Psicologia Social I 1 Índice Sebenta nº1 Págs. Definição da disciplina___________________________________ 4 História da Psicologia Social_______________________________ 9 Cognição Social________________________________________ 12 Representação Social da Psicanálise_________________________ 13 O Modelo de Psicologia Social_______________________________17 Conjunto de investigações sobre as representações do corpo_______19 Modelo Bifactorial_______________________________________25 Modelos teóricos do processo de atrivuição____________________29 Teoria da Inferência Correspondente_________________________30 Percepção e explicação das condutas sociais__________________ 31 Erros atributivos e erros intencionais ________________________ 34 Atracção interpessoal, sexualidade e relações intimas ___________ 37 Atracção interpessoal e génese das relações amorosas __________ 45 Sebenta nº2 A emergência do paradigma americano_______________________54 A Psicologia Europeia_____________________________________57 Objecto da Psicologia Social – Análise de 10 definições____________59 Formação de Impressões__________________________________66 Atracção interpessoal, sexualidade e relações intimas____________69 As Atitudes_____________________________________________74 Atribuição Causal________________________________________87 “Introduction a History Of Social Psychology”____________________91 Exames______________________________________________ 105 Sebenta nº3______________________________________ 135 2 SEBENTA Nº1 3 Aula nº1 Definição mais citada é a de Allport (1968/1985) – “Com raras excepções, os psicólogos sociais olham para a sua disciplina como uma tentativa para compreender e explicar o modo como o pensamento, o sentimento e o comportamento dos indivíduos são influenciados pela presença real, imaginada ou implícita dos outros. O termo ‘presença implícita’ refere-se ás muitas actividades que o indivíduo desempenha em virtude da sua posição/papel numa estrutura social complexa e em virtude da sua pertença a um grupo cultural”. G. Allport, irmão de Allport que escreveu o terceiro manual de psicologia social, em 1924. Os primeiros manuais sobre esta temática surgiram em 1908 com o sociólogo Ross e outro com o psicólogo McDougall. Gordon Allport escreveu o livro clássico que estudava a natureza do preconceito. Em 1935 surgiu a primeira edição do “Handbook of Social Pschology”, foi editado por Lindzey e Aronson em 1954 (em dois volumes), 1969, 1985 e, a ultima edição – por Gilbert e Lindzey, em 1998. Primeiro aspecto estruturante desta definição: VD = f (VI): pensamentos, sentimentos e comportamentos Variável Independente: presença dos outros, numa tripla dimensão – real, imaginada e Implícita. PPrreesseennççaa IIm mppllíícciittaa – nenhum comportamento é indissociável da inserção dos indivíduos, numa dada estrutura social e nenhum comportamento é indissociável da nossa presença em determinados grupos sociais. Salienta-se aqui o conceito de papel que, por sua vez, remete para o estatuto – estes são os que nos situam na sociedade (tem um carácter disposicional), nós ocupamos/temos, num determinado grupo, uma determinada posição – que é importante para percebermos a pessoa. O papel e o estatuto são conceitos complementares. Podemos equacionar estes dois conceitos em termos de expectativas: PPaappeell – conjunto de expectativas que os outros tem a meu respeito, o que os outros esperam de mim. E Essttaattuuttoo – aquilo que eu, em virtude da posição que ocupo, espero que os outros pensem e esperem de mim. Ambos têm como pano de fundo a posição disposicional do autor, ninguém funciona fora do contexto e de um grupo. Em síntese, nesta primeira definição, há que realçar que se trata de explicar todo o leque de comportamentos, pensamentos e até que ponto são influenciados pelo solo primário das nossas vidas e presença dos outros. Podemos constatar dois níveis da realidade social: grupal e a um nível mais vasto da realidade social. 4 Definição de Maisonneuve, 1973 – “ O domínio específico da psicossociologia é essencialmente o da interacção: - interacção dos processos sociais e psicológicos ao nível das condutas concretas; - interacção das pessoas e dos grupos no quadro da vida quotidiana; - junção, também, entre a aproximação objectiva e a do sentido vivido, ao nível do ou dos agentes em situação”. Existem dois aspectos a salientar: 1. Insistência na interacção. 2. Importância de tomarmos, simultaneamente, em conta a que poderia ser a dimensão objectiva e a dimensão subjectiva da realidade. Esquema da Interacção Social (no capitulo 6 do livro: “Psicologia Social”, página 151): Condições Causais P O PxO ªSOC. ªFIS. Interacção P – O Pessoa: P Laços Causais Pessoa: O Laços Causais Figura 6 – O conteúdo causal das interacções didácticas. As setas verticais, dentro do rectângulo da interacção representam ligações entre acontecimentos (cognições, 5 emoções ou comportamentos) que ocorrem em P ou O. As setas obliquas representam as conexões entre as respectivas cadeias de acontecimentos. As condições causais de natureza ambiental são indicadas pelas siglas ªSOC (condições sociais) e ªFIS (condições físicas e geográficas). Para falarmos em interacção temos que ter no mínimo dois intervenientes. A sequência de acontecimentos entre as pessoas tem de estar conectadas. Kelley descreve esta interacção como um plano descritivo (a duração, frequência e intensidade). Para passar ao plano explicativo temos que passar as condições causais – que podem ser de diferentes tipos: 1. De natureza pessoal (de um sujeito ou outro), como por exemplo: a inteligência que influencia a interacção. 2. De natureza mais genérica. 3. Do tipo relacional (partilhar uma mesma atitude). Definição de Baron, Byrbe e Griffitt, 1974 – “ (…) o campo da psicologia social será definido como o ramo da psicologia moderna que procura investigar o modo pelo qual o comportamento, os sentimentos e os pensamentos (e.g., atitudes, crenças ou opiniões) de um indivíduo são influenciados e determinados pelo comportamento e/ou características dos outros” – é uma variação da definição de Allport. Definição de Tedeschi e Lindskold, 1976 – “a psicologia social é o estudo científico da interdependência, da interacção e da influência entre as pessoas. A interdependência reflecte o facto de que a maior parte das coisas que uma pessoa deseja não pode ser obtida sem a colaboração de outras pessoas (…) Esta interdependência das pessoas fornece a base para a cooperação e conflito entre elas. As pessoas interagem umas com as outras porque são interdependentes; precisam umas das outras. No decurso da interacção, é exercida a influência”. É uma definição em que o autor não se situa só num plano descritivo mas procura fornecer um quadro de articulação teórica entre três conceitos: Interdependência – desempenha um papel principal – nada nos homens é possível sem a relação com os outros. Interacção. Influência. Ambiguidade essencial das relações sociais: conflitualidade e cooperação – oscilando entre estes dois extremo (são muito importantes). Definição de Leyens, 1979/1981 – “O problema é que é mais fácil nomear os psicólogos sociais do que definir a unidade dos seus campos de interesse. Consideremos, portanto, a definição mais ampla possível, com risco de falta de precisão que isso implica, e digamos que a psicologia social humana trata da dependência e da interdependência das condutas humanas”. Reconhece alguma ambiguidade naquilo que é a psicologia social. Diz que o que está em causa é a interdependência das condutas. Ainda, há que notar que não há uma separação total das disciplinas – o que é fundamental é o que é o objecto teórico. 6 Definição de Gergen e Gergen, 1981/1984 – “Em termos formais, a psicologia social é uma disciplina onde estudamos de modo sistemático as interacções humanas e os seus fundamentos psicológicos”. O que é importante, nesta definição, é a ênfase/tónica nos fundamentos da psicologia das interacções. Definição de Moscovici – “ Eis pois uma primeira fórmula: a psicologia social é a ciência do conflito entre o indivíduo e a sociedade. (…) E formularei, escrevia eu então (1970), como objecto central, exclusivo para a psicossociologia, todos os fenómenos respeitantes à ideologia e à comunicação, ordenados no plano da sua génese, da sua estrutura e da sua função. No que diz respeito aos primeiros, sabemos que consistem em sistemas de representações e de atitudes (…). No que concerne aos fenómenos de comunicação social, eles designam trocas de mensagens linguísticas e não linguísticas (imagens, gestos, etc.) entre indivíduos e grupos. Trata-se dos meios utilizados para transmitir uma certa informação e influenciar o outro. (…) Possuímos, agora, uma segunda formula: a psicologia social é a ciência dos fenómenos de ideologia (cognições e representações sociais) e dos fenómenos de comunicação”. Moscovici e Tajfel representam fundamentalmente as figuras principais da psicologia social europeia (PSE). Nesta definição, Moscovici acaba por dizer que o que é fundamental na psicologia social é a iiddeeoollooggiiaa (fenómenos de representações sociais e atitudes/cognições. Podemos ligar o Marxismo ao conceito de ideologia. O termo ideologia surge no final do séc. XVII, como o estudo das ideias, quase como sinónimo do conceito de psicologia), e ccoom muunniiccaaççããoo (transmissão da informação e influência social. A comunicação tem uma dupla vertente/estatuto – por um lado, é a via pela qual transmitimos a informação aos outros, e, por outro lado, é por este meio que tentamos influenciar os outros). Aquilo que distinguiria a psicologia social das outras disciplinas (psicologia e sociologia), em termos de conceptualização: é que enquanto a psicologia assenta na relação individual entre o sujeito e o meio e a sociologia na relação entre o sujeito colectivo e o meio; a psicologia social escolhe uma modalidade triadica: a relação entre objecto/sujeito é mediatizada pela passagem por um outro objecto social – não há relações naturais! 7 O esquema assenta na ideia da relação social que obrigatoriamente tem que passar pela intervenção com o outro sujeito. Ou seja, a importância de termos uma leitura triádica mediada pela relação social que mantemos com os outros é salientada pelo autor. Definição de Feldman, 1985 – “Deveremos considerar a disciplina (psicologia social) como uma que examina o modo como os pensamentos, os sentimentos e as acções de uma pessoa são afectadas pelos outros”. Definição de Myers, 1988 – “Assim, do ponto de vista formal, podemos dizer que a psicologia social é o estudo científico do modo como as pessoas pensam acerca, influenciam e se relacionam com outras”. Estas duas definições são apenas derivações da definição de Allport. Definição de Smith e Mackie, 1995 - “A psicologia social é o estudo cientifico dos efeitos dos processos sociais e cognitivos no modo como os indivíduos percebem, influenciam e se relacionam com os outros. Note-se que esta definição afirma que a psicologia social é uma ciência, que os psicólogos sociais estão tão intensamente interessados nos processos sociais e cognitivos subjacentes como no comportamento aberto e que a preocupação central da psicologia social é o modo como as pessoas compreendem e interagem com os outros”. Há uma insistência nos processos cognitivos. A psicologia social nunca teve uma fase que não fosse cognitivista – a importância dos conteúdos internos, representações, cognições… foi desde o início o objectivo de estudo da psicologia social. Destas dez definições podem salientar-se cinco conceitos fundamentais da psicologia social (operadores teóricos – macro-conceitos): Interacção Comunicação Relação Interdependência Influência social Estes estão colocados num plano de observação Situam-se mais num plano explicativo 8 Relativamente às definições: , e – Influência social e – Interacção social e – Interdependência – Comunicação e – Não fazem referência a nenhum aspecto específico Estamos sempre, constantemente, independentemente de queremos ou não, a formar/criar impressões sobre os outros. D Deeffiinniiççõõeess eem m rreelleevvoo: Definição de G. Allport Definição de Tedeschi e Lindskold – onde põe em interdependência, interacção, relação e influência. Definição de Moscovici – dá muita atenção ao individual e a esfera social. Apresenta uma redefinição se preocupa com os fenómenos de ideologia e comunicamos procuramos influenciar os outros). relação os processos de conflito entre a esfera da psicologia social que comunicação (quando Existem diferentes níveis de análise na comunicação (Moscovici): Comportamentos concretos Um nível abstracto que se refere às opiniões Um nível mais abstracto ainda, que se refere às atitudes Existe, ainda, um nível mais abstracto, que se refere às ideologias (sistemas de valores e orientações de uma sociedade). Ou seja, estes são conceitos que vão das acções concretas, as opiniões e ideologias. Aula nº2 É possível retratar a história da Psicologia Social recuando até à antiga Grécia – Aristóteles dizia que o “homem é um animal político”. Mas também podemos remontar ao século XVIII e século XIX numa perspectiva mais próxima da actualidade. A primeira grande oposição a considerar é entre a psicologia de Tarde (que dá mais importância aos fenómenos psicológicos – primazia em relação aos fenómenos sociais) e a psicologia de Durkheim (que dava primazia aos fenómenos sociais). De notar que a Psicologia Americana é mais centrada no indivíduo, ou seja, dá primazia ao individual sobre o social. Em termos históricos, há dois manuais fundamentais, com o mesmo nome e data mas com autores diferentes. McDougall (psicólogo, centrado nos instintos) e Ross (sociólogo, centrado na imitação social) publicam, em 1908, simultaneamente, “Social Psychology”. É de salientar também um artigo de Triplet sobre a competição e a facilitação social. Nas suas investigações conclui que os ciclistas quando corriam sozinhos corriam menos (mais devagar do que quando corriam acompanhados de outros ciclistas) 9 O que leva a Zajonc, em 1968, a falar em facilitação social – identificou as situações de facilitação social nas tarefas que executamos bem a performance melhora se estamos na presença dos outros. Em tarefas que estamos menos aptos a nossa performance piora na presença dos outros. Ou seja, ele tentou verificar se a facilitação social é uma lei universal e conclui que funcionamos melhor em tarefas nas quais estamos à vontade (senão somos prejudicados pela presença dos outros). Um conceito central na psicologia social é o conceito de aattiittuuddee (estrutura cognitiva que está por trás das opiniões, predisposições avaliativas). Falamos de atitudes sempre que nos referimos a uma predisposição para classificar os objectos de bom/mau, agradável ou não… Ainda que seja um aparelho disposicional é apreendido – é uma disposição apreendida, ainda que na sua base possam haver processos biológicos. É possível traçar a história da psicologia social tendo como referência o modo como as atitudes foram tratadas. E Evvoolluuççããoo ddoo eessttuuddoo ddaass aattiittuuddeess, segundo McGuire (1985) Medição das atitudes (1920) dinâmica de grupos (1935) mudança de atitudes cognição social (1965) sistema de atitudes (1980). (1955) Além disso podem definir-se três grandes fases da psicologia social enquanto ciência do pensamento social (“social mind”): 1ª Fase – aattiittuuddeess ssoocciiaaiiss: T Teeoorriiaa ddaa D Diissssoonnâânncciiaa C Cooggnniittiivvaa c o g n i ç õ e s s o c i a i s T e o r i a d a A t r i b u i ç ã o 2ª Fase – cognições sociais: Teoria da Atribuição 3ª Fase – rreepprreesseennttaaççõõeess ssoocciiaaiiss: T Teeoorriiaa ddaass R Reepprreesseennttaaççõõeess SSoocciiaaiiss Então, a história da psicologia social em referência às atitudes: 11992200 –– 11993355: a tónica estava colocada na medição das atitudes. Esta é a época áurea dos trabalhos de Thurstone, Likert… Neste período o objectivo era menos de natureza tónica e mais de natureza prática. 11993355: surge um trabalho importantíssimo em psicologia social: Kurt Lewin emigra para os EUA e, juntando alguns colaboradores, faz com que a psicologia social deixe de ter como conceito principal as atitudes e passe a abordar de modo específico os processos grupais e as dinâmicas dentro dos grupos. Nesta época a psicologia social torna-se autónoma. Festinger (um dos colaboradores de Kurt Lewin) publicou um artigo sobre a “Congregação social” (em 1954) e sobre “a Teoria da Dissonância Cognitiva” (em 1957) – para ele, os aspectos motivacionais estão subjacentes às mudanças de atitudes. 11995555 –– 11996655: neste período houve uma centração e um estudo aprofundado sobre as mudanças de atitudes (o que o homem procura é a harmonia cognitiva) – relaciona-se com as Teorias da existência de Osgood. 11996655: foram publicados artigos sobre as auto-percepções (Benn) em que se criticam os modelos de equilíbrio e da dissonância cognitiva. A tónica é colocada nos processos de atribuição e nas representações sociais (fase cognitiva), como é que os autores sociais explicam as suas condutas e as das 10 pessoas com as quais interage. Tenta-se minimizar os aspectos motivacionais e afectivos do comportamento social. 11998800: a última fase tem uma tónica mais englobante. Assim, Moscovici (tendo em conta que via a psicologia social como a ciência do pensamento social) identificou três fases (Teoria da Dissonância). Moscovici apresenta uma definição de psicologia social em que a apresenta como a área que se preocupa com os fenómenos de ideologia e comunicação. Esses fenómenos foram identificados por D Dooiissee, em 1982, que considera a existência de quatro níveis de explicação em psicologia social: Nível I – IInnttrraa--ppeessssooaall: plano com que os sujeitos organizam as suas percepções, avaliações, cognições, comportamentos … Põe-se a tónica nos processos internos de tratamento da informação. O importante é a organização interna das percepções e avaliações. (por exemplo: temos a Teoria da Atribuição de Kelley e a Teoria do Equilíbrio de Heider) Nível II – IInntteerr--ppeessssooaall: a tónica é colocada não tanto no modo de organização interna mas na compreensão do comportamento dos indivíduos em interacção (por exemplo: temos as teorias sobre a diferença entre actores e observadores de errrroo ffuunnddaam Nisbett e Ross – que depois dão origem ao que se chama “e meennttaall”). O erro fundamental em psicologia social diz respeito à diferença no modo como eu explico o meu comportamento (onde privilegio as variáveis circunstanciais – “não fiz isto bem porque não tinha condições para o fazer”) e como explico o comportamento dos outros (onde privilegio as variáveis individuais do outro – “está mal feito porque ele é burro, não sabe fazer nada”). Nível III – IInntteerr--ggrruuppaall: a tónica é posta na explicação de todos os comportamentos reportando-se aos efeitos da categorização social, a inevitabilidade da nossa pertença a determinados grupos sociais. Para compreender o que é a interacção tenho que apelar às dimensões que definem o indivíduo antes da sua pertença ao grupo e só depois podemos categorizá-lo socialmente (por exemplo: temos a Teoria da Identidade e Categorização Social de Tajfell). Nível IV – SSoocciieettaall: neste nível a tónica é colocada nas crenças, valores, representações partilhadas por grandes grupos de indivíduos numa determinada sociedade (por exemplo: a Teoria da Representação Social de Moscovici). Esta participação de Doise não implica que não se possam adoptar diferentes perspectivas para explicar os comportamentos do indivíduo: A psicologia social Americana centrou-se mais nos dois primeiros níveis, intra e inter-pessoal enquanto a psicologia social Europeia dedica-se mais ao estudo dos dois últimos níveis, inter-grupal e societal. Desde o início a psicologia social teve uma orientação cognitivista, sempre se interessou pelos processos internos. 11 O psicólogo social Thomas (1928) referiu que: “se um homem define uma situação como real, ela é real nas suas consequências”. Por isso, Kurt Lewin diz, a respeito do medo de uma criança ao monstro debaixo da cama, que o monstro é real – pois para a criança é mesmo real! Os Processos Internos têm duas funções: M Meeddiiaattiizzaaççããoo – na história podemos ver que houve uma evolução, uma passagem de ‘S-R’ para ‘S-O-R’, onde ‘O’ tem uma função de mediatização, são as variáveis do organismo. D Deeffiinniiççããoo ddaass ssiittuuaaççõõeess//eessttíím muullooss – ‘O-S-O-R’ não só serve a função de mediatização mas também de definição. Estas duas tarefas/funções, tal como o modelo ‘O-S-O-R’, são comuns à abordagem cognitivista contemporânea reflectida na psicologia social. Aula nº3 C Cooggnniiççããoo SSoocciiaall O seu objectivo é dar conta de modo como construímos o nosso mundo social. A realidade social não é dada mas sim construída. Em 1966, Bergê e Hockman publicaram: “a construção social da realidade” (tradição da sociologia do conhecimento). As principais teses desta obra dizem que a realidade social não é dada mas é construída. Tem diversas fontes para o interaccionismo simbólico e interaccionismo social. O objectivo neste capitulo é perceber quais os processos cognitivos e as dinâmicas sociais que operam na construção social do mundo (realidade em que vivemos e que conhecemos). A noção de campo psicológico incorpora não só os objectos teóricos mas tudo aquilo que o sujeito representa naquele momento como fazendo parte do seu mundo (representações sociais, sistema de atitudes, teorias implícitas da perspectiva da relação causal…). R Reepprreesseennttaaççõõeess SSoocciiaaiiss A viragem do século ficou marcada por uma polémica entre a inter-psicologia de Tarde (para ele, a explicação dos fenómenos sociais depende em ultima instância dos conteúdos das consciências individuais) e a posição de Durkheim (para ele, os fenómenos sociais são irredutíveis aos fenómenos pessoais – estes devem ser explicados pelos fenómenos sociais). Em 1920, McDougall introduziu o termo de grupo ou espírito de grupo (“group mind”) – uma entidade supra-individual para as representações individuais. É semelhante ao termo “representações colectivas” de Moscovici – de alguma maneira o trabalho de Moscovici consiste em dar uma explicação e especificação a este conceito no plano da explicação das condutas sociais. 12 ““R REEPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO SSOOCCIIAALL DDAA PPSSIICCAANNÁÁLLIISSEE”” –– OOBBRRAA DDEE 11996699 É impossível vivermos sem representarmos a realidade numa outra escala. Os processos de representação visam reduzir a complexidade do real e reconstrui-lo nas nossas cabeças. JJooddeelleett ((11998899)) – define as representações sociais como uma modalidade de conhecimentos socialmente elaborados e partilhados com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. D Dii G Giiaaccuum moo – as representações sociais constituem modelos explicativos categorizando as relações entre diversos objectos do meio. M Moossccoovviiccii – introdutor do conceito de representações sociais – diz-nos que estas podem ser vistas como um conjunto de conceitos, preposições e disposições criadas na vida quotidiana no decurso da comunicação inter-individual. Seriam equivalentes os mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais contemporâneas – ou seja, podem ser vistas com esta perspectiva contemporânea do senso comum. Isto leva-o a afirmar que o importante é perceber os nossos mitos. O estudo inicial de Moscovici onde ele introduziu o conceito: o ponto de partida do autor referia-se ao modo como dada teoria (psicanálise) se transforma, como é que se circula numa sociedade, quem é que a defende e quem é que a combate. Trata-se de estudar a psicanálise como um fenómeno de cultura. Para tal utilizou dois métodos complementares: inquérito junto do público combinando questionários e entrevistas e a análise de conteúdos da imprensa. Com os inquéritos: Chegou a uma representação esquemática do que as pessoas achavam da psicanálise (como o representavam). IInnccoonnsscciieennttee R Reeccaallccaam meennttoo C Coom mpplleexxooss C Coonnsscciieennttee Na representação que os inquiridos faziam emergiam os conceitos de que existia um conflito permanente entre o consciente e o inconsciente que levam a recalcamentos – levando as pessoas a serem complexadas. Nesta representação esquemática, que as pessoas faziam da psicanálise, está ausente uma dimensão fundamental (que os próprios respondentes tinham recalcado): o conceito de sexualidade/libido – houve um processo de simplificação e ausência de um conceito central e, por outro lado, o conceito de complexo (ego) prende-se mais com outras teorias psicanalíticas. Freud distinguia a concepção estrutural tópica de uma concepção dinâmica – consciente, inconsciente… que foi substituída por uma segunda tópica, que surgiu em 1920, Id, Ego e Super-ego. 13 É uma concepção dinâmica, onde as grandes forças emocionais que se opunham. Na primeira concepção teórica de Freud, as pulsões sexuais opõem-se às pulsões de autoconservação – estas pulsões passam a chamar-se pulsões Eros e Thanatos (pulsões agressivas). Moscovici procurou estudar como determinada teoria se transforma e identificou aquilo que podia ser uma representação esquemática distorcida da realidade (da psicanálise) que servia para interpretar os comportamentos dos outros (representações sociais) – que têm uma função prática nas nossas vidas/interacções no quotidiano. Analisou os jornais comunistas, a imprensa católica e os jornais de grande difusão. Assim, ele categorizou a imprensa em três diferentes classes – globalmente, cada um destes tipos de imprensa funcionavam segundo diferentes tipos de comunicação/difusão: 1. JJoorrnnaaiiss ddee D Diiffuussããoo – tinham como objectivo fundamental criar um modelo de comunicação comum (modelo de difusão). 2. JJoorrnnaaiiss C Caattóólliiccooss – estabelecia-se entre os membros de um grupo e visava produzir uma visão organizada do mundo (modelo de propagação – era um modelo dominante na imprensa católica e fazia esforços para acomodar os princípios da psicanálise aos princípios religiosos). 3. JJoorrnnaaiiss ccoom muunniissttaass – utiliza o modelo de propaganda: a forma de comunicação assenta nas relações sociais conflituosas, cujo objectivo era que os leitores identificassem claramente o verdadeiro e o falso para que tivessem a visão desmistificada da psicanálise. Moscovici fez um paralelismo entre sistemas de comunicação de sistemas cognitivos: A imprensa genérica centrada na ddiiffuussããoo visava que as pessoas formassem uma ooppiinniiããoo sobre a psicanálise; A imprensa católica centrada na pprrooppaaggaaççããoo visava que os leitores formassem uma aattiittuuddee consistente a respeito da psicanálise: A imprensa comunista centrada na pprrooppaaggaannddaa visava que os indivíduos formassem um eesstteerreeóóttiippoo sobre a psicanálise. É de sublinhar a importância de perceber a correspondência e relação entre os processos genéricos de comunicação e a organização cognitiva do mundo. As opiniões são passageiras. As atitudes necessitam de um trabalho de assimilação ao passo que os estereótipos são consensuais no interior de um grupo – o preconceito é uma atitude a respeito de determinados grupos minoritários. Centrado na dimensão qualitativa. Estereótipo – cognitivo Discriminação – como comportamento (é um conceito intermédio) Preconceito – valorativo 14 Algumas representações sociais (estereótipos) são consensuais, outros podem ser conflituais. Os processos na construção de representações sociais são modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas constituindo simultaneamente sistemas/modelos de interpretação e sistematização do real/categorização do real e guias de acção. Dinâmica da objectivação/ancoragem na produção de representações sociais: Sistema cognitivo Subsistema (RS 0) Ancoragem 1 Objecto 1 Objectivação RS 1 Objecto 2 RS 2 Ancoragem 2 Novos objectos A relação entre representações sociais e o objecto: virtualmente tudo aquilo que pode ser construído na mente e diferente doutras entidades. A construção de uma representação social pode ser feita por dois processos complementares: 1. O Obbjjeeccttiivvaaççããoo: é responsável pela própria génese das representações sociais – objectivar é reabsorver num excesso de significações materializando-as. Pode ser descrita, de modo mais preciso, em três passos fundamentais: 1º – Selecção de elementos do real 2º – Os elementos seleccionados são organizados no núcleo figurativo 3º – Naturalização: quando se forma a representação social as pessoas ignoram a dimensão de arbitrariedade subjacente aos processos de selecção e consideram os elementos como algo natural (não construído). 2. A Annccoorraaggeem m: enraizamento social da representação (tal como um barco ancorado no porto). Na dinâmica da construção de uma representação social a ancoragem pode ser considerada, a um tempo, a montante e a jusante da objectivação. Ou seja, num certo sentido a ancoragem precede a objectivação (porque temos que ter pontos de referência) mas numa segunda acepção a ancoragem vem a seguir 15 à objectivação (na medida em que a representação social uma vez construída funciona como um esquema de sistematização, categorização e organização do real). Duma maneira simplificada, a assimilação corresponderia à incorporação no sistema cognitivo de um objecto exterior. Já a acomodação corresponderia à diferenciação do sistema cognitivo para dar conta dos nossos objectivos (em Piaget). A Reificação é a coisificação – ignora-se as relações sociais de nominação que surgem no quadro da produção, os objectos são naturalizados, coisificados (reificados). No final, faz-se a menção a processos de categorização – de novos objectos. No sistema cognitivo, existe sempre subsistemas onde há uma ancoragem das representações sociais de um objecto. A partir daí os sujeitos procederam à selecção e naturalização do objecto (para formar uma representação – que funcionará como fonte de ancoragem para novos objectos). Esquema de Jodelet, procura construir uma grelha de estudo para os fenómenos de representação social. Condições de produção e circulação das representações sociais Processos e estados das representações sociais Cultura (colectivo de grupo) Valores Modelos Invariantes Valor de verdade Suportes Conteúdos Estruturas Processos Lógica Linguagem e comunicação Inter-individual Institucional Mediática Sociedade Partilha e laço social Contexto ideológico, histórico Inscrição social Posição Lugar e função social Pertença ao grupo Organização social Instituições Vida dos grupos Estatuto epistemológico das representações sociais Forma de saber modelização construção Sujeito Epistémico Psicológico Social Colectivo interpretação Representação expressão Objecto simbolização Humano Social Ideal Material Compromisso psico-social Relações entre pensamento natural e pensamento cientifico Difusão dos conhecimentos Transformação dum saber noutro Epistemologia do senso comum Representação e ciência Desfasamento Distorção Defalcação Suplementação Valor de realidade Prática Experiência Acção Funções/eficácia das representações sociais 16 As representações permitem categorizar a realidade. As representações sociais são uma forma de saber/conhecimento prático, é sempre uma representação de um objecto e é obviamente elaborado por um sujeito – nas suas relações. Podemos dizer que existem diferentes processos, assim: Em primeiro lugar, a representação é sempre a representação de um objecto (simbolização), se é isso, então, está no seu lugar (assim, temos um processo de simbolização mas não está só no lugar de objecto como é a interpretação deste – confere-lhe significado). As representações podem revestir as formas mais diversas. Por sua vez, a representação é uma forma de saber, o que implica uma modelização do real a partir de diferentes suportes, conteúdos, estruturas e processos lógicos. Nas suas relações com o sujeito a representação é objectivamente uma construção dos sujeitos mas é simultaneamente uma expressão (é expressa pelos sujeitos através da linguagem). Moscovici desdobra os sujeitos em quatro categorias: 1. O ssuujjeeiittoo eeppiissttéém miiccoo: para se referir aos processos cognitivos. s u j e i t o p s i c o l ó 2. O sujeito psicológgiiccoo: refere-se a processos imaginários e fantasmáticos. 3. O ssuujjeeiittoo ssoocciiaall: para se referir às pertenças sociais dos indivíduos. 4. O ssuujjeeiittoo ccoolleeccttiivvoo: para se referir, de um modo mais especifico/particular, ás actividades/acções de um determinado grupo. As definições que temos vindo a registar de representações sociais são uma forma de conhecimento essencialmente prático, destinando-se a facilitar as interacções e as próprias interpretações dessa interacção – tem um compromisso inter-social no sentido de que se ligam ás actividades da vida quotidiana (de forma directa). A coluna da esquerda, Jodelet refere-se de modo genérico ás condições de produção e circulação das representações sociais que implica uma compreensão da cultura (valores, modelos e invariantes dos grupos sociais), da linguagem e comunicação e por último a aspectos especificamente sociais. Na coluna da direita, Jodelet explicita o estatuto epistemológico das representações sociais (o valor de verdade). As representações sociais podem ser contextualizadas nas relações entre pensamento natural e pensamento científico, na difusão dos conhecimentos e na transformação dum saber noutro – numa palavra, na epistemologia do senso comum. Há um desfasamento entre a representação e a realidade, em que o real pode ser distorcido, pode ser defalcado (podem ser suprimidas ou aumentadas coisas) durante o processo de objectivação. O OM Mooddeelloo ddee PPssiiccoollooggiiaa SSoocciiaall Seria um modelo de “O-S-O-R”. A concepção de Moscovici não é uma concepção só de mediatização (não é só o esquema “O-S-O-R”). SS E E R RSS R R R RSS R R A representação social define ao mesmo tempo: estímulos (interpretação) e orientação para a acção. 17 Estudo de Abrie sobre as representações sociais: Abrie parte de uma situação estímulo para apresentar uma investigação que chamou o dilema do prisioneiro – que consiste num juiz que interroga dois homens suspeitos de roubo à mão armada mas não tem provas para os incriminar, assim o juiz diz-lhe que tem que confirmar para que possam ser culpados, além disso, diz-lhes quais as penas depois de os colocar em celas separadas. Ele dividiu os sujeitos da experiência em duas condições experimentais: Condição A: fez crer ao sujeito que estava a jogar este jogo com outro sujeito. Condição B: fez crer ao sujeito que estava a jogar com uma máquina que produzia respostas aleatórias (ele estava a induzir uma resposta social de uma pessoa/parceiro). Preso A Preso B A1 – confessa B1 – confessa A2 – não confessa 2 Anos 2 Anos B2 – não confessa 20 Anos 0 Anos 0 Anos 20 Anos 6 Meses 6 Meses Situação cooperativa Este autor operacionalizou o conceito de representações sociais (há outros estudos sobre este conceito que funcionam como referência no quadro). Ele estava a introduzir uma representação social. Com esta experiência demonstrou que a percentagem das respostas cooperativas eram superiores nas situações em que o sujeito pensava que estava a jogar com outro sujeito real (confesso/confesso, não confesso/não confesso). Ideias síntese: porque é que as representações sociais se dizem representações sociais? Quando falamos de oposições/atitudes, elas tem sempre por trás um conceito de representações sociais. Fundamentalmente por três critérios: 1º Critério – Quantitativo: são socialmente partilhadas 2º Critério – Genético: são colectivamente produzidas na e pela interacção social 3º Critério – Funcional: organizam-se as relações simbólicas entre os actores sociais. Por exemplo, na definição de partida de Jodelet: “as representações sociais são uma modalidade de conhecimento socialmente elaborada (critério genérico) e partilhada (critério quantitativo) com um objecto prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (critério funcional). 18 C COONNJJUUNNTTOO DDEE IINNVVEESSTTIIGGAAÇÇÕÕEESS SSOOBBRREE AASS RREEPPRREESSEENNTTAAÇÇÕÕEESS DDOO CCOORRPPOO O corpo é um objecto social/publico no sentido que as representações sociais são construídas publicamente – o corpo é um objecto de troca e consumo. A redescoberta do corpo está muito presente no dia-a-dia (na publicidade…) – pode dizer-se que o corpo substitui a alma. O corpo funciona como objecto de categorização social (mascara distintiva – modos de apresentação, modos de vestir… se tem o corpo atlético, deficiente…). A importância da oposição: privado/público na representação do corpo é testemunhada por um conjunto de investigações de Jodelet. Ele procurou identificar as categorias mentais que controlam a experiência vivida – modos de conhecimento do corpo (experiência corporal directa). Muita da informação que obtemos de uma pessoa provém das representações sociais do corpo – o nosso corpo é um objecto de representação mas também é um objecto de acção (em termos de doença mental, existem algumas investigações acerca das representações sócias do corpo). O enquadramento geral das representações sociais: os processos sócio-cognitivos constituem as representações sociais, que são indissociáveis dos factores de regulação social, mais exactamente – as representações sociais são determinadas pela estrutura da sociedade em que se desenvolvem (os mitos das sociedades contemporâneas). Mas essa própria sociedade é local de clivagens, relações de diferenciação e dominação (coflitualidade). As representações sociais surgem, então de dois níveis básicos: 1. Diferenciação das condições socio-económicas. 2. Conflitualidade que radica nos sistemas de orientação, nos quadros de referência normativa. Moscovici refere que entre as condições sociais que afectam a emergência de uma representação social temos que considerar três ordens de fenómenos: Dispersão da informação (isto é, desfasamento da informação disponível e da informação necessária). Focalização (os indivíduos geram representações sociais mais sólidas ou mais fluidas consoante os recursos do meio ambiente). Pressão para a inferência (ou necessidade que todos sentimos de tomar posição em sentido dos objectivos grupais ou individuais). O conceito que muitos autores referiam como central na psicologia social é o conceito de aattiittuuddee:: Encontramos a atitude em diversos momentos do nosso curso – na definição que Moscovici dava de representação social. Voltamos a encontra-la quando falamos das representações sociais da psicanálise (difusão, propaganda…). Ainda, encontramo-la igualmente na priorização que fizemos da psicologia social – onde redefiníamos a história da atitude em termos da evolução da psicologia social. 19 Em concomitância com a analise das representações sociais Definição clássica de Allport (1935): ele definia atitude como um estado de preparação mental ou neural organizado através da experiência – exercendo uma influência dinâmica sobre as respostas individuais e sobre os objectos/situações com os quais nos relacionamos. Para Allport a atitude é o conceito mais indispensável da psicologia social – as atitudes referem-se a paixões e ódios, atracões e repulsões, gostares e não gostares… Na definição mais recente de atitude, de Allice Engly, esta é definida como uma tendência psicológica que é expressa através da avaliação de uma entidade particular com um certo grau de favoralidade ou desfavoralidade. O conceito de atitude remetenos para um estado interno – é de natureza disposicional – mas este construto (este estado interno) é em larga medida uma disposição aprendida e no processo de aprendizagem e formação de atitudes podemos identificar os processos clássicos de aprendizagem (condicionamento clássico e operante) e aprendizagem por símbolos (simbólica). A definição de Robert Abelson diz que a atitude face a um objecto consiste no comportamento de “scripts” relativamente a esse objecto. Em síntese, a atitude é uma disposição avaliativa – situa um objecto do pensamento numa dimensão avaliativa. Esse objecto do pensamento (qualquer construção mental que possa ter um carácter distintivo) pode ser virtualmente um objecto concreto ou abstracto: comportamentos, politicas sociais, … podemos falar de atitudes em relação a qualquer objecto mental construído. Tudo o que pode ser cognitivamente construído pode ser objecto de atitude, dai se considera que a atitude pode ser dos conceitos mais genéricos da psicologia social. Sendo assim, por exemplo: O preconceito é uma atitude em relação a um determinado grupo (atitude negativa face a grupos minoritários). A atracção inter-pessoal é uma atitude relativamente a pessoas. A auto-estima é uma atitude relativamente ao próprio “self”. Os valores são atitudes face a objectos abstractos ou estados da existência humana Ainda, podemos identificar atitudes sociais e politicas. Ao identificar uma atitude, como uma colecção de objectos num eixo avaliativo consideram a atitude em vários sub-capitulos da psicologia social. No estudo das atitudes podemos organizar os conteúdos em cinco grandes campos (chavões), assim, o estudo das atitudes deve ser feito em cinco grandes dimensões: 20 E Essttrruuttuurraa ddaass aattiittuuddeess:: Remete-nos, em primeiro lugar, para a atitude intraindividual, que se refere ao grau de interligação entre os componentes cognitivo, afectivo e comportamental. Ou seja, refere-se ao modelo tripartido da atitude de Howland (1960) que comporta os componentes cognitivo (crenças sobre o objecto), um componente afectivo (emoções experimentadas na relação com o objecto) e um componente comportamental, que pode ser verbal ou não. Aqui surge uma grande área de tensão/conflitualidade teórica que diz respeito à inclusão ou não o componente comportamental da atitude ou não. Em segundo lugar este remete-nos para o aspecto da estrutura das atitudes ser inter-atitudinal: como é que as atitudes face a diferentes objectos e como se organizam entre si. Categoria de resposta: M Mooddoo ddee rreessppoossttaa A Affeeccttooss C Coom mppoorrttaam meennttooss C Cooggnniiççõõeess V Veerrbbaall - Sentimentos - Emoções expressos - Intenções comportamentais - Crenças (“belives”): construção cognitiva N Nããoo vveerrbbaall - Repostas fisiológicas que acompanham a expressão das atitudes - Comportamento “aberto” (comportamento de aproximação ou afastamento dos objectos) - Respostas perceptivas (por exemplo: tempo de reacção…) Em síntese: as atitudes referem-se a experiências subjectivas e incluem sempre uma dimensão avaliativa. Uma confusão no estudo das atitudes e que a generalidade dos autores tende a evitar é a assimilação do afecto à avaliação – o afecto não é isomórfico à avaliação porque podem existir avaliações baseadas apenas em cognições, ou seja, podem existir avaliações que não tenham uma dimensão afectiva. O termo afecto deve ser exclusivo para emoções e sentimentos. As atitudes referem-se sempre a um tema ou objecto, o que implica juízos avaliativos – expressa-se através da linguagem e são previsíveis nas suas relações com a conduta social. Em 1959, um sociólogo Lazarsfeld, procurou sistematizar um conjunto de conceitos disposicionais de acordo com três dimensões: CONCEITOS DISPOSICIONAIS (Lazarsfeld, 1959) Dimensões Definição Polarização Exemplos CAMPO DE ACÇÃO Margem de aplicação das disposições Disposições gerais vs. específicas Valores vs. Opiniões DINÂMICA Grau de ligação da disposição ao "objecto intencionado" Intencionalidade "passiva" vs. "directiva" Atitude face a vs. Desejo de HORIZONTE TEMPORAL Orientação das disposições Presente vs. futuro Necessidade vs. Plano Psicologia Social I / Valentim R. Alferes, 1995, 2006 HORIZONTE TEMPORAL CAMPO DE ACÇÃO PRESENTE ESPECÍFICO • Preferências • Opiniões PASSIVA • Atitudes FUTURO GERAL ESPECÍFICO • Traços de carácter (v.g., largueza de espírito) • Previsões GERAL • Tendências • Inclinações • Valores • Quadros de referência (ideologias) DINÂMICA • Necessidades DIRECTIVA • Desejos • Traços de carácter (v.g., vitalidade, agressividade) • Intenção • Plano de acção • Motivações (tb. presente) Psicologia Social I / Valentim R. Alferes, 1995, 2006 21 1. Proposta para categorizar os conceitos disposicionais com a designação de campo de acção: ele categorizava as ddiissppoossiiççõõeess ccoom moo eessppeecciiffiiccaass vveerrssuuss ggeerraaiiss (um valor seria uma disposição geral e uma atitude/uma disposição especifica). 2. Dinâmica: expressar o grau de ligação da disposição ao objecto intencionado. De acordo com esta dimensão as ddiissppoossiiççõõeess ddiivviiddiirr--ssee--iiaam m eem m ppaassssiivvaass oouu ddiirreeccttiivvaass (exemplo: a atitude tem uma intencionalidade passiva, em contraposição o desejo exprimiria uma dimensão directiva). 3. Horizonte temporal: orientação das disposições que podem ser ddiirreecccciioonnaaddaass ppaarraa oo pprreesseennttee oouu ppaarraa oo ffuuttuurroo (por exemplo: as necessidades estão orientadas para o presente enquanto os planos se orientam para o futuro). E Essppeecciiffiiccoo PPaassssiivvaa - Preferências - Opiniões - Atitudes D Diirreeccttiivvaa - Necessidades - Desejos PPrreesseennttee G Geerraall - Certos traços de personalidade (mais genéricos: largueza de espírito) -Valores - Quadros de referência (ideologias) - Outros traços de personalidade (com uma componente motivacional mais forte – agressividade) FFuuttuurroo E s p e c i f Especifiiccoo G Geerraall - Previsões - Tendências - Inclinações - Intenções - Planos de acção FFuunnççõõeess ddaass aattiittuuddeess:: tem funções na organização do nosso mundo, pode ter funções motivacionais e expressivas da própria personalidade. Procura estudar os objectivos de ter atitudes, o que eles desempenham nas interacções sociais. Tem a ver com dimensão funcional das atitudes (aspectos motivacionais de direcção para a acção). PPrroocceessssoo ddee ffoorrm maaççããoo ddee aattiittuuddeess:: estudar os mecanismos de aprendizagem através dos quais se desenvolvem as atitudes. Pressupõe-se que os processos de formação são os mesmos processos de mudança de atitudes. R Reellaaççõõeess eennttrree aattiittuuddeess ee ccoom mppoorrttaam meennttooss: diz respeito ao estudo das relações entre as atitudes e os comportamentos. M Meeddiiççããoo ddaass aattiittuuddeess:: tem como objecto de estudo central o problema específico da mudança de atitudes e persuasão. Os processos utilizados para a mudança de atitudes são as estratégias de persuasão. Problema epistemológico importante: as atitudes expressam-se numa dimensão avaliativa bipolar, que vai de positivo a negativo. Convém não confundir o que são dispositivos metodológicos para medir as atitudes e o próprio conceito de atitude a respeito de um objecto – este pode ter diferentes atributos (ou seja, podemos gostar de um atributo de um objecto e de outro não). Por outro lado, há que distinguir entre atitudes fortes e atitudes fracas. Há atitudes em que não existe um ponto negativo, só existe um ponto positivo, daí não existe a tal bipolaridade relativamente ás atitudes – há atitudes que não são necessariamente bipolarizadas. 22 Aula nº5 O conceito ttrraaççoo tem uma ideia central: este conceito servia para prever os comportamentos. Existiam relações fortes entre os traços de personalidade e o comportamento manifestado. Em 1968, Mischel provocou uma grande polémica ao dizer que tudo o que dizia respeito ao traço e ao comportamento tinha fraca demonstração empírica. Considerou o conceito traço como insustentável, pois não havia correlações elevadas entre traços e comportamentos. Em 1969, Likert fez um estudo de revisão de literatura sobre a relação entre atitudes e comportamentos – onde encontrou baixas correlações, o que demonstra que não se podem predizer os comportamentos pelas atitudes. La Piere (1934), na experiência que realizou também verificou que não existia uma correlação forte entre atitudes e comportamentos. Contudo, Ajsen e Fishbein afirmaram que esta suficiência resultava de dificuldades metodológicas na concepção desta relação. Assim, propuseram duas soluções: 1. Agregação de atitudes 2. Identificação de factores moderadores (variáveis que pudessem moderar a relação entre atitudes e comportamentos). Então, propõem a tteeoorriiaa ddaa aaccççããoo ppllaanneeaaddaa – distinguiram entre atitudes gerais e específicas, conceptualizaram o comportamento como uma situação de escolha. Identificaram como melhor preditor as intenções comportamentais que, por sua vez, eram determinadas por atitudes específicas. Na tteeoorriiaa ddaa aaccççããoo rreefflleeccttiiddaa: Posteriormente, os autores introduziram um terceiro determinante: o controlo comportamental percebido – a capacidade do indivíduo controlar o seu próprio comportamento. 23 Estes três elementos levam ao comportamento – modelo do comportamento planeado (pagina 212 – Luísa Lima). Variáveis externas Demográficas: Idade Sexo Ocupação Est. socioeconómico Educação Religião Atitudes gerais face a: Crença de que o comportamento provoca determinados resultados Atitude face ao comportamento Avaliação dos resultados esperados Pessoas Instituições Objectos Traços de personalidade Introversão/extroversão Neuroticismo Autoritarismo Importância relativa dos factores atitudinais e normativos no comportamento Crença Intenção Comportament o de que indivíduos ou grupos específicos pensam que a pessoa deve ou não concretizar o comportamento Norma subjectiva relativa ao comportamento Motivação para seguir o que os grupos ou indivíduos específicos pensam sobre o comportamento Controlo comportamental percebido dificuldade percebida na realização do comportamento Relativamente às ffuunnççõõeess ddaass aattiittuuddeess: - FFuunnççããoo m moottiivvaacciioonnaall: o valor para o próprio indivíduo. - FFuunnççããoo ccooggnniittiivvaa: diz respeito à organização do mundo pessoal. Um dos modelos mais importantes – é o m mooddeelloo ddee eeqquuiillííbbrriioo ddee H Heeiiddeerr (1958) Considera 3 entidades: pessoa (P), objecto (O) e outra entidade (X). onde se estabelecem rreellaaççõõeess ddee uunniiddaaddee (caracterizam a relação cognitiva: quando os sujeitos percebem que estão relacionados) e rreellaaççõõeess ddee sseennttiim meennttoo (diz respeito à avaliação a afectos que podem ser mais ou menos entre as 3 entidades). O sistema está em equilíbrio quando há concordância dos sinais – podemos verificar se o sistema está em equilíbrio multiplicando os sinais. A partir deste modelo, podem-se prever mudanças atitudinais no sentido de equilíbrio do sistema. PPeerrssuuaassããoo Existem três processos básicos susceptíveis de conduzir à mudança de atitudes: Persuasão. Exposição directa ao objecto e à atitude. Modificação das contingências dos comportamentos associados à atitude (mecanismos básicos de aprendizagem). Em 1968, Zajong demonstrou que a simples exposição a um estímulo é susceptível de modificar a nossa atitude face a esse estímulo. Na sua experiência dava ao sujeito 12 palavras turcas (os sujeitos não sabiam o seu significado) e pedia para avaliarem essa 24 palavra com a qualificação de bom/mau, numa escala. As palavras mais mostradas eram as que eram mais avaliadas. A partir de certa altura há saturação. O principal mecanismo de mudança de atitudes é a persuasão: É quase comparada com a educação. Pode ir de uma acção pedagógica formal aos meios mais informais. Esta questão atravessa o nosso mundo (televisão, campanhas eleitorais, publicidade…). A comunicação persuasiva é uma estratégia de mudança de atitudes, via mediação social. M Mooddeelloo B Biiffaaccttoorriiaall ((M MccG Guuiirree)) Atenção x Compreensão x Aceitação x Retenção x Comportamento A atenção é o componente motivacional. Enquanto a compreensão é o componente cognitivo – aqui, a inteligência tem um efeito paradoxal porque favorece a recepção da mensagem mas pomos mais obstáculos à aceitação da mensagem. O estudo da persuasão começou depois da Segunda Guerra Mundial. Quem diz o quê, a quem, através de que meios, o que provocam? É importante a credibilidade. A principal conceptualização contemporânea de comunicação persuasiva é a de Petty e Cacciopo – procuraram identificar quais os processos básicos responsáveis pela eficácia das mensagens persuasivas e quais os processos presentes no modelo de McGuire. Assim, distinguiram dois caminhos para a persuasão: 1. Caminho principal da persuasão. 2. Caminho periférico da persuasão. Na estrada/no caminho principal os sujeitos despendem esforço, procedem a uma avaliação cognitiva elaborada sobre os argumentos persuasivos. No caminho periférico, não se verifica esse esforço de codificação da mensagem e os indivíduos utilizam regras diferentes, mecânicas de aceitação da mensagem. Designam-no de m mooddeelloo ddaa pprroobbaabbiilliiddaaddee ddee eellaabboorraaççããoo – querendo dizer que a distância entre estes dois caminhos é o grau com que estes sujeitos elaboram as mensagens – pressupõe a existência de factores. Logo, para que se possa aceitar uma mensagem existem dois factores básicos: 1. FFaaccttoorr ccooggnniittiivvoo – tenho que ser capaz de a processar. 2. FFaaccttoorr m moottiivvaacciioonnaall – tenho que estar motivado para receber. Estudo realizado por Petty e Cacciopo: V Vaarriiáávveell IInnddeeppeennddeennttee 11 – envolvimento (motivacional), com dois níveis: Baixo. Alto. V Vaarriiáávveell IInnddeeppeennddeennttee 22 – qualidade de argumentação, com dois níveis: 25 Argumentação de qualidade para justificar a introdução dos exames globais. Argumentação de baixa qualidade. V Vaarriiáávveell IInnddeeppeennddeennttee 33 – fonte de comunicação, com dois níveis: “Expert” (alguém de uma comissão sobre educação). Não “expert” (turma de outra escola). Passaram-se questionários para verificar o grau de favorabilidade ou não perante a introdução do exame global. Favorável Fonte: Especialista A Attiittuuddee Fonte: Outra Turma Desfavorável Alto Baixo E Ennvvoollvviim meennttoo Quando o envolvimento é forte, os sujeitos entram pelo caminho central de descodificação da mensagem. Os que não estão envolvidos optam pela via periférica. O grau de envolvimento tem um efeito diferencial no grau de importância atribuída à fonte. Favorável Argumentos fortes A Attiittuuddee Argumentos fracos Desfavorável Alto Baixo E Ennvvoollvviim meennttoo Quando há envolvimento os argumentos pesam muito mais na manipulação das atitudes (Petty, Cacciopo e Goldam, 1981). Os elementos na publicidade funcionam como estratégia para as pessoas não se centrarem na via central de descodificação de mensagem, são distractores para não haver uma descodificação cognitiva, e por via central, mas por via periférica. A experiência de Festinger e Carlsmith é um meio de modificação de atitudes. 26 COMUNICAÇÃO PERSUASIVA MUDANÇA DE ATITUDES PERIFÉRICA A atitude é temporária, susceptível de mudança e pouco preditora do comportamento ESTÁ MOTIVADO PARA PROCESSAR A INFORMAÇÃO? -Relevância pessoal -Necessidade de cognição - Responsabilidade pessoal Si TEM CAPACIDADE PARAmPROCESSAR A INFORMAÇÃO? -Distracção, repetição - Conhecimento prévio - Compreensibilidade da mensagem Nã o SINAIS PERIFÉRICOS PRESENTES? - Afecto positivo ou negativo - Fonte especialista - Número de argumentos Nã o Si m NATUREZA DO PROCESSAMENTO COGNITIVO - Atitude inicial em relação ao tema - Qualidade dos argumentos Predominam pensam. favoráveis Predominam pensam. desfavoráveis Sim, desfavoráveis Mudança central de atitudes positiva Mudança central de atitudes negativa Nã o Predominam pensam. neutros MUDANÇA NA ESTRUTURA COGNITIVA - Adoptam-se novas cognições e são armazenadas na memória? Há respostas diferentes do que as anteriores? Sim, favoráveis Si m A atitude é relativamente duradora, resistente e preditora do comportamento RETENÇÃO OU RECUPERAÇÃO DA ATITUDE INICIAL Modelo da Probabilidade da Elaboração (Petty & Cacioppo, 1981) Aula nº6 Hoje vamos entrar no sub-capitulo relacionado com a percepção e explicação das condutas sociais – centra-se em duas problemáticas clássicas da psicologia social que se prendem com os processos de formação de impressões e de atribuição causal – ou seja, preocupar-nos com o modo como as pessoas percepcionam as outras e formar percepções acerca delas e, além disso, vamos passar para a explicação das próprias condutas sociais. Não há uma segunda vez para causar uma primeira impressão – tem que se tomar consciência da importância das primeiras impressões que formamos dos outros e vermos as repercussões que tem nas interacções sociais. A problemática de formação de impressões está relacionada com as tteeoorriiaass iim p mpllíícciittaass ddaa ppeerrssoonnaalliiddaaddee. Podem ser conceptualizadas como crenças gerais que mantemos a propósito da espécie humana, nomeadamente naquilo que diz respeito à frequência e variabilidade de um traço de carácter numa dada população. Para além desta percepção geral podemos ter uma acepção mais restrita das teorias implícitas da personalidade – como constituindo matrizes da população (retratos robot) de determinados traços que transportamos “nas nossas cabeças” (a partir de um taco fazemos inferências sobre os outros, que podem estar correlacionados). As teorias dizem-se implícitas por duas razões principais: 1. Os sujeitos não têm necessariamente consciência deles e é provável que não as saibam formalizar. 27 2. São obviamente teorias sem fundamentos científicos, ás quais recorremos para nos avaliar a nós mesmos e aos outros, ao nosso comportamento e ao dos outros e para prevermos os comportamentos. As teorias implícitas dependem da motivação e dos nossos estados emocionais e do nosso funcionamento cognitivo. As teorias implícitas formam-se através de três tipos de experiências: Informações verbais. Características físicas (um dos estereótipos mais comuns de que o “belo é bom” – esta inferência a partir de uma característica física serve-nos para inferir características interiores). Pertença a determinados grupos sociais. Experiência de Ach – relativo à formação de impressões: divide os sujeitos em dois grupos aos quais deu as mesmas instruções gerais. A um grupo lê-se uma lista de adjectivos positivos e ao outro grupo lê-se a mesma lista mas no meio coloca-se um adjectivo diferente – esse adjectivo que variou de um grupo para o outro foi “caloroso” e “frio”. No final, colocam-se aos sujeitos duas questões: em que medida eles queriam conhecer a pessoa e em que medida gostariam de manter uma relação com essa pessoa – sendo-lhes solicitado que respondam ás duas questões numa escala de 0 (pouco) a 10 (muito). Ele verificou que o grupo onde foi lido o adjectivo “frio” revelou valores mais baixos ás duas questões. Assim, o traço “caloroso/frio” tinha uma importância suficientemente forte para fazer com que a impressão sobre a pessoa fosse bipolarizada. O Ach fez esta mesma experiência com outros traços e verificou que alguns deles não tinham modificação nenhuma – a esses traços chamou traços periféricos. Em 1954, em termos teóricos, a expressão “teorias implícitas da personalidade” foi introduzida por Bruner e Tagiuri, para descrever a percepção das pessoas. O desenvolvimento da problemática está associado a três sub-domínios: 1. Estudos sobre a percepção social (escola do “newlook” – Bruner é um dos principais representantes, ressalta a importância dos factores motivacionais, na própria percepção). 2. Estudo dos processos de atribuição psicológica cognitiva. 3. Trabalho clássico de Michel – em que desmistificou muitas das teorias, ditas, cientificas da personalidade. A conceptualização das teorias implícitas da personalidade – deve ser colocada numa perspectiva motivacional em que todo aquele que observa tem o objectivo observacional que o leva a focar a sua atenção em categorias ou segmentos de comportamentos relevantes para os ses propósitos. Toda a observação que nós fazemos subordina-se a objectivos do próprio observador. Assim, podemos ter três objectivos observacionais: 1. Quando observo à procura de informação ou aprendizagem. 2. Quando me centro na analise da personalidade do outro – identificação do carácter e dos traços que lhe estão subjacente. 3. Estritamente de avaliação do outro 28 Existem, basicamente, dois modelos teóricos do processo de atribuição: M Mooddeelloo ddee A Acchh Afirmava que a partir de traços-estímulos nós formamos uma impressão geral e a partir dela procedíamos à inferência de traços particulares. Traços-estímulo Inferência geral Inferência de traços particulares M Mooddeelloo ddee B Brruunneerr ee T Taaggiiuurrii Postulam uma estrutura cognitiva intermédia que se chama teorias implícitas da personalidade e a partir dela se fazem inferências gerais e inferências de traços particulares. Inferência geral Traços-estímulo Teorias implícitas da personalidade (TIP) Inferência de traços particulares A origem das teorias do estudo dos processos de atribuição remonta a uma das figuras maiores de psicologia social – Heider – ele publicou, em 1958, o livro “Psicologia das relações inter-pessoais” que está na origem daquilo que tem vindo a ser designado de psicologia do senso comum. Este autor preocupava-se em perceber o modo como o “homem de rua” explicava o comportamento – este servia-se de fábulas para introduzir alguns conceitos que o “homem de rua” utiliza (como, por exemplo, poder, querer…) na explicação do comportamento. Ele introduziu dois conceitos principais: 1. Formação-unidade: este conceito referia-se aos processos através dos quais a origem e o efeito, o autor e o acto são vistos como fazendo parte de uma mesma unidade causal. 2. Pessoa como protótipo das origens: a consequência mais importante da junção entre acto e actor é que o actor fosse compreendido como a causa mais verosímil dos comportamentos. Ele distingue entre uma oposição fundamental, entre causas internas (atribuições internas) e causas externas (atribuições externas) – no sentido de formalizar o modo como o sujeito explica as condutas dos outros Heider introduz mais conceitos de natureza pessoal: Poder/capacidade. Tentativa/esforço (claramente de natureza motivacional). Conceito ambiencial – que diz respeito ás dificuldades das tarefas/situações. 29 A máxima de Heider, que mostra a sua conceptualização acerca das atribuições, afirma que para que estejamos em condições de afirmar que existe uma causalidade pessoal é necessário que atribuamos ao outro a capacidade de esforço para realizar determinadas acções/tarefas. Teoria de Jones e Davis – que é a tteeoorriiaa ddee iinnffeerrêênncciiaa ccoorrrreessppoonnddeennttee: é a teoria de atribuição de Kelley inspirada nos dados da ANOVA. Esta teoria de Jones e Davis é uma formalização das ideias avançadas pelo Heider e trata-se no fundo de explicar como os indivíduos fazem inferências sobre as intenções dos outros e à posteriori das disposições que estão por trás dessas intenções. Jones e Davis procuraram sistematizar as ideias de Heider. D Diissppoossiiççõõeess IInnffeerrêênncciiaass Intenções Conhecimento Capacidade O Obbsseerrvvaaççããoo Acção Efeito 1 Efeito 2 Efeito 3 Teoria da inferência correspondente: postula no decurso do processo atributivo a partir da observação das acções e dos seus efeitos nós fazemos inferências de intenções comportamentais e por detrás delas imputamos traços fixos/de carácter – disposições. Jones e Davis afirmaram também que neste processo de imputação de intenções e disposições o observador tem que pressupor que o actor tem conhecimento das suas acções/efeitos e tem capacidade para realizar essas acções. Chama-se, então, teorias de inferência correspondente ás acções e seus efeitos que vão corresponder a intenções e disposições. No processo de atribuição de intenções e á posteriori de disposições Jones e Davis falam de dois princípios fundamentais: 1. Princípio dos efeitos não comuns – disposição e intenção que orienta uma acção é indicada pelas consequências/efeitos dessa acção que não são comuns a acções alternativas. 