes e os valores presentes em uma cultura continuam a serem seguidos desde que seus membros sintam-se satisfeitos. Em caso de insatisfação por parte dos membros de uma sociedade por um determinado padrão, este é alterado ou substituído, a fim de que o padrão proveniente esteja mais coincidente com as necessidades e desejos recentes. Existem outros elementos que também fazem parte de uma cultura e são mantidos pelos indivíduos. Um deles são os mitos, histórias que manifestam ideias e valores considerados importantes pela sociedade (MOWEN; MINOR, 2003). Outro elemento pertencente à cultura é denominado ritual, que corresponde a um conjunto de inúmeros comportamentos simbólicos sucedidos em uma sequência estabelecida e geralmente são repetidos de maneira periódica (SOLOMON, 2002). Os autores Mowen e Minor (2003) contribuem com as afirmações anteriores do autor Solomon (2002), ao alegarem que os rituais são atos socialmente padronizados e que transmitem um significado. Eles podem ser privados como uma oração ou públicos e de ampla escala com as Olimpíadas. Os rituais também podem estar diretamente ligados ao comportamento de compra, entre eles estão: • Rituais de troca: Rituais que vão desde a troca de presente até a troca de produtos ou dinheiro; • Rituais de posse: Ações realizadas por um indivíduo com o intuito de exigir, ostentar e proteger suas posses. Um comum exemplo deste ritual é uma confraternização para inauguração da casa nova; • Rituais de embelezamento: Ritual realizado com o intuito de garantir a longevidade de características especiais. Estes podem estar relacionados à corte de cabelo, roupas, maquiagem do consumidor ou ainda pode ser estendido para os objetos pessoais; • Ritual de despojamento: Ações realizadas objetivando destruir o significado associado ao dono anterior do produto. Um comum exemplo deste ritual acontece quando o consumidor após a aquisição de uma casa mais antiga inicia um processo de 58 decoração reclamando para si o direito de posse da mesma (MOWEN; MINOR, 2003). Na busca de um melhor entendimento das influências culturais sobre o comportamento de compra, a mesma pode ser definida como “a soma total das crenças, valores e costumes aprendidos que servem para direcionar o comportamento de consumo dos membros de determinada sociedade” (SCHIFFMAN; KANUK, 2000, p. 286). Solomon (2002) contribui para esta definição salientar que, a cultura representa a “lente” pela qual os indivíduos enxergam os produtos, torna-se assim, impossível um melhor entendimento das escolhas de consumo sem levar em consideração o contexto cultural em que são realizadas. A finalidade dos produtos está na sua capacidade de simbolizar e comunicar um sentido cultural, sentido este, que faz referência as normas, valores e crenças compartilhadas de maneira simbólica pela sociedade (MOWEN; MINOR, 2003). Faz-se necessário que os profissionais de marketing estejam atentos aos novos valores e costumes partilhados, a fim de compreenderem as oportunidades ocasionadas por estas mudanças e conquistando um maior espaço no mercado, caso contrário, tal falta de atenção poderá lhes causar problemas, em alguns casos, até mesmo a sua saída do mercado (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). 2.3.1.2 Subcultura A subcultura pode ser entendida como uma ramificação da cultura nacional baseada em uma determinada característica unificadora, na qual seus integrantes partilham de padrões comuns de comportamento que os distingue daqueles praticados na sua cultura geral (MOWEN; MINOR, 2003). Os autores Kotler e Armstrong (2003) corroboram com as afirmações anteriores ao alegarem que, qualquer que seja a cultura ela abrigará subculturas formadas pela a união de indivíduos que compartilham um sistema de valores embasados em vivências e situações da vida em comum. Definição exposta de maneira mais sucinta pelos autores Schiffman e Kanuk (2000) que supõem que subcultura nada mais é, que um distinto grupo cultural, cuja existência pode ser percebida dentro de uma cultura maior e mais complexa. 59 As subculturas podem ser provenientes de imigrações ou também oriundas do desenvolvimento de subdivisões ocorridas de maneira natural dentro de uma sociedade. Os grupos subculturais mais comuns são considerados os seguintes: • Subculturas étnicas: Os indivíduos deste grupo são unidos por fortes semelhanças entre suas tradições, valores, religião, idiomas e vestuários. A etnia frequentemente está profundamente vinculada à religião ou nacionalidade de origem do indivíduo; • Subculturas etárias: Conforme o indivíduo galga pelos diversos ciclos de vida, seus valores, estilo de vida e padrão de consumo passam inúmeras transformações. Sendo assim, é comum que vários indivíduos com faixas etárias, valores, necessidades e comportamentos similares formem subculturas que na maioria dos casos representam importantes segmentos de mercado. Entre eles os mais visados pelas empresas são: geração baby-boom, a Geração X, a Geração Y e os idosos; • Subculturas de classe social: Praticamente todas as sociedades apresentam uma estrutura hierárquica que dispõem seus integrantes em “classes” de indivíduos. É comum que os membros de uma mesma classe apresentem um maior grau de socialização uns com ou outros, do que com membros de outras classes, formando as subculturas. Para os profissionais de marketing as classes sociais são subculturas que apresentam motivações, estilos de vida e padrões de consumo distintos (MOWEN; MINOR, 2003). Solomon (2002) ressalta que, todo comprador pode pertencer a diversas subculturas, isto se deve ao fato de que estas associações podem ter como base semelhanças de raça, origem étnica, local de residência ou até mesmo por um forte reconhecimento de algo em comum, como uma atividade ou uma forma de arte. Para os profissionais de marketing as subculturas representam unidades de extrema relevância de análise, pois possibilitam o enfoque em segmentos amplos e “naturais” de mercado (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). Na concepção do autor Churchill (2010) em certas situações as subculturas proporcionam aos profissionais de marketing uma forma mais eficiente de satisfazer as necessidades do consumidor, do que quando levado em consideração de uma cultura inteira de determinada região ou nação. 60 2.3.1.3 Classe Social A ideia de classe econômica originou-se com Karl Marx em seu renomado livro O capital, ideia fundamentada nas diferentes disposições dos grupos sociais em relação ao poder político, divididos de forma genérica em dois grupos: os governantes e os governados (LIMEIRA, 2008). Para os autores Kotler, Armstrong (2003) e também para o autor Sandhusen (2003), as classes sociais podem ser definidas como divisões ordenadas, homogêneas e relativamente estáveis em uma sociedade, dos quais seus membros compartilham valores, interesses e comportamentos semelhantes. Estudos apontam que as classes sociais são estruturadas de forma hierárquica, e tais se mostram similares em qualquer local, de pequenas a grandes cidades. Dentro destas hierarquias a posição do sujeito não é baseada apenas na renda, mas leva-se em consideração o tipo de renda, sua ocupação, o tipo de casa e a área de residência onde ele vive. Mas, as linhas entre as classes sociais não são fixas, isto significa que, um indivíduo no decorrer de sua vida poderá se deslocar para cima ou para baixo nestas hierarquias, (SANDHUSEN, 2003). Os indivíduos pertencentes a uma mesma classe social costumam apresentar comportamentos de compras semelhantes quanto às preferências de marcas em certas áreas, como automóveis, móveis domésticos, atividades, viagens de lazer e aparelhos eletrônicos (SANDHUSEN, 2003). Além da renda, faz-se notável as diferenças entre valores e comportamentos de indivíduos que não pertencem a uma mesma classe social. Indivíduos pertencentes a classes mais baixas costumam ressaltar o curto prazo, demonstrando ser emocionais em suas decisões de compras. Já os indivíduos vinculados a classe média buscam copiar os pertencentes à classe alta. E os integrantes de classe alta demonstram uma postura de valorização da alta qualidade, apresentando gastos com bom gosto e prestígio e são mais focados para o futuro em sua forma de pensar (CHURCHILL, 2010). Ao longo do tempo foram criadas diversas medidas com o intuito de distinguir uma classe social da outra. Algumas destas medidas ainda são aplicadas, mas muitas foram invalidadas e não são utilizadas nos dias atuais por inúmeras razões. O fato que grande parte das medidas de classe social serem constituídas visando acomodar a família nuclear tradicional, cujo homem era o único ganhador de salário na família e a esposa representava o papel dona de casa, pode ser considerada umas das razões. Tais medidas mostram-se insuficientes para explicar situações presentes na sociedade atual, como jovens solteiros que 61 moram sozinhos, famílias com duas ou mais rendas ou casas lideradas por mulheres. Outra razão é que algumas medidas de classe social consideravam o método reputacional, longas entrevistas eram realizadas em uma comunidade com a função de definir a reputação e o passado das pessoas. No entanto, tal abordagem é quase impossível de ser praticada na grande maioria das comunidades atuais (SOLOMON, 2002). Nos últimos 12 anos utilizou-se no Brasil o critério ABA/Abipeme (Associação Brasileira de Anunciantes/ Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado) para a classificação das classes sociais existentes no país, sendo sugerida uma classificação com cinco classes sociais A, B, C, D e E (KARSAKLIAN, 2004). Gade (1998) evidencia que, vários países, inclusive os Estados Unidos, adotam o sistema de medidas de classes proposto por Warner, sistema que divide as classes sociais da seguinte maneira: • A – A alta classe superior: Representada pela elite social que costuma herdar o poder financeiro. Quase sempre possuem uma residência enorme e uma casa no campo, e no comportamento de compra gastam sem apreensão, todavia sem demonstrar alarde; • B – Classe alta inferior: Normalmente possuem rendimentos maiores que a classe alta superior. Contudo, seu consumo é voltado para aquisição de produtos que simbolizem status, dinheiro e poder; • C – Classe média superior: Constituída por indivíduos preocupados com uma boa educação, visto que frequentemente possuem nível acadêmico. No quesito consumo são cuidados e valorizam bem-estar e uma boa aparência; • D – Classe média inferior: Indivíduos conservadores que fazem parte da característica família trabalhadora e seguidora dos valores e normas. Moram geralmente de casa alugada, aparentam possuir uma maior consciência dos preços e seu grupo de referência é representado pela classe média superior; • E – Classe baixa superior: Representada por indivíduos que desempenham trabalhos rotineiros exigindo pouco nível de educação. No que diz respeito ao consumo apresentam um comportamento impulsivo e leal a marcas já conhecidas por eles. É comum utilizarem seus rendimentos comprando aparelhos eletrodomésticos objetivando ter uma cozinha bem equipada; • F – Classe baixa inferior: Indivíduos com escassa educação, buscam no consumo sua satisfação e compram de maneira impulsiva produtos com qualidade inferior por meio, muitas vezes, de formas de crediário desaforáveis (GADE, 1998). 62 Segundo os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005, p. 362) seis variáveis são particularmente úteis para o entendimento da classe social do consumidor, são elas: “a ocupação, o desempenho pessoal, as interações, as posses, os valores orientados e a consciência de classe”. Solomon (2002) conceitua que, a classe social exerce influência nas decisões de compra e interfere na maneira que o comprador percebe tais produtos, como apropriado ou não para determinada classe social. Mowen e Minor (2003) alegam que, as razões para o ato de consumir se difere entre as classes sociais. As classes superiores não compram produtos apenas por necessidade, mas também por prazer. Indivíduos pertencentes às classes altas procuram e optam por lojas com um conceito altamente sofisticado. Todavia, indivíduos das classes inferiores escolhem produtos de massa e lojas cujos preços se mostrem convidativos. O autor Solomon (2002) complementa as afirmações anteriores ao salientar que, a classe social também exerce influência na maneira em que os consumidores optam por gastarem seu tempo de laser e sua renda discricionária. Os indivíduos de classe alta e média-alta preferem no seu tempo de laser visitar museus, frequentar o teatro e é mais predisposta a ouvir programa de notícias, contudo os indivíduos de classe média apreciam acampar, pescar e costumam ouvir programas de música country. A classe social compõe um fator de extrema relevância nos mais variados comportamentos de consumo. A análise dos perfis socioeconômicos dos consumidores proporciona aos profissionais de marketing um importante auxílio no desenvolvimento de programas de marketing que levem em consideração atributos do produto, estratégia criativa e de mídia, centros de distribuição e estratégia de preço (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Os autores Livramento, Hor-Meyll e Pessôa (2013) realizaram um estudo com o intuito de observar quais os valores individuais estavam motivando as mulheres de baixa renda a adquirem produtos de beleza. Participaram da pesquisa entrevistadas do sexo feminino, residentes no Rio de Janeiro e que apresentavam renda igual ou inferior a quatro salários mínimos. Os responsáveis pelo estudo constataram que, com o uso de produtos de beleza as consumidoras de baixa renda almejam “levantar” sua autoestima. Assim como, obter um maior respeito das classes sociais superiores, tendo em vista que, a aparência representa uma forma eficaz para diminuir sua percepção de discriminação por serem pobres. Finalizando as conclusões, entendeu-se com o estudo que, não se tratava apenas de um capricho, os produtos estavam desempenhando um importante papel na preservação da dignidade das entrevistadas. Contribuindo para a diminuição de suas percepções de 63 inferioridade, resultadas graças as suas condições socioeconômicas desfavoráveis (LIVRAMENTO; HOR-MEYLL; PESSÔA, 2013). 2.3.2 Fatores Sociais O comportamento do consumidor poderá receber frequentemente influências de fatores sociais, entre estes fatores estão: os grupos de referência, a família e os papéis sociais e status do indivíduo. 2.3.2.1 Grupos de Referência, Família e Papéis e Status Hawkins, Motherbaugh e Best (2007, p.72) destacam que os grupos de referência tratam-se do “grupo cujas perspectivas ou valores presumidos são utilizados por um indivíduo como base para o seu comportamento atual”. Normalmente uma pessoa pode fazer parte de inúmeros grupos de referência simultaneamente, mas frequentemente utiliza-se apenas um deles com um referencial em qualquer que seja a situação. Tais grupos podem ser classificados conforme quatro variáveis. São elas: associação, força do lado social, tipo de contato e atração. Quanto à família, esta representa um grupo primário no qual o indivíduo faz parte. Sua importância encontra-se no fato de representar uma fonte básica de aprendizagem e de atitudes que contribui na formação total da personalidade deste indivíduo. Também atua como uma forte influência na constituição de gostos, crenças e preferências e, representam o grupo que mais age diretamente sobre o comportamento de compra (KARSAKLIAN, 2004). Em razão dos grupos de referência e a família se tratarem de fatores sociais que foram abordados anteriormente neste trabalho no capítulo 2.2.4, não serão novamente aprofundados. A posição que uma pessoa ocupa dentro de um grupo da qual é integrante pode ser determinada em termos de papel ou status. O papel está associado às funções desempenhadas pelo indivíduo, que lhes são atribuídas e esperadas por parte dos demais membros do grupo 64 (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Muitos profissionais de marketing demonstram um forte interesse em conhecer os papéis desempenhados pelos mais variados consumidores. Os papéis femininos, em especial, têm chamado uma maior atenção. A razão encontra-se no fato que atualmente as mulheres desempenham em seus lares e no trabalho múltiplos papéis, e estes, tem influenciado fortemente suas decisões de compra. Pesquisas são realizadas com o intuito de desenvolver programas eficazes de comunicação e marketing que possam não ser apenas definições generalistas, mas que atinjam o segmento feminino com descrições mais específicas (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). No entanto, não são apenas as mudanças dos papéis femininos que recebem atenção por parte dos pesquisadores, os papéis masculinos neste novo cenário também se fazem presentes em muitas pesquisas. Um exemplo desta situação é o estudo dos autores Gouveia e Dalto (2009) que buscaram identificar que função os homens estão exercendo nas compras de produtos para o dia-a-dia da família em supermercados, tarefa tradicionalmente associada ao universo feminino. O estudo exploratório foi desenvolvido com homens casados ou que convivem com uma parceira, de classes sociais A, B, C e residentes na região metropolitana do Rio de Janeiro. Contatou-se que um movimento do homem em direção às atividades domésticas, principalmente entre os homens mais jovens e pertencentes a classes sociais mais altas. Eles mostram-se mais à vontade nos supermercados e suas maiores assiduidades ocorrem à noite e nos fins de semana. São mais ágeis do que as mulheres, pelo fato de apresentarem pouco interesse na experimentação de novos produtos e utilizarem como critérios de escolha apenas a marca. Além de valorizarem atributos relacionados ao conforto e a praticidade, buscam comprar em locais limpos e organizados, sem filas e de preferência com estacionamento. Os responsáveis do estudo identificaram três perfis entre os homens entrevistados, foram eles: • Consumidor funcional: É o perfil que mais vão as compras no supermercado, apresentando uma maior responsabilidade perante tais. Normalmente realiza as compras sem a presença de sua