FATEFÉ - Faculdade e Seminário Teológico da Fé Reformada Cohen University & Theological Seminary - Campus Brazil Professor Max Clayton Marques São Paulo, Brasil - 2012 "Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação" 2 Pedro 1 . 20 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3 2. DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA ...................................................................... 5 3. SUBMISSÃO À VERDADE .................................................................................. 6 4. A BÍBLIA E A REVELAÇÃO DE DEUS ................................................................ 8 5. REGRA FUNDAMENTAL DA HERMENÊUTICA ............................................... 11 6. REGRA DO SENTIDO USUAL E ORDINÁRIO .................................................. 12 7. REGRA DO SENTIDO DA FRASE .................................................................... 14 8. REGRA DO OBJETIVO DO AUTOR.................................................................. 16 9. REGRA DO CONTEXTO ................................................................................... 19 10. REGRA DO TEXTO PARALELO..................................................................... 21 11. REVELAÇÃO PROGRESSIVA........................................................................ 24 12. ESTILOS LITERÁRIOS ................................................................................... 26 13. APLICAÇÃO .................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36 Hermenêutica 3 1. INTRODUÇÃO A Reforma Protestante trouxe uma grande conquista para a Igreja de Cristo. Lutero considerava que a distância entre o povo de Deus e Sua Palavra levaria a Igreja à corrupção; assim, se propôs ao estudo dos idiomas originais e ao ensino da Bíblia como única autoridade e regra de fé para a Igreja, “Sola Scriptura”. Aos 31 de outubro de 1517, as 95 teses luteranas foram fixadas na Igreja do castelo de Wittenberg. Antes da Reforma, a leitura da Bíblia estava reservada aos conhecedores dos idiomas originais e do latim; Lutero inicia um sistema de educação para que o povo pudesse aprender a leitura bíblica em alemão, de modo que a Bíblia passa ser acessível a todos. Assim, a Bíblia passa a ter o devido reconhecimento como verdadeira Palavra de Deus. Ao aproximar-se da Bíblia, o cristão deve ter a consciência de que não se trata simplesmente de mais um livro. Embora seja um material compilado por seres humanos e que deve ser estudado segundo regras comuns de interpretação textual, a verdadeira Palavra de Deus está revelada na Bíblia Sagrada, segundo a inspiração divina sobre os escritores do Antigo e do Novo Testamentos. O Estudo Pessoal Da Bíblia O estudante da Bíblia deve ter uma postura de reverência para com ela, devido ao conhecimento de seu Autor (1Ts 2.13); de desejo por encontrar-se com o Senhor, pois Ele assim promete (Jr 29.13); de disposição e humildade para obedecer ao Senhor (Sl 25.9; Is 66.2; 1Co 2.14-15); de perseverança, pois a Bíblia serve de bússola para a jornada até Deus (Jo 8.31; 2Pe 1.3-11). Além da postura necessária para estudar o Texto Sagrado, o cristão deve se aproximar da Bíblia buscando mais do que acúmulo de conhecimento. Deve buscar na Bíblia, em primazia, a salvação (Jo 5.24, 39, 6.68; Ef 1.13; 2Tm 3.15; Tg 1.21); a direção para os seus caminhos (Sl 119.105); fé (Rm 10.17); a esperança (Rm 15.4; 2Pe 1.19); a alegria (Sl 19.8; Jr 15.16); a paz (Sl 119.65); o sustento (Dt 8.3; Mt 4.4; 1Tm 4.6); o crescimento (1Pe 2.2); a pureza (Sl 119.9; Jo 15.3; Ef 5.26; 1Pe 1.22); a santidade (Jo 17.17; Ef 5.26); a maturidade (Hb 5.12-14); a sabedoria (Sl 119.98100; 2Tm 3.15); as defesas espirituais (Mt 4.1-11; Ef 6.17); a eficácia espiritual (2Tm 3.16-17); a introvisão (Hb 4.12; Tg 1.22-25); a cosmovisão (Rm 16.25-27) e a bemaventurança (Sl 119.1; Lc 11.27-28; Ap 1.3). O estudo pessoal da Bíblia capacita o cristão a pensar por si mesmo a respeito de sua fé e das doutrinas bíblicas, de modo a experimentar a alegria da Hermenêutica 4 descoberta pessoal. Também capacita o estudante a avaliar palestras, preleções e materiais de estudo de maneira crítica, auxiliando os demais na compreensão e aplicação da Palavra de Deus. Estudar a Bíblia devocionalmente leva o cristão a conhecer melhor e desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus, que se revela em Sua Palavra. Isso é crescimento espiritual. Além disso, o estudo pessoal prepara o estudante para manejar bem a Palavra da verdade (2Tm 2.15), evitando erros quanto ao contexto e aplicação de textos bíblicos (2Pe 1.20; 1Co 2.13). Hermenêutica 5 2. DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA A hermenêutica é a ciência, a técnica e a arte da interpretação. É um ramo da filosofia cujo objeto de estudo são os métodos e as leis para a interpretação correta