2. Princípio da desiderabilidade social – diz respeito ás crenças que o observador tem sobre aquilo que os outros fariam na mesma situação. Teoricamente, os efeitos que são desejáveis para o actor indicariam melhor as suas intenções, contudo, efeitos universalmente desejados são pouco informativos. Neste contexto, seriam os comportamentos indesejados socialmente (que não estariam de acordo com o seu papel social) que seriam mais informativos para a atribuição das intenções. Em relação ao modelo de Heider há pelo menos duas limitações principais: Presume a cadeia intenção – disposição, contudo é legítimo dizer que há disposições que não podem ser inferidas por intenções. É problemática que os indivíduos cognitivamente conseguiam processar (articular) os comportamentos dos outros. O modelo de Kelley, por sua vez, aplica-se simultaneamente à hetero e auto-observação do comportamento. 30 Aula nº7 PPeerrcceeppççããoo ee eexxpplliiccaaççããoo ddaass ccoonndduuttaass ssoocciiaaiiss (modelo de atribuição causal e erros de atribuição) Neste sub-capítulo estamo-nos a centrar nos processos de percepção e explicação das condutas sociais. Nos anos 70-80, a psicologia social centrou-se nos processos atribucionais e vimos isto na psicologia de Heider. As intuições de Heider foram sistematizadas na tteeoorriiaa ddaa iinnffeerrêênncciiaa ccoorrrreessppoonnddeennttee: teoria que se aplica de modo especifico à imputação de causalidades nas acções do observado. M Mooddeelloo ddee K Keelllleeyy Começa por ser, simultaneamente, a teoria da hetero-atribuição mas também da auto-atribuição. É um modelo abrangente, que inclui a explicação do nosso comportamento tanto como dos outros. O Kelley distingue a análise dos processos atributivos dois tipos de situações: Em primeiro lugar, situação em que o indivíduo dispõe de informação proveniente de múltiplas fontes e que lhe é possível avaliar correlações, covariações entre efeitos e causas presumíveis. Nestas circunstâncias ele afirma que os actores sociais se comportam como cientistas que fazem uma análise causal do comportamento. Assim, propõe o m mooddeelloo ddaa ccoovvaarriiaaççããoo – baseia-se nos métodos de inferência causal (para uma causa há sempre necessário que esteja um efeito presente). Em segundo lugar, se a informação é limitada e os sujeitos não oportunidade de avaliar as covariações entre as causas e efeitos, Kelley refere que o modo de imputação de causas se baseia no recurso a esquemas causais pré-existentes (previamente adquiridas que poderão funcionar como regras) – designado m mooddeelloo ddee ccoonnffiigguurraaççããoo. Os processos de imputação de causalidade, tanto hetero como auto-atribuição dependem da quantidade de informação disponível. A pergunta que Kelley se faz quando há o modelo de covariação é quais são as variáveis que provocam esse comportamento – ele distingue assim dois tipos de variáveis dependentes: Aquelas que dizem respeito ás pessoas. Aquelas que dizem respeito ás entidades. Aquelas que dizem respeito ás circunstâncias. No processo de avaliação da covariação (no processo de estabelecimento das relações/padrões que explicariam o comportamento) Kelley fala de três tipos de critérios: C Coonnsseennssoo: utilizado quando estamos a avaliar as pessoas como causa. D Diissttiinnttiivviiddaaddee: utilizado quando fazemos idêntica avaliação ás entidades. C Coonnssiissttêênncciiaa: quando fazemos a avaliação relativamente ás circunstâncias. Ver esquema (João – Maria) – principio da covariação: padrões de informação conducente à atribuição a pessoa, a entidade e ás circunstâncias. 31 O padrão de informação diz respeito ao consenso, distintividade e consistência. PPeessssooaa ((ccoonnsseennssoo)) C EEnnttiiddaaddee Ciirrccuunnssttâânncciiaass ((ccoonnssiissttêênncciiaa)) ((ddiissttiinnttiivviiddaaddee)) B Baaiixxoo (((“““sssóóóaaa A M Allttoo (((“““AAAM Maaarrriiiaaarrriii B Baaiixxoo (((“““mmmaaaiiisssnnniiinnnggguuuééémmm M M Maaarrriiiaaarrriii”””))) ssseeem m m mppprrreeecccooom meeesssttteee cccooom m meeedddiiiaaannnttteee””” ssseeerrriii”””))) Atribuição interna: é qualquer coisa que existe na Maria que a faz rir! A Maria ri do comediante PPeessssooaa ((ccoonnsseennssoo)) C EEnnttiiddaaddee Ciirrccuunnssttâânncciiaass ((ccoonnssiissttêênncciiaa)) ((ddiissttiinnttiivviiddaaddee)) A Allttaa (((“““tttooodddaaaaaa A M M Allttoo (((“““AAAM Maaarrriiiaaarrriii A Allttaa (((“““aaaM Maaarrriiiaaarrriii---ssseeedddeee gggeeennnttteeessseeerrriii”””))) ssseeem m m mppprrreeecccooom meeesssttteee cccooom m meeedddiiiaaannnttteee””” tttuuudddooo”””))) Atribuição externa: é qualquer coisa no comediante que faz rir a Maria! Kelley cometeu, contudo, alguns enviesamentos! Análise de situação em que o sujeito dispõe de informação limitada, ou seja na segunda situação (informação de uma única circunstância). Nestes contextos baseamonos no modelo da configuração (ou seja, configuração actual das características possíveis). Assim, recorremos a eessqquueem maass ccaauussaaiiss: que é uma concepção geral que o indivíduo tem sobre o modo como determinadas causas interagem para produzir o efeito. Entre outros esquemas causais, Kelley refere dois principais: O O eessqquueem maa ddaass ccaauussaass ssuuffiicciieenntteess m múúllttiippllaass: em que o acontecimento se produz mesmo que só esteja uma causa presente. O O eessqquueem maa ddaass ccaauussaass m múúllttiippllaass: o acontecimento só se produz estando todas as causas presentes. Assim, Kelley propõe dois princípios: Principio da subtracção/desconto: o papel de uma causa diminui quando estão presentes outras causas igualmente plausíveis. Principio do aumento: o papel de uma causa é sobrevalorizado caso esta produza um efeito na presença de uma causa inibitória. Podemos apreciar o modelo de Kelley sintetizando as críticas ao modelo de covariação em três aspectos principais: Confusão entre correlação e causalidade. 32 Esta critica é mais de natureza metodológica, diz respeito ao conjunto de investigações de Kelley. Os sujeitos já tinham sido confrontados com padrões de comportamento parecidos com os da experiência – a informação tinha sido empacotada. Os investigadores têm dificuldades relativamente à ANOVA. Relativamente ao modelo de configuração, ainda que sejam plausíveis os esquemas causais de Kelley não existe evidência suficiente que afirme que eles funcionam como Kelley dizia. Mas mais importante que isso é que Kelley desvaloriza as representações sociais que estão subjacentes à construção dos esquemas causais. M Mooddeelloo ddee W Weeiinneerr Atribuição de causalidade em situações de desempenho. O Weiner afirma que as atribuições de sucesso e fracasso podem se conceptualizadas. Segundo três dimensões principais: L Looccuuss ddee ccaauussaalliiddaaddee – diz respeito à localização das causas. O locus de causalidade pode ser interno ou externo, dependendo de onde o sujeito localizava as causas do seu comportamento. E Essttaabbiilliiddaaddee – tem que ver com a invariância das causas ao longo do tempo. PPeerrcceeppççããoo ddoo ccoonnttrroolloo – que o individuo tem sobre as causas. Estabilidade Locus de causalidade Estáveis Instáveis Internas Capacidade Esforço (empenhamento) Externas Dificuldade da tarefa Azar/sorte Se os resultados forem bons tendemos a atribui-lo a causas internas mas se os resultados forem maus atribuímos a causas externas – é uma posição ego defensiva! Também utilizamos “self-handicaps” (ou seja, estratégias de auto-defecitação) para não nos pormos em causa. Nos numa perspectiva defensiva recorremos a estratégias sociais de defesa do nosso eu. 33 E Errrrooss aattrriibbuuttiivvooss ee iinntteenncciioonnaaiiss Exemplo – em 150 pessoas verificou-se o seguinte: Doença A Presente Sintoma X Ausente Presente Ausente 20 pessoas (sofrem da 10 pessoas (tem o sintoma doença e manifestam os sintomas) 80 pessoas (sofrem da doença mas não apresentam o sintoma) mas não sofre da doença) 40 pessoas (não sofrem da doença mas apresentam o sintoma) Tendo em atenção o quadro, escolha uma destas três alíneas: a. A relação entre o sintoma X e a doença A é positiva. b. A relação entre o sintoma X e a doença A é negativa. c. Não existe qualquer relação entre o sintoma X e a doença A Pois, X² = 0 A alínea certa é a c. mas muitas pessoas tem tendência para não ter em atenção os dados todos. Tem a ver com os erros inferenciais – a dificuldade das pessoas terem de fazer inferências com base nas co-variaçoes. O principal erro tem o nome de eerrrroo ffuunnddaam meennttaall ddaa aattrriibbuuiiççããoo, pode ser descrito de uma forma muito simples: é a tendência que os indivíduos têm para enfatizar as causas disposicionais em detrimento das causas situacionais – sobrevaloriza as causas situacionais internas em relação às externas. Existem duas explicações principais em relação à persistência deste erro: 1. Diferenças entre actor e observador: para o observador o actor é mais saliente do que a situação, donde existe uma maior probabilidade de fazermos atribuições internas. 2. Situa-se num plano mais genérico e faz apelo à norma social de internalidade – em termos de representações sociais nós construímos a ideia de que os comportamentos são explicáveis por factores internos dos actores. A primeira experiência, nos finais dos anos 60 (que está na origem do baptismo deste erro fundamental), é a seguinte: Os estudantes americanos são convidados a ouvir a dissertação supostamente elaborada por outro estudante, redacção em que são defendidas posições a favor de Fidel Castro e posições desfavoráveis a Fidel Castro (sendo que as dissertações desfavoráveis eram esperadas enquanto que as posições favoráveis eram inesperadas). A outra manipulação era feita dizendo que certos estudantes que o que redigiu a dissertação era obrigados a fazê-la (independentemente de gostar ou não) e a outros sujeitos era dito que o estudante tinha a possibilidade de escolher a redacção que fez. Os verdadeiros sujeitos da experiência são aqueles aos que foi pedido para avaliar os que eles pensavam ser os redactores da dissertação. Os resultados obtidos mostram que os sujeitos ignoraram a causa situacional e fizeram uma imputação de causalidade disposicional interna. 34 Em síntese, um erro é cairmos no erro fundamental – ou seja, é um erro negligenciar as explicações situacionais externas e centrar-nos nas explicações situacionais internas. Existem diferentes erros avaliativos (na diversa literatura), que fogem aos modelos inferenciais normativos: Ignorar as linhas de base (não ligam à probabilidade dos dados). “Self serving bias” (distorções em beneficio próprio). Distorções em beneficio do grupo (aqui surge o efeito da ovelha ranhosa, ou seja, favorecemos a identidade grupal em detrimento dos outros grupos). H Heeuurrííssttiiccaass (que são esquemas interpretativos) que as pessoas utilizam: podem ser conceptualizadas como regras de algibeira que as pessoas utilizam para fazer inferências. Nisbett e Ross sistematizaram as heurísticas e falam de: H Heeuurrííssttiiccaa ddaa ddiissppoonniibbiilliiddaaddee – prende-se com as situações em que solicitamos às pessoas para avaliarem a frequência relativa de certos objectos ou a probabilidade de ocorrência de acontecimentos particulares (nestas circunstâncias as avaliações são influenciadas pela disponibilidade dos objectos ou acontecimentos – esta disponibilidade é definida pelo seu grau de acessibilidade aos processos de memória, construção, percepção… assim, baseia-se na saliência perceptiva, memorabilidade ou imaginabilidade de objectos ou acontecimentos particulares. H Heeuurrííssttiiccaa ddaa rreepprreesseennttaattiivviiddaaddee, resulta da aplicação sistemática que nós fizemos de critérios de semelhança, dos problemas de categorização (ou seja, na assimilação de objectos e situações a categorias cognitivas que temos previamente constituídas). Tendemos a ler em função dessas construções/categorias mentais. 35 Presente SIM SIM SIM Presente CAUSA B CAUSA B SIM Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Presente CAUSA A CAUSA A CAUSAS SUFICIENTES MÚLTIPLAS CAUSAS NECESSÁRIAS MÚLTIPLAS ESQUEMAS CAUSAIS (Kelley, 1972) PRO 65.0 ESCOLHA NÃO-ESCOLHA ATRIBUIÇÃO DE ATITUDES 32.5 0.0 ANTI PRO-CASTRO (inesperado) ANTI-CASTRO (esperado) ATRIBUIÇÃO DE ATITUDES EM FUNÇÃO DA DIRECÇÃO DO DISCURSO E DA LIBERDADE DE ESCOLHA (Jones & Harris, 1967) 36 Aula nº8 A Attrraaccççããoo iinntteerrppeessssooaall,, sseexxuuaalliiddaaddee ee rreellaaççõõeess íínnttiim maass “A sexualidade está em todo o lado menos no sexo” (V.A.) O sistema social e o sistema sexual interpenetram-se a tal ponto que se torna uma tarefa impossível tentar isolar uma entidade autónoma, não contaminada pela história e pela cultura, chamada sexualidade. Aceita-se assim que o desejo sexual constitui um dos componentes principais das relações passionais. A sexualidade não aparece no entanto como circunscrita às situações românticas e amorosas. A conjugação amor/sexo não é uma necessidade biológica, nem um imperativo social, mas, apenas uma das possíveis soluções históricoculturais para o problema da articulação entre reprodução biológica e vinculação social. SEXUALIDADE: INSTINTO/NORMA Os comportamentos sexuais podem ser analisados de duas formas: numa perspectiva psicobiológica (o sexo tal como a fome ou a sede constitui uma necessidade biológica, uma função corporal geneticamente condicionada) ou tendo como base perspectivas estritamente antropológicas/sociológicas (que insistem nas regularidades normativas, associadas às infra-estruturas familiares e sociais, ignoram o sujeito como capaz de gerir o corpo e as suas experiências e de dar significado aos seus comportamentos). Lévi-Strauss foi um dos muitos que tentou articular ambas as perspectivas propondo-nos uma “análise ideal” das relações entre natureza e cultura a partir do carácter contraditório da proibição do incesto. A proibição do incesto é uma norma (logo é cultural) e é universal (logo natural). É assim na interdição de uma categoria particular de relações sexuais que radicam os fundamentos das estruturas sociais (de aliança e parentesco) que vão regular as relações entre os sexos. A articulação que Lévi fez não nega a oposição instinto/norma, apenas mostra uma certa preferência pela segunda. Contudo este autor fala em amor socializado e não em sexualidade ou amor libidinal (como referiu Bataille). A sexologia contemporânea tende a justapor os planos biológico, psicológico e social da sexualidade, definindo-a como tudo aquilo que circula entre a determinação genética do sexo e a atribuição social de papéis sexuais. Aparentemente neutra e global, resulta no entanto numa preferência pelo biológico. Para além deste ecletismo podemos ainda falar num acentuado ateoricismo. Esta polarização instinto/norma leva a uma nítida exclusão do sujeito que é criticada por Foucault. Vamos então adoptar uma teoria psicossocial que assenta no pressuposto de que os comportamentos sexuais constituem uma forma particular de interacção humana. Neste sentido é de grande relevância a teoria dos scripts sexuais de Gagnon e Simon. Estes auores recusam-se a encarar a sexualidade como um instinto, motivação ou pulsão interiores ao organismo, biologicamente relevante, mas historicamente imutável; por outro lado, a preocupação com os processos mais gerais de construção social da 37 sexualidade não impede que esta seja equacionada como uma experiência individualmente significativa. Um pouco de história… No período pós-romântico (desde meados do séc. XIX) assistiu-se a um vasto movimento de repressão da sexualidade, sob a bandeira da moral vitoriana. Nesta altura a teoria da degenerescência e as especulações sobre os efeitos nocivos da masturbação dominavam o pensamento médico. Foi neste clima adverso que nasceu a sexologia. Desde o início do cristianismo que a sexualidade era matéria privilegiada da “confissão”, algo que se mantinha nesta altura (e ainda tende a manter-se hoje em dia embora em menor escala). E esta laicização da confissão que constitui o elemento nuclear do dispositivo de produção de verdade sobre o sexo, que teria operado nas sociedades ocidentais a partir dos finais do séc. XVI. Tal dispositivo caracteriza-se essencialmente por “fazer funcionar os rituais da confissão nos esquemas da regularidade científica” (combinação da confissão com técnicas do exame/interrogatório/questionário; aceitação do postulado de que o sexo está na origem de tudo e que o seu poder não conhece limites; necessidade de fazer o sexo “falar” embora ele teime em esconder-se; É preciso saber ouvi-lo mas também interpretá-lo; substituição das categorias de pecado ou transgressão pelas categorias nosológicas de normal ou patológico). PROTOSSEXOLOGIA: O sexo como reprodução Krafft-Ebinn publicou em 1886 Psychopatia Sexualis. Esta obra é marcada por um conservadorismo moralizante, dá particular atenção aos crimes relacionados com o sexo e constrói-se em torno da perversão, definindo como patológico tudo o que é exterior ao coito heterossexual reprodutivo. O simples beijo é considerado como potencialmente patogénico e a masturbação é tida como a principal responsável pela generalidade das aberrações sexuais, que, por via hereditária, se transmitiriam às gerações futuras, conduzindo, potencialmente, à sua própria extinção. Apesar da importância desta obra é Havelock Ellis que é considerado o verdadeiro percursor da sexologia moderna. Este interessa-se prioritariamente pela sexualidade dita normal e pelas suas variações culturais opondo-se à doutrina da “insanidade masturbatória”. Critica a noção de exclusividade do prazer masculino, realça o papel dos factores psicológicos nas disfunções sexuais e contribui para uma “despatologização “ da homossexualidade. Privilegia uma intervenção pedagógica no campo da sexualidade em detrimento das formas de controlo médico-legal. PSICANÁLISE: A anatomia como destino Freud afirma a existência de uma pulsão sexual autónoma, considerando-a como factor de motivação, organização e desenvolvimento da sexualidade (libido). A perversão dá lugar à psicose. Embora envolta na ideia de que o seu discurso é libertador a psicanálise assume como norma o primado da genitalidade masculina, introduz problemas da sexualidade onde não os há e vê a sexualidade infantil como uma mera sucessão de zonas erógenas modais. SEXOLOGIA MODERNA: A fisiologia como regra Este momento ter-se-á iniciado com Reich e Kinsey, entre 1922 e 1948. A Reich interessa sobretudo apreender a sexualidade a partir do conflito entre pulsões sexuais e repressão social. A sociedade, ao impedir a livre descarga da tensão/energia sexual, é responsável por modificações crónicas de carácter que se 38 traduzem numa “couraça caracterial”. Deve assim eliminar-se a “rigidez psicofísica” e deixar que todo o corpo participe no orgasmo genital. Interessa reter a reintrodução do corpo nesta problemática e a afirmação da dimensão político-ideológica do sexo. Kinsey foi responsável pelo maior acontecimento na história da sexologia do séc. XX alterando o modo de pensar sexológico da época. A sexologia tornou-se “orgasmologia”. Os comportamentos sexuais, quaisquer que sejam as formas que revistam ou a natureza da relação que os enquadra, são manifestações fisiológicas necessárias. O conceito de descarga sexual permite-lhe equacionar o coito heterossexual como virtualmente equivalente à masturbação, às poluções nocturnas, às carícias heterossexuais, às relações homossexuais e aos contactos com animais. A resposta orgástica é idêntica no homem e na mulher. A masturbação chega mm a ser recomendável e as grandes perversões são tão raras que não justificam as preocupações morais e sociais de que haviam sido alvo. Os estudos de Kinsey receberam algumas críticas devido a possíveis problemas de selecção e representatividade das amostras ou da fiabilidade dos dados das entrevistas (metodológicas). Na sequência do trabalho de Kinsey, Masters e Johnson (1966) publicam Human Sexual Response. Combinam o recurso à observação directa com o registo de índices fisiológicos, centrando-se agora o saber na “fisiologia do prazer” e subordinado a imperativos de ordem terapêutica. Em todos os autores referidos o denominador comum é a importância dos factores biológicos na determinação das condutas sexuais. A actividade sexual aparece como expressão dos estados fisiológicos internos e como necessária à reprodução da espécie. Verifica-se uma crença na inteligibilidade biológica da sexualidade que provoca desinteresse por parte das ciências sociais e psicológicas. Psicologia social: construção social e significação pessoal da sexualidade Passemos agra a uma “grelha de leitura” do desenvolvimento sexual que coloca a tónica nas marcações sociais, na periodização cultural. Por um lado sublinham-se os processos de socialização, o carácter progressivo do desenvolvimento sexual via interiorização de modelos sócio-culturais; por outro lado acentua-se a importância de determinadas circunstâncias estruturantes do devir humano, em particular os rituais de passagem e de iniciação. O desenvolvimento sexual é pensado como a entrada gradual no mundo da sexualidade, cujas significações são, contudo, determinadas por grandes rupturas simbólicas. Esta perspectiva mostra-se muito imprecisa e redutora. Nem os modelos biológicos nem as teorias clássicas da socialização se dão conta de que para compreender o desenvolvimento sexual é necessário proceder à contextualização dos comportamentos, situando-os no interior das estruturas relacionais em que ocorrem. Gagnon e Simon introduziram o conceito de script sexual para dar conta do carácter construído da sexualidade. Os scripts sexuais, que constituem um caso particular dos scripts sociais, podem ser definidos como esquemas (socialmente construídos) de atribuição de significação e de orientação (direcção) da acção. Os scripts referem-se às modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas, constituindo simultaneamente, sistemas de interpretação e de categorização do real e modelos ou guias de acção. Os scripts funcionam, simultaneamente, ao nível da compreensão e do comportamento. Para que um sript seja activado é necessário que o contexto desencadeador apropriado esteja presente, que o 39 indivíduo possua uma representação cognitiva estável dos elementos do script e, sobretudo, que se decida a “entrar” no script, i.e., que a representação do script comporte uma “regra de acção” correlativa. No interior de uma dada cultura, os scripts sexuais especificam: quem são os possíveis parceiros sexuais, em que circunstâncias é apropriado comportarmo-nos sexualmente e que tipo de actividades nos são “permitidas” e quais os motivos ou razões que nos levam a comportar de modo sexual. É com o estudo sistemático dos scripts sexuais que nos damos conta do carácter construído e da significação pessoal da sexualidade. A importância dos scripts na regulação dos comportamentos sexuais pode ser perspectivada a 3 níveis distintos: - encenações culturais (guias gerais da acção) -scripts interpessoais (a sexualidade é perspectivada em função das respostas concretas dos actores sociais às expectativas normativas decorrentes das encenações culturais) - nível intrapsíquico dos scripts / encenação privada do desejo [ dizem respeito à ligação entre fantasias e actividades sexuais, à articulação entre imaginário e comportamento; “sequência de significações (ligadas a actos, posturas, objectos, gestos) que induz e mantém a activação sexual, conduzindo eventualmente ao orgasmo” ] Críticas às teorias construtivistas da sexualidade 1. Negação do componente biológico da sexualidade (interessa a gestão do corpo no quadro das trocas sexuais e não as potencialidades reprodutivas ou “capacidades eróticas”). 2. Anulação do sujeito face às “imposições” decorrentes dos scripts (esta crítica só fará sentido se se optar por uma visão mecanicista de script já que um script não é um programa mas sim um esboço ou guia. Nem todos os comportamentos são resultantes da actualização de scripts e estes resultam de um processo de construção que tem origem nas próprias interacções humanas). “A conduta sexual humana tem carácter duplo: é simultaneamente regulada e improvisada. “ A entrada num script é indissociável dos parâmetros situacionais e pessoais que, de modo permanente, regulam os comportamentos. Há também que ter em conta as interacções humanas e as práticas sociais como fontes de modificação dos scripts existentes. Encenações culturais, interpessoais e intrapsíquicas da sexualidade Encenações culturais e regulação social da sexualidade Instituições e orientações normativas Em qualquer formação social é possível distinguir pelo menos duas realidades no domínio da sexualidade: temos o continente do “amor socializado” e o da “sexualidade libidinal”. Mais do que conflituais ou incompatíveis são complementares: a regulação da sexualidade pelo casamento, deixa, apesar de tudo, uma porta aberta para o erotismo que, por sua vez, só assume a dimensão de transgressão se for referido a um sistema normativo que lhe defina as condições de possibilidade. As estruturas sociais, ou, mais exactamente, as modalidades concretas de organização social, “interferem” com as práticas sexuais a 3 níveis distintos: integrando- 40 as nos sistemas de aliança e parentesco, inscrevendo-as no circuito das trocas económicas e situando-as nos registos da comunicação simbólica e da ordenação jurídico-política das sociedades. É a repartição dos indivíduos sobre o espaço social, de acordo com as mais diversas categorias ou critérios, que dá lugar a verdadeiras estratégias matrimoniais, das quais resultam os fenómenos típicos de homogamia económica, social ou cultural que continuam a caracterizar as nossas sociedades e a impor limites mais ou menos precisos à gestão da sexualidade. Sendo assim, os comportamentos e as práticas sexuais são estruturalmente determinados pelas instituições sociais, a começar pelo modo de organização dos grupos familiares e sociais e pelo tipo assimetrias materiais e simbólicas que os separam. Os factores demográficos também são importantes e muitas vezes decisivos. Para além da dimensão estrutural as instituições traduzem orientações normativas ou ideologias. Processos de controlo social Os comportamentos e as práticas sexuais são objecto de controlo normativo, a começar pelos dispositivos legais que os enquadram. Contudo, a principal forma de controlo social da sexualidade é mediatizada pelas ideologias sexuais. “As ideologias de cada instituição e as suas características estruturais interagem para produzir controlos sociais, sobre a expressão sexual. O mecanismo básico de controlo é a provisão de um número limitado de encenações culturais.” DeLamater usa o conceito de encenações culturais para explicitar o modo como as ideologias e orientações normativas de âmbito geral incidem nas interacções sexuais. É o número relativamente limitado de encenações disponíveis que confere estabilidade e previsibilidade às interacções sexuais. As encenações culturais descrevem de modo genérico os comportamentos apropriados em função das circunstâncias sociais e relacionais da interacção (aparecem assim as sanções e avaliações sociais dos comportamentos). Importa reter a diminuição crescente do peso das grandes encenações culturais e a consequente abertura para a encenação pessoal do desejo sexual. O declínio das grandes orientações é, obviamente, paralelo à complexificação das determinações estruturais da sexualidade. A escolha do conjugo por exemplo depende cada vez mais de factores psicossexuais. Numa situação limite, a selecção de parceiros sexuais/amorosos dependeria exclusivamente do desejo, da paixão e da dinâmica interpessoal. Tal situação corresponderia ao triunfo completo do modelo do “amor romântico”, que conjugaria numa mesma relação as funções sócio-económicas do casamento e as funções erótico-afectivas da sexualidade. Este modelo terá emergido nas sociedades ocidentais no séc. XVI. Se por um lado o modelo do “amor romântico” representa a orientação relacional da sexualidade dentro do casamento, por outro lado, ele é igualmente o fundamento de novas encenações culturais da sexualidade. Assim, nos nossos dias, as relações sexuais pré-matrimoniais, acompanhadas ou não de “coabitação juvenil”, constituem um cenário maioritário. É ainda esta orientação relacional que, para além das “relações comerciais de sexo” e dos “scripts de sexo ocasional”, caracteriza o cenário da homossexualidade ou das relações sexuais extramatrimoniais, aparentemente distantes da heterossexualidade conjugal. 41 Scripts interpessoais e estruturas relacionais da sexualidade Kelley e coll distinguem dois planos: o plano discritivo (identificação dos padrões específicos de interacção) e o plano explicativo (explicitação dos mecanismos de interdependência). A interacção é definida como um padrão de acontecimentos interpessoais. Por acontecimento designam qualquer modificação que ocorre a nível individual, no plano cognitivo, emocional ou da própria acção. Para que possamos falar em interacção é necessário que as modificações ocorridas no individuo P estejam directamente relacionadas com as ocorridas no individuo O. Os scripts sexuais interpessoais constituiriam condições causais relacionais das interacções sexuais, enquanto as encenações culturais se situariam ao nível social. Os scripts intrapsíquicos seriam conceptualizados como condições caudais de tipo pessoal. Interacções sexuais No interior de uma dada sociedade, o número de encenações culturais da sexualidade é relativamente restrito, o mesmo acontecendo com as grandes orientações ou ideologias que lhes estão subjacentes. Nass, Libby e Fisher consideram 5 tipos principais de scripts: o script religioso tradicional, o script romântico, o script das relações sexuais baseadas na amizade, o script da infidelidade ocasional e o script utilitário/predador. Já Forgas e Dodosz chegaram à conclusão que os sujeitos classificam os scripts interpessoais em função de 3 dimensões: sexualidade, valoração e equilíbrio das relações e amor e comprisso. A comunicação representa um dos aspectos centrais nos scripts interpessoais, uma vez que é através dela que um “encontro sexual potencial se transforma numa troca sexual explícita”. Relações íntimas As trocas sexuais, encenadas culturalmente e vividas no quadro das interacções humanas ocorrem, geralmente, ainda que não necessariamente, no interior de relações interpessoais mais ou menos duradoiras e caracterizadas por padrões específicos de interdependência. O sexo constitui um dos principais recursos ou fontes de gratificação/frustração das relações humanas. Levinger e Snoek afirmam que todas as relações humanas se podem caracterizar pelo respectivo grau de intimidade, desde a ausência de qualquer contacto até à mais profunda reciprocidade, passando por estádios intermédios de conhecimento. A intimidade pode pois ser perspectivada como um padrão específico de interacções que caracteriza determinadas relações. Segundo Kelley e coll, as relações interpessoais íntimas definem-se como aquelas em que as conexões causais entre P e O são simultaneamente intensas, frequentes, diversificadas e duradoiras. Todas as relações interpessoais se caracterizam pela capacidade recíproca dos intervenientes em controlar os recursos materiais e simbólicos do outro através de comportamentos específicos e/ou pela expressão de atitudes ou outros atributos disposicionais. Comunicação e auto-revelação A comunicação, entre os parceiros, é antes de mais, uma condição indispensável para a existência da própria relação. É através da palavra que partilhamos os acontecimentos privados ou as significações do mundo objectivo e social. É ainda 42 através dela que controlamos avaliativamente o comportamento do outro, que gerimos os conflitos ou construímos, em boa parte, a imagem que damos de nós mesmos. Entre várias funções há uma de maior relevo, a auto-referencial (troca de informações que se referem ao eu, incluindo estados pessoais, disposições, acontecimentos do passado, planos para o futuro). Este tipo de comunicação tem o nome de auto-revelação. Os conteúdos assim partilhados contribuem para intensificar o grau de intimidade, criando estruturas cognitivo-mnésicas comuns. Nos comportamentos de auto-revelação a reciprocidade é muito importante. Fisher propõe que se defina auto-revelação em função da veracidade das informações, sinceridade relativa aos motivos subjacentes à comunicação, intencionalidade, novidade e carácter privado dos conteúdos comunicados. Processos emocionais Berscheid afirma que, para que P possa despertar/induzir emoções em O, é necessário que as respectivas cadeias de acontecimentos intrapessoais estejam interconectadas. Caso se verifique esta situação, qualquer acontecimento na cadeia de P, que interfira/interrompa a sequência organizada dos acontecimentos/comportamentos na cadeia de O, é susceptível de gerar emoções em O. Este modelo pretende definir o investimento emocional numa relação comoa extensão em que cada um dos actores tem o poder de interromper as sequências de acção do outro ou, inversamente, o grau em que cada um deles é vulnerável às interrupções do outro, Esta interpretação liga o investimento emocional à dependência relacional : quanto maior é o primeiro, maior é a segunda. Poder e conflito Para além da dependência emocional, a dependência informativa e a dependência comportamental expressama s duas outras grandes categorias de condições causais das relações de poder. Huston distingue 3 termos correlacionados: influência, dominância e poder. O conceito de poder não se refere a um atributo pessoal, não é uma característica do actor, mas uma relação instrumental, não transitiva e desequilibrada. Para analisar o poder devemos ter em atenção os conteúdos ou natureza das actividades que mediatizam o exercício do poder, as intenções do actor, o modo de influência ou tipo de estratégias utilizadas pelo actor, a magnitude das modificações induzidas no indivíduo-alvo as consequências para o actor. Buunk e Bringle definem o ciúme como “uma reacção emocional aversiva, desencadeada por uma relação que envolve o nosso parceiro sexual actual ou anterior e uma terceira pessoa. Esta relação pode ser real, imaginada ou esperada, ou pode ter ocorrido no passado”. Conceptualizado como uma ameaça contra a relação existente, o ciúme pressupõe a existência de uma situação triangular e distingue-se das noções correlativas de inveja ou rivalidade. Brehm diz “O que está em causa no ciúme é menos o amor do que o amor-próprio”. Modelos de amor Kelley fala em amor passional (necessidade do outro), amor pragmático (confiança e tolerância) e amor altruísta (preocupação e cuidado). Já Sternberg diz que existem 3 componentes principais: a intimidade, a paixão e a decisão/compromisso. A combinação destes três componentes dá então lugar a oito tipos de amor. Temos a inexistência de amor”nonlove, a amizade/liking (só intimidade), 43 o amor à primeira vista/infatuated love (só paixão), o amor vazio/empty love (só decisão/compromisso), o amor romântico (intimidade e paixão), o amor conjugal (intimidade e decisão/compromisso), o amor irreflectido (paixão e decisão/compromisso) e o amor consumado (intimidade, paixão e decisão/compromisso). Scripts intrapsíquicos e experiências sexuais Encenação do desejo Quais são as consequências de actos, posturas, objectos e gestos através dos quais os corpos/sujeitos se envolvem em trocas sexuais culturalmente esperadas, relacionalmente possíveis e individualmente significativas? Basicamente, tais sequências podem ser descritas como reacções fisiológicas e comportamentos manifestos regulados pelos respectivos resultados, mediatizados por processos internos, que sustentam e modulam a activação sexual e, tendencialmente, desencadeados por condições externas de estimulação. No comportamento sexual existe uma sequência que implica modificações fisiológicas eventualmente conducentes ao orgasmo Como nota Fisher, um simples orgasmo durante o coito pode ser sentido como uma experiência transcendente, para aquele cujas expectativas e fantasias são relativamente modestas, ou como um acontecimento decepcionante para os que se erigem outros padrões de funcionamento sexual. De igual modo, os actos instrumentais conducentes ao orgasmo inscrevem-se em scripts sexuais cuja significação é estabelecida por aprendizagem directa ou vicariante. O corpo e os movimentos expressivos do outro constituem, obviamente, o principal estímulo sexual externo. Em particular, determinadas “regiões” possuem valor erótico diferencial. A própria percepção do corpo como “excitante” é influenciada pelos scripts sexuais. Byrne e DeNinno pediram a indivíduos de ambos os sexos que indicassem o nível de activação sexual após observarem dois tipos de filmes eróticos (um casal integralmente nu mantendo relações sexuais incluindo sexo oral-genital- condição coitovs. um casal parcialmente vestido praticando carícias múltiplas). Em termos gerais os sujeitos indicaram maior activação na condição coito, Os homens manifestavam maior activação do que as mulheres na condição coito e o contrário acontecia na condição carícias. Sendo um scrip relativo a uma relação lúdica ou a uma relação amorosa a activação era maior na relação lúdica. A “encenação do desejo” depende também de componentes internos de natureza afectiva e atitudinal. A probabilidade de ocorrência de respostas sexuais é influenciada pelas respostas emocionais positivas ou negativas associadas ao sexo. As orientações avaliativas ou atitudes relativas à sexualidade condicionam, igualmente, a probabilidade de ocorrência dos comportamentos sexuais. As informações “objectivas” ou “distorcidas”, que os indivíduos têm sobre a sexualidade são susceptíveis de moldar os seus comportamentos, gerando expectativas positivas ou negativas relativamente às eventuais consequências das suas acções. Os processos imaginais e as fantasias sexuais contam-se entre os pricipais componentes da sexualidade humana. Mas as fantasias não substituem o acto sexual havendo mesmo uma relação positiva entre a quantidade de fantasias e a frequência de actividades sexuais. As fantasias funcionam como estímulos internos desencadeadores das actividades sexuais, desempenhando, igualmente, um papel preponderante na manutenção da excitação no decurso dessas mesmas actividades. 44 É graças aos processos imaginais e fantasias que surgem variações e inovações ao nível das técnicas eróticas e dos cenários que envolvem as interacções eróticas. Há assim passagem do registo simbólico (a sexualidade culturalmente codificada) ao registo metafórico (a sexualidade como expressão de motivações e significados pessoalmente construídos). Gestão do corpo Nas trocas sexuais a “materialidade biológica” do corpo dilui-se nas significações eróticas organizadas em torno dos scripts intrapsíquicos e das eventuais continuidades ou rupturas destes com as expectativas relacionais configuradas pelos scripts interpessoais. Se é o corpo que nos separa inevitavelmente dos outros, também é ele que nos aproxima. O corpo funciona como lugar de categorização social, como superfície de inscrição de marcas distintivas e como objecto de acção e de sedução. É o corpo que se apresenta e representa nas relações interpessoais e é em função dele que os comportamentos sexuais são social e individualmente encenados. ATRACÇÃO AMOROSAS INTERPESSOAL E GÉNESE DAS RELAÇÕES 1. Da atracção interpessoal às estratégias de sedução Moreno publica em 1934 “Who shall survive?A new approach to the problems of human interactions”, obra que introduz a sociometria e marca o início do estudo sistemático da atracção interpessoal. A atracção pode ser conceptualizada como atitude, estado emocional/afectivo ou como um comportamento directamente observável. Newcomb define atracção interpessoal como uma orientação avaliativa de A relativamente a B. Os três componentes (cognitivo, afectivo e comportamental), tradicionalmente incluídos sob a noção de atitude, passaram a constituir as três dimensões da atracção. Podemos considerar que existem duas grandes teorias ou grupos de teorias da atracção interpessoal: as teorias da organização cognitiva (a tónica é colocada nas relações entre cognições e sentimentos e a atracção é explicada pela necessidade de consistência interna entre estes elementos) e as teorias da troca social e do reforço (a tónica é colocada na relação entre os componentes avaliativo e comportamental e a atracção é explicada pela inevitável interdependência comportamental e afectiva que caracteriza as relações interpessoais). teorias da organização cognitiva Teoria do equilíbrio de Heider – a dinâmica da atracção interpessoal é função das necessidades de organização cognitiva. Um sistema de cognições comporta 3 elementos principais: as cognições relativas ao próprio sujeito (P), as relativas a um outro indivíduo (O) que entre em interacção com o sujeito e as que se referem a qualquer objecto, acontecimento ou indivíduo exterior (X). Dentro desse sistema distinguem-se as relações de unidade (cognições respeitantes ao facto de dois elementos serem percepcionados como fazendo ou não parte da mesma unidade funcional) e as relações de sentimento (cognições relativas à dimensão avaliativa ou emocional duma relação, expressas em termos de gostar/não gostar, agradável/desagradável). Considerando apenas a ligação entre dois elementos do sistema, diz-se que se está num estado de equilíbrio, sempre que as relações de unidade e sentimento têm o mesmo sinal. 45 Ex: P ama O e é correspondido, contudo O gosta de X que é, por sua vez, detestado por P não há equilíbrio!!! Mas, se P gosta de X e gostam de ir ao cinema já há equilíbrio. Os estados de desequilíbrio são psicologicamente desagradáveis e existe uma tendência generalizada para restabelecer o equilíbrio. Em termos de atracção interpessoal podemos dizer que a simples existência de uma relação de unidade implica uma relação de sentimento positiva, inversamente, a existência de uma relação de sentimento negativa poderá conduzir à ruptura da relação de unidade e, de um modo mais geral, a dinâmica da atracção consiste nas modificações correlativas dos componentes cognitivo e emocional das atitudes do sujeito em relação aos outros elementos do sistema triangular. Newcomb disse depois que só se verifica uma tendência para o equilíbrio nos casos em que a relação de sentimento correspondente é positiva. Nos casos em que não gosto do outro é-me relativamente indiferente a concordância dos nossos sentimentos relativamente a um terceiro objecto ou pessoa. Segundo a teoria da comparação social de Festinger todos os seres humanos têm uma necessidade básica de autoconhecimento e auto-avaliação das suas aptidões, opiniões e atitudes. Na ausência de um termo de comparação objectivo, comparam-se com outros indivíduos. Daí procurarmos aqueles cujas atitudes e opiniões são semelhantes às nossas e se gerem as condições conducentes à atracção. Teorias da troca social e do reforço Regra da reciprocidade, “Gosto de quem gosta de mim” Lott& Lott conceberam a atracção como uma resposta antecipatória do objectivo (ou meta) adquirida pelo mecanismo do reforço secundário: qualquer pessoa associada com uma situação reforçante torna-se alvo de atracção, independentemente de ter ou não contribuído directamente para a produção da situação em causa. Não é pois necessário que um indivíduo gratifique directa ou indirectamente o outro. Para Byrne a atracção é definida como uma resposta afectiva implícita a um estímulo, inicialmente neutro, progressivamente associado a um estímulo incondicional positivo. A resposta afectiva mediatiza a avaliação positiva do outro, enquanto manifestação comportamental da atracção. Um indivíduo pode ver-se associado a diversas situações positivas e negativas. Aronson e Linder questionaram esta “lei da atracção” já que não é o número absoluto de reforços e punições que determinam a atracção, mas as flutuações ou o padrão específico de apreciações positivas e negativas de que um indivíduo é alvo. As situações de “reforço sistemático” geram menos atracção do que as situações de ganho e as situações de “punição sistemática” são menos hostis do que as situações de perda. Na prática, para além das amizades e inimizades estáveis, são os elogios menos esperados, ou as críticas não antecipadas, que mais influenciam a atracção que sentimos pelos outros. Temos ainda as teorias da troca social e o seu pressuposto fundamental - princípio da maximização/minimização (todos temos por objectivo maximizar os ganhos e minimizar as perdas). Já de acordo com o princípio da justiça distributiva apenas as relações em que existe proporcionalidade entre investimentos e lucros para cada um dos intervenientes seriam geradoras de atracção. Na teoria da interdependência social um indivíduo avalia os resultados de uma relação comparando-os com aquilo que pensa serem ganhos e perdas que, em média, caracterizam uma relação semelhante. 46 Factores e dinâmica da atracção interpessoal - Beleza física Dentro de uma mesma cultura e numa mesma época, existe uma convergência notável, expressa nas elevadas correlações “interjuízes” obtidas nas investigações centradas na avaliação das dimensões morfológicas do rosto e ilustrada pelas características mais ou menos invariantes dos modelos que nos são propostos através da publicidade e dos meios de comunicação social. Convém dizer que a beleza física não depende exclusivamente dos atributos objectivos, sendo influenciada também por factores de natureza situacional. Os indivíduos tendem a associar a beleza a traços de personalidade positivos (“o belo é bom”) o que se traduz muitas vezes num tratamento diferenciado que depois pode levar a uma confirmação das nossas expectativas. Por regra os homens tendem a valorizar mais a beleza. Os indivíduos tendem a estabelecer relações amorosas ou a casar com aqueles cujo grau de beleza física é relativamente próximo do seu. As assimetrias na beleza são compensadas por assimetrias de sinal contrário ao nível do estatuto sócio-económico ou das próprias características da personalidade. A maior ou menos importância da beleza física relaciona-se com o tipo de relação desejado. EFEITO DE MERA EXPOSIÇÃO Fotografia A Fotografia B Photograph A is exactly how the photographer (and other people) sees the subject. Now hold photograph A in front of a mirror. Notice that photograph A now looks like photograph B, the reverse or mirror image. Photograph B is the image that the subject is used to seeing. The mere exposure effect was supported by a study in which female subjects were shown two photographs of themselves: One a standard photograph (the original photograph as it was taken by the photographer) and the other a mirror-image photograph. The subjects were asked to select the photograph they preferred. To ensure the validity of the study, a close friend of each subject was also asked to indicate a preference. While most of the female subjects preferred the mirrorimage photographs, most of their friends preferred the standard photographs (Mita et al, 1977). A – Média de 60 fotografias de mulheres entre os 20 e os 30 anos B – Média das 15 mais atraentes C – Aumento de 50% das diferenças entre B e A 90% dos sujeitos (homens e mulheres) preferem B a A 70% dos sujeitos (homens e mulheres) preferem C a B 47 Perrett, D. I., May, K., & Yoshikawa, S. (1994). Attractive characteristics of female faces: Preference for non-average shape. Nature, 368, 239-242. Abstract The finding that photographic and digital composites (blends) of faces are considered to be attractive has led to the claim that attractiveness is averageness. This would encourage stabilizing selection, favouring phenotypes with an average facial structure. The 'averageness hypothesis' would account for the low distinctiveness of attractive faces but is difficult to reconcile with the finding that some facial measurements correlate with attractiveness. An average face shape is attractive but may not be optimally attractive. Human preferences may exert directional selection pressures, as with the phenomena of optimal outbreeding and sexual selection for extreme characteristics. Using composite faces, we show here that, contrary to the averageness hypothes is, the mean shape of a set of attractive faces is preferred to the mean shape of the sample from which the faces were selected. In addition, attractive composites can be made more attractive by exaggerating the shape differences from the sample mean. Japanese and caucasian observers showed the same direction of preferences for the same facial composites, suggesting that aesthetic judgements of face shape are similar across different cultural backgrounds. Our finding that highly attractive facial configurations are not average shows that preferences could exert a directional selection pressure on the evolution of human face shape. 48 - Semelhanças interpessoais Dizem respeito, prioritariamente, às semelhanças interindividuais ao nível das atitudes, das opiniões, dos interesses, dos traços de personalidade, das competências cognitivas, e sócio-emocionais ou de qualquer outra dimensão das actividades humanas. Byrne tem feito inúmeros estudos que mostram que o grau de atracção é função directa do grau de semelhança atitudinal. Quando confrontados com uma escala supostamente preenchida por uma terceira pessoa (que na realidade é o experimentador) os indivíduos gostam mais dos desconhecidos que mostram mais semelhanças a nível das atitudes. A constatação da convergência atitudinal é uma situação intrinsecamente reforçante, na medida em que a validação consensual satisfaz a necessidade de organização lógica do mundo social. Segundo Rosenbaum não é a semelhança entre atitudes que gera atracção, é a dissemelhança que leva ao afastamento/repulsão. A semelhança em termos práticos aparece como facilitadora das interacções comportamentais. - Avaliações/ apreciações positivas “As amizades são sociedades de admiração mútua.” A aprovação social constitui um reforço generalizado mas a sua eficácia depende da especificidade das situações e/ou da presença de variáveis moderadoras associadas a traços de personalidade. Indivíduos com uma auto-estima mais alta são menos vulneráveis às apreciações de terceiros. A “reciprocidade do gostar” é, pelo menos em parte, moderada pela autoestima do sujeito que é avaliado. Se não há consonância entre os elogios que me fazem e aquilo que efectivamente penso de mim, sou levado a duvidar do meu interlocutor, ou porque passo a julgá-lo como menos “lúcido”, ou, mais importante, porque sou levado a pensar nos verdadeiros comportamentos subjacentes ao seu comportamento. Existem segundo Jones e Pitman cinco estratégias principais de auto-apresentação (comportamentos motivados pelo desejo de manter ou aumentar o poder sobre o outro através da indução de atribuições sobre características disposicionais do actor): aliciamento/sedução, intimidação, autopromoção, exemplaridade e súplica. 49 Dilema do sedutor quanto mais intensos são os motivos que me levam a aliciar o outro, maior é a probabilidade que ele se questione sobre as verdadeiras razões do meu comportamento. Jones e Pittman afirmam que os comportamentos de aliciamento/sedução são determinados pelo valor incentivo ou importância atribuída ao facto do outro vir a gostar de mim, pela probabilidade subjectiva de que as minhas acções sejam bem sucedidas na indução das atribuições esperadas e pela legitimidade percebida ou apreciação individual de que tais acções são compatíveis com os padrões morais do actor. O AMOR PASSIONAL Intenso, efémero e vulnerável desde sempre foi tema recorrente de poetas e romancistas. Rubin procurou distinguir o amor do simples gostar e verificou que o amor era caracterizado pela vinculação, preocupação com o outro e pela intimidade, já o simples gostar remetia para o respeito e a afeição. A primeira análise sistemática do amor passional deve-se a Walster e Berscheid para quem o amor passional é “um estado de desejo intenso de união com o outro. O amor retribuído (união com o outro) está associado a satisfação e êxtase. O amor não retribuído (separação) à sensação de vazio, ansiedade ou desespero. Um estado de profunda activação fisiológica.”. A experiência da paixão pressuporia uma activação fisiológica intensa mas relativamente indiferenciada e a rotulação cognitiva do estado de activação com base nos índices situacionais disponíveis no campo psicológico do sujeito. “Termino este capítulo voltando á primeira questão com que os editores confrontaram os seus colaboradores “o que é o amor?”- confesso que, no caso do amor romântico, de facto, não sei- mas, se encostada contra uma parede enfrentando um pelotão de execução que dispararia se eu não desse a resposta correcta, eu sussurraria: “é cerca de 90% de desejo sexual, ainda não saciado.” Tal como nos ex post facto designs, na vida quotidiana a distinção entre paixão e desejo sexual só é possível uma vez terminada a relação: “tratava-se certamente de um simples flirt motivado pelo sexo, uma vez que do amor nada restou.”. Teoria da vinculação afectiva Ao contrário de outras teorias permite identificar a dinâmica subjacente às múltiplas formas de amor, compreender a relação entre as formas saudáveis e patológicas do amor e explicar os laços entre o amor e a solidão. É capaz de contextualizar o amor como um processo biologicamente relevante, situando-o no quadro teórico do evolucionismo. O amor romântico constitui um processo de vinculação biologicamente determinado e constitui uma grelha teórica adequada para a compreensão do amor romântico, desde que os seus conceitos nucleares sejam traduzidos numa linguagem apropriada às relações amorosas adultas. Programações filogenéticas vinculação infantil modelos mentais amor romântico Ao criticar esta teoria não se põe em causa a importância do clima afectivo dos primeiros anos de vida no desenvolvimento ulterior, nem a centralidade dos processos 50 de vinculação em relação aos mecanismos subsidiários do condicionamento e do reforço. O que a teoria não resolve é o problema das retraduções sociais do afecto, ou, se se quiser, o problema da articulação do afecto com o social, dos modelos de amor com a interdependência cognitiva, emocional e comportamental que define as relações de intimidade organizadas em torno da sexualidade. “A nossa ideia, que requer desenvolvimento futuro, é que o amor romântico, é um processo biológico planeado pela evolução para facilitar a vinculação entre dois parceiros sexuais adultos que, na altura que o amor evolui, são capazes de se tornar pais duma criança que necessita dos seus cuidados duradoiros [estáveis]” DOS RITUAIS FILOGENÉTICOS À DRAMATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES Enquanto aptidão biológica necessária á reprodução da espécie, a capacidade individual de experimentar activação sexual é, ela própria, resultado de um longo processo evolutivo. Nada obriga a que a continuidade evolutiva seja assegurada pela reprodução sexuada (esta constitui uma solução tardia e claramente minoritária em relação á reprodução assexuada). Contudo, a vantagem da reprodução assexuada em termos de acréscimo de variabilidade genética compensaria largamente os custos e riscos inerentes ao “encontro” de dois seres distintos para troca de material genético. Utilizada com propriedade, a expressão selecção sexual, competição entre os machos (selecção intra-sexual) e escolha do “mais apto” por parte das fêmeas (selecção inter-sexual ou epigâmica), corresponde à tradução, no plano comportamental, das estratégias reprodutivas decorrentes da diferenciação molecular. Mais exactamente, do ponto de vista do sucesso reprodutivo, os machos, detentores de material germinal tendencialmente ilimitado, teriam todo o interesse em adoptar uma “estratégia poligâmica”, fecundando o maior número possível de fêmeas; em contrapartida, a raridade dos “óvulos” teria como consequência a adopção por parte das fêmeas de uma “estratégia monogâmica”, destinada a assegurar a viabilidade da respectiva descendência. Symons argumenta que as diferenças consistentes ao nível das condições de activação sexual, dos critérios de atracção sexual e do ciúme sexual traduzem fielmente a assimetria entre as estratégias reprodutivas masculina e feminina. O investimento masculino no sexo seria substancialmente superior ao feminino, a começar pela incidência diferencial das condições de estimulação, com realce para os estímulos visuais e o conhecimento do parceiro. “Entre os homens, o sexo algumas vezes resulta em intimidade; entre as mulheres, a intimidade às vezes resulta em sexo.” Os critérios de atracção sexual masculinos e femininos estariam subordinados a diferentes lógicas. Symons identifica dois critérios absolutos de atracção sexual (a saúde física e a idade) e três critérios relativos (o carácter modal de certos atributos físico, as características associados a um estatuto social elevado e a variedade sexual). Quanto á importância dos seios como “desencadeadores sexuais” Symons diz que seriam os seios de tamanho médio os mais atraentes, Lumsden e Wilson que seriam os volumosos os maiores desencadeadores supraliminares e Eysenck e Wilson que eram s seios ligeiramente inferiores à média os mais apreciados pelos homens. Temos ainda que referir o efeito de Coolidge, traduzido na preferência dos machos por novos parceiros sexuais, pode não constituir uma característica específica do sistema sexual, uma vez que a importância da novidade constitui um traço comum a 51 todos os sistemas motivacionais. Acresce que tal efeito não parece limitar-se ao sexo masculino. Harré fala em automatismos (processo fisiológicos ou hábitos relativamente aos quais o actor não tem controlo directo) e autonomismos (comportamentos controlados pelo actor a partir de regras e convenções estandardizadas ou de projectos pessoais). Os rituais sexuais humanos situar-se-iam do lado dos autonomismos e constituiriam as “práticas culturais específicas através das quais os impulsos sexuais seriam realizados”. Mais concretamente, as encenações culturais e os scripts interpessoais da sexualidade contar-se-iam entre os autonomismos governados por regras ou convenções estandardizadas. Os scripts intrapsíquicos corresponderiam aos “projectos pessoais” de representação do sexo na ordem expressiva do comportamento. O amor, e em particular o amor romântico ou passional, constitui um caso exemplar de construção social das emoções a partir dos paradigmas ou ideais culturais: o facto de um indivíduo assimilar as experiências amorosas pessoais ao amor romântico depende, antes de mais, do modo como os diferentes componentes dessas experiências se ajustam ás suas crenças sobre o que é o amor romântico. Segundo Averill as emoções constituem verdadeiras “síndromas”, mapas conceptuais ou modos de organizar as relações com o outro, que não se podem reduzir às respostas elementares que caracterizam os estados emocionais. Em certo sentido, as emoções podem ser assimiladas a “papéis sociais transitórios”: “As emoções são síndromas socialmente constituídas (papéis sociais transitórios) que incluem a avaliação pessoal da situação e que são interpretadas mais como paixões do que como acções.” No caso concreto do amor romântico, a “síndroma emocional” comporta, pelo menos, quatro componentes essenciais: a idealização do ser amado, o início repentino, a activação fisiológica e o compromisso e vontade de “fazer sacrifícios” pelo outro. 52 SEBENTA Nº2 53 Psicologia Social Cap. II A emergência do paradigma americano Nos EUA, na primeira metade do século XX, a psicologia social tornou-se uma disciplina científica autónoma que procura dar respostas às interrogações perenes da humanidade. Nos EUA a psicologia adquiriu uma marcada orientação funcionalista e pragmatista, com a necessidade de a aplicar a domínios como a educação, a indústria, a opinião pública, a medicina, etc. Foram estes dois aspectos dominantes da psicologia transatlântica – o funcionalismo e a aplicação - que melhor explicam que a América reunisse as melhores condições para que aí a psicologia social se autonomizasse. As principais figuras que vieram a destacar-se no fundo americano e a fornecer os impulsos fundamentais para que tal se produzisse foram: Barlett, Sherif, Heider, Kewin, Asch. Todos eles contribuíram para que um objecto específico da psicologia social emergisse das hesitações entre, por um lado, tentar explicar o domínio socioeconómico-cultural postulando mecanismos psicológicos e, por outro, fazer do psicólogo uma mera decorrência daquele domínio. 1. Os livros e as correntes No livro Social Psychology, podemos ver o reflexo de duas orientações dominantes nos primeiros anos da psicologia social americana, centrada sobre a pessoa e sobre a situação social. As atitudes irão aparecer como constructo central da psicologia. A construção de métodos fiáveis para avaliar as atitudes permitira uma rápida aplicação ao diagnóstico e intervenção sobre a realidade social. Baldwin parece ter sido o primeiro americano a usara expressão “psicologia social” numa conferencia. Síntese: O papel social (modelo de desempenho ligado a uma posição social) é igualmente uma disposição comportamental adquirida. 54 Na década de 40 a psicologia social deu passos decisivos para a sua independência por parte dos emigrados europeus, fundamentalmente Kurt Lewin que, mais que uma escola ou uma ortodoxia, sempre procurou estimular os discípulos a que explorassem vias próprias de investigação. Por isso, criou muitas amizades e muitos seguidores, tornando-se o homem mais influente neste campo. 2. As figuras Barlett Considerava a psicologia social como sendo “o estudo sistemático das modificações da experiencia e respostas individuais directamente devidas à pertença a um grupo” e avança ideia de um grupo como tal, como “unidade organizada”, deve ser considerado como a “verdadeira condição da reacção humana”. Na sua óptica três tipos de áreas de estudo se abrem a esta disciplina: - Todos os tipos de conduta indirectamente determinados por factores sociais, detectados no interior do grupo “implica definitivamente continuidade física” - Todos os tipos de conduta indirectamente determinados pela sociedade, mas em relação as quais a referencia ao grupo nada mais significa que”acesso directo” a crenças, tradições, sentimentos e instituições características de uma organização social particular. - Situações em que dois grupos sociais diferentes entram em contacto um com o outro e nas quais os núcleos de crenças, tradições, costumes e instituições sofrem modificações. M. Sherif Demonstrou que os quadros de referência culturais eram determinantes fundamentais do modo como os indivíduos interpretavam os acontecimentos. Sheriff introduziu assim uma técnica de manipulação dos sujeitos de experimentação e defende que “a base psicológica das normas sociais estabelecidas, tal 55 como os estereótipos, as convenções, os costumes e os valores, a formação de quadros de referência comuns, são produto de contactos entre indivíduos” Kurt Lewin Lewin dá particular relevo à psicologia social, isto é, a psicologia inserida na vida quotidiana, nos “verdadeiros” problemas humanos e na solução de questões sociais. Com ele há uma transição de uma psicologia centrada no indivíduo para uma psicologia centrada no grupo. Diz, que sempre que um homem se junta a um grupo é significativamente mudado e induz mudanças nos outros membros. Quanto mais atractivo for um grupo, mas pressão exerce sobre os seus membros; um grupo fraco não exerce esse poder. Para se conseguir uma mudança num grupo é indispensável alterar o seu equilíbrio. O comportamento de um grupo como um todo pode ser mais facilmente alterado que o dos seus membros isolados. O desejo de se manterem juntos, ou coesão de grupo é a característica essencial do grupo como tal. Sem ela não seria licito falar de grupo. Um, dos factores que mais contribuíram para a coesão é a verificação individual de que no grupo se têm mais probabilidades de atingir as próprias finalidades. Por isso, os grupos formam-se espontaneamente sempre que há dificuldades em resolver tarefas colectivas e não há barreiras à sua formação. Com o tempo e com as interacções no grupo, desenvolvem-se finalidades e padrões de acção comuns. Então, os membros são levados a reformular as suas próprias finalidades pessoais. A partir de então, pertencer a um grupo significa aderir aos seus padrões, isto é, ao código do grupo. Pela mesma razão um grupo pode servir de referência. Qualquer grupo de trabalho para a resolução de problemas oscila sempre entre duas modalidades de acção, incompatíveis no mesmo momento: um grupo ou trabalha para a coesão ou trabalha para a resolução de problemas. Os grupos bem organizados e produtivos têm membros muito diversos. Em resumo, a psicologia de grupo demonstra que uma psicologia que procure elucidar os problemas através do estudo da personalidade é incompleta, visto que é claro e facilmente demonstrável que o comportamento de grupo é tanto função das pessoas individuais quanto da situação social. A partir desta base, Lewin definiu seis áreas de estudo da psicologia de grupo que acabaram por ser desenvolvidas pelos seus continuadores. 