Zarco Sofia REVISTA DE FILOSOFIA

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ZarcoSofia
REVISTA DE FILOSOFIA
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco. Grupo de Filosofia - Departamento de Ciências Sociais e Humanas.
Ano Lectivo 2008/2009. Edição nº 2 – Maio de 2009
Editorial
Sumário:
- Qual o valor da filosofia?
- Validade dedutiva e indutiva
- Silogismo categórico
- Filosofia para crianças
Regressamos com o segundo número da revista
Zarcosofia. Depois de termos celebrado o dia
da filosofia a 21 de Novembro, continuamos a
publicar os trabalhos dos nossos alunos, que
são um excelente testemunho do que se pode
fazer no contexto da sala de aula: suscitar o
interesse para pensar e escrever sobre as
questões da filosofia.
É de realçar que a revista é concretizada
porque há uma participação dos alunos, com as
suas reflexões. Através do trabalho dos
professores na sala de aula, os estudantes vão
compreendendo que a filosofia é uma
actividade que exige uma reflexão sobre
questões fundamentais da nossa existência
como: “As nossas vidas têm um sentido?”; “Há
alguma demonstração da existência Deus?”;
“Como progride a ciência?” ou ainda “O que é a
arte?”.
A filosofia é, geralmente, dividida em áreas
como a epistemologia, a ética, a metafísica, a
estética e a lógica (entre outras). Neste número
da revista, continuamos a dar ênfase a uma das
áreas mais centrais: a lógica. Esta disciplina
procura estudar e sistematizar a argumentação
válida. Entre as questões que aborda estão, por
exemplo, as seguintes: “O que é um argumento
dedutivo?” e “O que é um argumento
informal?”. Mas o estudo da lógica permite-nos
também saber como escrever um ensaio
argumentativo sobre uma determinada questão.
Assim, para além de uma componente mais
teórica, há também a parte prática.
Portanto, colocamos à disposição dos nossos
leitores um conjunto de trabalhos orientados
pelos professores de Filosofia e realizados pelos
alunos a quem, desde já, agrademos a
disponibilidade e empenho.
Prof. José Henriques
ZarcoSofia
Revista de Filosofia
Qual o valor da Filosofia?
A Filosofia, como a Ciência, a Arte e a Religião, servem
para alargar a nossa compreensão do mundo. A Filosofia é
difícil porque se ocupa de problemas tão básicos que poucos
instrumentos restam para nos ajudarem no nosso estudo.
Por exemplo os matemáticos fazem coisas espantosas com os
números, mas são incapazes de determinar, a natureza dos
próprios números, eles têm de se limitar a usá-los, apesar de
não saberem bem o que são. Todos nos sabemos pensar em
termos de deveres, no dia-a-dia, mas a Filosofia procura saber
qual é a natureza desse pensamento ético, que nos acompanha
sem nos darmos muitas vezes por isso.
Actualmente, a Filosofia serve para pensar criticamente sobre
dos problemas do mundo, apontando caminhos, dando sentido e
sempre questionando.
Problemas da Filosofia é uma nova
excelente introdução à filosofia
publicada pela editora Gradiva.
Nesta editora temos já traduzido os
elementos básicos de filosofia do
mesmo autor, James Rachels. A
tradução é de Pedro Galvão e
recomenda-se.
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
Assim, resumindo a discussão acerca do valor da Filosofia,
temos que a Filosofia deve ser estudada, não causa de
quaisquer respostas exactas às suas questões, uma vez que, por
norma, não é possível saber que alguma resposta exacta é
verdadeira, mas antes por causa das próprias questões, porque
estas alargam a nossa concepção do que é possível,
enriquecendo a nossa imaginação intelectual e diminuindo a
certeza dogmática que fecha a mente à especulação.
Lisandra Alícia Sousa 10º1 /º 12
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Ano Lectivo: 2008/2009
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Revista de Filosofia
Validade dedutiva e validade indutiva
A validade de um argumento consiste na relação entre o valor de verdade das premissas e o valor de verdade da conclusão, ou seja, as
premissas sustentam e apoiam logicamente a conclusão.
