EIXO PEDAGÓGICO Unidade 2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas Autora: Professora Adda Daniela Lima Figueiredo I. Introdução II. Abordagens Comportamentalistas III. Abordagens Neocomportamental IV. Referências #M2U2 I. Introdução A problemática da educação no Brasil constitui um fator de extrema relevância no que diz respeito a sua fundamentação teórica. Para discuti-la será realizado um recorte teórico acerca de sua história, cujo período de análise inicia-se no século XIX, quando a questão da democratização do ensino começou a tornar-se uma realidade e as primeiras escolas normais foram criadas no Brasil. Desta época até os dias atuais, temse buscado uma forma de melhor qualificação do processo de aprendizagem, tanto nas diferentes instâncias do ensino – público e/ou privada; como nas distintas modalidades que o constituem. Nessa perspectiva, a questão de como o conhecimento humano ocorre tem se mostrado uma preocupação recorrente, sendo possível haver abordagens diversas, tendo em comum apenas o alicerce básico para sua investigação: o objeto, o sujeito ou a interação entre ambos. Uma das formas para explicação e entendimento desse fenômeno é o comportamentalismo, o qual afirma que este resulta de uma relação sujeito-ambiente, ou seja, deriva de uma tomada de posição epistemológica sobre conceitos diversos de homem, mundo, cultura, sociedade, educação, entre outros. As abordagens educacionais que discutem a relação sujeito-objeto fornecem diretrizes à ação docente, explicitando um organizado grupo de idéias que procuram subsidiar e justificar a prática educativa, mesmo sabendo do caráter individual e intransferível facultado ao professor, a partir de suas próprias vivências e condições. As teorias educacionais contemporâneas apóiam-se em abordagens subjetivistas ou objetivistas. O comportamentalismo e o neocomportamentalismo vêm de uma visão objetivista de mundo, de sociedade, de homem. Por esse motivo, a ênfase nestas teorias é com tudo que é visível e mensurável. As teorias de fundo cognitivo têm uma visão subjetivista e isto se reflete em seus pressupostos de aprendizagem – aprender é uma gradativa e contínua transformação das estruturas do pensamento, não necessariamente visíveis e mensuráveis. 52 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia Saiba mais Teorias educacionais são hipóteses e modelos pelo qual o ser humano aprende. P Pedagógico BSC A atualidade aponta como tendência o uso flexível de estilos e teorias pedagógicas, para atender à diversidade dos recursos e dos alunos presentes. As perspectivas evolutivas do processo ensino-aprendizagem neste final de milênio revelam a importância crescente de se promover novos modelos de aprendizagem e interatividade. Saiba mais A práxis científica compreende o conjunto das atividades desempenhadas pelos cientistas, tendo por finalidade a produção de novos conhecimentos científicos. Desta forma, torna-se pertinente tecer comentário sobre as principais abordagens pedagógicas que influenciam a formação do processo ensino-aprendizagem e causam impactos no processo de desenvolvimento educacional de nosso país, propiciando a construção do ideário pedagógico a partir de reflexões sobre o aprender, o analisar e o discutir acerca das abordagens teóricas existentes, aproximando o discurso e a práxis. O acadêmico, ao utilizar este material, deverá ser capaz de: Interpretar e refletir sobre o fenômeno educacional, no âmbito das abordagens comportamentalistas e neocomportamentalistas. Reconhecer as características gerais, relação homem-mundo, sociedade-cultura, conhecimento-educação, escola-aprendizagem e a relação professor-aluno nas abordagens comportamentalistas e neocomportamentalistas. Compreender a influência destas teorias educacionais no ensino de hoje. Saiba mais A abordagem inatista baseia-se na crença de que as capacidades básicas de cada ser humano (personalidade, potencial, valores, comportamentos, formas de pensar e de conhecer) são inatas, ou seja, já se encontram praticamente prontas no momento do nascimento, ou potencialmente determinadas e na dependência do amadurecimento para se manifestar. Este conceito é tratado por Becker (1997) como sendo a hipótese segundo a qual a capacidade de conhecer ou de aprender do sujeito é devida à experiência adquirida em função do meio físico mediada pelos sentidos. #M2U2 II. Abordagens Comportamentalistas O comportamentalismo também denominado como abordagem objetivista, behaviorista, que deriva da concepção inatista, é o mais tradicional sistema de ensino, sendo caracterizado por ser o