companheira e opta por estabelecimentos que ofereçam uma maior variedade de produtos; • Consumidor auxiliar: Perfil do homem que atua passivamente nas atividades secundárias durante as compras, como empurrar o carrinho. É o que mais destacadamente confessa aproveitar o tempo de espera para relacionar-se com a companheira. Quando necessita realizar sozinho esta tarefa busca grande apoio na 65 lista de compras e demonstra um maior interesse na aquisição de produtos associados ao mundo masculino (bebidas, petiscos e churrasco); • Consumidor ambíguo: Este confirma ter satisfação em fazer compras, todavia por outro lado apresenta sinais de que não deseja assumir esta tarefa. De certo modo reproduz o homem contemporâneo, que ainda tem dificuldades de definir seus novos papéis na família e na sociedade (GOUVEIA; DALTO, 2009). Com relação ao status ele é conferido ao indivíduo de acordo com o seu papel, e este também reflete o respeito do mesmo diante de sua sociedade (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Limeira (2008) contribui para a definição de status ao alegar que tal faz referência a condição de prestígio, posição hierárquica, honra ou distinção de um indivíduo ou grupo, na presença de outros membros do grupo ou outros grupos. Condições estas, que estão sujeitas a avaliações e critérios partilhados pela sociedade. Os autores Blackwell, Miniard e Engel (2005) chamam a atenção para o fato que o status de um indivíduo pode ser também influenciado pelo seu desempenho pessoal. É o caso de um pai de família que possui um trabalho de baixo status, porém ele poderá adquirir um status maior perante sua família e os demais quando é percebido como um bom pai, alguém que se mostra amável com o próximo, que se importa com os colegas e busca ajudar os outros em situações de necessidades. As hierarquias em que os consumidores são classificados em relação aos demais, apresentando graus superiores ou inferiores de status social, é chamada de estratificação social. Na qual o status atingindo é conferido aos indivíduos que conquistaram um maior destaque em função de sua ocupação ou estudo. Quanto ao status atribuído, este é alcançado por aqueles indivíduos que nasceram em uma família rica (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Muitas das motivações para a aquisição de determinados produtos parte dos consumidores com uma forma de demonstrar aos demais que ele “venceu”. Com o passar do tempo estes produtos ou atividades específicas vinculadas a um maior status serão modificadas, entretanto o indivíduo continuará motivado a encontrar outros símbolos que possibilitem representar o seu status atual, uma busca constante (SOLOMON, 2002). Contudo, este mesmo autor pondera que existem certos indivíduos que adotam uma postura a fim de evitar os símbolos de status, atribui-se a esta forma sofisticada de consumo o termo paródia de ostentação. Este comportamento pode ser percebido em consumidores que optam pela compra veículos utilitários como Jipes e mobílias conhecidas como High Tech, utilizando em sua decoração equipamentos industriais, vigas de sustentação e tubos exibidos propositalmente. Um posicionamento cujo objetivo é demonstrar que tais se consideram tão 66 inteligentes que os símbolos de status não se fazem necessários, para eles o verdadeiro status encontra-se na adesão de produtos que são modas (SOLOMON, 2002). 2.3.3 Fatores Pessoais O estilo de vida, a idade e estágio no ciclo de vida, a ocupação, a situação financeira e personalidade e autoimagem constituem fatores pessoais que frequentemente influenciam as decisões de compra de diversos consumidores. 2.3.3.1 Estilo de Vida, Idade e Estágio no Ciclo de Vida O estilo de vida é essencialmente a forma como indivíduo vive, este costuma influenciar todos os aspectos que envolvem os hábitos de compra. Sendo determinado pelas experiências já vivenciadas, características inatas e situação recente (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007). Este trata-se de um fator pessoal que não será abordado neste capítulo, tendo em vista que maiores informações poderão ser encontradas no capítulo 2.2.5.3. Com o passar dos anos é comum que uma pessoa mude em relação aos bens e serviços que adquire. A idade costuma ser um fator relevante para os gostos do indivíduo, geralmente no que diz respeito à escolha de roupas, alimentos, lazer e móveis (KOTLER, ARMSTRONG, 2003). Para Karsaklian (2004) é muito importante considerar as diferenças entre a idade efetiva e a idade cognitiva. Os indivíduos costumam estimar a sua idade por meio de seus centros de interesses e objetos. Em função disso, para os profissionais de marketing a idade subjetiva é mais valiosa do que a idade cronológica dos consumidores. Contudo, identificar a idade subjetiva de um indivíduo não é uma tarefa fácil, ela pode possuir várias facetas. Entre elas estão a idade que o indivíduo acredita ter, a idade conforme aos seus centros de interesse e também a idade que reflete aos atos do mesmo. Além da idade, o estágio do ciclo de vida da família também é responsável por moldar o ato de comprar (KOTLER, ARMSTRONG, 2003). A definição de ciclo de vida da família 67 nasce dos estudos sociológicos da entidade família e determina o estágio de desenvolvimento da estrutura familiar no decorrer do tempo. Em alguns estudos estes estágios de desenvolvimento são baseados em características como presença de filhos, números de integrantes, idade, renda e entre outros (LIMEIRA, 2008). Gade (1998) destaca que no decorrer de toda a vida adulta o indivíduo terá três grandes estágios: jovem, meia-idade, idoso. No estágio jovem estão inclusos: os jovens solteiros que estão abaixo de 35 anos e que moram sozinhos ou com a família; os recém casados são um casal jovem e sem filhos; o ninho I é representado pelo casal jovem com filhos pequenos; a mãe ou pai solteiro jovem em grande parte dos casos é uma mãe que não se casou ou está separada, criando os filhos pequenos sozinhos. Já no estágio de meia-idade encontram-se: os solteiros (as) de meia-idade pessoas de 35 a 64 anos, sozinhos e que não possuem filhos; o ninho vazio I é caracterizado por casais de meia-idade, sem filhos em casa, na qual normalmente os dois trabalham e utilizam sua renda com facilidades e conveniências; o ninho II são casais dos 35 aos 64 anos e com filhos; a mãe ou pai solteiro de meia-idade sustentam as responsabilidades da família sozinhos, frequentemente tem uma única fonte de renda e os filhos já estão crescidos. E o estágio idoso é formado pelo: ninho vazio II que são casais acima de 65 anos, na maioria das vezes, aposentados, com saúde, energia e forma física reduzida e com renda geralmente menor; solteiros idosos acima dos 65 anos, sozinhas e quase sempre do sexo feminino devido a sua maior longevidade (GADE, 1998). Ainda na concepção de Gade (1998), os estágios podem apresentar variações que acabam influenciando e modificando a maneira de consumir. Situação que conduz os profissionais de marketing a buscarem constantemente o desenvolvimento de produtos e planos de marketing adequados para cada estágio (KOTLER, ARMSTRONG, 2003). Os autores Limeira (2008) e Churchill (2010) corroboram com as últimas afirmações de Gade (1998) ao alegarem que os padrões de consumo costumam variar em uma família de acordo com o estágio em que a mesma encontra-se. Churchill (2010) considera que os casais jovens, que ambos apresentam uma ocupação e não possuem despesas com a criação dos filhos costumam gastar mais recursos com a aquisição de bens de luxo. Com o passar do tempo esse mesmo casal se vê obrigado a modificar seus hábitos de compra, com o intuito de satisfazer as necessidades dos filhos e buscar uma estabilidade futura. O envelhecimento dos pais tende a resultar em uma melhor situação financeira, neste estágio há uma maior possibilidade de gastos com atividades de 68 lazer e melhorais na casa, estes também podem representar formidáveis consumidores de serviços de saúde. Todavia, nem sempre os consumidores percorrem todo o ciclo de vida tradicional da família, alguns pulam múltiplos estágios por consequência das opções realizadas no decorrer de suas vidas (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Um importante exemplo na sociedade moderna que expõem esta situação é o crescimento do número de divórcios, e estes, acabam ocasionando mudanças nos padrões de consumo das famílias (CHURCHILL, 2010). No campo do marketing o ciclo de vida das famílias possibilita aos profissionais a segmentação das mais variadas famílias em uma série de estágios, possibilitando uma análise mais concreta do comportamento de compra dos consumidores (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). 2.3.3.2 Ocupação A ocupação que os compradores desempenham costuma afetar diretamente tanto seus estilos de vida quanto os seus padrões de consumo (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Os autores Kotler e Armstrong (2003) corroboram com esta afirmação e citam um exemplo comum da influência da ocupação no comportamento de compra, os executivos costumam comprar mais roupas sociais para o trabalho, enquanto trabalhadores braçais adquirem roupas mais simples para a execução de suas ocupações. 2.3.3.3 Situação Financeira É possível observar no capítulo 2.2.1.1 deste trabalho que a renda do indivíduo encontra-se diretamente ligada as escolha de produtos e serviços realizadas pelos consumidores. Para os autores Kotler e Armstrong (2003) os profissionais de marketing responsáveis por produtos e serviços sensíveis à renda do consumidor, devem estar sempre atentos as tendências relativas às taxas de juros, à renda pessoal e à poupança. A fim de que, 69 em momentos que indiquem uma possível recessão, estes estejam preparados para reverem seus preços e adotarem medidas para re-projetar e reposicionar os produtos e serviços. 2.3.3.4 Personalidade e Autoimagem Os autores Kotler e Armstrong (2003) destacam que a personalidade é a união de várias características psicológicas únicas que levam a reações relativamente coesas e contínuas em relação ao ambiente. Hawkins, Motherbaugh e Best (2007, p.186) corroboram para esta afirmação ao alegarem que “a personalidade é composta das tendências de respostas características de um indivíduo em situações semelhantes”. Tratando-se de um fator pessoal já evidenciado no capítulo 2.2.5.2, este não será novamente mencionado. Para o autor Solomon (2002), a autoimagem, também denominada autoconceito, representa as crenças de um indivíduo a respeito de suas próprias características e como ele julga essas qualidades. Normalmente, mesmo que a autoimagem total de um indivíduo seja positiva, haverá partes nele que serão julgadas menos positivas do outras por ele. Schiffman e Kanuk (2000) evidenciam que as autoimagens são formadas por meio da interação do indivíduo com os demais, iniciando-se com os seus pais e posteriormente com os outros do grupo que ele costuma manter relações no decorrer dos anos. No comportamento de compra os indivíduos buscam adquirir produtos que sejam condizentes com a sua autoimagem a fim de preservá-la e reforçar sua identidade (GADE, 1998), (KOTLER, ARMSTRONG, 2003). Limeira (2008) corrobora com as afirmações anteriores, e ainda salienta que ao utilizar os produtos, os consumidores criam uma forte ligação entre si mesmos e os produtos utilizados, e estes transformam-se em símbolos com significados partilhados. Uma forte evidência da colaboração dos produtos para a autoimagem dos indivíduos é citada por Solomon (2002). Em situações em que objetos importantes são roubados ou perdidos, os indivíduos costumam demonstrar sentimentos de depressão, alienação ou ainda “violação”. Outra evidência pode ser percebida nos primeiros atos de instituições, como prisões ou exército, que buscam reprimir a individualidade e estimular a identidade de grupos por intermédio do confisco de pertences pessoais (SOLOMON, 2002). Em alguns casos extremos, os indivíduos valorizam de tal maneira determinados acessórios e ambientes, que os mesmo passam a fazer parte deles, o chamado eu estendido. 70 De acordo com um estudo realizado com inúmeros consumidores, considerando desde objetos pessoais à ambientes, foram identificados quatro níveis de eu estendido: • Nível individual: Neste nível estão inclusos muitos bens pessoais, permanecendo a crença de que os objetos possuídos por um indivíduos são parte de sua identidade; • Nível familiar: Outro aspecto formidável da identidade do indivíduo diz respeito à casa e a mobília, representando um corpo simbólico da família; • Nível comunitário: Geralmente os indivíduos se descrevem em termos de localização de onde derivam, seja região, cidade ou país; • Nível de grupo: Os elos de um indivíduo com determinados grupos sociais pode também ser julgadas como parte do eu (SOLOMON, 2002). Sob o enfoque mercadológico os profissionais necessitam em primeiro lugar entender as relações dos consumidores entre sua autoimagem e suas posses, para posteriormente compreender o comportamento de tais no momento da compra (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). 2.3.4 Fatores Psicológicos Os fatores psicológicos dos consumidores representam outra fonte importante de influências sobre o comportamento de consumo. Dentre eles encontram-se: a motivação, a percepção, a aprendizagem e as crenças e atitudes. 2.3.4.1 Motivação e Percepção A motivação pode ser entendida como uma força estimulante que aciona o comportamento do indivíduo, proporcionando o objetivo e o direcionamento para esse comportamento. Para que exista motivação faz-se preciso um motivo, e este é o responsável que induz às pessoas a ação. O motivo trata-se de uma criação mental que demonstra uma força interna não-observável atuante ao estimular e compelir uma resposta comportamental, e 71 também fornecendo um direcionamento específico para esta resposta (HAWKINS; MOTHERSBAUGH; BEST, 2007). Contudo, nesta parte do trabalho será abordado apenas o tema percepção haja visto que o fator psicológico motivação foi amplamente discutido no item 2.2.2. Quanto à percepção Sandhusen (2003, p. 198) supõem que a mesma pode ser compreendida com um “processo pelo qual as pessoas obtêm significado a partir da seleção, organização e interpretação de estímulos interiores (como um sentimento de frustração) ou do ambiente externo”. Limeira (2008) corrobora com a afirmação anterior ao salientar que além das frustrações e outros fatores internos, como as atitudes, as motivações, as expectativas, as experiências e os valores influenciam diretamente nas percepções dos indivíduos. A percepção é entendida como um processo dinâmico permitindo ao indivíduo que percebe conferir significados as matérias brutas originadas do meio em que ele está inserido. (KARSAKLIAN, 2004). Ainda para este autor, a percepção é constituída das seguintes características: • É subjetiva: Poderá existir uma discordância entre o estímulo manifestado pelo ambiente e aquele recebido pela pessoa; • É seletiva: Nem sempre todos os estímulos enviados pelo ambiente são percebidos pelo indivíduo, normalmente ele ignora os que não obedecem a seus centros de interesse; • É simplificadora: Dada uma determinada complexibilidade o indivíduo passa a não perceber mais todas as unidades de informação que fazem parte dos estímulos percebidos; • É limitada no tempo: As informações percebidas pelo indivíduo são retidas somente por um apurado período de tempo, muitíssimo curto. Isto, caso ele não tenha iniciado um processo memorização; • É cumulativa: Uma impressão é o somatório de distintas percepções. Assim, cada ser humano possui sua própria visão do mundo (KARSAKLIAN, 2004). Existem três processos perceptivos que possibilitam a formação de percepções diversas mesmo a partir de estímulos iguais, são eles: • Atenção seletiva: Significa que os indivíduos possuem capacidade mental para processar alguns estímulos, a maioria das informações aos quais ele é exposto são rejeitadas; 72 • Distorção seletiva: Existe uma tendência que leva os indivíduos a interpretar as informações recebidas de uma maneira que sejam congruentes com as suas crenças e sentimentos; • Retenção seletiva: Normalmente os indivíduos esquecem o que aprendem, tendendo a reter informações que amparem seus sentimentos e crenças preconcebidos e ignoram as que não o praticam. Geralmente buscam ignorar ou esquecer informações que são observados como um risco psicológico ou um risco funcional (KOTLER; ARMSTRONG, 2003; SANDHUSEN, 2003). Para Solomon (2002) a percepção representa um processo em as sensações e reações instantâneas dos receptores sensoriais do indivíduo a estímulos básicos são escolhidas, organizadas e interpretadas. Quanto ao comportamento do consumidor, estes estímulos podem ser recebidos por diversos canais. Como por exemplo, provar um novo sabor de um café, observar um outdoor ou mesmo sentir a maciez de um casaco. As sensações podem ser capturadas por intermédio de cinco sentidos, são eles: • Olfato: Sentido que possibilita despertar emoções, produzir uma sensação de serenidade, diminuir o estresse ou ainda invocar recordações. Pesquisas realizadas com consumidores descobriram que ao se deparar com anúncios e aromas de chocolates e de flores, os indivíduos ficavam por mais tempo analisando as informações dos produtos e mais propensos a compra; • Visão: Os consumidores são influenciados por elementos visuais, principalmente as cores, proporcionadas pelos profissionais de marketing por meio de embalagens e design de lojas. Indícios apontam que determinadas tonalidades podem provocar emoções no indivíduo, o azul, por exemplo, são mais relaxantes, enquanto o vermelho aflora sentimentos de excitação e aumenta o apetite; • Audição: Diversos aspectos do som influenciam os comportamentos e sentimentos dos indivíduos. As músicas utilizadas em propagandas almejam manter na consciência do consumidor a imagem da marca a fim de promover estados de espírito ansiados; • Tato: São raras as pesquisas a respeito da estimulação tátil sobre o comportamento de compra. Mas, chegou-se a concluir que o tato representa um importante fator nas interações de venda. Os indivíduos associam a qualidade do produto a texturas de tecido e outras superfícies, em função disso muitos profissionais de marketing estão à 73 busca de maneiras de como este sentido possa vir a ser utilizado em embalagens de produtos para ocasionar um maior interesse nos consumidores; • Paladar: Os receptores do paladar colaboram fortemente para as experiências das pessoas com vários produtos, é comum que cada indivíduo apresente suas próprias preferências por determinados sabores. Profissionais especializados gastam grande parte de seu tempo procurando desenvolver novas misturas para cativar o mutável paladar dos consumidores (SOLOMON, 2002). Todavia, mesmo com todos estes canais para recebimento de sensações, há situações em que os indivíduos podem experimentar uma sensação denominada limiar absoluto. Este tipo de sensação é comum acontecer com consumidores que estão demasiadamente acostumados com certos anúncios na TV ou nos jornais que não mais os “notam”, ou seja, os anúncios não proporcionam mais dados sensoriais suficientes para serem visualizados. Tratase de um fato muito preocupante para os profissionais de marketing, que buscam constantemente desenvolver mensagens acima dos limiares dos compradores a fim de que tais sejam notadas (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). Estas e outras práticas de propaganda levam os consumidores a acreditarem que muitas mensagens de cunho publicitário são criadas para serem compreendidas inconscientemente, fora do limiar de reconhecimento. A chamada percepção subliminar (SOLOMON, 2002). Existem em geral três tipos de percepção subliminar: estímulo visual proporcionado ligeiramente, acelerada fala em mensagens de baixo volume auditivo e imagem oculta ou encaixada nas palavras em rótulos de produtos ou propagandas impressas. Contudo, não há indícios concretos que constatam que estímulos subliminares são capazes de influenciar reações efetivas ou que provoquem influências nas motivações ou ações de consumo (SCHIFFMAN; KANUK, 2000). 