A validade varia para um argumento dedutivo e para um argumento indutivo.
Para verificar se um argumento dedutivo é válido temos que ver se as premissas garantem a conclusão. A validade de um argumento
dedutivo depende unicamente da sua forma lógica.
Ex.: Todos os cães são mamíferos.
Bolinhas é um cão.
Logo, Bolinhas é um mamífero.
Neste exemplo, temos que a conclusão está implícita nas premissas. Podemos concluir que Bolinhas é um mamífero porque todos os
cães são mamíferos e Bolinhas é um cão. O argumento é válido. Não seria válido se tivéssemos, por exemplo:
Todos os cães são mamíferos.
Bolinhas é um cão.
Logo, Bolinhas é um réptil.
Este argumento não é válido pois não obedece à forma lógica, em que temos:
Todos os A são B.
C é A.
Logo, C é B.
Analisando o primeiro exemplo, podemos de facto verificar que este seque a forma lógica, mas se analisarmos o segundo exemplo, este
já não a segue. Por isso, o argumento não é válido.
ATENÇÃO!
O argumento pode ser totalmente disparatado mas desde que siga a forma lógica é válido:
Todos os gatos são pedras.
Bola de Neve é gato.
Logo, Bola de Neve é pedra.
Para verificar se um argumento dedutivo é válido, temos ainda a ajuda destas indicações:
Assumir que as premissas são verdadeiras;
Verificar se as premissas apoiam a conclusão logicamente;
Verificar se o argumento está na forma padrão;
Se as premissas apoiarem a conclusão e seguirem a forma lógica, podemos concluir que o argumento é válido.
Temos ainda que se as premissas forem verdadeiras e o argumento for válido, o argumento é sólido.
No caso da validade indutiva já é diferente.
Um argumento indutivo é válido quando é muito pouco provável (embora não seja impassível) que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão seja falsa (ao contrário dos argumentos dedutivos). A validade indutiva depende não só da sua forma lógica mas também do
conteúdo e contexto da argumentação.
Ex.: O Sol nasce todas as manhãs há centenas de anos.
Por isso, o Sol irá nascer amanhã.
Este argumento é um argumento indutivo forte pois as premissas dão-nos fortes razões para acreditar que a conclusão seja verdade
(embora não seja impossível que esta seja falsa).
Podemos ainda ter argumentos indutivos fracos em que as premissas dão-nos fracas razões para assumir que a conclusão seja verdadeira:
Algumas plantas são rosas.
Logo, a próxima planta que vir será uma rosa.
Como sabemos que existem variados tipos de plantas, parece-nos altamente improvável que a próxima planta que vir seja uma rosa mas
isso não quer dizer que seja impossivel que de facto a próxima planta seja uma rosa.
Por estas razões, podeos dizer que um bom argumento indutivo é um argumento forte.
Cláudia Lopes 11º1 nº3
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Revista de Filosofia
A Validade do Silogismo Categórico
Um silogismo categórico é um raciocínio dedutivo que respeita um número específico de regras, constituído por duas
premissas e uma conclusão.
Este contém três termos:
- Termo médio¹ – aparece em ambas as permissas e tem de estar obrigatoriamente distribuído universalmente
numa das premissas. Este termo não aparece na conclusão.
- Termo maior² – é o predicado da conclusão e aparece na premissa maior.
- Termo menor³ – é o sujeito da conclusão e aparece na premissa menor.
Ex:
Silogismo Premissa menor:
Premissa maior: Todos os jovens¹ são rebeldes².
Alguns estudantes³ são jovens¹.
Conclusão: Logo alguns estudantes³ são rebeldes².
No silogismo categórico os termos estão imediatamente antes e depois da cópula (verbo “ser”), razão pela qual um termo
pode ter mais que uma palavra.
Ex: Todas maravilhas do mundo são obras divinas.
Como já anteriormente referido o silogismo categórico tem um número de regras a obedecer para ser válido. Essas regras
são as seguintes:
1. Um silogismo categórico só pode conter três termos (maior, médio e menor) e estes devem ter o mesmo significado ao longo do
argumento.
Ex:
Todas as ursas são brancas.
Ursa é uma constelação.