primata do empirismo. Tem como origem a psicologia experimental de Watson (século XX) que possui como pressuposto a visão do homem como um organismo passivo, governado por estímulos fornecidos pelo ambiente externo. Os comportamentalistas conceituam como comportamento tudo que pode ser observado e tudo o que responde à mudança em contingências de reforço. A teoria behaviorista vê a mente como uma “caixa preta” concentrando-se no estudo de comportamentos públicos que podem ser observados e podem ser medidos, ignorando os processos de pensamento que ocorrem na mente. Desta forma, o conhecimento consiste na forma de ordenar as experiências, estruturadas indutivamente, e os eventos do universo. O homem na visão comportamentalista é produto do meio, que só é ideal quando fruto de planejamento social e cultural. Dessa forma, a educação deverá transmitir conhecimentos, assim como comportamentos éticos, prático-sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural, social, etc.). A escola, nesta abordagem, não assume o papel de agência de controle social, sendo, portanto, o local que educa formalmente para os padrões sociais desejáveis. Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, notas, prêmios etc., os quais, por sua vez, estão associados com uma outra classe de reforçadores mais remotos e generalizados, tais como: diploma, vantagens da futura profissão, aprovação final no curso, possibilidade de ascensão social, montaria, status, prestígio da profissão, entre outros. Os elementos mínimos a serem considerados para a efetivação neste sistema instrucional são: o aluno, um objetivo de aprendizagem e um plano para alcançar o objetivo proposto, sendo a aprendizagem garantida pela sua programação. Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 53 B # M2U2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas Aos educadores cabe a responsabilidade de planejar e desenvolver o sistema de ensino-aprendizagem, de forma tal que o desempenho aumente a probabilidade de ocorrência de uma resposta a ser apreendida. A punição é freqüentemente utilizada como meio de reforço negativo às atitudes que vão contra os objetivos pré-estabelecidos pelo educador. Já o educando é passivo e trabalha individualmente cumprindo metas. O conteúdo transmitido visa habilidades que levem à competência e modelagem do comportamento humano, a partir de reforços, desprezando os elementos não observáveis ou subjacentes a este mesmo comportamento. Qualquer estratégia instrucional deve, pois, estar baseada em princípios da tecnologia educacional. Principais teóricos comportamentalistas John Broadus Watson (1878- 1958) Desenvolveu sua teoria do comportamento utilizando diversos tipos de animais e humanos em suas experiências. Seu programa de pesquisa se contrapôs às abordagens introspectivas da psicologia. Entendia a psicologia como a parte das ciências naturais que toma o comportamento como objeto de estudo a ser investigado por meio de estímulos e respostas. Os pressupostos de sua teoria são os seguintes: O comportamento compõe-se de elementos de resposta e pode ser analisado em cada átomo de sua constituição. O comportamento é redutível a processos físico-químicos, pois é constituído inteiramente de secreções glandulares e movimentos musculares. Existe sempre uma resposta a todo e qualquer estímulo, já que toda a resposta tem alguma espécie de estímulo. Os comportamentos mais complexos podem ser entendidos como cadeias (redes) de reflexos mais simples. Há inúmeras reações aos estímulos que são hereditárias, as quais se transformam - por condicionamento - em diferenciações individuais mais complexas. Os processos conscientes não podem ser estudados cientificamente. As formulações de Watson remetem à idéia de que o comportamento é orientado pelos condicionamentos e que o conjunto de sons, imagens e palavras que utilizamos, gera sempre um elenco de respostas condicionadas em quem recebe a mensagem, o que implica na necessidade de estudar estas reações autônomas dos indivíduos a elas. Além disso, é possível recondicionar trabalhando com sons, imagens e palavras que remetam a uma motivação positiva frente à mensagem, e que, portanto, o estudo das reações às várias configurações da mensagem é importante para construí-la. Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) Formulou sua teoria do reflexo no início do século. Sua hipótese fundamental tem três aspectos indissociáveis. A espécie animal responde aos estímulos do ambiente de forma incondicionada. 