33 PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO Dr. Mário Pantaroto Alexandre Venâncio de Sousa O sucesso do tratamento cirúrgico depende do preparo pré-operatório, que tem início a partir da abordagem clínica (anamnese e a avaliação física criteriosa), dos exames pré-operatórios (quando necessários) e de cuidados que antecedem a cirurgia. RISCO CIRÚRGICO Consiste numa avaliação clínica e laboratorial, através de uma escala, sendo a mais utilizada a da Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA). ASA l: paciente saudável e normal. ASA ll: portador de doença sistêmica leve a moderada. ASA lll: portador de doença sistêmica grave, com limitação, sem ser, incapacitante. ASA lV: paciente com doença sistêmica incapacitante. ASA V: paciente moribundo. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL O estado nutricional é fundamental no processo cicatricial, na defesa imunológica e na prevenção da morbi-mortalidade. Pode ser avaliado através de medidas antropométricas como peso, prega tricipital, circunferência do braço e massa corpórea. Exames laboratoriais como albumina sérica menor do que 3,5 g/dl e contagem de linfócitos inferior a 1500/mm3, se acompanham de mau prognóstico. Perda ponderal superior a 5%, em 30 dias, sugere intensa depleção protéica, o que implica em aumento das complicações pós-operatórias. Nas cirurgias eletivas em pacientes desnutridos, podem se beneficiar de terapêutica nutricional específica. Na impossibilidade de se alimentar através do tubo digestivo, devem ser alimentados por nutrição parenteral, por um período mínimo de 10 dias. 34 EXAMES COMPLEMENTARES: PRINCIPAIS INDICAÇÕES Não se recomenda requisição de bateria de exames laboratoriais como rotina. Hemograma: Nas intervenções de grande porte, suspeita de anemia, infecção, radioterapia ou quimioterapia. Tempo e atividade de protrombina (TAP), e o tempo parcial de tromboplastina (TPT), em pacientes com história de sangramentos anormais, operações vasculares, neurológicas, hepatopatias, neoplasias, doenças hematológicas. Tipagem e reserva de sangue: nos procedimentos cirúrgicos de grande porte, com possibilidade de grandes perdas de sangue. Glicemia: pacientes acima de 40 anos, história pessoal ou familiar de diabetes, uso de corticóides ou tiazídicos, pancreatopatias. Creatinina: pacientes acima de 40 anos, história pessoal ou familiar de nefropatias, hipertensão arterial, diabetes. Eletrólitos: pacientes em uso de diuréticos, corticóides, cardiopatias ou hepatopatia. Urocultura: se história de infecção urinária de repetição, litíase urinária, disúria. Parasitológico de fezes: nas cirurgias digestivas. RX de tórax: em pacientes acima de 60 anos, pneumopatas, cardiopatas, portadores de neoplasias, tabagistas. ECG. Em homens acima de 40 anos e mulheres acima de 50 anos, ou pacientes hipertensos que cursam com cardiopatias, diabéticos ou com sintomas de angina. Quando normais e sem alteração clínica, estes exames têm validade de seis meses. OBS: Cirurgia de pequeno e médio porte em paciente jovem, sem patologia associada, não necessita exame laboratorial de rotina no pré-operatório. TRANSFUSÃO DE SANGUE A indicação de transfusão pré-operatória deve ser baseada principalmente em critérios clínicos, sobretudo em pacientes com hemoglobina menor que 8 g/100ml. Em cirurgias eletivas de grande porte deve-se fazer reserva de sangue e derivados. Sempre que possível deve ser indicada a reserva com coleta programada do próprio paciente (auto- transfusão). 35 CUIDADOS PRÉ-OPERATÓRIOS Orientar o paciente a trazer todos os exames pré-operatórios no dia da internação, independente de já terem sido vistos pelo médico. Evitar fumar ou ingerir bebida alcoólica nos dias que antecedem a cirurgia. Esclarecer o paciente em relação ao procedimento cirúrgico que será submetido, e suas possíveis complicações. Solicitar o consentimento responsável assinado, em anexo. Visita pré-anestésica: é importante no planejamento da anestesia. A consulta e a informação prestada pelo anestesista ao paciente quando associados à sedação, diminuem a ansiedade e o medo. Jejum de oito horas no mínimo, para