Silogismo inválido (Falácia dos 4 termos)
Logo, uma constelação e branca.
Todas as ursas são brancas.
Leyla é uma ursa.
Logo, Leyla é branca.
Silogismo válido
2. O termo médio só pode aparecer nas premissas, nunca na conclusão.
3. Os termos maior e menor não podem ter mais extensão na conclusão que nas premissas (não podem ser universais na conclusão e
particulares nas premissas).
Ex:
Todas as abelhas são insectos.
Nenhuma mosca
Inválido (Falácia da Ilícita Maior)
Logo, nenhuma mosca é um insecto.
Todos os insectos são abelhas.
Nenhuma mosca é abelha.
Logo, nenhuma mosca é insecto.
Silogismo válido
4. O termo médio tem de estar pelo menos uma vez distribuído numa da premissas.
Ex:
Todos os gatos são quadrúpedes.
Todos os cães são quadrúpedes.
Silogismo inválido
Logo, todos os cães são gatos.
Todos os quadrúpedes são gatos.
Todos os cães são quadrúpedes.
Logo, todos os cães são gatos.
Silogismo válido
5. De premissas afirmativas a conclusão terá de ser obrigatoriamente afirmativa.
Ex:
Todos os homens são mortais.
Todos os mortais são animais.
Silogismo inválido
Logo, nenhum homem é animal.
Todos os homens são mortais.
Todos os mortais são animais.
Silogismo válido
Logo, alguns animais são homens.
6. De duas premissas negativas nada se pode concluir.
Ex:
Nenhum homem é pessoa triste.
Nenhuma pessoa triste é imaginativa.
Silogismo inválido
Logo, nenhum homem é imaginativo.
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Todos os homens são pessoas tristes.
Nenhuma pessoa triste é imaginativa.
Logo, nenhum imaginativo é homem.
Silogismo válido
7. Nada se conclui de duas premissas particulares.
Ex:
Alguns homens são barulhentos.
Alguns homens são pessoas bonitas.
Logo, algumas pessoas bonitas são barulhentas.
Todos os homens são barulhentos.
Alguns homens são pessoas bonitas.
Logo, algumas pessoas bonitas são barulhentas.
Silogismo inválido
Silogismo válido
8. A conclusão segue sempre a parte mais fraca, ou seja, será negativa quando uma das premissas for negativa; e será particular
quando uma das premissas for particular.
Ex:
Nenhum amigo da Gertrudes é americano.
Todos os alunos desta escola são amigos da Gertrudes. Silogismo inválido
Logo, todos os alunos desta escola são americanos.
Nenhum amigo da Gertrudes é americano.
Todos os alunos desta escola são amigos da Gertrudes.
Logo, nenhum aluno desta escola é americano.
Todos os bebés são lindos.
Alguns animais são bebés.
Logo, todos animais são lindos.
Silogismo inválido
Todos os bebés são lindos.
Alguns animais são bebés.
Logo, alguns animais são lindos.
Silogismo válido.
Silogismo válido
Só ao cumprir todas estas regras é que se confirma a validade de um silogismo categórico.
Nicole Fernandes
Nº 12 Tª11º2
Silogismo Categórico
planeta e Terra como matéria orgânica. Por isso, a regra dos
três termos está a ser quebrada e gerou-se a falácia dos
quatro termos.
O Silogismo Categórico é um tipo de argumento
dedutivo, no entanto, existem regras específicas para
verificar a sua validade. Este tipo de argumento pode conter
unicamente três proposições, duas delas as premissas e a
restante é a conclusão.
Corrigindo o Silogismo
Terra é um planeta.
Todos os planetas são redondos.
Logo, a Terra é redonda.
No Silogismo Categórico existem apenas três
termos. O termo maior, é o predicado da conclusão e está
presente na premissa maior (primeira premissa), o termo
médio que aparece unicamente nas premissas e é o termo
que as interliga, e o termo menor que é o sujeito da
conclusão e está presente na premissa menor (segunda
premissa).
Segundo esta norma nem o termo maior nem o
termo menor devem
estar distribuídos na conclusão não o estão nas premissas.