2.3.4.2 Aprendizagem Para muitos teóricos da aprendizagem os comportamentos de um indivíduo são aprendidos, e esta é oriunda de da influência mútua de impulsos, estímulos, sinais, respostas e reforços. De acordo com estas afirmações os profissionais de marketing vêm buscando constituir uma demanda para um determinado produto associando-o a fortes impulsos, 74 fazendo uso de sinais da motivação e proporcionando um reforço positivo (KOTLER; ARMSTRONG, 2003). Solomon (2002) contribui com a afirmação anterior ao alegar que, as conexões aprendidas entre produtos e recordações representam uma importante forma de se construir e manter a lealdade do indivíduo a uma determinada marca. 2.3.4.3 Crenças e Atitudes Os autores Kotler e Armstrong (2003, p.132) entendem que “a crença é um pensamento descritivo que a pessoa tem em relação a alguma coisa”. As crenças estão basicamente fundamentadas em uma opinião, um conhecimento ou até a uma verdadeira fé, acompanhas ou não de uma carga emocional. Já a atitude envolve os julgamentos, os sentimentos e as tendências relativamente lógicas de um indivíduo em relação a um objeto ou ideia. São elas que fazem com que os indivíduos adorem ou não as coisas, proporcionando uma aproximação ou um distanciamento delas (KLOTLER; ARMSTRONG, 2003). Para Gade (1998) o indivíduo forma suas atitudes com o intuito de satisfazer suas necessidades do cotidiano. São elas que dão sentido ao mundo e formam uma estrutura de apoio em que o indivíduo pode recorrer para solucionar seus problemas que forem surgindo. No marketing, segundo Mowen e Minor (2003) o entendimentos das atitudes de um comprador não antevê necessariamente o seu comportamento real. Por meio de vários estudos compreendeu-se que existe uma infinidade de fatores que influenciam o nível em que as atitudes presumem os comportamentos. Entre estes fatores estão: o elevado envolvimento do comprador, credibilidade e validade da mensuração da atitude, intensa constituição de atitudes e ausência de influências de fatores situacionais. Karsaklian (2004) destaca que as atitudes apresentam quatro principais funções. São elas: • Função instrumental ajustativa: As pessoas formam suas atitudes em função de uma recompensa que poderão conseguir e da forma pela qual poderão reduzir suas insatisfações. Suas atitudes almejam elevar ao máximo os ganhos e minimizar os custos; 75 • Função ego-defensiva: Busca proteger o indivíduo, em alguns casos, alterando a realidade se esta mostrar-se incongruente com seus valores e a sua autoimagem; • Função de expressão de valores: Estabelece ao indivíduo que expresse suas atitudes conforme seus valores pessoais e autoconceito. Assim ele conseguirá uma satisfação no momento em que experimentar um estado de harmonia; • Função de conhecimento: Proporciona ao indivíduo a construção de um universo de forma organizada, buscando dar significado e organização as percepções (KARSAKLIAN, 2004). 76 3 MÉTODO Neste capítulo estão descritos os procedimentos utilizados para a elaboração deste trabalho de conclusão de estágio 3.1 Delineamento Quanto à abordagem, optou-se pela pesquisa qualitativa, para melhor compreensão do comportamento dos participantes envolvidos. Este tipo de pesquisa possibilita uma análise e interpretação dos aspectos mais complexos que compõem ao comportamento do consumidor. Geralmente neste tipo de pesquisa utilizam-se amostras menores e existe o mínimo de estruturação prévia nos instrumentos de coleta de dados (MARCONI; LAKATOS, 2011). Em função do objetivo geral deste trabalho, tratar-se do comportamento do consumidor da empresa Casa da Informática optou-se como tipologia de estágio pela pesquisa-diagnóstico. Para Roesch (2012), esta é uma tipologia de estágio de muito interesse por parte de acadêmicos da Administração Geral, pois a mesma proporciona inúmeras técnicas e instrumentos de investigações que possibilitam além de um diagnóstico, uma racionalização dos sistemas. Também pode ser utilizada para diagnosticar certas características das organizações. Como a tipologia de estágio é uma pesquisa-diagnóstico, optou-se por realizar uma pesquisa descritiva. Este tipo de pesquisa é adequada para exploração do comportamento do ser humano nos mais variados ângulos e em relações e situações de sua vida política, social e econômica, seja este comportamento individual ou em grupo. Caracteriza este tipo de pesquisa a verificação, registro, análise e possivelmente relação e correlação de episódios ou fenômenos sem a intervenção do pesquisador (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). Roesch (2012, p. 137) corrobora com a afirmação anterior ao salientar que pesquisas deste tipo “não procuram explicar alguma coisa ou mostrar relações causais, [...] buscam informação necessária para a ação ou predição”. Mesmo que este estudo possibilite ao pesquisador relacionar determinados resultados a conjuntos de respondentes, ela não proporciona desvendar o porquê. 77 3.2 Participantes da Pesquisa Optou-se pela formação de uma amostragem não-probabilística e por conveniência. Mattar (2000) considera que este tipo de amostra caracteriza-se pela seleção dos elementos da população pela conveniência do entrevistador, e geralmente é utilizada com o intuito de confirmar ou obter ideias a respeito de um tema de interesse. Lavile e Dione (1999) chamam a atenção para o fato de que, apesar desta forma de amostragem se mostrar fácil de compor, as generalizações dos resultados finais são delicados, principalmente em função de se mensurar um erro de amostragem. Os participantes da pesquisa, indivíduos sobre a qual procurou-se obter informações (MATTAR, 2000), foram os consumidores da empresa Casa da Informática que adquiriram seus computadores no período entre os meses de abril a junho de 2013. Ao todo foram entrevistados 14 consumidores da empresa, de ambos os sexos e com idades entre 20 e 50 anos Observa-se no decorrer de todo o trabalho a utilização do termo consumidor e não cliente. A escolha deste deu-se principalmente em razão do mesmo predominar grande parte das referências bibliográficas consultadas. Esta situação é confirmada por Dias (2010) ao destacar que em inúmeros livros didáticos ainda usa-se o termo consumidor para se referir as pessoas e às famílias que compram produtos para consumo próprio. Já o termo cliente refere-se apenas para os mercados de negócios, ou seja, empresas que adquirem bens e serviços que serão usados na produção de outros produtos para posteriores transações. O autor finaliza evidenciando que na prática o termo mais utilizado nas lojas e prestadoras de serviço é o cliente. Todavia, considerar o consumidor como um cliente não demonstra um desprezo às diferenças existentes, mas deve-se “considerar que, independentemente do tipo de mercado, quem influencia e toma as decisões de compra são as pessoas, com valores, crenças e atitudes moldadas pela sociedade e pela personalidade” (DIAS, 2010, p.38). 78 3.3 Coleta de dados Os dados coletados neste estudo foram provenientes de fontes primárias e secundárias. Os dados primários são aqueles colhidos com o objetivo de atender às necessidades específicas da pesquisa em andamento, nunca antes coletados. Um exemplo de dados primários é o levantamento feito com indivíduos que tenham informações sobre o tema em questão. Quanto aos dados secundários, são aqueles já colhidos que se encontram à disposição dos interessados como na própria organização, governos, publicações, pesquisas entre outros (MATTAR, 2000). A coleta dos dados primários foi realizada por intermédio de entrevistas semiestruturadas, utilizando questões abertas previamente determinadas que possibilitassem ao responsável do estudo entender e captar a perspectiva dos respondentes (ROESCH, 2012). Nesta modalidade de entrevista também é possível o acréscimo de outros questionamentos julgados pertinentes ou com o intuito de maiores esclarecimentos, proporcionando um contato mais próximo entre entrevistador e o entrevistado (MARCONI; LAKATOS, 2011; LAVILE; DIONNE, 1999). Todavia, Cervo e Bervian (2007) ressaltam que, mesmo tratando-se de um método de coleta de dados de menor rigidez, não trata-se de apenas de uma simples conversa. A entrevista deve estar orientada na busca de informações referentes às variáveis levantadas no trabalho. Objetivando o alcance dos objetivos definidos anteriormente a coleta de informações primárias foi dividida em duas etapas distintas. Na primeira etapa os participantes da pesquisa foram abordados, no período entre os meses de abril a junho, na própria Casa da Informática durante a aquisição de seus computadores. Estes foram questionados quanto ao principal uso do novo equipamento, em função da responsável do estudo também desempenhar atividades de vendas na empresa, contou-se com o apoio das demais vendedoras que gentilmente anotaram em suas agendas o nome do consumidor, bem como a resposta recebida. Em alguns casos foram informados por partes dos respondentes mais de uma finalidade para seu computador, como por exemplo, utilizar para trabalho e acesso à internet. Para a realização da segunda etapa da coleta de dados inicialmente foi elaborada uma entrevista semiestruturada buscando levantar informações pertinentes ao tema em questão e de interesse mais imediato da organização. Aguardou-se um período de tempo após a primeira 79 etapa e a entrevistadora entrou em contato com os participantes já entrevistados por telefone agendando previamente as novas entrevistas. Inicialmente aplicou-se a entrevista elaborada com dois respondentes, identificando-se a necessidade de algumas alterações, para posteriormente ser realizada com os demais. Em função do tempo optou-se pelo encerramento do levantamento de dados. Notou-se que parcialmente algumas respostas começaram a saturar-se. Entretanto, alguns itens questionados eram muito exclusivos e particulares de cada um dos indivíduos. Destaca-se que a segunda etapa as entrevistas foram realizadas em locais de conveniência do entrevistado (residência ou local de trabalho), com tempo de duração entre 5 a 27 minutos e registradas com o auxílio de um gravador, devidamente permitido pelos respondentes. Assegurou-se também a total privacidade e confidencialidade das informações concedidas por parte dos mesmos. 3.4 Análise dos Dados Para a realização da análise das informações obtidas, inicialmente foram transcritas detalhadamente todas as entrevistas gravadas. Por se tratar de uma abordagem qualitativa optou-se pela análise de conteúdo para a interpretação dos dados levantados. De acordo com Roesch (2012), esta forma de análise utiliza inúmeros procedimentos objetivando levantar inferências apropriadas a partir de um texto, buscando classificar palavras, frases ou até parágrafos em categorias de conteúdo. Pode ser aplicada em vários materiais, possibilitando abordar vários objetos de investigação, como: valores, atitudes, mentalidades, representações, ideologias e entre outros. Contudo, se trata de um método rígido apresentando uma receita com etapas bem delimitadas, bastando transpor as informações em uma determinada ordem a fim “vir ao mundo” belas conclusões (LAVILE; DIONNE, 1999). 80 4 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO O objetivo deste capítulo é a descrição da empresa Casa da Informática, escolhida para a realização do presente trabalho de estágio. 4.1 Histórico A Casa da Informática foi fundada em 17 de maio de 1999, fruto do sonho de um grande empreendedor da cidade de Tijucas, Alexsandro Bastos. Inicialmente a empresa contava com inúmeros desafios a serem superados, como toda pequena empresa do Brasil e para tanto, possuía apenas dois funcionários, sendo estes, um técnico e o gerente proprietário. Com o passar dos anos as dificuldades iniciais foram superadas e a empresa conquistou um maior espaço dentro do mercado de informática, não apenas da cidade de Tijucas, mas de toda a região. Seu quadro atual é composto por 25 colaboradores, divididos nas seguintes áreas: vendas, estoques, compras, financeiro, assistência técnica e programação. No ano de 2011 a empresa deu mais um passo importante ao inaugurar em 13 de maio a sua filial na cidade de Porto Belo, objetivando atender um número maior de consumidores. As mudanças na empresa continuaram, atualmente oferece para os residentes de Tijucas o serviço de internet via à rádio. A equipe da Casa da Informática juntamente com o seu gestor consideram que, uma filosofia de trabalho bem desenvolvida aliada a uma forte atuação no comércio e prestação de serviços permitirá a empresa uma importante contribuição para o desenvolvimento da sua região, além de continuar proporcionando aos seus consumidores e parceiros um ótimo atendimento. 81 FIGURA 1 – Fachada da Empresa Casa da Informática (Matriz). Fonte: O Autor. 4.2 Ramo de atividade e Produtos O ramo atividade da empresa é o comércio de produtos e suprimentos de informática e a prestação de serviços de assistência técnica de reparos em computadores, notebooks e impressoras. Recentemente está atuando como prestadora de serviços de internet via à rádio na cidade de Tijucas. Quanto aos produtos, a Casa da Informática comercializa principalmente produtos de informática como: notebooks, computadores e suprimentos em geral nesta área, estes sempre representaram o “carro chefe” da empresa. Todavia, ela também oferece aos seus consumidores inúmeros equipamentos eletrônicos, como: jogos, TV’s, celulares, aparelhos smartphones e câmeras digitais. 4.3 Estrutura organizacional Desde a sua fundação a Casa da Informática exibe como uma forte característica a sua estrutura hierárquica linear, apresentando poucos níveis de autoridade. Na figura a seguir encontra-se o atual organograma da empresa, no qual se faz possível a observação do fácil acesso de todos os funcionários ao gestor. 82 Atualmente o gerente da loja filial representa um importante apoio para o dono da empresa, este exerce suas funções na empresa há 13 anos. Assim como ele, todos os funcionários da Casa da Informática são incentivados diariamente a manterem um contato direto com o gestor. Esta situação contribui continuamente para uma melhor forma de comunicação entre toda a equipe. FIGURA 2 – Organograma da Empresa Casa da Informática. Fonte: O Autor. 4.4 Visão “Ser a maior empresa de soluções em tecnologia da região, reconhecida e admirada pela sua liderança, competência e equipe de trabalho”. 4.5 Missão “Ajudar as pessoas a usufruírem ao máximo dos produtos de tecnologia. Aliar inovação, transparência e excelência nos serviços para buscar constantemente a satisfação dos clientes”. 83 5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Serão apresentados neste capítulo os resultados obtidos por intermédio do instrumento de coleta de dados, os quais estão relatados a fim de responder aos objetivos propostos no projeto de pesquisa. 