anestesia geral, bloqueio subdural ou peridural. MEDICAMENTOS QUE DEVEM SER SUSPENSOS Anticoagulantes orais: Devem ser substituídos por heparina de baixo peso molecular cinco dias antes da cirurgia. Nas cirurgias de urgência, transfundir plasma fresco, 20 ml/kg (conforme alteração do coagulograma). Ácido acetil salicílico: deve ser suspenso 10 dias antes da cirurgia. Antiinflamatórios não esteróides: alteram função plaquetária, suspender 48 horas antes. Antidepressivos: suspender 3 a 5 dias antes, principalmente os inibidores da monoaminoxidase. Diuréticos. Ganglioplégicos (Metil-dopa). Ginko-biloba ou similares, pelo risco de sangramento. MEDICAMENTOS QUE PODEM SER MANTIDOS ATÉ O DIA DA OPERAÇÃO Betabloqueadores. Anti-hipertensivos (exceto Metil-dopa). Cardiotônicos. Broncodilatadores. Anticonvulsivantes. 36 Corticóides: se dose diária menor que 5mg. Insulina. Antialérgicos. Potássio. Medicação psiquiátrica. TRICOTOMIA E PREPARO DA PELE A tricotomia deve ser feita no ambiente hospitalar, o mais próximo possível do momento da operação. Orientar o paciente: Lavar bem o local da incisão durante o banho no dia anterior à intervenção. Já na sala cirúrgica é fundamental a degermação com soluções antissépticas, de polivinil-pirrolidona-iodo ou clorexidina. Em seguida, realiza-se a antissepsia com soluções alcoólicas dos mesmos produtos. LIMPEZA DO CÓLON Quando indicado, deve ser realizado conforme já estabelecido em outro capítulo. CATETERISMOS VESICAL: requer todo rigor de assepsia e anti-sepsia, com sistema fechado de drenagem. Deve ser indicado nas cirurgias pélvicas, vias urinárias e cirurgias prolongadas. Deve ser realizada em Centro Cirúrgico; SONDA GÁSTRICA: Nas cirurgias realizadas no aparelho digestivo em geral e nas cirurgias abdominais de urgência; PREPAROS ESPECIAIS PACIENTE DIABÉTICO: Se em uso de insulina NPH, no dia da cirurgia, aplicar um terço da dose pela manhã mais um terço da dose de insulina regular subcutânea e iniciar a infusão de soro glicosado a 5%, mantendo a glicemia entre 100 e 200 mg/dl. Monitorar a glicemia através do seguinte esquema: - glicemia de 180 a 240: 5 unidades de insulina simples, via subcutânea. - glicemia de 240 a 300: 10 unidades insulina simples, idem. - glicemia de 300 a 360: 15 unidades insulina simples, idem. 37 HIPERTIREOIDISMO: Manter as medicações antitireoidianas e betabloqueadores até a véspera da cirurgia. SÍNDROME DE CUSHING: O bloqueio da síntese do cortisol, pelo uso de cetoconazol, na dose de 600 a 1200 mg por dia, durante 2 a 4 semanas no pré-operatório. DOENÇA DE ADDISON: Trata-se de insuficiência da supra-renal e, apesar de ser patologia pouco freqüente, é potencialmente letal. Os portadores em uso corticóides de manutenção deverão ser medicados no intra e no pós-operatório imediato com succinato de hidrocortisona na dose de 100 a 200 mg endovenosa de 6/6 horas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Predescu D, et al. Preoperative modern evaluation of patient with esophageal stenosis. Chirurgia (Bucur). 2003 Nov-Dec;98(6):489-98. Review. Romanian. 2. Moyao-Garcia D, et al. Benefits of oral administration of an electrolyte solution interrupting a prolonged preoperatory fasting period in pediatric patients. J Pediatr Surg. 2001 Mar;36(3):457-9. 3. Vale EG, et al. Preoperative orientation: comprehensive analysis of the patient's point of view. Rev Bras Enferm. 1997 Jan-Mar;50(1):31-6. Portuguese. 4. Santacana E, et al. Anesthetic considerations in patients with human immunodeficiency virus infection. Rev Esp Anestesiol Reanim. 1993 MayJun;40(3):137-45. Review. Spanish 38 RESUMO ESQUEMÁTICO DE CONDUTA Preparo Pré-operatório Anamnes/ exame físico/ exames complementares Risco cirúrgico Linfócitos < 1500 mm3 Albumina sérica < 3,5g/dL Perda ponderal > 5% (em 30 dias) Mau prognóstico Avaliação nutricional Paciente > 60 anos Cirurgia de grande porte Preparos especiais (Diabetes Melito, Hipertireoidismo, Sd Cushing) Hb < 8 Peso Circunferência do braço Massa corpórea Hemograma TAP/TTPA Tipagem sanguínea Glicemia Creatinina Eletrólitos Urina I ECG Radiograma de tórax Reavaliar riscos Considerar transfusão sanguínea