Esta regra é uma das mais complexas pois envolve o termo
maior e/ou o termo menor.
2)
Ao construirmos um silogismo categórico é
necessário cumprir regras específicas aqui enumeradas:
1)
Dizer que um termo está distribuído significa que
está tomado universalmente.
ATE/ÇÃO: Caso o termo maior e /ou o termo menor
estejam distribuídos nas premissas e não o estejam na
conclusão o silogismo é válido.
O argumento pode ter unicamente três termos,
tendo cada um destes o mesmo significado.
Silogismo que viola a regra
Silogismo que viola a regra (termo maior).
Toda a Terra tem nutrientes.
Terra é um planeta.
Logo, um planeta tem nutrientes.
Todos os quadrados são bolas.
Nenhum polígono é quadrado.
Logo, nenhum polígono é bola.
Verificamos que o termo Terra tem dois significados.
Terra como
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O termo maior (bola) está distribuído na
conclusão e não está nas premissas.
Corrigindo o silogismo
6)
De duas premissas afirmativas só se pode tirar
uma conclusão afirmativa.
Todas as bolas são quadrados.
Nenhum polígono é quadrado.
Logo, nenhum polígono é bola.
Silogismo que viola a regra
Silogismo que viola a regra (termo menor)
Todos os patos são frangos.
Todos os patos são animais.
Logo todos os animais são frangos.
Todas as galinhas são aves.
Todos as aves são animais com bico.
Logo, alguns animais com bico não são galinhas.
O termo menor (animais) está distribuído na
conclusão e não está nas premissas.
3)
A conclusão é negativa, sendo ambas as
premissas afirmativas.
Corrigindo o silogismo
Corrigindo o silogismo
Todos os patos são frangos.
Todos os animais são patos.
Logo, todos os animais são frangos.
Todas as galinhas são aves.
Todas a s aves são animais com bico.
Logo, alguns animais com bico são galinhas.
O termo médio só deve estar presente nas
premissas.
Um silogismo não pode ter duas premissas
particulares, pois destas
nada se conclui.
7)
Silogismo que viola a regra.
Silogismo que viola a regra
Todos os árabes são homens.
Todos os árabes são pessoas simpáticas.
Logo, todos os árabes são homens.
Alguns homens são pessoas altas.
Alguns obesos não são homens.
Logo, alguns obesos não são pessoas altas.
O termo médio (árabes) está presente em todas as
proposições.
Este silogismo viola duas regras pois ao violar a
regra acima referida sempre iremos violar outra regra,
neste caso violamos a regra que afirma que o termo
maior não pode estar distribuído na conclusão se não o
estiver na premissa.
Corrigindo o silogismo
Todos os árabes são homens.
Todos os árabes são pessoas simpáticas.
Logo, algumas pessoas simpáticas são homens.
Corrigindo o silogismo
A conclusão será negativa se alguma premissa
for negativa e será
particular se alguma premissa for particular.
Todos os homens são pessoas altas.
Alguns obesos não são homens.
Logo, alguns obesos não são pessoas altas.
4)
Silogismo que viola a regra.
O termo médio deve estar distribuído pelo menos
numa das
premissas.
8)
Nenhum porco é inglês.
Todos os animais são porcos.
Logo, todos os animais são ingleses.
Silogismo que viola a regra
A premissa maior é negativa e a conclusão é
afirmativa.
Alguns sapatos são artigos caros.
Todos os produtos de qualidade são artigos caros.
Logo, todos os produtos de qualidade são sapatos.
Corrigindo o Silogismo.
O termo médio (artigos caros) não está distribuído em
nenhuma premissa.
Nenhum porco é inglês.
Todos os animais são porcos.
Logo, nenhum animal é inglês.
5)
Corrigindo o Silogismo
Um silogismo não pode ter duas premissas
negativa, pois destas não se tira nenhuma
conclusão.
Alguns sapatos são artigos caros.
Todos os artigos caros são produtos de qualidade.
Logo, alguns produtos de qualidade são sapatos.
Silogismo que viola a regra.
Sérgio – 11º3
Nenhuma bolacha é pão.
Nenhum pão é rocha.
Logo, nenhuma rocha é bolacha.