5.1 Perfil dos Participantes da Pesquisa Nesta primeira etapa referente à análise dos resultados encontrados na pesquisa, buscou-se identificar o perfil dos entrevistados. Ao todo foram entrevistados 14 consumidores da empresa Casa da Informática, tais adquiriram equipamentos na empresa no período de abril à junho de 2013, mesmo ano em que foi realizada a pesquisa. Apenas um dos entrevistados reside na cidade de Itapema, os demais são residentes da cidade de Tijucas. Quanto ao sexo dos participantes da pesquisa pode ser observado no gráfico 1, que dos 14 clientes entrevistados, 9 eram do sexo feminino (64%) e 5 do sexo masculino (36%). GRÁFICO 1 – Sexo dos Entrevistados. Fonte: Dados primários. O gráfico 2 demonstra qual o percentual correspondente a cada faixa etária de participação da pesquisa. Observa-se uma participação mais efetiva de entrevistados com idades de 21 a 25 anos (28,6%). As faixas etárias com até 20 anos, de 26 a 30 anos, de 31 a 35 84 anos e de 41 a 45 anos representam uma participação moderada (14,3%). Com menor participação apresentam-se os indivíduos de 36 a 40 anos e 46 a 50 anos (7,1%). GRÁFICO 2 – Idade dos Entrevistados. Fonte: Dados primários. Outro aspecto considerado na identificação do perfil dos entrevistados foi quanto ao estado civil. É possível verificar no gráfico 03 que a maior participação foi de respondentes solteiros (50%), seguido da participação de indivíduos casados (42,9%) e apenas um entrevistado encontra-se separado (7,1%). GRÁFICO 3 – Estado Civil dos Entrevistados. Fonte: Dados primários. Já no gráfico 4 pode ser observada a identificação do nível de escolaridade dos entrevistados. O maior percentual de participantes da pesquisa apresenta como nível de 85 escolaridade o ensino médio completo (42,9%), seguido do ensino superior incompleto (35,7%) e apenas uma pequena parcela apresentando o ensino superior completo (21,4%). GRÁFICO 4 – Nível de Escolaridade dos Entrevistados. Fonte: Dados primários. A análise do perfil dos entrevistados é finalizada com a identificação de suas respectivas rendas mensais. Segundo o gráfico 05 a maior parcela dos entrevistados possui uma renda mensal de 3 a 5 salários mínimos (42,9%), seguido dos que apresentam renda mensal de até 2 salários (28,6%). Os participantes que recebem de 6 a 10 salários mínimos apresentaram um percentual de 21,4% presentes na pesquisa. E apenas um dos entrevistados possui atualmente uma renda mensal acima de 10 salários mínimos (7,1%). GRÁFICO 05 – Renda dos Entrevistados. Fonte: Dados primários. 86 No entanto, ressalva-se que por se tratar de uma amostra pequena de entrevistados, não é possível inferir tais resultados para toda a população de consumidores da Casa da Informática. 5.2 Usos Informados e Usos Efetivos do Computador Na primeira e segunda etapas da pesquisa, descritas detalhadamente no método deste trabalho, foi questionado aos consumidores qual seria o seu principal uso do computador adquirido. Em alguns casos, foi comunicado ao entrevistador mais de uma finalidade para o equipamento. Para o autor Ferreira (1999, p.2037) como significado de uso pode-se considerar a seguinte informação: “ato ou efeito de usar (-se). Usança. Aplicação, utilidade, emprego. [...] Aproveitamento de uma coisa conforme o seu destino [...]” Tal questão foi novamente direcionada aos respondentes na segunda etapa das entrevistas. O intuito era comparar as informações cedidas pelo consumidor no momento da compra e o que ele estava utilizando meses depois em seu cotidiano. As respostas encontradas foram divididas nas seguintes categorias: redes sociais, acessos à internet não informados, diversão, informação, trabalho e aplicativos, faculdade, religião e vídeos. 5.2.1 Redes Sociais Quando questionados no momento da compra, alguns indivíduos informaram que estariam adquirindo seu computador para uso nas redes sociais, foram eles: R2, R5, R12, R13 e R14. As redes sociais digitais podem ser descritas como locais online em que as pessoas utilizam para se expressar e também para construir ou manter ligação com as outras pessoas (JANTSCH et al, 2013). Para os autores Bargh e Mckenna (2004 apud GOLWAL; KALBANDE; SONWANE, 2013) as redes sociais digitais representam úteis ferramentas para os indivíduos que apresentam dificuldades em construir e manter ao mesmo tempo vínculos fortes e/ou fracos. Em alguns casos já comprovados, a internet está auxiliando indivíduos que 87 possuem baixa autoestima em função da falta de contato com amigos e conhecidos. O estabelecimento de relações de vínculos já era previsto por Maslow. Para Maslow (1987), o indivíduo durante toda a sua vida será dominado por uma série de necessidades, estas, movidas por um processo dinâmico, na qual certas necessidades surgem, são preenchidas e novamente surgem novas necessidades. Entre estas necessidades encontra-se a necessidade de pertencimento e amor. Esta necessidade envolve amor, dar e receber afeto, quando não atendidas o indivíduo sente de forma profunda a ausência do companheiro (a), amigos ou crianças. É como ter fome para relação com os demais, com intuito de satisfazer esta necessidade existe um forte esforço para se fazer parte do grupo ou da família. Já na segunda etapa das entrevistas, a ampla maioria, exceto dois dos respondentes não mencionaram a utilização de redes sociais. Foram eles: R1 e R8. Quanto aos respondentes R4 e R11, estes, não fazem uso das redes sociais nos computadores adquiridos na Casa da Informática. Todavia, afirmaram que as utilizam em outros dispositivos. Os demais, com maior ou menor frequência, informaram que utilizam as redes sociais nos equipamentos adquiridos. Com relação a este questionamento surgiram certos discursos como, por exemplo, R5, R6, R9 e R13: R5 - “Redes sociais, o facebook eu uso bastante, [...] antes tinha o Orkut agora o negócio é o face”; R6 - “Sempre que tenho uma folguinha dou uma olhadinha no Facebook para conversar com os parentes”; R9 - “Só pra facebook” e R13 - “Navegação em rede, rede social”. Uma das respondentes, a R2 quando questionada em relação ao uso do seu equipamento, respondeu da seguinte maneira: R2 - “O Face é direto, nem se fala”. Acompanhou esta fala a apresentação de uma expressão como se fosse a resposta mais que óbvia para a utilização do computador, pra que seria usado senão para as redes sociais? Além dessa expressão ela também demostrou feições de felicidade no momento em que se referiu ao Facebook. Em contra partida, é possível notar nitidamente que dois dos respondentes mostraramse contrários ao atual uso exagerado das redes sociais em seus discursos, R4 e R8: 88 R4 - “Eles não fazem mais nada da vida a não ser utilizarem o Facebook. [...] estão se trancando dentro de casa por causa do Facebook” e R8 “Meu Deus! Essa rede social né minha amiga. [...] estão todos no Facebook, bota foto e tira foto, isto é uma loucura, um vício. [...] você conversa com uma pessoa e ela fica mexendo no celular, é uma coisa até desagradável”. Observa-se que na maioria das respostas os entrevistados utilizam o termo Facebook para se referirem as redes sociais. Para Jantsch, et al (2013) o Facebook representa uma das redes sociais digitais atuais mais utilizadas no mundo. Trata-se de um local informal de encontro, comunicação, partilha e debate de ideias e assuntos de interesses compartilhados, possibilitando ao indivíduo melhorar a interação social. Um estudo com o objetivo de investigar os propósitos do uso do Facebook por 184 profissionais da Ciência da Informação (Grupo MLOSC - Círculo de Estudos Online de Bibliotecários de Maharashtra) constatou que para estes indivíduos o principal emprego do site seria de interagir no campo profissional. Quanto a estar informado das últimas notícias e comentários, bem como expressar criatividade e participar de discussões, estas surgiram em segundo plano. Outro dado relevante do estudo foi que todos os entrevistados apresentam o hábito de utilizar o Facebook, mais da metade visita o site diariamente e apenas uma insignificante quantidade o utiliza ocasionalmente (GOLWAL; KALBANDE; SONWANE, 2013) Em 2011 uma pesquisa realizada em regiões metropolitanas e no interior do Sul e Sudeste do Brasil, publicada pelo IBOPE (2011) evidenciou que 72% dos indivíduos com acesso à internet haviam incorporado em suas rotinas o hábito de navegar em sites de redes sociais como o Orkut, Facebook, Twitter e Linkedln. O intuito principal seria de interagir com os amigos, atualizar perfis e compartilhar fotos. Observa-se que as duas pesquisas citadas anteriormente apresentaram resultados bem diferentes. Enquanto no exterior o Facebook é utilizado principalmente para fins profissionais, no Brasil ele é utilizado principalmente para fins sociais. Talvez esta diferença possa ser explicada pelo fato que na primeira pesquisa foram entrevistados profissionais da informação, enquanto a segunda não específica qual o tipo de profissional pesquisado. Outros importantes dados referente ao uso de redes sociais foram publicados no relatório 2013 Brazil Digital Future in Focus, pela líder global em medições e análises digitais ComScore (2013). Segundo o relatório o cenário brasileiro digital apresentou uma mudança significativa em 2012, causada pela forte ascensão das redes sociais. Com 36% os 89 sites de redes sociais ocupam a maior porcentagem do tempo dos consumidores no Brasil, o Facebook apresenta-se com um forte líder da categoria, com quase 44 milhões de visitantes apenas no mês de dezembro de 2012, um crescimento de 22% comparado ao mesmo período no ano anterior. É observável nas entrevistas e nas recentes pesquisa publicadas que as redes sociais atualmente fazem parte do cotidiano das pessoas e principalmente dos brasileiros. Mas quais são as possíveis explicações para a tão rápida ascensão das redes sociais? Uma das possíveis explicações é o fato de que, o ser humano apresenta uma necessidade de contato social, entretanto devido a correria do dia-a-dia às vezes o diálogo e contato são quase impossíveis, e eis que surgem as redes sociais para ocuparem este espaço. Esta situação é confirmada pelos autores Jantsch et al (2013) que alegam que os indivíduos possuem cada vez menos tempo para as interações, isto os leva a buscarem formas alternativas de socialização. A internet, por meio de seus recursos como as redes sociais, representa um local apropriado para as alterações nos meios e tipos de interações sociais. Outra possível entendimento refere-se também a influência social. É de amplo conhecimento a existência das redes sociais: os amigos a todo o momento estão realizando solicitações de amizade e para fazer parte do grupo os indivíduos aderem às redes sociais. Um estudo publicado pelo IBOPE em novembro de 2012 com o intuito de analisar hábitos e atitudes dos latino-americanos frente às mídias sociais pode ser utilizado para reforçar tal hipótese. O estudo constatou que o aumento das mídias sociais pode ser explicado pelo interesse dos indivíduos em se conectar uns aos outros, buscando informações, bem como compartilhar opiniões e ideias. Todos desejam compartilhar algo, desejam fazer a diferença no grupo ao qual pertencem. Ainda descobriu-se que, pelo menos 24% dos internautas sentiam-se deixados de lado quando os amigos ou integrantes do grupo postavam imagens de situações e festas nas quais eles não participaram e 54% ficavam felizes quando os colegas comentam os seus posts (IBOPE, 2012). Há também uma terceira explicação, esta refere-se ao possível fato das pessoas estarem utilizando as redes sociais como uma espécie de “anestésico” para fugirem de suas vidas reais. É o que explica a psicóloga Dora Sampaio Góes, do Grupo de Dependência da Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, em uma publicação do portal Globo Ciência em agosto de 2013. O uso das tecnologias em geral, bem como internet e redes sociais, prende a atenção do indivíduo de tal forma que este acaba ficando desconectado do mundo que está a sua volta. No caso das pessoas viciadas em tecnologias, o uso abusivo age como uma espécie de “anestésico”, uma maneira de desfocar de questões 90 importantes da vida pessoal, como problemas na escola ou no trabalho e também conflitos familiares. Uma espécie de refúgio ante as dificuldades do mundo real, a psicóloga Dora Sampaio Góes salienta que isso pode trazer riscos à vida social, como diminuir o rendimento no trabalho, ir mal nos estudos ou até mesmo evitar de sair com os amigos ou parceiro para ficar em “companhia” da tecnologia (GLOBO CIÊNCIA, 2013). Entretanto, tratam-se apenas de possíveis explicações, e estas poderão ser confirmadas por meio de outras investigações. Em função do objetivo central deste trabalho estar focado no comportamento do consumidor, estas são hipóteses que poderão ser novamente abordadas em trabalhos futuros. 5.2.2 Acessos à Internet Não Informados Alguns respondentes informaram no momento da compra que a finalidade de seu computador seria para acesso à internet: R2, R5, R9 e R14. Porém, quando questionados estes mesmos consumidores optaram por não informar em que sites iriam navegar. Na segunda etapa das entrevistas os respondentes R7, R11 e R13 informaram que estavam utilizando seus equipamentos para navegar na internet, alguns destes discursos foram: R7 - “Utilizo [...] também para internet” e R13 - “Navegação em rede”. Ressalva-se, que assim como na primeira etapa, outros entrevistados alegaram usos referentes à navegação na internet, todavia os sites especificados estes estarão presentes em outros subitens desta análise. Segundo informações do IBOPE o Brasil alcançou no primeiro trimestre de 2013 o número de 102,3 milhões de indivíduos com acesso à internet em qualquer ambiente. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o país registrou um crescimento de 9% para o ano atual (IBOPE, 2013). Em outra pesquisa realizada pelo IBOPE em maio de 2011, constatou-se que os adultos de 25 a 44 anos eram os maiores usuários de internet banda larga em residências no Brasil, e estes, já superaram o tempo dos adolescentes em termos de navegação. A pesquisa também concluiu que entre os sites mais visitados pelos homens adultos estão: sites de banco, 91 vídeos, notícias, eletrônicos, governo e economia. Enquanto as mulheres adultas preferem sites de astrologia, educação, e-mail, decoração, gastronomia, beleza, saúde, compras e viagens (IBOPE, 2011). As mudanças no perfil dos principais internautas brasileiros tem se modificado, foi o que constatou o relatório 2013 Brazil Digital Future in Focus da líder global em medições e análises digitais, a ComScore, publicado em setembro de 2013. A empresa identificou que a audiência da internet no Brasil é relativamente jovem. Entre os envolvidos na pesquisa 18% são usuários com idades entre 18 e 24 anos e 30% apresentam idades entre 25 e 34 anos. Outro dado importante foi que os consumidores brasileiros passam mais de 27 horas por mês online em seus computadores, representando a média mais alta de envolvimento entre todos os 8 mercados latino-americanos analisados (COMSCORE, 2013) Corroborando os dados divulgados pelo o relatório da ComScore, uma pesquisa publicada pelo portal de notícias do Globo Ciência, elaborada pelo grupo espanhol Telefónica em parceria com Financial Times, analisando 27 países localizados em seis regiões do mundo, entrevistou mais de 12 mil indivíduos com idade entre 18 a 30 anos. As informações coletadas confirmam que o brasileiro permanece mais tempo conectado à internet do que a média mundial. Familiarizados com a tecnologia, 64% dos entrevistados no Brasil têm smartphones e ficam sete horas online por dia, uma hora a mais que a média mundial. Para os brasileiros a internet representa a fonte preferida de entretenimento e de informação, opção de 72% dos entrevistados, ante 64% das outras nações (GLOBO CIÊNCIA, 2013). Contudo, não são apenas os adultos que passam mais tempo na internet. As crianças brasileiras também ocupam várias horas em acesso à internet. Dados revelados por uma pesquisa do IBOPE realizada em setembro de 2012 constatam que no Brasil, internautas com idade entre 2 e 11 anos, são os que permanecem mais tempo conectadas à internet, em média 17 horas diárias. A média do consumo no país é superior à registrada em países como, França e Estados Unidos. Na França, a média de tempo gasto pelos pequenos com a internet é de 10 horas e 37 minutos (IBOPE, 2012). 92 5.2.3 Diversão Os respondentes R4, R5, R8 e R9 afirmaram no ato da compra que a finalidade de seu computador seria para momentos de diversão, principalmente jogos. Quando questionados, novamente na segunda etapa das entrevistas, os entrevistados R3, R4, R5, R10 e R13 alegaram em seus discursos que estavam utilizando seu equipamento para jogos. R4 - “Só jogo, o computador foi comprado somente para jogos”; R5 - “Eu adoro jogar! Jogo online e também outros joguinhos” e R10 - “Eu uso ele mais pra jogos, online e no próprio computador”. No Brasil uma pesquisa denominada Games Pop, desenvolvida pelo IBOPE em 2012, expôs que o estilo de jogos virtuais preferidos no país são os games de ação e aventura com 31% da preferência, seguidos pelos games de futebol com 23%. Quanto aos jogos de corridas de carros são os prediletos por apenas 10% dos entrevistados. Além disso, segundo esta pesquisa entre os respondentes, 67% deles utilizam os consoles para jogar, 42% jogam no computador ou notebook e o celular ou smartphone é adotado por 16% dos jogadores brasileiros (IBOPE,2012). Com intenção de avaliar a utilização de jogos eletrônicos por universitários da Universidade de São Paulo um estudo realizado por Suzuki et al. (2009) identificou que entre os entrevistados 51,8% jogavam de 1 a 2 horas por sessão, para 74,4% deles os jogos não interferiam em seus relacionamentos sociais. Contudo, aproximadamente 5% relataram que só paravam de jogar quando eram interrompidos, normalmente jogam mais de 4 horas por sessão e costumavam se relacionar mais com os amigos virtuais. Para os responsáveis pela pesquisa este último grupo apresenta evidências de um maior envolvimento com a atividade. Para alguns jovens o jogo pode vir a transformar-se em verdadeiro vício. De acordo com pesquisas, realizadas pela psicóloga Dora Sampaio Góes, alguns jogos eletrônicos são extremamente viciantes para os maios novos. Estes geralmente são desenvolvidos com objetivos curto, levando ao indivíduo dependência da sensação de que necessita jogar, pois são produzidos neurotransmissores que proporcionam a sensação de bem-estar e euforia. Bastam apenas oito minutos jogo para que o corpo produza dopamina, a mesma substância do prazer produzida quando ingere-se o chocolate e isto é viciante (GLOBO CIÊNCIA, 2013). 