54 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia Saiba mais Psicólogo, norte americano, fundador da teoria behaviorista. P Pedagógico Saiba mais Filósofo russo, vencedor do prêmio Nobel de medicina em 1904, estudou a psicologia comportamental, teorizando e enunciando o mecanismo do condicionamento clássico. BSC É possível condicionar a resposta a partir de estímulos neutros, modificando o comportamento incondicionado. Os estímulos neutros passam a ser estímulos condicionados. Esquematicamente, sua formulação decorre de uma experiência que pode ser representada assim: Estímulo incondicionado (ambiente) >> resposta incondicionada Estímulo ambiente + estímulo neutro >> resposta Estímulo condicionado >> resposta condicionada Os comportamentos de resposta estão vinculados às ações do sistema nervoso autônomo, enquanto que os comportamentos operantes estão ancorados no sistema nervoso central. As formulações de Pavlov e de seu colaborador Bechterev influenciaram a psicologia norte-americana por meio da escola behaviorista. Skinner, posteriormente, vai caracterizar as formas de condicionamento Pavlovianos-Watsonianos como “respondentes” em contraposição aos condicionamentos operantes. Edward Lee Thorndike (1874-1949) Saiba mais Psicólogo norteamericano, que de forma objetiva, conceitua a aprendizagem por ensaio-e-erro, propondo as bases do behaviorismo de Skinner. Para Thorndike, a aprendizagem é o processo (passivo, mecânico e automático) de selecionar e associar unidades físicas e mentais, gravando as respostas corretas e eliminando as incorretas, como resultado de suas conseqüências agradáveis (recompensa) ou desagradáveis (punição). A esse gravar e eliminar ele nomeou como conseqüências da Lei de Efeito, segundo a qual, se consolida a resposta seguida de satisfação e tende a desaparecer, seguida de castigo. Antes de ser integrado ao paradigma comportamentalista, Thorndike foi criticado por sua ênfase nas sensações agradáveis e desagradáveis como elemento de fixação de respostas. Depois de responder às críticas, sua teoria acabou incorporada às correntes behavioristas. Suas formulações inserem-se em uma lógica positivista de forma pragmática (sem e com pouca enunciação epistemológica) de fazer ciência. A lei do efeito: Todo e qualquer ato que produz satisfação ao ocorrer, quando reproduzido, tem maior probabilidade de repetir-se de que antes. A punição e o desprazer não se comparam em absoluto ao efeito positivo da recompensa a uma determinada resposta. O efeito de prazer é, portanto, o que fixa o acerto (resposta) acidental. Em termos pedagógicos, o agradável é o sucesso do ensaio realizado pelo sujeito e o desagradável é o fracasso decorrente de obstáculos. Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 55 B # M2U2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas Podemos avaliar a lei do efeito de acordo com a Tabela 1, logo abaixo. Tabela 1 – Interpretação da Lei do efeito de Thorndike Ato desagradável Ato agradável Resultado Obstáculo Sucesso Comportamento Não se repete Repete-se A lei do exercício: A associação exercitada com maior freqüência sob idênticas condições será a mais utilizada pelo sujeito. A associação exercitada com menor freqüência sob idênticas condições será a menos utilizada pelo sujeito. A associação exercitada mais recentemente sob idênticas condições será mais forte no conjunto de repertório de respostas do sujeito. Outros princípios: As conexões estímulo-resposta mais próximas ao recompensado tendem também a se fortalecer frente a uma determinada situação idêntica. O comportamento é seletivo em uma determinada situação, isto é: do conjunto de estímulos presentes em um determinado ambiente respondem a alguns dos estímulos em detrimento de outros considerados triviais. Diferença entre associacionismo Pavloviano-Watsoniano e de Thorndike: A teoria do reflexo condicionado de Pavlov e o behaviorismo de Watson procuram associar novos estímulos (antes neutros) a respostas incondicionadas, para assim superar os limites dos estímulos anteriores. A teoria de Thorndike busca a experimentação do efeito das recompensas e punições sobre a resposta dada a um determinado estímulo. Burrhus Frederic Skinner (1904 - 1990) Partindo dos mesmos pressupostos epistemológicos de Watson, o modelo de Skinner adota o associacionismo de Thorndike como base de suas formulações psicológicas do comportamento, que são marcadas pela preocupação com a aprendizagem. A lei do efeito é apropriada por Skinner para definir os comportamentos operantes, constituídos por associações estímulo-reforço (positivo ou negativo) às respostas de um sujeito. Suas formulações resultaram na “instrução