56 Heider e Asch A relação entre duas pessoas é uma configuração. Uma vez que qualquer pessoa “reage ao que ela pensa que a outra pessoa está a perceber, sentir ou pensar para além do que ela está a fazer”. Por isso uma pessoa desenvolve atitudes relativamente às outras pessoas que são reguladas por um princípio do equilíbrio 3. O tempo e os modos A psicologia social manteve-se como uma sub disciplina da psicologia. Só a psicologia geral foi capaz de oferecer arquitecturas de fundo suficientemente estruturadas, como a psicanálise, o condutismo ou o cognitivismo. Se lhes acrescentarmos o adjectivo social, encontraremos as designações das linhas mestras dos corpos teóricos da psicologia social. Entre todas domina o cognitivismo social. Cap. III A psicologia social europeia 1. Uma psicologia social europeia? A psicologia social europeia, PSE, corresponde a um movimento que se institucionalizou, ou seja, se preferirmos a terminologia de Moscovici, é uma representação social já objectivada. Esta actividade institucional tem contribuído de forma significativa para a formação de um espírito de grupo e para a definição de uma identidade social. De acordo com Tajfel, os grupos não estão isolados, não existem no vácuo, pelo que a sua identidade é, em grande parte, formada mediante mecanismos de diferenciação relativamente a outros grupos. A PSE fornece um quadro de referência teórico que permite explicar e legitimar o seu próprio movimento enquanto tal. A psicologia social americana (PSA), enquanto grupo, tende a classificar, a ancorar como diria Moscovici, as práticas dos seus colegas europeus na representação restritiva, mas com valor universal, do que deva entender-se como psicologia social. 57 2. Orientações da psicologia social na Europa e nos EUA Scherer pede num questionário que os sujeitos identificassem os desenvolvimentos mais importantes bem como algumas das principais insuficiências identificáveis na psicologia social nos últimos vinte anos, ou seja, a partir da década de 70. As respostas obtidas por Scherer mostram que cerca de metade dos respondentes norte americanos não reconheciam a existência ou a necessidade de um papel especial para a PSE, enquanto que praticamente todos os representantes europeus concordavam fortemente tanto com a sua existência como pela sua necessidade. Quanto à natureza das práticas a PSE adoptava uma orientação menos individualista, mais filosófica e mais consciente da história, e que se revelava particularmente forte no domínio das relações inter grupo. O seu papel limitar-se-ia a dar diversidade cultural e linguística e moderar alguns excessos da PSA. As diferenças apuradas por Scherer sugerem que a maioria dos psicólogos norte americanos adopta a perspectiva se que a ciência é universal e não ideológica, pelo que não teria sentido recorrer a critérios regionais. A PSE é não apenas uma psicologia social diferente mas também uma psicologia social alternativa. Com vista a especificar vamos analisar quais os temas predominantes na PSA e na PSE nos últimos 20 anos. Comparação feita por Jaspars com base na análise de duas revistas. Os tópicos fortes da PSE são a influência social, associada ao nome de Moscovici, e os processos intergrupo associados ao nome de Tajfel. É tradicional incluirmos processos de influencia social o fenómeno da conformidade estudado por Asch e o fenómeno da convergência estudado por Sherif. Moscovici veio enriquecer este domínio introduzindo um terceiro processo, o processo de inovação. Há todavia que notar que esta constribuiçao de Moscovici viria a ser reconhecida pela PSA. Quanto aos processos intergrupos de Tajfel podemos inserir numa linha de investigação inicialmente centrada nos processos inter individuais. Quanto aos temas desenvolvidos predominantemente no âmbito da PSA, como a teoria da atribuição, a atracção pessoal e outros, também na PSE se encontram numerosos estudos utilizando paradigmas e métodos idênticos aos dos norte americanos. Um traço que todavia marca toda ou pelo menos grande parte da PSE é a preocupação em inserir a explicação num contexto social mais alargado, centrada nos grupos e na sociedade. Uma psicologia social mais social. 58 Cap. IV Objecto da Psicologia Social – Analise de 10 definições (1) G. Allport A definição que é mais usual em Psicologia Social é a de Alport que realça, notoriamente, a influência de outrem no sujeito, quer essa presença seja imaginada ou real. Usava então o termo de presença implícita pretendendo com isto focar-se relativamente ao desempenho do indivíduo, tendo em conta o seu papel numa estrutura social. Aqui está presente a ideia de que há interacção e que a realidade tem uma dimensão objectiva e subjectiva. VD – comportamentos, pensamentos, emoções VI – presença dos outros numa tripla dimensão (real, imaginada e implícita) Presença implícita: nenhum comportamento é indissociável da inserção dos indivíduos numa dada estrutura social e nenhum comportamento é indissociável da nossa presença em determinados grupos sociais. Nesta definição há que realçar que se trata de explicar todo o leque de comportamentos, pensamentos e ate que ponto são influenciados pelo solo primário das nossas vidas e presença dos outros (2) Maisonneuve 59 Conceito de interacção: têm de existir dois padrões de acontecimentos psicológicos e esses tem de estar inter-conectados; Keley fez um esquema para conceptualizarmos a interacção. Há factores que afectam as propriedades da interacção: os atributos das pessoas, tipo individual, tipo social. (3) Baron, Byrne & Griffitt Variante da definição clássica de Allport (4) Tedeschi & Lindskold Problemas de interdependência e coordenação com o outro (5) Leyens O que está em causa é a interdepnedencia das condutas (6) Gergen & Gergen Ênfase nos fundamentos da psicologia das interacções (7) Moscovici Moscovici e Tajfel representam fundamentalmente as figuras principais da psicologia social europeia (PSE) Nesta definição Moscovici acaba por dizer que o que é fundamental na psicologia social é a ideologia (fenómenos de representações sociais e atitudes/cognições) e a comunicação (transmissão de informação e influencia social. A comunicação tem uma dupla vertente, por um lado é a via pela qual transmitimos a informação aos outros e por outro lado é por este meio que tentamos influenciar os outros. (8) Feldman (9) Myers Derivação de Allport (10) Smith & Mackie Derivaçao de Allport 60 Destas 10 definições podemos salientar cinco conceitos fundamentais da psicologia social (operadores teóricos /macro conceitos) Interacção Comunicação Relação Interdependência Influencia social Definição 1, 3, 8 : Influência social Definição 2 e 6: interacção social Definição 4 e 5: interdependência Definição 7: comunicação Definição 9 e 10: não fazem referência a nenhum aspecto específico 61 Em termos históricos há dois manuais fundamentais com o mesmo nome e data mas com autores diferentes. MCDougall (psicólogo centrado nos instintos) e Ross (sociologia centrado na imitação social) publicam em 1908 “Social Psychology” É de salientar também um artigo de Triplet sobre a competição e facilitação social. Nas suas investigações conclui que os ciclistas quando corriam sozinhos corriam menos do que quando corriam acompanhados de outros ciclistas. Isto leva Zajonc em 1968 a falar em facilitação social. Este identificou as situações de facilitação social nas tarefas que executamos bem a performance melhora se estamos na presença de outros. Em tarefas que estamos menos aptos a nossa performance piora na presença de outros. Ou seja, ele tentou verificar se a facilitação social é uma lei universal e conclui que funcionamos melhor em tarefas na qual estamos mais a vontade. Um conceito central na psicologia social é o conceito de atitude (estrutura cognitiva que esta por detrás das opiniões, predisposições avaliativas). Falamos de atitude sempre que nos referimos a uma predisposição para classificar os objectos de bom /mau, agradáveis ou ano. É uma disposição aprendida ainda que na sua base possam haver processos biológicos. É possível traçar a história da psicologia social tendo como referencia o modo como as atitudes foram tratadas: Evolução do estudo das atitudes segundo Mc Guire (1985): Medição das atitudes Dinâmica de grupos Mudança de atitudes Cognição social Sistema de atitudes Alem disso podem definir-se três grandes fases da psicologia social enquanto ciência do pensamento social: 1ª fase: atitudes social: teoria da dissonância Cognitiva 2ª fase: Cognições sociais: Teoria da atribuição 3ª fase: representações sociais: teoria das representações sociais 62 Então, a história da psicologia social em referência às atitudes: 1920-1935: a tónica estava colocada na medição das atitudes. Esta é a época áurea dos trabalhos de Thurstone, Likert.. neste período o objectivo era mais de natureza pratica. 1935: surge um trabalho importantíssimo em psicologia social: Kurt Lewin emigra para os EUA e juntando alguns colaboradores faz com que a psicologia social deixe de ter como conceito principal as atitudes e passa a bordar de modo especifico os processos grupais e as dinâmicas dentro dos grupos. Nesta época a psicologia social torna-se autónoma. Festinguer, um dos colaboradores de Lewin, publicou um artigo sobre a teoria da dissonância cognitiva, pois para ele os aspectos motivacionais estão subjacentes às mudanças de atitudes. 1955-1965: centração na mudança das atitudes (o que o homem procura é a harmonia cognitiva) – relaciona-se com as teorias da existência de Osgood. 1965: a tónica é colocada nos processos de atribuição e nas representações osciais. Como é que os autores sociais explicam as suas condutas e as das pessoas com as quias interagem. 1980: Para Moscovici as teorias classificam-se em: Paradigmáticas: visão global do comportamento humano. Têm-se como exemplo: a Teoria do Campo do Kurt Lewin. Fenomenológicas: Estas visam descrever o como e o porquê de um fenómeno bem conhecido. Tem-se o exemplo da teoria do Sherif sobre a formação das normas pessoais e das normas grupais. Operatórias: Visam descrever o mecanismo elementar até aí desconhecido. Baseada na teoria da dissonância cognitiva de Festinger. 63 Temos quatro níveis de explicação em psicóloga social (Doise) Intrapessoal: a centração é nos processos psicológicos intra individuais e no modo como os indivíduos organizam os seus sentimentos, emoções e cognições. Podemos referir como autores principais: Heider Osgood, Festinger. Que defenderam teorias como a Teoria do Equilíbrio, dissonância cognitiva e congruência de Osgood. Interpessoal: a tónica é colocada não tanto no modo de organização interna mas na compreensão do comportamento dos indivíduos em interacção (Nisbett 8: Ross). Estes falam também no erro de atribuição fundamental que consiste em atribuir, caso seja uma situação uma atribuição externa; se forem características do indivíduo a atribuição será interna. Intergrupal: está relacionado com as categorizações. Os efeitos dos fenómenos de categorização social fazem-se sentir sobre os comportamentos. Quando explico um comportamento a alguém estou a categorizá-lo num nível real - respeitante a grupos de pertença. Aqui está presente a teoria de Tajfel coma teoria da identidade social. São de alguma forma as categorizações sociais já existentes antes da interacção que desempenham um grande papel. Societal: diz respeito às representações partilhadas por um grande número de indivíduos numa dada sociedade: crenças, valores. Este nível é pertencente a Moscovici. Esta participação de Doise não implica que não se possam adoptar diferentes perspectivas para explicar os comportamentos do indivíduo: a psicologia social americana centrou-se mais nos dois primeiros níveis enquanto que a PSE dedica-se mais ao estudo dos sois últimos níveis Desde o inicio da psicologia social teve uma orientação cognitivista e sempre se interessou pelos processos internos: 64 Há 3 grandes macro-períodos na história da Psicologia social – momentos de cientificação Ate aos anos XX → estudo científico dos estados e conteúdos da consciência. Figura central: Wundt. Metodologia dominante: Introspecção Anos 30 - 40→estudo do comportamento observável. Pavlov e Thorndike o Neo-behaviorismo: hipotético dedutivo (Hull) 40 - 50 → cognitivismo A psicologia social nunca deixou de ser cognitivista. A situação é sempre psicologicamente construída. Lewin faz intervir os processos de natureza motivacional Modelos do comportamento Clássico (Behaviorismo o Estimulo – resposta Neo – behaviorismo o Impulso (Hull) o Mapas cognitivos (Tolman) o S–O–R Psicologia social contemporânea o O–S–O–R o Os processos internos definem a própria situação Psicologia é um discurso cientifico sobre os processos psicológicos fundamentais (atenção, memoria, percepção) que estão ancorados em processos de Biologia e Cultura, integrado na estrutura da Personalidade que se desenvolvem, interagem e se deteoram. É um método de discurso histórico e sistemas teóricos, estatística e metodologia. Comporta educação, organizações, saúde e outras problemáticas de aplicação. 65 Cap. V Formação de Impressões 1. Introdução Para criarmos uma impressão acerca de alguém não necessitamos em geral de muita informação. A informação pode obter-se de forma directa, através da interacção, observando o comportamento verbal e não verbal, e de forma indirecta, como por exemplo através de “ouvi dizer”. Quando se trata das primeiras impressões, uma componente fundamental dessa organização é a categoria avaliativa. Embora a avaliação possa ser do tipo afectivo (gostar/não gostar), moral (bom / mau) e instrumental (competente / incompetente), a generalidade da pesquisa sobre formação de impressões tem incidido essencialmente sobre o primeiro e o segundo tipo. O percepcionador social apenas consegue interpretar os estímulos verbais e não verbais relativos à outra pessoa, e ao contexto em que se encontram, com base nas estruturas de conhecimento que já possui e que incluem representações de traços, de comportamentos, de estereótipos e de situações sociais assim como das suas interrelações. Segundo Asch são fundamentalmente as características físicas e comportamentais da pessoa alvo que determinam a produção de uma impressão específica. Do ponto de vista histórico podem definir-se três grandes períodos na pesquisa sobre a formação de impressões: Inteiramente dominado pela abordagem gestáltica de Asch: supõe que na formação de impressões as pessoas integram os vários elementos informacionais, reinterpretando-os se necessário de modo a construírem um todo coerente. 60 – 70: influenciado pela abordagem linear ou de integração de informação desenvolvida por Anderson: sustenta que cada elemento da informação tem um valor próprio, contribuindo independentemente à medida que é conhecido, para a impressão geral. Abordagem da memória de pessoas ou cognição social: procura analisar os processos relativos à aquisição, armazenamento e recuperação da informação. 66 2. Abordagens da formação de impressões Abordagem configuracional Experiência de Ach – relativo à formação de impressões: divide os sujeitos em dois grupos aos quais deu as mesmas instruções gerais. A um grupo lê-se uma lista de adjectivos positivos e ao outro grupo lê-se a mesma lista mas no meio coloca-se um adjectivo diferente – esse adjectivo que variou de um grupo para o outro foi “caloroso” e “frio”. No final, colocam-se aos sujeitos duas questões: em que medida eles queriam conhecer a pessoa e em que medida gostariam de manter uma relação com essa pessoa – sendolhes solicitado que respondam ás duas questões numa escala de 0 (pouco) a 10 (muito). Ele verificou que o grupo onde foi lido o adjectivo “frio” revelou valores mais baixos ás duas questões. Assim, o traço “caloroso/frio” tinha uma importância suficientemente forte para fazer com que a impressão sobre a pessoa fosse bipolarizada. O Ach fez esta mesma experiência com outros traços e verificou que alguns deles não tinham modificação nenhuma – a esses traços chamou traços periféricos. Segundo Asch as características dadas não tem todas o mesmo peso para o sujeito, sendo necessário considerar a existência de qualidades centrais e de qualidades periféricas. Concluiu que a mudança de um traço periférico produz um efeito mais fraco na impressão total do que a mudança de um traço central. Na opinião de Asch estas experiencias provam que há qualidades que são tomadas como centrais e outras como periféricas. Coloca-se então a questão de saber se um traço é central ou periférico por si próprio ou se a sua centralidade depende das relações contextuais com outros traços. Assim, Asch concluiu que um traço não tem sempre um sentido fixo que entra na formação da impressão. Pelo contrário, o seu conteúdo pode ser central numa impressão e tornar-se periférico noutra. A partir de várias experiencias realizadas Asch tirou as seguintes conclusões: i. Há um processo de discriminação entre traços centrais e traços periféricos. Nem todos os traços ocupam o mesmo valor na impressão final. A mudança de um traço central pode alterar completamente a impressão, enquanto que a mudança de um traço periférico tem um efeito mais fraco. ii. Tanto o conteúdo cognitivo de um traço como o seu valor funcional são determinados pela relação com o se contexto iii. Alguns traços determinam o conteúdo e a função de outros traços. Aos primeiros chamamos centrais e aos segundos periféricos 67 Centralidade dos traços e teorias implícitas da personalidade Na base dos estudos realizados por Asch esta um outro problema fundamental que só depois veio a ser explicitamente conceptualizado: como é que os sujeitos das suas experiências, conhecendo apenas alguns traços respeitantes a uma pessoa, eram capazes de concluir que essa pessoa tinha também uma serie de outras características. Ou seja, como é que os sujeitos estavam em condição de realizar tais inferências a partir de informação tão limitada? Segundo Asch isso era possível porque, como vimos, com base em traçosestímulo iniciais os sujeitos criavam uma impressão geral que posteriormente efectuavam inferências particulares para cada um dos traços. Bruner e Tagiuri propuseram uma concepção diferente. Segundo estes autores as pessoas estão em condições de efectuar inferências como aquelas que aparecem nas experiencias de Asch porque possuem teorias implícitas da personalidade. São consideradas teorias porque consistem num conjunto estruturado de categorias e de crenças sobre as suas inter relações e são implícitas porque as pessoas nãos as apresentam formalmente nem fornecem critérios objectivos da sua validade. As teorias implícitas da personalidade desempenham um papel importante na vida quotidiana porque permitem aos indivíduos não só seleccionar e codificar a informação relativa às outras pessoas, mas também, a partir de poucos elementos informativos, realizar inferências relativas a domínios que estão fora do se campo no momento. Assim, as teorias implícitas da personalidade constituem como que um mapa cognitivo interno que de certo modo orienta a interacção entre as pessoas na vida quotidiana. Estímulos não verbais na formação das impressões A aparência física e outros sinais comportamentais têm sido longamente investigados na área da interacção social, nomeadamente enquanto factores decisivos para a eficácia da comunicação interpessoal. Ao nível da formação das impressões, os estímulos não verbais ocupam também um papel importante, na medida em que frequentemente a mera percepção da aparência física de uma pessoa nos leva a inferir um conjunto de traços e de atitudes atribuídas a essa pessoa. De entre os elementos não verbais que influenciam a formação das impressões, salienta-se a cor da pele, a atractividade do rosto e do corpo, a expressão 68 fácil, o contacto através do olhar, o modo de andar, a postura corporal, o tom de voz, o odor. Naturalmente os elementos não verbais do comportamento de uma pessoa, só por si, não nos fornecem quaisquer informações acerca das características das pessoas nem indicam o sentido das impressão que vamos formar. É a partir do contexto em que estão inseridos, e da eventual saliência que ai têm, que, se o percepcionador estiver motivado para os interpretar, esses elementos vão ser descodificados com a ajuda das teorias implícitas da personalidade, tal como acontece quando nos são fornecidos apenas traços de personalidade. Cap. VI Atracção interpessoal, sexualidade e relações íntimas Iniciado nos anos 50, entende-se por relações interpessoais os fenómenos da atracção que dizem respeito aos componentes afectivos das relações sociais, em particular às atitudes, emoções e sentimentos positivos que experimentamos na relação com os outros. 1. Atracção interpessoal Quem escolheria entre os seus colegas para trabalhar consigo num pequeno projecto de investigação? Com quem não gostaria de realizar esse trabalho? Quem pensa que o escolheria para organizarem conjuntamente uma viagem de fim de curso? (…) As questões enunciadas constituem o núcleo da sociometria introduzida por Moreno numa obra que marcou o início do estudo sistemático da atracção interpessoal. Moreno tinha como objectivo principal reconstruir os aspectos estruturais e dinâmicos das relações afectivas no seio de um grupo. A sociometria coincidiu com um estudo de Newcomb em 1961 sobre a influência da semelhança de atitudes no desenvolvimento das amizades em grupos de estudantes universitários. Embora os trabalhos pioneiros de Moreno e Newcomb se situem no domínio dos processos grupais, o estudo da atracção interpessoal, a avaliar pela maior parte das investigações que lhe do corpo, centra-se sobretudo nas relações duais 1.1. Dos problemas conceptuais aos modelos teóricos 69 A atracção pode ser conceptualizada como uma atitude, como um estado emocional ou como um comportamento directamente observável. A generalidade dos investigadores optou por assimilar o conceito de atracção ao de atitude. A atracção interpessoal é definida como uma orientação avaliativa de A relativamente a B. os três componentes (cognitivo, afectivo e comportamental) tradicionalmente incluídos sob a noção de atitude, passaram a constituir as três dimensões da atracção. De acordo com Berscheid, as vantagens desta assimilação tiveram como contrapartida a transferência das dificuldades teóricas e metodológicas inerentes o estudo das atitudes par o domínio da atracção Podemos considerar que existem duas grandes categorias ou grupos de teorias da atracção interpessoal. O primeiro grupo é o das teorias da organização cognitiva, em que a tónica é colocada nas relações entre cognições e sentimentos e a atracção é explicada pela necessidade de consistência interna entre estes elementos. O segundo grupo é o das teorias da troca social e do reforço. A tónica é colocada na relação entre os componentes avaliativo e comportamental e atracção é explicada pela inevitável interdependência comportamental e afectiva que caracteriza as relações interpessoais As teorias da organização cognitiva Teoria do equilíbrio (Heider, 1958) De acordo com Heider, um sistema de cognições comporta três elementos principais: → As cognições relativas ao próprio sujeito (P) → As cognições relativas a outro individuo que entre em interacção com o sujeito (O) → Qualquer objecto, acontecimento ou indivíduo exterior (X) Dentro deste sistema distinguem-se dois tipos de relações: → Relações de unidade: cognições respeitantes ao facto de dois elementos serem percepcionados como fazendo ou não parte da mesma unidade funcional (P esta casado com O) → Relações de sentimento: cognições relativas à dimensão avaliativa ou emocional de uma relação, expressa em termos de gostar / não gostar, agradável / desagradável (P ama O) 70 Considerando apenas a ligação entre os dois elementos do sistema, diz-se que este esta num estado de equilíbrio sempre que as relações de unidade e de sentimento têm o mesmo sinal; caso contrário (P esta casado com O e detesta-o) está perante uma relação desequilibrada. Heider afirma que os estados de desequilíbrio são psicologicamente desagradáveis e que existe uma tendência generalizada para o restabelecimento do equilíbrio. As implicações da teoria do equilíbrio na compreensão da atracção interpessoal são: a) A existência de uma relação de unidade implica uma relação de sentimento positiva; b) A existência de uma relação de sentimento negativa pode quebrar a relação de unidade c) Atracção depende das correlações entre as relações de unidade, as relações de sentimento e as atitudes do sujeito relativamente aos outros elementos do sistema triangular. Teoria da consistência cognitiva (Newcomb, 1961, 1968) Os estados de desequilibro são psicologicamente desagradáveis e existe uma tendência geral para recuperar o equilíbrio. Newcomb procedeu a uma diferenciação entre os estados ditos de equilíbrio: só se verifica uma tendência para o equilíbrio nos casos em que a relação de sentimento correspondente é positiva. Nos casos em que não gosto do outro, é-me indiferente a concordância dos nossos sentimentos relativamente a um terceiro objecto ou pessoa. Teoria da comparação social (Festinger, 1957) Esta teoria reveste-se de particular importância nomeadamente quando se trata de responder à questão da existência da atracção. De acordo com a referida teoria, todos os seres humanos tem uma necessidade básica de auto conhecimento e auto avaliação das suas aptidões, opiniões, atitudes. Na ausência de um termo de comparação objectivo, a única solução é a comparação com outros indivíduos. Aqueles que se encontram mais próximos do sujeito possibilitam uma avaliação mais valida. 71 As teorias do reforço e da troca social Lott e Lott Concebem a atracção como uma resposta adquirida pelo mecanismo do reforço secundário: qualquer pessoa associada com uma situação reforçante torna-se alvo de atracação. Não é pois necessário que um individuo gratifique directa ou indirectamente o outro. Basta-lhe a simples presença para que possa vir a funcionar como um reforço secundário ao qual passam a estar associados as atitudes e os sentimentos positivos (atracção). Clore e Byrne O modelo destes é claramente idêntico ao anterior, ainda que recorra ao mecanismo do condicionamento clássico. A atracção é definida por uma resposta afectiva implícita a um estímulo, inicialmente neutro, progressivamente associado a um estímulo incondicional positivo. Contudo um dado indivíduo pode ver-se associado com diversas situações positivas e negativas. Neste caso defendem que a resposta afectiva implícita (atracção) de X relativamente a Y será o resultado ponderado do numero e magnitude de reforços positivos e punições experimentados por X nas situações a que Y esta associado. Modelo dos ganhos e perdas (Mette e Aronson) Pressuposto fundamental: princípio da maximização /minimização. No âmbito das interacções todos os indivíduos tem como objectivo maximizar os ganhos e minimizar as perdas. Desta forma, as pessoas sentem-se mais atraídas pelas relações em que os benefícios ultrapassam os custos, afastando-se das relações onde o saldo é negativo. No entanto, não seriam os valores individuais dos ganhos e das perdas que determinariam directamente a atracção. De acordo com o princípio da justiça distributiva ou da equidade, só as relações em que existe proporcionalidade entre investimentos e lucros para cada um dos intervenientes seriam geradoras de atracção. 72 Teoria da independência social (Thibaut e Kelley) Afirmam que a determinação das perdas e dos ganhos e consequentemente o grau de atracção de uma relação depende dos próprio padrões de avaliação utilizados pelos indivíduos. Mais exactamente, um individuo avalia os resultados de uma relação comparando-os com aquilo que pensa serem os ganhos e as perdas que em media caracterizam uma relação semelhante( nível de comparação). Nas situações em que a percepção esta acima do nível de comparação, a relação é considerada como satisfatória. A principal dificuldade das teorias do reforço e da troca social reside na especificação da natureza dos reforços sociais. O que é que é reforçante para um dado individuo numa dada situação? 1.2. Determinantes da atracção e génese das relações interpessoais É possível identificar um determinado número de factores que, em maior ou menor grau são responsáveis pelas preferências relacionais. Entre esses factores, para além da familiaridade e do motivo de afiliação, contam-se a beleza física, as semelhanças interpessoais e as avaliações (apreciações) positivas. A beleza física É obvio que os padrões de beleza apresentam uma variabilidade histórica. Contudo, dentro de uma mesma cultura e numa mesma época, existe uma convergência notável, expressa nas elevadas correlações obtidas nas investigações centradas na avaliação das dimensões do rosto e ilustrada pelas características mais ou menos invariantes dos modelos que nos são propostos através da publicidade e dos meios de comunicação social. Apesar da convergência referida, convém notar que a avaliação da beleza física não depende exclusivamente dos atributos objectivos, sendo, igualmente influenciada por factores de natureza situacional e mediatizada por estados emocionais. Quais os processos explicativos dos efeitos da beleza na atracção interpessoal? Os indivíduos tendem a associar a beleza a traços de personalidade positivos. O estereotipo segundo o qual “o belo é bom”. 73 Cap. VIII As Atitudes Plano de estudo: atitudes (cap VIII) Conceptualização das atitudes Estrutura das atitudes ( intratitudinal, intertitudinal) As funções das atitudes (cognitiva / social / orientação para a acção – modelo de Ajzer e Fishben) O modo como medir as atitudes O modo como as atitudes se adquirem e transformam As relações entre atitudes e comportamentos. Conceptualização das atitudes O conceito de atitude e depois as suas formas de avaliação serviram para dar identidade à psicologia social. É difícil encontrar uma definição para atitude. Eagly e Chiken definiram como sendo um constructo hipotético referente à tendência psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade específica. As atitudes são uma tendência psicológica, o que permite distinguir atitudes de outros constructos hipotéticos. Por tendência psicológica entende-se um estado interior, com alguma estabilidade temporal (e daí a sua diferença relativamente aos traços de personalidade que seriam mais estáveis e aos estados emocionais que seriam mais passageiros). As atitudes expressam-se sempre através de um julgamento avaliativo e estas respostas avaliativas podem ser de vários tipos. É habitual encontrar a separação de três componentes das atitudes: Cognitivas: referimo-nos a pensamentos, ideias, opiniões, crenças, que ligam o objecto de atitude aos seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais ou menos favorável. Afectivas: referem-se às emoções e sentimentos provocados pelo objecto da atitude 74 Comportamentais: reportam-se aos comportamentos ou às intenções comportamentais em que as atitudes se podem manifestar. Por fim, a definição que apresentamos explicita que as atitudes se referem sempre a objectos específicos que estão presentes ou que são lembrados através de um indício do objecto. Assim, quando encontro uma fotografia ou uma carta de um amigo que já não vejo à muito tempo, é activada a minha atitude face a essa pessoa, tal como quando a encontro pessoalmente. Quase tudo pode ser objecto de atitudes. Temos atitudes face a entidades abstractas (democracia), ou concretas (teste de escolha múltipla), face a entidades específicas (o cão da vizinha) ou gerais (os cães), temos atitudes face a comportamentos (praticas musculação) ou classes de comportamentos (praticar desporto). As atitudes expressam paixões e ódios, atracções e repulsões, gostares e não gostares; reporta-se a uma tendência psicológica que é expressa através de uma identidade particular com um certo grau de probabilidade e desfavorabilidade. É uma disposição para avaliar positiva e negativamente um dado objecto. A atitude é situar o objecto no pensamento numa dimensão avaliativa. É uma disposição adquirida. Atitudes não são respostas, são uma disposição para avaliar; não são comportamentos são uma variável do tipo disposicional e têm como principal característica a avaliação disposicional. O objecto pode ser abstracto, pode ser discreto, concreto, um individuo, um grupo, um preconceito. Um preconceito, o racismo: construção de um conjunto de crenças da cor da pele dos sujeitos. Os estereótipos ou atitudes negativas perante os grupos. Se eu gostar de alguém é atracção interpessoal; se eu gostar de mim é auto estima. 75 Evolução das atitudes segundo Mc Guire Há três grandes picos do estudo das atitudes 1920 - 1935 O principal foco de investimento era a problemática da medição das atitudes As atitudes passam para segundo plano para dar lugar à dinâmica de grupos por Lewin 1955 – 1965 Problemática da mudanças ads atitudes (Festinger) Estudo dos fenómenos cognitivos 1980 Problemática dos sistemas de atitudes Podemos classificar os conceitos disposicionais em três dimensões – classificação tripartida Campo de acção Dinâmica Horizonte temporal Categorias de respostas Modos de resposta As atitudes são sempre respostas, disposições não observáveis que poderão ser inferidas. Categorias de resposta Afectos Sentimentos Verbal Respostas Não verbal fisiológicas Cognições Comportamentos Crenças Intenções comportamentais Comportamentos observáveis Respostas perceptivas Medir as atitudes 1. Tipos de componentes que são medidos 2. Classificar técnicas de medição consoante a tabela 3. Técnicas centradas na expressão cognitiva a. Escalas intervalares de Thurstone b. Escalas somativas de Lickert c. Diferenciador semântico segundo Osgood 76 Têm-se desenvolvido formas estruturadas de avaliara as atitudes através de diversos tipos de respostas observáveis. Medição das atitudes através de respostas observáveis A forma mais comum de medir as atitudes é através do que se designou escalas de atitudes. Esta técnica parte do principio que podemos medir as atitudes através de crenças, opiniões e avaliações dos sujeitos acerca de determinado objecto, e que a forma mais directa de acedermos a estes conteúdos cognitivos é através da auto-descrição do posicionamento individual. As escalas intervalares de Thurstone caracteriza a atitude do sujeito através do seu posicionamento face a estímulos previamente cotados. Procura encontrar uma relação ente os atributos do mundo físico e as sensações psicológicas que ele produz; procura objectividade na selecção das frases face às quais os sujeitos apenas têm de assinalar aquelas com que concordam. Uma outra técnica de construção de escalas foi proposta por Likert, permitindo aos investigadores prescindir da tarefa de avaliação dos juízes, e centrando o processo nos sujeitos respondentes: é a própria resposta do indivíduo que a localiza directamente em termos de atitude, e não existe nenhum escalonamento a priori dos estímulos. A principal diferença esta no facto de a selecção das frases que compõe a escala ser feita pelo investigador procurando frases que manifestem claramente apenas dois tipos de atitude: uma atitude claramente favorável e uma atitude claramente desfavorável em relação a um mesmo objecto, eliminando assim todas as posições neutras ou intermédias. i. Redigem-se fases favoráveis ou desfavoráveis ii. Pede-se ao sujeito que indique o grau de agradabilidade iii. Soma-se a pontuação Indique o seu grau de concordância /discordância sabendo que: (escala de 9 pontos) 1 – Discordância muito forte 2 - Discordância forte 3 - Discordância moderada 4 - Discordância ligeira 77 5 - Nem discordância nem concordância (neutro) 6 – Concordância ligeira 7- Concordância moderada 8 – Concordância forte 9- Concordância muito forte Se fosse de 7 pontos suprimíamos 1 e 9. Se fosse de 5 retiraríamos 1, 9, 4 e 6. As escalas de atitudes conhecidas como diferenciadores semânticos nasceram nos finais dos anos 50 e tentavam clarificar o processo da linguagem. Partiam do pressuposto que o significado de cada palavra é um ponto num espaço semântico definido por dimensões bipolares. Osgood pretendia encontrar os grandes eixos que caracterizam o significado dos conceitos que utilizamos. Usaram-se assim escalas bipolares de 7 pontos de modo a poderem definir o espaço semântico de um conjunto heterogéneo de palavras. As análises efectuadas das respostas dos sujeitos a estas escalas bipolares permitiram detectar intercorrelações importantes que mostram que o significado se organiza sistematicamente em torno de três grandes dimensões: uma dimensão avaliativa, a que parece como explicando a maioria da variância das respostas e que junta adjectivos como bom-mau, agradáveldesagradável; uma dimensão de potência, composta por pares de adjectivos como grande-pequeno, forte-fraco; e uma terceira dimensão de actividade, composta por pares como activo-passivo e rápido-lento. BOM _ _ _ _ _ _ _ _ MAU CHATO_ _ _ _ _ _ _ SIMPATICO O espaço dinâmico pode ser definido num cubo de três dimensões 1. Avaliação (bom – mau) 2. Potencia (objectos de polarização do tipo forte – fraco) 3. Actividade (lento – rápido) 78 Estas técnicas apresentam alguns problemas que nenhum dos tipos de construção de escalas que referimos pode resolver. Trata-se em primeiro lugar de saber se a resposta do sujeito corresponde à sua atitude real ou se ele tentou, através das respostas, dar uma boa imagem de si, agradar ao investigador. Um outro problema prende-se com a relevância da atitude para o sujeito: a resposta corresponde a uma posição bem estruturada por parte do sujeito, ou foi um tema com que se viu confrontado apenas naquele momento Uma outra questão difícil de resolver envolve a própria linguagem em que é formulada a questão, a escala de resposta. Medição das atitudes através de respostas afectivas Embora possamos expressar aquilo que sentimos através de palavras, o nosso corpo é, muitas vezes, um relator mais verdadeiro dos nossos sentimentos. O corar, o suor nas mãos, o coração a bater mais depressa são respostas involuntárias e espontâneas que bem conhecemos a estados emocionais extremos. A sociopsicofisiologia desenvolveu quatro tipos de técnicas de avaliação das atitudes através de sinais corporais: respostas naturais manifestas e escondidas, respostas condicionadas e as falsas respostas psicofisiológicas. Na primeira categoria, as respostas naturais manifestas, isto é, aquelas em que as atitudes são inferidas através dos sinais posturais ou das expressões faciais dos interlocutores. No entanto, aquelas que seriam as respostas naturais manifestas mais óbvias são também as mais difíceis de avaliar: as expressões faciais. O problema com este tipo de respostas é o facto de as pessoas, se souberem que estão a ser observadas, as poderem falsear, tal como acontece com as respostas verbais, uma vez que se encontram sob o seu controlo voluntário. O estudo das respostas naturais escondidas refere-se a alterações corporais de nível fisiológico que são dificilmente observáveis a olho nu e que não estão ao alcance do controlo voluntário do sujeito. A medida mais frequente utilizada é a que se refere à resposta galvânica da pele. Uma outra resposta fisiológica associada às atitudes é a resposta pupilar, isto é, o aumento ou diminuição do tamanho da pupila. Um terceiro indicador fisiológico das atitudes pode ser a actividade electromiográfica facial, isto é, a contracção das fibras musculares avaliada através da 79 mudança de potencial eléctrico que a acompanha. por fim, referir-nos-emos a uma técnica de avaliação das atitudes que utiliza um falso indicador fisiológico para garantir a autenticidade das respostas dos sujeitos às respostas a uma escala de atitudes: as falsas respostas psicofisiológicas. «O paradigma experimental baseia-se na simples premissa de que ninguém quer ser desmentido por uma máquina. Se conseguirmos convencer uma pessoa de que temos uma máquina que mede com precisão a intensidade e a direcção das suas atitudes, assumimos que ela está motivada para predizer aquilo que a máquina vai dizer acerca dela». Deste modo, parece que as medidas corporais das atitudes, embora sejam um campo fascinante de investigação, não têm produzido técnicas e resultados tão importantes como de início se supunha. Este facto deve-se à dificuldade de interpretar univocamente as respostas psicofisiológicas dos sujeitos e às dificuldades práticas de aceder a este tipo de material para o registo das respostas. Medição das atitudes através de respostas comportamentais Um outro tipo de medida das atitudes refere-se à avaliação dos comportamentos. Este tipo de indicadores possibilita, por um lado, superar a falta de sinceridade que é possível nas medidas de autodescrição, e por outro produzir observações em meio natural, impossível através das medidas corporais. Estas medidas são conhecidas também por medidas não obstrutivas. A estrutura das atitudes O primeiro grande debate prende-se com a dimensionalidade das atitudes, isto é, com a forma como os diferentes teóricos das atitudes respondem à questão: a reapresentação mental da atitude reproduz um continuum de favorabilidade / desfavorabilidade por que ela se expressa? O apoio empírico para as visões dimensionais das atitudes vem do facto de o tempo de processamento de afirmações radicais ser inferior ao tempo de processamento de afirmações mais neutras. Esta última perspectiva pressupõe mesmo a existência de uma escala de referência interna, que cada pessoa divide em três zonas consoante a sua própria posição: zona de aceitação, que inclui as crenças que o indivíduo considera aceitáveis; zona de rejeição, que inclui as que são inaceitáveis; e zona de não comprometimento onde se encontram as crenças que não são consideradas nem aceitáveis nem inaceitáveis. 80 A segunda grande questão no domínio das atitudes prende-se com a consistência entre a atitude e as suas três formas de expressão, isto é, até que ponto há uma correspondência entre a atitude do indivíduo e as suas diversas formas de expressão (afectiva, cognitiva e comportamental). Muita da pesquisa neste domínio tem analisado a consistência entre a atitude e as crenças, verificando--se normalmente uma boa consistência entre elas. Funções das atitudes Sendo um produto cognitivo tão comum, podemos perguntar-nos, de um ponto de vista pragmático, para que servem as atitudes. A resposta para esta pergunta tem sido encontrada por quatro vias: as teorias que salientam as funções motivacionais das atitudes, as teorias que salientam as funções cognitivas das atitudes, as teorias que salientam o papel de orientação para a acção e as teorias que salientam as funções sociais das atitudes. Funções motivacionais das atitudes: Atitudes e necessidades O primeiro tipo de abordagem teve origem em autores como Katz. A sua perspectiva representa a tentativa de compreender as razões que levam as pessoas a manter as suas atitudes. As razoes no entanto estão ao nível das motivações psicológicas e não ao nível do acaso de acontecimentos e circunstancias exteriores. Katz e outros autores definiram um grande número de funções específicas das atitudes, que outros investigadores mais recentes sistematizaram em duas grandes categorias: funções instrumentais ou avaliativas e funções simbólicas ou expressivas. As primeiras prendem-se com uma avaliação de custos e benefícios da atitude, optando o indivíduo pela atitude que lhe permita obter o melhor ajustamento social, maximizando as recompensas sociais e minimizando as punições. As funções expressivas têm a ver com a utilização das atitudes enquanto forma de transmitir os valores ou a identidade do sujeito, permitindolhe proteger-se contra conflitos internos ou externos e preservar a sua imagem. Funções cognitivas da atitudes: atitudes e processamento da informação 81 As funções cognitivas das atitudes estão ligadas à forma como elas influenciam o modo como é processada a informação. Aqui temos de ter em conta dois princípios, o princípio do equilíbrio e o princípio da dissonância. A teoria do equilíbrio de Heider refere-se à forma como os indivíduos articulam diferentes atitudes. Considera três entidades: pessoa (P), o objecto (O) e outra entidade (X), onde se estabelecem relações de unidade (caracterizam a relação cognitiva: quando os sujeitos percebem que estão relacionados) e relações de sentimento (diz respeito à avaliação a afectos que podem ser mais ou menos entre as 3 unidades). Assim, Heider postula que em termos de principio organizador da construção do ambiente subjectivo, que as situações equilibradas são preferidas a situações desequilibradas por serem formas perceptivas e por evitarem a tensão. Quanto ao principio da redução da dissonância cognitiva este foi definido por Festinger para explicar a necessidade que existe em todos os indivíduos de encontrarem consonância entre as diversas cognições que têm a respeito de um mesmo objecto. A questão de Festinger prende-se com a consistência interna de uma mesma atitude. A dissonância cognitiva refere-se assim à relação entre duas cognições incompatíveis da mesma pessoa face ao mesmo objecto. O princípio da dissonância cognitiva tem como a perspectiva de Heider bases motivacionais e postula que um estado de dissonância cognitiva é psicologicamente desagradável, constituindo uma motivação do organismo no sentido da redução ou da eliminação da dissonância. No entanto, nem todas as cognições incompatíveis nos produzem dissonância. Para tal é preciso que as cognições sejam percebidas como importantes e é preciso que nos vejamos como responsáveis pelas situações que nos causam dissonância. Para sair de um estado desagradável Festinger propõe duas estratégias: aumento do numero ou da importância das cognições consonantes e / ou a diminuição do numero ou da importância das cognições dissonantes. Funções de orientação para a acção: impacto das atitudes no comportamento Fishbein e Azjen (1975) preconizam que todo o comportamento é uma escolha, uma opção ponderada entre várias alternativas. O melhor preditor é então a intenção comportamental, sendo que a atitude é um dos factores que influencia a decisão. 82 Surge o modelo da acção reflectida: a atitude face ao comportamento é o resultado do somatório das crenças à cerca das consequências do comportamento (expectativas) pesadas pela avaliação dessas consequências (valor). Posteriormente Azjen (1987) elabora o modelo de acção planeada acrescentando uma nova variável ao modelo anterior: o controlo percebido sobre o comportamento, que corresponde à dificuldade perecbida na realização de um comportamento. Assim, os comportamentos habituais são percebidos como fáceis de pôr em pratica e portanto com elevados níveis de controlo percebido. Mudança das atitudes: impacto do comportamento nas atitudes O facto de fazer com que as pessoas realizem um comportamento contrario à sua atitude inicila causa dissonância cognitiva e para a resoler tem de se mudar o valor da crença ou memso a atitude. Posto isto, não so as atitudes modelam o comportamento, mas os comportamentos voluntários induzem a mudança de atitudes. A mudança de atitudes depende basicamente de novas informações e ou afectos relativos ao objecto. Persuasão Mudança de crenças, atitudes ou comportamentos por meio da utilização de informação ou argumentos. Elementos da persuasão: → A mensagem: Mc Guire apresenta cinco fases de processamento de informação da mensagem n comunicação persuasiva, em que a falha em qualquer dela daria por terminado o processo: o Atenção: para haver persuasão a audiência tem de estar atenta a mensagem; o Compreensão: a audiência tem de compreender os argumentos que ouviu e identificar o significado da mensagem; o Aceitação: concordar com as conclusões apresentadas; o Retenção: a mudança de atitude deve permanecer na memória durante algum tempo; o Acção: a mudança de atitude deve ter consequências comportamentais; 83 Já Petty e Cacioppo (1986) criam o Modelo de Probabilidade de Elaboração, que identifica as duas condições básicas que influenciam o sucesso das mensagens persuasivas: motivação e capacidade. Caso os sujeitos tenham motivação e capacidade para compreender a mensagem, aumentam as probabilidade dos argumentos serem tratados com profundidade, resultando numa mudança da estrutura cognitiva e em novas atitudes. Caso isto não aconteça as pessoa limitam-se aos indícios periféricos, resultando numa mudança periférica de atitudes ou continuam a manter as mesma opinião. Como características da mensagem surgem: o O medo: o apelo ao medo; se moderado aumenta a aceitação dos argumentos da fonte; o Uni ou bilateral: as mensagens unilaterais têm mais poder persuasivo do que as que apresentam argumentos para os dois ladops da questão; o Explicita ou implícita: a persuasão é maior quando a conclusão é deixada implícita do que quando é explicita. → A fonte: quanto mais fidedigna (credível) atraente, e conhecida for a fonte, masi probabilidade há de uma mudança de atitudes. → O alvo: quando existe distracção os sujeitos não discriminam a qualidade dos argumentos. Quando estes estão atentos só existe persuasão na presença de argumentos fortes. Também quanto maior for o envolvimento com a questão da mensagem, quanto mais conhecimento se possui sobre o tema, maior é a discriminação da qualidade dos argumentos. → Resistência à persuasão: o Inoculação: expor a pessoa a opiniões contrarias de modo a que fortaleça a contra argumentação e crie inoculações contra a mudança. o Advertência: se os sujeitos entendem que o conteúdo da mensagem visa persuadi-los vai ser amais difícil influencia-los do que se estivessem desprevenidos. 84 La Pierre (1934) Mischel (1968) Wicken (1969) Ajzer e Fishben (1980) Fasio (1990) Atitudes /comportamentos 1. Existe uma relação? 2. Quando é que há relação? 3. Como é que é a relação? Fasio A resposta passa por sabermos enunciar três questões: 1. Existe ou não uma relação entre comportamento e atitudes? (algumas vezes) 2. Quais as circunstancias especiais em que ocorre a relação? (variáveis moderadoras) 3. Como é a relação? Quais os processos/modelos? (Ajzer e Fishben) La Pierre Realizou uma experiencia em que percorreu vários restaurantes com um casal de chineses. Depois, escreveu para os restaurantes/hotéis a perguntar se recebiam chineses. 92% destes disseram que não, mesmo depois de já os terem recebido! Conclui-se desde estudo que não há qualquer relação entre comportamentos e atitudes. Esta experiencia tem algumas deficiências metodológicas nomeadamente, a companhia poderia ter influenciado, quem respondeu às carta pode não ter sido a mesma pessoa que os atendeu. Mischel 85 Introduziu o conceito de traço de personalidade, e estabeleceu que entre traço e comportamento há uma relação nula r< 0,30. Haveria apenas a excepção da inteligência. Wicker As investigações de Mischel foram retomadas por Wicker que referiu mais uma vez que as relações entre traço e comportamento são muito fracas. No entanto, este modificou a metodologia e a teoria. Quanto à metodologia afirmava que não é intelectualmente honesto correlacionar uma escala de resposta com apenas um item, pelo que no domínio do comportamento não deveria ser apenas um comportamento mas sim um padrão de comportamentos. Quanto à natureza teórica, as atitudes não são o único determinante dos comportamentos, existem as variáveis moderadoras, a variável que interage com outra na determinação do efeito. Assim, há que identificar as variáveis que pudessem mediar as relações entre a VI e a VD Ajzer e Fishben Responderam à 3ª pergunta, afirmaram que temos que distinguir atitude geral de atitude específica a um comportamento 86 Atribuição Causal Vivemos num mundo em que aquilo que fazemos é objecto de avaliação por nos próprios e pelos outros. Frequentemente os comentários traduzem-se num questionamento das razoes que levaram a tal desempenho /acto e numa avaliação das possibilidades físicas, capacidades intelectuais, afectivas ou artísticas dos diferentes intervenientes dos constrangimentos associados à sua realização. Os psicólogos sociais interessam-se pela forma como as pessoas explicam o seu comportamento e o dos outros. Este campo da psicologia social convencionou chamarse atribuição causal. Como as pessoas explicam o seu comportamento e o dos outros: atribuir causas para o comportamento 1. Modelos 2. Enviesamentos 3. Aplicações 1. Modelos Heider e a psicologia ingénua Escreveu a Psicologia das Relações Interpessoais que deu origem à psicologia popular. Ele tentou perceber o modo como os instrumentos cognitivos (homens) constroem uma psicologia que aplicam ao mundo social. Em 1944 estudou a percepção fenomenal da causalidade, onde afirma que é impossível nos não dar-mos interpretações e atribuirmos causas ao que vimos. Em 1958 interrogou-se das razoes que levam as pessoas a explicar um comportamento, e estas podem ser causas proximais, numa situação qualquer atribuo o mesmo comportamento; ou causas disposicionais /situacionais. Por oposição a uma visão mecanicista popular da época Heider centra a sua analise em dois aspectos: a) A forma como os indivíduos ajustam internamente as suas cognições por form a estar em equilíbrio consigo próprio b) Os ajustamentos que fazem ao meio social em que se inserem 87 Heider distingue três aspectos na apreensão da realidade: a) O sujeito – actor b) O Outro c) O destino (sorte) A apreciação é feita com base numa analise que conjuga aspectos do actor, do contexto e do imprevisto associado à acçao. Jones e Davids – inferência das disposições Primeira formalização das intuições sobre atribuição: teoria da inferência correspondente. Diz-nos que a partir dos actos podemos fazer uma inferência acerca das características do autor. Primeiro temos um momento de observação, seguido de um momento inferencial (cognitivo). O observador atribui determinadas intenções ao actor e consequentemente traços de personalidade. Elementos fundamentais do processo de atribuição: sempre que se verifiquem aumenta a probabilidade do investigador mergulhar num processo inferencial. → Para que possa ocorrer processo é necessário que o observador considere que o actor tem conhecimento dos efeitos da sua acção e que tem condições para realizar 1. O observador considere que o actor é livre de agir 2. É mais informativo os efeitos de uma acção não comuns com acções alternativas 3. Princípio da desejabilidade. Os comportamentos sociais desejáveis são pouco informativos. 4. Relevância edónica: é mais provável que mergulhe em processos inferenciais se os comportamentos do outro tiverem significado para mim 5. Personalismo: é mais provável quando os comportamentos do outro se dirigem de forma explícita a mim 88 Limitações: → Explicar as hetero atribuições e não as auto atribuições → Tomada de partido ao afirmar que só os comportamentos intencionais dão lugar a inferências → Modo de agenciamento dos efeitos não comuns: um actor não esta sempre a pensar nos efeitos de uma acção A grande descoberta da atribuição: privilegiamos sempre as causas disposicionais da atribuição Kelley – o modelo co-variado Procurou criar um modelo genérico da auto e hetero atribuição e inspirou-se no modelo de análise da variância. Perante um determinado comportamento temos três explicações: 1. Atribuí-se à pessoa 2. Atribui-se à entidade, estimulo externo 3. Atribui-se às circunstâncias em que ocorre o comportamento Para que o atribuidor pese a importância dos três factores, ai procurar fontes de informação relativamente aos factores pessoas – consenso (alto ou baixo). Conjugam-se três tipos de informação: → Consistência: conhecimento que o percipiente tem da historia do comportamento do actor: o actor normalmente comporta-se assim? (atribuição interna) → Distintividade: o actor em outras situações comporta-se de maneira diferente? → Consenso: os outros, na mesma situação comportam-se de maneira diferente? O modelo da co-variação esquece-se dos aspectos culturais e sociais. Definiu ainda dois mecanismos com forte implicação para a atribuição causal: 1. Principio da subtracção ou do desconto: o papel imputável a uma causa diminui quando estão presentes causas igualmente plausíveis 89 2. Principio aumentativo: o papel de uma atribuição causal aumenta quando na presença de uma causa inibitoria Weiner – atribuições em contextos de realização muito específicos O percipiente deve determinar se o comportamento observado tem locus de causalidade (causas internas ou externas) e estabilidade (estável ou instável), assim como controlabilidade (influencia do actor sobre a causa). Normalmente atribuímos mais o sucesso a causas internas, como o esforço e a capacidade, e o s fracassos a causas situacionais como o azar/sorte ou á dificuldade da atrefa. As atribuições ddefensivas servem para proteger a auto-estima das pessoas que as enumciam (exº: não passei no exame de condução porque estava a chover). 2. Enviesamentos: Erro fundamental da atribuição: Há uma sobrevalorização de explicações adicionais. Há uma tendência para sobrestimar o papel dos factores pessoais disposicionais em detrimento dos situacionais, na explicação dos comportamentos dos outros indivíduos, ou seja, o individuo com a intenção de realizar um comportamento apesar dos seus constrangimentos pessoais tem controlo sobre o que é necessário para o concretizar Jones e Heins Verificam que existe divergência entre a perspectiva do actor e do observador, já que os actores favorecem a informação histórica dos seus comportamentos, causas situacionais, enquanto os observadores centram-se nos efeitos do comportamento do actor a partir das suas características pessoas, causas disposicionais. 2 tipos enviesamentos: Distorções embenificio do próprio Enviesamento de auto defecitaçao 3. Aplicações: motivação, psicologia clínica e relações intimas 90 Introduction to a History of Social Psychology Contemporary social psychology in historical perspective D. Cartwright 1. Contexto histórico e Social Segundo este autor, a Segunda Guerra Mundial foi o evento mais importante para o desenvolvimento da Psicologia Social e foi A. Hitler a pessoa que teve esse grande impacto. Mas porquê? Porque os problemas por ele criados forçaram o governo Americano a incluir no programa de desenvolvimento a Psicologia Social à busca de soluções. Novas técnicas, tais como a sondagem, foram empurradas para a frente, tornando-se óbvias as aplicações da Psicologia Social, mesmo que a teoria não tenha avançado muito. Durante a guerra houve uma intensa emigração para os EUA, tendo aí se desenvolvido um clima mais auspicio para a evolução da Psicologia Social. Este desenvolvimento, para Cartwright, tem uma desvantagem, a de estreitar a amplitude essencial da perspectiva da Psicologia Social. Esta disciplina tornou-se, rapidamente, influenciada pela ideologia política americana. Isto foi visto como uma oposição às “theories of agression” e visto, ainda, na controvérsia sobre o comportamento social ter ou não uma base genética significativa. Os problemas estudados na Psicologia Social tornam-se os problemas sociais que existiam na sociedade dos EUA e, como Cartwright afirma, diferentes períodos históricos têm lançado a sua própria pesquisa (o Senador McCarthy´s em 1950 aprofundou a pesquisa desta disciplina no conformismo; nos anos 70 houve uma pesquisa intensa na área da frustração-agressão e violência). É importante ver como é que o passado e o presente têm sido determinados pelos factores sociais e históricos da sociedade. 2. Estado actual no campo Para Cartwright a Psicologia Social está num estado positivo mas crítico. Muito foi feito mas muito falta para se fazer. Devemos reconhecer o progresso positivo e as continuas limitações. 3. Técnicas de Pesquisa Os avanços na metodologia, estatística e hardware computacional alteraram drasticamente o que se estuda e como se estuda. Segundo este autor, estas novas ferramentas não devem determinar o conteúdo da pesquisa. Devemos tentar usar as mais variadas técnicas em vez de se especializar numa em particular, aumentando a confiança na generalização da pesquisa. 4. Conteúdos substantivo Ainda há limitações, como a ignorância acerca de como o processo social se manifestou ao longo do tempo, o nosso foco deturpado nas cognições intrapessoais, mesmo que isso “se preocupe com o subjectivo mundo dos indivíduos, tem de ser constituído uma única contribuição para as ciências sociais”. 91 5. Integração teórica Enquanto que o objectivo da Psicologia Social é explicar todo o comportamento social em termos de uma teoria, isto parece ser um objectivo ingénuo, como uma disciplina está a gastar demasiado tempo a gerar pequenas teorias em grandes teorias, em vez de perceber como elas funcionam todas juntas. Matters vai mais longe quando afirma que nós pensamos numa separação entre duas “escolas” da psicologia social, a “psicologia social psicológica” e a “psicologia social sociológica” – tendo a ignorar uma à outra e persistir em trabalhar como disciplinas separadas (Sociologia vs. Psicologia). 