93 5.2.4 Informação Para dois, dentre os respondentes abordados no momento da compra, o computador seria utilizado para ficarem mais informados, bem como ler livros online e também realizar pesquisas. Foram eles: R5 e R12. Já na segunda etapa das entrevistas, outros indivíduos alegaram que o atual emprego de seu equipamento seria para a busca de informações, notícias e conhecimentos. Entres eles estão: R5, R6, R8 e R12. Destacam-se os discursos dos entrevistados R5, R8 e R12: R5 - “Pesquisas, dicionário. Palavras que não conheço eu costumo ver no Aurélio. Costumo pesquisar sobre doenças, pois eu trabalho na área de saúde. Alguma coisa nova, pois é preciso tá sempre se atualizando”; R8 “Mais é para internet, pra buscar alguma coisa que eu preciso, até pra escola. [...]Sites de notícias eu gosto, tipo a Globo” e R12 – “Internet pra consultas em gerais, trabalhos, jurisprudência, comentários e além de notícias em gerais no Globo, Estadão”. Nos Estados Unidos, o uso da internet com o intuito de se manter informado é uma realidade. É o que demonstra um levantamento realizado pela Pew Research Center em 2013. Por meio de diversas pesquisas, publicadas em 2013, constatou-se que a internet já supera a TV e os jornais como a principal fonte de notícias para os americanos. Metade da população norte-americana prefere noticiários online, entre os mais novos o percentual é muito maior, 71% informaram que preferem se informar via internet, entre os mais velhos este número é menor, 63%. O estudo evidencia que as redes sociais estão conquistando uma crescente importância como fonte de notícias na vida dos indivíduos. Todavia, ainda existem desconfianças por parte dos internautas, cerca de 65% responderam crer que a mídia é tendenciosa e outros 73% dos entrevistados acham que a impressa está focada em notícias pouco importantes (RUIC, 2013). 94 5.2.5 Trabalho e Aplicativos Questionados na primeira etapa da pesquisa, seis dos respondentes afirmaram que seus equipamentos seriam utilizados como um importante instrumento para a realização de seus trabalhos, bem como para a utilização de aplicativos do pacote Microsoft Office. Um programa utilizado para a criação de planilhas, textos e entre outros. Dentre estes respondentes estão: R1, R3, R6, R11, R12 e R14. De acordo com mais informações recolhidas na própria empresa constatou-se que tais desempenhavam as seguintes funções: R1 - Proprietário de uma loja de móveis usados; R2 - Corretor de imóveis; R6 Vendedor de seguros bancários; R11 - Proprietário de uma oficina de caminhões; R12 Advogado e R14 - Professor. Quanto à segunda etapa das entrevistas, apenas os respondentes R1, R3, R6, R11 e R12 confirmaram que, o seu computador estava sendo utilizado para o desenvolvimento de seus trabalhos diários, como pode ser observado em alguns discursos destacados a seguir: R3 - “Eu não utilizo o meu computador pra joguinho, essas coisas nada, só pra trabalho mesmo”; R6 - “Utilizo mais para o trabalho” e R11 - “Uso o programa da Asseinfo, é um sistema pra fazer venda, relatórios. Tudo que envolve a empresa”. Já os entrevistados R1, R7, R13 e R14 informaram na segunda etapa da pesquisa que fazem uso do computador para aplicativos do pacote Microsoft Office. Como pode ser verificado nas respostas abaixo: R13 - “Faço uso o programa básico do Office” e R14 - “Utilizo o Word diariamente”. No quesito utilização para trabalho e aplicativos do pacote Microsoft Office, comparando as duas etapas, é possível notar que apenas a respondente R1 manteve-se presente nas duas situações. Isto deve-se ao fato de que, alguns profissionais que utilizam seu próprio computador para trabalho também fazem uso do programa Microsoft Office. R1 - “Excel e Word, principalmente planilhas para assuntos da empresa”. Observa-se que no ato de compra, muitos consumidores informam que seu computador será utilizado para criar planilhas, digitar textos. Motivos que remetem a 95 atividades próprias de quem trabalha e estuda. É como se dissessem que há um motivo racional, sério pelo qual estão comprando e, no entanto, posteriormente não confirmam. Isso leva a supor que possa haver uma racionalização na hora de comprar (busca de necessidades funcionais como uma forma de justificar quanto ao esforço para obter o produto). Não significa que não utilizem, mas ao que parece o uso é menor do que aquele informando inicialmente. O desenvolvimento de novas tecnologias de informação, aliado ao fácil acesso à internet, possibilitou também uma transformação nas relações de trabalho, ocasionando o que hoje denomina-se trabalho remoto. Este, caracterizado pela flexibilidade de horários e por profissionais que desempenham as tarefas que lhes são atribuídas em suas próprias casas. Em busca de uma maior compreensão de como esta nova modalidade desenvolve-se no Brasil a BSP – Business School São Paulo realizou um estudo com 236 empresas, dos mais variados segmentos e tamanhos, totalizando 150 respondentes. Dentre estes, 75 são de profissionais que já aderiram esta forma de trabalho, desempenhando as seguintes funções: técnicas (56%), comercial/vendas (47%), administrativas (44%) e atendimento ao cliente (31%). O estudo verificou que, tais relações de trabalho seguem uma direção focada em exemplos que valorizam a sustentabilidade do planeta e a satisfação do funcionário. Para os trabalhadores remotos entrevistados, 77% deles apresentam a consciência de que o trabalho a distância colabora para a diminuição da poluição, 61% consideram que ajuda na qualidade das pessoas e para 46% esta modalidade de trabalho é sustentável. Existem ainda, outras vantagens que se estendem para a organização, uma em cada três, que utilizam o trabalho remoto exibe indicadores de satisfação, como ganho de tempo, flexibilidade, melhorias na saúde e na qualidade de vida, diminuição do estresse e valorização pela confiança depositada. Os responsáveis pelo estudo enfatizam que, a opção pelo trabalho remoto ocorre em função de dois principais motivos: estratégia da empresa e necessidade dos profissionais, ambos com 45%. Com relação aos recursos necessários para o trabalho flexível apenas um quarto das organizações fornece para o funcionário, metade dos entrevistados informou que os recursos empregados são tanto da empresa quanto do próprio trabalhador. Quanto às tecnologias utilizadas nesta modalidade estão: o e-mail/webmail com 82%, seguido da internet com 79%, o VOIP com 67%, banco de dados com 57% e smartphone com 51%. Todavia, neste estudo, 19% dos respondentes informaram que esse tipo de trabalho atrapalha o controle do funcionário e 13% entendem que o mesmo restringe a vida social ou ainda marginaliza o colaborador (11%). Mesmo com opiniões contrárias, a BSP – Business 96 School São Paulo confirma uma tendência crescente para o trabalho remoto no Brasil, assim como já ocorre em outros países (INC EMPREENDEDOR, 2012). Evidenciando a tendência levantada pela BSP – Business School São Paulo, uma pesquisa realizada pelo Institute of Leadershhip & Managemente (ILM), publicada no portal de notícias Exame (2013), constatou que no Reino Unido 94% das empresas já são adeptas à flexibilidade do trabalho remoto, com horários alternativos. 82% dos entrevistados alegam que esta forma de trabalho proporciona benefícios para os novos negócios, uma vez que notase ganhos de produtividade nos seus subordinados. Para 88% deles, a comunicação representa um elemento-chave para o bom funcionamento da prática. Já a habilidade de dar instruções claras é valorizada por 87% dos gestores, bem como suas desenvolturas com planejamento (LADEIA, 2013). 5.2.6 Faculdade Observou-se com relação ao uso informado para a faculdade, tanto momento da compra quanto na segunda etapa, que o mesmo foi confirmado por dois respondentes, R7 e R13. Situação analisada nos discursos a seguir: R7 - “Utilizo mais para terminar a monografia” e R13 - “Uso também pra trabalho da faculdade”. O meio educacional é caracterizado por um ambiente de trocas e experiências que proporcionam a transmissão ou construção de conhecimentos, formando novos pensadores e não meros repetidores de ideias. Entretanto, das séries iniciais ao doutorado existem alunos que se mostram pouco preocupados com verdadeiro objetivo do mundo educacional e optam pela “lei do menor esforço”, além de copiarem literalmente, alguns também compram trabalhos dos mais variados tipos. Para estes, o fácil acesso à internet representa um importante aliado, resultando no comprometimento da legitimidade dos títulos obtidos. Tanto a cópia, quanto a compra de trabalhos são práticas consideradas crime. Afirma o advogado criminalista Antônio Gonçalves em uma reportagem publicada no site de notícias G1 (2009). O advogado destaca que estas práticas representam crime para ambos os lados da situação, quem “fornece” os trabalhos em troca de algum valor monetário está cometendo o 97 crime de falsidade material e o aluno que adquiri, será punido por falsidade material e ideológica. Os autores Oliveira, Garcia e Juliari (2011) realizaram um estudo a respeito da compra e venda de trabalhos acadêmicos. Constatou-se que é extremamente fácil adquirir um trabalho pronto, ou mesmo, encomendar um personalizado pela internet. Os valores pagos variam conforme a quantidade de páginas, complexidade e o prazo para a elaboração do mesmo, podendo ainda ser pago em parcelas. Dependendo do valor pago, os “fornecedores” realizam entregas parciais dos trabalhos, para que sejam levados até o professor, objetivando demonstrar que o aluno está envolvido no desenvolvimento do trabalho. E em alguns casos é proporcionado ao acadêmico a apresentação do trabalho perante uma banca de professores. De acordo com os professores pesquisados, 82,7% deles já descobriram atividades que não foram elaborados pelo aluno, destes, mais da metade penalizaram o mesmo com nota zero ou proporcionaram uma segunda oportunidade para a elaboração do trabalho. Na visão dos docentes os trabalhos encomendados são mais difíceis de serem identificados, do que os plagiados. Conhecer o aluno, suas capacidades e limitações, é para eles o melhor modo de perceber se o mesmo fez ou não o trabalho. A pesquisa de trechos do trabalho entregue em sites de busca na internet foi a segunda opção mais escolhida pelos professores na constatação das fraudes. Os responsáveis pelo estudo finalizaram evidenciando que os trabalhos de disciplina, artigos e resenhas são os mais fraudados, seguidos pelos trabalhos de conclusão de curso (TCC), as dissertações de mestrado e as teses de doutorado apresentam um menor índice de fraudes. Na percepção deles, as consequências do plágio ou compra de trabalhos acadêmicos não prejudicam apenas o aluno, mas toda a sociedade, pelo fato de que estes futuros profissionais poderão da mesma forma, usar práticas ilícitas, criminosas e antiéticas no desempenho de sua profissão (OLIVEIRA; GARCIA; JULIARI, 2011). 5.2.7 Religião Na primeira etapa das entrevistas apenas o respondente, R14, informou que iria utilizar seu novo computador para a leitura de mensagens evangélicas. Contudo, na segunda 98 parte da pesquisa nenhum dos respondentes alegou usos para fins religiosos, nem mesmo o respondente R14. Nos últimos anos o autor Jungblut (2010) vem realizando um levantamento com o intuito de compreender como as pessoas, grupos e instituições religiosas tiram proveito da internet para a divulgação de suas crenças e traços religiosos. Ele constatou que as principais modalidades religiosas que se fazem presentes na internet são: católicos, afro-brasileiros, espíritas, evangélicos e esotéricos. Dentre estes, os espíritas e os evangélicos representam os dois grupos que mais utilizam a internet no Brasil, seja por intermédio de comunidades virtuais, chats, grupos de notícias, web fóruns, redes sociais e entre outros. Por fim, Jungblut (2010) destaca, de acordo com seus estudos, uma utilização desajeitada e nada eficiente dos recursos proporcionados pela internet por parte de grupos religiosos tradicionais e institucionalizados. No entanto, observa-se que indivíduos autônomos, ligados ou não a grupos tradicionais, demonstram uma utilização de tais recursos muito mais eficiente. 5.2.8 Vídeos Quando questionados na primeira etapa das entrevistas, nenhum respondente mencionou que iria usar o computador para assistir vídeos. Todavia, na segunda etapa os entrevistados R2, R13 e R14 afirmaram que estavam utilizando seu equipamento para acesso a vídeos. Percebe-se no discurso a seguir da respondente R13: R13 - “Questão de jogo, ver séries, filmes e ver vídeos”. No Brasil em janeiro de 2011, 29,8 milhões de indivíduos navegaram em sites de vídeos, em casa ou no seu local de trabalho, dados revelados por uma pesquisa do IBOPE. Uma evolução de 17,5% em relação ao mesmo período no ano anterior, grande parte deste crescimento deve-se a internautas residenciais, principalmente adolescentes que buscam sites de câmeras ao vivo. O estudo constata que somente a subcategoria vídeos/filmes, representada por sites sobre cinema e de vídeo como o YouTube, recebeu 28,1 milhões de acessos. Já transmissão 99 de mídia, sendo sites de vídeos dos portais e de transmissores oficiais, atingiu 16,1 milhões de usuários, ambas em janeiro de 2011 (IBOPE, 2011). Outra pesquisa publicada também pelo IBOPE (2013) constatou que em setembro de 2012 o número de brasileiros que navegaram em sites de filmes e vídeos chegou a 37,8 milhões, o maior número já alcançado pela categoria. Informações do estudo indicam que entre os sites de maior procura dos internautas estão: o YouTube, site que autoriza a divulgação de vídeos postados pelos próprios usuários; sites associados ao cinema e sites estrangeiros com cenas engraçadas no estilo “cassetadas”, ou no estilo “para a nossa alegria”. Outro que também deteve a atenção dos usuários em 2012 foram os sites de compartilhamento de filmes e séries em formatos HD (alta definição de imagem). Ainda, segundo esta pesquisa as crianças foram as que mais estimularam o aumento da categoria, passando a assistir mais a mais vídeos oficiais, geralmente junto à mãe. Chegando a 3,1 milhões, um aumento de 46% em relação ao ano de 2011. Registrou-se também um aumento de 41% no uso simultâneo desses sites por mulheres de 35 a 49 anos, que passaram de 1,6 milhões para 2,3 milhões. Para as usuárias que se consideram donas de casa, o aumento chegou a 52%, e entre os aposentados, foi ainda maior: 64% (IBOPE, 2013). Confirmando os dados disponibilizados pelo IBOPE em 2013 a ComScore, líder global em medições e análises digitais, divulgou em seu relatório 2013 Brazil Digital Future in Focus que o consumo de vídeo online no Brasil cresceu 18% em 2012. Confirmando que o YouTube continua sendo o principal site de vídeo, enquanto o VEVO ficou em segundo lugar (COMSCORE, 2013). 5.3 Tempo de Utilização do Computador Todos os participantes da pesquisa compraram seu computador na Casa da Informática, entre os meses de abril a junho de 2013. Em função disto, aguardou-se um período de tempo entre a compra e da segunda etapa das entrevistas para então, identificar o tempo de uso diário e semanal destes equipamentos. 100 5.3.1 Tempo de Uso Durante o Dia Quando foram questionados sobre a quantidade de horas diárias que utilizam seu equipamento adquirido, entre os entrevistados, cinco deles confirmaram que, em média, faziam uso entre 8 e 12 horas por dia. Foram eles: R5, R6, R11, R12 e R14. Abaixo alguns discursos que destacam esta informação. R5 – “Eu utilizo praticamente todo dia, [...] dá mais ou menos umas oito horas por dia”; R11 - “Na faixa de 10 a 12 horas” e R12 - “Uso umas oito, dez horas por dia”. No entanto, outro respondente, o R3 afirmou que normalmente ultrapassa esse período de tempo. É possível verificar no seu discurso a seguir, que são aproximadamente 16 horas consecutivas em apenas um dia. R3 - “Uso direto, praticamente das 8 até a meia–noite, diretão”. Este mesmo indivíduo finalizou sua resposta alegando que atualmente encontra-se em um treinamento de atendimento e vendas, no qual está aprendendo a importância de gerir seu tempo adequadamente e a importância de resguardar, ao menos, um dia da semana para o descanso. R3 - “Daí domingo eu desligo o telefone, computador, desligo tudo e vou passear, vou pra algum lugar, porque senão você fica escravo do trabalho”. Já para os respondentes R1, R2, R9, R10 e R13, o uso de seu computador varia em torno de 4 a 5 horas diárias. Todos estes apresentaram uma resposta muito semelhante ao que observa-se abaixo na resposta do entrevistado R2. R2 - “Em torno de umas 5, mais ou menos”. Neste questionamento os indivíduos R4, R7 e R8, confirmaram uma utilização mais moderada de seus equipamentos, em média, entre 30 minutos e 2 horas no decorrer de seu dia. R8 - “Ah! Eu é pouco, eu não tenho muito tempo, a noite eu pego uma hora ou meia hora”. 101 Para a respondente R8, a pequena quantidade de tempo ao computador pode ser explicada pelo fato de ser professora de séries iniciadas em tempo integral e necessita, em seu dia-a-dia, conciliar o trabalho, as tarefas do lar, de esposa e de mãe. Uma realidade muito comum entre as mulheres contemporâneas. Contudo, esta situação não se estende aos respondentes R4 e R7. As mudanças enfrentadas pelas mulheres em suas novas atribuições, perante a família e a sociedade, foram evidenciadas pelos autores Blackwell, Miniard e Engel (2005). Para eles, com o passar dos anos elas estão desempenhando em seus lares e no trabalho múltiplos papéis, e estes, têm influenciado fortemente todas as suas decisões no âmbito profissional, pessoal e familiar, inclusive as decisões de compra. Esta situação resultou em uma nova postura dos profissionais de marketing que atualmente observam cuidadosamente estes múltiplos papéis. 