Corrigindo o silogismo
Toda bolacha é pão.
Nenhum pão é rocha.
Logo, nenhum pão é bolacha.
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Falácias Informais
Ao longo da nossa vida, cometemos argumentos falaciosos
com muita frequência. As falácias são raciocínios ou argumentos
sem validade e que, por isso, erram ou falham o seu objectivo. O
número de falácias informais é muito elevado, no entanto, irei
abordar, neste trabalho, apenas três tipos de falácias informais. A
falácia da derrapagem, de apelo à ignorância e de petição de
princípio.
A falácia da derrapagem ou declive ardiloso ocorre em
argumentos formalmente válidos. Esta consiste em dizer que, uma
vez desencadeada certa acção, aquela não terminará enquanto não
se chegar às últimas consequências. Por exemplo, "Se os
professores tiverem plena liberdade para escolher os manuais
escolares, poderão escolher manuais sem qualidade. Se escolherem
manuais sem qualidade, o ensino poderá degradar-se. Logo, se os
professores tiverem plena liberdade para escolher os manuais
escolares, o ensino degrada-se". Este argumento falacioso resulta
do facto de cada uma das premissas ser ligeiramente improvável.
Mas, ao juntar várias improbabilidades ligeiras, concluímos que há
uma grande improbabilidade. Levando-nos, assim, a previsões e
conclusões muito exageradas.
A falácia de apelo à ignorância ocorre sempre que
confundimos as coisas e pensamos que a inexistência de prova é
prova de inexistência. Não é correcto, por isso, argumentar que uma
proposição é verdadeira, porque não foi provado que é falsa, ou que
uma proposição é falsa porque não foi provada que é verdadeira.
Por exemplo,"Nunca ninguém provou que há extraterrestres. Logo,
não há extraterrestres." Como é evidente, do facto de nunca se ter
provado que há extraterrestres nada se pode concluir: não se segue
que há nem que não há extraterrestres. A não existência de prova
revela, simplesmente, que o nosso conhecimento é limitado e/ou
que ainda existe muita coisa a ser descoberta.
A falácia de petição de princípio ou argumento circular
ocorre sempre que se admite nas premissas o que se deseja concluir.
O caso mais óbvio é a mera repetição: "Deus existe. Logo, Deus
existe." Este tipo de argumento é sempre falacioso. Normalmente,
esta falácia não é formulada de forma tão evidente. Em vez disso, a
premissa falaciosa surge disfarçada com variações gramaticais da
conclusão ou misturada com outras premissas: "Quem tem uma
história de problemas cardíacos não deve correr, porque este
exercício é extenuante e quem tem uma história de problemas
cardíacos não deve praticar exercícios extenuantes." Este
argumento consiste em querer provar a conclusão usando como
premissas a própria conclusão.
A reflexão acima apresentada leva-me a concluir que há
alguns cuidados que temos de ter para não cairmos em erro de
raciocínio. Para tal, não devemos evocar qualquer tipo de falácia
que, muitas vezes, levam-nos a errar no objectivo que pretendemos
defender. Por outro lado se as usarmos defenderemos algo falacioso
e, deste modo, podemos até tornar o nosso discurso ou argumento
confuso (como na falácia da petição de principio), exagerado (como
na falácia da derrapagem) ou, até mesmo, podemos mostrar uma
certa ignorância das crenças que pretendemos defender (como na
falácia de apelo à ignorância).
Já
estudámos
que,
por
vezes,
intencionalmente ou não, cometemos erros
de raciocínio. Esses erros recebem o nome de
falácias. Falácias informais são argumentos
falaciosos cujo erro se deve ao conteúdo
significativo de juízos ou deficiências da
linguagem por que se expressam. Vamos,
pois, estudar alguns argumentos falaciosos
cujos erros se devem, não à estrutura formal
dos argumentos, mas ao conteúdo
significativo dos juízos.
Existindo diferentes tipos de erros,
há, naturalmente, vários tipos como por
exemplo a falácia ad hominem ou apelo
contra a pessoa, falácia ad misericordiam ou
apelo à misericórdia e falácia ad baculum ou
apelo à força, entre outros estas falácias são
as que vou falar.