6. Observações conclusivas Não nos podemos esquecer que a Psicologia Social enquanto disciplina é nova, comparada com a física, por exemplo. Algumas criticas permanecem ainda hoje, a susceptibilidade a modismos e modas, a confiança numa base de dados restrita, outras desvaneceram-se como a estreita composição demográfica de investigadores. Deve-se, também, ressaltar que o campo da Psicologia Social mudou drasticamente, por exemplo, agora faz-se trabalhos de campos, aplicam-se estudos longitudinais, etc… Para percebermos o natural desenvolvimento nos passados 40 anos é necessário considerar, não só, as descobertas, métodos e teorias produzidas durante esse período mas também analisar as mudanças institucionais ocorridas dentro do próprio campo. A Psicologia Social, tal como outro ramo da ciência, é um sistema social em que o primeiro objectivo é a produção de um conhecimento empírico particular, e a sua história é mais do que a história das ideias e realizações intelectuais. Os Psicólogos Sociais são influenciados por diversas coisas, como as politicas de financiamento, as práticas editoriais de jornais e revistas, as recompensas monetárias por parte das universidades, a natureza dos programas de investigação e a composição demográfica da profissão, entre outras. É verdade que o conteúdo substantivo do conhecimento, atingido em outro campo da ciência, é ultimamente determinado pela natureza intrínseca do fenómeno sobre investigação, desde que a pesquisa empírica seja essencial para um processo de descoberta com uma lógica interna própria. Mas é igualmente verdade que o conhecimento atingido é um produto de um sistema social e, como tal, é basicamente influenciado pelas propriedades desse sistema e pelos ambientes culturais, sociais e políticos. Estas influências são especialmente visíveis quando há uma tentativa de perceber o desenvolvimento ocorrido num período limitado de tempo. Há certas vantagens em ter a disciplina inserida num sistema social. Por um lado, ajuda no estabelecimento de padrões realísticos para avaliar a taxa de progresso. A produção de conhecimento científico é um empreendimento colectivo em que cada colaborador contribuí para a construção do trabalho do outro, da quantidade de tempo requerido para a produção de descobertas empíricas, para comunicar entre si e permitir a outros avaliar a sua importância em determinar limites severos sobre a taxa de evolução que pode ser esperada realisticamente. Para Kuhn, um avanço fundamental na ciência ocorre como resultado de rebeliões produzidas por gerações mais novas de cientistas contra as velhas. Tais rebeliões crescem a partir de um profundo sentido se insatisfação com as capacidades em lidar no campo com problemas intelectuais básicos e resultam no estabelecer de, fundamentalmente, uma nova abordagem teórica e metodológica, ou nas palavras de Kuhn, um novo paradigma. A emergência da Psicologia Social como um campo distinto 92 da pesquisa empírica por volta de há um século pode ser vista como uma revolta contra os métodos da filosofia social. É possível que essa tal crise seja contemporânea à psicologia social no inicio de uma outra rebelião, no entanto, segundo Elms (1975), a actual crise é, na verdade, uma falta de auto-confiança profissional acerca de expectativas irrealistas. Mas em qualquer evento, é claro que a psicologia social não é velha o suficiente para beneficiar de muitos avanços revolucionários como descrevia Kuhn. A segunda vantagem deste ponto de vista sugere que os esforços podem ser melhor direccionados para trazer melhorias na performance intelectual neste campo. A terceira vantagem é que se esta abordagem fosse geralmente aceite poderia ajudar a contrabalançar a tendência de dividir as actividades do psicólogo social em duas partes distintas, o sagrado e o profano, por outras palavras, as actividades relacionadas com o conteúdo material de pesquisa, e aquelas que têm a ver com a construção e manutenção do sistema social que possibilita estudos. Embora esses dois tipos de actividades, sem dúvida, exigem diferentes tipos de habilidades, é importante reconhecer o sucesso e de um depende do sucesso do outro, e que ambos são essenciais para o progresso científico. Se quisermos entender como essas pessoas vieram a dar o seu contributo específico e por isso eles foram tão influentes, devemos examinar a natureza do sistema social no qual eles trabalhavam, seu estágio de desenvolvimento, e sua maior configuração social. Contexto histórico e Social Não pode haver dúvida de que a influência mais importante no desenvolvimento da psicologia social até ao presente veio de fora do próprio sistema. Refiro-me, naturalmente, à Segunda Guerra Mundial e à turbulência política na Europa que a precedeu. Se fosse necessário nomear uma pessoa que teve o maior impacto sobre o campo, essa pessoa teria que ser Adolph Hitler. Existem várias razões pelas quais estes eventos foram tão importantes para a psicologia social: Eles vieram num período crítico do desenvolvimento; estiveram, em grande parte, responsáveis pelo grande aumento da taxa de crescimento; eles, basicamente, influenciaram a composição demográfica posterior; têm uma influência fundamental sobre o seu direito da constituição intelectual inteira até o presente. Durante as primeiras três ou quatro décadas da sua existência, a psicologia social foi relacionada principalmente com o problema de se estabelecer como um campo legítimo de pesquisa empírica. Os psicólogos sociais tinham dirigido a sua atenção principalmente para a tarefa de desenvolver conceitos básicos e conceber métodos adequados de investigação. Em meados da década de 30, o campo estava preparado para realizar investigação sobre importantes problemas de fundo. Dentro de um período de menos de dez anos, Newcomb fez a sua mais importante pesquisa, que ficou conhecido como o estudo de Bennington; FH Allport e Sheriff publicaram os seus estudos básicos sobre as normas sociais e de conformidade; Hyman conduziu o seu trabalho para os grupos de referência; Murray relatou os resultados de um impressionante programa de pesquisa sobre a motivação humana; o grupo de Yale publicou o seu trabalho sobre frustração e agressão, e na aprendizagem social e imitação; Whyte fez sua pesquisa de observação participante na sociedade “street-corner”; e Lewin, Lippitt e White realizaram a sua experiência clássica sobre estilos de liderança. Foi também durante este tempo que Dollard publicou seu livro, “Caste and Class in a Southern Town”, Myrdal conduziu as suas análises nas relações raciais nos Estados Unidos, e os Clarks fizeram o 93 seu trabalho sobre a identificação racial nas crianças negras. Foi em 1936 que Gallup, tão dramaticamente, demonstrou a possibilidade de usar entrevistas como amostras da população para prever resultados eleitorais, e em 1939 Likert começou a fazer pesquisas de opinião pública para o governo federal. O campo estava num estado de efervescência intelectual, e os psicólogos sociais estavam bem preparados para responder aos acontecimentos que se seguiram. É difícil para qualquer um que não tenha experimentado apreciar a magnitude do impacto da guerra sobre a psicologia social americana. Mal se tinha apagado o fumo sobre Pearl Harbor, e o governo já tinha começado a recrutar psicólogos sociais para ajudar na solução dos problemas enfrentados por uma nação em guerra. Como resultado dessa migração, juntamente com o recrutamento militar, a pesquisa académica e a formação de estudantes de graduação chegou a um impasse virtual. A variedade de temas investigados para o governo quase desafiava a descrição, mas numa revisão deste trabalho (Cartwright, 1948) realizada imediatamente após a guerra, eu era capaz de identificar o seguinte: a moral da Construção civil e combate à desmoralização, atitudes internas, necessidades e informação; moral do inimigo e da guerra psicológica; administração militar, relações internacionais e os problemas psicológicos de uma guerra, a economia. Os trabalhos sobre problemas como estes, apelidados para a afiação de ferramentas de pesquisa, só recentemente foram concebidos e inventados novos. Eles demonstram o poder de um inquérito por amostragem, como técnica de pesquisa em ciências sociais. Isso resultou na acumulação de uma massa enorme de novas informações, mas devo acrescentar, não tanto na forma de teoria. Eles abriram novos campos de investigação, como a psicologia organizacional, o comportamento económico e comportamento político. Forneceram exemplos concretos de utilidade prática da psicologia social. Mais importante ainda, alteraram, fundamentalmente, o modo como se via os psicólogos sociais do campo e seu lugar na sociedade, e estabeleceu a psicologia social, uma vez por todas, como um campo legítimo de especialização dignos de apoio público. Quando a guerra acabou, o campo era incomparavelmente diferente do que tinha sido apenas três ou quatro anos antes. As perspectivas eram brilhantes, a moral estava elevada, e os psicólogos sociais iniciaram a tarefa de converter dentro da realidade a sua nova visão do que a psicologia social se podia tornar. Estabeleceram-se novos centros de pesquisa, como o Survey Research Center, o Centro de Pesquisa para Dinâmicas de Grupo e o Laboratório de Relações Sociais. Estes psicólogos sociais começaram por apresentar propostas de pesquisa para agências governamentais, fundações e empresas, e adquiriram, em sua maior parte, uma recepção calorosa. Organizaram programas de doutoramento, na maioria das principais universidades, e em poucos anos, tinham-se treinado mais psicólogos sociais do que em toda a história desta área. Começou-se, também, a publicar grandes quantidades de investigação. É evidente que esta evolução não teria ocorrido se não fosse para a guerra, e têm implicações importantes para a psicologia social hoje. Como resultado da explosão populacional dentro do campo nos últimos 30 anos, algo como 90% de todos os psicólogos sociais que já existiram estão vivos no momento presente. Toda a estrutura conceitual da psicologia social, incluindo todas as suposições não questionadas sobre o seu próprio objecto e métodos adequados de investigação e da maioria de seus resultados empíricos são, portanto, em grande parte o produto de uma geração de pessoas que foram treinados por um relativamente pequeno grupo de professores com um fundo comum e um ponto de vista bastante homogéneo. E devido às condições sociais da época em que estes profissionais entraram na área, eles são 94 predominantemente brancos, do sexo masculino, americanos de classe média e, portanto, reflectem os interesses e tendências deste segmento da população. As suas produções são mais impressionantes, mas é importante reconhecer que o campo tal como ele existe hoje não é uma dádiva de Deus, nem mesmo o melhor que poderia ser imaginado pelo homem. Nenhuma crítica às forças históricas que moldaram a psicologia social contemporânea estaria completa sem a consideração de uma outra consequência da guerra e as convulsões sociais que o precederam. A ascensão do nazismo na Alemanha, juntamente com o anti-intelectualismo e o vicioso anti-semitismo, resultou, como todos sabemos na emigração para a América de muitos dos principais estudiosos da Europa, cientistas e artistas. Embora esta deslocação maciça de talento intelectual ter tido efeitos importantes sobre todos os ramos da ciência e da cultura, foi especialmente crítico para a psicologia social. Dificilmente se pode imaginar como seria como hoje esta área se pessoas como Lewin, Heider, Kohler, Wertheimer, Katona, Lazarsfeld, e Brunswiks não tinham vindo para os Estados Unidos quando eles o fizeram. Eles não só trouxeram para a psicologia social norte-americana um novo e estimulante ponto de vista num momento em que ela estava prestes a embarcar num período de crescimento sem precedentes, mas também uma influência directa e pessoal sobre muitos dos indivíduos que estavam a entrar para representar um papel preponderante no desenvolvimento subsequente da área e, através deles, uma influência indirecta sobre a formação da actual geração de psicólogos sociais. Não posso fornecer uma lista completa de quem tinha estreita associação pessoal com esses estimulantes estudiosos, mas ressaltam nomes como o de Asch, Krech, Crutchfield, Merton, Campbell, Likert, Barker, Lippitt, francês, Zander, Cook, Festinger, Kelley, Thibaut, Schachter, e Deutsch. Como resultado da guerra e dos acontecimentos políticos que o precederam, a psicologia social tornou-se quase inexistente no continente europeu, ou, aliás, em qualquer lugar fora da América do Norte, no exacto momento em que sofreu os seus desenvolvimentos mais importantes. Tornou-se primeiramente um produto americano, e quando finalmente foi restabelecido no exterior teve um sabor completamente americano. Essa série de eventos teve implicações profundas para esta área como hoje a conhecemos. A Psicologia Social, mais do que qualquer outro ramo da ciência, com a possível excepção da antropologia, requer uma amplitude de perspectiva que só pode ser alcançado por uma comunidade verdadeiramente internacional de estudiosos. Os psicólogos sociais não são apenas os alunos da sociedade, são também participantes, e apesar de seus melhores esforços para alcançar uma objectividade independente nas suas pesquisas, o seu pensamento é afectado pela cultura particular em que vivem. O facto da psicologia social ter sido tão amplamente um empreendimento americano nos seus anos de formação significa que o seu conteúdo intelectual tem sido grandemente influenciado pela ideologia política da sociedade americana e por problemas sociais a que os Estados Unidos têm vivido ao longo dos últimos quarenta anos. Os efeitos dessas influências sobre a psicologia social contemporânea são profundos. A ideologia política americana é, claro, basicamente democrática. Ela enfatiza a importância do indivíduo; rejeita a doutrina da imutabilidade da natureza humana; coloca grande confiança na crença de que o progresso humano pode ser conseguido através da resolução de problema racional, pesquisa científica e tecnologia, e mantém a visão optimista de que a necessidade de mudanças sociais pode ser trazidas pela educação pública. Esses pressupostos são reflectidos na grande concentração de pesquisas psicológicas sobre temas sociais da opinião pública, atitudes, aprendizagem social e mudança de atitude. Eles representam, pelo menos em parte, o grande interesse nos 95 processos cognitivos e motivacionais dentro do indivíduo, embora não se deve subestimar a influência aqui da psicologia da Gestalt e da teoria freudiana que veio com a emigração de psicólogos da Europa, nem devem ignorar a importância da invenção do computador. Essas premissas ideológicas ajudam também a explicar o predomínio do ambientalismo no pensamento psicológico social. A teoria de McDougall sobre os instintos nunca teve uma oportunidade real, não tanto porque era errada, que pode muito bem ter sido, mas porque era a antítese da cultura americana. Não podemos deixar de ficar impressionados com o intenso fervor emocional com que os psicólogos sociais reagem à proposição de que a inteligência tem um substancial componente genético, ou o pedido por Lorenz e outros que a agressividade é instintiva. Ao chamar a atenção para essas influências ideológicas, não é minha intenção criticar a democracia, pois estou convencido de que a psicologia social pela sua natureza, não pode realizar a sua tarefa essencial numa sociedade autoritária, nem sob uma forma ditatorial de governo. Lewin foi, sem dúvida, correcto quando afirmou que: "Para acreditar na razão, é preciso acreditar na democracia, porque concede aos parceiros o raciocínio de um estatuto de igualdade" (1948:83). Se, como psicólogos sociais, nós acreditamos na razão, segue-se que temos de fazer o melhor que podemos para distinguir entre os pressupostos ideológicos e evidências científicas. Como a maioria das pesquisas feitas pela psicologia social tem sido produto de investigadores norte-americanos, o seu conteúdo material foi influenciado pelos problemas sociais que confrontam a sociedade americana. Estes problemas não só afectaram os temas escolhidos para a investigação, mas também criaram uma vontade por parte de funcionários governamentais e outros parceiros financeiros para prestar o apoio necessário para fazer essa investigação. Estamos todos familiarizados com o valor estratégico da inclusão nas propostas de nossa pesquisa uma secção de "relevância social", independentemente de como irrelevantes que poderiam parecer. Os efeitos desses problemas sociais sobre o conteúdo da pesquisa seriam facilmente perceptíveis se se fosse fazer uma escavação arqueológica por baixo, através da literatura acumulada de psicologia social. Alguém poderia encontrar perto da superfície uma concentração material que lida com os papéis sexuais e o estatuto da mulher, em seguida, uma camada sobre a agitação urbana, violência e motins que foi depositada durante os anos sessenta, depois uma camada espessa de pesquisa sobre a conformidade no seu apogeu, nos anos cinquenta, e depois, claro, os resíduos de todo o trabalho sobre os problemas decorrentes da Segunda Guerra Mundial. Estendendo-se verticalmente através de todos esses artefactos, haveria também os produtos da investigação sobre tais problemas persistentes como as relações intergrupais, preconceitos, estereótipos, discriminação e conflitos sociais de vários tipos, as ineficiências e as patologias das instituições sociais, os efeitos prejudiciais da sociedade moderna sobre a saúde mental e os persistentes problemas da delinquência e dos comportamentos anti-sociais. Não estou a sugerir que os psicólogos sociais têm feito pesquisas sobre todos os problemas enfrentados pela sociedade americana durante este período, para alguns deles não eram geralmente reconhecidos e outros eram demasiado quentes para pegar. Também não estou a propor que a nossa pesquisa tem se preocupado apenas com os problemas sociais. Mas não pode haver dúvida de que o corpo de conhecimento que temos hoje seria substancialmente diferente se tivesse sido criado numa época diferente ou num ambiente social diferente. 96 Estado Actual do Campo Com esta orientação histórica geral, gostaria agora de apresentar algumas observações de carácter mais avaliativo sobre o estado da psicologia social contemporânea. Deixe-me começar por dizer que a minha avaliação geral é claramente positiva. Eu não compartilho a tristeza daqueles que pensam que o campo tenha chegado a um estado de crise. A psicologia social é incomparavelmente melhor equipada para alcançar os seus objectivos básicos do que era há cerca de quarenta anos atrás. Temos melhores instalações, melhores métodos de recolha e análise de dados, um vasto depósito de bem estabelecidos resultados empíricos, mais rigorosa nos modelos conceptuais, e uma teoria muito mais sofisticada. É verdade que o nível geral de entusiasmo que caracteriza a psicologia social imediatamente após a guerra praticamente desapareceu. Mas desde que este declínio no entusiasmo, na verdade começou, em meados da década de 1950, não deve ser tomado como evidência de deficiências no trabalho dos últimos anos, mas, em vez disso, como um subproduto da passagem de um estágio de desenvolvimento programático descrito por Kuhn de "ciência normal", no qual o campo está ajustado na tarefa menos aliciante de recolha de dados detalhada e testes de hipóteses teóricas bastante limitadas. Tendo em vista a complexidade inerente do nosso objecto e a juventude de nossa disciplina, acho que é notável que tanto progresso tenha sido feito. Eu não, claro, acredito que tudo está bem ou que pode se contentar com o que foi realizado. Para a psicologia social, tal como a conhecemos hoje, tem deficiências e que enfrentam alguns problemas muito difíceis. As técnicas de pesquisa Os primeiros psicólogos sociais têm vincado claramente, nas suas afirmações, que os fenómenos sociais importantes podem ser submetidos a investigação empírica. Já não temos de confiar na intuição, anedotas e especulação poltrona. A invenção e o refinamento das técnicas de condução das investigações de opinião tornaram possível a obtenção de estimativas notavelmente precisas das crenças, atitudes, intenções, comportamentos e até mesmo a qualidade de vida de grandes populações com base em entrevistas com um número relativamente pequeno de pessoas. Avanços na metodologia experimental permite-nos, agora, controlar e variar sistematicamente muitos dos mais importantes factores determinantes do comportamento humano e, portanto, para investigar as relações causais entre variáveis. A nossa investigação tem sido substancialmente melhorada pelo trabalho na área da estatística sobre pequenas amostras de teorias, o projecto experimental, e análise multivariada. Como resultado destes desenvolvimentos metodológicos, agora temos um corpo bastante respeitável de firmemente baseado nos resultados empíricos. Mas esses ganhos impressionantes na competência técnica e sofisticação têm sido uma espécie de faca de dois gumes, pois a fascinação com a técnica parece afligir muitas vezes uma demasiada preocupação para o significado estatístico. A literatura está cheia de estudos que fazem pouco mais do que demonstrar o virtuosismo técnico do investigador, e poderíamos pensar que as nossas revistas teriam de sair do negócio se o uso da análise de variância viesse a ser proibido. Tendemos a esquecer que os métodos são, afinal, apenas ferramentas e, como tal, não devem determinar o conteúdo da investigação ou serem usados simplesmente porque estão lá. A motivação da investigação deve ser diferente da escalada de uma montanha. Seria de esperar que a 97 obsessão com a técnica fosse um fenómeno temporário, análogo ao consumo conspícuo dos “novos ricos”, mas eu suspeito que a mudança não virá rapidamente, pois é muito mais fácil para as comissões de investigação de revisão, editores e comités departamentais avaliarem os métodos que a qualidade ou a importância dos conteúdos substantivos. A preocupação com o método não só teve um efeito negativo sobre o trabalho de investigadores individuais, como também teve consequências para as organizações do campo como um todo. A disciplina tornou-se dividida em linhas metodológicas que colocaram problemas de fundo. Os psicólogos sociais tendem a especializar-se, geralmente em investigações ou em experiências de laboratório, e em se associarem a outros com habilidades semelhantes. Embora seja compreensível que o campo deva ser dividido desta forma, não deixa de ser lamentável. Pois, como Hovland (1959) mostrou na sua comparação dos resultados de pesquisa de levantamentos e experimentos de laboratório sobre o tema da mudança de atitude, a investigação com base numa única técnica é especialmente vulnerável a artefactos metodológicos e preconceitos teóricos. Ao longo dos anos, os psicólogos sociais têm desenvolvido uma variedade de outros métodos, como a observação discreta ou indiscreta de comportamentos em ambientes naturais, experiências de campo, simulações computacionais, e análise de documentos pessoais, relatos de casos, e os produtos dos meios de comunicação em massa. Algumas dessas técnicas têm sido usadas muito extensivamente dentro de certas subáreas da psicologia social. Mas esta pesquisa também tem sofrido com o método da abordagem única. Estou ciente, é claro, que não pode ser possível, ou mesmo desejável, para cada psicólogo social se tornar conhecedor de todas estas técnicas, mas não posso acreditar que a disciplina como um todo não pode encontrar uma maneira melhor de fazer uso de os métodos que possuímos agora. Conteúdo substantivo Se examinarmos o corpo total de conhecimentos até então adquiridos em psicologia social, como apresentado em livros e outras revisões sistemáticas da literatura, é evidente que ele também tem algumas limitações. É, por um lado, em grande parte baseado num corte transversal, invés de longitudinal - dados longitudinais. Nós alcançamos uma boa compreensão da natureza do comportamento normativo, mas não sabemos praticamente nada sobre as condições que afectam a formação e decomposição das normas sociais ou os determinantes do seu conteúdo. Reconhecemos a importância dos papéis sociais na interacção social, mas pouco sabemos sobre o seu desenvolvimento, ou que funções específicas são encontradas em circunstâncias especiais. E agora temos teorias bastante sofisticadas sobre os processos envolvidos na escolha entre um conjunto de alternativas em que são dados utilitários, mas dificilmente qualquer teoria sobre os determinantes desses utilitários. Nós adquirimos a habilidade considerável da previsão do comportamento em ambientes criados por nós próprios, e uma capacidade para explicar o comportamento após o facto. Mas nós ainda não aprendemos a lidar eficazmente com os processos que ocorrem durante um período prolongado de tempo, e não estamos nada melhor do que o leigo inteligente na previsão do futuro curso da evolução social. Embora eu gostaria de pensar que os psicólogos sociais deveriam ser pelo menos tão bons como os economistas na arte do prognóstico, a realização do mesmo neste nível modesto de 98 competência exigirá uma mudança substancial na nossa orientação conceptual e nos métodos de investigação. Alguns progressos importantes foram feitos neste sentido, em pesquisas sobre comportamento eleitoral, as expectativas do consumidor e desenvolvimento organizacional através do uso de medidas repetidas, estudos de painel, e os procedimentos estatísticos que utilizam o tempo como uma variável. E o trabalho de Zajonc (1976) e dos seus colegas sobre o desenvolvimento de habilidades intelectuais sugere outra abordagem promissora, pois mesmo que as suas previsões de tendências futuras dos resultados dos testes deverão vir a ser incorrectas, o seu modelo conceitual, ao contrário de tantos na psicologia social, não lida apenas com o tempo, mas também tem a virtude que pode ser provado como errado. O uso mais extensivo e aperfeiçoamento de métodos como esses poderiam melhorar muito a qualidade da nossa pesquisa. O corpo de conhecimento que temos agora não se limita somente à sua profundidade temporal, mas também é desproporcionalmente preocupado com certos aspectos do comportamento social. A tabulação de como os recursos intelectuais e financeiros do campo têm sido distribuídos de acordo com o conteúdo substantivo, sem dúvida, mostram que, de longe, a maior proporção, especialmente nos últimos anos, tem se dedicado a trabalhar sobre os processos cognitivos que ocorrem nos indivíduos, ou sobre o produto desses os processos. Nós agora temos um grande conjunto de informações sobre as crenças, opiniões e atitudes das pessoas em todas as esferas da vida e uma compreensão razoavelmente boa das formas em que os indivíduos em vários segmentos da experiência da sociedade do meio social. Os principais avanços teóricos nos últimos anos também têm se preocupado com os processos cognitivos nos indivíduos. E, embora isso não seria correcto dizer que outros factores determinantes do comportamento têm sido completamente ignorados ou que não tenha havido um trabalho importante na interacção social, a verdade é que o foco central de atenção foi sobre a cognição. A ênfase na experiência subjectiva tem uma longa tradição e não pode ser atribuída, como é reivindicado às vezes, à teoria da dissonância e à teoria da atribuição. Ela pode ser encontrada em toda a história do campo, como por exemplo, em WI Thomas stress sobre a importância da "definição da situação", a teoria de GH Mead da interacção simbólica, o conceito de Lewin, do espaço da vida psíquica, e a teoria de Heider da psicologia ingénua. Pode ser vista em declarações como aquela feita por Newcomb, quando disse: "Parece-me ser uma trivialidade dizer que nenhum comportamento interpessoal pode ser compreendido sem um conhecimento de como a relação é percebida pelas pessoas envolvidas" (1947:74 ). Ela também se reflecte na afirmação de Asch que: "Não é possível, como regra, a realização de investigação em psicologia social, sem inclusão de uma referência às experiências de pessoas" (1959:374). Houve, é claro, os behavioristas radicais que rejeitaram estas afirmações vistas como um absurdo científico absoluto, mas os seus protestos não tem afectado significativamente o mainstream da pesquisa psicológica social e teoria. Se olharmos de forma mais ampla para o contexto intelectual do campo, é evidente que essa preocupação com o mundo subjectivo dos indivíduos tem se constituído numa única contribuição da psicologia social para as ciências sociais. Isso é o que normalmente se quer dizer quando se refere ao "ponto de vista social e 99 psicológico" em antropologia, economia, história, sociologia ou ciências políticas, e podemos estar orgulhosos do impacto que a psicologia social teve sobre essas disciplinas. Mas tendo dito tudo isso, devo admitir que tenho alguns receios. Porque, certamente, ver que os seres humanos são meros processadores de informação é algo muito estreito, mesmo quando é ampliado para incluir as influências da motivação. Estamos correctos, creio, na nossa reivindicação de que, para explicar o comportamento de uma pessoa, é preciso relacioná-lo com o ambiente subjectivo de um determinado indivíduo. As representações cognitivas do mundo externo, em conjunto com as forças motivacionais decorrentes de necessidades e valores internalizados, sem dúvida, exercem influências profundas no comportamento. Mas o comportamento em si é uma transacção entre um indivíduo e os objectivos ambientais, não é uma representação cognitiva, e a eficácia do comportamento social depende muito mais do que as crenças e intenções. Exige habilidades sociais, apoio social, a utilização de recursos, o exercício do poder, e do esforço colaborativo. Isto provoca mudanças no ambiente social que têm consequências para o indivíduo, físicas e de bem-estar mental, nas suas relações com os outros, na sua posição na sociedade, e nos recursos que ele pode empregar em futuras transacções. Quando essas consequências se combinam para produzir efeitos adversos sobre o meio ambiente compartilhado por outros, constituem os problemas sociais, tais como poluição, escassez de energia, a deterioração urbana, crimes, a superpopulação, a restrição da liberdade e da discriminação social de vários tipos. Se eles estão a ser remediados, isto exige mudanças no comportamento de um grande número de indivíduos. As soluções propostas mais frequentemente pelos psicólogos sociais tendem a reflectir a sua preocupação com a cognição e, portanto, dependem fortemente de programas de mudança de crenças e atitudes. Mas se é verdade que a cognição é apenas um dos determinantes proximais do comportamento, segue-se que tais recursos, por si só, não são susceptíveis de ser muito bem sucedidos, e a experiência dos últimos anos parece apoiar esta conclusão. Integração Teórica A terceira imperfeição do nosso corpo actual do conhecimento é a falta de integração teórica. Porque, apesar de todo o bom trabalho teórico que tem sido feito, nós, simplesmente, não temos um quadro teórico abrangente para o campo como um todo. A primeira tentativa de explicar tudo o que interessa para a psicologia social foi através de Gordon Allport à qual chamou de "simples e soberana" teoria e já foi abandonada à muito. Tais sistemas explicativos, que vêem todos os fenómenos sociais, como manifestações de algo como a imitação, a unidade de poder, auto-interesse esclarecido, o instinto comunitário, ou aprender, agora parecem ingénuos, excepto, talvez, para os skinnerianos pouco destemidos. Grandes teorias são, simplesmente, o delinear de uma orientação global para a área de estudo que dá lugar a numerosas teorias menores, mas outras mais rigorosos, como a teoria do equilíbrio, a teoria da congruência, teoria da dissonância, teoria da atribuição, a teoria da comparação social, teoria do processamento de informação, teoria da decisão, teoria da equidade, teoria da troca, e assim por diante. Estes sistemas em conceptuais em miniatura têm nos servido bem, pois eles estão preocupados com 100 problemas importantes e têm gerado uma grande quantidade de pesquisa muito boa. Mas já que eles lidam apenas com peças limitadas de matéria do área-tema e têm pouca ou nenhuma relação explícita entre si, eles não fornecem a integração teórica para toda a psicologia social. Enquanto não conseguirmos um quadro teórico mais abrangente, não teremos uma base sólida para decidir quais são os problemas mais dignos de investigação. Na ausência da teoria integrativa, os psicólogos sociais têm vindo a organizar as suas actividades intelectuais em torno de algum tema específico de fundo que os interessa na hora, ou acerca de um método particular de pesquisa. O que é mais importante é que eles tendem a se identificar com a sua própria área de especialização, em vez de com a disciplina como um todo. É verdade, claro, que todos nós partilhamos uma tradição comum e que estamos profundamente interessados no bem-estar de toda a área. Mas, apesar de ainda se usar o rótulo de "psicologia social" para se referir à nossa própria ocupação profissional, já não somos exactamente o que esse termo significa e quais os limites do campo deve ser desenhado. Os temas de investigação que antes eram vistos como parte do núcleo central da psicologia social são geralmente vistos como pertencentes a especialidades como a psicologia organizacional, psicologia do desenvolvimento, psicologia cognitiva, ou dinâmicas de grupo, e alguns têm sido relegados a outras disciplinas como a antropologia, economia ou ciências políticas. Há cerca de quarenta anos atrás, Murphy, Murphy e Newcomb (1937) descreveram a psicologia social como sendo constituída por uma série de penínsulas solitárias e isoladas sobressaindo no mar do conhecimento, e embora tenhamos ampliado esses penínsulas e construí-mos novas, essa metáfora parece ainda mais adequado hoje. A desorientação teórica actual da psicologia social tem sido agravada pela profunda clivagem entre a "psicologia social psicológica" e "psicologia social sociológica". Stryker (1977) e House (1977) têm argumentado que esta divisão está no coração do actual estado do campo do mal-estar. E eu tendo a concordar com esse diagnóstico, pois apesar de as hostilidades entre os defensores dessas duas orientações diferentes, basicamente, ter diminuído, eles não foram integrados para fornecer um amplo quadro teórico para a disciplina como um todo. Ambas as abordagens têm uma longa história, remontando aos primórdios da psicologia social. Mas era a intenção dos fundadores da disciplina o dever de se combinarem para fornecer uma compreensão não apenas do indivíduo ou da sociedade, mas da relação, ou interacção, entre os dois. Comte, que é geralmente reconhecido como o pai intelectual da psicologia social, vendo o homem como criatura e criador do mundo social em que vive, identificou o problema central da psicologia social como o de encontrar uma resposta para a pergunta: Como pode o indivíduo ser, ao mesmo tempo, causa e consequência da sociedade? E McDougall (1926), num dos primeiros livros didácticos, definiu a missão central da psicologia social como a de mostrar "como, dada a propensão natural e as capacidades da mente do indivíduo, toda a vida mental complexa das sociedades é moldado por eles e por sua vez reage sobre o curso de seu desenvolvimento e funcionamento do indivíduo "(1926:18). Essa concepção da missão central da psicologia social tem sido prejudicada, no entanto, alguns teóricos que defendem que todos os fenómenos sociais e psicológicos deverão ser explicados, exclusivamente, em termos dos seus antecedentes, quer na sociedade ou dentro do indivíduo. Assim, por exemplo, Durkheim formulou o que viria a ser a abordagem sociológica, quando ele afirmou que "a causa determinante de um 101 facto social deve ser procurada entre os factos sociais anteriores e não entre os estados da consciência individual"). E Floyd Allport afirmou a essência da abordagem psicológica, quando disse: "Eu acredito que somente dentro do indivíduo, podemos encontrar os mecanismos de comportamento e consciência, que são fundamentais na interacção entre os indivíduos... Não há nenhuma psicologia de grupos, que não é essencial e inteiramente psicologia dos indivíduos " Embora essas tentativas de fazer psicologia social de uma sucursal de uma das disciplinas dos seus parentes (Psicologia e Sociologia) não tenha sido bem sucedida, elas têm influenciado o pensamento até o presente momento. Gordon Allport, discutindo a história do área, observou que "com poucas excepções, os psicólogos sociais consideram sua disciplina como uma tentativa de compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos indivíduos são influenciados pelo real, imaginado ou implícita a presença dos outros "(1968:3). Esta afirmação tem sido muitas vezes tomada como a definição da psicologia social, mas uma vez não é aceitável para aqueles que adoptam a abordagem sociológica, ficamos com duas psicologias sociais, em vez de uma. Imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, foram realizados diversos esforços para trazer essas duas subdisciplinas juntas, através da criação de programas de doutoramento que pretendiam abranger toda a psicologia social. Embora esses programas tenham produzido alguns psicólogos sociais e tenham gerado algumas importantes pesquisas teóricas e empíricas, não realizaram a reorganização desejada dentro da área. Ao olhar para trás sobre esta experiência, agora estou inclinado a acreditar que era irrealista esperar para resolver aquilo que é essencialmente um problema teórico simplesmente tendo psicólogos e sociólogos a colaborar na formação de estudantes de pós-graduação. Mas seja qual for a razão para o fracasso destes programas, não devemos ser levados a pensar que o problema foi embora com o seu fim. Seria paradoxal se a psicologia social tivesse que abandonar a tarefa que muito constituiu na sua razão de iniciar e fossem para aceitar qualquer uma destas abordagens como a única base para definir o seu próprio objecto. Mas, se essa eventualidade infeliz deve ser evitada, devemos ter uma concepção clara da missão básica da disciplina, ou o problema principal, que irá fornecer um princípio organizador para toda a psicologia social. Precisamos, por outras palavras, de uma definição da área que coloque o estudo dos processos psicológicos dentro de um contexto social adequado e, ao mesmo tempo, reconheça o papel fundamental destes processos nas relações interpessoais, a interacção social e a estrutura social. Como uma primeira aproximação para essa definição, eu diria algo como o seguinte: A psicologia social é o ramo das ciências sociais que tenta explicar como a sociedade influencia a cognição, motivação, desenvolvimento e o comportamento dos indivíduos e, por sua vez, é influenciada por eles. Esta definição, evidenciando as relações recíprocas entre os indivíduos e a sociedade, poderia, penso, prestar um princípio organizador para toda a psicologia social, incluindo as suas duas subdivisões principais e as suas diversas áreas de especialização. Mas se for para fazer isso, vamos ter de esclarecer duas das nossas construções básicas que servem para relacionar o indivíduo com a sociedade. São os conceitos de: ambiente social e comportamento social. 102 O termo meio ambiente social é uma extensão por analogia do conceito de ambiente físico, e refere-se a todos os recursos do mundo externo que influenciam o comportamento social e o desenvolvimento dos indivíduos. Trata-se de coisas como redes sociais, grupos, organizações, estrutura social, papéis, normas, pressões sociais, apoio social, deveres e obrigações. E, embora tenha uma longa história na psicologia social, as suas propriedades conceptuais ainda não foram bem definidas. Um bom começo foi feito, porém, por Barker (1968) no seu trabalho sobre a psicologia ecológica, pelo francês e os seus colegas (1974) na própria pesquisa sobre o ajuste pessoa-ambiente, por Katz e Kahn (1978) e outros teóricos, como Emery e Trist (1965), que vêem o indivíduo e o ambiente social como um sistema interdependente, e por Berger e Luckmann (1966) no seu tratamento teórico da construção social da realidade. Pesquisas de como este tornou evidente que o ambiente social não pode ser utilmente descrito apenas em termos de suas propriedades físicas, desde a sua importância para o comportamento social está no seu conteúdo semântico ou significado social. Ele difere do ambiente físico em que ele é amplamente um produto social e deve ser concebido como causa e consequência do comportamento social. O termo comportamento social refere-se a coisas tais como fazer perguntas, fornecer informações, procurar ou oferecer ajuda, expressando hostilidade ou de afecto, juntar-se a um grupo, desempenhar um papel, actos de liderança, exercer o poder de votar, ou participar num movimento social. Acções deste tipo são os meios pelos quais os indivíduos se adaptam às suas relações com o mundo externo, e não podem ser adequadamente concebidas apenas como respostas a estímulos. O problema teórico essencial, a meu ver, é encontrar uma conceituação efectiva dos processos pelos quais o comportamento dos indivíduos é convertido, ou transformado, em "acções sociais", que têm propriedades de tal natureza que podem ter consequências para outras pessoas, grupos e instituições, ou, por outras palavras, para o ambiente social. A compreensão destes processos é um pré-requisito para qualquer teoria adequada de poder social, liderança, resolução de problemas em grupo e tomada de decisão, efectividade social e acção colectiva. Sem esta teoria, os resultados da pesquisa psicológica social são obrigados a terem um valor prático limitado. Observações Finais Ao introduzir esta discussão sobre o actual estado da área, eu indiquei que a minha avaliação geral é claramente positiva. Mas desde que eu escrevi a sua maior parte do texto sobre as deficiências e os problemas não resolvidos, pode-se perguntar qual é a base para todo o optimismo. Parte resulta a partir da perspectiva histórica descrita anteriormente. A psicologia social está num estágio inicial de desenvolvimento e não teve tempo para resolver todos os seus problemas. Muitos defeitos, tais como a susceptibilidade a modas e modismos, a obsessão com a técnica, a dependência de um único método de investigação, e a ênfase desproporcional sobre a cognição e outros determinantes temporalmente proximais de comportamento são, creio, os sintomas de imaturidade e pode-se esperar serem cicatrizados com a passagem do tempo. A maioria dos psicólogos sociais de hoje têm vindo de um segmento restrito da sociedade americana, e isto tem limitado a nossa perspectiva teórica, contribuindo para um grau de etnocentrismo infeliz, e influenciando profundamente o conteúdo da pesquisa empírica. Mas isto, também, será superado, pois a composição demográfica da 103 área é ampliada para incluir mais mulheres, membros de vários grupos minoritários, os estudiosos de diferentes culturas, e os cidadãos de ambos os países ditos desenvolvidos e subdesenvolvidos. Dentro dos próximos anos, a psicologia social deve ser uma verdadeira comunidade internacional de estudiosos, e todo esforço deve ser feito para facilitar essa realização. Talvez a mais importante razão para o optimismo, contudo, deriva da capacidade demonstrada pelos psicólogos sociais para responder positivamente ao desafio. Desde o seu início, esta área tem-se confrontado com, quase intransponíveis, obstáculos teóricos, metodológicos e institucionais. Mas estes sempre serviram para estimular a inovação e criatividade, embora os problemas que enfrentamos hoje são muito difíceis, não vejo qualquer razão para acreditar que os psicólogos sociais não continuaram para responder a estes desafios no futuro próximo. 104 Exames 105 Exame de Psicologia Social I – Janeiro /Fevereiro de 2004 1. Entre 1970 e 1989 qual dos seguintes tópicos foi mais estudado pela Psicologia Social americana do que pela Psicologia Social Europeia: a. Cognição social b. Processo intergrupo c. Atracção interpessoal d. Influencia social e. Nenhuma das anteriores 2. Qual das seguintes afirmações é verdadeira? a. Liderança autocrática: i. Maior satisfação e cooperação mas não tem maior produtividade ii. Menor satisfação e cooperação leva a maior produtividade b. Liderança democrática i. Maior satisfação e cooperação leva a maior produtividade ii. Maior satisfação e cooperação mas não leva a maior produtividade 3. O conceito de group mind deve-se a : a. Ross b. Mead c. Mc Dougall d. Moscovici e. Bruner 4. O estudo dos efeitos de categorização social sobre os comportamentos situa-se ao nível: a. Intrapessoal b. Intergrupal c. Interpessoal d. Societal e. Todas falsas 5. No período compreendido entre 1935 – 1955 a Psicologia Social debruçou-se predominantemente sobre: a. Sistema de atitudes b. Medição de atitudes c. Mudança de atitudes d. Dinâmica de grupos e. Cognição social 106 6. O modelo do comportamento aceite pela Psicologia Social Contemporanea é um modelo do tipo: a. OSOR [OEOR] b. Gestaltista c. SOR [EOR] d. SR[ER] e. Todas falsas 7. Segundo Bruner, a percepção deve ser entendida como o resultado da acção de dois tipos de factores: a. Cognitivos e afectivos b. Motores e perceptivos c. Autóctones e comportamentais d. Sensitivos e neuronais e. Todas erradas 8. Diga se são V ou F as seguintes afirmações: a. Modelo da representação Social Moscovici assenta na concepção estimulo / representação/ resposta V b. Quando falamos de função de orientação das representações referimo-nos a comportamentos situacionais F c. Critério genético das representações sociais remete-nos para a quantidade de sujeitos que partilham de uma dada representação F d. A objectivação ennvolve selecção, ancoragem e constituição de um esquema figurativo F 9. Diga se são V ou F as seguintes afirmações a. Na concepção de Moscovici as respostas sociais determinam simultaneamente o estimulo e a resposta V b. As respostas dizem-se sociais com base em três critérios: quantitativo, genético e categorial. F c. A naturalização é um subprocesso da ancoragem F d. Entre as funções das respostas sociais contam-se a organização do real. V 10.Entre as condições que afectam a emergência de uma resposta social contam-se: a. Dispersão de informação e naturalização b. Naturalização e assimilação c. Focalização e pressão à inferência d. A 1ª e a 3ª estão correctas e. Todas erradas 107 11.Os dois processos fundamentais na formação de respostas sociais são: a. Naturalização e figurabilidade b. Assimilação e acomodação c. Ancoragem e selecção d. Objectivação e ancoragem e. Todas erradas 12.Em relação à investigação de Abric etal. (1967) qual das seguintes afirmações é verdadeira? a. As respostas de cooperação são superiores na condição máquina b. As respostas de cooperação soa superiores na condição outro c. As respostas de cooperação são superiores na condição comparsa menos atraente d. As respostas de cooperação são superiores na condição comparsa mais atraente e. Todas falsas 13.O processo de interpretação e simbolização referem-se às relações entre representação social e : a. Sujeito b. Objecto c. Pratica d. Forma de saber e. Todas erradas 14.Diga se V ou F as afirmações seguintes a. O conceito de atitude é um conceito pluridimensional V b. Atitudes podem ser conceptualizadas como medidoras entre os modos de acção e pensamento V c. Atitudes podem ser directamente medidas F d. Atitudes podem ser conceptualizadas como filtros que moldam a nossa percepção da realidade V 15.O modelo dos 3 componentes das atitudes (Rosenberg e Hovland, 1960) inclui: a. Afecto, cognição e crenças b. Crenças, modelação e interiorização c. Comportamento, ideação e memorização d. Afecto, cognição e comportamento e. Todas erradas 16.De acordo com Osgood, Suci e Tannenbaum, o processo de atribuição de significação organiza-se em torno da seguinte dimensão: a. Potencia, fraqueza, empatia b. Avaliação, potencia e actividade c. Avaliação, informação e actividade d. Actividade, produtividade e informação e. Todas falsas 108 17.Quando falamos de funções instrumentais e funções expressivas das atitudes situamonos no plano: a. Cognitivo b. Motivacional c. Social d. Orientado para a acção e. Todas erradas 18.Na teoria da acção reflectida a norma subjectiva relativa ao comportamento resulta do produto: a. Intenção x comportamento b. Crenças normativas X motivação c. Crenças normativas X intenção d. Cogniçao X temperamento e. Todas falsas 19.De acordo com Ajzen e Fishbein as normas subjectivas são: a. O modo como pensamos que se comportariam as pessoas importantes na nossa vida; b. Modo como pensamos que se comportariam as pessoas em geral c. Resultados das pressões grupais e interpessoais que afectam a realização do comportamento d. A 1ª e a 3ª estão correctas e. A 2ª e a 3ª estão correctas 20.Qual a variável determinante da intenção comportamental incluída na Teoria da Acçao Planeads (Ajzen 1987) que não foi tida em consideração no modelo de acção reflectida (Fishbein e Ajzen 1975)? a. Atitude face ao comportamento b. Acessibilidade da atitude c. Experiencias emocionais passadas d. Controlo comportamental percebido e. Norma subjectiva 21.A distinção entre atitude especifica e geral é útil na medida em que: a. Permite compreender o impacto das atitudes no comportamento b. Apenas a primeira pode ser indicadora de um comportamento situacional c. Apenas a primeira permite justificar o comportamento d. Corresponde à diferenciação entre escalas unidimensionais e multidimensionais e. A 1ª e a 2ª estão correctas 109 22.Se a modificação de um só traço numa lista de 7 traços que descrevem 1 pessoa tiver um impacto acentuado na impressão global dessa pessoa, então podemos a firmar que: a. Esse traço particular é um traço periférico b. Este traço particular é um traço central c. A percepção de traços no tem subjacente qualquer organização d. Percepção de traço é aditiva e. Percepção de traços é exponencial 23.No estudo de Rosenberg e colaboradores (1968) os traços utilizados nas investigações de Asch distribuíram-se ao longo de duas dimensões: a. Funcionalidade social e intelectual b. Distorções sociais e cognitivas c. Desejabilidade social e intelectual d. Superficial e profunda e. Todas erradas 24.A expressão T.I.P. remete-nos para: a. Crenças gerais que mantemos a respeito da espécie humana b. Matrizes de co-ocorrencias de determinados traços de personalidade c. Estruturas cognitivas relativas à percepção das pessoas d. Todas erradas e. Todas correctas 25.O modelo de integração da informação de Anderson afirma que: a. Cada item numa lista de traços tem valor em si mesmo b. A impressão global resulta de processos aritméticos de combinação do valor de determinados itens c. A impressão global resulta da integração gestaltica dos itens periféricos na T.I. central. d. 1ª e 3ª verdadeiras e. 1ª e a 2ª verdadeiras 26.A Sandra gosta do João e detesta a Mariana, ainda que saiba que o João gosta da Mariana. Para Heider é um sistema: a. Congruente b. Equilibrado c. Dissonante d. Desequilibrado e. Todas falsas 110 27.No âmbito dos processos atributivos, 2 conceitos fundamentais introduzidos por Heider foram: a. Co-variação e inferência correspondente b. Estrutura e função c. Formação de unidade e pessoa como protótipos origens d. Viés e regra e. Formação de unidade e interferência correspondente 28.Segundo Jones e Davis, a atribuição de intenção pressupõe que imputemos ao actor: a. Capacidade para avaliar moralmente os seus actos; b. Capacidade para realizar a cação e conhecimento dos respectivos efeitos c. Conhecimento das suas próprias disposições e dos efeitos não comuns das suas acções d. Todas verdadeiras e. Todas falsas 29.Teoria da interferência correspondente procura explicar: a. Lógica da interferência matemática; b. Modo como os traços de personalidade originam os comportamentos e mediatizam a formação de intenções; c. Conceito de formação de unidade a partir dos efeitos não comuns; d. Modo como uma pessoa interfere nas disposições do actor a partir dos efeitos das respectivas acções e. O desenvolvimento do pensamento hipotético dedutivo; 30.Segundo Kelley, para compreender porque é que o João esta mal disposto, estamos essencialmente interessados: a. Em saber se ele tem uma razão seria para estar mal disposto b. Em ver se a ma disposição varia com a situação ou se o João esta mal disposto em todas as situações; c. Determinar as nossas reacções à ma disposição do João d. Saber se o João tem uma relação particularmente difícil com o pai; e. Todas as respostas são verdadeiras 31.Segundo kelley: a Rita apenas ri quando vê o professor Sebastiao a tropeçar e a cair e não quando outra pessoa tropeça e cai, e se por outro lado maior parte dos seus colegas se riu quando o professor caiu: a. O riso da Rita é internamente causado; b. A queda do professor não é um estimulo distintivo; c. Não existe consenso acerca do riso quando o professor cai; d. O riso da Rita é externamente causado e. Todas são verdadeiras 111 32.Verdadeiro ou falso a. Esquemas causais aplicam-se quando a informação disponível provem de um único observador b. Principio do desconto e do aumento são relativos ao modelo da co-variação. F c. Esquema das causas suficiente múltiplas → causas A e B devem estar simultaneamente presentes para que se verifique o efeito X; F d. Modelo da co-variação → fontes de informação são relativas à consciência, consenso e distintividade. V 33.Segundo Weiner, no processo de atribuição em contextos de realização, tem que ser em conta dois factores principais: a. Locus de causalidade e esforço; b. Esforço e capacidade; c. Estabilidade e locus de controlo d. Capacidade e dificuldade da tarefa e. Estabilidade e esforço 34.Investigação de Aronson e Mills (1959) acerca da severidade da iniciação. V ou F a. Os sujeitos da condição iniciação severa integram um grupo de discussão. V b. VI da investigação é a motivação dos sujeitos para se associarem ao referido grupo. F c. Estratégia utilizada pelos sujeitos na condição iniciação severa, para reduzir a dissonância cognitiva V d. VD: grau de atracação pelo grupo V 35.Na investigação de Aronson e Mills (1959): a. O objectivo era o estudo da dinâmica do processo da discussão em grupo; b. Nem todos os participantes forma submetidos ao teste do embaraço; c. Utilizou-se um plano quasi experimental porque não houve manipulação da VI d. Distribuição dos sujeitos pelas condições experimentais fazia parte da cover story e. Todos os participantes passaram por todas as condições experimentais 36.Em qual dos paradigmas que estudam a dissonância cognitiva se insere a investigação de Aronso e Mills? a. Livre escolha; b. Acordo forçado; c. Justificação do esforço; d. Acordo induzido e. Desconfirmaçao da crença 37.Em termos formais duas cognições são dissonantes quando: a. Forem opostas b. Uma se inferir a comportamentos e a outra a elementos ambientais; c. Não existe relação entre plano cognitivo e plano da realidade ou referente; d. O inverso de uma decorre da outra; e. O indivíduo encontra-se motivado para restabelecer o estado de equilíbrio; 112 38.Quais foram as duas grandes teorias da psicologia social formuladas por Festinger? a. Teoria do equilíbrio e teoria da dissonância cognitiva b. Teoria da troca sócia e teoria do reforço; c. Teoria da dissonância cognitiva e teoria da comparação social; d. Teoria da consistência cognitiva e teoria do equilíbrio; e. Nenhuma 113 Coluna 1 Coluna 2 A dynamic theory of personality (1935) K. Lewin A theory of social comparison processes Festinger (1954) La psychologie des foules (1985) Le Bon Remembering (1932) Barttett Social psychology F. Allport Na expressão de G. Allport, as “teorias simples soberanas” incluem: 1. o hedonismo, a simpatia e a imitação 2. a psicanálise, o behaviorismo e a psicologia da forma 3. a mediatização cognitiva, o reforço e a selecção do estímulo 4. todas as anteriores estão correctas Entre 1970 e 1989, qual dos seguintes tópicos foi mais estudado pela “psicologia social americana” do que pela “psicologia social europeia”: 1. cognição social 2. processos intergrupo 3. atracção interpessoal 4. influência social Qual das seguintes afirmações é verdadeira? 1. a liderança autocrática induz maior satisfação e cooperação, mas não leva a maior produtividade. 2. A liderança autocrática induz menor satisfação e cooperação e leva a menor produtividade 3. A liderança democrática induz maior satisfação e cooperação e leva a maior produtividade 4. A liderança democrática induz maior satisfação e cooperação, mas não leva a maior a produtividade 5. todas falsas 114 O estudo dos efeitos de categorização social sobre os comportamentos situa-se no nível? 1. intrapessoal 2. interpessoal 3. intergrupal 4. societal 5. todas falsas Diga se são falsas (F) ou verdadeiras (V) as afirmações que se seguem: 1. O conceito de atitude é um conceito pluridimensional 2. As atitudes podem ser conceptualizadas como mediadoras entre os modos de acção e os modos de pensamento 3. As atitudes podem ser directamente medidas 4. As atitudes podem ser conceptualizadas como filtros que moldam a nossa percepção da realidade No período compreendido entre 1935 e 1955, a psicologia social debruçou-se predominantemente sobre: 1. sistemas de atitudes 2. medição de atitudes 3. mudança de atitudes 4. dinâmica de grupos 5. cognição social O modelo das três componentes das atitudes ( Rosenberg & Hovland, 1960) inclui: 1. O afecto, a cognição e a crença 2. A crença, a modelação e a interiorização 3. O comportamento, a ideação e a memorização 4. O afecto, a cognição e o comportamento 5. Todas erradas 115 Na teoria da acção reflectida, a norma subjectiva relativa ao comportamento resulta do produto 1. Intenção x comportamento 2. Crenças normativas x intenção 3. Crenças normativas x motivação 4. Cognição x temperamento 5. Todas falsas De acordo com Ajzen e Fishbein, as “normas subjectivas”: 1. são o modo como pensamos que se comportariam as pessoas importantes na nossa vida 2. São o modo como pensamos que se comportariam as pessoas em geral 3. Resultam das pressões grupais e interpessoais que afectam a realização do comportamento 4. A primeira e a terceira respostas estão correctas 5. A segunda e a terceira respostas estão correctas A expressão “teorias implícitas da personalidade” remete-nos para: 1. Crenças gerais que mantemos a respeito da espécie humana 2. Matrizes de co-ocorrência de determinados traços de personalidade 3. Estruturas cognitivas relativas à percepção das pessoas 4. Todas as respostas anteriores estão correctas 5. Todas as respostas anteriores estão erradas Se a modificação de um só traço numa lista de sete traços que descrevem uma pessoa tiver um impacto acentuado na impressão global dessa pessoa, então podemos afirmar que: 1. Esse traço particular é um traço periférico 2. Esse traço particular é um traço central 3. A percepção de traços não tem subjacente qualquer organização 4. A percepção de traços é aditiva 5. A percepção de traços é exponencial 116 De acordo com o estudo de Rosenberg e colaboradores (1968), os traços utilizados nas investigações de Asch distribuíam-se ao longo de duas dimensões (capítulo V página 96) 1. Funcionalidade social e funcionalidade intelectual 2. Distorções sociais e distorções cognitivas 3. Desejabilidade social e desejabilidade intelectual 4. Superficial e profunda 5. todas as respostas anteriores estão erradas A Sandra gosta do João e detesta a Mariana, ainda que saiba que o João gosta da Mariana. Na linguagem de Heider, trata-se de um sistema: 1. Congruente 2. Equilibrado 3. Dissonante 4. Desequilibrado 5. Todas falsas A via central da persuasão: 1. É mais rápida do que a periférica 2. Envolve heurísticas 3. Mobiliza maior esforço cognitivo 4. Produz atitudes menos estáveis 5. Todas correctas GRÁFICO!!!! A problemática a que se referem os gráficos diz respeito: 1. Á dissonância cognitiva 2. À autopercepção 3. À comparação social 4. À persuasão 5. Todas falsas 117 Assinale com Verdadeiro (V) e Falso (F) as seguintes afirmações respeitantes aos gráficos: 1. Existe interacção entre envolvimento e mudança de atitude 2. O envolvimento é a principal variável independente 3. Os argumentos fortes só produzem mudança atitudinal quando o envolvimento é alto 4. (A fonte especialista é mais persuasiva do que a não especialista quando o envolvimento é baixo.) 5. Os resultados sumariados apontam para a ineficácia da fonte de informação 6. Não é possível pronunciarmo-nos sobre o efeito principal imputável ao tipo de argumento Mudou as alternativas! O Modelo do comportamento aceite pela psicologia Social contemporânea é um modelo do tipo: 1. OSOR [OEOR] 2. Gestaltista 3. SOR [EOR] 4. SR [ER] 5. Todas falsas O modelo de Integração da informação de Anderson afirma que: (capítulo V página 90,100, 117 e 118) 1. Cada item numa lista de traços tem valor em si mesmo 2. A impressão global resulta de processos aritméticos de combinação do valor de determinados itens 3. A impressão global resulta da integração gestáltica dos itens periféricos na T.I. central 4. 1ª e a 3ª verdadeiras 5. 1ª e 2ª verdadeiras 118 O efeito de Halo é: (página 118 e 119 capítulo v) 1. Uma distorção da positividade 2. Uma distorção da negatividade 3. O principal resultado do mecanismo da personalização no âmbito da ___ 4. A tendência para generalizarmos as primeiras impressões 5. O inimigo principal dos médicos dentistas Acerca da definição de script é possível afirmar que: 1. os scripts são programas de acção necessariamente lacunares 2. Nem todo o comportamento consiste na actualização de scripts 3. Os scripts resultam de um processo de construção que radica nas interacções humanas 4. Os elementos periféricos ou secundários dos scripts são menos susceptíveis de modificações do que os elementos centrais 5. No nível interpessoal dos scripts encontramos os guias gerais da acção Acerca das semelhanças interpessoais, Byrne 1. Mostra que o grau de atracção é função directa do grau de semelhança atitudinal 2. Usa nos seus estudos o paradigma do falso desconhecido 3. Integra a noção da validação consensual com o conceito clássico de reforço 4. Afirma que a dissemelhança de atitudes gera afastamento ou repulsão 5. Defende que também as assimetrias em diferentes atributos geram atracção De acordo com Osgood, Suci e Tannenbaum, o processo de atribuição de significação organiza-se em torno da seguinte dimensão: (capítulo VIII página 194 e 195) 1. Potência, fraqueza e empatia 2. Avaliação, potência e actividade 3. Avaliação, informação e actividade 4. Actividade, produtividade e informação 5. Todas falsas 119 No âmbito dos processos atributivos, 2 conceitos fundamentais introduzidos por Heider foram: 1. Covariação e interferência correspondente 2. Estrutura e função 3. Formação de unidade e pessoa como protótipos das origens 4. Viés e regra 5. Formação de unidade e interferência correspondente Teoria da interferência correspondente procura explicar: 1. Lógica da interferência matemática 2. Modo como os traços da personalidade originam os comportamentos e mediatizam a formação de intenções 3. Conceito de formação de unidade a partir dos efeitos não comuns 4. Modo como uma pessoa interfere nas disposições do actor a partir dos efeitos das respectivas acções 5. O desenvolvimento do pensamento hipotético-dedutivo Segundo Kelley, para compreender porque é que o João está mal disposto, estamos essencialmente interessados: 1. Em saber se ele tem uma razão séria para estar mal disposto 2. Em ver se a má disposição varia com a situação ou se o João está mal disposto em todas as situações 3. Determinar as nossas reacções à má disposição do João 4. Saber se o João tem uma relação particularmente difícil com o pai 5. Todas as respostas são verdadeiras Segundo Weiner, no processo de atribuição em contextos de realização, tem que se ter em conta dois factores principais: 1. Locus de causalidade e esforço 2. Esforço e capacidade 3. Estabilidade e Locus de causalidade 4. Capacidade e dificuldade da tarefa 5. Estabilidade e esforço 120 Segundo Moscovici, a teoria de Festinger é: 1. Operatória Qual a escala de atitudes que utiliza juízos? 