5.3.2 Tempo de Uso Durante a Semana Com relação ao uso do computador no decorrer da semana, grande parte dos respondentes confirmaram a sua utilização no período de sete dias consecutivos, isto é, incluindo também o sábado e o domingo. Foram eles: R1, R2, R4, R5, R6, R8, R9, R10, R12, R13 e R14. Todos apresentando discursos semelhantes aos destacados a seguir. R4 - “Uso todos os dias e aos fins de semana em um período maior de tempo”; R13 - “Utilizo de segunda a segunda e no fim de semana é por mais tempo” e R10 - “Utilizo todos os dias, no sábado e domingo eu ultrapasso o limite de seis horas, sete horas ou até mais”. Os entrevistados R3, R7 e R11 alegaram que faziam uso de seus equipamentos, adquiridos na Casa de Informática, apenas de segunda-feira a sexta-feira e quanto aos finais de semanas, estes, muito raramente os utilizavam. Situação observada na resposta da respondente R7. R7 - “Utilizo mais durante a semana, nos fim de semana é bem difícil”. Para um maior esclarecimento em vista que, as respostas de três dos indivíduos foram diferentes da grande maioria, a entrevistadora questionou aos respondentes R3, R7 e R11, se 102 estes permaneciam durante os fins de semana sem acesso à internet. Apenas o entrevistado R3 confirmou que no domingo desligava todos os equipamentos. Quanto aos respondentes R7 e R11, estes informaram que além do computador adquirido na loja, ambos possuem um segundo computador e um smartphone com o intuito de manterem “conectados” à internet. R7 - “Não, tenho meu Iphone e também tenho outro netbook. Estou sempre conectada”. A Nielsen, provedora global de informações e insights sobre o que o consumidor compra, realizou uma pesquisa que corrobora com as informações concedidas pelos respondentes R7 e R11. O estudo constata que os brasileiros são os que mais acessam as redes sociais por intermédio de smartphones, cerca de 75%. Apresentando o maior índice entre os países do BRICS, nem mesmo nos Estados Unidos ou no Reino Unido alcança-se esse percentual, chegando apenas em 63% em ambos locais (NIELSEN, 2013). Em 2013 o IBOPE publicou dados que revelam a evolução do tempo de uso por pessoa ao computador no período de abril e maio deste mesmo ano, seja em sua residência ou no trabalho. Observa-se na tabela abaixo que a maior quantidade de horas, 61:34h, foi registrada no mês de abril com aplicativos incluídos (IBOPE, 2013). QUADRO 1 – Evolução do tempo de uso por pessoa, número de usuários ativos e com acesso - Brasil. Fonte: IBOPE Media. Ao comparar-se os dados constatados pelo IBOPE (2013) com as informações levantadas pela responsável deste trabalho, verifica-se um tempo de uso do computador muito superior entre os respondentes que adquiriram seus computadores na Casa da Informática (240 horas) em relação à média nacional (60 horas). 103 Um possível entendimento desta mudança pode estar relacionada ao fato que entre os entrevistados, seis deles, faziam de seus equipamentos ferramentas de trabalho, exigindo um maior tempo de utilização. Outra possível explicação deve-se ao fato de que os entrevistados da pesquisa haviam adquirido muito recentemente seu computador, trata-se de uma novidade em suas casas, resultando em um maior tempo de utilização. Com o passar dos anos é possível que quantidade horas diminua, assemelhando-se a média nacional. Ou ainda, poderão manterse nesta média de tempo, e dependendo de suas necessidades de utilização esse este período de utilização poderá aumentar. 5.4 Elementos Presentes na Aquisição e no Uso de Computadores No decorrer das entrevistas constatou-se a presença de elementos associados ao comportamento do consumidor, evidenciados anteriormente na revisão teórica deste trabalho. Foram eles: Elementos de ordem racional, social, emocional, psicanalíticos e comportamentais. 5.4.1 Elementos Racionais Os elementos racionais foram verificados em uma série de discursos dos respondentes, possibilitando a constatação de que, para alguns a emoção não se faz presente no momento da compra ou da escolha do equipamento. R10 - “Computador é assim você compra um hoje, amanhã já sai melhor, ai você compra esse melhor sai um melhor ainda, tem que comprar um que supre a necessidade, esse tá suprindo por enquanto”; R12 - “É assim, eu gosto de informática, já estudei alguma coisa e para o que eu trabalho supre totalmente necessidade. Eu sei que tem pessoas que gostam mais de tecnologia e vão atrás disso ou daquilo. Eu sei que ele é mais simples, mas pra minha realidade tá bom”; R13 - “Eu vou analisar custo benefício, se o custo dele tá bom e o benefício que ele vai me trazer também é bom eu compro a peça. [...] Normalmente é 104 uma análise assim, não é uma coisa do tipo ai acordei hoje com vontade de comprar alguma coisa. Não, sempre muito tempo de análise” e R14 - “Não pode ser achei bonito vou comprar, não, tem que tomar cuidado”. Giglio (2002) em relação a isso afirmou que, o consumo pode ser regido por escolhas racionais sobre a disponibilidade dos produtos e recursos necessários. Possuidor de infinitos desejos, o ser humano dispõe de limitadas possibilidades de satisfazê-los. Devido a isso precisa optar pelos produtos e serviços que melhor o satisfazem, isto segundo as teorias racionais. Em um estudo inédito no Brasil sobre a classe C, realizado pelo IBOPE (2010) juntamente com o Target Group Index, constatou-se que grande parte dos consumidores deste segmento da população, cerca de 31%, são racionais no momento de consumir. Estes, são indivíduos que, geralmente com mais de 35 anos, buscam planejar as compras o obter vantagens e descontos. Além de cuidarem de si e de suas casas, são mais ponderados. De acordo com o estudo, os demais indivíduos da classe C se dividem em: consumistas (29%), personalistas (21%) e conformistas (19%). Dentre as teorias racionais, existe a teoria denominada avaliação de riscos e decisões (GIGLIO, 2002). Em um dos discursos da respondente R11, nota-se a sua preocupação com os riscos envolvidos durante a compra de seu computador. Riscos relacionados a problemas futuros que o seu novo equipamento possa vir apresentar, ou até mesmo, o risco de estar pagando um preço alto não condizente com as demais lojas. R11 - “O preço vamos se dizer fica em segundo lugar entende, porque não adianta eu procurar o barato e me incomodar como aconteceu já várias vezes. Eu prefiro procurar pela loja, pela garantia, pelo atendimento e depois a gente vai no preço. Claro que muita diferença não”. Na percepção de Gade (1998), determinados consumidores mais prudentes buscam reduzir matematicamente a margem de erro e adquirem grandes noções dos riscos. Eles procuram aumentar os seus conhecimentos a respeito do que irão comprar por meio de informações acerca do produto, preços e qualidade. Justamente o que ocorreu com a entrevistada R11 no momento da aquisição. Os autores Grossi, Motta e Hor-Meyll (2008) buscaram compreender melhor o risco percebido, realizando um estudo a fim de identificar os principais fatores geradores de inseguranças nas decisões de compras de alimentos por consumidores de baixa renda. Foram 105 efetuadas entrevistas em profundidade com 15 indivíduos, apresentando perfis semelhantes, todos eram residentes na região metropolitana do Rio de Janeiro, com renda familiar de até 3 salários mínimos e responsáveis pela compra de alimentos da família. Os questionamentos abordavam o uso dos produtos e a qualidade intrínseca e preferências das diferentes marcas percebidas pelos respondentes. Nos resultados do estudo, revelaram-se cinco fatores geradores de risco percebido, são eles: • Expectativas da família: Devido à necessidade de atender as expectativas da família, muitas vezes o consumidor opta pela aquisição de marcas mais caras; • Restrição de tempo: A falta de tempo impossibilita a busca por preço melhores e o conhecimento de novas marcas disponíveis no mercado, impedindo também a possibilidade de se tomar decisões mais seguras; • Discrepância na qualidade percebida: Este fator obriga os consumidores a guardarem em suas mentes as experiências obtidas anteriormente das marcas, sejam positivas ou negativas; • Indivisibilidade da embalagem: Em muitos casos por consequência do modo de como são embalados os produtos, os consumidores acabam adquirindo quantidades diferentes das que realmente desejam e este fator também o inibe a experimentar novas marcas para não ter de comprar muito de algo que ele não conhece; • Importância do preço: A insegurança de escolha do consumidor também é causada pelo fato de que na sua consciência talvez esteja pagando mais do que deveria pelo produto em questão (GROSSI; MOTTA; HOR-MEYLL, 2008). 5.4.2 Elementos Sociais Outro elemento facilmente percebido nas respostas dos entrevistados, tanto aquisição quanto no uso do computador, são os de ordem social. Destacados em: Influências sociais, grupos e família nas decisões de compra. 106 5.4.2.1 Influências Sociais É possível constatar que, para muitos a escolha por comprar na Casa da Informática foi estimulada por suas relações sociais próximas e também por intermédio da conhecida comunicação “boca a boca”. R6 - “A namorada do Dxxxx que trabalha comigo é vendedora lá na loja”; R8 - “Ah! Uma que eu conheço o dono da loja há muitos anos, a gente é de Tijucas e aí um passa pro outro. [...] Vamos lá porque a gente já conhece”; R9 - “Ah! Comprei na loja porque uma amiga minha Txxxxx já tinha comprado lá disse que era bom, ai fui lá e comprei o meu também”; R11 - “A Txxxxxx falou que lá era bom de comprar, ela é minha prima” e R14 – “[...] Todo mundo falou bem dessa loja”. Existem várias formas que possibilitam entender o comportamento do consumidor. Giglio (2002) destaca que, tal comportamento pode ser compreendido sob a ótica social, na qual o ser humano pertence ou busca pertencer a grupos distintos. Tais grupos exercem influências no comportamento de consumo do indivíduo, como por exemplo, grupos de referência, grupos aspiração e a família. Situação observada nos discursos anteriores. Neste contexto social, a comunicação “boca a boca” representa uma importante aliada ao consumidor na busca de informações a respeito de um produto. No entanto, em tempos de internet a comunicação “boca a boca” transformou-se no Brasil como o principal meio de reclamações, é o que constata um estudo do instinto Data Popular (FREITAS, 2013). O estudo constatou também que o consumidor brasileiro mostra-se mais exigente, apenas no mês de agosto em 2013, cerca de 20,3 milhões de indivíduos fizeram algum tipo de reclamação. Entre estes, 10,6 milhões fizeram sua queixa por meio o “boca a boca”, repercutindo negativamente para 30,5 milhões de brasileiros; 6,9 milhões acionaram o SAC e 5,9 milhões utilizaram as redes sociais e sites especializados para efetuarem as suas reclamações. Contudo, segundo dados da pesquisa o “boca a boca” também tem sido utilizado para disseminar práticas positivas. Entre os consumidores entrevistados, 75% deles, quando bem atendidos buscam indicar a empresa para seus conhecidos (FREITAS, 2013). 107 5.4.2.2 Grupos Quando questionado com relação utilização do computador adquirido, na segunda etapa da entrevista, o respondente R10 alegou que utilizava para jogos. Informou também que para a compra deste equipamento realizou um investimento maior, com o intuito jogar jogos atuais que possuem uma configuração maior, o chamados jogos “pesados”. Tais seriam disputados com seus amigos em uma espécie de clube online. R10 - “Ah bom a maioria que eu conheço é viciado no jogo. [...] Jogamos juntos, os colegas de trabalho, da escola todos online”. Perceber-se, tanto no discurso quanto nas informações repassadas a entrevistadora, a forte influência do grupo social na escolha, aquisição e utilização do equipamento. Grupo que neste caso é representado pelos amigos que jogam online. O grupo social pode ser entendido como toda a união de pessoas, que partilham de certas peculiaridades, relacionando-se umas com as outras, acatando direitos e obrigações como integrantes do grupo e compartilhando de uma identidade em comum (LIMEIRA, 2008). Kotler e Armstrong (2003), assim com Sandhusen (2003) salientam que o comportamento de um indivíduo pode receber influências diretas ou indiretas de uma infinidade de grupos. Atualmente, sociólogos consideram que a influência social nunca foi tão forte. O consumidor tolera cada vez menos as adversidades sozinho, e a necessidade de querer fazer parte de um determinado grupo de referência o leva prontamente a adquirir certos produtos, e estes produtos, serão responsáveis pela “permissão” de sua entrada em tais grupos (KARSAKLIAN, 2004). Fato este, confirmado nos depoimentos do respondente R10. Recentemente, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) realizaram um levantamento em 27 capitais do Brasil e constaram que o consumidor brasileiro encontra-se preocupado com a sua imagem e afirmação social perante ao seu grupo de convívio, como amigos, familiares e colegas de trabalho. Dados do estudo destacam que ele imagina para si próprio um modelo de consumo que, muitas vezes, não corresponde ao orçamento pessoal. Nesta pesquisa, cerca de 21% dos respondentes alegaram que habitualmente acompanham seus familiares e amigos a lugares que extrapolam seus orçamentos objetivando “não fazer feio”. Tal percentual sobe para 24% entre os indivíduos das classes C, D e E e cai 108 para 15% entre os que possuem maior renda. Já 59% deles confirmaram que já ficaram “apertados no orçamento” por adquirirem algum bem que não precisavam ter adquirido O estudo ainda constata que, 33% dos entrevistados já deram um presente acima de seu orçamento com o intuito de impressionar o presenteado e, 43% ao adquirirem um produto recém-lançado, fizeram questão de expor a novidade para os amigos (SPC BRASIL, 2013). 5.4.2.3 Família nas Decisões de Compra Outro aspecto verificado em um dos discursos foi quanto ao papel importante que os membros da família representam como influenciadores no momento da compra. A seguir é possível constatar nas palavras da respondente R8 que o um dos principais motivos da compra do novo computador foi devido a influência de seu filho de 13 anos, ela utilizou o termo “endoidava” para se referir a pressão exercida por parte de dele como influenciador na nova aquisição. R8 - “Quem mais usa é ele. Já fui comprar isso porque senão ele endoidava”. Para Karsaklian (2004) a família representa um grupo primário da qual o indivíduo faz parte. Sua importância deve-se ao fato de representar uma fonte básica de aprendizagem e de atitudes que contribui na formação total da personalidade deste indivíduo. Assim como os demais grupos, ela também atua como uma forte influência na constituição de gostos, crenças e preferências, e principalmente sobre o comportamento de compra. Nos âmbitos de consumo, na família existem, ao menos, cinco papéis definidos que podem ser exercidos por todos os membros do lar. São eles: Iniciador, influenciador, decisor, comprador e usuário (BLACKWELL; MINIARD; ENGEL, 2005). Assim como o discurso da entrevistada R8, percebe-se atualmente uma grande participação dos filhos em uma série de decisões no ambiente familiar. Um estudo realizado pelo instituto ALANA, organização sem fins lucrativos voltado aos direitos das crianças dos adolescentes, confirma esta situação. Segundo dados estatísticos no Brasil as crianças praticamente participam de 80% das decisões de compras em uma família. Como por exemplo 109 na aquisição de um novo automóvel para a família, o estudo evidencia que em 60% dos casos as crianças são consultadas (SARRES, 2013). 5.4.3 Elementos Emocionais Como existem indivíduos que fazem uso de elementos racionais em suas decisões de consumo, também há consumidores que agem mais voltados para o emocional. Em um das resposta da entrevistada R5 verificou-se esta ausência de elementos racionais nas suas decisões de compra. R5 - “Ah! Eu sou mais assim, botei o olho vi o jeitinho dele, gostei, eu compro”. Muitos autores denominam o comportamento de compra evidenciado pela entrevistada R5 como compra por impulso. Nesta situação indivíduo vivencia uma necessidade súbita e persistente de adquirir algo imediatamente, é um sentimento tão forte que muitas vezes o indivíduo não consegue resistir e acaba desconsiderando as consequências de seus atos momentâneos (SOLOMON, 2002), (MOWEN; MINOR, 2003), (LIMEIRA, 2008). No Brasil, muitos são os consumidores que compram de maneira impulsiva é o que constata um levantamento realizado em 27 capitais do país pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No estudo 88% dos respondentes se autodeclaram conservadores ou moderados quando consomem, todavia 47% deles confirmaram que movidos pelo impulso adquiriram algum produto que nem se quer chegaram a usar. Constatou-se também, que existe uma tendência dos consumidores brasileiros em recorrer as compras como forma de satisfazer suas vontades pessoais, 59% deles já compraram algo por considerarem que merecem, mesmo não apresentando condições financeiras para quitar o produto. Para os responsáveis da pesquisa essa tendência ao consumo mais impulsivo por parte dos brasileiros é resultado das recentes alterações na estrutura de renda do país e no acesso de crédito (SPC BRASIL, 2013). Em uma outra pesquisa também publicada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) realizada nas capitais brasileiras, verificou-se que os shopping centers perderam lugar para os supermercados como 110 o local em que os indivíduos mais compram por impulso. Cerca de 34% dos respondentes confirmaram gastar mais do que o planejado quando encontram-se em supermercados contra 25% em shopping centers. Em terceiro lugar com 19% estão as lojas online, como ecommerces e sites de compras coletivas No supermercado as compras sem planejamento são uma prática comum na maior parte das classes sociais, contudo são mais recorrentes entres as famílias da classe C. O estudo finaliza considerando com uma possível explicação para esta mudança. É o fato de que atualmente os supermercados transformaram-se em espaços amplos e com maior variedade de produtos e, nestes locais muitas das compras por impulso são imperceptíveis para o comprador. Quando questionados sobre os produtos que menos conseguem resistir, os mais mencionados pelos respondentes foram roupas (56%), calçados/acessórios (43%) e perfumes/ cosméticos (29%) (SPC BRASIL, 2013). 5.4.4 Elementos Psicanalíticos Constatou-se durante as entrevista a presença de elementos psicanalíticos no comportamento do consumidor. Tais elementos foram propostos por Freud por considerar que os indivíduos geralmente desconheciam seus verdadeiros desejos. 5.4.4.1 Sexualidade em Freud O entrevistado R3 no momento em que foi questionado quanto aos usos de seu computador admitiu que, utilizava outro de seus equipamentos para o consumo de sites eróticos. Embora o mesmo não demonstre diretamente em seu discurso, este deu a entender por consequência de seu comportamento, tal finalidade. R3 - “Eu tenho outro em casa, daí eu uso só pra joguinho essas coisas, só pra dar uma relaxada”. 