programada” e no “ensino melhorado” (utilizando o computador). Por outro lado, suas formulações fundamentam muitas análises sobre a mensagem dos meios de comunicação de massa, especialmente a publicitária. Os pressupostos de sua teoria são os seguintes: O comportamento é aquilo que pode ser objetivamente estudado. A personalidade é uma coleção de comportamentos objetivamente analisáveis. As idéias de liberdade, autonomia, dignidade e criatividade são ficções sobre 56 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia P Pedagógico Saiba mais comportamento sem valor explicativo e científico, na medida em que apenas expressam tipos variados de condicionamento. Skinner, psicólogo americano responsável pelo avanço da análise experimental do comportamento. O comportamento pode ser modelado pela administração de reforços positivos e negativos, o que implica também em uma relação causal entre reforço (causa) e comportamento (efeito). BSC Os reforços: O programa experimental de Skinner é o da sistematização de um reforço, provando ou não o sujeito do mesmo conforme um comportamento rigorosamente pretendido. A eficácia do reforço depende da proximidade temporal e espacial em relação ao comportamento que se que pretende modelar, sob pena de incidir sobre outro que não esteja em questão. Um reforço positivo fortalece a probabilidade do comportamento pretendido que segue. O seu registro é a presença (positividade) de uma recompensa. Um reforço negativo enfraquece um determinado comportamento em proveito de outro que faça cessar o desprazer com uma situação. Portanto, o seu registro é a ausência (retirada) de um estímulo que cause desprazer após a resposta pretendida. Ambos, entretanto, incidem após a emergência de um comportamento pretendido pelo experimentador. O processo de extinção de um estímulo ocorre quando um comportamento, que antes fora reforçado, não resulta mais em reforço, tornando-se assim, cada vez menos freqüente (Nye, 2002). É a diminuição de resposta que ocorre quando o reforço deixa de existir. Na extinção, ocorre um término do reforço que mantém um comportamento operante, fazendo que o mesmo se torne menos freqüente ou, até mesmo, não seja mais exibido (Hall et al., 2000). A punição: A punição é diferente do reforço negativo. Em termos conceituais, a punição referese a um desprazer (estímulo) que se faz presente após um determinado comportamento não pretendido por aquele que a aplica, enquanto que o reforço negativo se caracteriza pela ausência (retirada) do desprazer após a ocorrência de um comportamento pretendido por aquele que o promove. O pai reclama do filho até que cumpra uma tarefa: ao cumpri-la, o filho escapa às reclamações (reforçando o comportamento do pai). [...] Um professor ameaça seus alunos de castigos corporais ou de reprovação, até que resolvam prestar atenção à aula; se obedecerem estarão afastando a ameaça de castigo (e reforçam seu emprego pelo professor). De uma ou outra forma, o controle adverso intencional é o padrão de quase todo o ajustamento social - na ética, na religião, no governo, na economia, na educação, na psicoterapia e na vida família. (SKINNER, 1971, p. 26-27). O condicionamento operante: O condicionamento operante refere-se aos estímulos que seguem a resposta, isto é, posterior a ela, ao contrário do condicionamento respondente em que o estímulo antecede a resposta; O condicionamento operante permite modelar um determinado comportamento pretendido por meio da administração dos reforços; Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 57 B # M2U2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas Há várias formas de modelagem através do condicionamento operante. O sujeito possui um repertório de condicionamento operante que, em grande parte, pode ter sido gerado em situações incontigentes. A proposta psicopedagógica de Skinner: Apresentações das informações em pequenas etapas (para que possa haver controle de cada avanço da aprendizagem). Exigência de participação ativa do aluno (resposta) por meio de um sistema de avaliação ancorado na reprodução da resposta (o que significa a oposição de Skinner aos sistemas de escolha múltipla, sugeridos por Crowder e Pressey); Reforço imediato à resposta, no sentido de um feedback indicando acerto ou erro. Autocontrole por parte do aluno, isto é, o aluno que responde corretamente às questões pode passar a módulos posteriores. Avaliação e aprendizagem: O papel da avaliação na aprendizagem está no contexto de uma concepção que supervaloriza o acerto (a incidência de erro deve ser igual a zero) por parte de Skinner. Esta