2. Thurstone 121 EXAME DE 2003 HISTÓRIA 1. Ligação de livros aos autores (são questões de V/F mas aqui estão as correspondências verdadeiras). LIVRO A dynamic theory of personality Princípios da psicologia topológica A theory of social comparison processes La psychologie des foules Remembering Social Psychology (houve vários livros com este nome) AUTOR K. Lewin Festinger Le Bon Bartlett F. Allport ou McDougal ou E. Ross ou Asch G. Allport Murshinsson, Lindzey e Aronson McDougall Kelley The Hand book of social psychology Introduction to social psychology Interpersonal relations: a theory of interdependence Forming impressions of personality Social Psychology The nature of prejudice The individual and society Mind, Self and Society Social theory and social structure The presentation of self in everyday life Patterns of culture Sex and temperament in three primitive cultures Autocracia e Democracia La Psychanalyse, son imagen et son public Social Representations Asch G. Allport & Col. Baldwin G. H. Mead Dewey Merton Goffman Ruth Benedict Margareth Mead Liptti & White Moscovici Farr e Moscovici 2. As teorias simples soberanas, de G. Allport, incluem Hedonismo, Simpatia e Imitação. Behaviorismo, cognitivismo, teoria da forma 3. Tópicos mais estudados em Psicologia Social consoante os anos: Sistemas de atitudes Cognição social Mudança de atitude Dinâmica de grupos Medição de atitudes Desde 1980 1965-1980 1955 - 1965 1935 - 1955 1920 - 1935 4. Tópicos mais estudados pela Psicologia Social EUROPEIA e pela Psicologia Social AMERICANA consoante os anos: 1970 - 1980 1981 - 1989 PS Americana PS Europeia PS Americana PS Europeia Teoria da Atribuição Ajuda Atracção interpessoal Teoria da Equidade Autoconsciência Comparação de teorias Correlação atitude/Comportamento Desvio para o risco Agressão Mudança de atitude Influência Social Processos intergrupo Mudança de Atitude Atracção interpessoal Autoconsciência Correlação atitude/comportamento Processos intergrupo Comunicação Agressão Cognição social Teoria da atribuição Influência social Percepção de grupo Emoção e motivação 122 5. O estudo dos efeitos de categorização social sobre os comportamentos situa-se ao nível: Intergrupal. 6. Dinâmica de grupos: A liderança democrática induz maior satisfação, mas NÃO leva a maior produtividade. 7.1. O modelo de comportamento aceite pela Psicologia Social contemporânea é um modelo do tipo: O-E-O-R 7.2. O modelo de comportamento clássico é um modelo do tipo: E – O – R (proposto por Moscovici) 8. Jodelet mostra-nos em 1989 o espaço de estudo das representações sociais (V/F) As funções sociais da representação social são a categorização do real e a orientação da acção a um nível prático Na objectivação concretiza-se um desfazamento entre representação e real A cultura e a sociedade situam-se no lado simbólico das significações As relações entre representações sociais e a ciência conferem às primeiras o valor de verdade A partilha social é uma das condições de produção e circulação das representações sociais V V F V V 9. Moscovici tem uma posição muito própria acerca dos objectivos da psicologia social (V/F): Os dois mecanismos psicossociais fundamentais são a comparação social e o reconhecimento social A teoria de campo de Lewin pertence a uma orientação fenomenológica da psicologia social A teoria de Sherif é baseada no facto de maior parte dos objectos sociais serem ambíguos Os métodos sistemático e experimental interagem na construção científica da psicologia social O caso mais extremo da facilitação social é o da obediência à autoridade No paradigma do homem como computador, as representações podem ser entendidas como princípios organizadores de actividade cognitivas específicas V F V V F V 10. As representações sociais são teorias sociais práticas (V/F): Para Doise (1990), as representações sociais são um saber prático Para Jodelet (1984), as representações sociais são organizadas de relações simbólicas entre actores sociais O conceito de Allport e Postman de assimilação equivale ao processo de ancoragem proposto por Moscovici O processo de naturalização da objectivação duma representação social pressupõe um senso comum nominalista Na sua função de organização significante do real, a representação social torna o meio envolvente não estranho e coerente F F V F F 11. O conceito de group mind deve-se a: . McDougall 12. Verdadeiro e Falso sobre a investigação de Aronso e Mills (1959) acerca da gravidade de iniciação Os sujeitos da condição iniciação severa, ao integrarem um grupo de discussão, acham-no mais interessante do que os sujeitos das outras duas condições A VI da investigação é a motivação dos sujeitos para se associarem ao referido grupo (a resposta certa seria a severidade de iniciação) A estratégia utilizada pelos sujeitos na condição iniciação severa, para reduzir a dissonância cognitiva leva a uma modificação da crença do desconforto psicológico no sentido do teste do embaraço A VD é o grau de atracção pelo grupo V F V V 13. Quais foram as duas grandes teorias da Psicologia Social formuladas por Festinger? . Teoria da dissonância cognitiva e teoria da comparação social 14. Qual era o psicólogo social que defendia que a Psicologia Social só poderia desenvolver-se se se tornasse numa ciência experimental: . John Watson 15.1. Segundo Moscovici, a teoria de Festinger é: . Operatória 15.2. Segundo Moscovici, a teoria de Sherif é: . Fenomenológica 16. Moscovici referira como perspectiva psicossocial a adopção de uma perspectiva triádica: . Ego (o self) – Objecto (social) – Alter (uma outra pessoa) 123 17. Para estudar a psicanálise, enquanto fenómeno de cultura, Moscovici utilizou dois métodos principais: . Inquérito psicossocial e análise do conteúdo da imprensa. 18. Diferenças entre PSA e PSE: . A primeira é mais psicológica (processo cognição social) e a segunda é mais sociológica (processos de Representações Sociais). 19. Ciência da ideologia e comunicação correspondem, respectivamente: . à representação social (atitudes/cognição) e à transmissão de influências/influência social. 20. Quem corresponde ao behaviorismo social: . Mead 21. Fases da psicologia social como ciência do pensamento social segundo Moscovici (1982): . 1ª fase: Atitudes Sociais (Teoria da dissonância cognitiva); . 2ª fase: Cognições Sociais (Teoria da Atribuição); . 3ª fase: Representações sociais (teoria das representações sociais). 22. Para Moscovici os processos responsáveis pela formação das representações sociais são: . Objectivação e ancoragem Objectivação e ancoragem são processos separados mas complementam-se. 23. Teoria da congruência cognitiva: . Succi, Osgood e… (1957) 24. Três condições que afectam a formação das representações sociais: . Dispersão da informação, focalização, pressão para a influência. 25. Três funções das representações sociais: . Cognitiva, interpretação da realidade, e orientação das condutas e relações sociais 26. As heurísticas cognitivs são: . Atalhos mentais 27. Segundo Bruner, a percepção deve ser entendida como o resultado da acção de _ tipos de factores: . Autóctones e comportamentais 28. Verdadeiros e Falsos Modelo da representação Social de Moscovici assenta na concepção estímulo/representação/resposta Quando falamos de função de orientação das respresentações referimo-nos a comportamentos situacionais Critério genético das representações sociais remetenos para a quantidade de sujeitos que partilha de uma dada apresentação A objectivação envolve selecção, ancoragem e a constituição de 1 esquema figurativo V F F F 29. V FF V (NA CONCEPÇÃO DE MOSCOVICI AS RESPOSTAS...) 30. Em relação à investigação de Abric et al (1967) qual das seguintes afirmações é verdadeira? . As respostas de cooperação são superiores na condição outro 31. O processo de interpretção e simbolização referem-se às relações entre representação social e: . Objecto 124 ATITUDES 1. Na teoria da acção reflectida, a norma subjectiva relativa ao comportamento resulta do produto: Crenças Normativas x Motivação Crença x Avaliação = Atitude Crença x Motivação = Norma Subjectiva Atitude + norma subjectiva = intenção que leva ao comportamento. 2. De acordo com Ajzen e Fishbein, as “normas subjectivas”: . São o modo como pensamos que se comportam as pessoas importantes na nossa vida; . Resultam das pressões grupais e interpessoais que afectam a realização do comportamento. 3. Características da escala de Thurstone (a pergunta é V/F mas aqui está só a descrição da escala): . Caracteriza a atitude do sujeito através do seu posicionamento face a estímulos previamente cotados; . O modelo de medição que lhe está na base é o modelo PSICOFÍSICO; . Centra-se na procura de objectividade na selecção das frases face às quais os sujeitos apenas têm de assinalar aquelas com que concordam; . Pretende-se construir uma escala intervalar na qual os estímulos escolhidos correspondam à diversidade possível das posições . Utiliza juízes 4. Qual a medida psicofisiológica construída em 1971? . Escala de Thurstone 5.1. A problemática em que se insere o gráfico diz respeito à: . Persuasão (não tive oportunidade de digitalizar os gráficos, sorry) 5.2. Assinale como verdadeiro ou falso as seguintes afirmações respeitantes aos gráficos: Existe interacção entre envolvimento e mudança de atitude O envolvimento é a principal variável independente Os argumentos fortes só produzem mudança atitudinal quando o envolvimento é alto A fonte especialista é mais persuasiva do que a não especialista quando o envolvimento é baixo Os resultados sumariados apontam para a ineficácia da fonte de informação Não é possível pronunciarmo-nos sobre o efeito principal imputável ao tipo de argumento V V V V F F 6. A Sandra gosta do João e detesta a Mariana, ainda que saiba que o João gosta da Mariana. Na linguagem de Heider, trata-se de um sistema: . Desequilibrado [neste caso, há dois + (há duas pessoas a gostarem de alguém) e um – (há uma pessoa a detestar alguém)] 2+e1Desequilibrado 32- e 1 + Equilibrado 3+ Ver página 205 do livro de Psicologia Social de capa vermelha. 7. Diga se são verdadeiras ou falsas as afirmações que se seguem: O conceito de atitude é um conceito puridimensional As atitudes podem ser conceptualizadas como mediadoras entre os modos de acção e pensamento As atitudes podem ser directamente medidas As atitudes podem ser conceptualizadas como filtros que modal a nossa percepção da realidade V V F V 8. O modelo dos 3 componentes das atitudes (Rosenberg e Hovland, 1960) inclui: . Afecto, cognição e comportamento 9. Quando falamos de funções instrumentais e funções expressivas das atitudes situamo-nos no plano: . Motivacional 125 10. Qual a variável determinante da intenção comportamental, incluída na Teoria da Acção planeada (Ajzen, 1987) que não foi tida em consideração no modelo de Acção Reflectida (Fishbein e Azjen, 1975)? . Controlo comportamental percebido. No modelo da Acção Reflectida temos: Atitude + norma subjectiva = intenção No modelo da Acção planeada temos: Atitude + norma subjectiva + controlo comportamental percebido = intenção 11. Comparando os diferentes tipos de escalas (verdadeiro e falso): Nas escalas de Thurstone, apenas devo apresentar aos sujeitos itens com elevada dispersão As escalas de Likert são ordinais e unidimensionais As escalas de Guttman são cumulativas e, por isso, mais ambíguas do que as escalas de Thurstone As grandes escalas de diferenciação semântica são escalas polares que têm a grande vantagem de serem mais práticas que as de Likert As escalas de escolha forçada são influenciadas pelo efeito de Halo 12. Comparação das atitudes com outros processos cognitivos (V/F): Os traços de personalidade são mais estáveis do que as atitudes As crenças existem suportadas por atitudes Os valores são menos maleáveis do que as atitudes As atitudes são conjuntos de itens encontrados por análise factorial das opiniões Na sua função de organização significante do real, a representação social torna o meio envolvente não estranho e coerente 13. Verdadeiro e falso ainda sobre as atitudes: As técnicas psicofisiológicas de medição de atitudes são mais directas do que as medidas comportamentais Para Herek (1986) as atitudes têm funções instrumentais e expressivas Segundo Heider (1958-1970), as situações de equilíbrio são mais fáceis de memorizar, mas mais difíceis de aprender do que as desequilibradas Segundo a teoria da dissonância cognitiva, é mais fácil memorizar e aprender material que confirma as atitudes dos sujeitos F V V V F V F V V V F V F V 14. Em que situações as cognições incompatíveis produzem uma maior taxa de dissonância: . quando nos vemos responsáveis por situações que nos causam dissonância; . quando as cognições são percebidas como importantes para a nossa auto-imagem. 15. A teoria da Interferência correspondente procura explicar: . O modo como os traços da personalidade originam os comportamentos e mediatizam a formação de intenções. 16. Verdadeiro e falso: Segundo o paradigma da escola livre: o indivíduo passa a ver a alternativa escolhida como a mais desejável Paradigma da desconfirmação da Crença: a dissonância pode conduzir o sujeito à procura de suporte naqueles que concordam com as suas próprias crenças Promessas de recompensas/ameaças diminuem a dissonância cognitiva, já que fornecem cognições que são consonantes com o comportamento emitido Segundo o paradigma do acordo forçado, quanto maior o esforço para obter um dado resultado, maior a dissonância se o resultado não for tão agradável como se esperaria V V F V 17. Se o João decide assistir ao futebol na TV; sabendo que tem de estudar para um exame no dia seguinte, argumentando que o jogo é extremamente importante para o futuro do seu clube, o João diminuiu a dissonância cognitiva através: . da Maximização do número e elementos consonantes 18. A teoria da dissonância cognitiva diz-nos que se fizermos um favor a uma pessoa com quem não simpatizamos iremos: . Começar a simpatizar com a pessoa 19. De modo geral, o modo mais racional de diminuir a dissonância cognitiva que acompanha um comportamento não aceitável por parte do indivíduo é: 126 . Justificar o comportamento adicionando cognições que o suportem; . Modificar a cognição de que o comportamento não é aceitável. 20. Verdadeiro e Falso Segundo Heider, as situações de equilíbrio são mais fáceis de memorizar, mas mais difíceis de aprender do que as desequilibradas Um sistema está em estado de equilíbrio quando as relações de unidade e de sentimento têm o mesmo sinal A teoria de Newcomb permite integrar os processos de equilibração ao nível dos próprios grupos A teoria da dissonância cognitiva de Festinger estabelece a ligação com as teorias da troca social e do reforço Segundo a teoria da comparação social, a necessidade básica de cada indivíduo é de auto-conhecimento e autoavaliação das suas aptidões e opiniões F V V F V 21. A distinção entre atitude específica e atitude geral é útil na medida em que: . Apenas a primeira pode ser indicadora de um comportamento situacional; . Permite compreender o impacto das atitudes no comportamento. 22. Em qual dos paradigmas da dissonância cognitiva se insere o estudo de Aronson e Mills (1959)? . Paradigma da justificação do esforço 23. Quais as duas condições básicas que influenciam a probabilidade de elaboração das mensagens persuasivas? . Capacidade e motivação. 24. De acordo com Petty e Cacioppo (1986), quando os indivíduos são persuadidos pelas características superficiais e uma mensagem, estão a utilizar a via ____ da persuasão: . Periférica 25. A via central de persuasão: . Mobilizar maior esforço cognitivo. 26. Qual a escala de atitudes que utiliza juízos: . Thurstone 27. Qual é a escala que tem vários itens para verificar a fidelidade das respostas: . Likert 28. Na teoria da Acção Reflectida, as relações entre atitude e comportamento são mediatizadas pelas: . Intenções (normas subjectivas) 29. Qual a escala que está na origem das Rating Scales: . Likert 30. Sistemas de organização cognitiva: . Difusão (opiniões), propagação (atitudes), propaganda (esteriótipos). 31. Funções das atitudes: . Cognitivas, motivacionais e orientação para a acção 32.Segundo Gordon Allport (1935), de todos os conceitos da psicologia social, o de atitude era o mais: . Distinctivo e indispensável 33. No estudo clássico de LaPiére (1934) sobre as atitudes e o comportamento . As atitudes perconceituosas contra os chineses em geral não correspondiam ao comportamento que se observava em relação a um casal de chineses em particular 34. No contexto da formação de atitudes, o efeito da mera exposição, o condicionamento operante e o condicionamento clássico, são: . Processos que explicam a formação de atitudes . Exemplos do papel da experiência directa nas atitudes 35. O modelo MODE (Fazio, 1990) 127 . Aplica-se a situações em que se pretende prever comportamentos espontâneos . Considera que as atitudes mais acessíveis orientam o comportamento através de processos automáticos . Tem em conta aspectos normativos na predição no comportamento 36. Quando um discurso contra-atitudinal é acompanhado por pouca ou nenhuma justificação externa, então: . A atitude privada irá mudar no sentido da posição defendida 37. A técnica de medição das atitudes designada por bogus pipeline: . Parte do princípio que, se conseguirmos convencer alguém de que não é possível esconder as suas atitudes, temos acesso às atitudes genuinas 38. A investigação sobre as várias variáveis implicadas na comunicação persuasiva iniciou-se com: . Hovland 128 IMPRESSÕES 1. Se a modificação de um traço na lista de sete traços que descrevem uma pessoa tiver um impacto acentuado na impressão global dessa pessoa, então podemos afirmar que: . Esse traço particular é um traço CENTRAL. 2. De acordo com o estudo de Rosenberg e colaboradores (1968), os traços utilizados nas investigações de Asch distribuíram-se ao longo de duas dimensões: . Desejabilidade social e desejabilidade intelectual 3. A expressão “Teorias Implícitas das Personalidade” (TIP) remetem-nos para: . Crenças gerais que mantemos a respeito da espécie humana; . Matrizes de co-ocorrência de determinados traços de personalidade; . Estruturas cognitivas relativas à percepção das pessoas. 5. Avaliámos o Diogo numa escala de 7 pontos que varia entre -3 e +3, como sendo argumentativo (-2), mas muito generoso (+3). Portanto, no geral, avaliámo-lo em +1. A nossa impressão sobre o Diogo foi determinada pelo processo de: . Soma 6. Uma variável da personalidade que está relacionada com a via central de persuasão é a: . Necessidade de cognição 7. O efeito de Halo é: . A tendência para generalizarmos as primeiras impressões. 8. A teoria da interferência correspondente procura explicar: . O modo como os traços da personalidade originam os comportamentos e mediatizam a formação de intenções. 9. O estudo da percepção das pessoas inclui a análisa da forma como: . Formamos impressões acerca dos outros 10. Suponha que lhe tinham acabado de apresentar a Marta. Repara logo que ela sorri com frequencia. Mais tarde quando se recorda dela, a memória desse sorriso poderá ter um efeito _____ na sua imagem mental: . De precedência 11. Para Heider (1958), um exemplo de propriedade disposicional é: . Um traço de personalidade . Uma competência estável . O carácter de uma pessoa . Uma atitude 129 ATRIBUIÇÃO 1. Se o João está mal-disposto e nós tentamos saber qual o motivo da má disposição, estamos interessados em saber se: . O João está sempre mal disposto ou se a sua má disposição varia consoante a situação. 2. De acordo com Osgood, Suci e Tannenbaum, o processo de atribuição de significação organiza-se em torno da seguinte dimensão: . Avaliação, potência e actividade. 3. A teoria da atribuição é uma teoria sobre: . O modo como explicamos a interpretamos o comportamento quotidiano; . As inferências causais 4. Segundo o modelo de covariação de Kelly, as pessoas decidem se atribuem os comportamentos a causas disposicionais internas ou factores externos com base em três tipos de informação: . Consistência, distintividade e consenso. 5. No âmbito dos processos atributivos, dois conceitos fundamentais introduzidos por Heider foram: . Formação da unidade e pessoa como protótipos das origens. 6. Verdadeiro e Falso: Os esquemas causas aplicam-se quando a informação disponível provem de um único observador O princípio do desconto e do aumento são relativos ao modelo de covariação No esquema das causas suficientes múltiplas, as causas A e B devem estar simultaneamente presentes para que se verifique o efeito X No modelo da covariação as fontes de informação são relativas à consistência, consenso e distintividade V F F V 7. Segundo Weiner, no processo de atribuição em contextos de realização, tem que se ter em conta dois factores principais: . Estabilidade e locus de causalidade 8. O modelo atribucional de Kelley é baseado na: . Auto e hetero-atribuição. 9. O princípio dos efeitos não comuns: Opõe-se ao princípio da desejabilidade social Engloba-se na psicologia do senso comum Tenta atribuir ao homem de rua exactamente as mesmas capacidades do cientista É uma das bases do processo e atribuição, segundo a teoria da interferência correspondente de Kelley Afirma que a disposição para a acção é indicada pelas consequências da acção que são comuns a acções alternativas F F F F F 10. Segundo Kelley, a informação relativa às circunstâncias, às pessoas e ao estímulo é respectivamente: . Consistência, distintividade e concenso. Sendo que: . Consistência diz respeito ao conhecimento que o observador tem da história do comportamento do actor; . Distintividade diz respeito à forma como o actor se relaciona com outras entidades; . Consenso diz respeito à forma como outros actores reagem à entidade em questão. 11. Segundo Kelley, a Rita apenas ri quando vê o professor Sebastião a tropeçar e a cair e não quando outra pessoa tropeça e cai e se por outro lado maior parte dos seus colegas se riu quando o professor Sebastião caiu: . O riso da Rita é extremamente causado. 12. O efeito actor-observador refere-se à tendência dos actores para atribuírem as suas acções a causas ___ e dos observadores para atribuírem as acções dos outros a causas ____. . Situacionais, disposicionais 130 13. A sara, recém-licenciada, declina uma oferta de emprego numa prestigiada empresa e aceita um outro emprego menos bem remunerado numa empresa de menos prestígio. A que se pode atribuir o comportamento da Sara e porquê? . Não temos informação suficiente para poder fazer uma inferência causal do comportamento da Sara 14. A investigação acerca das diferenças culturais nos estilos atribucionais indica que os indivíduos da cultura ocidental: . Têm mais relutância em dar publicamente explicações disposicionais do comportamento 15. Kelley & col. (1983) propõem um esquema gráfico acerca das relações diádicas e o seu contexto causal. É possível afirmar que (V/F): A interacção é definida como um padrão de modificações interpessoais, ocorrentes no plano cognitivo, V emocional ou da própria acção A identificação dos padrões específicos de interacção quer seja ela inter ou intra-pessoal, situa-se a um nível de F análise explicativo A estrutura das conexões causais, enquanto ligações entre acontecimentos interactivos, define propriedades V como a intensidade da interacção Kelly e col, excluem a hipótese dos padrões específicos de interacção poderem contribuir para a modificação das F respectivas condições causais Os níveis interpessoal e intrapsíquico dos scripts de interacção distinguem-se pelo tipo das condições causais que, V no primeiro são sociais e no segundo são pessoais 16. O modelo de integração de informação de Anderson afirma que: . Cada item numa lista de traços tem valor em si mesma; . A impressão global é o resultado de processos aritméticos de combinação do valor dos diferentes itens. 17. Ao fazermos uma atribuição causal, procuramos determinar se um comportamento foi causado por: . Causas internas ou externas 18. Segundo o modelo de covariação de Kelly, as seguintes afirmações indicam que o André é um excelente aluno: . O André teve 18 no teste, embora a média da turma tenha sido 10 19. Quem atribui o comportamento dos outros a causas internas em vez da causas externas, demonstra: . O erro fundamental da atribuição 20. Verdadeiro e falso Segundo o paradigma da escolha livre, o indivíduo passa a ver a alternativa escolhida como a mais desejável A dissonânica, segundo o paradigma de desconfirmação da crença, pode conduzir o sujeito à procura de suporte naqueles que concordam com as suas próprias crenças As promessas de recompensas e/ou ameaças de punição diminuem a dissonância cognitiva, ja que fornecem cognições que são consoantes com o comportamento emitido Segundo o paradigma do acordo forçado, quanto maior é o esforço para obter um dado resultado, maior será a dissonância se o resultado não for tão agradável quanto se esperaria V V V F? 131 SEXUALIDADE 1. Acerca da definição de script é possível afirmar que (V/F): Os scripts são programas de acção necessariamente lacunares Nem todo o comportamento consiste na actualização dos scripts Os scripts resultam de um processo de construção que radica nas interacções humanas Os elementos periféricos ou secundários dos scripts são menos susceptíveis de modificações do que os elementos centrais No nível interpessoal dos scripts encontramos os guias gerais da acção F V V F F Tipos de scripts Em geral, os scripts informam-nos sobre a) quem são os possíveis parceiros sexuais; b) em que circunstâncias é adequado comportamo-nos sexualmente e que tipo de actividades são permitidas; c) quais os motivos ou razões que nos levam a comportar e modo sexual. Há três níveis de scripts: 1º Nível ENCENAÇÕES CULTURAIS: guias gerais de acção 2º Nível Scripts INTERPESSOAIS 3º Nível Scripts INTRAPSÍQUICOS Englobam os seguintes scripts: Religioso Tradicional Romântico Relações sexuais baseadas na amizade Infidelidade ocasional Utilitário/predador. . São respostas concretas dos actores sociais às expectativas normativas . São representações do eu e das imagens implícitas dos outros que facilitam a ocorrência de trocas sexuais (facilitam a ocorrência de comportamentos sexuais) . Tem a comunicação como aspecto central . Desenvolvem-se estratégias de sedução . 3 dimensões: Sexualidade, valorização & equilíbrio das relações e amor & compromisso. . Encenação privada dos desejos . Ligação entre fantasias e actividades sexuais . Scripts sexo com afecto – partilhado por sexo F e M . Scripts sexo por sexo – exclusivo do sexo M 2. A gestão e os modos de utilização do corpo são fundamentais nas significações organizadas em torno dos scripts intrapsíquicos da sua representação social (V/F): O corpo é matéria e é signo, como objecto de troca e de consumo que funciona como lugar de categorização V social frequentemente Os campos de referência subjacentes aos modos de conhecimento do corpo podem ser subjectivos ou sociais, V organizando-se em torno do eixo privado/público Os campos subjectivos, segundo Jodelet (1976), correspondem ao conhecimento baseado na observação e F interacção social informais e à experiência corporal directa Os campos sociais, para Jodelet (1976), dizem respeito ao conhecimento nocional e normativo e à relação com o F meio ambiente Hewes (1955) sublinhou, pela primeira vez, a dimensão especificamente instrumental do corpo, como um ponto F de acção que vai para lá dos fenómenos de percepção e representação social 3. O grupo de teorias da atracção interpessoal que define a atracção como a necessária consistência interna entre cognições e sentimentos é: . O grupo das teorias da organização cognitiva 4. A teoria da interdependência social defende que: O grau de atracção de uma relação depende dos padrões de avaliação utilizados pelos indivíduos Apenas nas situações em que a percepção dos resultados se situa abaixo do nível da comparação a relação e causa é considerada como satisfatória A manutenção de uma relação menos atraente depende do número de alternativas disponíveis num dado momento V F V 132 O indivíduo põe termo à relação quando o nível da comparação para as alternativas é atingido A determinação das perdas e dos ganhos em que se baseia esta teoria nasce de um modelo proposto por Metee e Aronson V V 5. Qual dos seguintes factores não é responsável pela determinação das preferências relacionais que especificam a generalidade dos processos da atracção: . Estratégias de sedução 6. Acerca das semelhanças interpessoais, Byrne: Mostra que o grau de atracção é função directa do grau de semelhança atitudinal Usa nos seus estudos o paradigma do falso desconhecido Integra a noção de validação consensual com o conceito clássico de reforço Afirma que a dissemelhança de atitudes gera afastamento ou repulsão Defende que também as assimetrias em diferentes atributos geram atracção V V V F F 7. Para Jones e Pittman, os comportamentos de sedução são determinados por: . Estratégias de auto-representação motivadas pelo desejo de manter ou aumentar o poder sobre o outro. 133 GERAIS 1. Teoria de Byrne: quais as noções que ele aborda quando relaciona atitude com atracção interpessoal (paradigma do falso desconhecido): . Reforço e validade consensual. 2. Qual das seguintes teorias parte do pressuposto que os indivíduos têm necessidade de avaliar as suas opiniões e capacidades: . Teoria da comparação social 3. O pressuposto fundamental das teorias da troca social é: . O princípio da maximização/minimização. 4. O estudo de Jones, Knurel e Regan sobre o papel da auto-estima leva a concluir eu: . Os indivíduos com alta auto-estima são menos afectados pelas apreciações. 5. O que é um cientista ingénuo para Heider (1959)? . Uma pessoa vulgar que procura explicações para comportamentos e acontecimentos 134 SEBENTA Nº3 135 PSICOLOGIA SOCIAL – Teórica Definição mais citada é a de A Alllppoorrtt (1968/1985) – “Com raras excepções, os psicólogos sociais olham para a sua disciplina como uma tentativa para compreender e explicar o modo como o pensamento, o sentimento e o comportamento dos indivíduos são influenciados pela presença real, imaginada ou implícita dos outros. O termo “presença implícita” refere-se ás muitas actividades que o indivíduo desempenha em virtude da sua posição/papel numa estrutura social complexa e em virtude da sua pertença a um grupo cultural”. G. Allport escreveu o terceiro manual de psicologia social, em 1924 (os primeiros manuais sobre esta temática surgiram em 1908 com o sociólogo Ross e outro com o psicólogo McDougall). Gordon Allport escreveu o livro clássico que estudava a natureza do preconceito. Em 1935 surgiu a primeira edição do “Handbook of Social Pschology”, foi editado por Lindzey e Aronson em 1954 (em dois volumes), 1969, 1985 e, a ultima edição – por Gilbert e Lindzey, em 1998. Primeiro aspecto estruturante desta definição: VD = f (VI): pensamentos, sentimentos e comportamentos Variável Independente: presença dos outros, numa tripla dimensão – real, imaginada e Implícita. PPrreesseennççaa IIm mppllíícciittaa – nenhum comportamento é indissociável da inserção dos indivíduos, numa dada estrutura social e nenhum comportamento é indissociável da nossa presença em determinados grupos sociais. Salienta-se aqui o conceito de papel que, por sua vez, remete para o estatuto – estes são os que nos situam na sociedade (tem um carácter disposicional), nós ocupamos/temos, num determinado grupo, uma determinada posição – que é importante para percebermos a pessoa. O papel e o estatuto são conceitos complementares. Podemos equacionar estes dois conceitos em termos de expectativas: PPaappeell – conjunto de expectativas que os outros tem a meu respeito, o que os outros esperam de mim. EEssttaattuuttoo – aquilo que eu, em virtude da posição que ocupo, espero que os outros pensem e esperem de mim. Ambos têm como pano de fundo a posição disposicional do sujeito, ninguém funciona fora do contexto e de um grupo. Em síntese, nesta primeira definição, há que realçar que se trata de explicar todo o leque de comportamentos, pensamentos e até que ponto são influenciados pelo solo primário das nossas vidas e presença dos outros. Podemos constatar dois níveis da realidade social: grupal e a um nível mais vasto da realidade social. Definição de M Maaiissoonnnneeuuvvee, 1973 – “O domínio específico da psicossociologia é essencialmente o da interacção: - interacção dos processos sociais e psicológicos ao nível das condutas concretas; interacção das pessoas e dos grupos no quadro da vida quotidiana; - junção, também, entre a aproximação objectiva e a do sentido vivido, ao nível do ou dos agentes em situação”. Existem dois aspectos a salientar: 1. Insistência na interacção. 2. Importância de tomarmos, simultaneamente, em conta a que poderia ser a dimensão objectiva e a dimensão subjectiva da realidade. Definição de BBaarroonn,, BByyrrbbee ee G Grriiffffiitttt, 1974 – “ (…) o campo da psicologia social será definido como o ramo da psicologia moderna que procura investigar o modo pelo qual o comportamento, os sentimentos e os pensamentos (e.g., atitudes, crenças ou opiniões) de um indivíduo são influenciados e determinados pelo comportamento e/ou características dos outros” – é uma variação da definição de Allport. Definição de TTeeddeesscchhii ee LLiinnddsskkoolldd, 1976 – “a psicologia social é o estudo científico da interdependência, da interacção e da influência entre as pessoas. A interdependência reflecte o facto de que a maior parte das coisas que uma pessoa deseja não pode ser obtida sem a colaboração de outras pessoas (…) Esta interdependência das pessoas fornece a base para a cooperação e conflito entre elas. As pessoas interagem umas com as outras porque são interdependentes; precisam umas das outras. No decurso da interacção, é exercida a influência”. 136 É uma definição em que o autor não se situa só num plano descritivo mas procura fornecer um quadro de articulação teórica entre três conceitos: Interdependência (desempenha um papel principal, nada nos homens é possível sem a relação com os outros). Interacção. Influência. Existe uma ambiguidade essencial das relações sociais: conflitualidade e cooperação – oscilando entre estes dois extremos (são muito importantes). Os processos de relação social devem ser abordados: (1) de uma forma a precisar a unidade mínima de análise e (2) ao nível do sistema de auto-organização capazes de processar a informação. Definição de LLeeyyeennss, 1979/1981 – “O problema é que é mais fácil nomear os psicólogos sociais do que definir a unidade dos seus campos de interesse. Consideremos, portanto, a definição mais ampla possível, com risco de falta de precisão que isso implica, e digamos que a psicologia social humana trata da dependência e da interdependência das condutas humanas”. Reconhece alguma ambiguidade naquilo que é a psicologia social. Diz que o que está em causa é a interdependência das condutas. Ainda, há que notar que não há uma separação total das disciplinas – o que é fundamental é o que é o objecto teórico. Definição de G Geerrggeenn ee G Geerrggeenn, 1981/1984 – “Em termos formais, a psicologia social é uma disciplina onde estudamos de modo sistemático as interacções humanas e os seus fundamentos psicológicos”. O que é importante, nesta definição é a ênfase/tónica nos fundamentos da psicologia das interacções. Definição de M Moossccoovviiccii – “ Eis pois uma primeira fórmula: a psicologia social é a ciência do conflito entre o indivíduo e a sociedade. (…) E formularei, escrevia eu então (1970), como objecto central, exclusivo para a psicossociologia, todos os fenómenos respeitantes à ideologia e à comunicação, ordenados no plano da sua génese, da sua estrutura e da sua função. No que diz respeito aos primeiros, sabemos que consistem em sistemas de representações e de atitudes (…). No que concerne aos fenómenos de comunicação social, eles designam trocas de mensagens linguísticas e não linguísticas (imagens, gestos, etc.) entre indivíduos e grupos. Trata-se dos meios utilizados para transmitir uma certa informação e influenciar o outro. (…) Possuímos, agora, uma segunda formula: a psicologia social é a ciência dos fenómenos de ideologia (cognições e representações sociais) e dos fenómenos de comunicação”. Moscovici e Tajfel representam fundamentalmente as figuras principais da psicologia social europeia (PSE). Nesta definição, Moscovici acaba por dizer que o que é fundamental na psicologia social é a iiddeeoollooggiiaa (fenómenos de representações sociais e atitudes/cognições. Podemos ligar o Marxismo ao conceito de ideologia. O termo ideologia surge no final do séc. XVII, como o estudo das ideias, quase como sinónimo do conceito de psicologia), e ccoom muunniiccaaççããoo (transmissão da informação e influência social. A comunicação tem uma dupla vertente/estatuto – por um lado, é a via pela qual transmitimos a informação aos outros, e, por outro lado, é por este meio que tentamos influenciar os outros). Aquilo que distinguiria a psicologia social das outras disciplinas (psicologia e sociologia), em termos de conceptualização: é que enquanto a psicologia assenta na relação individual entre o sujeito e o meio e a sociologia na relação entre o sujeito colectivo e o meio; a psicologia social escolhe uma modalidade triádica: a relação entre objecto/sujeito é mediatizada pela passagem por um outro objecto social – não há relações naturais! 137 O esquema assenta na ideia da relação social que obrigatoriamente tem que passar pela intervenção com o outro sujeito (a relação entre o eu e o outro pode caracterizar-se como uma relação mediatizada por um terceiro termo: o alter em mutua interacção com o sujeito/ego e o objecto social). Ou seja, a importância de termos uma leitura triádica mediada pela relação social que mantemos com os outros é salientada pelo autor. Estas duas definições são apenas derivações da definição de Allport. Definição de FFeellddm maann, 1985 – “Deveremos considerar a disciplina (psicologia social) como uma que examina o modo como os pensamentos, os sentimentos e as acções de uma pessoa são afectadas pelos outros”. Definição de M Myyeerrss, 1988 – “Assim, do ponto de vista formal, podemos dizer que a psicologia social é o estudo científico do modo como as pessoas pensam acerca, influenciam e se relacionam com outras”. Definição de SSm miitthh ee M Maacckkiiee, 1995 - “A psicologia social é o estudo cientifico dos efeitos dos processos sociais e cognitivos no modo como os indivíduos percebem, influenciam e se relacionam com os outros. Note-se que esta definição afirma que a psicologia social é uma ciência, que os psicólogos sociais estão tão intensamente interessados nos processos sociais e cognitivos subjacentes como no comportamento aberto e que a preocupação central da psicologia social é o modo como as pessoas compreendem e interagem com os outros”. Há uma insistência nos processos cognitivos. A psicologia social nunca teve uma fase que não fosse cognitivista – a importância dos conteúdos internos, representações, cognições… foi desde o início o objectivo de estudo da psicologia social. Estamos sempre, constantemente, independentemente de queremos ou não, a formar/criar impressões sobre os outros. Os pressupostos que tem orientado a produção de conhecimentos em psicologia social são as relações conhecimento-acção e indivíduo/sociedade. Destas dez definições podem salientar-se cinco conceitos fundamentais da psicologia social (operadores teóricos – macro-conceitos): Interacção Comunicação Relação Interdependência Influência social Estes estão colocados num plano de observação Situam-se mais num plano explicativo Relativamente ás definições, os aspectos mais enfatizados são: , e – Influência social e – Interacção social e – Interdependência – Comunicação e – Não fazem referência a nenhum aspecto específico 138 D Deeffiinniiççõõeess eem m rreelleevvoo: Definição de G. Allport Definição de Tedeschi e Lindskold – onde põe em relação os processos de interdependência, interacção, relação e influência. Definição de Moscovici – dá muita atenção ao conflito entre a esfera individual e a esfera social. Apresenta uma redefinição da psicologia social que se preocupa com os fenómenos de ideologia e comunicação (quando comunicamos procuramos influenciar os outros). Existem diferentes níveis de análise na comunicação (Moscovici): Comportamentos concretos Um nível abstracto que se refere às opiniões Um nível mais abstracto ainda, que se refere às atitudes Existe, ainda, um nível mais abstracto, que se refere às ideologias (sistemas de valores e orientações de uma sociedade). Ou seja, estes são conceitos que vão das acções concretas, as opiniões e ideologias. H Hiissttóórriiaa ddaa PPssiiccoollooggiiaa SSoocciiaall É possível retratar a história da Psicologia Social recuando até à antiga Grécia – Aristóteles dizia que o “homem é um animal político”. Mas também podemos remontar ao século XVIII e século XIX numa perspectiva mais próxima da actualidade. A primeira grande oposição a considerar é entre a psicologia de Tarde (que dá mais importância aos fenómenos psicológicos – primazia em relação aos fenómenos sociais) e a psicologia de Durkheim (que dava primazia aos fenómenos sociais). Nos anos 50 predomina uma abordagem gestáltica ou configuracional. Nos anos 60 predomina uma abordagem de integração da informação. Nos anos 70 predomina uma abordagem baseada na memória. De notar que a Psicologia Americana é mais centrada no indivíduo, ou seja, dá primazia ao individual sobre o social. No paradigma do homem como computador as representações podem ser entendidas como princípios organizadores de actividades cognitivas específicas. E Em meerrggêênncciiaa ddoo ppaarraaddiiggm maa A Am meerriiccaannoo: A Psicologia tornou-se uma disciplina autónoma, na primeira metade do século XX, nos EUA. Por tal, tem uma “curta existência e uma longa história”, como afirmou Ebbinghaus em relação à Psicologia. Os problemas a que procura dar resposta são muito antigos (já precisados desde a filosofia Grega… dividindo-se em diversos ramos de conhecimento humano e social). No século XIX, como afirmou Gordon Allport, é um momento em que as “teorias simples e soberanas” (behaviorismo, cognitivsmo e teoria da forma) competem para alcançar um princípio unitário de explicação comum a psicólogos, sociólogos, antropólogos, … ou seja a várias ciências, mas é também a altura em que os saberes de referência se separam e os métodos de cada um se especializam. No final do século XIX, com Galton (Inglaterra), Fechner e Helmholtz (Alemanha) a psicologia torna-se um campo de pesquisa em que os efeitos de aspectos da realidade, traduzidos pelos parâmetros de realidade, são procurados na inflexão que produzem em acontecimentos mentais (há um reducionismo do estimulo à sensação e aos correlatos neurológicos – por isso tornou-se necessário outras dimensões, como a social, para a construção de uma psicologia humana). Nos EUA, a psicologia aderiu a uma marcada orientação funcionalista (James, 1890) e pragmatista (Dewey, 1886, 1922), e cedo se envolveu, em grau muito mais marcado que a Europa, com necessidade de a aplicar a vários domínios (educação, industria, opinião publica, medicina…). Foram estes dois aspectos (o funcionalismo e a aplicação) que melhor explicaram que a América reunisse as melhores condições para que a psicologia Social se autonomizasse. 139 As figuras de destaque no fundo americano: Bartlett (um inglês – através de um livro publicado em 1932 – “Remembering”) Sherif (um turco) Lewin (um alemão) Heider (um austríaco) Asch (um polaco) Todos eles contribuíram para que um objecto específico da psicologia Social emergisse das hesitações entre, por um lado, tentar explicar o domínio socioeconómico-cultural postulando mecanismos psicológicos e por outro, ao invés, a fazer do psicológico uma mera decorrência daquele domínio. Eles ao demonstrarem que a interdependência do comportamento podia ser estudas e que podia fornecer explicações práticas, novas e relevantes, estes autores contribuíram para que um objecto, singular e independente, se tornasse o foco da psicologia Social. A questão do método levou muito tempo a estabilizar e resultou, por um lado, do processo negativo de «normalização» da ciência, e, por outro lado, do processo positivo de autonomização de psicologias sociais aplicadas a várias áreas. Em termos históricos, em 1908, por coincidência ou não, um psicólogo (centrado nos instintos) de origem inglesa, M MccD Doouuggaalll , e um sociólogo (centrado na imitação social), EE.. R Roossss, publicaram livros intitulados “Social Psychology”. Nestes livros pode ver-se o reflexo de duas orientações dominantes na psicologia Americana, centrada sobre a pessoa e sobre a situação social. É de salientar também um artigo de Triplet sobre a competição e a facilitação social. Nas suas investigações conclui que os ciclistas quando corriam sozinhos corriam menos (mais devagar do que quando corriam acompanhados de outros ciclistas) O que leva a Zazong, em 1968, a falar em facilitação social – identificou as situações de facilitação social nas tarefas que executamos bem a performance melhora se estamos na presença dos outros. Em tarefas que estamos menos aptos a nossa performance piora na presença dos outros. Ou seja, ele tentou verificar se a facilitação social é uma lei universal e conclui que funcionamos melhor em tarefas nas quais estamos à vontade (senão somos prejudicados pela presença dos outros). As atitudes irão aparecer como o constructo central da psicologia social nascente por congregarem num só conceito, a percepção e a crença sobre uma realidade social, a sua atractividade ou repulsa e a propensão para agir sobre ela de uma maneira específica e com certo empenho. Não obstante o pioneirismo de McDougall e Ross, foi o livro de BBaallddw wiinn, “The Individual and Society” publicado em 1919, que deu foro à psicologia social no seio das ciências sociais. Este autor parece ter sido o primeiro americano a usar a expressão “psicologia social”. Presente nos textos dos três primeiros autores surge uma controvérsia, que parte de Galton, e que opõe explicações sociais em termos de factores biológicos (hereditariedade e instinto) ou em termos de factores sociais (aprendizagem e desenvolvimento pessoal social e culturalmente condicionado). O êxito do comportamentismo na América irá fazer pender a balança para o prato da aprendizagem social. Esta postura irá influenciar a sociologia americana e a antropologia cultural. Sintetizando: O papel social (modelo de desempenho ligado a uma posição social) é igualmente uma disposição comportamental adquirida. Na sua origem encontramos 3 autores: H. Mead (1912), Merton (1957) e Goffman (1959). A década de 30 é dominada pelos antropólogos (entre eles Margareth Mead, de matriz mais funcionalista e Ruth Benedict de matriz mais estruturalista). Em 1932, Bartlett publica em Inglaterra “Remembering” (que viria a influenciar tanto a psicologia cognitiva quanto a social, em diversas gerações de americanos). Na década de 40, a psicologia social deu os passos decisivos para a sua independência por força dos emigrados europeus, fundamentalmente Kurt Lewin. Em 1952, o livro de Asch “Social Psychology” será o último dos grandes clássicos influenciado por uma corrente, a psicologia da Gestalt. Por fim, com Murchisson (1935), e a partir de 1954 e com novos editores, Lindzey e Aronson, em 1968 e 1985, será o “Handbook of Social Psychology” a referência fundamental da área. A Psicologia Social constituiu-se nos EUA a partir de uma psicologia que era fundamentalmente funcionalista. William James, que não era um experiencialista, reconheceu a importância da linha alemã mas não deixava de a criticar, opondo-se ao elementarismo de Wundt. 140 Quando James examina a corrente de pensamento ele afirma que a consciência é pessoal (pertença de alguém). Além disso, a consciência está sempre a mudar, mas esta opera-se na continuidade, sendo de salientar que a consciência é selectiva (que é ditada pela relevância dos estímulos). John Dewey irá aliar o funcionalismo ao pragmatismo e, por esta via, a psicologia americana irá lidar com a mente em acção e não com um mero sujeito passivo que responde a estímulos. Angell (1904) define os princípios da psicologia funcionalista, assim, ela é uma psicologia das operações mentais em contraste com a psicologia dos elementos mentais, visando as utilidades fundamentais da consciência (os actos psicológicos são acomodatórios e medeiam entre o ambiente e as necessidades do organismo). Pode mesmo dizer-se que se trata de uma psicofísica, por abranger a totalidade orgânica mente-corpo. Se este fundo funcional-pragmático constitui a base ideal para o desenvolvimento de uma psicologia social psicológica-utilitária, ele também impediu os psicólogos americanos de encararem certos aspectos estruturais e certas tensões e conflito inerentes à vida e à sua dinâmica. Coube à psicologia europeia corrigir de algum modo esta distorção. PPrriinncciippaaiiss ffiigguurraass: O O iinnddiivviidduuaall ee oo ccoolleeccttiivvoo: BBaarrttlleetttt: Em 1932, publicou “Remembering”, no qual criticou a orientação de McDougall, acusando-o de ter sido uma má influência, uma vez que torna a psicologia social um conflito entre psicólogos instintivistas e todos os outros, impedindo a produção de investigações significativas. Este autor considerou a psicologia social o estudo sistemático das modificações da experiência e respostas individuais directamente devidas à pertença a um grupo. Este avança a ideia de que um grupo é uma unidade organizada, deve ser considerado como a verdadeira condição da reacção humana. Bartlett procura estabelecer a continuidade necessária entre a psicologia cognitiva e a psicologia social. Do seu ponto de vista existem 3 tipos de áreas de estudo que se abrem à psicologia social: Todos os tipos de condutas indirectamente determinados por factores sociais, detectados no interior do grupo. Todos os tipos de condutas indirectamente determinados pela sociedade. Situações em que os dois grupos sociais diferentes entram em contacto um com o outro e nos quais os núcleos de crenças, tradições e instituições sofrem modificações. Para Bartlett o fundamental é que os sujeitos sejam todos examinados nas mesmas condições psicológicas. Para se atingir tal finalidade, o que importa não é garantir que os sujeitos são colocados nas mesmas condições objectivas, pelo contrário, não hesitou em variar a apresentação do material «de pessoa para pessoa» se pensasse que fazendo assim poderia obter melhores condições comparáveis, do ponto de vista subjectivo. Ele atribuía, tal como os psicólogos da gestalt, um valor secundário ao uso da estatística. SShheerriiff: Demonstrou que os quadros de referência culturais eram determinantes fundamentais do modo como os indivíduos interpretavam os acontecimentos. Este autor introduz uma técnica de manipulação dos sujeitos de experimentação e defende que a base psicológica das normas sociais estabelecidas, tal como os estereótipos, as convenções, os costumes e os valores e a formação de quadros de referência comuns, são produto de contactos entre os indivíduos. M MccC Clleelllaanndd: Este foi discípulo do primeiro americano (Murray) a adoptar Freud, procurando estabelecer um quadro das necessidades humanas e construir um instrumento para as avaliar – o TAT – um teste projectivo que usa como estimulo figurações ambíguas. McClelland apreciou o facto desta técnica fornecer um novo método de avaliara a motivação humana através da análise de produções fantasiosas de sujeitos ou de povos. A motivação avaliada através da fantasia será implícita, sendo mais forte e perdurável sobre o comportamento que as que se obtém através dos inquéritos (explicita). Este autor interessou-se primeiro pelo motivo de êxito e depois pelos do poder e afiliação, completando o quadro dos motivos sociais com o motivo de inibição da acção. O aspecto central a realçar na contribuição de McClelland refere-se ao uso do mesmo corpo teórico para explicar tanto o comportamento individual quanto o colectivo. 141 D Daa tteeoorriiaa àà pprrááttiiccaa ee ddaa pprrááttiiccaa àà tteeoorriiaa K Kuurrtt LLeew wiinn: Os seus interesses primeiros dizem respeito à memória e à percepção e, por extensão, à psicologia da criança. Contudo, desde o início, Lewin dá particular relevo à psicologia aplicada, ou seja, à psicologia inserida na vida quotidiana, na solução de problemas sociais. A experiência como soldado na Grande Guerra leva-o a escrever “A paisagem da guerra (1917), no qual define as noções de barreira, espaço vital e direcção de zona, que virão a -se na sua teoria topológica. Em 1920, publica um artigo no qual defende que as pessoas produzem para viver e não vivem para produzir. Por isso mesmo o bem-estar do trabalhador e a satisfação resultam da sua postura psicológica, do aumento do valor intrínseco do próprio trabalho. Este autor postula uma revolução epistemológica, para ele as ciências sociais, e particularmente a psicologia, devem abandonar a comparação entre “dicotomias absolutas e estáticas” e adoptar a “mudança galileica”, que pensa em termos de sequências dinâmicas. Só assim se podem perceber variações e estados de transição. Por influência da postura gestáltica fundamental, vai pensar a psicologia em termos da física, adoptando as noções de campo de forças, fontes de energia, sistemas de tensão… Só através da apreciação do campo psicológico total (espaço vital), num dado momento e num caso concreto, é possível prever o comportamento (as metáforas físicas eram expedientes para passar da teoria à prática e da prática para a teoria). Lewin observou o que se chamou sistema de tensão, que se constitui à medida que se realiza uma tarefa contudo quando se termina a tarefa não se deixam traços na memória. Depois deste facto ter sido provado, vários estudos comprovaram que não é possível estudar a cognição isoladamente da motivação. Lewin foi um dos primeiros cientistas judeus a emigrar para a América. Em 1935, já na América, publica a versão inglesa de “uma teoria dinâmica da personalidade” e em 1936 publica “Princípios da Psicologia Topológica”. No final da década de 30 publicam-se estudos, de acordo com as intuições de Lewin, sobre o papel da liderança e das atmosferas de grupo, estes marcaram a transição de uma psicologia centrada no indivíduo para uma psicologia centrada no grupo (passam a observar-se as propriedades do grupo, uma vez que a realidade para um indivíduo é, em certo grau, detectada pelo que é socialmente aceite como tal) – a realidade difere de acordo com o grupo a que o individuo pertence. Consideraram-se 3 tipos de liderança: democrática, autoritária e lassez-faire – se a liderança democrática é a que induz maior satisfação e cooperação, não é a que leva a maior produção. Isto acontece na situação autocrática, mas com muito menor satisfação. A situação laxista é a que produz piores resultados em ambas as avaliações. Lewin começou a partir daqui a estruturar a sua ideia de observador participante e de investigação-acção. O termo de dinâmica de grupo foi cunhado por Lewin. Este autor começou a fazer experimentações com grupos, concluindo que nestes pode residir a força necessária para modificar atitudes individuais, mesmo as mais arreigadas e tradicionais (a partir desta base, discípulos de Lewin, começaram a intervir com sucesso em organizações produtivas, relançando em bases sólidas a psicologia das organizações). A sua contribuição, essencialmente no que respeita à dinâmica de grupos, pode ser resumida do seguinte modo: Sempre que um homem se junta a um grupo é, significativamente, mudado e induz mudanças nos outros membros. Quanto mais atractivo for um grupo, mais pressão exerce sobre os seus membros. Para se conseguir uma mudança num grupo é indispensável alterar o seu equilíbrio. O comportamento de um grupo como um todo pode ser mais facilmente alterado que o dos seus membros isolados. O desejo de se manterem juntos, ou coesão de grupo (resultante de forças de atracção e repulsão entre os membros), é a característica essencial do grupo como tal. Um dos factores que mais contribuem para a coesão é a verificação individual de que, no grupo, se têm mais probabilidades de atingir as suas próprias finalidades. Com o tempo e com as interacções no grupo, desenvolvem-se finalidades e padrões de acções comuns. Então, os membros são levados a reformular as suas próprias finalidades pessoais – pertencer a um grupo significa aderir aos seus padrões (código de grupo). Pela mesma razão um grupo pode servir de referência. 142 Qualquer grupo de trabalho para a resolução de problemas oscila sempre entre duas modalidades de acção, incompatíveis no mesmo momento: um grupo ou trabalha para a coesão ou trabalha para a resolução de problemas. Os grupos bem organizados e produtivos têm membros muito diversos. Não é a similaridade entre as pessoas que mantém um grupo, mas sim a interdependência (o todo não é apenas mais do que somas das partes, é qualitativamente diferente). A psicologia de grupo demonstra que uma psicologia que procure elucidar os problemas através do estudo da personalidade é incompleta, visto que é claro e facilmente demonstrável que o comportamento de grupo é tanto função das pessoas individuais quanto da situação social. A partir daqui, Lewin definiu 6 áreas de estudo da psicologia de grupo: 1. Produtividade de grupo. 2. Comunicação e difusão da influência social. 3. Percepção social. 4. Relações inter-grupais. 5. Participação no grupo e ajustamento individual. 6. Treino de líderes. 