• Falácia ad hominem ou apelo contra
a pessoa
Este tipo de falácia ocorre quando o
orador, em vez de apresentar razões
pertinentes contra uma opinião expressa por
alguém, pretende refutar essa opinião,
censurando ou atacando a pessoa que a
defende. Assim, o argumento é rejeitado,
com base em qualquer dado irrelevante sobre
o respectivo autor.
Ex.: Se o Miguel afirmar “Roberto disse
que amanhã não há aulas, mas de certeza
que há porque ele é malcriado e um grande
preguiçoso” está a argumentar ad hominem,
pretendendo provar que a afirmação é falsa
porque quem a fez apresenta qualidades
negativas.
• Falácia ad baculum ou apelo à força
Esta falácia recorre a ameaças explícitas ou
implícitas, físicas ou psicológicas para levar os
ouvintes a aceitar a verdade de uma conclusão.
É o que acontece quando faltam razões e se
recorre à violência, seja ela qual for.
Interferindo no ouvinte e não nas suas crenças,
estes argumentos “de mão dura” são
falaciosos, dado que as tentativas de
intimidação não deixam as pessoas decidir
livremente a sua acção.
Ex.: “Quando as autoridades de trânsito,
depois de terem esgotado os demais recursos
persuasivos para levar os condutores a não
ultrapassar os limites de velocidade
estabelecidos, lhes recordam as multas que
terão de pagar pela infracção.”
Vítor Sapeta, 11º 7
Filipa Gonçalves, 11º 7
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O falso dilema é um argumento falacioso
cuja conclusão é deduzida de uma premissa que
apresenta apenas duas alternativas apresentadas como
incompatíveis. Isto é, são apresentadas duas
possibilidades que se consideram como auto
eliminatórias, como se fossem as únicas possíveis.
Designa-se por dilema, porque propõe uma escolha
difícil, e falso, porque há outras opções que
intencionalmente não são consideradas. Quantas
vezes usamos estes argumentos: “ é pegar ou largar”,
ou então “ou concordas comigo ou não”. Ora uma
coisa pode não implicar a outra, pode-se muito bem
concordar parcialmente com essa pessoa.
para silenciar o opositor apelando à reverência pela
autoridade. Os argumentos “Aristóteles disse que a
terra está imóvel. Logo, a Terra está imóvel” e “A
Bíblia diz que a Terra está imóvel. Logo, a terra está
imóvel”, são ambos falaciosos. O primeiro, porque
nem todos os grandes especialistas da altura em
Astronomia (entre os quais contava-se o próprio
Galileu), concordavam com Aristóteles, o argumento
viola portanto a regra que diz que os especialistas do
assunto em causa não podem discordar
significativamente entre si quanto à afirmação em
causa; o segundo, porque a Bíblia é um conjunto de
relatos de carácter não científico, pelo que as
afirmações nela contidas não têm qualquer relevância
para o objecto em causa, violando a regra que diz que
o especialista invocado – a autoridade – tem de ser
um bom especialista da matéria em causa. Considerese agora o seguinte argumento: “o Psiquiatra Daniel
Sampaio defende que toda a gente deve consultar um
psiquiatra pelo menos três vezes por ano. Logo, toda
a gente deve consultar um psiquiatra pelo menos três
vezes por ano”. Imagine-se que todos os grandes
especialistas concordam com o Dr. Daniel Sampaio e
que este é reconhecido como um grande especialista
em psiquiatria. Este argumento pode ser fraco e
consequentemente pouco relevante se houver outros
argumentos que coloquem em causa a conclusão:
dados estatísticos, por exemplo, que mostrem que a
percentagem de curas efectuadas pelos psiquiatras
não é superior à cura esporádica. Ora, é conveniente
ter presente uma outra regra que, de forma mais
directa, nos permitirá detectar a falácia deste
argumento, que diz que os especialistas da matéria
em causa não podem ter fortes interesses pessoais nas
afirmações referidas.