preocupação é indissociável a um conhecimento técnico-científico em construção e aplicação no período de guerra – em que cada erro poderia significar perdas materiais e humanas elevadas. Coerente com a teoria do reforço, a aprendizagem não é entendida como o resultado de penalidade. Para que haja controle da tríade estímulo - resposta - reforço, a aprendizagem e a avaliação devem ser feitas pelos itens acima. De acordo com Skinner, segue abaixo a seqüência dos eventos nas atividades desenvolvidas em sala de aula, denominado por programas lineares: Apresentação da matéria ou conteúdo em seqüências curtas. O aluno responde apenas a uma pergunta de cada vez. O aluno dispõe de um tempo preciso para responder ao perguntado. O aluno não deve passar para o item seguinte antes de haver respondido ao anterior. As perguntas são propositalmente muito simples, para que os alunos cometam poucos erros. Depois de responder, o aluno comprova (verifica) imediatamente a correção ou inexatidão de sua resposta, comparando-a com a resposta correta dado no próprio texto. As seqüências são intimamente encadeadas em progressão racional. O aluno é levado, desse modo, gradual e logicamente, a um domínio cada vez mais completo do assunto. Atividade complementar 1 Você considera importante, como professor, saber de antemão exatamente o que deseja de seus alunos? É possível planejar o aprendizado em detalhes? Vejamos um exemplo da metodologia de Skinner relacionada com a mensagem publicitária e a promessa de reforços: 58 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia Saiba mais * Sidney Pressey em 1915 criou e programou uma espécie de máquina de testes de ensino usando questões de múltipla escolha. Seu funcionamento era bastante simples “em resposta a uma pergunta, o estudante apertava botões intitulados A, B, C e D até selecionar a correta que destravava a máquina” (Thompson, 1973, p. 173). Seu trabalho serviu de inspiração para Skinner, entretanto para Pressey o erro é visto como uma oportunidade para reensinar e para a elaboração de conceitos que não foram entendidos, enquanto para os programadores skinnerianos os erros apenas reforçam respostas corretas. * Norman Crowder em 1959 publica que discordava da linearidade dos programas Skinnerianos e seus métodos na construção de estruturas. Para Crowder se o estudante respondesse a uma questão incorretamente poderia ser encaminhado para uma ramificação do programa onde receberia um reforço em determinados conteúdos, para então poder retornar à linha principal do programa. Por essa razão seu programa era também denominado de intrínseco ou ramificado. P Pedagógico BSC A sistematização feita por Skinner permite compreender a força da publicidade sob o prisma da promessa de reforço, subjacente às suas mensagens. Por um lado, a promessa de reforço negativo, caso o receptor passe a consumir determinada marca/produto, na medida em que uma determinada situação de insatisfação cessa. Por outro lado, a promessa de reforço positivo, caso o receptor passe a consumir determinada marca/produto, na medida em que terá novas satisfações (mulheres, praias, conforto, corpo atlético, etc.). Eventualmente, a publicidade remete ao produto concorrente como aquele que mantém a insatisfação. Em todos os casos, o reforço é uma promessa e como tal é uma possibilidade não materializada. Questão Resposta Avaliação Feedback Nova Questão Resposta Avaliação Atividade complementar 2 Faça uma busca em livros da área de pedagogia e psicologia sobre a biografia dos autores supracitados. #M2U2 III. Abordagens Neocomportamental As teorias neocomportamentalistas entendem a aprendizagem como mudanças observáveis de comportamento, mas incorporam no escopo de umas teorias os processamentos mentais internos. Robert Gagné (1916-2001) Saiba mais Psicólogo norte americano, considerado o mais importante representante da ponte entre o comportamentalismo e o construtivismo. Gagné considera a aprendizagem como uma “mudança comportamental” seguida da permanência desta mudança. A aprendizagem é ativada por uma, variedade de tipos de estimulação provenientes da interação do indivíduo com o ambiente. Esta estimulação é considerada o input para os processos de aprendizagem e gera uma modificação de comportamento, que é observada como desempenho humano, o output. A situação de aprendizagem em Gagné envolve quatro elementos: um aprendiz, uma situação em que a aprendizagem possa ocorrer, alguma forma de comportamento explícito por parte do aprendiz e uma mudança interna. A aprendizagem de habilidades intelectuais obedece a uma ordem hierárquica