143 A A iinntteerrddeeppeennddêênncciiaa ddoo ccoom mppoorrttaam meennttoo nnaass rreellaaççõõeess iinntteerrggrruuppaaiiss H Heeiiddeerr ee A Asscchh: Heider desenvolveu uma teoria configuracional das relações interpessoais, que elabora em “A psicologia das relações interpessoais” (1958). Para ele, uma relação entre duas pessoas é uma configuração (Gestalt), uma vez que qualquer pessoa “reage ao que ela pensa que a outra pessoa está a perceber, sentir ou pensar, para além do que ela está a fazer”. Por isso, uma pessoa desenvolve atitudes relativamente às outras pessoas, que são reguladas por um princípio de equilíbrio. Gostar ou não de uma pessoa constitui uma relação unitária de pertença, uma configuração, que tem de se manter em equilíbrio cognitivo, ou seja, modificações na percepção que induzem mudanças em todo o sistema de pensamento, sentimento e acção, de modo a que ele seja de novo equilibrado. Heider vai influenciar a teoria da dissonância cognitiva de Festinger e constitui a base das teorias de atribuição causal. Ainda, este autor ajudou a descentrar o foco da psicologia social das pessoas para as relações interpessoais. Uma das últimas personalidades directamente influenciadas pela Gestalt foi Asch, que publicou “Psicologia Social” (1952), no qual se evidencia uma profunda cultura humanista e gosto pela experimentação. Segundo Asch para percebermos uma pessoa devemos encará-la no contexto da situação e do problema que defronta, e devemos ter cuidado no modo com se observa, uma vez que, quando o fenómeno observado tem ordem e estrutura, é perigoso concentrar-se nas pessoas e perder de vista as suas relações. Asch levou estes princípios, bem como a lei de praegnanz, à própria estruturação das situações experimentais sociais. As experiências originais, Asch convocava sujeitos para uma experimentação sobre discriminação perceptiva. Sem que disso se apercebesse, cada sujeito experimental era sentado num lugar, previamente escolhido, no contexto do grupo constituído por confederados do experimentador. Depois era pedido a cada um dos sujeitos, por ordem de lugar na sala, que dissesse qual de duas rectas, muito próximas em comprimento, era maior. De inicio tudo corria normalmente, mas a certa altura, os sujeitos, sentados antes do verdadeiro sujeito experimental, davam respostas erradas (que a recta menor era a maior) e o experimentador considerava como certas. Chegada a vez do sujeito cujo comportamento demonstrava, mais ou menos exuberante, a sua preocupação, este via-se perante o dilema de dizer o que realmente via, ou dizer o que os outros tinham dito e o experimentador havia confirmado. Um extenso grupo de experimentações, com inúmeros sujeitos e incontáveis variações, demonstrou que, globalmente, 67% das pessoas optam pela solução conformista de negar a própria evidência sensorial e de dizer o que os outros disseram. A psicologia social manteve-se nos EUA fundamentalmente como sub-disciplina da psicologia. A influência inicial da sociologia, antropologia e da psicologia clínica foi diminuindo ao longo do tempo. Pode considerar-se o desenvolvimento da psicologia social americana como a aplicação de um método com fraca referência à teoria. Tal método tem sido quantificante e tem beneficiado dos progressos da estatística multivariada. De um lado, há que ser capaz de operacionalizar tudo o que, genericamente, se refere por estímulos sociais. Do outro, buscam-se procedimentos para dar conta das respostas sociais. Os psicólogos sociais estiveram desde sempre interessados em algo mais complexo que o comportamento observável (sempre visaram mais disposições comportamentais persistentes) que aquilo que simplesmente os sujeitos fazem e dizem. Por outro lado, e também desde sempre, os estímulos sociais virtuais, antecipados, imaginados ou inventados foram parte da sua busca. Pode ainda, encarar-se o desenvolvimento da psicologia social americana como uma resposta específica e articulada para resolver problemas sociais. A A PPssiiccoollooggiiaa SSoocciiaall E Euurrooppeeiiaa: O conceito de psicologia social europeia é, de certo modo, controverso e houve mesmo alguma hesitação em adoptar este conceito. Faz, com efeito, pouco sentido admitir que uma disciplina científica possa estar submetida a critérios de geografia. Mas como nas ciências sociais, como as questões estão sujeitas às influências sociais e culturais torna-se possível esta designação. Existem várias razões para manter a designação de PSE: Ela é a corrente na literatura da especialidade, sobretudo europeia. Não se trata de uma categoria inventada – é uma expressão duma prática já consagrada. - 144 - Corresponde a um movimento que se institucionalizou, ou seja, segundo Moscovici, é uma representação social já objectivada. Esta objectivação teve lugar através da criação duma associação – a Associação Europeia de Psicologia Social Experimental. Esta actividade institucional tem contribuído de forma significativa para a formação dum espírito de grupo e para a definição duma identidade social. Também aqui se aplicam conceitos desenvolvidos no âmbito do PSE, designadamente Tajfel e associados. De acordo com esta perspectiva, os grupos não estão isolados, não existem no vácuo, pelo que a sua identidade é, em grande parte, formada mediante mecanismos de diferenciação, relativamente a outros grupos. Os psicólogos europeus adquiriram a sua identidade reivindicando uma especialidade que os diferencia da psicologia social praticada pelos seus colegas americanos. A PSE fornece um quadro de referência teórico que permite explicar a legitimar o seu próprio movimento enquanto tal. Uma confirmação indirecta da identidade social da PSE é dada pelo facto de serem sobretudo os psicólogos europeus a recorrerem ao conceito. Nos textos americanos a expressão não aparece por via de regra, nem tão pouco se reconhece a prática dos psicólogos europeus qualquer semelhança de estilo ou de preferência temática. A psicologia social Americana (PSA) enquanto grupo dominante e homogéneo, tende a classificar as práticas dos seus colegas europeus na representação restritiva, mas com valor universal, do que deva entender-se por psicologia social. O Orriieennttaaççõõeess ddaa ppssiiccoollooggiiaa ssoocciiaall nnaa EEuurrooppaa ee nnooss EEU UA A Em 1990, Scherer enviou um questionário a cerca de 80 psicólogos dos EUA e da Europa, onde lhes pedia para identificar os desenvolvimentos mais importantes bem como algumas das principais influências identificáveis na psicologia social nos últimos 20 anos (a partir da década de 70). O questionário incluía também uma questão sobre as diferenças entre a PSA e a PSE, em que medida reconheciam os inquiridos um papel especial para a PSE, tanto no passado como no presente e no futuro. As respostas obtidas por este investigador são elucidativas: cerca de metade dos inquiridos americanos não reconhecem a existência ou a necessidade dum papel especial para a PSE, enquanto praticamente todos os representantes europeus concordaram fortemente com a sua existência como pela sua necessidade. Quanto à natureza das práticas verificou-se acordo em que a PSE adoptava uma orientação menos individualista, mais filosófica e mais consciente da história e que se revelava particularmente forte no domínio das relações intergrupos (o seu papel limitar-se-ia a dar diversidade cultural e linguística e a moderar alguns excessos da PSA). As diferenças apuradas por Scherer sugerem de forma muito clara que a maioria dos psicólogos americanos adopta a perspectiva de que a ciência é universal e não ideológica, pelo que não teria sentido recorrer a critérios regionais em questões de natureza substantiva. Em contrapartida, os seus colegas europeus revelam-se mais sensíveis à influência do factor ideológico, determinando os temas, as teorias e os métodos adoptados na investigação em ciências sociais. A PSE não se limita assim a um papel de diversificação ou de especialização subdisciplinar. Ela vai mais longe, já que reivindica um maior alcance e um maior rigor epistemológico para o produto que oferece. Assim, a PSE é não apenas uma psicologia diferente como também uma psicologia social alternativa. Para especificar um pouco mais as diferenças entre a PSA e a PSE, analisam-se os temas predominantes nos últimos 20 anos. Jaspers agrupou os temas que apareciam, com uma frequência dupla ou superior, nas publicações “European Journal of Social Psychology” e no “Journal of experimental Social Psychology” e, também, aqueles temas que aparecem com frequência idêntica em ambas. Os tópicos fortes da PSE são a influência social, associada ao nome de Moscovici, e os processos intergrupo, associados ao nome de Tajfel. No que se refere à influência social há que notar que é um tema que fora anteriormente desenvolvido no âmbito da PSA por psicólogos de origem e formação europeia. É tradicional incluir na influência social o fenómeno da conformidade (estudado por Asch) e o fenómeno da convergência (estudado por Sherif). Moscovici veio enriquecer este domínio introduzindo um terceiro processo – processo de inovação. Quanto aos processos intergrupos desenvolvido por Tajfel, também podem ser inseridos numa linha de investigação inicialmente centrada nos processos interindividuais – o chamado movimento “New Look”, protagonizado por Bruner. - 145 - Note-se que a PSE tem uma história ainda mais curta que a PSA (anos 60), muito embora se invoque que esta beneficiou da contribuição dos psicólogos europeus que emigraram para os EUA. Esta emergência tardia da PSE ajuda a explicar que, não obstante as zonas de distintividade relativa, haja igualmente uma série de temas que mobilizam atenção idêntica aos psicólogos da PSE e da PSA. Um traço que todavia marca, toda ou pelo menos grande parte da PSE, mesmo quando aborda temas como a atribuição causal, é a preocupação em inserir a explicação num contexto social mais alargado, centrada nos grupos e na sociedade. Numa frase: “uma psicologia social mais social”. Um dos calcanhares de Aquiles da psicologia Social é o fenómeno da moda – estudam o que na altura está na moda, o que se observa na PSA, quando abandona o estudo da equidade e comportamento de ajuda, e também na PSE, relativamente à inclusão de temas como a comunicação e agressão. Pode observar-se uma certa convergência entre ambos os lados a nível da atracção interpessoal, autoconsciência e influência social. Jaspers acaba por concluir que as duas psicologias sociais são mais interdependentes que antagónicas, limitando-se o papel social da PSE a contribuir para criar uma maior diversidade temática e analítica. Tal conclusão põe novamente em causa a inovação da PSE enquanto orientação epistemológica específica e concorrente com a psicologia social normal, praticada não apenas pelos psicólogos sociais americanos mas também por todos aqueles que adoptam exclusivamente o método experimental. PPoonnttooss ddee ddeebbaattee Segundo Rijsman e Stroebe, o panorama actual da disciplina caracteriza-se por dois paradigmas antagónicos: O velho paradigma (exemplificado por Nuttin e Zazong), baseado na perspectiva da psicologia social como ciência natural. De central neste paradigma a orientação hipotético-dedutiva e a crença nos mecanismos causais internos que podem ser detectados através de uma investigação empírica rigorosa. O novo paradigma (defendido por Gergen e Harré), rejeitam o modelo hipotético-dedutivo, a crença nos mecanismos causais internos e a ideia de que as leis da psicologia social tenham de ser descobertas através duma investigação empírica rigorosa. Quanto às posições de Doise e Moscovici pode concluir-se que tem uma posição a meia distância entre os dois paradigmas extremos – típico de ambos é a sua adesão à experimentação e À investigação em campo. Estes autores, com Tajfel, são considerados os pais fundadores da PSE. A sua posição por eles sustentada sobre a crise da psicologia social vem claramente ilustrar e confirmar a ideia duma tentativa de superação das posições antagónicas através de uma síntese conciliando as vantagens epistemológicas de ambas as orientações. Um exame dos projectos desenvolvidos por estes dois autores veio demonstrar que o compromisso epistemológico é precário e instável, se não mesmo insustentável – pois entre o método e o objecto existiria uma solidariedade e uma determinação recíproca difíceis de contornar. M Moossccoovviiccii: Em termos da sua contribuição para a psicologia social, pode identificar-se em primeiro lugar (1969) os estudos que levou a efeito sobre o fenómeno do risk-shift, que revolucionou, ao mostrar que este era apenas um caso particular dos grupos para adoptarem posições mais extremas do que a média das posições individuais. Em segundo lugar (1976), os estudos sobre as minorias activas e a influência social que elas podem exercer sobre as maiorias. Deve-se a estes estudos a abertura de uma linha de investigação extremamente importante sobre os processos de inovação e mudança social, que culminaram na formulação da teoria da conversão. Neste dois grandes domínios de investigação Moscovici adoptou o método experimental. De acordo com Doise a explicação da influência minoritária dada por Moscovici envolve dois primeiros níveis de análise. Mais precisamente, a influência minoritária teria a sua origem na consistência diacrónica ou intra-individual e na consistência sincrónica ou inter-individual. Moscovici vai tirar das experiências que realizou neste domínio, extrapolando para fenómenos sociais complexos, como sejam a introdução de novas teorias científicas ou de novas formas sociais e politicas. Este autor considera a psicologia social uma “antropologia da cultura moderna”, e justifica a sua extrapolação desde que se mantenham trocas com outras disciplinas que levantem as mesmas questões, fornecem um conjunto de dados e dêem algumas orientações teóricas. - 146 - A terceira linha de investigação lançada por Moscovici relaciona-se com as representações sociais (1961). Sendo que para este autor a cognição social aparece subordinada às representações sociais. Mais do que uma teoria entre outras, as representações sociais constituem um programa de investigação e um quadro de referência teórico. Este conceito propõe uma psicologia social alternativa, entendida como uma sociologia do conhecimento prático. Moscovici aceita as definições propostas por outros autores, como Doise: “as representações sociais são princípios geradores de tomadas de posição ligadas a posições específicas no conjunto de relações sociais e organizam os processos simbólicos que intervém nestas relações”. Com a teoria das representações sociais a psicologia social aproxima-se mais da sociologia e, nesta medida, está mais perto da sua vocação inicial interdisciplinar, evitando tornar-se mera subdisciplina da psicologia. Moscovici recusa-se a aceitar a subalternidade da psicologia social contrapondo a esta um lugar central e inclusivamente uma função unificadora para a psicologia social, destinada a estudar a ligação entre a cultura e a natureza, bem como entre os fenómenos sociais (religião, poder, a comunicação de massas, movimentos colectivos, linguagem e as representações sociais) e psíquicos. Na sua formulação actual, a teoria das representações sociais não impõe quaisquer restrições e considera que todos os métodos de investigação incluindo o laboratório experimental, são não apenas compatíveis mas todos eles importantes para a obtenção de resultados e de hipóteses. É certo que Moscovici parece privilegiar a orientação observacional à orientação experimental – sendo que para o autor a observação desempenha um papel proeminente no estudo das representações sociais. Contudo, acrescenta que nada impede o recurso a métodos quantitativos, não havendo qualquer dificuldade em usar o método experimental. Quando se envereda pela via de procura dos mecanismos causais explicativos, recorrendo ao método experimental, cai-se no terreno armadilhado da cognição social – ou seja, a analise desce para níveis inter-individuais e a psicologia social regressa ao seu estado de subdisciplina da psicologia. Moscovici renuncia ao laboratório como meio de investigação das representações sociais. E segundo Farr, o laboratório é um dispositivo para isolar os fenómenos dos contextos sociais em que eles naturalmente ocorrem, o “mundo real”, lá fora. Assim, o bom controlo experimental é virtualmente sinónimo do isolamento de acontecimentos estudados da sua localização no espaço/tempo no interior duma cultura particular. No interior da PSE a teoria das representações sociais representa sem duvida a tentativa mais radicalizada de rompimento com a psicologia social normal e a constituição duma disciplina alternativa, estabelecendo a ligação entre a psicologia e a sociologia, entre o indivíduo e a sociedade. D Dooiissee: Tem procurado desenvolver e compatibilizar várias linhas de investigação, sendo de salientar as relações inter-grupo, as minorias activas, o efeito de inovação, as representações sociais e ainda o construtivismo genético (continua e prolonga os estudos de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo) – tenta então estabelecer articulações inter-disciplinares. Este autor defende sem ambiguidade o recurso ao método experimental, admitindo, todavia, maior flexibilidade do jogo entre as variáveis independentes, ou seja, uma causalidade circular. Resultante das orientações actuais e das tensões na psicologia social, pode concluir-se por uma versão fraca da PSE – é muito dividida no seu interior. Os psicólogos sociais europeus, em contraste com os seus colegas americanos, e possivelmente isso também se verifica noutras disciplinas sociais, manifestam uma maior preocupação com os problemas do conflito e do papel que ele poderá desempenhar na mudança social. EEssttuuddoo ddaass aattiittuuddeess: Um conceito central na psicologia social (o mais estudado e o mais antigo) é o conceito de aattiittuuddee (estrutura cognitiva que está por trás das opiniões, predisposições avaliativas). Falamos de atitudes sempre que nos referimos a uma predisposição para classificar os objectos de bom/mau, agradável ou não… Ainda que seja um aparelho disposicional é apreendido – é uma disposição apreendida, ainda que na sua base possam haver processos biológicos. Primeiro, o conceito de atitude (fazendo a ponte entre as disposições individuais e ideias socialmente partilhadas) e, depois, as suas formas de avaliação (as escalas de atitudes) serviram para dar identidade à - 147 - Psicologia Social. Assim, é possível traçar a história da psicologia social tendo como referência o modo como as atitudes foram tratadas. A atitude de missidentification é mais acentuada nas crianças com menos de 4 anos, segundo o estudo de Clark e Clark (1941-1959). E Evvoolluuççããoo ddoo eessttuuddoo ddaass aattiittuuddeess, segundo McGuire (1985) Desde o princípio do século até agora, este conceito foi sobrevivendo aos diferentes paradigmas e níveis de explicação dominantes na Psicologia Social, embora, como acontece em qualquer processo de desenvolvimento, tenha tido as suas fases de apogeu e as suas crises. Podem definir-se três grandes fases da psicologia social enquanto ciência do pensamento social (“social mind”): 1ª Fase – aattiittuuddeess ssoocciiaaiiss: TTeeoorriiaa ddaa D Diissssoonnâânncciiaa C Cooggnniittiivvaa 2ª Fase – ccooggnniiççõõeess ssoocciiaaiiss: TTeeoorriiaa ddaa A Attrriibbuuiiççããoo 3ª Fase – rreepprreesseennttaaççõõeess ssoocciiaaiiss: TTeeoorriiaa ddaass R Reepprreesseennttaaççõõeess SSoocciiaaiiss Então, a história da psicologia social pode ser vista em referência às atitudes: Em concomitância com a analise das representações sociais 11992200 –– 11993355: a tónica estava colocada na medição das atitudes. Esta é a época áurea dos trabalhos de Thurstone, Likert… Neste período o objectivo era menos de natureza tónica e mais de natureza prática. 11993355: surge um trabalho importantíssimo em psicologia social: Kurt Lewin emigra para os EUA e, juntando alguns colaboradores, faz com que a psicologia social deixe de ter como conceito principal as atitudes e passe a abordar de modo específico os processos grupais e as dinâmicas dentro dos grupos. Nesta época a psicologia social torna-se autónoma. Festinger (um dos colaboradores de Kurt Lewin) publicou um artigo sobre a “Congregação social” (em 1954) e sobre “a Teoria da Dissonância Cognitiva” (em 1957) – para ele, os aspectos motivacionais estão subjacentes às mudanças de atitudes. 11995555 –– 11996655: neste período houve uma centração e um estudo aprofundado sobre as mudanças e atitudes (o que o homem procura é a harmonia cognitiva) – relaciona-se com as Teorias da existência de Osgood. 11996655: foram publicados artigos sobre as auto-percepções (Benn) em que se criticam os modelos de equilíbrio e da dissonância cognitiva. A tónica é colocada nos processos de atribuição e nas representações sociais (fase cognitiva), como é que os autores sociais explicam as suas condutas e as das pessoas com as quais interage. Tenta-se minimizar os aspectos motivacionais e afectivos do comportamento social. 11998800: a última fase tem uma tónica mais englobante. Assim, Moscovici (tendo em conta que via a psicologia social como a ciência do pensamento social) identificou três fases (Teoria da Dissonância). Moscovici apresenta uma definição de psicologia social em que a apresenta como a área que se preocupa com os fenómenos de ideologia e comunicação. Esses fenómenos foram identificados por D Dooiissee, em 1982, que considera a existência de quatro níveis de explicação em psicologia social: Nível I – IInnttrraa--ppeessssooaall: plano com que os sujeitos organizam as suas percepções, avaliações, cognições, comportamentos … Põe-se a tónica nos processos internos de tratamento da informação. O importante é a organização interna das percepções e avaliações. (por exemplo: temos a Teoria da Atribuição de Kelley e a Teoria do Equilíbrio de Heider) Nível II – IInntteerr--ppeessssooaall: a tónica é colocada não tanto no modo de organização interna mas na compreensão do comportamento dos indivíduos em interacção (por exemplo: temos as teorias sobre a diferença entre actores e observadores de Nisbett e Ross – que depois dão origem ao que errrroo ffuunnddaam se chama “e meennttaall”). - 148 - O erro fundamental em psicologia social diz respeito à diferença no modo como eu explico o meu comportamento (onde privilegio as variáveis circunstanciais – “não fiz isto bem porque não tinha condições para o fazer”) e como explico o comportamento dos outros (onde privilegio as variáveis individuais do outro – “está mal feito porque ele é burro, não sabe fazer nada”). Nível III – IInntteerr--ggrruuppaall: a tónica é posta na explicação de todos os comportamentos reportandose aos efeitos da categorização social, a inevitabilidade da nossa pertença a determinados grupos sociais. Para compreender o que é a interacção tenho que apelar às dimensões que definem o indivíduo antes da sua pertença ao grupo e só depois podemos categorizá-lo socialmente (por exemplo: temos a Teoria da Identidade e Categorização Social de Tajfell). Nível IV – SSoocciieettaall: neste nível a tónica é colocada nas crenças, valores, representações partilhadas por grandes grupos de indivíduos numa determinada sociedade (por exemplo: a Teoria da Representação Social de Moscovici). Esta participação de Doise não implica que não se possam adoptar diferentes perspectivas para explicar os comportamentos do indivíduo: a psicologia social Americana centrou-se mais nos dois primeiros níveis, intra e inter-pessoal enquanto a psicologia social Europeia dedica-se mais ao estudo dos dois últimos níveis, inter-grupal e societal. O psicólogo social Thomas (1928) referiu que: “se um homem define uma situação como real, ela é real nas suas consequências”. Por isso, Kurt Lewin diz, a respeito do medo de uma criança ao monstro debaixo da cama, que o monstro é real – pois para a criança é mesmo real! Desde o início a psicologia social teve uma orientação cognitivista, sempre se interessou pelos processos internos. Os Processos Internos têm duas funções: M Meeddiiaattiizzaaççããoo – na história podemos ver que houve uma evolução, uma passagem de ‘S-R’ para ‘S-O-R’, onde ‘O’ tem uma função de mediatização, são as variáveis do organismo. D Deeffiinniiççããoo ddaass ssiittuuaaççõõeess//eessttíím muullooss – ‘O-S-O-R’ não só serve a função de mediatização mas também de definição. Estas duas tarefas/funções, tal como o modelo ‘O-S-O-R’ da Psicologia Social, são comuns à abordagem cognitivista contemporânea reflectida na psicologia social. O conceito que muitos autores referiam como central na psicologia social é o conceito de aattiittuuddee:: encontramos a atitude em diversas definições – na definição que Moscovici dava de representação social, das representações sociais da psicanálise (difusão, propaganda…), ainda, na priorização acerca da psicologia social – onde redefiníamos a história da atitude em termos da evolução da psicologia social. A consequência da história rica deste conceito foi a dificuldade de encontrar uma definição consensual para ele. D Deeffiinniiççõõeess: Em 1968, Zazong demonstrou que a simples exposição a um estímulo é susceptível de modificar a nossa atitude face a esse estímulo. Na sua experiência dava ao sujeito 12 palavras turcas (os sujeitos não sabiam o seu significado) e pedia para avaliarem essa palavra com a qualificação de bom/mau, numa escala. As palavras mais mostradas eram as que eram mais avaliadas, a partir de certa altura há saturação. Definição clássica de G G.. A Alllppoorrtt (1935): “um estado de preparação mental ou neural, organizado através da experiência, e exercendo uma influência dinâmica sobre as respostas individuais e sobre os objectos/situações com os que se relaciona”. Para Allport a atitude é o conceito mais indispensável da psicologia social – as atitudes referem-se a paixões e ódios, atracões e repulsões, gostares e não gostares… A definição de R Roobbeerrtt A Abbeellssoonn (1976): “a atitude face a um objecto consiste no conjunto de scripts relativos a esse objecto”. Esta perspectiva combinada com uma teoria abrangente acerca da formação e da selecção dos scripts daria o significado funcional ao conceito de atitude que outras definições não possuem. Definição de R Roosseennbbeerrgg ee H Hoovvllaanndd (1960): “atitudes são predisposições para responder a determinada classe de estímulos com determinada classe de respostas”. Definição de A Ajjzzeenn (1988): “atitude é uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, intuição ou acontecimento”. - 149 - A definição mais recente de atitude é a de A Allliiccee EEaaggllyy ee C Chhaaiikkeenn (1993): é um construto hipotético referente à “tendência psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade específica” – com esta definição os autores pretenderam encontrar uma definição que se ajustasse às diversas perspectivas existentes sobre este tema. A definição de atitudes como um construto hipotético indica que as atitudes não são directamente observáveis, ou seja, são variáveis latentes explicativas da relação entre a situação em que as pessoas se encontram e o seu comportamento. Trata-se, assim, de uma inferência sobre os processos psicológicos internos de um indivíduo, a partir da observação dos seus comportamentos. Ainda, as atitudes são uma tendência psicológica, entendendo-se por este conceito um estado interior, com alguma estabilidade temporal – é de natureza disposicional, mas este estado interno é em larga medida uma disposição aprendida e no processo de aprendizagem e formação de atitudes podemos identificar os processos clássicos de aprendizagem (condicionamento clássico e operante) e aprendizagem por símbolos (simbólica) – logo, são alteráveis. As atitudes expressam-se através de um julgamento avaliativo, que tem 3 características diferentes: direcção (favorável ou desfavorável), intensidade (posições extremadas ou posições fracas) e a sua acessibilidade (probabilidade de ser activada automaticamente da memória quando o sujeito se encontra com o objecto de atitude – esta dimensão está associada à sua força, à forma como foi aprendida e à frequência com que é utilizada pelo sujeito). Em síntese, a atitude é uma disposição avaliativa – situa um objecto do pensamento numa dimensão avaliativa. As atitudes referem-se sempre a objectos específicos, que estão presentes ou que são lembrados através de um indício do objecto (qualquer construção mental que possa ter um carácter distintivo). Assim, temos atitudes face a entidades abstractas ou concretas, temos atitudes face a entidades específicas ou gerais, temos atitudes face a comportamentos ou classes de comportamentos. Podemos falar de atitudes em relação a qualquer objecto mental construído, ou seja, tudo o que pode ser cognitivamente construído pode ser objecto de atitude, dai se considera que a atitude pode ser dos conceitos mais genéricos da psicologia social. Sendo assim, por exemplo: Três tipos de atitudes face a um grupo social corresponderiam aos estereótipos (expressão cognitiva, relativa às crenças acerca dos atributos do grupo), preconceitos (expressão afectiva) e discriminação (expressão comportamental). A atracção inter-pessoal é uma atitude relativamente a pessoas. A auto-estima é uma atitude relativamente ao próprio “self”. Os valores são atitudes face a objectos abstractos ou estados da existência. Ainda, podemos identificar atitudes sociais e politicas: referem-se a objectos que têm implicações politicas ou se referem a grupos sociais específicas. As atitudes referem-se sempre a um tema ou objecto, o que implica juízos avaliativos – expressa-se através da linguagem e são previsíveis nas suas relações com a conduta social. Existe um problema epistemológico importante: as atitudes expressam-se numa dimensão avaliativa bipolar, que vai de positivo a negativo. Convém não confundir o que são dispositivos metodológicos para medir as atitudes e o próprio conceito de atitude a respeito de um objecto – este pode ter diferentes atributos (ou seja, podemos gostar de um atributo de um objecto e de outro não). Por outro lado, há que distinguir entre atitudes fortes e atitudes fracas. Contudo, há atitudes em que não existe um ponto negativo, só existe um ponto positivo, daí não existe a tal bipolaridade relativamente ás atitudes – há atitudes que não são necessariamente bipolarizadas. Ao identificar uma atitude como uma colecção de objectos num eixo avaliativo consideram a atitude em vários sub-capitulos da psicologia social. No estudo das atitudes podemos organizar os conteúdos em cinco grandes campos (chavões), ou seja, o estudo das atitudes deve ser feito em cinco grandes dimensões: M Meeddiiççããoo ddaass aattiittuuddeess:: a longa história das atitudes na Psicologia Social permite que se tenham desenvolvido formas estruturadas de as avaliar através de diversos tipos de respostas observáveis relativamente a esse construto inferido. Assim tem como objecto de estudo central o problema específico da mudança de atitudes e persuasão. M Meeddiiççããoo ddaass aattiittuuddeess aattrraavvééss ddee rreessppoossttaass ccooggnniittiivvaass - 150 - A forma mais comum de medir atitudes é através do que se designou escalas de atitudes. Esta técnica parte do princípio que podemos medir as atitudes através das crenças, opiniões e avaliações dos sujeitos acerca de um determinado objecto, e que forma mais directa de acedermos a estes conteúdos cognitivos é através da auto-descrição do posicionamento individual. Assim se desenvolveram na Psicologia técnicas de papel e lápis que, ancoradas em modelos de medição diferentes, se cristalizaram em redor de 4 procedimentos de construção de escalas: 1. EEssccaallaass iinntteerrvvaallaarreess ddee TThhuurrssttoonnee: foram propostas pelo autor em 1928, que caracteriza a atitude do sujeito através do seu posicionamento face a estímulos previamente cotados – centrada no estímulo. Na base deste modelo de medição está o modelo psicofisico, onde se procura encontrar uma relação entre os atributos do mundo físico e as sensações psicológicas que produz. Toda a técnica se centra na procura de objectividade na selecção de frases face às quais os sujeitos apenas têm de assinalar aquelas com que concordam. Com esta técnica, pretende-se garantir a construção de uma escala intervalar e que os estímulos escolhidos correspondam à diversidade possível das posições (o que é feito através do trabalho de cotação das frases por um grupo de juízes). Deve seleccionar-se as frases finais com base em diferentes critérios: Critério de ambiguidade: devem ser excluídos os itens com maior variância. Critério de irrelevância: devem ser excluídos os itens que não apresentam variações entre os sujeitos com atitudes diferentes. Critério de sensibilidade: os itens finais da escala deverão situar-se entre 1 e 11, cobrindo igualmente toda a gama de atitudes possíveis face ao objecto. No entanto, este tipo de escala tem sido cada vez menos utilizado por motivos de ordem: Prática: que se prendem com a morosidade do processo de construção da escala e com a necessidade de estar permanentemente a reaferir os valores da escala dos diferentes itens, uma vez que se pressupõe que as mudanças sociais afectam a avaliação das opiniões. Metodológica: prendem-se com a contestação das capacidades dos juízes ara situarem as frases numa escala de intervalos iguais, considerando as avaliações apenas como uma medida ordinal, e, nesse sentido, seria escusado um processo tão moroso de construção, podendo-se optar imediatamente por escalas sem pretensões intervalares (escalas de Likert). Cientifica: prendem-se com a demonstração empírica da impossibilidade dos sujeitos se abstraírem da sua própria posição na avaliação dos itens. Assim como as atitudes dos sujeitos, através do processo de categorização, influenciam a percepção de estímulos físicos, como foi demonstrado pela perspectiva do “New Look” (Bruner, 1947) e depois reanalisado por Tajfel e colaboradores, também na avaliação de estímulos sociais este fenómeno se verifica. 2. EEssccaallaa ddee LLiikkeerrtt: foi proposta em 1932, permitindo aos investigadores prescindir da tarefa de avaliação dos juízes e centrando o processo nos sujeitos respondentes. O modelo de medição deixava os pressupostos psicofísicos, para se basear no modelo claramente psicométrico: é a própria resposta do indivíduo que localiza directamente em termos de atitude e não existe nenhum escalonamento a priori dos estímulos. A principal diferença da técnica de construção das escalas de Likert está no facto da selecção de frases que compõem a escala ser feita pelo investigador, procurando frases que manifestem claramente apenas dois tipos de atitude: uma atitude claramente favorável e uma atitude claramente desfavorável em relação a um mesmo objecto, eliminando todas as posições neutras ou intermédias. A medição da atitude do sujeito é dada pelo seu posicionamento face a um conjunto destas frases radicais. Sujeita-se a versão final da escala a um teste de fiabilidade psicométrico – o mais comum é o coeficiente de Alfa de Cronbach que, variando entre 0 e +1, procura avaliar a correlação entre a presente escala e uma escala hipotética com o mesmo número de itens ( o coeficiente Alfa de Cronbach baseia-se na médias das inter-correlações entre diferentes itens da mesma escala). Sendo muito mais económica de construir e mais rápida de aplicar (uma vez que necessita de menos itens), este tipo de escala tornou-se muito mais popular na avaliação das atitudes, apesar de não garantir à partida a medição numa escala intervalar. A escala de Likert dá origem às Rating Scales. - 151 - 3. EEssccaallaass ddooss ddiiffeerreenncciiaaddoorreess sseem mâânnttiiccooss: nasceram nos finais dos anos 50, dos estudos dos psicólogos da Universidade do Illinois que, no quadro das teorias da aprendizagem, tentavam clarificar o processo de linguagem e, especificamente, o processo de atribuição de significado. Partindo do pressuposto de que o significado de cada palavra é um ponto num espaço semântico definido por dimensões bipolares (adjectivos antagónicos). Osgood, Tannenbaum, Succi e colaboradores (1957) pretendiam encontrar os grandes eixos que caracterizam o significado dos conceitos que utilizamos – criando a teoria da Congruência Cognitiva. Para tal, estes autores procuraram obter uma amostra de 50 dimensões, que foram transformadas em escalas bipolares de 7 pontos de modo a poderem definir o espaço semânico de um conjunto heterogéneo de palavras. As análises efectuadas das respostas dos sujeitos a estas escalas bipolares permitiram detectar inter-correlações importantes e sistemáticas entre determinados pares de adjectivos e as analises factoriais efectuadas sobre as matrizes de correlações mostram que o significado se organiza sistematicamente em torno de 3 grandes dimensões: Uma dimensão avaliativa: bom/mau, agradável/desagradável… Uma dimensão de potência: grande/pequeno, forte/fraco… Uma dimensão de actividade: activo/passivo, rápido/lento… Considerando as atitudes como variáveis intermédias de carácter avaliativo, estes autores consideram a sua técnica de diferenciador semântico e, especificamente os pares de adjectivos que se englobam na dimensão avaliativa, como formas privilegiadas de medir as atitudes. A vantagem principal desta técnica é o facto de o mesmo conjunto de adjectivos servir para avaliar qualquer objecto de atitude. Mas, por outro lado, ao centrar-se unicamente na dimensão avaliativa torna-se um exercício abstracto e descontextualizado. Qualquer deste tipo de escalas pressupõe, explícita ou implicitamente, que as atitudes são unidimensionais, isto é, que a posição do sujeito se pode situar num continuum. 4. EEssccaallaa ddee G Guuttttm maann: este autor desenvolveu, em 1944, um modelo matemático que permite testar este pressuposto, e passaram a designar por escalas de Guttman ou escalas cumulativas as escalas de atitudes em que este princípio é aplicado. Apesar da técnica de análise das respostas dos sujeitos que sustenta a construção deste tipo de escalas ser complexa, os pressupostos em que se baseia são fáceis de compreender – Guttman propõe que os itens de uma escala sejam construídos como as bonecas russas, de modo que, ao aceitar um item da escala, se aceita também todos os seus níveis inferiores. Isto implica que, na construção dos itens, se procure temáticas extremamente restritas e o seu conteúdo acabe por ser muito repetitivo, de forma a garantir a unidimensionalidade da escala. 5. EEssccaallaa ddee uum m iitteem m: é muito utilizado nos estudos de opinião, mas também em áreas aplicadas da psicologia. Esta utiliza não uma escala mas apenas uma pergunta, em que a posição do sujeito é avaliada directamente. Trata-se de uma metodologia muito menos fiável e muito mais maleável a estratégias de autoapresentação do que as escalas de atitude, mas que permite obter resultados de uma forma rápida. Todas estas técnicas de papel e lápis, apesar de serem as mais usuais na avaliação das atitudes, apresentam alguns problemas que nenhum dos tipos de construção de escalas pode resolver. Não se pode ter a certeza se a resposta do sujeito corresponde à sua atitude geral ou se ele tentou dar uma boa imagem de si próprio. Não se sabe a relevância da atitude para o sujeito – a resposta corresponde a uma posição bem estruturada por parte do sujeito ou foi um tema com que se viu confrontado apenas naquele momento. Outro problema difícil de resolver envolve a própria linguagem em que é formulada a questão, a escala de resposta e todos os efeitos de contexto nas respostas a questionários. Desta forma alguns autores optaram, nos últimos anos, por medidas mais indirectas das atitudes, que também se podem situar a nível cognitivo (exemplos: analisar o tempo de latência da resposta ou realizar questões que à partida não são opinativas mas de certo errado – contudo, nestas pode inferir-se a atitude dos sujeitos). M Meeddiiççããoo ddaass aattiittuuddeess aattrraavvééss ddee rreessppoossttaass aaffeeccttiivvaass - 152 - Embora possamos expressar aquilo que sentimos através de palavras, o nosso corpo é, muitas vezes, um relator mais verdadeiro dos nossos sentimentos (corar, suor nas mãos, coração a bater mais depressa – são respostas involuntárias que expressam estados emocionais extremos). A sociopsicofisiologia desenvolveu 4 tipos de técnicas de avaliação das atitudes através de sinais corporais: 1. R Reessppoossttaass nnaattuurraaiiss m maanniiffeessttaass: encontram-se nesta categoria os estudos do comportamento não-verbal, ou seja, aqueles em que as atitudes são inferidas através dos sinais posturais ou das expressões faciais dos interlocutores (distância a que se situam duas pessoas, contacto visual, grau de atracção que duas pessoas sentem uma pela outra, movimentos espontâneos com a cabeça, e as expressões faciais – que são as mais difíceis de avaliar, pois as pessoas se souberem que estão a ser observadas podem falseá-las uma vez que se encontram sob o seu controlo voluntário). 2. R Reessppoossttaass nnaattuurraaiiss eessccoonnddiiddaass: refere-se a alterações corporais a nível fisiológico que são dificilmente observáveis a olho nu e que não estão ao alcance do controlo voluntário do sujeito. A medida mais frequente utilizada é a que se refere à resposta galvânica da pele – RGP (mudança na condutibilidade eléctrica da pele devida à actividade diferencial das glândulas soporíferas, controladas pelo sistema nervoso simpático. O problema com a utilização da RGP é que pode não ser um indicador de atitude mas apenas de uma reacção mais geral de orientação face a um estimulo novo, inesperado ou que requer atenção. Uma outra resposta fisiológica associada às atitudes é a resposta pupilar, isto é, o aumento ou diminuição do tamanho da pupila. Esta resposta ocorre automaticamente com as variações da luz, mas, uma vez que a dilatação é comandada pelo sistema nervoso simpático e a contracção pelo sistema nervoso parassimpático, permite também obter uma resposta atitudinal fisiológica bidireccional. No entanto, apesar de em vários estudos se mostrarem evidências de que as pupilas aumentam na presença de estímulos favoráveis também a fadiga, o stress, excitação sexual, esforço mental, entre outros, parecem fazer variar o tamanho pupilar. Um outro indicador fisiológico das atitudes é a actividade electromiográfica facial – a contracção das fibras musculares avaliada através da mudança do potencial eléctrico que a acompanha. Os músculos relevantes para a avaliação das atitudes seriam os que determinam as expressões faciais de acordo com a hipótese de retroacção: corrugador (move as sobrancelhas), zigótico (move os cantos da boca) e o depressor (move o queixo e abre a concavidade da boca). Schwartz (1976) mostrou que quando se pedia a uma pessoa para pensar em coisas agradáveis as pessoas contraíam mais os músculos zigomáticos (sorriso) e menos os músculos corrugadores (apreensão) do que quando imaginavam acontecimentos negativos. Este tipo de resposta parece ser mais útil que as anteriores na detecção de atitudes, porque, ao contrário dos outros indicadores, não está dependente do sistema nervoso autónomo, mas do sistema nervoso central, apresentando-se portanto livre da contaminação de outros sintomas de atenção, e, por outro lado, permite diferenciar claramente os afectos positivos dos afectos negativos. 3. R Reessppoossttaass ccoonnddiicciioonnaaddaass: sendo que o choque eléctrico foi o mais utilizado. 4. FFaallssaass rreeppoossttaass ppssiiccooffiissiioollóóggiiccaass: Por fim, podemos referir-nos a uma técnica de avaliação de atitudes que utiliza um falso indicador fisiológico para garantir a autenticidade das respostas dos sujeitos às respostas a uma escala de atitudes: as falsas respostas psicofisiológicas. Este procedimento foi iniciado por Jones e Sigall (1971) que justificam esta técnica da seguinte forma: “o paradigma experimental baseia-se na simples premissa de que ninguém quer ser desmentido por uma máquina. Se conseguirmos convencer uma pessoa de que temos uma máquina que mede com precisão a intensidade e a direcção das suas atitudes, assumimos que ela está motivada para predizer aquilo que a maquina vai dizer acerca dela. Parece que as medidas corporais das atitudes não tem produzido técnicas e resultados tão importantes como de início se supunha. Este facto deve-se à dificuldade de interpretar univocamente as respostas fisiológicas dos sujeitos e às dificuldades práticas de aceder a este tipo de material para o registo das respostas. As respostas afectivas podem ainda ser abordadas através de técnicas de papel e lápis, em que os indivíduos descrevem as suas emoções relativamente a um determinado objecto. - 153 - M Meeddiiççããoo ddaass aattiittuuddeess aattrraavvééss ddee rreessppoossttaass ccoom mppoorrttaam meennttaaiiss Este tipo de indicadores possibilita, por um lado, superar a falta de sinceridade que é possível nas medidas de auto-descrição, e por outro produzir observações em meio natural através das medidas corporais. Deste modo, as técnicas comportamentais mais importantes neste domínio referem-se a observações de comportamentos reveladores de atitudes, mas observações que passam completamente despercebidas aos sujeitos. Estas medidas, também conhecidas por medidas não obstrutivas, foram utilizadas muitas vezes nas investigações dos anos 60 em Psicologia Social. Exemplos de estudos realizados: Distância a que um estudante branco se senta de um negro. Atitudes politicas de cidadãos de diferentes partes de uma cidade, deixando no chão, como perdidas, cartas seladas dirigidas a diferentes agrupamentos políticos. Estas formas de medir as atitudes são normalmente defendidas por serem “puras”, mais próximas da realidade. No entanto, não devemos esquecer que esta avaliação das atitudes não está isenta de influências, mas apenas que apresenta enviesamentos diferentes das técnicas de auto-descrição. Em primeiro lugar, a Psicologia Social tem mostrado muitas vezes a influência das condições situacionais na determinação do comportamento social. Depois, a relação entre o comportamento do sujeito e a inferência da sua atitude é deixada completamente nas mãos do experimentador. Por fim, não é linear nem simples que o comportamento das pessoas corresponda à sua atitude. C Coom mppaarraaççããoo ddaass aattiittuuddeess ccoom m oouuttrrooss pprroocceessssooss ccooggnniittiivvooss Os traços de personalidade são mais estáveis que as atitudes. Os valores são menos maleáveis do que as atitudes. As atitudes são conjuntos de itens encontrados por análise factorial das opiniões. EEssttrruuttuurraa ddaass aattiittuuddeess:: Devemos ter em atenção dois aspectos importantes na avaliação das atitudes, que são dois grandes pontos de debate: D Diim meennssiioonnaalliiddaaddee ddaass aattiittuuddeess: que se refere à forma como os diferentes teóricos das atitudes respondem à seguinte questão: a representação mental da atitude reproduz o continuum de favorabilidade/desfavorabilidade por que ela se expressa? O apoio empírico para as visões dimensionais das atitudes vem do facto de o tempo de processamento de afirmações radicais ser inferior ao tempo de processamento de afirmações mais neutras (Judd e Kullik, 1980) e dos estudos que sustentam a teoria da avaliação social proposta por Sherif (1965) – esta perspectiva pressupõe a existência de uma escala de referências interna, que cada pessoa divide em 3 zonas consoante a sua própria posição: 1. ZZoonnaa ddee aacceeiittaaççããoo: que inclui as crenças que o indivíduo considera aceitáveis. 2. ZZoonnaa ddee rreejjeeiiççããoo: que inclui as que são inaceitáveis. 3. ZZoonnaa ddee nnããoo ccoom mpprroom meettiim meennttoo: inclui as crenças que não são consideradas nem aceitáveis nem as inaceitáveis. A visão não dimensionais das atitudes assumem esta representação interna das atitudes, mas consideram que as expressões das atitudes num continuum são ou o resultado da recuperação em memória das associações relativas aos objectos de atitudes – sendo, então, a atitude o resultado das associações entre o objecto de atitude e avaliações ou proposições diversas, com base numa concepção reticular da memória – ou o resultado da soma das expectativas associadas ao objecto de atitude pesadas pelos seus valores – como propõem os diversos modelos de expectativa-valor. Apesar de muito diferentes noutros aspectos, qualquer destas duas visões não dimensionais das atitudes concorda que as representações internas não podem ser resumidas a uma única escala interior. C Coonnsscciiêênncciiaa eennttrree aa aattiittuuddee ee aass ssuuaass ttrrêêss ffoorrm maass ddee eexxpprreessssããoo: ou seja, até que ponto há uma correspondência entre a atitude do indivíduo e as suas diversas formas de expressão (afectiva, cognitiva, comportamental). Muita da pesquisa neste domínio tem analisado a consistência entre a atitude e as crenças. As relações entre as outras expressões emocional e comportamental das atitudes e a avaliação que está na base deste conceito têm sido uma investigação muito reduzida, mas ela parece existir, embora de forma menos acentuada. - 154 - Remete-nos, em primeiro lugar, para a atitude intra-individual, que se refere ao grau de interligação entre os componentes cognitivo, afectivo e comportamental (3 modalidades de respostas avaliativas). Ou seja, refere-se ao modelo tripartido da atitude de H Hoovvllaanndd (1960) que comporta os componentes cognitivo (crenças, opiniões, pensamentos, ideias que ligam o objecto de atitude aos seus atributos ou consequências e que exprimem uma avaliação mais ou menos favorável ), um componente afectivo (emoções/sentimentos provocados pelo objecto de atitude) e um componente comportamental, que pode ser verbal ou não (que se reporta aos comportamentos ou intenções comportamentais em que as atitudes se podem manifestar). Aqui surge uma grande área de tensão/conflitualidade teórica que diz respeito à inclusão ou não o componente comportamental da atitude ou não. Em segundo lugar este remete-nos para o aspecto da estrutura das atitudes ser inter-atitudinal: como é que as atitudes face a diferentes objectos e como se organizam entre si. Categoria de resposta: M Mooddoo ddee rreessppoossttaa V Veerrbbaall N Nããoo vveerrbbaall A Affeeccttooss C Coom mppoorrttaam meennttooss C Cooggnniiççõõeess - Sentimentos - Emoções expressos - Intenções comportamentais - Crenças (“belives”): construção cognitiva - Repostas fisiológicas que acompanham a expressão das atitudes - Comportamento “aberto” (comportamento de aproximação ou afastamento dos objectos) - Respostas perceptivas (por exemplo: tempo de reacção…) Em síntese: as atitudes referem-se a experiências subjectivas e incluem sempre uma dimensão avaliativa. Uma confusão no estudo das atitudes e que a generalidade dos autores tende a evitar é a assimilação do afecto à avaliação – o afecto não é isomórfico à avaliação porque podem existir avaliações baseadas apenas em cognições, ou seja, podem existir avaliações que não tenham uma dimensão afectiva. O termo afecto deve ser exclusivo para emoções e sentimentos. Em 1959, um sociólogo LLaazzaarrssffeelldd, procurou sistematizar um conjunto de conceitos disposicionais de acordo com três dimensões: 1. Proposta para categorizar os conceitos disposicionais com a designação de campo de acção: ele categorizava as ddiissppoossiiççõõeess ccoom moo eessppeecciiffiiccaass vveerrssuuss ggeerraaiiss (um valor seria uma disposição geral e uma atitude/uma disposição especifica). 2. Dinâmica: expressar o grau de ligação da disposição ao objecto intencionado. De acordo com esta dimensão as ddiissppoossiiççõõeess ddiivviiddiirr--ssee--iiaam m eem m ppaassssiivvaass oouu ddiirreeccttiivvaass (exemplo: a atitude tem uma intencionalidade passiva, em contraposição o desejo exprimiria uma dimensão directiva). 3. Horizonte temporal: orientação das disposições que podem ser ddiirreecccciioonnaaddaass ppaarraa oo pprreesseennttee oouu ppaarraa oo ffuuttuurroo (por exemplo: as necessidades estão orientadas para o presente enquanto os planos se orientam para o futuro). PPrreesseennttee EEssppeecciiffiiccoo G Geerraall FFuuttuurroo EEssppeecciiffiiccoo G Geerraall PPaassssiivvaa - Preferências - Opiniões - Atitudes - Certos traços de personalidade (mais genéricos: largueza de espírito) -Valores - Quadros de referência (ideologias) - Previsões D Diirreeccttiivvaa - Necessidades - Desejos - Outros traços de personalidade (com uma componente motivacional mais forte – agressividade) - Intenções - Planos de acção - Tendências - Inclinações FFuunnççõõeess ddaass aattiittuuddeess:: tem funções na organização do nosso mundo, pode ter funções motivacionais e expressivas da própria personalidade. Procura estudar os objectivos de ter atitudes, o que - 155 - eles desempenham nas interacções sociais. Tem a ver com dimensão funcional das atitudes (aspectos motivacionais de direcção para a acção). Sendo um produto cognitivo tão comum podemos perguntar-nos para que servem as atitudes. A resposta a esta questão tem sido encontrada por 4 vias: 1. TTeeoorriiaass qquuee ssaalliieennttaam m aass ffuunnççõõeess m moottiivvaacciioonnaaiiss ddaass aattiittuuddeess (valor para o próprio individuo): teve origem em autores de formação psicanalítica como Katz (1960) e foi depois continuado por outros autores que salientaram a importância de estudarmos as atitudes no contexto das funções que têm para os indivíduos. Para Katz a sua perspectiva funcionalista representa a tentativa de compreender as razões que levam as pessoas a manter as suas atitudes. As razões, no entanto, estão ao nível das motivações psicológicas e não ao nível do acaso de acontecimentos e circunstâncias exteriores. A menos que conheçamos as necessidades psicológicas que sustentam uma atitude, estamos em má posição para predizer o quando e como da sua medição. Katz e outros autores, definiram um grande número de funções específicas que as atitudes podem cumprir, que outros autores sistematizaram em duas grandes categorias: (1) funções instrumentais ou avaliativas – prendem-se com a avaliação de custos e benefícios da atitude, optando o indivíduo pela atitude que lhe permita obter o melhor ajustamento social, maximizando as recompensas sociais e minimizando as punições e (2) funções simbólicas ou expressivas – têm a ver com a utilização das atitudes enquanto forma de transmitir os valores ou a identidade do sujeito, permitindo-lhe proteger-se contra conflitos internos ou externos, e preservar a sua imagem. Para Herek (1986), as atitudes tem funções instrumentais e expressivas. 2. TTeeoorriiaass qquuee ssaalliieennttaam m aass ffuunnççõõeess ccooggnniittiivvaass ddaass aattiittuuddeess (diz respeito à organização do mundo pessoal): autores mais recentes têm vindo a salientar as funções cognitivas das atitudes, ligadas à forma como elas influenciam o modo é processada a informação. Estas perspectivas actuais enraízam-se nos estudos de autores cognitivistas dos anos 50, que, partindo de pressupostos motivacionais, procuraram mostrar a importância de determinados princípios gerais na forma como se organiza a cognição humana, nomeadamente as atitudes. Dois dos princípios mais importantes são (provém de duas das mais importantes teorias da Psicologia Social): (2) PPrriinncciippiioo ddoo eeqquuiillííbbrriioo (modelo de equilíbrio de Heider – 1958): é um dos modelos mais importantes e foi formulado por Heider para definir o princípio organizador do “ambiente subjectivo” do indivíduo, isto é, forma como ele percepciona o meio em que vive. Podemos hoje considerar que a teoria do equilíbrio se refere à forma como os indivíduos articulam as diferentes atitudes. A teoria pressupõe que este ambiente subjectivo pode ser representado graficamente sob a forma de tríades – no entanto nem todas as tríades têm o mesmo valor para o sujeito. A partir deste modelo, podem-se prever mudanças atitudinais no sentido de equilíbrio do sistema. As bases da teoria do equilíbrio (Heider, 1958), assentam na descrição do ambiente subjectivo dos sujeitos, utilizando-se 3 conceitos básicos: I. Indivíduo que percepciona, aquele que constrói o ambiente subjectivo e que activamente procura dar sentido ao que o rodeia – este indivíduo é depois representado nas representações gráficas como P. II. Entidade, isto é, a pessoa ou o objecto físico ou social existente no meio que envolve o sujeito – representado graficamente como O (se for pessoa) e X (se for um objecto). - 156 - III. Relação, isto é, a atitude positiva ou negativa que une duas pessoas ou uma pessoa e um objecto – representada graficamente por um sinal + ou por uma linha contínua no caso de ser um sentimento positivo (gosta de, concorda com, possui…) ou por um sinal - ou uma linha tracejada no caso de um sentimento negativo (não gosta de, discorda de, não possui…). Esta relação pode assumir a forma de uma atitude favorável ou desfavorável de P face a X. Considera a existência de 3 entidades: pessoa (P), objecto (O) e outra entidade (X), onde se estabelecem rreellaaççõõeess ddee uunniiddaaddee (caracterizam a relação cognitiva: quando os sujeitos percebem que estão relacionados) e rreellaaççõõeess ddee sseennttiim meennttoo (diz respeito à avaliação a afectos que podem ser mais ou menos entre as 3 entidades). O ambiente subjectivo do sujeito é descrito por esta teoria como um conjunto de entidades e das suas relações, tal como são percepcionadas por um indivíduo. Cada situação pode então ser descrita graficamente em termos de tríades, situando as relações percebidas pelo indivíduo entre si próprio e duas entidades, o que, em teoria, permite a definição das seguintes 8 situações que se representam em seguida. Na linha de cima encontram-se as tríades equilibradas e na linha de baixo as tríades desequilibradas. Na linha de cima: Heider considera que existe uma situação de equilíbrio quando um indivíduo percebe concordância de posição em relação a alguém de quem gosta, ou de discordância de quem não gosta. Na linha de baixo: as relações desequilibradas representam casos em que o indivíduo percebe a discordância em relação a pessoas com quem gosta ou concordância em relação a pessoas de quem não gosta. Heider define estado equilibrado como um “estado harmonioso em que as entidades que estão na situação e os seus sentimentos se ajustam sem tensão”. Assim, postula, em termos de princípio organizador da construção do ambiente subjectivo, que as situações equilibradas são preferidas a situações desequilibradas, por serem formas perceptivas e por evitarem a tensão. A aplicação deste princípio levou desde logo ao aparecimento de consequências práticas em termos de processamento de informação, que salientam a importância das atitudes como sinalizadores da realidade: conhecendo duas relações entre as entidades que constituem uma tríade, tendemos a completar a situação de forma equilibrada, as situações organizadas de uma forma equilibrada seriam mais estáveis e mais resistentes à mudança, mantendo uma tendência à constância das posições cognitivamente mais simples. (3) PPrriinncciippiioo ddaa rreedduuççããoo ddaa ddiissssoonnâânncciiaa ccooggnniittiivvaa: foi formulada em 1957, por Leon Festinger – sendo uma das teorias mais conhecidas e aplicadas (mesmo em termos práticos). Por exemplo: fumar faz mal à saúde mas então porque é que as pessoas fumam? Porque sabe bem Para aliviar o stress Devido à dependência Para estar ocupado e passar o tempo O pressuposto básico desta teoria é que as nossas atitudes, crenças e comportamentos devem ser coerentes entre si – deve haver uma certa coerência entre o que as pessoas pensam e como se comportam. O seja, foi formulada para explicar a necessidade que existe em todos os indivíduos de se encontrarem em - 157 - consonância entre as diversas cognições que têm a respeito de um mesmo objecto. Ao contrário de Heider, a questão de Festinger não se prende tanto com a questão da relação entre diferentes atitudes, mas com a consistência interna de uma mesma atitude. A dissonância cognitiva refere-se à relação entre duas cognições incompatíveis face ao mesmo objecto, ou, segundo Festinger existência simultânea de cognições que não se ajustam entre si (em, que a existência de uma cognição implica a presença do contrário da segunda cognição). Logo, o princípio básico desta teoria tem, como a perspectiva de Heider, bases motivacionais e postula que um estado de dissonância cognitiva é psicologicamente desagradável (experienciam um desconforto psicológico), constituindo uma motivação, uma activação do organismo no sentido da sua redução ou da eliminação. É dissonância cognitiva porque vem de cognição. Festinger entende por cognição todo o conhecimento, opinião ou crença sobre nós próprios, sobre o meio (físico ou social) ou sobre o nosso comportamento. A cognição é um conhecimento de causa – além disso, duas cognições entre si podem ser consoantes (quando uma cognição decorre da outra: “fumar faz mal à saúde por isso não fumo”) ou dissonantes (quando o inverso de uma cognição decorre de outra: “fumo mesmo sabendo que faz mal à saúde”). Contudo, tanto as cognições consoantes como as dissonantes são cognições relevantes – isto é, existe uma relação entre elas, mas quando não existe uma relação entre as cognições diz-se que são cognições irrelevantes (por exemplo: “é segunda-feira e está frio”). Se tivermos em conta as inúmeras cognições dentro de nós e que nos ocorrem durante todo o dia, é perfeitamente normal que experienciemos algumas cognições dissonantes (desconforto psicológico). A activação para reduzir a dissonância é tanto maior quanto maior for a dissonância cognitiva. Assim, há várias formas de reduzir a dissonância: Existe uma fórmula para calcular o desconforto/dissonância que estamos a sentir – chama-se fórmula da taxa de dissonância: Numero x importância dos elementos dissonantes Numero x importância dos elementos dissonantes numero x importância dos elementos concordantes Então, entre as estratégias para diminuir a dissonância temos: Diminuir o numero e/ou a importância dos elementos dissonantes (“fumar só faz mal aos outros”). Aumentar o numero e/ou a importância dos elementos consonantes (“fumo porque sabe bem”). Evitamento cognitivo – evitamento da informação que posso causar alguma dissonância. Deste modo, o processo de redução da dissonância apresenta-se como um exemplo da forma como as atitudes influenciam o processamento de informação, especificamente, através da procura activa de informação relevante acerca do objecto de atitude. Nem todas as dissonâncias tem igual amplitude – há dissonâncias mais importantes do que outras (as mais importantes tem a ver com o nosso próprio auto-conceito, provoca uma maior dissonância aquilo que põe em causa o que pensamos que somos). Ou seja, nem todas as cognições incompatíveis nos produzem dissonância – para tal é preciso que as cognições sejam percebidas como relevantes. As consequências das atitudes traduzem todas um enviesamento selectivo congruente com a atitude. A exposição selectiva refere-se ao facto de indivíduos com uma atitude definida relativamente a determinado objecto procurarem expor-se à informação que confirme a sua atitude inicial, evitando a informação contrária. Este fenómeno foi explicado pela Teoria da dissonância cognitiva como uma busca de cognições congruentes. Este está particularmente presente em situações em que a dissonância cognitiva é maior ou em que as fontes de informação são credíveis. A percepção selectiva refere-se a uma fase posterior do processamento de informação, caracterizado por uma distorção da percepção, de modo a avaliar de forma mais positiva a informação congruente com a atitude e a desvalorizar a informação incongruente. A memória selectiva refere-se também à maior facilitação de memorização da informação consistente com a atitude. Em relação à memória estudos recentes não corroboram os estudos antigos, nos anos 50. Deste modo, os estudos confirmaram a existência de uma relação entre atitude e memória, mas apenas para os sujeitos de determinadas características de personalidade. Porque há resistência dos elementos da dissonância à mudança? Porque é que há certos elementos mais resistência que outros? - 158 - Há resistência à mudança pelos eelleem meennttooss ccooggnniittiivvooss ccoom mppoorrttaam meennttaaiiss. Para os elementos cognitivos uma das razões para a resistência à mudança é a receptividade dos elementos à realidade (“eu fumo” – é impossível mudar a realidade), a mudança pode ser dolorosa ou envolver prejuízos (“se deixar de fumar vou ficar mais ansiosa, vou engordar…”), o comportamento actual pode ser satisfatório em todos os demais aspectos (“fumar faz mal mas fumo porque alivia o stress, faz passar o tempo…”), é impossível efectuar a mudança (as pessoas que tem fobias de pombos sabem que estes não fazem mal nenhum, em termos racionais, mas élhes impossível mudar esse comportamento). Também há resistência à mudança dos eelleem meennttooss ccooggnniittiivvooss aam mbbiieenncciiaaiiss devido à receptividade dos elementos à realidade, esse elemento pode ter muitas consonâncias com muitos outros elementos (se está consonante com grande numero de outros elementos e tenta minimizar uma dissonância vai provocar uma dissonância com muitos outros elementos – ou seja, há muitos elementos consonantes que se sobrepõe ao dissonante). A taxa máxima de dissonância que pode haver entre duas cognições é igual à resistência à mudança do elemento menos resistente (a partir do momento em que o elemento menos resistente deixa de resistir, então, deixa de haver dissonância). 3. TTeeoorriiaass qquuee ssaalliieennttaam m oo ppaappeell ddee oorriieennttaaççããoo ppaarraa aa aaccççããoo –– aattiittuuddeess ee ccoom mppoorrttaam meennttoo. 