Desafios no controle do diabetes no Brasil e o papel da educação Artigo publicado na Agência Estado Um marco no controle do diabetes no Brasil foi estabelecido no ano passado com a aprovação da lei 11.347, que instituiu a Política Nacional de Atenção ao Diabetes. Prevista para entrar em vigor no final de setembro, a nova política prevê que portadores de diabetes de todo o País recebam gratuitamente medicamentos e insumos indispensáveis para o controle da disfunção, como monitores de glicemia, tiras e seringas para aplicação de insulina. Esse avanço da política pública é comemorado pelas pessoas com diabetes, sociedades médicas e as associações de diabetes, que tanto batalharam pela ampliação do acesso aos melhores tratamentos. Segundo estimativas da Sociedade Brasileira de Diabetes, há 12 milhões de pessoas com diabetes no Brasil, sendo que metade não sabe que tem o problema. De acordo com um levantamento recente feito com 6,7 mil pessoas com diabetes em 10 cidades brasileiras, 75% delas não fazem um controle adequado da doença.Um dos pilares para mudar esse cenário é oferecer tratamento completo. O outro pilar que precisa ser reforçado é, sem dúvida, a informação sobre a doença e a educação em diabetes, afinal, de nada adianta ter os medicamentos e insumos em mãos sem saber a importância de usá-los e como fazê-lo corretamente. O controle adequado do diabetes depende também de várias atitudes que a pessoa deve incorporar à sua rotina. Entre elas, a monitorização diária da glicemia (taxa de açúcar no sangue), alimentação adequada, a prática de exercícios físicos, uso adequado do medicamento oral, preparo e aplicação corretos da insulina. As pessoas precisam ser sensibilizadas e orientadas sobre tais cuidados, fundamentais para prevenir as complicações agudas (excesso ou falta de glicose no sangue) e crônicas da doença, como problemas cardiovasculares, perda gradativa da visão, ferimentos nos pés, problemas renais, entre outras condições debilitantes. O problema é que, hoje, não há uma rotina estabelecida de orientação ao portador de diabetes em todas as unidades de saúde e nem sempre os profissionais de saúde receberam treinamento específico para isso. Essa situação aumenta o risco de erros no preparo, na dosagem e na aplicação da insulina, sem contar com as falhas na monitorização da glicemia. Muitas pessoas não sabem, por exemplo, que existem agulhas e seringa com tamanhos diferentes e que sua escolha é parte importante do tratamento do diabetes quando se aplica insulina. A seringa deve ser adequada à quantidade de insulina prescrita pelo médico, assim como agulha deve ser compatível com o tipo físico da pessoa. Em função do enorme desafio de levar educação a todos os portadores de diabetes no Brasil, sociedades médicas e associações de diabéticos vêm fazendo um trabalho louvável de conscientização e esclarecimento. Não podemos deixar de comentar as ações empreendidas pela iniciativa privada, criando diversos canais de informação e atendimento voltados para a educação em diabetes. Pioneiro nesse campo, o Centro BD de Educação em Diabetes vem há 22 anos realizando ações educativas e prestando esclarecimentos sobre a doença para a população em geral e já conta 87 mil pessoas cadastradas. Num esforço conjunto, associações, sociedades científicas, iniciativa privada e representantes do governo se reuniram recentemente em Brasília para discutir e propor um modelo de educação em diabetes a ser adotado pelo Ministério da Saúde. A mobilização rendeu frutos e o governo já está se organizando para a implantação de um Programa Nacional de Educação em Diabetes. A expectativa de todos os grupos organizados é de que esse programa educacional seja implementado nacionalmente o mais rápido possível. Até porque, de acordo com a lei 11.347, a distribuição gratuita dos medicamentos e insumos só acontecerá nos locais onde houver um programa de educação sobre a doença, com os pacientes devidamente inscritos. A educação é essencial e deve ser colocada em prática, e não deve ser um empecilho para a aplicação da Política Nacional de Atenção ao Diabetes. Texto elaborado por: Marcia Oliveira, Enfermeira e Coordenadora do Centro BD de Educação em Diabetes