111 Durante a sua resposta o respondente R3 dirigiu a entrevistadora um riso malicioso e sarcástico, principalmente quando utilizou o termo “relaxada”. Insinuando nas entrelinhas que o seu uso iria além de “joguinhos”. Nesta situação pode-se supor o que Freud já havia mencionado em seus estudos, destacando que há em cada indivíduo um “mundo subterrâneo” e invisível, que exerce um controle dominador sobre os seus pensamentos e ações, e deste fazem parte deste mundo o id, o ego e superego. O id em uma busca desenfreada a fim de evitar dor e obter prazer. Contudo, seus instintos, principalmente àqueles de natureza sexual ou agressiva, são contidos pelo superego representante da moral e valores ditando o que é certo e errado perante a sociedade. Entre os dois encontra-se o ego responsável por decidir quais os instintos do id serão satisfeitos e de que forma. Na qual seu principal objetivo é o de distinguir as coisas da mente das coisas do mundo objetivo da realidade e busca evitar a descarga de tensão até ser encontrado um objeto apropriado para a satisfação da necessidade (HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000). Solomon (2002) evidencia que a perspectiva de Freud possibilita ao ego se basear no simbolismo dos produtos para realizar um acordo entre as exigências do id e as proibições do superego, por intermédio do consumo o indivíduo canaliza seu desejo inaceitável em saídas aceitáveis, utilizando produtos que signifiquem tais desejos profundos e torna-se possível experimentar do fruto proibido. Uma possível explicação para o comportamento do respondente R3 pode estar no fato que, assim como a aquisição de produtos representando símbolos fálicos, o consumo de sites eróticos pode estar representando para ele uma canalização seus desejos inadmissíveis em saídas admissíveis. Em estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Montreal no Canadá, liderada pelo professor Simom Louis Lajuenesse, constatou que não há nenhum homem com acesso à internet que não tenha consumido pornografia, mesmo que por pouco tempo, em algum momento de sua vida. Foram entrevistados 20 universitários do sexo masculino. Os responsáveis do estudo concluíram que, em média, os homens a partir do 10 anos de idade começam a ter contato com conteúdos adultos. Na qual 90% da pornografia consumida no mundo estão presentes na internet, apenas 10% está em lojas de vídeos ou vídeo-locadoras (MOREIRA, 2012). Faz-se necessário uma ressalva que trata-se de uma pesquisa realizada com 20 indivíduos e tal fator impede uma generalização para toda a população. 112 5.4.4.2 Mecanismos de Defesa Um dos discursos da respondente R6 identificou-se que durante a aquisição do seu computador a mesma utilizou, inconscientemente, um mecanismo de defesa a fim de justificar a sua escolha por determinado equipamento. R6 - “Quem não quer um rosinha daquele aqui na minha mesa, mas não adianta ser muito caro pode estragar ou ser roubado”. O termo “rosinha” usado pela respondente referia-se a um modelo de notebook rosa, muito apreciado entre as consumidoras. Este estava disponível na loja para compra pertencente a uma famosa marca, cujo valor encontrava-se em torno de R$ 2.899,00. Por motivos desconhecidos pela vendedora, no momento da aquisição tal entrevistada resolveu optar por um modelo de notebook mais barato e de marca não tão conhecida. Claramente verifica-se que em seu discurso o mecanismo de racionalização, em que ela demonstra seu desejo de posse, no entanto imediatamente levanta as desvantagens da aquisição de um produto com um preço superior. Justificando para si mesma que, a sua escolha realizada foi a mais adequada. Anna Freud (1946 apud HALL; CAMPBELL; LINDZEY, 2000) destaca que em determinas situações, o ego do indivíduo sob pressão de demasiada ansiedade, como caso da respondente R6, é forçado a adotar medidas extremas para aliviar a pressão. Medidas estas, que são chamadas de mecanismos de defesa e possuem duas características em comum: eles recusam, falsificam ou mudam o sentido da realidade e agem de forma inconsciente, de modo que o indivíduo não tem consciência do que está ocorrendo. O recalque, a formação reativa, a regressão, a projeção e a racionalização representam alguns destes mecanismos de defesa. Segundo os autores Bock, Furtado e Teixeira (1999) na racionalização o sujeito edifica uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica os estados “deformados” da consciência. No mecanismo de racionalização, o ego coloca a razão a serviço do irracional e aproveita para isto o material fornecido pela cultura, ou mesmo pelo saber científico. 113 5.4.5 Elementos Comportamentais Constatou-se em dois discursos elementos de ordem comportamental que podem ser associados ao behaviorismo. Observa-se a seguir, em ambos os casos, que a empresa Casa da Informática por intermédio de algumas de suas ações resultou em um condicionamento do comportamento dos indivíduos R10 e R12. R10 - “Eu sempre comprei lá. O meu primeiro computador eu comprei na Casa da Informática e sempre solucionaram os meus problemas. Eu sempre conseguia um desconto, uma promoção ou alguma coisa, ganhava um negócio. Então eu optei por comprar lá”; R12 - “Olha primeiro porque eu já adquiri outros produtos lá e fiquei satisfeito com as compras e produtos. Além do conhecimento que eu já tenho com vocês lá, a facilidade. No momento eu sempre comprei lá e vou continuar comprando, está atendendo todas as minhas necessidades”. Verifica-se que a utilização de reforços positivos por parte da organização para com os respondentes, seja como um brinde ou um desconto, estabelecendo um forte vínculo de retorno. Estes retornos resultavam em satisfação para os consumidores e tais cuidavam de voltar a repetirem a mesmo ato. Comportamento este que anteriormente foi enfatizado por Skinner. Para Skinner (1950 apud GIGLIO, 2002), importante participante do movimento psicológico behaviorismo, o comportamento do ser humano é condicionado pelos estímulos reforçadores. Com a repetição de tais comportamentos o indivíduo cria hábitos e não pensa mais a respeito da situação. Quanto ao behaviorismo, este almeja compreender o ser humano a partir de suas interações com o ambiente, entre as ações do sujeito e o ambiente. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo visto como um produto e produtor destas interações (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Assim como a organização estudada, o autor Giglio (2002) destaca que a teoria behaviorista tem sido constantemente utilizada no campo do marketing, principalmente quando se tratam de produtos que exijam uma alta frequência de recompra por parte dos consumidores, o caso de produtos limpeza, higiene e alimentos. As empresas estão utilizando estratégias de presentes e brindes para atrair os consumidores, com o intuito de induzirem a criação do hábito de compra. Outro ramo de negócio que costuma fazer uso da teoria behaviorista são os empresários da linha de eletrodomésticos, que acompanham o comprador 114 muitas semanas após a realização da compra, enviando cartões de felicitações pela aquisição, e até mesmo, colocando à disposição dele revisões gratuitas, tudo a fim de reforçar o comportamento. 5.5 Dissonância Cognitiva Pós-Compra No discurso do respondente R3 constataram-se informações que conduziram a entrevistadora a supor que, o mesmo apresentava uma espécie de dúvida ou um sentimento de arrependimento após a compra de seu computador. R3 - “Quando eu comprei esse ai, depois fiquei pensando que já que tinha feito prestação devia ter pegado um melhor. Pegado um Sony Vaio, uma coisa assim mais rápida, né” Notavelmente a reação deste entrevistado pode ser entendida como uma dissonância cognitiva pós-compra, evidenciando seu descontentamento com a escolha realizada. Na concepção de Kotler e Armstrong (2003) em quase todas as compras que exigem um valor mais elevado, como a compra de um computador, origina-se a dissonância cognitiva ou desconforto ocasionado por conflitos posteriores à aquisição. Ao realizar uma compra o indivíduo espera que o produto adquirido atenda ou ultrapasse as suas expectativas, o levando a satisfação. Todavia, quando o produto não atende às expectativas ocasionará uma sensação de desapontamento e insatisfação por parte do consumidor. Hawkins, Mothersbaugh e Best (2007) corroboram com a afirmação dos autores anteriormente citados e, além disso, apresentam circunstâncias em que o indivíduo poderá apresentar uma menor ou maior predisposição para desenvolvê-la. • O grau de compromisso ou irrevogabilidade da decisão: Quanto mais difícil for a alteração da decisão de compra, maiores serão as possibilidades que o consumidor apresente a dissonância cognitiva; • A importância da decisão: Quanto maior a importância da decisão, maior será a propensão de uma dissonância por parte do indivíduo; • A dificuldade de escolher dentre as alternativas: Quanto mais fácil for a escolha de uma das alternativas, menores serão as chances de que um indivíduo apresente uma dissonância cognitiva; 115 • A tendência do consumidor em apresentar ansiedade: O nível de ansiedade pode variar de uma pessoa para outra. Quanto menor esta tendência, menor também será a possibilidade de que se apresente uma dissonância após-aquisição. Para o respondente R3, a sua melhor alternativa deveria ter sido a aquisição de um notebook da marca Sony, uma marca mais famosa e mais cara em relação a sua efetiva escolha. Este entendimento de que o equipamento com o valor mais alto trata-se da melhor opção é uma realidade dentre os indivíduos brasileiros. Em uma pesquisa realizada pela Mintel, empresa britânica que atua no setor de pesquisa de mercado, constatou-se que no Brasil os consumidores consideram que o produto mais caro é o melhor. Entre os entrevistados, mais de 70% alegaram acreditar que os produtos e serviços mais caros apresentam uma qualidade superior aos demais. Visão que varia conforme a classe social, chegando a 75% entre os consumidores da classe C, 73% entre os das classes D e E e 65% dentre os brasileiros das classes AB. O estudo também verificou que conceito e prestígio da marca são fundamentais, 75% dos entrevistados brasileiros concordaram com a frase: “comprar marcas conhecidas me faz sentir bem”. O status também mostrou-se relevante, tendo em vista que 26% dos consumidores afirmaram que esconderiam o fato de adquirirem produtos baratos (G1, 2013). 5.6 A Participação dos Idosos Um fato não previsto anteriormente neste trabalho, no entanto muito interessante, foi quanto à participação dos idosos na aquisição de produtos de informática. Em uma das entrevistas, o respondente R12 por iniciativa própria dividiu com a entrevistadora uma situação presenciada constantemente. R12 - “É uma coisa de outro mundo, mas eu fico feliz com isso. Pessoas de 60 anos [...] estão no Facebook, pegam o seu smartphone e em qualquer lugar estão conectadas no face. E eles dizem tô postando isso, colocando aquilo. [...] essas pessoas usam pra conversar com os que estão distantes ou aqueles que não podem visitar”. 116 Além deste comentário ele finalizou sua resposta descrevendo uma surpresa vivenciada há horas atrás no seu almoço em família. Segundo ele ao chegar para almoçar com os seus pais, a sua mãe de 61 anos lhe disse o seguinte: R12 narrando o discurso de sua mãe: “Filho agora troquei o sofá, comprei outra pia, outro colchão e uma cama nova. Quando eu acabar de pagar vou comprar um computador pra mim e seu pai. [...] e se ele quiser ficar ai sem fazer nada, vai ficar ai obsoleto. Eu vou pegar vou colocar internet e vou colocar um computador pra mim”. Existem atualmente pesquisas evidenciando que esta parcela da população mostra-se cada vez mais propensa a consumirem produtos de informática. Na própria Casa da Informática muitos de seus consumidores já apresentam idades acima dos 50 anos. Um estudo publicado pelos autores Jantsch et al. (2012) constatou que as novas tecnologias estão auxiliando os idosos na diminuição do isolamento e da solidão. Proporcionando maiores possibilidades de manterem contato com familiares e amigos, aumentando também as suas relações sociais por meio do uso de redes sociais digitais, que atuam como um importante instrumento para a consolidação de um envelhecimento mais ativo. Contudo, evidenciou-se que muitos deles ainda consideram o computador como algo um tanto delicado e muito além de suas condições e habilidades, tendo em vista que sua geração obteve um acesso tardio a tais tecnologias. Mas, mesmo com dificuldades os idosos que possuem distantes seus entes queridos acabam optando por tentarem e compreenderem o seu uso. Resultando em maiores benefícios para a sua qualidade de vida (JANTSCH et al., 2012). Observando o instrumento percebe-se que foram coletadas outras informações que eram de interesse mais imediato da Casa da Informática. Estas serão disponibilizadas para a organização e não são utilizadas na análise do comportamento consumidor tendo em vista que não vinham de encontro com os objetivos deste trabalho. 117 6 SUGESTÕES PARA A ORGANIZAÇÃO De acordo com a 24° pesquisa anual de administração e uso de TI nas organizações, desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas, no Brasil vende-se 1 computador por segundo e atualmente no país existem 118 milhões em uso, o que equivale a 3 equipamentos para cada 5 habitantes. Para os responsáveis do estudo até em 2016 estima-se que o país terá 200 milhões de computadores pessoais, o equivalente a um computador por pessoa (MEIRELLES, 2013). Concomitantemente outra pesquisa a Tech Metrics Brasil, publicada pela Intel realizada em 16 regiões metropolitanas espalhadas pelo país, constatou que o computador é o eletroeletrônico mais desejado entre os brasileiros, especialmente na região sul. Para 47% dos participantes do estudo a sua próxima compra de eletroeletrônico deve ser um desktop, notebook ou netbook, superando os desejos por uma TV LCD (16%) ou um celular com câmera e música (8%). A intenção de compra é manifestada nos lares que ainda não possuem computador em casa (56%), todavia 30% dos consumidores que já possuem um equipamento demonstram planos para trocar ou adquirir uma máquina adicional (SALA DE IMPRENSA INTEL BRASIL, 2011). Os estudos mencionados anteriormente evidenciam um cenário futuro muito promissor para o ramo de atividade da empresa Casa da Informática. No entanto, pode-se prever também a entrada de novos concorrentes, a saturação do mercado está sujeita a chegar no seu limite de consumo, apenas substituindo o computador que já possui, e em poucos irá adicionar um segundo ou terceiro computador. Nestes casos, quanto melhor o atendimento maior a possibilidade de fidelização, faz-se necessário proporcionar ao consumidor uma experiência positiva de satisfação com a sua aquisição, para que assim possa vir futuramente comprar e principalmente divulgar a sua experiência positiva aos seus conhecidos, já que o “boca a boca” é uma forma de divulgação muito importante para as organizações. Nota-se que as técnicas de vendas já são de domínio das vendedoras, contudo sugerese que a empresa além de continuar aprimorando estas técnicas, ofereça a suas funcionárias, treinamentos envolvendo o comportamento do consumidor, com o intuito de possibilitar a identificação para o que ele compra e o que efetivamente usa. Tendo em vista que, o momento mais importante do consumo é quando o consumidor estará utilizando o produto, então quanto melhor a identificação do que ele realmente deseja, maior será a sua satisfação com a compra. Esta pesquisa possibilitou constatar que os consumidores nem sempre informam todas as suas intenções de uso durante a compra do computador. A grande maioria posteriormente 118 passou a usar para jogos, ver vídeos e principalmente para redes sociais. Fatos que possibilitam a vendedora no momento da negociação alertar o consumidor que este, poderá vir a precisar de outros recursos que o equipamento e serviços oferecidos pela Casa da Informática podem lhe proporcionar, seja para as suas relações sociais, diversão, informação e até mesmo para o seu filho que interfere na compra e que posteriormente também irá utilizar o equipamento. São informações relevantes que possibilitam o aprimoramento da entrevista de venda, sem “encher” o consumidor de perguntas, oferecendo a ele o melhor equipamento condizente com seus desejos e necessidades a fim de surpreendê-lo positivamente durante o uso e que ele não venha apresentar uma dissonância cognitiva posterior. Tratando- se de um produto de comparação, é natural que em muitos casos a compra de um computador representa uma decisão complexa para o consumidor e, na maioria das vezes, ele desconhece as especificações. É neste momento que o vendedor deverá atuar como um consultor e quanto mais aprimorar-se a capacidade de levar satisfação, estará cumprindo o conceito de marketing e aumentando o lucro da organização. 