4. TTeeoorriiaass qquuee ssaalliieennttaam m aass ffuunnççõõeess ssoocciiaaiiss ddaass aattiittuuddeess. R Reellaaççõõeess eennttrree aattiittuuddeess ee ccoom mppoorrttaam meennttooss: diz respeito ao estudo das relações entre as atitudes e os comportamentos. IIm mppaaccttoo ddaass aattiittuuddeess nnoo ccoom mppoorrttaam meennttoo: no início do estudo das atitudes estava implícita na perspectiva dos seus autores a coerência entre atitudes e comportamentos, daí a grande ênfase dada pelos psicólogos sociais à construção de escalas de atitudes. O conceito ttrraaççoo servia para prever os comportamentos. Existiam relações fortes entre os traços de personalidade e o comportamento manifestado. Em 1968, M Miisscchheell provocou uma grande polémica ao dizer que tudo o que dizia respeito ao traço e ao comportamento tinha fraca demonstração empírica. Considerou o conceito traço como insustentável, pois não havia correlações elevadas entre traços e comportamentos. Em 1969, LLiikkeerrtt fez um estudo de revisão de literatura sobre a relação entre atitudes e comportamentos – onde encontrou baixas correlações, o que demonstra que não se podem predizer os comportamentos pelas atitudes. A questão do poder preditivo das atitudes avaliadas por questionários foi claramente colocada por LLaaPPiieerree (1934). Os resultados do seu estudo demonstraram que é possível haver uma manifestação de tolerância ao nível comportamental e simultaneamente uma expressão de intolerância ao nível atitudinal, pelo que foram interpretados como reflectindo uma inconsistência entre atitudes e comportamentos – ou seja, na experiência que realizou também verificou que não existia uma correlação forte entre atitudes e comportamentos. Esta discrepância entre atitudes e comportamentos está bem ilustrada empiricamente, quer por réplicas do estudo de LaPiere, quer por estudos de orientação psicométrica, relativos à validade preditiva de escalas de atitudes. Face a este aspecto a posição de alguns autores é a de salientar a inutilidade pratica do estudo das atitudes, como previsores do comportamento humano, interessando-se apenas pelo seu papel na justificação posterior do comportamento. Ou seja, a relação entre as atitudes e o comportamento é ma relação mais postulada do que demonstrada. E, segundo, Eiser o conceito de atitude é um conceito dispensável. No entanto a Psicologia Social de orientação cognitivista não podia aceitar esta perspectiva de corte radical entre pensamento e acção, e desenvolveu esforços no sentido de explicar a discrepância entre atitudes e comportamentos, procurando daí colher ensinamentos que permitissem aumentar a correlação entre estas duas variáveis. As frases que constituem as escalas de atitudes apresentam o objecto de atitude a um nível extremamente geral e quando referem situações, elas são descritas de uma forma tão simplificada que não têm nada de concreto. Assim, estes falam do grau de generalidade com que se avaliam as atitudes – a generalidade do indicador das atitudes e a especificidade da situação observada - 159 - parece mesmo, no estudo de LaPiere, funcionar de modo a maximizar a discrepância entre atitude e comportamento. A tentativa de compatibilizar o grau de especificidade do comportamento e das atitudes foi conseguida por duas vias diferentes: (1) Do ponto de vista psicométrico, parece incorrecto procurar-se a relação entre atitudes gerais normalmente medidas por escalas de atitudes com múltiplos itens e comportamentos específicos, medidos apenas com um único indicador. Deste modo alguns investigadores procuraram compatibilizar também o nível de generalidade do comportamento, estendendo as observações a diversos comportamentos associados à atitude. Wiegel e Newman (1976) vêm mostrar que não são apenas as atitudes específicas face a comportamentos que permitem a previsão das acções, mas que as atitudes gerais face a objectos se relacionam sistematicamente com os índices comportamentais. (2) Uma outra via de resposta às diferenças entre o nível de especificidade entre atitudes e comportamentos tem sido procurada noutras perspectivas. Fishbein e Ajzen (1975) afirmam que as atitudes são importantes factores na previsão do comportamento humano, mas distinguem entre as atitudes gerais face a um objecto e as atitudes específicas face a um comportamento relacionado com o objecto de atitude. Enquanto que as atitudes específicas seriam úteis na previsão de um comportamento específico, só o influenciariam de forma indirecta, com uma tendência para a acção tal como é expresso na definição de Eagly e Chaiken (1993). A Ajjzzeenn ee FFiisshhbbeeiinn afirmaram que esta deficiência na relação das atitudes com o comportamento resultava de dificuldades metodológicas na concepção desta relação. Assim, propuseram duas soluções: 3. Agregação de atitudes 4. Identificação de factores moderadores (variáveis que pudessem moderar a relação entre atitudes e comportamentos). Então, propõem a tteeoorriiaa ddaa aaccççããoo rreefflleeccttiiddaa – distinguiram entre atitudes gerais e específicas, conceptualizaram que o comportamento é uma escolha, uma opção ponderara entre várias alternativas. Pelo que, o melhor preditor do comportamento será a intenção comportamental (sendo a atitude especifica apenas um dos dois factores importantes na decisão) que, por sua vez, eram determinadas por atitudes específicas. Esta atitude face ao comportamento é vista neste modelo, de acordo com as perspectivas de expectativa-valor (ou seja, como resultado de um somatório das crenças acerca das consequências do comportamento – expectativa – pesadas pela avaliação dessas consequências – valor). O outro factor importante na definição da intenção comportamental tenta integrar as pressões sociais e refere-se à norma subjectiva face ao comportamento (às pressões significativas que afectam a realização do comportamento). Também esta norma subjectiva é vista como o resultado do somatório das crenças normativas (expectativas acerca do comportamento que os outros significantes pretendem que o individuo adopte), pesado também pelo valor destas crenças (motivação para seguir cada um dos referentes). Os trabalhos que operacionalizaram este modelo encontraram correlações bastante elevadas entre a intenção e o comportamento, variando contudo com: a proximidade temporal do comportamento, especificidade da situação apresentada, experiência anterior do sujeito nas situações. Esquematicamente a tteeoorriiaa ddaa aaccççããoo rreefflleeccttiiddaa (Fishbein e Ajzen, 1975): - 160 - Crenças Expectativas de que o comportamento provoca determinados resultados Crenças Crenças normativas (indivíduos ou grupos específicos pensam que o sujeito deve ou não concretizar o comportamento) Avaliação (valor) dos resultados esperados Motivação para o conformismo, para seguir o que os grupos ou indivíduos específicos pensam sobre o comportamento Atitude face ao comportamento Importância relativa dos factores atitudinais e normativos no comportamento Norma subjectiva relativa ao comportamento Intenção comportamental Comportamento A teoria da acção reflectida vê a atitude específica como um dos preditores do comportamento podendo, em certos tipos de comportamentos ou em certas populações, a norma subjectiva ter peso na determinação comportamental. Por isto, o modelo da acção reflectida inclui ainda uma variável intermédia, referente ao peso relativo das atitudes e das normas na definição da intenção comportamental. Esta variável remete para os estudos empíricos a definição da importância relativa destes dois componentes no caso específico de cada situação e de cada população a analisar. O modelo da acção reflectida teve um enorme êxito empírico, tendo sido aplicado com sucesso em muitos domínios. No entanto, muitos estudos posteriores vieram mostrar a importância de factores exteriores ao modelo da predição dos comportamentos (o modelo é melhorado com a introdução de uma variável exterior: o comportamento anterior do indivíduo). Face a estas criticas, os autores costumam salientar que a teoria se aplica a situações de tomada de decisão (daí o seu nome de comportamento reflectido) e não a comportamentos habituais, onde a componente de decisão é muito menor. Posteriormente, em 1988, A Ajjzzeenn, numa tentativa de alargar a teoria a comportamentos que estavam fora do controlo volitivo do sujeito, reformula o modelo. Mantendo a sua estrutura básica, acrescentou um terceiro determinante da intenção comportamental uma nova variável – o controlo percebido sobre o comportamento (a capacidade do indivíduo controlar o seu próprio comportamento). Esta variável, que corresponde em grande parte ao conceito de auto-eficácia, e permite incluir, indirectamente, a experiência anterior com o comportamento. Assim, comportamentos habituais são percebidos como fáceis de pôr em prática e portanto com elevados níveis de controlo percebido. Esta extensão da teoria inicial tem permitido aumentar significativamente a capacidade preditiva do modelo em muitas situações, mas parece insuficiente para alguns autores. Por exemplo, Terry e Hogg (1996) criticam a forma limitada como a norma subjectiva é conceptualizada. Através da teoria de autocategorização, mostram que a norma subjectiva não deve ser concebida apenas em termos interpessoais, mas que a sua reconceptualização em termos grupais e de influência social permite uma melhor compreensão do comportamento. Por outro lado, Manstead (1996) salienta que a introdução de variáveis emocionais na predição da intenção comportamental aumenta o poder preditivo do modelo. Então, segundo o modelo do comportamento planeado (teoria da acção planeada) existem três elementos que levam ao comportamento. Atitude face ao comportamento Norma subjectiva Intenção Comportamento Controlo comportamental percebido Todos os modelos referidos pressupõem um certo grau de controlo do pensamento atitudinal. No entanto, desde os anos 80 que os trabalhos de Fazio têm vindo a mostrar que as atitudes muito acessíveis orientam o comportamento através da activação de processos automáticos. Em 1982, Fazio, Chen, - 161 - McDonel e Sherman mostraram que os indivíduos que têm atitudes baseadas na experiência directa respondem em escalas de atitudes informatizadas com um tempo de latência menor, e apresentam uma maior correspondência entre atitudes e comportamentos. Esta linha de estudos levou aos autores mostrarem que há uma activação automática das atitudes altamente acessíveis na presença do objecto de atitude, o que levaria, através da centração da atenção selectiva nos aspectos congruentes com a atitude, a uma definição da situação de forma a tornar altamente provável a ocorrência do comportamento. Em 1990, Fazio propõe um novo modelo de relação de atitudes e comportamentos: modelo MODE. Salienta a importância da activação automática das atitudes (que conduz à activação de crenças congruentes com essa atitude), estas activam-se pela definição do acontecimento – esta definição pode ser influenciada pelas normas dos grupos em que o individuo se insere. Esquema do modelo MODE (Fazio, 1990): Activação da atitude Percepção selectiva Percepção imediata do objecto Normas Definição da situação Definição do acontecimento Comportamento Ao salientar a importância da activação automática das atitudes, Fazio está bem longe da perspectiva racionalista dos modelos da tradição dos de Fishbein e Ajzen, e apresenta-se mesmo como alternativo a estes. No entanto, como notam Eagly e Chaiken (1993), as duas perspectivas apresentam-se antes como complementares, porque, apesar de Fazio ter mostrado convincentemente a activação automática das atitudes e a sua importância na definição da situação, desde esta até a comportamento podem intervir muitas variáveis e seria então aí que o modelo de Fishbein e Ajzen poderia ser útil. IIm mppaaccttoo ddoo ccoom mppoorrttaam meennttoo nnaass aattiittuuddeess: desde os anos 50 que diferentes autores salientavam a importância da realização de comportamentos como forma de mudar atitudes. As técnicas de role-playing ou jogo de papéis foram muito utilizadas em psicoterapia para promover mudanças de atitudes. Mas o trabalho que assinalou de forma mais evidente a importância do comportamento contraindividual foi publicado por Janis e King (1956), com estudantes. Os resultados da sua experiência mostraram que os sujeitos que tinham que improvisar um discurso revelavam, no final, uma atitude mais favorável em relação ao assunto do que os alunos que simplesmente tinham que ler um texto. Janis e King interpretaram esta mudança de atitudes como resultado de um processo de autopersuasão: a improvisação exigiria uma maior reflexão sobre o tema, uma elaboração de novos argumentos e finalmente estes argumentos tornar-se-iam mais salientes para o sujeito que era levado a reconsiderar a sua posição inicial. Trata-se, assim, de uma explicação cognitiva para a mudança de atitudes derivada do comportamento contra-atitudinal. Esta interpretação dos resultados é contestada por Festinger (1959). Este autor defende que a mudança de atitudes não se verifica pelo efeito persuasivo dos argumentos mas pela necessidade básica de consonância cognitiva – assim, na experiência realizada por Janis e King, segundo Festinger, já que existem dois elementos cognitivos incompatíveis, provocariam no sujeito uma sensação de desconforto que gera uma motivação para mudar algum dos dois argumentos, de modo a diminuir a dissonância. Mas como os comportamentos passados são impossíveis de mudar, tenderia a verificar-se uma mudança de atitude para repor a consonância. Esta interpretação do comportamento contra-atitudinal situa-se claramente dentro da teoria da dissonância cognitiva proposta por este autor. Para provar a aplicação da interpretação da teoria da dissonância cognitiva ao caso do comportamento contra-atitudinal, Festinger e Carlsmith (1959) realizaram um dos mais famosos estudos de Psicologia Social em que constroem uma situação que expõe o sujeito voluntariamente a um comportamento contra-atitudinal. Este estudo mostra que é apenas quando o indivíduo não tem outra forma de reduzir a dissonância que muda as atitudes. Deste modo, a teoria da dissonância cognitiva permite prever que não são só as atitudes que orientam os comportamentos, mas que também os comportamentos voluntários levam a mudança de atitudes. - 162 - PPrroocceessssoo ddee ffoorrm maaççããoo ddee aattiittuuddeess:: mudança de atitudes: estudar os mecanismos de aprendizagem através dos quais se desenvolvem as atitudes. Pressupõe-se que os processos de formação são os mesmos processos de mudança de atitudes. Os processos utilizados para a mudança de atitudes são as estratégias de persuasão. Existem três processos básicos susceptíveis de conduzir à mudança de atitudes: Persuasão. Exposição directa ao objecto e à atitude. Modificação das contingências dos comportamentos associados à atitude (mecanismos básicos de aprendizagem). O principal mecanismo de mudança de atitudes é a persuasão: é quase comparada com a educação, pode ir de uma acção pedagógica formal aos meios mais informais. PPrrooppaaggaannddaa ee m muuddaannççaa ddee aattiittuuddeess: a pesquisa sistemática sobre as formas através das quais as atitudes podem mudar como resultado de um processo de comunicação nas nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, como resultado de um processo da consciência de que a máquina de guerra alemã usava os meios de comunicação social como forma de propaganda das ideias nazis. Esta tomada de consciência veio suscitar dúvidas importantes na sociedade e nos cientistas sociais americanos: Até que ponto as atitudes mudam por exposição a estas mensagens persuasivas. Qual o efeito da contra-propaganda. Como deve ser construída uma mensagem para que leve de facto a uma mudança de atitudes. Como se podem usar os media para construir. Em 1940, Lasswell produziu um documento intitulado: “Research in communication” importante para o desenvolvimento da pesquisa sobre a persuasão. Este autor resumia o problema da investigação sobre os temas da comunicação a 4 grandes categorias: (1) quem, (2) disse o quê, (3) a quem, (4) com que efeito? E este foi de facto um paradigma muito usado na pesquisa posterior sobre a comunicação persuasiva. Vários estudos mostraram que os meios de comunicação social tinham efeitos limitados e não universais na formação e mudança de atitudes. O Om mooddeelloo ddee ccoom muunniiccaaççããoo ppeerrssuuaassiivvaa: os resultados de vários estudos permitiram concluir que o efeito da comunicação persuasiva não é imediato nem tão simples como parecia no início. Neste contexto de menorização da influência da comunicação persuasiva na formação e mudança de atitudes, um grupo de investigadores coordenados por Hovland desenvolve, de uma forma estruturada, um conjunto de estudos experimentais em que se tenta mostrar os efeitos da fonte, do canal, da mensagem e do tipo de audiência. A comunicação persuasiva é uma estratégia de mudança de atitudes, via mediação social. Existem, assim, três factores fundamentais, cada um deles tendo características específicas, de modo a maximizar a persuasão: Quem – ffoonnttee: ter boa apresentação, credibilidade, deve ser uma pessoa atraente, enfática, estar segura daquilo que diz, deverá ser especialista na matéria de modo a dar confiança ao ouvinte. Deve-nos ser familiar e o seu estatuto social deve ser próximo do ouvinte. O quê – ccoonntteeúúddoo ddaa m meennssaaggeem m: a mensagem deve ser não intencional, ou seja, a persuasão é maior quando a conclusão é deixada implícita do que quando ela é explicitada. Só se devem apresentar as vantagens do produto. As mensagens mais persuasivas devem desencadear reacções emocionais. Quem – rreecceeppttoorr (atributos da audiência): é importante que o sujeito esteja distraído porque assim induz mais persuasão. São mais influenciados os sujeitos com auto-estima média (nem alta nem baixa). A idade mais susceptível de persuasão é entre os 18 e os 25 anos. As pessoas com níveis de inteligência mais baixos são também mais influenciáveis. Também depende das características de personalidade. Um dos autores que se debruçou neste estudo foi H Hoovvllaanndd (1953) que pertencia ao grupo da escola de Yale. Ele estudou quem deve dizer o quê e a quem de modo a haver persuasão. O modelo teórico de Hovland pressupõe que o impacto da comunicação se dê em três fases sucessivas (a fase de mudança de atitudes vai ocorrer numa destas fases): - 163 - 1. 2. 3. Fase da atenção à mensagem. Fase de compreensão do conteúdo. Fase da aceitação das conclusões. A mudança de atitude estaria assim dependente de processos cognitivos anteriores (atenção, memória e compreensão). Alguns anos mais tarde, McGuire cria o M Mooddeelloo BBiiffaaccttoorriiaall (1968) desenvolve estes processos identificados pela escola de Yale numa sequência do processamento da informação em 5 etapas, em que a falha em qualquer delas faria terminar o processo (assim, têm de existir as cinco etapas para haver persuasão): 1. Atenção: para haver persuasão a audiência tem de estar atenta à mensagem. 2. Compreensão: para haver persuasão a audiência tem de compreender os argumentos que ouviu e identificar o significado da mensagem. 3. Aceitação: a audiência tem de concorda com as conclusões apresentadas. 4. Retenção Mnésica: a mudança de atitude deve manter-se na memória durante algum tempo. 5. Acção: a mudança de atitudes deve ter consequências comportamentais. Atenção x Compreensão x Aceitação x Retenção x Comportamento A atenção é o componente motivacional. Enquanto a compreensão é o componente cognitivo – aqui, a inteligência tem um efeito paradoxal porque favorece a recepção da mensagem mas pomos mais obstáculos à aceitação da mensagem. Outra preocupação da escola de Yale foi estudar factores de resistência à mudança de atitudes. Um estudo realizado por Lumesdain e Janis (1953) mostraram que conseguiam mudar as atitudes de estudantes universitários expostos a mensagens persuasivas, mas que esta mudança só se mantinha face à posição contrária quando a mensagem inicial incluía argumentos bilaterais. McGuire (1964) desenvolveu estas ideias identificando duas formas através das quais a nossa experiência passada pode fortalecer a resistência à mudança: Dar mais argumentos favoráveis à opinião do indivíduo (criar defesas através do apoio). Expondo as pessoas a opiniões contrárias, de modo que ela fortaleça a contra-argumentação e crie inoculação contra a mudança (defesa através de refutação). A inoculação, segundo o autor, é muito mais eficiente na criação de defesas face à mudança de atitude. Os estudos sobre a persuasão tiveram, a partir dos trabalhos pioneiros da escola de Yale, muitos continuadores. No entanto, nos anos 80, esse enorme corpo empírico apresenta resultados contraditórios. Petty e Cacioppo (1986) afirmam mesmo que a literatura existente apoiava a ideia de que praticamente qualquer variável independente estudada aumentava a persuasão em algumas situações, não tinha efeito noutras e ainda baixava a persuasão noutros contextos. D Duuaass vviiaass ppaarraa aa m muuddaannççaa ddee aattiittuuddeess: esta constatação vem estimular a procura de variáveis de nível mais geral que permitissem discriminar os processos cognitivos que estão na base da persuasão. Chaiken (1980, 1987) e Petty e Cacioppo (1981, 1986) vêm exactamente propor uma nova forma de abordar o processo por uma nova forma de abordar o processo de persuasão. Assim, a principal conceptualização contemporânea de comunicação persuasiva é a de Petty e Cacciopo, que procuraram identificar quais os processos básicos responsáveis pela eficácia das mensagens persuasivas e quais os processos presentes no modelo de McGuire. A ideia básica é que a persuasão nem sempre é o resultado de um longo caminho cognitivo, esforçado e racional, com as etapas identificadas por McGuire sugerem. Isto é, nem sempre mudamos de opinião por termos ouvido com atenção os argumentos que nos são dados, verificarmos a sua validade e aceitarmos a posição e retendo a mudança. Muitas vezes somos persuadidos porque a pessoa que nos está a tentar influenciar é bonita, parecenos honesta, é persistente, o tema não nos interessa assim muito, … Nestas situações, não nos damos ao trabalho de elaborar cognitivamente as mensagens e, em vez de percorrermos todo o percurso cognitivo, - 164 - desde a atenção até à aceitação, optamos por um atalho que nos evita a fase da compreensão e elaboração da mensagem e nos leva directamente para a aceitação. Estes autores caracterizam, assim, dois tipos de processamento cognitivo das mensagens cognitivas: 1. Processamento sistemático (Chaiken) ou processamento central (Petty e Cacciopo) – que envolve a elaboração cognitiva da mensagem e que seguiria mais de perto as etapas previstas dos modelos mais racionalistas da tomada de decisão. Na estrada/no caminho principal os sujeitos despendem esforço, pois implica uma avaliação cognitiva elaborada sobre os argumentos persuasivos. Pressupõe que a pessoa avalie a informação relevante sobre o objecto, de acordo com o conhecimento que já possui dele, e chegue, de forma ponderadas mas não necessariamente objectiva, a uma atitude que integra a informação obtida. 2. Processamento heurístico (Chaiken) ou processamento superficial ou periférico (Petty e Cacciopo) – que exige menor envolvimento cognitivo. No caminho periférico, não se verifica um esforço de codificação da mensagem e os indivíduos utilizam regras diferentes, mecânicas de aceitação da mensagem, pois implica uma menor elaboração cognitiva, sendo que o sujeito vai minimizar a informação escrutinada e a mudança de atitude dá-se com base em processos que exijam fraca elaboração. OM Mooddeelloo hheeuurrííssttiiccoo--ssiisstteem mááttiiccoo ddoo pprroocceessssaam meennttoo ddaa iinnffoorrm maaççããoo ppeerrssuuaassiivvaa (Chaiken, 1989) salienta que em muitas situações de persuasão fazemos avaliações baseadas em regras simples, que aprendemos durante a nossa vida e que nos evitam de ter de dar muita atenção ao que nos está a ser dito. A activação das regras (heurísticas) leva a que se possa dispensar um processamento do conteúdo da mensagem para que ela seja rapidamente aceite – a publicidade faz apelo à heurística do especialista, mas não é só o indicio de estatuto ou profissão que activam a heurística de especialista, a velocidade com que a fonte fala (um indicador de segurança do discurso), a simpatia da fonte também activam esta heurística. Outra heurística utilizada em publicidade é a do tamanho da mensagem: intervenções mais longas, grandes listagens de argumentos para usar um determinado produto impressionam a audiência… outra, ainda, prende-se com a utilização de gráficos e estatísticas como forma de validar o discurso e activar uma heurística de que os números não mentem. Todas estas heurísticas têm uma base de construção racional. O processamento sistemático da informação pressupõe uma forma controlada de pensamento e a passagem pelas diversas fases de processamento de informação. Designam-no de M Mooddeelloo ddaa pprroobbaabbiilliiddaaddee ddee eellaabboorraaççããoo (Petty e Cacioppo, 1986), define também dois tipos de processamento de informação: processamento central e processamento periférico, que em grande parte se sobrepõe aos dois tipos propostos pelo modelo Heurístico. A grande diferença entre os dois modelos prende-se com o carácter automático do pensamento menos elaborado cognitivamente. Enquanto que o modelo Heurístico-sistemático pressupõe a activação automática das heurísticas, a teoria da probabilidade de elaboração apenas salienta que a via periférica para a persuasão recorre a uma menor elaboração cognitiva das mensagens, sem recorrer ao processamento automático. Este modelo parte do princípio que em determinadas circunstâncias é mais eficaz mudar as atitudes através de factores centrais à comunicação (tal como a força, pertinência ou validade dos argumentos) e noutras circunstâncias a mudança atitudinal pode efectuar-se através de factores secundários à lógica dos argumentos (tal como a atractibilidade ou credibilidade da fonte). O conceito fundamental neste modelo é o de elaboração, isto é, o grau em que a pessoa pensa nos argumentos relevantes existentes na mensagem (ou seja, diz respeito à interpretação e avaliação dos argumentos) – o que pressupõe a existência de factores. Logo, para que se possa aceitar uma mensagem existem dois factores básicos: 1. FFaaccttoorr ccooggnniittiivvoo – tenho que ser capaz de a processar. 2. FFaaccttoorr m moottiivvaacciioonnaall – tenho que estar motivado para receber. Então, a probabilidade de elaboração tem a ver com o grau em que o receptor pensa nos argumentos contidos na mensagem. Então, face a uma comunicação persuasiva o receptor pode pensar mais ou menos no conteúdo da mensagem. O modelo da probabilidade de elaboração considera existir um contínuo que é o grau em que o sujeito pensa os elementos da mensagem. Quando se pensa mais no pólo positivo da mensagem os receptores tem que reter os elementos na memória – prestar atenção, desse modo está a adoptar uma via central de persuasão. Assim, esta via resulta da apreciação cuidada dos argumentos contidos na mensagem e envolve factores, tais como a compreensão, aprendizagem, retenção, auto-produção de argumentos. - 165 - Quando se pensa mais no pólo negativo da mensagem vai haver uma mudança atitudinal através de uma via periférica. Assim, esta via é resultante da mera associação da mensagem com índices de natureza positiva, que podem ser índices mais básicos (fome, medo…) ou índices secundários (poder ou credibilidade da fonte). A via que implica um maior esforço cognitivo é a via central. Nós só vamos adoptar uma via central quando a mensagem é muito importante para nós. Através da via central formam-se atitudes mais duradouras e estáveis, resistente à mudança e à contra-argumentação, são mais consistentemente ligadas ao comportamento. As atitudes modificadas através da via periférica (que envolve as heurísticas) são mais fáceis de modificar (ou seja, instáveis) e estão menos associadas aos comportamentos. Assim, existem algumas circunstâncias que fazem que adoptemos a via central. Petty e Cacioppo consideram a existência de dois factores (condições) que determinam/influenciam qual das duas vias vai ser adoptada (a probabilidade de elaboração das mensagens persuasivas): 1. M Moottiivvaaççããoo: um dos determinantes da motivação é a relevância pessoal, que é a medida em que o tema/assunto tem consequências importantes para a pessoa. Se esse assunto tem uma elevada pertinência para a pessoa adoptamos a via central. Quanto mais pertinente mais motivação existe para que a mudança de atitudes se faça sob a via central. Um outro determinante da motivação é uma característica da personalidade: a necessidade de cognição (há pessoas que gostam mais de pensar do que outras). Uma pessoa com maior necessidade de cognição vão adoptar mais a via central. Assim, quanto maior a necessidade de cognição maior a probabilidade da mudança de atitudes ser feita pela via central. Ainda, outro determinante da motivação é a responsabilidade pessoal. Quando uma pessoa tem mais responsabilidade pessoal vai adoptar a via central (quando existe uma responsabilidade a pessoa tem mais probabilidade de usar a via central). Ou seja, é mais provável que a mudança de atitudes se faça pela via central quando o indivíduo tem uma responsabilidade de tomar uma decisão. 2. C Caappaacciiddaaddee ppaarraa ppeennssaarr nnooss aarrgguum meennttooss: há situações em que mesmo que queiramos ter atenção em algo não conseguimos, ou seja, está associada ao cansaço, distracção, complexidade do tema, falta de informação… – está associado à capacidade de concentração e à capacidade de processamento da informação. Neste caso vai ser adoptada a via periférica (pois se é impossível prestar atenção é impossível adoptar a via central). Na via periférica adoptam-se as heurísticas (exemplos: as pessoas que falam mais rápido e alto são mais seguras daquilo que dizem – assim, são mais persuasivas; as pessoas bonitas dizem sempre a verdade…). Representação esquemática do modelo: Comunicação persuasiva O indivíduo tem motivação e capacidade para processar a informação. Se sim! Ocorre uma mudança atitudinal da estrutura cognitiva (se os argumentos forem relevantes), ocorrendo através de uma via central. Se não! E se os índices periféricos forem positivos ocorre uma mudança atitudinal, através da via periférica. Mas se os índices não estão presentes mantém-se a atitude inicial. IInnvveessttiiggaaççããoo rreeaalliizzaaddaa ppoorr PPeettttyy,, C Caacciiooppppoo ee G Goollddm maann ((11998811)) ppaarraa tteessttaarr eessttee m mooddeellooss ddaa pprroobbaabbiilliiddaaddee ddee eellaabboorraaççããoo O pressuposto teórico da investigação para testar o modelo é: se um tópico tem uma elevada relevância pessoal os indivíduos vão prestar atenção aos argumentos contidos na mensagem. Se, por outro - 166 - lado, um tópico não tem relevância pessoal os indivíduos vão centrar-se na qualidade dos índices secundários à mensagem, isto é, vão adoptar uma via periférica. Os sujeitos foram distribuídos aleatoriamente pelas oito condições experimentais. Esta investigação é caracterizada por ser um plano multifactorial. V Vaarriiáávveeiiss IInnddeeppeennddeenntteess: Envolvimento pessoal, que poderia ter dois níveis: alto ou baixo (no envolvimento pessoal alto era comunicado aos sujeitos que as modificações na avaliação se iria realizar daí a um ano, sendo que os sujeitos eram afectados pela mudança. No envolvimento pessoal baixo era comunicado aos sujeitos que as modificações eram daí a 10 anos – estas mudanças não afectariam os sujeitos). Natureza da fonte, fonte de argumentação, poderia ser de dois níveis diferentes: especialista (um professor de educação da universidade) ou não especialista (uma turma de uma escola secundária local). Qualidade dos argumentos, que podem ser de dois níveis: fortes (dados estatísticos) ou fracos (opiniões pessoais e exemplos). Assim, é um plano factorial 2x2x2, por isso vai ter oito condições experimentais. Passaram-se questionários para verificar o grau de favorabilidade ou não perante a introdução do exame global. FFaavvoorráávveell Fonte: Especialista A Attiittuuddee Fonte: Outra Turma D Deessffaavvoorráávveell A Allttoo BBaaiixxoo EEnnvvoollvviim meennttoo Quando o envolvimento é forte, os sujeitos entram pelo caminho central de descodificação da mensagem. Os que não estão envolvidos optam pela via periférica. O grau de envolvimento tem um efeito diferencial no grau de importância atribuída à fonte. FFaavvoorráávveell Argumentos fortes A Attiittuuddee Argumentos fracos D Deessffaavvoorráávveell A Allttoo BBaaiixxoo EEnnvvoollvviim meennttoo V Vaarriiáávveell D Deeppeennddeennttee: Seria a mudança de atitudes: a variável dependente era a atitude dos sujeitos em relação à implementação de exames globais para os alunos do último ano, como pré-requisito para a conclusão da licenciatura. Foi operacionalizada/medida através de duas escalas: escala de diferenciador semântico e escala de Lickert. - 167 - O problema de investigação consistia em saber em que circunstâncias os indivíduos que assistem a uma comunicação persuasiva adoptam cada uma das vias, central ou periférica. Estes autores propõem duas hipóteses de investigação: Quando o tópico tem uma elevada relevância pessoal (a condição alto envolvimento) a mudança atitudinal vai efectuar-se através da via central. Quando o tópico é irrelevante do ponto de vista pessoal (condição baixo envolvimento) a mudança atitudinal vai realizar-se através da via periférica. Argumentos Envolvimento alto Fonte: especialista Fonte: não especialista Envolvimento baixo Fonte: Fonte: não especialista especialista Fortes 1 (numero da condição experimental) 2 3 4 Fracos 5 6 7 8 Então, em termos de previsão prevê-se que haja uma maior mudança atitudinal na condição 1, 2, 5 e 7. Os autores previam uma interacção entre o envolvimento e a natureza da fonte e previram também uma interacção entre o envolvimento e a qualidade dos argumentos. A principal variável independente seria, então, o envolvimento. As hipóteses foram validadas! No gráfico da fonte verifica-se que existe uma interacção entre a natureza da fonte e o envolvimento. No gráfico sobre os argumentos existe uma interacção entre a qualidade dos argumentos e o envolvimento. Independentemente do envolvimento a fonte mais importante é a especialista, quanto à qualidade dos argumentos são os argumentos fortes que provocam uma maior mudança atitudinal. Verifica-se um efeito principal da fonte e da qualidade dos argumentos e duas interacções. a. b. c. d. e. f. A natureza da fonte é a principal variável independente – Falso! A variável dependente é a posição pró ou contra-atitudinal – Falso! Verifica-se um efeito principal da variável envolvimento – Falso! Verifica-se uma interacção estatisticamente significativa entre o envolvimento e a natureza da fonte – Verdadeiro! A interacção entre o envolvimento e a qualidade dos argumentos não atingiu o limiar de significação – Falso! A fonte especialista é mais eficaz do que a não especialista na condição alto envolvimento – Verdadeiro! g. Os argumentos fracos produzem um maior efeito na condição baixo envolvimento em relação à condição alto envolvimento – Verdadeiro! Quando há envolvimento os argumentos pesam muito mais na manipulação das atitudes (Petty, Cacciopo e Goldam, 1981). Os elementos na publicidade funcionam como estratégia para as pessoas não se centrarem na via central de descodificação de mensagem, são distractores para não haver uma descodificação cognitiva, e por via central, mas por via periférica. Além destes estudos apresentados existem outros que se debruçam sobre a mudança de atitudes. As experiências de Festinger e Carlsmith e de Aronson e Mills são um meio de modificação de atitudes. C Coonnsseeqquuêênncciiaass ccooggnniittiivvaass ddee aaccoorrddoo ffoorrççaaddoo ((FFeessttiinnggeerr & &C Caarrllssm miitthh,, 11995599)) Esta investigação foi feita para validar a Teoria da dissonância cognitiva (esta é a investigação que teve mais impacto devido aos resultados contraditórios). - 168 - O problema inicial/central da investigação é: “o que acontece à opinião privada de uma pessoa quando esta é levada a defender publicamente uma posição contraditória”. A explicação que tem sido avançada para o fenómeno em estudo/problema inicial é a explicação de Janis e King, em termos da auto-persuasão e procura de novos argumentos (as pessoas quando tentam convencer outra pessoa acabam por se convencer a si próprias). Janis e King (1956) fizeram uma experiência na qual chegaram à conclusão que os estudantes quando tinham que improvisar um discurso a favor da ida dos soldados para a guerra, acabavam por modificar mais a sua atitude própria para uma atitude mais favorável. Nesta experiência haviam duas condições experimentais: 1. Um grupo de estudantes que tinham que improvisar um discurso sobre a defesa da ida dos soldados para a guerra do Coreia. 2. Um outro grupo de estudantes que tinha que ler em voz alta um texto, já redigido, que defendia a ida dos soldados para a Coreia. Foram avaliadas as atitudes dos estudantes depois da experiência e o grupo que teve que improvisar o discurso apresentou atitudes mais favoráveis sobre a ida dos soldados para a guerra. Os resultados da investigação foram interpretados a partir de um processo de auto-persuasão. Os estudantes ao tentarem arranjar argumentos convenceram-se a si próprios – as pessoas mudam de opinião porque se convencem a si próprios, então, os valores mais elevados encontravam-se nos que tinham improvisado o discurso (pois procuraram argumentos). Festinger e Carlsmith não ficaram satisfeitos com a investigação e então realizaram outra experiência. Assim, Eu penso A Defendo publicamente posição Ā “Eu penso Ā” Cria-se uma tensão para a diminuir. Então, como não posso mudar a cognição B, porque a defendi publicamente, mudo a cognição A. Eles pretendiam, também, saber o efeito/influência de uma recompensa na mudança de opinião. Enquanto que nas teorias da aprendizagem se defendia que quanto mais recompensado for um comportamento mais aumenta a frequência desse mesmo comportamento, as teorias de dissonância cognitiva defendiam que a recompensa actua como elemento consoante, logo, não era necessário a modificação da opinião. Assim, outro problema adicional que Festinger e Carlsmith pretendem estudar é o efeito de uma recompensa na mudança atitudinal. A explicação avançada para este problema é a explicação de Kelman (1953), que diz que quanto maior fosse a recompensa maior seria a mudança atitudinal – era uma relação directa entre a recompensa maior por defender uma posição contrária à sua e a maior mudança atitudinal, que se explica com base nas leis do reforço. Festinger diz que, segundo a teoria da dissonância cognitiva, isto, defendido por Kelman, não deveria acontecer. Diz, então, que segundo a teoria – quanto menor fosse a recompensa maior seria a mudança atitudinal – ou seja, era uma relação inversa. A hipótese que saiu reforçada foi a de Festinger. Logo, a hipótese geral apontada por Festinger e Carlsmith era considerar que quanto maior fosse a recompensa atribuída ao sujeito por defender uma posição contra-atitudinal menor iria ser a mudança de opinião. Deste modo, Festinger e Carlsmith tentaram testar estas hipóteses da teoria da dissonância cognitiva com uma experiência onde é criada uma situação na qual os indivíduos eram recompensados por defenderem uma opinião contrária à sua. Eles passavam por uma investigação monótona e repetitiva e depois tinham que convencer uma rapariga que a investigação era interessante e valia a pena. - 169 - Eu acho as tarefas monótonas. Eu disse à rapariga que as tarefas eram interessantes Então, o sujeito tinha duas alternativas para reduzir a tensão: b) Modificar as cognições dissonantes, ou seja, a cognição A pois a cognição B, defendida publicamente, não pode ser mudada. c) Adicionar cognições consonantes. O mais adequado a fazer para reduzir a dissonância é mudar uma destas cognições: modificar a opinião A, de modo a esta passar a ser consoante com a posição defendida (ou seja, ele podia aumentar o numero ou a importância dos elementos consoantes). Esta investigação contou com: Participantes: 71, de sexo masculino (estudantes do primeiro ano de psicologia) Condições: 1. Condição de Controlo: que mostra o comportamento puro dos sujeitos sem a introdução da dissonância cognitiva. Na condição controlo, os sujeitos iam modificar a cognição A e passava a achar as tarefas interessantes (houve uma mudança atitudinal). 2. Recompensa um dólar (recompensa muito baixa): nesta condição para reduzir a dissonância eles mudavam a cognição A (tal como na condição controlo), mas além disso, como tinham mais dissonância do que na condição controlo pois tinham a cognição C (de que foram mal pagos – ou seja, mentiam à rapariga por pouco dinheiro), esta cognição era dissonante com a cognição B – logo, vai haver muita mais dissonância cognitiva havendo uma maior pressão para reduzir a dissonância. A estratégia que se revela suficiente na condição controlo que era mudar a cognição A, não é suficiente nesta condição porque apesar de mudar a cognição A ainda havia alguma necessidade de diminuir a dissonância que foi, então, colmatada por outra estratégia – que passa por outra cognição (D) de que a experiência é muito importante a nível cientifico. Esta, por sua vez, é uma cognição consonante com a cognição B – esta cognição D era uma forma adicional de reduzir a dissonância (que consistia em adicionar cognições consonantes). 3. Recompensa 20 dólares (recompensa mais alta): nesta condição, o sujeito reduzia a dissonância adicionando a cognição C, que consistia em considerar que tinha sido bem pago (era uma cognição consonante com a cognição B – de que tinha mentido à rapariga) – é um modo alternativo para diminuir a dissonância. E, no entanto, podemos esperar uma mudança de opinião, da cognição A, mas muito ténue! Logo, a condição em que era esperada uma mudança atitudinal mais forte era na condição 1 dólar, seguidamente na condição de controlo (obviamente a um nível menor) e por fim na condição 20 dólares (onde não havia uma mudança atitudinal expressiva). Assim, como previsão era esperada uma maior mudança de atitudes na condição 1 dólar, que era a condição onde a dissonância cognitiva era maior. Dava-se uma “cover story” aos sujeitos (encenação da investigação) logo ao início da experiência. C Coonnddiiççããoo ddee C Coonnttrroolloo - 170 - O rapaz achou as tarefas monótonas. Disse à rapariga que as tarefas eram interessantes Esta motivação seria para o sujeito achar as tarefas interessantes (a cognição A teria, então, que ser substituída) – “achei as tarefas interessantes”. C Coonnddiiççããoo 11 D Dóóllaarr (mau pago) O rapaz achou as tarefas monótonas. Disse à rapariga que as tarefas eram interessantes Fui mal pago Poderia haver uma: A experiência é muito importante A cognição C vai aumentar a dissonância. Logo, pode surgir a cognição D, porque é uma cognição consonante – surgindo para diminuir a dissonância. Espera-se, nesta condição, em que foram mal pagos e tem mais cognições dissonantes, que os sujeitos usem a cognição de consonância (cognição D), para diminuir a tensão/dissonância cognitiva que estava a sentir. Além disso, a cognição D serve para maximizar a importância da investigação. C Coonnddiiççããoo 2200 D Dóóllaarreess (bem pagos) O rapaz achou as tarefas monótonas. Disse à rapariga que as tarefas eram interessantes Fui bem pago Fez diminuir a dissonância, pelos rapazes terem de mentir à rapariga. Além disso, se os sujeitos dessem grande importância à cognição C era de esperar que não tivessem que mudar a cognição A, a mudança de atitude em relação ás tarefas não seria tão grande. V Vaarriiáávveell IInnddeeppeennddeennttee: A variável independente é a pressão para reduzir a dissonância (recompensa) e foi operacionalizada através de três esquemas de reforço (remuneração/recompensa): Controlo Um dólar Vinte dólares V Vaarriiáávveeiiss D Deeppeennddeenntteess: (4) - 171 - 1. PPrraazzeerr nnaa eexxeeccuuççããoo ddaass ttaarreeffaass: directamente relacionado com a dissonância cognitiva e com a cognição A – esperava-se que na condição 1 dólar houvesse uma modificação da cognição A. 2. D Deesseejjoo eem m ppaarrttiicciippaarr nnuum maa eexxppeerriiêênncciiaa sseem meellhhaannttee: esperam-se, tal como na primeira variável independente, resultados mais elevados na condição 1 dólar. 3. A Apprreennddiizzaaggeem m rreettiirraaddaa ddaa eexxppeerriiêênncciiaa: é uma variável para ver se não havia variações experimentais, assim, esta variável não estava relacionada com nada, pelo que se esperava que os resultados fossem semelhantes em todas as condições experimentais (que não houvesse diferenças nas condições, se o efeito da dissonância era especifico das variáveis – era uma variável de controlo das outras variáveis dependentes). 4. IIm mppoorrttâânncciiaa cciieennttiiffiiccaa aattrriibbuuííddaa àà eexxppeerriiêênncciiaa//iinnvveessttiiggaaççããoo: a cognição de que a experiência era muito importante estava mais patente na condição 1 dólar – porque havia mais dissonância (poderia reflectir um modo adicional de diminuir a dissonância cognitiva). Estas quatro variáveis dependentes foram operacionalizadas através de um questionário, tipo escala de Likert. O tipo de plano utilizado pelo Festinger e Carlsmith quanto ao número de variáveis independentes e variáveis dependentes e controlo dos factores classificatórios foi um plano unifactorial e multivariado, uma vez que há uma variável independente e quatro variáveis dependentes (se tivesse mais que uma variável independente seria um plano factorial e se só tivesse uma variável dependente seria um plano univariado). Quanto ao controlo dos factores classificatórios os sujeitos foram distribuídos aleatoriamente pelas condições experimentais e houve manipulação da variável independente, então é um plano experimental. Os investigadores analisaram os resultados com o T de Student – o que é errado pois eleva o nível de significância. Deste modo, Festinger e Carlsmith não consideravam o 0,05 para as diferenças estatisticamente significativas. Qual o tipo de analise mais adequada para este plano com uma variável independente e quatro variáveis dependentes? É uma MANOVA – uma análise factorial! (a ANOVA usa-se quando se tem uma só variável independente e uma variável dependente). A variável dependente mais importante para a validação das hipóteses de investigação é o prazer retirado das tarefas. Os sujeitos na condição 1 dólar diferenciam-se estatisticamente dos sujeitos na condição 20 dólares e na condição controlo – quanto ao prazer e participar na experiência. Na importância cientifica atribuída à experiência, a previsão acabou por não ser validada, pois não há diferenças estatisticamente significativas entre os resultados dos sujeitos da condição um dólar e os resultados dos sujeitos das outras condições. Já no desejo de participar numa experiência semelhante as diferenças não são estatisticamente significativas. Assim, foi só na variável dependente principal – no prazer de participar na experiência – que se encontraram diferenças significativas entre a condição um dólar e as outras duas condições. As hipóteses foram corroboradas pelos resultados da experiência, tendo reforçado a teoria da dissonância cognitiva. A explicação alternativa considerada pelos autores que concorre com a teoria da dissonância cognitiva na explicação dos resultados da investigação era a de Janis e King, em termos da autopersuasão, onde o sujeito deve encontrar bons argumentos para convencer a rapariga, acabando por se convencer a si próprio – mas isso tanto poderia acontecer na condição 1 dólar como na condição 20 dólares. Para verificar se havia diferenças, Festinger e Carlsmith fizeram uma experiência e usaram as gravações do diálogo do sujeito com a rapariga – essas gravações foram avaliadas/classificadas por dois avaliadores independentes em cinco dimensões: Em primeiro lugar, o que o sujeito disse à rapariga antes dela referir que um colega já lhe tinha dito que a experiência era aborrecida. Em segundo lugar, o que é que o sujeito disse depois da rapariga ter referido este aspecto. Em terceiro lugar, escala para avaliar o conteúdo global do que o sujeito disse. Em quarto lugar, escala para avaliar o grau de persuasão do sujeito. - 172 - Em quinto lugar, escala para avaliar a quantidade de tempo gasto na discussão, de argumentos importantes e assuntos irrelevantes. Era de esperar que os sujeitos que recebiam 20 dólares se esforçassem mais para convencer a rapariga e verificou-se também uma diferença estatisticamente significativa no item da quantidade de tempo gasto para convencer a rapariga – sendo os sujeitos da condição 20 dólares que demonstram mais tempo a convencer a rapariga. Segundo Janis e King, seriam os sujeitos da condição 20 dólares que teriam uma maior mudança atitudinal (já que demoraram mais tempo e tinham, então, mais oportunidade de se auto-convencerem) – o que não foi corroborado. Por isso, a teoria de Janis e King foi abandonada! Diga se são verdadeiras ou falsas as afirmações que se seguem: (a) Na condição um dólar, os participantes consideram as tarefas mais agradáveis e interessantes relativamente ás outras duas condições – Verdadeiro! (b) Há maior evidência de redução da dissonância cognitiva na condição um dólar – Verdadeiro! (a redução da dissonância vê-se através da modificação da cognição) (c) Não se verificam diferenças estatisticamente significativas entre as três condições experimentais, no que respeita ao item: desejo de participar numa experiência semelhante – Verdadeiro! (d) Os resultados relativos ao grau de importância científica atribuída à experiência, reflectem uma tentativa de redução da dissonância – verdadeiro! IInnvveessttiiggaaççããoo ddee A Arroonnssoonn ee M Miillllss ((11995599)) –– E Effeeiittoo ddee sseevveerriiddaaddee ddaa iinniicciiaaççããoo nnaa aattrraaccççããoo ppoorr uum m ggrruuppoo Nesta investigação o sujeito para entrar num grupo (desinteressante) tem de passar, anteriormente, por um processo de iniciação, que podia ser muito desagradável. Os investigadores tentaram, com isto, provocar um efeito de dissonância cognitiva. O sujeito passava por uma iniciação desagradável As cognições são relevantes mas dissonantes Para se juntarem a um grupo desinteressante Vai haver, então, uma tentativa de diminuir/eliminar a dissonância cognitiva. Para tal podemos diminuir a importância dos elementos dissonantes (ou a cognição A ou a B). a cognição A é a menos resistente e está ligada à receptividade dos elementos à realidade. As questões formuladas pelos autores: é frequente observar-se que as pessoas que tem que enfrentar situações difíceis ou complicadas/dolorosas para fazer parte de um grupo tendem a valorizá-lo mais que as outras pessoas que despendem pouco esforço para lá entrar. Será que esta observação é realmente válida? Será que se mantém quando testada nas condições controladas? Se esta observação é valida, como é que pode ser explicada/observada? A hipótese colocada pelos autores foi: as pessoas passam por uma iniciação severa para ficarem como membros de um grupo aumentam o seu gosto por este – ou seja, consideram o grupo mais atraente do que as pessoas que se tornaram membros mas não passaram por uma iniciação severa. Nesta experiência era de esperar que os sujeitos da iniciação severa achassem mais interessante o grupo e os seus participantes. O que aconteceu é que os sujeitos da iniciação severa avaliaram mais positivamente tanto a discussão como os seus participantes – já os outros grupos (o de controlo e o de iniciação média) acharam mais interessante os participantes do que a discussão: porque é muito mais fácil fazer comentários negativos acerca de uma discussão (que é mais impessoal) do que acerca dos participantes – porque era mais subjectivo e havia uma maior identificação, pois também estes eram estudantes (assim, a discussão é que era desinteressante e não os participantes em si). Assim, os resultados corroboram a hipótese, porque, à luz da teoria da dissonância de Festinger, realmente foram os sujeitos da iniciação severa que avaliaram melhor o grupo. - 173 - V Vaarriiáávveell IInnddeeppeennddeennttee: é o grau de severidade de iniciação, que foi operacionalizada pelo tipo de iniciação: três condições relativas a três tipos de iniciação – severa (com 12 palavras obscenas), média (com 5 palavras relacionadas com sexo) e de Controlo (sem palavras obscenas). V Vaarriiáávveell D Deeppeennddeennttee: é a atracção pelo grupo, que foi operacionalizada através da avaliação através de um questionário sobre os participantes e a discussão (operacionalizar uma variável a nível teórico significa substitui-la por um referente empírico). As possíveis fontes de variabilidade responsáveis pelas diferenças registadas a nível da variável dependente são os pseudofactores (os factores situacionais) e que são controlados, pelos autores, pela distribuição de cada sujeito numa mesma sala, individualmente, onde ouviam a mesma gravação… Existem também os factores classificatórios (factores inerentes aos sujeitos) que são controlados pela distribuição de modo aleatório dos sujeitos pelas condições experimentais. Esta é uma investigação experimental, porque houve manipulação sistemática da variável independente e controlo dos factores classificatórios e pseudofactores. A entrevista pós-experimental é muito importante pois serve para explicar o verdadeiro objectivo da investigação, bem como para assegurar as razões éticas (que ninguém sai de lá enganado). Além disso, também serve para saber se os participantes descobriram o verdadeiro objectivo da experiência para o poder anula-lo, em termos de investigação, e para assegurar a não divulgação da experiência a outros sujeitos. Estes autores para comparar as médias duas a duas realizaram um T de Student – contudo, é uma atitude errada porque com um T de Student faz com que a taxa de erros aumente: o grau de significância é de 0,05 mas sendo três T de Student este fica em 0,15. Logo, como temos três médias podíamos fazer uma análise de variância. Diga se são verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações: a) De um modo geral, os sujeitos na condição iniciação severa avaliaram mais positivamente a discussão e os participantes, do que os que se encontravam nas condições iniciação média e controlo – Verdadeiro! b) Todos os sujeitos na condição iniciação severa avaliaram mais positivamente a discussão relativamente à condição controlo – Falso! c) Verificou-se a existência de uma maior atracção pelo grupo na condição iniciação severa – Verdadeiro! d) e) Não há diferenças estatisticamente significativas entre as condições controlo e iniciação média relativamente à discussão e aos participantes – Verdadeiro! As escalas relativas aos participantes evidenciam resultados mais divergentes entre as condições do que as escalas relativas à avaliação à discussão – Falso! SSíínntteessee ssoobbrree aa tteeoorriiaa ddaa ddiissssoonnâânncciiaa ccooggnniittiivvaa Para além das duas investigações que estudamos, existem muitas outras na psicologia social. A teoria da dissonância cognitiva pode ser aplicada em vários contextos, atitudes, comportamentos, sentimentos, emoções – tudo que tenha a ver com fundamentos cognitivos. Embora seja aplicada a vários contextos é um pouco limitada em termos interpretativos. Existem quatro paradigmas de investigação da teoria da dissonância cognitiva – cada um dos paradigmas são investigações que se distinguem pelas formas de activação da dissociação cognitiva. Alternativa A – psicologia - Carácter geral do curso - Corresponder aos interesses pessoais - Saídas profissionais - Curso muito teórico Alternativa B – medicina - Saídas profissionais - Remuneração salarial - Muitos anos de estudo - Escolha da especialidade - Médias de entrada - 174 - PPaarraaddiiggm maa ddaa lliivvrree eessccoollhhaa – neste, a dissonância é activada quando o indivíduo toma uma decisão. Por exemplo, quando temos de fazer uma escolha difícil entre dois aspectos importantes. Por exemplo – escolher entre dois cursos: quando tem que se fazer uma escolha difícil tem que se ponderar as vantagens e as desvantagens de cada opção. Neste exemplo, optou-se pelo curso de psicologia. Desvalorizam-se os aspectos positivos do curso de medicina e valorizam-se mais os aspectos positivos do curso de psicologia. Os aspectos negativos do curso de psicologia são dissonantes com os aspectos positivos do curso de medicina. Ou seja, para reduzir a dissonância valorizam-se os aspectos positivos da alternativa escolhida. Reduz-se a dissonância activada quando o indivíduo toma uma decisão através da maximização da importância dos aspectos consoantes com a alternativa escolhida e com a minimização da importância dos aspectos dissonantes. Brehm (1956) diz que os sujeitos fazem uma escolha fácil quando se deparam entre produtos médios e uma escolha difícil quando se deparam entre dois produtos bons. PPaarraaddiiggm maa ddaa ddeessccoonnffiirrm maaççããoo ddaa ccrreennççaa – neste paradigma a dissonância é activada quando os indivíduos são expostos a informação inconsistente com as suas crenças. Festinger, Dieken e Schachter, (1956) estudaram o fenómeno do proselitismo (nome das seitas). Observam uma seita com crenças esquisitas: como, por exemplo, acreditavam que o hemisfério norte ia ser engolido por cheias e só eles iam sobreviver porque iam ser levados para outro planeta por extraterrestres. Claro que isto não aconteceu, e as pessoas da seita procuraram explicações para se justificarem adicionando informação consoante à crença. Tentaram ainda convencer pessoas a entrar na seita para que as suas crenças se tornassem mais fortes. PPaarraaddiiggm maa ddaa jjuussttiiffiiccaaççããoo ddoo eessffoorrççoo – a dissonância cognitiva é activada quando um indivíduo realiza uma actividade desagradável para obter uma consequência igualmente desagradável. Como exemplo temos a investigação de Aronson e Mills sobre o efeito da severidade da iniciação. PPaarraaddiiggm maa ddoo aaccoorrddoo iinndduuzziiddoo – a dissonância cognitiva é activada quando o indivíduo diz ou faz algo contrário à sua opinião inicial. Como exemplo temos a investigação de Festinger e Carlsmith. Esta investigação tem duas características importantes. As características experimentais introduzidas pelos autores decisivas para a activação da dissonância eram em primeiro lugar: o facto dos sujeitos serem livres de escolher o comportamento contra-atitudinal, e o facto do comportamento do sujeito levar a consequências negativas. Estas características foram introduzidas intuitivamente pelos autores. Linden, Cooper e Jones (1967) fizeram variações experimentais e introduziram estas duas características. A dissonância cognitiva só acontece quando os sujeitos eram livres de escolher o comportamento e quando esse comportamento levava a consequências negativas. E Exxpplliiccaaççããoo ddaass ccoonndduuttaass ssoocciiaaiiss A percepção e explicação das condutas sociais centra-se em duas problemáticas clássicas da psicologia social que se prendem com os processos de formação de impressões e de atribuição causal – ou seja, preocupar-nos com o modo como as pessoas percepcionam as outras e formar percepções acerca delas e, além disso, vamos passar para a explicação das próprias condutas sociais. Não há uma segunda vez para causar uma primeira impressão – tem que se tomar consciência da importância das primeiras impressões que formamos dos outros e vermos as repercussões que tem nas interacções sociais. FFoorrm maaççããoo ddee iim mpprreessssõõeess A problemática de formação de impressões está relacionada com as tteeoorriiaass iim mppllíícciittaass ddaa ppeerrssoonnaalliiddaaddee. Estas podem ser conceptualizadas como crenças gerais que mantemos a propósito da espécie humana, nomeadamente naquilo que diz respeito à frequência e variabilidade de um traço de carácter numa dada população. - 175 - Para além desta percepção geral podemos ter uma acepção mais restrita das teorias implícitas da personalidade – como constituindo matrizes da população (retratos robot) de determinados traços que transportamos “nas nossas cabeças” (a partir de um taco fazemos inferências sobre os outros, que podem estar correlacionados). As teorias dizem-se implícitas por duas razões principais: 1. Os sujeitos não têm necessariamente consciência deles e é provável que não as saibam formalizar. 2. São obviamente teorias sem fundamentos científicos, ás quais recorremos para nos avaliar a nós mesmos e aos outros, ao nosso comportamento e ao dos outros e para prevermos os comportamentos. As teorias implícitas dependem da motivação e dos nossos estados emocionais e do nosso funcionamento cognitivo. As teorias implícitas formam-se através de três tipos de experiências: Informações verbais. Características físicas (um dos estereótipos mais comuns de que o “belo é bom” – esta inferência a partir de uma característica física serve-nos para inferir características interiores). Pertença a determinados grupos sociais. Do ponto de vista teórico o processo de formação de impressões tem sido analisado essencialmente a partir de duas perspectivas distintas relativas ao processamento humano de informação: (1) uma construtivista ou de processamento conceptualmente guiado (theory driven – top-dow), (2) e outra associassionista ou de processamento guiado pelos dados (data driven – bottom-up): O modelo dual de Brewer postula que o processamento da informação baseia-se em categorias (top-down) e representações (bottom-up). Em 1954, em termos teóricos, a expressão “teorias implícitas da personalidade” foi introduzida por Bruner e Tagiuri, para descrever a percepção das pessoas. O desenvolvimento da problemática está associado a três sub-domínios: 1. Estudos sobre a percepção social (escola do “newlook” – Bruner é um dos principais representantes, ressalta a importância dos factores motivacionais, na própria percepção). 2. Estudo dos processos de atribuição psicológica cognitiva. 3. Trabalho clássico de Michel – em que desmistificou muitas das teorias, ditas, cientificas da personalidade. A conceptualização das teorias implícitas da personalidade – deve ser colocada numa perspectiva motivacional em que todo aquele que observa tem o objectivo observacional que o leva a focar a sua atenção em categorias ou segmentos de comportamentos relevantes para os ses propósitos. Toda a observação que nós fazemos subordina-se a objectivos do próprio observador. Assim, podemos ter três objectivos observacionais: 1. Quando observo à procura de informação ou aprendizagem. 2. Quando me centro na analise da personalidade do outro – identificação do carácter e dos traços que lhe estão subjacente. 3. Estritamente de avaliação do outro Existem, basicamente, dois modelos teóricos do processo de atribuição: M Mooddeelloo ddee A Asscchh Com base em alguns princípios da psicologia da Gestalt, Asch (1946) considerou que o processo de formação de impressões teria um carácter holístico, ou seja, os traços que caracterizam uma pessoa organizar-se-iam de tal modo que o todo seria diferente da simples coma das partes. Dado que a simples observação empírica sugere que nem todas as características conhecidas sobre uma pessoa contribuem com o mesmo peso para a formação de impressões, Asch colocou a hipótese de que algumas características serão mais centrais enquanto outras serão secundárias. Ou seja, afirmava que a partir de traços-estímulos nós formamos uma impressão geral e a partir dela procedíamos à inferência de traços particulares. Traços-estímulo Inferência geral Inferência de traços particulares Para testar essa hipótese, realizou um conjunto de experiências com estudantes universitários. - 176 - Experiência de Ach – relativo à formação de impressões: divide os sujeitos em dois grupos aos quais deu as mesmas instruções gerais. A um grupo lê-se uma lista de adjectivos positivos e ao outro grupo lê-se a mesma lista mas no meio coloca-se um adjectivo diferente – esse adjectivo que variou de um grupo para o outro foi “caloroso” e “frio”. No final, colocam-se aos sujeitos duas questões: em que medida eles queriam conhecer a pessoa e em que medida gostariam de manter uma relação com essa pessoa – sendo-lhes solicitado que respondam ás duas questões numa escala de 0 (pouco) a 10 (muito). Ele verificou que o grupo onde foi lido o adjectivo “frio” revelou valores mais baixos ás duas questões. Assim, o traço “caloroso/frio” tinha uma importância suficientemente forte para fazer com que a impressão sobre a pessoa fosse bipolarizada. O Ach fez esta mesma experiência com outros traços e verificou que alguns deles não tinham modificação nenhuma – a esses traços chamou traços periféricos. A partir das várias experiências realizadas Asch tirou as seguintes conclusões: 1. Há um processo de discriminação entre traços centrais e periféricos. Nem todos os traços ocupam o mesmo valor na impressão final. A mudança de um traço central pode alterar completamente a impressão enquanto a mudança de um traço periférico tem um efeito mais fraco. 2. Tanto o conteúdo cognitivo de um traço como o seu valor funcional são determinados pela relação com o seu contexto. 3. Alguns traços determinam o conteúdo e a função de outros traços. Aos primeiros chamamos centrais e aos segundos periféricos. As experiências realizadas por Asch influenciaram de tal modo o primeiro período da pesquisa sobre a formação de impressões que até finais dos anos 50 os estudos efectuados por outros autores (Kelley) se caracterizam por serem fundamentalmente réplicas ou extensões de algumas dessas experiências. Na base dos estudos está um (entre outros) problema fundamental que só depois veio a ser explicitamente conceptualizado: como é que os sujeitos das suas experiências, conhecendo apenas alguma traços respeitantes a uma pessoa, por exemplo calorosa e inteligente, eram capazes de concluir que essa pessoa possuía também uma série de outras características como por exemplo generoso, sociável… ou seja, como é que os sujeitos estavam em condições de realizar tais inferências a partir de informação tão limitada. Segundo Asch isso era possível porque com base nos traços-estimulo iniciais os sujeitos criavam uma impressão geral da pessoa e era a partir dessa impressão geral que, posteriormente, efectuavam inferências particulares para cada um dos outros traços. No entanto, esta perspectiva sugere que os sujeitos tomariam contacto com os traços-estimulos num vácuo, como se não tivessem quaisquer préconcepções acerca desses traços-estimulo nem do modo como estes se relacionam com muitos outros traços. M Mooddeelloo ddee BBrruunneerr ee TTaaggiiuurrii Estes autores propuseram uma concepção diferente da de Asch. Segundo estes autores, as pessoas estão em condições de efectuar inferências, como aquelas que aparecem nas experiências de Asch porque possuem teorias implícitas da personalidade, ou seja, postulam uma estrutura cognitiva intermédia que se chama teorias implícitas da personalidade e a partir dela se fazem inferências gerais e inferências de traços particulares. Este conceito de teorias implícitas da personalidade foi introduzido na Psicologia Social por estes autores quer para referir as categorias usadas pelas pessoas comuns na vida quotidiana para descreverem outras pessoas, em termos das suas capacidades, atitudes e características, quer para referir as crenças sobre as relações entre atributos de personalidade. São consideradas teorias porque consistem num conjunto estruturado de categorias e de crenças sobre as suas inter-relações e são implícitas ou ingénuas porque as pessoas não as apresentam formalmente nem fornecem critérios objectivos da sua validade. As teorias implícitas da personalidade desempenham um papel importante na vida quotidiana porque permitem aos indivíduos não só seleccionar e codificara informação relativa às outras pessoas, mas, também, a partir de poucos elementos informativos, realizar inferências relativas a domínios que estão fora do seu campo perceptivo no momento. Assim, as teorias implícitas da personalidade constituem como que um mapa cognitivo interno que, de certo modo, orienta a interacção entre as pessoas na vida quotidiana. Além disso, ao estruturarem o conjunto de relações possíveis de uns traços com outros, as teorias implícitas da personalidade revelam também um carácter normativo, pois uma vez estabelecida a ligação de que, por exemplo, quem é inteligente é honesto, fica delimitado o domínio dessa regra, ou seja, - 177 - é assim que deve, mesmo, ou principalmente, quando não se tem outros dados informativos específicos sobre a pessoa. As teorias implícitas da personalidade desenvolvem-se no quadro da socialização geral dos indivíduos, com destaque para as dimensões semânticas e simbólicas dessa socialização, que se traduz na consistência inter-individual de muitas crenças, mas constroem-se também a partir da experiência pessoal de cada um que se exprime em diferenças individuais relevantes e mesmo em teorias implícitas de um dado individuo. Traços-estímulo Teorias implícitas da personalidade (TIP) Inferência geral Inferência de traços particulares Para além da análise intuitiva de Asch “um traço é central na medida em que ele tenha um valor extrema numa dimensão. Assim, caloroso e frio são traços sociais centrais tal como feliz, popular, sociável…”. A Attrriibbuuiiççããoo ccaauussaall (modelo de atribuição causal e erros de atribuição): A origem das teorias do estudo dos processos de atribuição remonta a uma das figuras maiores de psicologia social – H Heeiiddeerr – ele publicou, em 1958, o livro “Psicologia das relações inter-pessoais” que está na origem daquilo que tem vindo a ser designado de psicologia do senso comum. Este autor preocupava-se em perceber o modo como o “homem de rua” explicava o comportamento – este servia-se de fábulas para introduzir alguns conceitos que o “homem de rua” utiliza (como, por exemplo, poder, querer…) na explicação do comportamento. Foi o primeiro a sublinhar a importância do princípio da consistência cognitiva, equilíbrio cognitivo, e de que este depende em grande parte de processos intelectuais, inscrevendo-se assim na corrente cognitivista da Psicologia Social. Ele introduziu dois conceitos principais: 1. Formação-unidade: este conceito referia-se aos processos através dos quais a origem e o efeito, o autor e o acto são vistos como fazendo parte de uma mesma unidade causal. 