Os argumentos ad hominem são argumentos
que atacam o argumentador e não os seus
argumentos. Aquele que comete esta falácia, ataca o
argumento do opositor, não com base na análise da
sua eventual inconsistência, mas com base na
pretensão de que a pessoa que o formula não merece
credibilidade. É uma falácia muito frequente e que
normalmente resulta bem para aquele que a utiliza.
As suas estratégias mais usuais são atacar o carácter
da pessoa, evidenciar uma contradição entre as ideias
da pessoa e as suas acções, lançar a dúvida sobre os
conhecimentos e a inteligência da pessoa, entre
outras.
É prática corrente dizer ou ouvirmos
dizer:”Dizes que não devo fumar, mas tu andas
sempre com o cigarro na boca”; invoca-se o facto de
a pessoa não praticar o que faz. Outro exemplo:” é
natural que concordes com o congelamento dos
salários, afinal tu para além de seres rico, és
sobrinho do Sócrates”. De referir que o carácter ou
outros aspectos respeitantes à pessoa não têm nada a
ver com a verdade ou falsidade do que ele defende.
Em ambos os casos fazem-se ataques pessoais em vez
de se discutir ideias imparcialmente.
Com este simples trabalho pude constatar
que, algum conhecimento acerca das falácias
informais revela-se muito útil, pois, quando nos
envolvemos em discussões e em debates de vária
ordem, é necessário saber avaliar os raciocínios dos
nossos oponentes. É um triunfo que não poderemos
menosprezar,
se
quisermos
fundamentar
correctamente as nossas posições e contrariar as
posições com as quais não concordamos e que,
muitas vezes, são apoiadas por raciocínios que
configuram falhas ou vícios informais.
Reconhecer falácias implica pensar de
forma crítica, avaliando os argumentos com que nós
somos confrontados e evita o perigo de aderir a
determinadas posições que aparentemente parecem
indiscutíveis, mas que na verdade apenas se sustém
graças ao sacrifício retórico.
É nossa obrigação ter uma atitude de
denúncia em relação a esses vícios e mostrar qual é
realmente a intenção do opositor, fazendo ver que
aquilo que ele refere não é pertinente relativamente
ao assunto em debate.
Fernando Luís Teixeira dos Santos
11º Ano, Turma 3R, -.º 1
Em Filosofia e em qualquer área do conhecimento
não há fuga possível: cada um tem de pensar por si,
avaliando os melhores argumentos contra e a favor
das ideias que se querem discutir e, tomando uma
posição cada vez mais fundamentada, que só será
possível se tivermos bons argumentos.
Ao
tomarmos
conhecimento
dos
argumentos que escondem vícios e fragilidades, as
ditas falácias informais, torna-se menos provável que
incorramos nesse erro e, mais improvável ainda, que
aceitemos como bons, os argumentos falaciosos dos
outros. De salientar que elas constituem formas
importantes de ataque e que podem ser usadas na
argumentação para fins enganadores. As piores
falácias podem não persuadir muitos auditórios, e
nem por isso deixarão de ser falácias persuasivas.
Neste trabalho, dedicarei especial atenção
aos argumentos ad hominem, ad verecundiam e ao
falso dilema, não por serem os que prefiro, mas
essencialmente porque podê-los-ei sentir bem
presentes e bem reais no meu dia-a-dia.
Os argumentos ad verecundiam ou de
autoridade, são formas argumentativas que
respondem precisamente à necessidade de nos
apoiarmos no que os especialistas reconhecidos nos
dizem sobre os temas da sua especialidade.
Constituem, no entanto, falácias quando são usados
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CO/CURSO "O PE/SADOR CO/SISTE/TE"
O teste que aqui propomos pretende medir a consistência dos seus pensamentos.
Responda, apondo um C (concordo) ou um D (discordo) ao número correspondente a cada afirmação. Exemplos: 1. C; 2. D.
Depois explicar-lhe-emos se é um pensador consistente.
ACEITAREMOS RESPOSTAS SÓ ATÉ AO FIM DO MÊS!
EXAME À SUA SAÚDE FILOSÓFICA
Faça o exame
Para fazer o exame à sua saúde filosófica percorra as afirmações abaixo, decidindo se concorda ou discorda com cada uma delas.