que se inicia com conexões estímulo-resposta, passando por cadeias, conceitos e regras, até chegar à solução de problemas. Qualquer habilidaConsórcio Setentrional de Ensino a Distância 59 B # M2U2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas de intelectual pode ser analisada em termos de habilidades mais simples que necessitem ser combinada para produzir sua aprendizagem. As habilidades mais simples podem ser compostas de habilidades ainda mais simples, que são pré-requisitos, resultando em uma estruturação de habilidades “hierarquia de aprendizagem”. Para utilizar a abordagem de Gagné na prática educativa, o professor deve promover a aprendizagem por meio da instrução. Ele é responsável por motivar o aluno, procurar discutir as idéias, avaliar o desempenho, determinar com antecedência os procedimentos mais adequados ao conteúdo, estabelecendo seus pré-requisitos. Nesta teoria, são pontos principais: a aprendizagem como mudança comportamental persistente, as mudanças internas, a aprendizagem em ordem hierárquica e o reforço (Tabela 2). O neocomportamentalismo vem das mesmas origens objetivistas do construtivismo, mas no arcabouço da teoria está inserida a visão do processo de aprendizagem também como um evento interno, fruto de complexos processos mentais, por obedecerem a uma ordem hierárquica que se inicia com conexões, estímulos, resposta, passando por cadeias, conceitos e regras, até chegar à solução do problema. Tabela 2 – Os nove eventos do modelo de instrução de Gagné, seguidos de exemplo. Fonte: Adaptado de Gagné (1974). MODELO DE INSTRUÇÃO DE GAGNÉ Ganhe a atenção (recepção) *Apresente um bom problema ou uma nova situação. *Apresentação multimídia, vídeo, livro, etc Informe ao aprendiz o objetivo (expectativa) *Descreva o objetivo da aula. *Estabeleça o que os aprendizes serão capazes de fazer. *Estabeleça como os aprendizes podem: aplicar conhecimento, fazer uso de conhecimento. *Dê demonstrações. Relembre o conhecimento anterior (recuperação) *Relembre os aprendizes de conhecimentos anteriores. *Explique como o conhecimento é conectado. *Providencie padrões, modelos que ajudem a aprendizagem e a memorização. Apresente o material a ser aprendido (percepção seletiva) *Textos, gráficos, simulações, símbolos, desenhos, som. *Siga um estilo consistente de apresentação. Providencie orientação ao aprendiz (código semântico) *Apresentação do conteúdo é diferente de apresentação de instruções. *Deve ser mais fácil do que o conteúdo. Demande atuação (resposta) *Praticar habilidades. *Responder a estímulos. *Aplicar conhecimentos. *Demonstração sem penalidade. Providencie feedback informativo (reforço) *Corrija os erros *Aponte, destaque a resposta correta. *Analise o comportamento do aprendiz. Avalie a atuação (recuperação) *Teste, projeto, portfolio, demonstração de habilidade. Acrescente fixação e transferência (generalização) *Dê exemplos de situações com problemas similares. *Providencie prática adicional. *Providencie uma situação de transferência de conhecimento. *Reveja a lição. Albert Bandura (1925 - ) Suas pesquisas centram-se na observação do comportamento humano em interação social. Não usa a introspecção e, como Skinner, enfatiza o papel do reforço na aquisição e modificação do comportamento. Além de comportamental seu sistema é cognitivo. 60 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia Saiba mais Bandura nasceu no Canadá e é considerado o criador da Psicologia Social Cognitiva P Pedagógico BSC Considera a influência dos processos de pensamento como crenças, expectativas e instruções em seu programa de reforço. Para ele, o homem não reage feito um robô às influências externas, as reações aos estímulos são auto-ativadas. Quando um estímulo afeta o comportamento, o faz porque o sujeito sabe, devido às regras aprendidas em seu grupo social, o que é ou não passível de reforço, age conscientemente, antecipando as situações e os comportamentos sociais passíveis de serem reforçados. Acredita que, ao longo do processo de aprendizagem, um comportamento não precisa ser diretamente reforçado para ser adquirido. Todo ser humano tem capacidade de aprender observando as conseqüências ambientais sobre o comportamento das pessoas a sua volta. Chama este tipo de aprendizagem como vicariante e o reforço que a possibilitou de vicário. Ou seja, o comportamento pode ser adquirido na ausência do reforço, ainda que o indivíduo espere obter os mesmos tipos de reforço que os modelos observados. Por conseguinte, não há, para ele, uma ligação necessária entre um estímulo e uma resposta, ou entre um