2. Pessoa como protótipo das origens: a consequência mais importante da junção entre acto e actor é que o actor fosse compreendido como a causa mais verosímil dos comportamentos. Heider centrou a sua análise em dois aspectos: A forma como os indivíduos ajustam internamente as suas cognições de forma a estar em equilíbrio consigo próprios. Os ajustamentos que fazem ao meio social em que se inserem. O processo de atribuição é desencadeado pela necessidade de avaliação. Heider sustenta que muitos dos princípios subjacentes à percepção dos objectos sociais (entenda-se relações inter-pessoais e não só pessoas) tem um paralelo na percepção de objectos não-sociais. O percipiente procura regularidades subjacentes aos fenómenos de forma a torná-los previsíveis e controláveis, ainda que, no domínio dos objectos sociais, o resultado seja imperfeito. A percepção de um objecto social implica a atenção do percipiente e, à semelhança do que ocorre na percepção de outros objectos, a pessoa com todos os seus processos psicológicos, as suas emoções, maneira de ser, constitui a realidade exterior, com propriedades perceptíveis por todos. Este estimulo – distal – não afecta o percipiente. O contacto com a realidade externa é feito através do estímulo (padrão auditivo, visual ou outro) fisicamente próximo. É com base nele que o percipiente atribui um significado ao estímulo distal. Os aspectos principais da configuração da estimulação são representados cognitivamente e sujeitos a uma interpretação. Esta tem por base uma preferência por estados de equilíbrio ou harmonia (se a pessoa A tiver um comportamento de carácter positivo e o percipiente gostar de A, interpreta o seu comportamento em consonância com a imagem positiva e vice-versa – ambas as situações se caracterizam pela semelhança de valência das cognições. O conflito surge se A teve um comportamento negativo e o percipiente gosta dele ou se A teve um comportamento teve um comportamento positivo e percipiente não gosta dele). - 178 - Heider distingue 3 aspectos na apreensão da realidade: 1. Sujeito-actor 2. O outro 3. O destino, posteriormente designado de sorte. A apreciação é feita com base numa análise factorial implícita que conjuga aspectos do actor, do contexto e do imprevisto associado à acção. Esta classificação está no cerne da distinção causas internas/estáveis e externas/circunstanciais – Heider distingue condições estáveis e instáveis para a ocorrência de um efeito. Ele distingue entre uma oposição fundamental, entre causas internas (atribuições internas) e causas externas (atribuições externas) – no sentido de formalizar o modo como o sujeito explica as condutas dos outros Heider introduz mais conceitos de natureza pessoal: Poder/capacidade. Tentativa/esforço (claramente de natureza motivacional). Conceito ambiencial – que diz respeito ás dificuldades das tarefas/situações. Num texto de 1944, Heider assinala a existência de uma tendência para exagerar a influência dos factores pessoais e subestimar a influência de outros factores nos efeitos observados no processo de atribuição de causas. O autor sugere, ainda, que de entre os factores pessoais, o esforço, a capacidade e a motivação são os principais. Este autor postula a existência de uma relação entre a capacidade e esforço. Se um destes elementos for nulo, a força dos factores pessoais por si não explica o efeito (neste caso ele é explicado em termos dos factores situacionais). Assume-se também uma relação directa entre dificuldade da tarefa e esforço, na medida em que um elevado grau de dificuldade da tarefa terá de ser acompanhado de elevado esforço para que o resultado seja obtido. O esforço aparece como uma função de vontade de, ou motivação para. A máxima de Heider, que mostra a sua conceptualização acerca das atribuições, afirma que para que estejamos em condições de afirmar que existe uma causalidade pessoal é necessário que atribuamos ao outro a capacidade de esforço para realizar determinadas acções/tarefas. No texto de 1944, Heider considera o percipiente iludido com o que pensa ter aprendido sobre a pessoa alvo da sua apreciação a partir de uma focalização momentânea nesta, eventualmente conducente a uma leitura distorcida. Contudo, a coordenação de perspectivas com outros permite-lhe uma construção da realidade que se ajusta à sua necessidade de equilíbrio. Em relação ao modelo de Heider há pelo menos duas limitações principais: Presume a cadeia intenção – disposição, contudo é legítimo dizer que há disposições que não podem ser inferidas por intenções. É problemática que os indivíduos cognitivamente conseguiam processar (articular) os comportamentos dos outros. O modelo de Kelley, por sua vez, aplica-se simultaneamente à hetero e auto-observação do comportamento. No âmbito de uma teoria geral de processo da atribuição de causas para o comportamento, Jones e Davis /1967) e Kelley (1967-1972 e 1973) foram sem duvida os investigadores que mais marcaram este campo da psicologia Social. Teoria de JJoonneess ee D Daavviiss – a tteeoorriiaa ddee iinnffeerrêênncciiaa ccoorrrreessppoonnddeennttee: é a teoria de atribuição de Kelley inspirada nos dados da ANOVA. Esta teoria de Jones e Davis é uma formalização/sistematização das ideias avançadas pelo Heider e trata-se no fundo de explicar como os indivíduos fazem inferências sobre as intenções dos outros e à posteriori das disposições que estão por trás dessas intenções. Ou seja, D Diissppoossiiççõõeess IInnffeerrêênncciiaass O Obbsseerrvvaaççããoo Conhecimento Intenções Capacidade Acção Efeito 1 Efeito 2 Efeito 3 - 179 - Teoria da inferência correspondente: postula no decurso do processo atributivo a partir da observação das acções e dos seus efeitos nós fazemos inferências de intenções comportamentais e por detrás delas imputamos traços fixos/de carácter – disposições. Jones e Davis afirmaram também que neste processo de imputação de intenções e disposições o observador tem que pressupor que o actor tem conhecimento das suas acções/efeitos e tem capacidade para realizar essas acções. Chama-se, então, teorias de inferência correspondente ás acções e seus efeitos que vão corresponder a intenções e disposições. No processo de atribuição de intenções e á posteriori de disposições Jones e Davis falam de dois princípios fundamentais: 1. Princípio dos efeitos não comuns – disposição e intenção que orienta uma acção é indicada pelas consequências/efeitos dessa acção que não são comuns a acções alternativas. 2. Princípio da desiderabilidade social – diz respeito ás crenças que o observador tem sobre aquilo que os outros fariam na mesma situação. Teoricamente, os efeitos que são desejáveis para o actor indicariam melhor as suas intenções, contudo, efeitos universalmente desejados são pouco informativos. Neste contexto, seriam os comportamentos indesejados socialmente (que não estariam de acordo com o seu papel social) que seriam mais informativos para a atribuição das intenções. M Mooddeelloo ddee K Keellleeyy Começa por ser, simultaneamente, a teoria da hetero-atribuição mas também da auto-atribuição. É um modelo abrangente, que inclui a explicação do nosso comportamento tanto como dos outros. O Kelley distingue a análise dos processos atributivos dois tipos de situações: Em primeiro lugar, situação em que o indivíduo dispõe de informação proveniente de múltiplas fontes e que lhe é possível avaliar correlações, covariações entre efeitos e causas presumíveis. Nestas circunstâncias ele afirma que os actores sociais se comportam como cientistas que fazem uma análise causal do comportamento. Assim, propõe o m mooddeelloo ddaa ccoovvaarriiaaççããoo – baseia-se nos métodos de inferência causal (para uma causa há sempre necessário que esteja um efeito presente). Em segundo lugar, se a informação é limitada e os sujeitos não oportunidade de avaliar as covariações entre as causas e efeitos, Kelley refere que o modo de imputação de causas se baseia no recurso a esquemas causais pré-existentes (previamente adquiridas que poderão funcionar como regras) – designado m mooddeelloo ddee ccoonnffiigguurraaççããoo. Os processos de imputação de causalidade, tanto hetero como auto-atribuição dependem da quantidade de informação disponível. A pergunta que Kelley se faz quando há o modelo de covariação é quais são as variáveis que provocam esse comportamento – ele distingue assim dois tipos de variáveis dependentes: Aquelas que dizem respeito ás pessoas. Aquelas que dizem respeito ás entidades. Aquelas que dizem respeito ás circunstâncias. No processo de avaliação da covariação (no processo de estabelecimento das relações/padrões que explicariam o comportamento) Kelley fala de três tipos de critérios: C Coonnsseennssoo: utilizado quando estamos a avaliar as pessoas como causa. D Diissttiinnttiivviiddaaddee: utilizado quando fazemos idêntica avaliação ás entidades. C Coonnssiissttêênncciiaa: quando fazemos a avaliação relativamente ás circunstâncias. O padrão de informação diz respeito ao consenso, distintividade e consistência. PPPeeessssssoooaaa (((cccooonnnssseeennnsssooo))) C E C E Ciiirrrcccuuunnnssstttââânnnccciiiaaasss Ennntttiiidddaaadddeee (((cccooonnnsssiiissstttêêênnnccciiiaaa))) (((dddiiissstttiiinnntttiiivvviiidddaaadddeee))) B B Baaaiiixxxooo (((“““sssóóóaaa A A M B Allltttooo (((“““AAAM Maaarrriiaiaarrriii B Baaaiiixxxooo (((“““mmmaaaiisissnnniininnggguuuééémmm M M Maaarrriiaiaarrrii”i””))) PPPeeessssssoooaaa (((cccooonnnssseeennnsssooo))) A A Allltttaaa (((“““ttotoodddaaaaaa gggeeennntteteessseeerrrii”i””))) ssseeem m m mppprrreeecccooom meeesssttetee cccooom m meeedddiiaiaannnttetee””” Atribuição interna: é qualquer coisa que existe na Maria que a faz rir! ssseeerrrii”i””))) A Maria ri do comediante E E C Ennntttiiidddaaadddeee C Ciiirrrcccuuunnnssstttââânnnccciiiaaasss (((cccooonnnsssiiissstttêêênnnccciiiaaa))) (((dddiiissstttiiinnntttiiivvviiidddaaadddeee))) A M A Allltttaaa (((“““aaaM Maaarrriiaiaarrrii-i--ssseeedddeee A M Allltttooo (((“““AAAM Maaarrriiaiaarrriii A tudo”) ssseeem m m mppprrreeecccooom meeesssttetee cccooom m meeedddiiaiaannnttetee””” ttuuddoo””)) Atribuição externa: é qualquer coisa no comediante que faz rir a Maria! - 180 - Kelley cometeu, contudo, alguns enviesamentos! Análise de situação em que o sujeito dispõe de informação limitada, ou seja na segunda situação (informação de uma única circunstância). Nestes contextos baseamo-nos no modelo da configuração (ou seja, configuração actual das características possíveis). Assim, recorremos a eessqquueem maass ccaauussaaiiss: que é uma concepção geral que o indivíduo tem sobre o modo como determinadas causas interagem para produzir o efeito. Entre outros esquemas causais, Kelley refere dois principais: O O eessqquueem maa ddaass ccaauussaass ssuuffiicciieenntteess m múúllttiippllaass: em que o acontecimento se produz mesmo que só esteja uma causa presente. O O eessqquueem maa ddaass ccaauussaass m múúllttiippllaass: o acontecimento só se produz estando todas as causas presentes. Assim, Kelley propõe dois princípios: PPrriinncciippiioo ddaa ssuubbttrraaccççããoo//ddeessccoonnttoo: o papel de uma causa diminui quando estão presentes outras causas igualmente plausíveis. PPrriinncciippiioo ddoo aauum meennttoo: o papel de uma causa é sobrevalorizado caso esta produza um efeito na presença de uma causa inibitória. Podemos apreciar o modelo de Kelley sintetizando as críticas ao modelo de covariação em três aspectos principais: Confusão entre correlação e causalidade. Esta critica é mais de natureza metodológica, diz respeito ao conjunto de investigações de Kelley. Os sujeitos já tinham sido confrontados com padrões de comportamento parecidos com os da experiência – a informação tinha sido empacotada. Os investigadores têm dificuldades relativamente à ANOVA. Relativamente ao modelo de configuração, ainda que sejam plausíveis os esquemas causais de Kelley não existe evidência suficiente que afirme que eles funcionam como Kelley dizia. Mas mais importante que isso é que Kelley desvaloriza as representações sociais que estão subjacentes à construção dos esquemas causais. EEssqquueem maa ddaa IInntteerraaccççããoo SSoocciiaall: O conteúdo causal das interacções didácticas. As setas verticais, dentro do rectângulo da interacção representam ligações entre acontecimentos (cognições, emoções ou comportamentos) que ocorrem em P ou O. As setas obliquas representam as conexões entre as respectivas cadeias de acontecimentos. As condições causais de natureza ambiental são indicadas pelas siglas ªSOC (condições sociais) e ªFIS (condições físicas e geográficas). Para falarmos em interacção temos que ter no mínimo dois intervenientes. A sequência de acontecimentos entre as pessoas tem de estar conectadas. Kelley descreve esta interacção como um plano - 181 - descritivo (a duração, frequência e intensidade). Para passar ao plano explicativo temos que passar as condições causais – que podem ser de diferentes tipos: 1. De natureza pessoal (de um sujeito ou outro), como por exemplo: a inteligência que influencia a interacção. 2. De natureza mais genérica. 3. Do tipo relacional (partilhar uma mesma atitude). Numa tentativa de sistematização do campo das relações pessoais, Kelley et al. (1983) propõe que se distinguem dois planos de análise: o plano descritivo (identificação dos padrões específicos de interacção) o plano explicativo (explicitação dos mecanismos de interdependência). Mais exactamente, os autores começam por definir a interacção como um padrão de acontecimentos interpessoais. Por acontecimento designam qualquer modificação que ocorre a nível individual, no plano cognitivo (pensamentos, crenças), emocional ou da própria acção. Para que possamos falar de interacção é necessário que as modificações ocorridas em P estejam directamente relacionadas com as ocorridas em O, i.e., para além das ligações internas, as duas cadeias de acontecimentos devem estar inter-conectadas. Os autores utilizam a expressão conexões causais para definir as ligações entre acontecimentos das cadeias de P e O. A estrutura destas ligações define as propriedades da interacção (intensidade, frequência, diversidade das conexões causais). Por sua vez, os padrões específicos de interacção são condicionados (laços causais) por factores mais ou menos estáveis de natureza disposicional (atributos pessoais), relacional (atitudes semelhantes), social (normas societais) ou ambiencial (circunstâncias físicas e espácio-temporais). A determinação da influência destes factores (designados genericamente por condições causais) nos padrões de interacção constituiria o objectivo da análise causal, situando-se a identificação das propriedades no plano descritivo propriamente dito. Neste contexto, as relações interpessoais íntimas definem-se como aquelas em que as conexões causais entre P e O são simultaneamente intensas (i.e, P tem capacidade de afectar os acontecimentos de O e vice-versa), frequentes, diversificadas (i.e., não se limitam a acontecimentos específicos) e duradoiras (Kelley e tal., 1983). Esta definição está na base de uma escala de avaliação do grau de intimidade das relações interpessoais recentemente desenvolvida por Bercheid, Snyder e Omoto (1989). Subjacente a este modelo ou grelha de análise das relações interpessoais, de inegável valor heurístico, encontramos a Teoria de Interdependência de Thibaut e Kelley (1959; Kelly e Thibaut, 1978). De acordo com este autores, todas as relaçoes interpessoais se caracterizam pela capacidade recíproca de controlar os recursos materiais e simbólicos do outro através de comportamentos específicos e/ou pela expressão de atitudes ou outros atributos disposicionais. EErrrrooss aattrriibbuuttiivvooss ee iinntteenncciioonnaaiiss Exemplo: em 150 pessoas verificou-se o seguinte: Doença A Presente Ausente Presente 20 pessoas (sofrem da doença e manifestam os sintomas) 10 pessoas (tem o sintoma mas não sofre da doença) Ausente 80 pessoas (sofrem da doença mas não apresentam o sintoma) 40 pessoas (não sofrem da doença mas apresentam o sintoma) Sintoma X Tendo em atenção o quadro, escolha uma destas três alíneas: a. A relação entre o sintoma X e a doença A é positiva. b. A relação entre o sintoma X e a doença A é negativa. c. Não existe qualquer relação entre o sintoma X e a doença A Pois, X² = 0 - 182 - A alínea certa é a c. mas muitas pessoas tem tendência para não ter em atenção os dados todos. Tem a ver com os erros inferenciais – a dificuldade das pessoas terem de fazer inferências com base nas covariações. O principal erro tem o nome de eerrrroo ffuunnddaam meennttaall ddaa aattrriibbuuiiççããoo, pode ser descrito de uma forma muito simples: é a tendência que os indivíduos têm para enfatizar as causas disposicionais em detrimento das causas situacionais – sobrevaloriza as causas situacionais internas em relação às externas. Este erro é considerado uma distorção perceptiva. Só nos anos a distorção toma a designação de erro fundamental. Segundo Ross (1977), o erro fundamental corresponde à tendência para sobre-estimar o papel dos factores pessoa, disposicionais e subestimar o impacto dos factores da situação na determinação do comportamento do sujeito por parte do percipiente. Inicialmente o erro foi entendido à luz de uma concepção Heideriana: o comportamento domina o campo perceptivo, reduzindo as condições necessárias para o evento a uma só – a pessoa com intenção de que, apesar dos constrangimentos situacionais, tem o controlo sobre uma multiplicidade de forças requeridas para a criação do evento. Subjacente a esta explicação está a tese da incompetência em matéria cognitiva por parte do percipiente. Não é, no entanto, claro se o erro fundamental da atribuição é apenas função de factores perceptivocognitivos. Alguns investigadores defendem a determinação de factores motivacionais, enquanto outros sublinham o seu carácter cultural. Ainda que o erro fundamental seja característico dos observadores ele pode igualmente operar nos autores. Existem duas explicações principais em relação à persistência deste erro: 1. Diferenças entre actor e observador: para o observador o actor é mais saliente do que a situação, donde existe uma maior probabilidade de fazermos atribuições internas. 2. Situa-se num plano mais genérico e faz apelo à norma social de internalidade – em termos de representações sociais nós construímos a ideia de que os comportamentos são explicáveis por factores internos dos actores. A primeira experiência, nos finais dos anos 60, realizada por Jones e Harris, em 1967 (que está na origem do baptismo deste erro fundamental), é a seguinte: Os estudantes americanos são convidados a ouvir a dissertação supostamente elaborada por outro estudante, redacção em que são defendidas posições a favor de Fidel Castro e posições desfavoráveis a Fidel Castro (sendo que as dissertações desfavoráveis eram esperadas enquanto que as posições favoráveis eram inesperadas). A outra manipulação era feita dizendo que certos estudantes que o que redigiu a dissertação era obrigados a fazê-la (independentemente de gostar ou não) e a outros sujeitos era dito que o estudante tinha a possibilidade de escolher a redacção que fez. Os verdadeiros sujeitos da experiência são aqueles aos que foi pedido para avaliar os que eles pensavam ser os redactores da dissertação. Os resultados obtidos mostram que os sujeitos ignoraram a causa situacional e fizeram uma imputação de causalidade disposicional interna. Em síntese, um erro é cairmos no erro fundamental – ou seja, é um erro negligenciar as explicações situacionais externas e centrar-nos nas explicações situacionais internas. Existem diferentes erros avaliativos (na diversa literatura), que fogem aos modelos inferenciais normativos: Ignorar as linhas de base (não ligam à probabilidade dos dados). “Self serving bias” (distorções em beneficio próprio). Distorções em beneficio do grupo (aqui surge o efeito da ovelha ranhosa, ou seja, favorecemos a identidade grupal em detrimento dos outros grupos). H Heeuurrííssttiiccaass (que são esquemas interpretativos) que as pessoas utilizam: podem ser conceptualizadas como regras de algibeira que as pessoas utilizam para fazer inferências. Nisbett e Ross sistematizaram as heurísticas e falam de: H Heeuurrííssttiiccaa ddaa ddiissppoonniibbiilliiddaaddee – prende-se com as situações em que solicitamos às pessoas para avaliarem a frequência relativa de certos objectos ou a probabilidade de ocorrência de acontecimentos particulares (nestas circunstâncias as avaliações são influenciadas pela disponibilidade dos objectos ou acontecimentos – esta disponibilidade é definida pelo seu grau de acessibilidade aos processos de memória, construção, percepção… assim, baseia-se na - 183 - saliência perceptiva, memorabilidade ou imaginabilidade de objectos ou acontecimentos particulares. H Heeuurrííssttiiccaa ddaa rreepprreesseennttaattiivviiddaaddee, resulta da aplicação sistemática que nós fizemos de critérios de semelhança, dos problemas de categorização (ou seja, na assimilação de objectos e situações a categorias cognitivas que temos previamente constituídas). Tendemos a ler em função dessas construções/categorias mentais. Há uma centração nos processos de percepção e explicação das condutas sociais. Nos anos 70-80, a psicologia social centrou-se nos processos atribucionais, o que se constatou na psicologia de Heider. As intuições de Heider foram sistematizadas na tteeoorriiaa ddaa iinnffeerrêênncciiaa ccoorrrreessppoonnddeennttee: teoria que se aplica de modo especifico à imputação de causalidades nas acções do observado. O quadro tradicional da atribuição considerou os factores motivacionais como interferências com efeitos imprevisíveis. M Mooddeelloo ddee W Weeiinneerr O trabalho de Weiner sobre a relação entre a motivação e atribuição causal é uma excepção. Seguindo de perto a proposta teórica de Heider, Weiner reafirma a pertinência das produções discursivas em termos de capacidade, esforço, dificuldade da tarefa e sorte nos contextos de realização, e explícita, num primeiro momento uma taxionomia atribucional segundo dois factores: (1) locus de causalidade (interno versus externo) e estabilidade (estável versus instável). Segundo Weiner a tarefa do percipiente é determinar em qual dos quadrantes se enquadra a situação observada, isto é, refere-se à atribuição de causalidade em situações de desempenho. Posteriormente, Weiner (1979), incorpora um terceiro factor na taxionomia – a controlabilidade –, que diz respeito à influência volitiva do actor sobre a causa (esforço, por exemplo). Weiner centra fundamentalmente a sua atenção nas consequências afectivas das atribuições para o sucesso e fracasso, e, destas, para o comportamento subsequente. No entanto, várias críticas têm sido apontadas. A primeira diz respeito à forma como o processo de atribuição se desencadeia – o autor defende que ele se inicia com o carácter inesperado ou negativo de um evento. Na realidade, não fornece nenhum indicador dos processos subjacentes que possa explicar as razões para a existência de emoções especificas quando determinadas atribuições são feitas. Para além disso, o carácter abrangente da teoria que defende é de difícil transposição para outros contextos que não o de realização. Ou seja, sistematizando, Weiner afirma que as atribuições de sucesso e fracasso podem ser conceptualizadas segundo três dimensões principais: LLooccuuss ddee ccaauussaalliiddaaddee – diz respeito à localização das causas. O locus de causalidade pode ser interno ou externo, dependendo de onde o sujeito localizava as causas do seu comportamento. EEssttaabbiilliiddaaddee – tem que ver com a invariância das causas ao longo do tempo. PPeerrcceeppççããoo ddoo ccoonnttrroolloo – que o individuo tem sobre as causas. Um dado extremamente importante dos trabalhos de Weiner é a assimetria nas atribuições para o sucesso e fracasso. Assim, em contextos tão variados como o da educação (sucesso ou insucesso escolar) e o da interacção clínico-cliente, os indivíduos parecem privilegiar factores pessoais no caso de sucessos, ou seja, se os resultados forem bons tendemos a atribui-lo a causas internas mas se os resultados forem maus atribuímos a causas externas – é uma posição ego defensiva! Estabilidade Locus de causalidade Estáveis Instáveis Internas Capacidade Esforço (empenhamento) Externas Dificuldade da tarefa Azar/sorte Várias explicações te sido fornecidas para este padrão de comportamento. Uns consideram que ele decorre dos padrões de reforço a que o indivíduo é exposto ao longo da sua vida e que cognitivamente elaborado se transforma neste tipo de crença, enquanto outros se inclinam mais para uma explicação em termos de conformismo a uma norma social que define o carácter indesejável do fracasso e o carácter desejável do sucesso na sociedade. Também utilizamos “self-handicaps” (ou seja, estratégias de auto-defecitação) para não nos pormos em causa. Nos numa perspectiva defensiva recorremos a estratégias sociais de defesa do nosso eu. - 184 - C Cooggnniiççããoo SSoocciiaall A ideia de que os grupos e os indivíduos pensam (são ambientes pensantes) representa uma forma nova de olhar para a constituição das instituições sociais e para os comportamentos individuais e colectivos. Os indivíduos não se limitam a receber e processar informação, são também construtores de significado e teorizam a realidade social. O objectivo de estudo da Cognição Social é a forma como as pessoas pensam e a forma como as pessoas pensam que pensam, a partir da hipótese geral que os julgamentos e o comportamento social não podem ser entendidos se ignorarmos os processos cognitivos básicos, ou seja, pretende dar conta do modo como construímos o nosso mundo social. A realidade social não é dada mas sim construída. A cognição social trata de perceber quais os processos cognitivos e as dinâmicas sociais que operam na construção social do mundo (realidade em que vivemos e que conhecemos). Em 1966, BBeerrggêê ee H Hoocckkm maann publicaram: “a construção social da realidade” (tradição da sociologia do conhecimento). As principais teses desta obra dizem que a realidade social não é dada mas é construída. Tem diversas fontes para o interaccionismo simbólico e interaccionismo social. A noção de campo psicológico incorpora não só os objectos teóricos mas tudo aquilo que o sujeito representa naquele momento como fazendo parte do seu mundo (representações sociais, sistema de atitudes, teorias implícitas da perspectiva da relação causal…). R Reepprreesseennttaaççõõeess SSoocciiaaiiss A viragem do século ficou marcada por uma polémica entre a inter-psicologia de Tarde (para ele, a explicação dos fenómenos sociais depende em ultima instância dos conteúdos das consciências individuais) e a posição de Durkheim (para ele, os fenómenos sociais são irredutíveis aos fenómenos pessoais – estes devem ser explicados pelos fenómenos sociais). Em 1920, McDougall introduziu o termo de grupo ou espírito de grupo (“group mind”) – uma entidade supra-individual para as representações individuais. É semelhante ao termo “representações colectivas” de Moscovici – de alguma maneira o trabalho de Moscovici consiste em dar uma explicação e especificação a este conceito no plano da explicação das condutas sociais. É impossível vivermos sem representarmos a realidade numa outra escala. Os processos de representação visam reduzir a complexidade do real e reconstrui-lo nas nossas cabeças. JJooddeelleett ((11998899)) – define as representações sociais como “uma modalidade de conhecimentos socialmente elaborados e partilhados, com um objectivo prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Nesta acepção, as representações sociais referem um fenómeno comum a todas as sociedades – a produção de sentido. D Dii G Giiaaccuum moo – as representações sociais constituem “modelos explicativos categorizando as relações entre diversos objectos do meio”. M Moossccoovviiccii ((11998811)) – introdutor do conceito de representações sociais – diz-nos que estas podem ser vistas como “um conjunto de conceitos, preposições e disposições criadas na vida quotidiana no decurso da comunicação inter-individual”. São o equivalente, na nossa sociedade, os mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais – podem ainda ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. Isto leva-o a afirmar que o importante é perceber os nossos mitos. O estudo inicial de Moscovici onde ele introduziu o conceito: o ponto de partida do autor referia-se ao modo como dada teoria (psicanálise) se transforma, como é que se circula numa sociedade, quem é que a defende e quem é que a combate. Trata-se de estudar a psicanálise como um fenómeno de cultura. Para tal utilizou dois métodos complementares: inquérito junto do público combinando questionários e entrevistas e a análise de conteúdos da imprensa. - 185 - Com os inquéritos: Chegou a uma representação esquemática do que as pessoas achavam da psicanálise (como o representavam). IInnccoonnsscciieennttee R Reeccaallccaam meennttoo C Coom mpplleexxooss C Coonnsscciieennttee Na representação que os inquiridos faziam emergiam os conceitos de que existia um conflito permanente entre o consciente e o inconsciente que levam a recalcamentos – levando as pessoas a serem complexadas. Nesta representação esquemática, que as pessoas faziam da psicanálise, está ausente uma dimensão fundamental (que os próprios respondentes tinham recalcado): o conceito de sexualidade/libido – houve um processo de simplificação e ausência de um conceito central e, por outro lado, o conceito de complexo (ego) prende-se mais com outras teorias psicanalíticas. Freud distinguia a concepção estrutural tópica de uma concepção dinâmica – consciente, inconsciente… que foi substituída por uma segunda tópica, que surgiu em 1920, Id, Ego e Super-ego. É uma concepção dinâmica, onde as grandes forças emocionais que se opunham. Na primeira concepção teórica de Freud, as pulsões sexuais opõem-se às pulsões de auto-conservação – estas pulsões passam a chamar-se pulsões Eros e Thanatos (pulsões agressivas). Moscovici procurou estudar como determinada teoria se transforma e identificou aquilo que podia ser uma representação esquemática distorcida da realidade (da psicanálise) que servia para interpretar os comportamentos dos outros (representações sociais) – que têm uma função prática nas nossas vidas/interacções no quotidiano. Analisou os jornais comunistas, a imprensa católica e os jornais de grande difusão. Assim, ele categorizou a imprensa em três diferentes classes – globalmente, cada um destes tipos de imprensa funcionavam segundo diferentes tipos de comunicação/difusão: 1. JJoorrnnaaiiss ddee D Diiffuussããoo – tinham como objectivo fundamental criar um modelo de comunicação comum (modelo de difusão). 2. JJoorrnnaaiiss C Caattóólliiccooss – estabelecia-se entre os membros de um grupo e visava produzir uma visão organizada do mundo (modelo de propagação – era um modelo dominante na imprensa católica e fazia esforços para acomodar os princípios da psicanálise aos princípios religiosos). 3. JJoorrnnaaiiss ccoom muunniissttaass – utiliza o modelo de propaganda: a forma de comunicação assenta nas relações sociais conflituosas, cujo objectivo era que os leitores identificassem claramente o verdadeiro e o falso para que tivessem a visão desmistificada da psicanálise. Moscovici fez um paralelismo entre sistemas de comunicação de sistemas cognitivos: A imprensa genérica centrada na ddiiffuussããoo visava que as pessoas formassem uma ooppiinniiããoo sobre a psicanálise; A imprensa católica centrada na pprrooppaaggaaççããoo visava que os leitores formassem uma aattiittuuddee consistente a respeito da psicanálise: A imprensa comunista centrada na pprrooppaaggaannddaa visava que os indivíduos formassem um eesstteerreeóóttiippoo sobre a psicanálise. Moscovici refere que entre as condições sociais que afectam a emergência de uma representação social temos que considerar três ordens de fenómenos: Dispersão da informação (isto é, desfasamento da informação disponível e da informação necessária). Focalização (os indivíduos geram representações sociais mais sólidas ou mais fluidas consoante os recursos do meio ambiente). Pressão para a inferência (ou necessidade que todos sentimos de tomar posição em sentido dos objectivos grupais ou individuais). - 186 - Num estudo sobre as representações sociais, Abric parte de uma situação estímulo para apresentar uma investigação que chamou o dilema do prisioneiro – que consiste num juiz que interroga dois homens suspeitos de roubo à mão armada mas não tem provas para os incriminar, assim o juiz diz-lhe que tem que confirmar para que possam ser culpados, além disso, diz-lhes quais as penas depois de os colocar em celas separadas. Ele dividiu os sujeitos da experiência em duas condições experimentais: Condição A: fez crer ao sujeito que estava a jogar este jogo com outro sujeito. Condição B: fez crer ao sujeito que estava a jogar com uma máquina que produzia respostas aleatórias (ele estava a induzir uma resposta social de uma pessoa/parceiro). Preso A A2 – não confessa Preso B A1 – confessa B1 – confessa 2 Anos 2 Anos B2 – não confessa 20 Anos 0 Anos 0 Anos 20 Anos 6 Meses 6 Meses Situação cooperativa Este autor operacionalizou o conceito de representações sociais (há outros estudos sobre este conceito que funcionam como referência no quadro). Ele estava a introduzir uma representação social. Com esta experiência demonstrou que a percentagem das respostas cooperativas eram superiores nas situações em que o sujeito pensava que estava a jogar com outro sujeito real (confesso/confesso, não confesso/não confesso). O OC Caam mppoo ddoo ccoonncceeiittoo ddee rreepprreesseennttaaççããoo Toda a psicologia da raiz não estritamente comportamentalista utiliza, de uma forma mais ou menos saliente, o conceito de representação social. De uma forma simplista podemos dizer que as representações sociais podem ser entendidas a partir de duas perspectivas: 1. As representações são um reflexo interno de uma realidade externa, reprodução conforme o espírito do que se encontra fora do espírito. Estas reproduções mentais do mundo e dos outros são o produto de processos psicológicos e revestirão alguma incorrecção, na medida em que estão sujeitas a enviesamentos decorrentes do funcionamento do sistema cognitivo. 2. Nas representações sociais, não há um corte entre o universo interior e o universo exterior do indivíduo, que o sujeito e o objecto não são essencialmente distintos. Nesta acepção, a representação não é entendida como reprodução, mas como construção. É este o estatuto epistemológico e teórico que Moscovici atribui ao conceito de representação. O lugar da representação nesta concepção, face aos estímulos e as respostas, pode ser entendida tendo em conta dois modelos: Nos modelos S-O-R, pressupõe-se que as representações constituem mediações entre estímulos e as respostas. Assim, durante muitos anos, o M Mooddeelloo ddee PPssiiccoollooggiiaa SSoocciiaall foi largamente considerado como um modelo de “S-O-R”. Modelo clássico Contudo, os avanços da Psicologia Cognitiva conduziram ao pressuposto do primado das representações, expresso nos modelos “O-S-O-R”. Ou seja, as representações não são apenas mediações, são factores constituintes do estímulo e modeladores da resposta na medida em que “dominam todo o processo”. Esta é a posição de Moscovici, desde 1961, onde a representação assume um estatuto de variável independente (enquanto que no modelo precedente ocupava o estatuto de variável mediadora), que se representa esquematicamente do seguinte modo: - 187 - Modelo cognitivo Em 1978, Farina, Fisher, Getter e Fisher realizaram uma série de estudos sobre as implicações comportamentais das concepções sobre a doença mental. Os resultados do estudo põe em evidência que as representações são factores produtores de realidade, com repercussões na forma como interpretamos o que nos acontece e o que acontece à nossa volta, bem como sobre as respostas que encontramos para fazer face ao que julgamos ter acontecido. Uma vez construída uma representação, os indivíduos procurarão criar uma realidade que valide as provisões e explicações decorrentes dessa representação. Em 1967, Abric, Facheaux, Moscovici e Plon estudaram o efeito da representação sobre o parceiro numa situação de jogo. A experiência realizada foi pensada no quadro de uma interacção que tinha por base matrizes do dilema do prisioneiro, sendo induzidos nos sujeitos dois tipos de representações sobre o parceiro: numa condição experimental, os sujeitos pensavam que estavam a interagir com uma máquina programada – o que levava a estratégias mais defensivas e menos cooperativas; na outra condição experimental, supunham que o parceiro era um estudante tal como eles – o que levava a estratégias mais cooperativas. Os resultados mostram que não é a resposta efectiva do parceiro que orienta a estratégia dos sujeitos, mas a representação que estes constroem do tipo de parceiro com quem estão a interagir. Entendida desta forma, a representação é sempre a representação de qualquer coisa, exprime a relação de um sujeito com um objecto, relação esta que envolve uma actividade de construção e simbolização. Alem disso, a representação é a expressão de um sujeito, ou seja, não é um reflexo de um objecto mas um produto do confronto da actividade mental de um sujeito e das relações complexas que mantém com o sujeito. Existem diferentes níveis de análise acerca da actividade representativa: Estudo dos mecanismos motivacionais e sociais que orientam a dinâmica da actividade cognitiva e a dinâmica das relações entre estruturas cognitivas, perspectiva que orientou o “new look” (Bruner, 1951). Estudo das estruturas e processos cognitivos em sentido restrito (enquanto processos intraindividuais) – são os que se referem às actividades de percepção, categorização, organização da informação, inferência, recuperação e julgamento. Estudo dos investimentos pulsionais e fantasmáticos presentes na actividade cognitiva e simbólica (desenvolvida pelas correntes de orientação freudiana). Estudo da actividade representativa dos indivíduos enquanto reprodutores das ideologias dominantes e reflexos dos seus posicionamentos sociais. O nível de análise mais saliente é aquele que reenvia o sujeito para as suas pertenças sociais e para as actividades de comunicação, e a representação para a sua funcionalidade e eficácia sociais. A A rreepprreesseennttaaççããoo ccoom moo rreepprreesseennttaaççããoo ssoocciiaall: Porque é que as representações sociais se dizem representações sociais? Quando falamos de oposições/atitudes, elas tem sempre por trás um conceito de representações sociais. Fundamentalmente por três critérios: 1º Critério – Quantitativo: são socialmente partilhadas por um conjunto de indivíduos, ou seja, tratam-se de representações comuns a diferentes indivíduos, e não como representações ideossincráticas que tornam um indivíduo diferente dos outros indivíduos. Este critério é insuficiente para dar conta do conceito de representação social porque nada diz sobre o seu modo de construção. 2º Critério – Genético: são colectivamente produzidas na e pela interacção social – as representações sociais são um produto das interacções e dos fenómenos de interacção no interior de um grupo social, reflectindo a situação desse grupo, os seus projectos, problemas e estratégias e as suas relações com outros grupos. Este critério põe em evidência os fenómenos de constituição social das representações, e entende-as como resultado da actividade cognitiva e simbólica de um grupo social. 3º Critério – Funcionalidade: organizam-se as relações simbólicas entre os actores sociais. As representações sociais têm uma funcionalidade específica, sendo que uma representação social é funcional na medida em que resolve problemas, dá forma às relações sociais, oferece um instrumento de orientação dos comportamentos, … Este critério oferece programas para a comunicação e a acção, relativamente aos objectos que constituem interrogações para o grupo, ou seja, são teorias sociais práticas. - 188 - Por exemplo, na definição de partida de Jodelet: “as representações sociais são uma modalidade de conhecimento socialmente elaborada (critério genérico) e partilhada (critério quantitativo) com um objecto prático e contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social (critério funcional). É de sublinhar a importância de perceber a correspondência e relação entre os processos genéricos de comunicação e a organização cognitiva do mundo. As opiniões são passageiras. As atitudes necessitam de um trabalho de assimilação ao passo que os estereótipos são consensuais no interior de um grupo – o preconceito é uma atitude a respeito de determinados grupos minoritários, centrado na dimensão qualitativa. Estereótipo – cognitivo Discriminação – como comportamento (é um conceito intermédio) Preconceito – valorativo Algumas representações sociais (estereótipos) são consensuais, outros podem ser conflituais. Os processos na construção de representações sociais são modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas constituindo simultaneamente sistemas/modelos de interpretação e sistematização do real/categorização do real e guias de acção. As representações sociais remetem sempre para um grupo específico. Além disso, as ideologias situam-se a um nível de abstracção mais elevado que as representações sociais, ainda, de acordo com Moscovici (1991), a ideologia distingue-se da representação social por ser o ponto de partida da objectivação de uma representação social durável e homogénea. De uma forma geral, pode dizer-se que as representações sociais têm como função a atribuição de sentido ou a organização significante do real. Nos últimos 30 anos, o conceito de representação interessou a um vasto número de psicólogos sociais, sociólogos e antropólogos, sendo que para todos estes o conceito de representação social foi considerado útil. O enquadramento, geral das representações sociais: os processos sócio-cognitivos constituem as representações sociais, que são indissociáveis dos factores de regulação social, mais exactamente – as representações sociais são determinadas pela estrutura da sociedade em que se desenvolvem (os mitos das sociedades contemporâneas). Mas essa própria sociedade é local de clivagens, relações de diferenciação e dominação (coflitualidade). As representações sociais surgem, então de dois níveis básicos: 1. Diferenciação das condições socio-económicas. 2. Conflitualidade que radica nos sistemas de orientação, nos quadros de referência normativa. D Diinnââm miiccaa ddaa oobbjjeeccttiivvaaççããoo//aannccoorraaggeem m nnaa pprroodduuççããoo ddee rreepprreesseennttaaççõõeess ssoocciiaaiiss: Moscovici, em 1961, ao analisar a afirmação das representações sociais explicita dois processos maiores: a objectivação e a ancoragem. Estes processos são sociocognitivos no sentido em que são processos cognitivos socialmente regulados e que se referem a regulações normativas que verificam as operações cognitivas. Estes dois processos estão intimamente ligados. Assim, a construção de uma representação social pode ser feita por dois processos complementares: 1. O Obbjjeeccttiivvaaççããoo: é responsável pela própria génese das representações sociais – diz respeito à forma como se organizam os elementos constituintes da representação e ao processo através do qual tais elementos adquirem materialidade e se tornam expressões de uma realidade pensada como natural. Pode ser descrita, de modo mais preciso, em três passos fundamentais: 1º – Selecção de elementos do real (construção selectiva): é a formação dum todo relativamente coerente utilizando apenas parte da informação disponível acerca do objecto, obedecendo normas e valores. 2º – Os elementos seleccionados são organizados no núcleo figurativo (esquematização) 3º – Naturalização: quando se forma a representação social as pessoas ignoram a dimensão de arbitrariedade subjacente aos processos de selecção e consideram os elementos como algo natural (não construído). 2. A Annccoorraaggeem m: enraizamento social da representação (tal como um barco ancorado no porto). Na dinâmica da construção de uma representação social a ancoragem pode ser considerada, a um tempo, a montante e a jusante da objectivação. Ou seja, num certo sentido a ancoragem precede a objectivação (porque temos que ter pontos de referência) mas numa segunda acepção a - 189 - ancoragem vem a seguir à objectivação (na medida em que a representação social uma vez construída funciona como um esquema de sistematização, categorização e organização do real). Processos através dos quais o não familiar se torna familiar. Processos através dos quais uma representação, uma vez construída, se torna um organizador das relações sociais. Duma maneira simplificada, a assimilação corresponderia à incorporação no sistema cognitivo de um objecto exterior. Já a acomodação corresponderia à diferenciação do sistema cognitivo para dar conta dos nossos objectivos (em Piaget). O conceito de assimilação de Allport e Postman de assimilação equivale ao processo de ancoragem proposto por Moscovici. A Reificação é a coisificação – ignora-se as relações sociais de nominação que surgem no quadro da produção, os objectos são naturalizados, coisificados (reificados). No final, faz-se a menção a processos de categorização – de novos objectos. No sistema cognitivo, existe sempre subsistemas onde há uma ancoragem das representações sociais de um objecto. A partir daí os sujeitos procederam à selecção e naturalização do objecto (para formar uma representação – que funcionará como fonte de ancoragem para novos objectos). Esquematicamente: Sistema cognitivo Ancoragem 1 Subsistema (RS 0) RS 1 RS 2 Objecto 1 Objectivação Objecto 2 Ancoragem 2 Novos objectos Moscovici desdobra os sujeitos em quatro categorias: 1. O ssuujjeeiittoo eeppiissttéém miiccoo: para se referir aos processos cognitivos. s u j e i t o p s i c o l ó 2. O sujeito psicológgiiccoo: refere-se a processos imaginários e fantasmáticos. 3. O ssuujjeeiittoo ssoocciiaall: para se referir às pertenças sociais dos indivíduos. 4. O ssuujjeeiittoo ccoolleeccttiivvoo: para se referir, de um modo mais especifico/particular, ás actividades/acções de um determinado grupo. As definições que temos vindo a registar de representações sociais são uma forma de conhecimento essencialmente prático, destinando-se a facilitar as interacções e as próprias interpretações dessa interacção – tem um compromisso inter-social no sentido de que se ligam ás actividades da vida quotidiana (de forma directa). As representações permitem categorizar a realidade. As representações sociais são uma forma de saber/conhecimento prático, é sempre uma representação de um objecto e é obviamente elaborado por um sujeito – nas suas relações. Podemos dizer que existem diferentes processos, assim: Em primeiro lugar, a representação é sempre a representação de um objecto (simbolização), se é isso, então, está no seu lugar (assim, temos um processo de simbolização mas não está só no lugar de objecto como é a interpretação deste – confere-lhe significado). As representações podem revestir as formas mais diversas. - 190 - Por sua vez, a representação é uma forma de saber, o que implica uma modelização do real a partir de diferentes suportes, conteúdos, estruturas e processos lógicos. Nas suas relações com o sujeito a representação é objectivamente uma construção dos sujeitos mas é simultaneamente uma expressão (é expressa pelos sujeitos através da linguagem). As representações sociais têm como função a atribuição de sentido ou a organização significante do real. Na sua função de organização significante do real, a representação social torna o meio envolvente não estranho e coerente. De um modo mais específico pode considerar-se que as funções da representação social são: 1. Interpretação da realidade. 2. Função cognitiva. 3. Orientação das condutas e relações sociais. Jodelet (1989) mostra o espaço de estudo das representações sociais – defendendo que as funções sociais da representação social são a categorização do real e a orientação da acção a um nível prático. Sendo que a partilha social é uma das condições de produção e circulação das representações sociais. Este autor salienta ainda que as relações entre representações sociais e a ciência conferem às primeiras o valor de verdade. Há um desfasamento entre a representação e a realidade, em que o real pode ser distorcido, pode ser defalcado (podem ser suprimidas ou aumentadas coisas) durante o processo de objectivação. Um esquema construído por Jodelet procura construir uma grelha de estudo para os fenómenos de representação social. Condições de produção e circulação das representações sociais Processos e estados das representações sociais Suportes Conteúdos Estruturas Processos Lógica Cultura (colectivo de grupo) Valores Modelos Invariantes Linguagem e comunicação Inter-individual Institucional Mediática Valor de verdade Forma de saber Modelização Construção Sociedade Partilha e laço social Contexto ideológico, histórico Inscrição social Posição Lugar e função social Pertença ao grupo Organização social Instituições Vida dos grupos Estatuto epistemológico das representações sociais Sujeito Epistémico Psicológico Social Colectivo Interpretação Representação Expressão Objecto Simbolização Compromisso psico-social Prática Humano Social Ideal Material Relações entre pensamento natural e pensamento cientifico Difusão dos conhecimentos Transformação dum saber noutro Epistemologia do senso comum Representação e ciência Desfasamento Distorção Defalcação Suplementação Valor de realidade Experiência Acção Funções/eficácia das representações sociais A coluna da esquerda, Jodelet refere-se de modo genérico ás condições de produção e circulação das representações sociais que implica uma compreensão da cultura (valores, modelos e invariantes dos grupos sociais), da linguagem e comunicação e por último a aspectos especificamente sociais. - 191 - Na coluna da direita, Jodelet explicita o estatuto epistemológico das representações sociais (o valor de verdade). As representações sociais podem ser contextualizadas nas relações entre pensamento natural e pensamento científico, na difusão dos conhecimentos e na transformação dum saber noutro – numa palavra, na epistemologia do senso comum. C Coonnjjuunnttoo ddee iinnvveessttiiggaaççõõeess ssoobbrree aass rreepprreesseennttaaççõõeess ddoo ccoorrppoo O corpo é um objecto social/publico no sentido que as representações sociais são construídas publicamente – o corpo é um objecto de troca e consumo. A redescoberta do corpo está muito presente no dia-a-dia (na publicidade…) – pode dizer-se que o corpo substitui a alma. O corpo é matéria e é signo, é objecto de troca e de consumo que funciona como lugar de categorização social frequentemente (mascara distintiva – modos de apresentação, modos de vestir… se tem o corpo atlético, deficiente…). Muita da informação que obtemos de uma pessoa provém das representações sociais do corpo – o nosso corpo é um objecto de representação mas também é um objecto de acção (em termos de doença mental, existem algumas investigações acerca das representações sócias do corpo). A gestão e os modos de utilização do corpo são fundamentais nas significações organizadas em torno dos scripts intrapsiquicos da sua representação social. Os campos de referência subjacentes aos modos de conhecimento do corpo podem ser subjectivos ou sociais, organizando-se em torno do eixo privado/público. A importância da oposição: privado/público na representação do corpo é testemunhada por um conjunto de investigações de Jodelet. Ele procurou identificar as categorias mentais que controlam a experiência vivida – modos de conhecimento do corpo (experiência corporal directa). No que se refere às representações do corpo, Jodelet (1976) identificou mudanças, entre 1960 e 1975, em dois dos eixos organizadores dessa representação – o corpo vivido e o corpo pensado. Ao nível do vivido operou-se uma extensão da consciência corporal, a prevalência do corpo-prazer sobre o corpo mórbido e o declínio da introspecção orgânica em favor de uma orientação para o meio natural e social. Ao nível do corpo pensado verificou-se uma diminuição do interesse pela análise biológica do corpo e um apelo crescente às ciências humanas, permitindo uma leitura do corpo como lugar psicológico e objecto social. Ora, a própria autora deste estudo associa estas mudanças às alterações sócio-culturais que, entretanto, ocorreram e que se expressaram nos movimentos sociais de 68. Estes dois exemplos ajudamnos a compreender a inscrição das representações sociais como reflexos de uma ordem cultural e social dominantes. A A ccoonnssttrruuççããoo ssoocciiaall ddaa sseexxuuaalliiddaaddee Aceita-se, sem grande dificuldade, que o desejo sexual constitui um dos componentes principais das relações passionais. Contudo, a sexualidade não se circunscreve às situações românticas ou amorosas. A conjugação amor/sexo não é uma necessidade biológica, nem um imperativo social, mas, apenas, uma das possíveis soluções histórico-culturais para o problema da articulação entre reprodução biológica e vinculação social. Apesar de a generalidade dos investigadores afirmarem explicitamente o carácter psicossocial da sexualidade, esta só muito recentemente se veio a constituir como problemática específica em Psicologia Social. Para alem das habituais razoes de ordem moral ou de prestígio científico, a principal causa desta situação reside, fundamentalmente, na aceitação generalizada da dicotomia instinto/norma. Por um lado, os comportamentos sexuais são analisados numa perspectiva psicobiológica, prisioneira da sexualidade natural e dos mecanismos filogenéticos que lhe dão forma; por outro, as perspectivas estritamente antropológicas e/ou sociológicas, ao insistirem excessivamente nos relativismos culturais ou nas regularidades normativas, ignoram o papel do sujeito na gestão que faz das suas experiências e do seu corpo e na significação que atribui aos seus comportamento. Na perspectiva da Psicologia Social, a sexualidade constitui um caso particular das interacções humanas, pelo que a sua compreensão nos remete directamente para os mecanismos gerais que regulam tais interacções. Alem disso, o estudo dos padrões de comportamento sexual é indissociável das representações sociais da sexualidade que orientam e dão significado à acção. EEnncceennaaççõõeess ccuullttuurraaiiss,, iinntteerrppeessssooaaiiss ee iinnttrraappssííqquuiiccaass Nesta perspectiva, os comportamentos sexuais, à semelhança de quaisquer outros, são conceptualizados como resultando de um processo de construção social e não como a manifestação de uma motivação ou instinto especial interiores ao organismo. Gagnon e Simon (1973; Simon e Gagnon, 1986, 1987) introduziram o conceito de script sexual para dar conta do carácter construído da sexualidade. Os scripts sexuais, que constituem um caso particular dos scripts sociais, podem ser - 192 - definidos como esquemas (socialmente construídos) de atribuição de significação e de orientação (direcção) da acção. Para os autores, o conceito de script é essencialmente uma metáfora para conceptualizar a produção de comportamentos no interior da vida social. Pelas suas funções, o conceito de script aproxima-se do conceito de representação social. Com efeito, à semelhança das representações sociais, os scripts referemse a modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas, constituindo, simultaneamente, sistemas de interpretação e de categorização do real e modelos ou guias de acção. De modo mais específico, os scripts são estruturas cognitivas que organizam a compreensão das situações baseadas em acontecimentos, incluindo expectativas sobre a respectiva ordem de ocorrência. No interior de uma dada cultura, os scripts sexuais especificam: a) Q Quueem m são os possíveis parceiros sexuais; b) Em que circunstâncias – oonnddee ee qquuaannddoo – são apropriado comportarmos sexualmente e que tipo de actividades – oo qquuêê ee ccoom moo – nós é permitido; c) Quais os motivos ou razões – ppoorrqquuêê – que nos levam a comportar de modo sexual. Por outras palavras, enquanto significações partilhadas pelos actores sociais, os scripts sexuais organizam os comportamentos sexuais, definindo as situações de interacção, gerando expectativas relacionais e sinalizando as resposta incongruentes. A importância dos scripts na regulação dos comportamentos sexuais pode ser perspectivada a 3 níveis distintos: I. EEnncceennaaççõõeess ccuullttuurraaiiss – encontram-se os guias gerais da acção tal como se expressão no plano das significações e normas colectivas. Nass, Libby e Fisher (1981) consideram cinco tipos principais de scripts: o script religioso tradicional; o script romântico; o script das relações sexuais baseadas na amizade; o script da infidelidade ocasional e o script utilitário/predador. DeLamater (1987) fala de orientações ou ideologias sexuais (ascetismo, sexo reprodutivo, relacional, lúdico ou terapêutico) ligadas, directa ou indirectamente a quatro grandes instituições sociais (religião, família, economia e medicina): II. SScciippttss IInntteerrppeessssooaaiiss – a sexualidade é perspectivada em função das respostas concretas dos actores sociais às expectativas normativas decorrentes das encenações culturais. Mais exactamente, no quadro das interacções sociais, os indivíduos procuram, reciprocamente, articular os seus desejos e planos sexuais. Esta tarefa é facilitada pela existência de scripts interpessoais que organizam tais interacções, fornecendo aos sujeitos pistas para interpretarem e coordenarem os respectivos comportamentos, reduzindo, deste modo, a ambiguidade das situações. Para os actores em presença, os scripts interpessoais constituem a interpretação comum e contextualizada das encenações culturais pertinentes. Simon e Gagnon defendem os scripts interpessoais como as representações do eu e das imagens implícitas do(s) outro(s) que facilitam a ocorrência de trocas sexuais. A comunicação representa um dos aspectos centrais nos scripts interpessoais, uma vez que é através dela que um encontro sexual potencial se transforma numa troca sexual explícita. Em contextos estandardizados, o problema da comunicação é relativamente menor e os scripts transformam-se em simples rotinas de interacção. Contudo, em situações menos convencionais, a própria entrada num script sexual, é objecto de negociação ao nível da atribuição de significações e da confirmação das identidades sociais e sexuais. É ao nível dos scripts interpessoais que se desenvolvem as estratégias de sedução e que os atributos, ou factores pessoais de atracção, são susceptíveis de utilização estratégica. III. N Níívveell IInnttrraappssííqquuiiccooss ddooss ssccrriippttss – ainda de acordo com Simon e Gagnon, enquanto os scripts interpessoais facilitam a ocorrência de comportamentos sexuais, os scripts interpessoais facilitam a ocorrência de comportamentos sexuais, os scripts intrapsíquicos constituem uma encenação privada do desejo e referem-se à sequência de significações (ligadas a actos, posturas, objectos, gestos) que induz e mantém a activação sexual, conduzindo eventualmente ao orgasmo. Os scripts intrapsíquicos dizem, pois, respeito à ligação entre fantasias e actividades sexuais, à articulação entre imaginário e comportamento, podendo ser conceptualizados como mapas amorosos individualizados. T Teeoorriiaa ddee FFeessttiinnggeerr T Teeoorriiaa ddaa ccoom mppaarraaççããoo ssoocciiaall ((11995544)) - 193 - Todos os seres humanos têm uma necessidade básica de auto-conhecimento, auto-avaliação das suas aptidões, opiniões, atitudes, estados emocionais e comportamentos. Na ausência de um termo de comparação objectivo a única solução é a comparação com outros indivíduos. Assim, como termo de comparação utilizamos aquelas pessoas com as quais nos identificamos noutras dimensões, pois só estas possibilitam uma avaliação mais válida. A teoria da comparação social alargou-se e incluiu aspectos para alem da necessidade de autoavaliação, necessidades informacionais – passou a incluir também informações motivacionais. Quando nos comparamos escolhemos aqueles sujeitos que nos permitem tirar conclusões positivas sobre nós mesmos. O indivíduo compara-se com pessoas de níveis hierarquicamente inferiores a respeito do domínio de comparação com função de incremento do auto-estima. Por outro lado, o indivíduo compara-se com indivíduos hierarquicamente superiores a respeito do domínio de comparação com função de autoaperfeiçoamento. D Daattaass rreelleevvaanntteess Data 1793 1809 1813 1859 1869 1898 1979 1890 1898 1908 1924 1935 1954 1957 1958 1968 1976 Autor Facto associado PPiinneell G Gaauussss Funda a psiquiatria moderna R Roobbeerrtt O Ow weenn C Chhaarrlleess D Daarrw wiinn JJoohhnn SStteeuuaarrtt M Miilll K Kaarrll M Maarrxx Cunha o termo “socialismo” G Gaallttoonn D Duurrkkhheeiim m Teoria da hereditariedade da inteligência W Wuunnddtt JJaam meess FFrraazzeerr Primeiro laboratório de psicologia experimental TTrriipplleetttt M MccD Doouuggaall ee R Roossss “Os factores dinamogénicos na leitura da paz e da competição” FFllooyydd A Alllppoorrtt K Kuurrtt LLeew wiinn Publica “Psicologia Social” ------------------------------------------ Desenvolvimento de teorias comportamentistas sociais G Goorrddoonn A Alllppoorrtt “The Nature of Prejudice” FFeessttiinnggeerr FFeessttiinnggeerr “A theory of social comparison process” O Ossggoooodd H Heeiiddeerr “The measurement of meaning” ZZaazzoonngg JJooddeelleett “Attitudinal affects of new exposure” Descobre a curva normal dos erros Teoria da evolução Teoria dos instintos sociais Teoria da determinação social de consciência “Representations individuelles et representation to Social psicology” Trata as culturas primitivas em termos de psicologia social Publicam livros com o titulo “Psicologia Social” Publica “Uma teoria dinâmica da personalidade” “A theory of cognitive dissonance” “A psicologia das relações interpessoais” “La representation du corp” - 194 -