119 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao término deste trabalho conclui-se que os todos objetivos propostos inicialmente foram alcançados. Foi possível obter informações relevantes para a Casa da Informática nunca antes levantadas. Com a aplicação das entrevistas semiestruturadas evidenciou-se uma série de elementos presentes na aquisição e no posterior uso dos computadores pelos consumidores, foram eles: elementos de ordem racional, social, emocional, psicanalíticos e comportamentais. Com relação aos usos informados e efetivos dos equipamentos verificou-se uma constante participação das redes sociais, praticamente grande parte dos entrevistados utilizavam-nas, destacando-se o Facebook. Quanto aos demais usos alegados encontram-se: acessos à internet não informados, diversão, informação, trabalho e aplicativos, faculdade, religião e vídeos. A participação dos idosos na aquisição de produtos de informática mostrouse um fato não previsto anteriormente. Outras pesquisas também evidenciam que esta parcela da população estão cada vez mais propensos a consumirem este tipo de produto. Outros dados constatados com aplicação das entrevistas foi quanto a quantidade de horas de uso ao computador por parte dos respondentes que apresentaram uma média 200 horas mensais, média esta, superior aos índices nacionais. Fato este que talvez possa originar um novo campo de estudos ou até mesmo uma preocupação inclusive para outras áreas como, por exemplo, as áreas da saúde. Haja visto os estudos realizados pela britânica Susan Greenfield, especialista em fisiologia cerebral. Segundo suas pesquisas o ambiente digital está alterando o cérebro humano de forma nunca vista anteriormente, as pessoas estão cada vez mais dependentes de redes sociais e videogames originando uma nova geração os “nativos digitais”. As crianças que se desenvolvem no ambiente do ciberespaço são impossibilitadas de fundamentais aprendizados como o de olhar nos olhos e interpretar os tons de voz ou a linguagem corporal. Para ela as próximas gerações provavelmente terão um QI maior e uma boa memória, todavia terão um senso de identidade mais delicado, menos empáticas e concentradas, e poderão apresentar uma dependência maior do viver “aqui e agora” em vez de terem um passado, presente e futuro (ROSSI, 2012). Ao longo da elaboração deste trabalho apresentaram-se algumas limitações, o tempo foi a principal delas, em função da responsável do estudo desempenhar atividades profissionais diurnas e no período noturno frequentar as aulas da graduação. O fato de a entrevistadora ser uma vendedora atuante na empresa também pode ser entendida como uma limitação, tendo em vista que em alguns casos os respondentes podem ter falado não o que 120 sentiam, mas o que para eles seria o melhor considerando que futuramente terão que retornar à loja para outras possíveis compras. Esta dificuldade também é destacada por Blackwell, Miniard e Engel (2005), em alguns casos os indivíduos não se mostram dispostos a evidenciarem as verdadeiras razões por trás de seus atos. Assim também ocorre com os consumidores que podem se sentirem desconfortáveis para expor aos outros o que lhes chama a atenção. Para futuros estudos, em razão da amplitude do tema, sugere-se uma coleta de dados mais extensiva com um maior número de consumidores. Foi observável que tanto no momento da compra por meio do processo de racionalização ou nos arrependimentos posteriores que os indivíduos possam desenvolver, há possibilidades que se manifestem nestes dois ocasiões os mecanismos de defesa, e estes representam também possíveis estudos na área. E por fim, indica-se talvez a verificação das questões levantadas durante a elaboração deste trabalho, como por exemplo: as prováveis explicações para o crescimento das redes sociais e um possível entendimento do aumento do tempo de uso entre os respondentes desta pesquisa. 121 REFERÊNCIAS ANGELO, Claudio F; LUPPE, Marcos R; FOUTO, Nuno Manoel Martins D. Racionalidade e irracionalidade no processo decisório de consumo. Revista de Negócios, FURB, v.15, n.1, 2010. Disponível em: <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/rn/article/view/1766>. Acesso em: 04 agosto 2013. ARAÚJO, Gustavo Porpino de; RAMOS, Anatália Saraiva Martins. Comportamento de compra por impulso em shopping centers: pesquisa com consumidores de Brasília-DF e Natal-RN. REAd, Porto Alegre-RS, v.16, n.3, 2010. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/read/article/view/38833/25033>. Acesso em: 24 setembro 2013. BARBOSA, Livia. Sociedade de Consumo. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. BLACKWELL, Roger D; MINIARD, Paul W; ENGEL, James F. Comportamento do consumidor. 9. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CHURCHILL, Gilbert A. Marketing: criando valor para os clientes. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. COMSCORE. ComScore lança o relatório ‘2013 Brazil Digital Future in Focus’. comScore, [S.I.], 07 mar. 2013. Disponível em: < http://www.comscore.com/por/Insights/Press_Releases/2013/3/A_comScore_Lanca_o_Relato rio_2013_Brazil_Digital_Future_in_Focus>. Acesso em: 05 outubro 2013. DIAS, Sergio Roberto; MACHINE, Claude. Gestão de marketing. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. ______. Novo Aurélio século XXI: dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. FREITAS, Andrea. Boca a boca é o principal canal de reclamação do brasileiro. O GLOBO, [S.I.], 18 set. 2013. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/defesa-doconsumidor/boca-boca-o-principal-canal-de-reclamacao-do-brasileiro-10026247>. Acesso em: 02 novembro 2013. 122 G1. Comércio de trabalhos de graduação é crime. G1, [S.I.], 27 mar. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MRP1062257-5604,00.html>. Acesso em: 27 outubro 2013. ______. Para consumidor brasileiro, produto caro é produto bom, indica pesquisa. G1, São Paulo, 03 out. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/seudinheiro/noticia/2013/10/para-consumidor-brasileiro-produto-caro-e-produto-bom-indicapesquisa.html>. Acesso em: 02 novembro 2013. GADE, Christiane. Psicologia do consumidor e da propaganda. São Paulo: EPU, 1998. GIGLIO, Ernesto. O comportamento do consumidor. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. GLOBO CIÊNCIA. Segundo pesquisa, brasileiro fica na web mais tempo que média mundial. Globo Ciência, [S.I.], 31 ago. 2013. Disponível em:< http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2013/08/segundo-pesquisa-brasileiro-fic ana-web-mais-tempo-que-media-mundial.html>. Acesso em: 20 outubro 2013. ______. Uso excessivo das tecnologias pode trazer sérios riscos à vida social. Globo Ciência, [S.I.], 31 ago. 2013. Disponível em:< http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2013/08/uso-excessivo-das-tecnologiaspode-trazer-serios-riscos-vida-social.html>. Acesso em: 21 outubro 2013. GÓES, Ilda de Oliveira. Motivações para a compra de móveis para uso residencial: um estudo exploratório com base na pirâmide de Maslow. PMKT Ciência, v.04, 2010. Disponível em: <http://www.revistapmkt.com.br/VOLUMESANTERIORES.aspx?udt_863_param_detail=31 60>. Acesso em: 06 agosto 2013. GOLWAL, Madansing D; KALBANDE, Datta T; SONWANE, Shashank S. Profissionais da Informação e o papel do Facebook: consciência sobre sua utilidade no âmbito das redes sociais. Brazilian Journal of Information Science, Marília (SP), v.6, n.1, p.85-100, 2012. Disponível em: <http://www2.marilia.Unesp.br/revistas/index.php/bjis/index>. Acesso em: 05 outubro 2013. GOUVEIA, Tânia Maria de Oliveira A; DALTO, Edson José. Os homens e seus carrinhos de compras. Um estudo sobre o comportamento do consumidor masculino no supermercado. REAd, Porto Alegre-RS, v.15, n.1, 2009. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/read/article/view/39185/25047>. Acesso em: 23 setembro 2013. GROSSI, Patricia; MOTTA, Paulo Cesar M; HOR-MEYLL, Luiz Fernando. O risco percebido na compra de alimentos por consumidores de baixa renda. III Encontro de Marketing da ANPAD, Curitiba, 2008. Disponível em: <http://www.anpad.org.br/evento.php?acao=trabalho&cod_edicao_subsecao=357&cod_event o_edicao=37&cod_edicao_trabalho=8401#>. Acesso em: 04 agosto 2013. HALL, Calvin S; CAMPBELL, John B; LINDZEY, Gardner. Teorias da personalidade. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. 123 HAWKINS, Del I; MOTHERSBAUGH, David L; BEST, Roger J. Comportamento do consumidor: construindo a estratégia de marketing. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. IBOPE. IBOPE apresenta estudo inédito sobre a classe C. IBOPE, [S.I.], 06 out. 2010. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/IBOPE%20apresenta%20estudo%20in%C3%A9dito%20sobre%20a%20c lasse%20C.aspx>. Acesso em: 02 novembro 2013. ______. Brasileiros caem na rede social. IBOPE, [S.I.], 26 jan. 2011. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Brasileiros%20caem%20na%20rede%20social.aspx>. Acesso em: 05 outubro 2013. ______. Mais vídeos em casa. IBOPE, [S.I.], 18 abri. 2011. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Mais%20v%C3%ADdeos%20em%20casa.aspx>. Acesso em: 28 outubro 2013. ______. Adultos já navegam mais em casa. IBOPE, [S.I.], 27 mai. 2011. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Adultos%20j%C3%A1%20navegam%20mais%20em%20casa.aspx>. Acesso em: 19 outubro 2013. ______. Crianças brasileiras são as que ficam mais tempo conectadas à internet. IBOPE, [S.I.], 06 set. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/noticias/Paginas/Criancas-brasileiras-sao-as-que-ficam-mais-tempo-conectadas-ainternet.aspx>. Acesso em: 19 outubro 2013. ______. Games de ação e aventura são os preferidos dos brasileiros. IBOPE, [S.I.], 01 out. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/Paginas/Games-de-acao-eaventura-sao-os-preferidos-dos-brasileiros.aspx>. Acesso em: 20 outubro 2013. ______. IBOPE Media faz analogia das mídias sociais com corpo humano. IBOPE, [S.I.], 09 nov. 2012. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/IBOPE-Media-faz-analogia-das-midias-sociaiscom-o-corpo-humano.aspx>. Acesso em: 19 outubro 2013. ______. Crianças estimulam aumento do consumo de vídeos online no Brasil. IBOPE, [S.I.], 08 jan. 2013. Disponível em: <http://www.ibope.com.br/ptbr/conhecimento/artigospapers/Paginas/Criancas-estimulam-aumento-do-consumo-de-videosonline-no-Brasil.aspx>. Acesso em: 28 outubro 2013. ______. Número de pessoas com acesso à internet passa de 100 milhões. IBOPE, [S.I.], 10 jul. 2013. Disponível em: <http:/WWW.ibope.com.br/ptbr/relacionamento/imprensa/releases/Paginas/Numero-de-pessoas-com acesso-a-internetpassa-de-100-milhoes.aspx>. Acesso em: 05 outubro 2013. INC EMPREENDEDOR. Trabalho à distância contribui para a sustentabilidade do planeta. INC Empreendedor, [S.I.], 10 fev. 2012. Disponível em: <http://www.incorporativa.com.br/mostranews.php?id=7742>. Acesso em: 27 outubro 2013. 124 JANTSCH, Anelise et al. As redes sociais e a qualidade de vida: os idosos na era digital. IEEE-RITA, [S.I.] v.7, n.4, 2012. Disponível em: <http://rita.det.uvigo.es/201211/uploads/IEEE-RITA.2012.V7.N4.A2.pdf>. Acesso em: 05 outubro 2013. JUNGBLUT, Airton Luiz. O uso religioso da internet no Brasil. PLURA, Revista de Estudos de Religião, [S.I.] v.1, n.1, p.202-2012, 2010. Disponível em: <http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/plura/article/view/15>. Acesso em: 21 outubro 2013. KARSAKLIAN, Elaine. Comportamento do consumidor. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004. KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de marketing. 9. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003. LADEIA, Bárbara. Reino Unido põem fim ao horário rígido e ao escritório fixo. EXAME.com, [S.I.], 06 mai. 2013. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/gestao/noticias/reino-unido-poe-fim-ao-horario-rigido-e-aoescritorio-fixo>. Acesso em: 27 outubro 2013. LAVILE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Editora UFMG, 1999. LIMEIRA, Tania M. Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. LINDSTROM, Martin. A lógica do consumo: verdades e mentiras sobre por que compramos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009. LIVRAMENTO, Mariana Nazaré; HOR-MEYLL, Luiz Fernando; PESSÔA, Luíz Alexandre C. de Paula. Valores que motivam mulheres de baixa renda a comprar produtos de beleza. Revista de Administração Mackenzie, São Paulo, v.14, n.1, p. 44-74, 2013. Disponível em: <http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/RAM/article/view/4066/3948>. Acesso em: 24 setembro 2013. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MASLOW, Abraham H; FRAGER, Robert. Motivation and personality. 3rd. ed. New York: Harper and Row, 1987. MATTAR, Frauze Najib. Pesquisa de marketing. 2. ed. (edição compacta). São Paulo: Atlas, 2000. MEIRELLES, Fernando S. Tecnologia da Informação – 24° Pesquisa anual de Uso de TI. FGV, São Paulo, 2013. Disponível em: <http://eaesp.fgvsp.br/ensinoeconhecimento/centros/cia/pesquisa>. Acesso em: 05 outubro 2013. 125 MOREIRA, Eduardo. Todos os homens com acesso à internet consomem conteúdo pornográfico. Tech Tudo, [S.I.], 05 fev. 2012. Disponível em:< http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2012/02/todos-os-homens-com-acesso-internetconsomem-conteudo-pornografico.html>. Acesso em: 19 outubro 2013. MOWEN, John C; MINOR, Michael. Comportamento do consumidor. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. NIELSEN. Brasil usa mais redes sociais em smartphones que países dos BRICS e Estados Unidos. Nielsen, Brasil, 06 jun. 2013. Disponível em: <http://www.nielsen.com/br/pt/nielsenpressroom/2013/brasil-usa-mais-redes-socias-em-smartphones-que-paises-dos-brics-e-estadounidos.html>. Acesso em: 05 outubro 2013. OLIVEIRA, Luciel Henrique de; GARCIA, Pedro Luengo; JULIARI, Cristiane Carvalho Braga. Outra verdade inconveniente – O mercado de trabalhos acadêmicos por encomenda: Um estudo exploratório com professores de administração. XXXV Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://fae.br/2009/mestrado/down/artigos/Mercado_de_Trabalhos_Academicos.pdf>. Acesso em: 27 outubro 2013. ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ROSSI, Jones. “O ambiente digital está alterando nosso cérebro de forma inédita”, diz neurologista britânica. Veja, [S.I.], 30 set. 2012. Disponível em:< http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/o-ambiente-digital-esta-alterando-nosso-cerebro-deforma-inedita-diz-neurologista-britanica>. Acesso em: 08 novembro 2013. RUIC, Gabriela. Internet já é a principal fonte de notícias para os americanos. EXAME.com [S.I.], 17 out. 2013. Disponível em:<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/internet-jae-principal-fonte-de-noticias-para-os-americanos?page=2>. Acesso em: 21 outubro 2013. SALA DE IMPRENSA INTEL BRASIL. Pesquisa da Intel mapeia a penetração de computadores e internet nos lares brasileiros. Sala de Imprensa Intel Brasil, [S.I.], 27 set. 2011. Disponível em: <http://newsroom.intel.com/community/pt_br/blog/2011/09/27/pesquisa-da-intel-mapeia-apenetra%C3%A7%C3%A3o-de-computadores-e-internet-nos-lares-brasileiros>. Acesso em: 05 outubro 2013. SANDHUSEN, Richard L. Marketing básico. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. SARRES, Carolina. Crianças participam de 80% das decisões de compra da família, aponta instituto. Agência Brasil, [S.I.], 05 mar. 2013. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-03-05/criancas-participam-de-80-das-decisoesde-compra-da-familia-aponta-instituto>. Acesso em: 02 novembro 2013. SARTRE, Jean Paul; PESSANHA, Jose Americo Motta. O existencialismo é um humanismo; A imaginação; Questão de Método. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 126 SCHIFFMAN, Leon G; KANUK, Leslie Lazar. Comportamento do Consumidor. 6. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 2000. SHETH, Jagdish N; MITTAL, Banwari; NEWMAN, Bruce I. Comportamento do cliente: indo além do comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2001. SOLOMON, Michael R. O comportamento do Consumidor: comprando, possuindo e sendo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. SPC BRASIL. Supermercado supera shopping Center nas compras por impulso, aponta pesquisa SPC Brasil. SPC BRASIL, [S.I.], 29 jul. 2013. Disponível em: <https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas/233supermercadosuperashoppingcenternascomprasporimpulsoapontapesquisaspcbrasil >. Acesso em: 02 novembro 2013. ______. Metade dos brasileiros já pagou por um produto que nunca usou, revela estudo do SPC Brasil. SPC BRASIL, [S.I.], 22 out. 2013. Disponível em: < https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas/298metadedosbrasileirosjapagouporumprodutoquenuncausourevelaestudodospcbrasil>. Acesso em: 02 novembro 2013. SUZUKI, Fernanda T. Icassati et al. O uso de videogames, jogos de computador e internet por uma amostra de universitários da Universidade de São Paulo. SCIELO - Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, v.58, n.3, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0047-20852009000300004&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 outubro 2013. ZAMPIERI GROHMANN, Márcia et al. Relação entre materialismo e estilo de consumo: homens e mulheres com comportamento dispare? Contad. Adm., México, v. 57, n. 1, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S018610422012000100009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 agosto 2013. 127 APÊNDICES APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista - 1° Etapa 1 – Para que finalidade (uso) o Sr. (a) está adquirindo este computador? APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista - 2° Etapa 1 – Informações para compor o perfil dos entrevistados: Idade: Escolaridade: Estado Civil: Renda: Reside em: 2 – Quantas horas por dia você utiliza o seu computador? 3 – Quantos dias por semana você utiliza o seu computador? 4 – Em que você mais utiliza o seu computador? (Programas, redes sociais, internet...) 5 – Em que você menos utiliza o seu computador? (Programas, redes sociais, internet...) 6 – Com relação ao desempenho do computador adquirido, você está satisfeito (a)? Ele supre a sua necessidade? 7 – Caso você tivesse que dar uma nota, que nota daria para o seu computador? 8 – Por que esta nota? 128 9 – Existe algum uso que você faz com o seu computador que nunca expôs para ninguém? 10 – As pessoas que você conhece, para que elas utilizam seus computadores além do trabalho? 11 – O que o levou a comprar o seu equipamento na Casa da Informática? • Realizou pesquisa de preços? • Alguém que você conhece indicou a loja? 12 – Pensando no momento da compra de seu computador, você se sentiu guiado pela emoção ou pela razão? 129 DECLARAÇÃO DO TRABALHO NA ORGANIZAÇÃO TIJUCAS, 08 de NOVEMBO de 2013. A empresa CASA INFORMÁTICA LTDA EPP declara, para os devidos fins, que o(a) estagiário(a) SUELE CAMATINI, aluno(a) do Curso de Administração do Centro de Educação de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, cumpriu a carga horária de estágio prevista para o período de 11/03/13 a 09/12/13, seguiu o cronograma de trabalho estipulado no Projeto de Estágio e respeitou nossas normas internas. __________________________________ Alexsandro Bastos 130 ASSINATURA DOS RESPONSÁVEIS Nome do estagiário Suele Camatini Orientador de conteúdo Prof. Dr. Luciano Dalla Giacomassa Supervisor de campo Alexsandro Bastos Responsável pelo Estágio Profª. Marisa Pigatto