comportamento e reforço, como propunha Skinner. Ao invés disso, há um sistema que media, os processos cognitivos da pessoa. Bandura fez vários experimentos expondo crianças a desenhos violentos e não violentos. Observou que imediatamente após terem visto um desenho ou programa infantil violento, as crianças tendiam, em situação experimental, escolher brinquedos mais associados com atos de violência e a brincarem na mesma direção. A freqüência desses comportamentos era significativamente superior quando comparados com grupos controle. Chamou atenção, assim, para os efeitos que a televisão pode ter na aquisição e exibição de comportamentos pelas pessoas. As idéias de Bandura têm se mostrado eficaz na prática clínica, mais especificamente, na extinção de fobias de muitos tipos. Têm sido aplicadas em sala de aulas, nas indústrias e na execução de campanhas publicitárias. Sua teoria e terapia são congruentes com as necessidades práticas e com os discursos de nossa época, que valorizam tanto a aprendizagem como o meio social. Não podemos esquecer que a Psicologia sofreu forte influência dos trabalhos de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo, notadamente a partir da década de 1960. Piaget reavivou o interesse pelo estudo dos processos mentais na Psicologia, ganhou notoriedade e publicou uma grande quantidade de artigos e livros. Suas idéias não passaram despercebidas pelos comportamentalistas que, ao modo deles, sem abandonar seus pressupostos básicos, introduziram a “cognição” como um de seus objetos de estudo. Atividade complementar 3 Visite os sites abaixo e busque novos conhecimentos sobre o tema abordado neste módulo. Página do Planeta Educação com explicações sobre várias teorias pedagógicas. http://www.planetaeducacao.com.br/professores/suporteaoprof/pedagogia/ teorias00.asp Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 61 B # M2U2 As Abordagens Comportamentalistas e Neocomportamentalistas Página em inglês da Funderstanding, com explicações das teorias da aprendizagem. http://www.funderstanding.com/behaviorism.cfm Página em inglês sobre as teorias de aprendizagem, com vários links para cada uma delas. http://www.emtech.net/learning_theories.htm#Subsumtion1 Quadro comparativo com vários links em inglês sobre as teorias de aprendizagem. http://chd.gse.gmu.edu/immersion/knowledgebase/ Atividade complementar 4 Observe o quadro abaixo e responda: Esses sistemas de ensino ainda estão presentes em nossas escolas? Abordagem Comportamentalista Neocomportamentalista Diretrizes Básicas para Modelagem de Usuário Fragmentar o conteúdo instrucional em pequenas seqüências que serão propostas diferentes de acordo com a evolução das interações. Cada seqüência deve conter a explicação de raciocínio. Identificar o nível de conhecimento do aluno. Associar o nível do aluno ao nível do domínio do conhecimento correspondente. Evoluir na apresentação do conteúdo instrucional de forma gradual, avaliando se o aluno comete erros. Evitar os erros por meio de reforços positivos. Organizar os conteúdos em ordem crescente de complexidade com materiais introdutórios. Possuir algum mecanismo que perceba os interesses do aluno. Identificar o nível inicial de conhecimento do aluno. Trabalhar os conceitos primitivos, estimulando a formação de regras, apoiando-se em fases instrucionais. Ter algum mecanismo capaz de reconhecer as mudanças comportamentais, inferindo o nível do aluno a partir do resultado de suas interações com o sistema. #M2U2 IV. Referências Bock, A. M. B. Psicologias. 13 ed. São Paulo-SP: Saraiva. 1999. Kelder, F. Aprendizagem: teoria do reforço. São Paulo: EPU, 1973. Gagné, R. M. The conditions of learning. 3. ed. Holt, Rinehart e Winston, 1974. Holland, J. G.; Skinner, B. F. A análise do comportamento. São Paulo: Herder/USP, 1969. Hall, S. C.; Lindzey, G.; Campbell, B. J. Teorias da personalidade. 4. ed., Porto Alegre: Artmed, 2000. Mizukami, M. da G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. 62 Módulo II — Processos biológicos na captação e na transformação da matéria e da energia P Pedagógico BSC Nye, D. R. Três psicologias. São Paulo: Pioneira, 2002.In: Oliveira, J. B. A.; Chadwick, C. B. Tecnologia Educacional: teorias da instrução. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. Skinner, B. F. Walden II: uma sociedade do futuro. São Paulo: Herder/USP, 1972. _____ . Beyond freedom and dignity. New York: Alfred A. Knopf. 1971. Thompson, J. J. Anatomia da comunicação. Tradução José Monteiro Salazar. Rio de Janeiro: Bloch Editores S. A. 1973. Consórcio Setentrional de Ensino a Distância 63 B