(…)
Sabemos que nem sempre concordará ou discordará a 100%, mas quase sempre terá mais tendência para uma resposta do que para
outra. Se estiver hesitante, seleccione a resposta mais próxima da sua opinião. Se não tiver mesmo opinião é altura de formá-la!
O exame à sua saúde filosófica não faz juízos sobre a verdade ou falsidade das suas respostas, por isso responda tão honestamente
quanto lhe for possível. Todas as afirmações foram cuidadosamente concebidas; portanto, preste atenção ao que cada uma delas
realmente diz.
1. Não há princípios morais objectivos. Os juízos morais são mera expressão dos valores de uma
determinada cultura.
2. Desde que não prejudiquem os outros, as pessoas devem ser livres de perseguir os seus próprios fins.
3. As pessoas não devem usar o carro se podem, em alternativa, ir a pé ou apanhar um comboio.
4. É sempre errado tirar a vida a alguém.
5. O direito à vida é tão fundamental que considerações financeiras são irrelevantes quando se trata de
tentar salvar vidas.
6. A eutanásia voluntária deve permanecer ilegal.
7. A homossexualidade é errada por ser contra-natura.
8. É perfeitamente razoável acreditar na existência de uma coisa mesmo sem haver a possibilidade de
obter evidência de que ela existe.
9. A posse de drogas para uso pessoal deve ser descriminalizado.
10. Existe um Deus todo-poderoso, bom e que nos ama.
11. A segunda guerra mundial foi uma guerra justa.
12. Tendo-se feito uma escolha, poder-se-ia sempre ter feito uma outra.
13. Nem sempre é justo julgar um indivíduo tendo apenas em conta o seu mérito.
14. Os juízos acerca das obras de arte são apenas uma questão de gosto.
15. Quando o corpo morre, a pessoa continua a existir de uma maneira não física.
16. O governo não devia permitir a comercialização de tratamentos médicos que não foram testados na
sua eficácia e segurança.
17. Não há verdades objectivas quanto a questões de facto. ‘A verdade’ é sempre relativa a uma
determinada cultura e a um determinado indivíduo.
18. O ateísmo é uma fé tal como outra qualquer, visto não ser possível provar a não-existência de Deus.
19. Medidas sanitárias e medicamentos adequados são, em geral, bons para uma sociedade.
20. Em certas circunstâncias, será desejável discriminar positivamente a favor de uma pessoa como
recompensa para males que lhe tenham sido feitos no passado.
21. As medicinas alternativas e complementares têm tanto valor como a medicina tradicional.
22. Lesões cerebrais graves podem retirar toda a consciência e identidade a uma pessoa.
23. É moralmente repreensível deixar que uma criança inocente sofra inutilmente quando isso se poderia
prevenir.
24. O ambiente não deve ser degradado desnecessariamente para satisfazer interesses humanos.
25. Miguel Ângelo é um dos melhores artistas da história.
26. Um indivíduo tem apenas direitos sobre o seu corpo.
27. Actos de genocídio são um testemunho da capacidade humana para criar grandes males.
28. O Holocausto é uma realidade histórica que aconteceu mais ou menos como os livros de história
relatam.
29. Os governos deviam poder impor um aumento substancial dos impostos para se salvarem vidas no
mundo não desenvolvido.
30. O futuro está traçado. O modo como a nossa vida decorre depende do destino.
Retirado de J. Baggini e J. Stangroom, Do You Think What You Think You Think? The Ultimate Philosophical Quiz (London, 2006).
Tradução Carlos Marques.
Do blog: http://filosofialogos.blogspot.com/ (Logosfera)
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
9
Ano Lectivo: 2008/2009
ZarcoSofia
Revista de Filosofia
Filosofia Para Crianças
No passado mês de Março do corrente ano lectivo deslocamo-nos com um grupo de alunos à Escola Básica e Pré Escolar da Nazaré
para mais uma sessão de Filosofia Para Crianças. Fica aqui as imagens desse dia.
E já agora, um agradecimento especial a todos os alunos que colaboraram do 11º 4 e 11º5.
Escola Básica e Secundária Gonçalves Zarco
10
Ano Lectivo: 2008/2009
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