das informações. A hermenêutica tradicional refere-se ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito, incluindo, assim, a hermenêutica Bíblica. Atualmente, a hermenêutica engloba, além de textos escritos, formas verbais e não verbais de comunicação e os aspectos que afetam a comunicação, como preposições e pressupostos. É importante salientar que as regras de interpretação não foram criadas pelos cristãos para a leitura bíblica. Não são regras variáveis, mas métodos e regras que têm sido usadas com eficácia pelo homem há milênios, para a comunicação clara e correta, de modo que essas regras se tornam naturais no dia a dia no convívio da comunicação. Entretanto, ao passo que a comunicação, no caso a Bíblia, se torna complexa devido à sua época, é necessário empregar especificidades para a correta compreensão. Estas regras são chamadas de hermenêutica bíblica. Origem Do Termo O termo "hermenêutica" tem origem no verbo grego "hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, "traduzir", ou seja, é levar o escrito a "tornar-se compreensível" ou "à compreensão". Segundo alguns intérpretes, o termo deriva do grego “Hermes”, na mitologia, o mensageiro dos deuses que entregava e interpretava as mensagens aos mortais. No sentido de interpretação correta e objetiva da Bíblia, o termo é usado desde os séculos XVII e XVIII. Spinoza é um dos precursores da hermenêutica bíblica. Para outros intérpretes, o termo deriva do grego "ermēneutikē" que significa "ciência", "técnica" e tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou religiosos. Hermenêutica geral e hermenêutica especial Hermenêutica geral é o estudo das regras de interpretação que regem a interpretação do texto bíblico inteiro, incluindo questões como análises históricoculturais, léxico-sintáticas, contextuais e teológicas. Hermenêutica especial refere-se ao estudo das regras que se aplicam a gêneros específicos como parábolas, alegorias, tipos e profecias. Hermenêutica 6 3. SUBMISSÃO À VERDADE É impossível compreender um texto bíblico se o intérprete se aproximar deste com uma ideia preconcebida sobre seu significado, seja por um aprendizado deficiente ou por interesse pessoal. A perseguição contra Jesus nos dias em que andou na terra se deve, em grande parte, à resistência dos líderes religiosos em aceitar a interpretação correta que ele fazia da lei e dos profetas. Mt 5.19-22: Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Mt 5.27,28: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. A tradição oral sobrepujava a importância das escrituras, de modo que seria impossível interpretar textos cujo significado era determinado pelos escribas, fariseus de doutores da lei. Mt 15.3: Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?. A submissão ao Espírito santo é o caminho para alcançar a interpretação correta das escrituras, independente do conhecimento das técnicas e leis da hermenêutica. O espírito Santo não é único espírito que procura influenciar o ser humano. Este é influenciado por suas próprias concepções pré-estabelecidas e, se não estiver em Cristo, pode ser influenciado pelo espírito do inimigo. 1 Co 2.11-12: Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. Hermenêutica 7 Deus preocupa-se com a submissão à sua Palavra e Jesus demonstrou a mesma preocupação em seu ministério terreno. Os 4.6: O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. Jo 7.17: Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. O desejo humilde e submisso de fazer a vontade de Deus é fundamental para a interpretação correta das escrituras sagradas. Hermenêutica 8 4. A BÍBLIA E A REVELAÇÃO DE DEUS Diferente das demais ciências, nas quais o estudioso está acima de seu objeto de estudo, a interpretação bíblica parte da compreensão de que Deus deu uma revelação de Si mesmo e Sua vontade. O cientista bíblico apenas conhece Deus ao passo que este se dá a conhecer. Uma vez que a Bíblia se apresenta como a verdade revelada de Deus, deve ser compreendida como obra sobrenatural deste. Inspiração Para que a Bíblia chegasse aos dias atuais na forma como está, Deus se valeu de autores humanos, que foram inspirados por Ele para a compilação dessa obra (1Ts 2.13). Inspirado significa soprado, exalado por Deus, ou seja, embora escrevendo segundo seu próprio ponto de vista (Js 10.13), produziram obras segundo a vontade de Deus. Iluminação Ao passo que a inspiração foi a obra mediante a qual Deus usou homens para a produção literária de sua revelação, a iluminação é o ministério do Espírito Santo, que esclarece as verdades reveladas na Bíblia para seus leitores (Jo 16. 12-15). É importante que o estudante sincero peça que o Espírito de Deus sonde seu coração (Sl 139.23,24), confessando seus erros (Sl 32.5; 51.2,7,10,17; 66,18; 1Jo 1.9), segundo o Espírito Santo ensina mediante a Palavra de Deus e, assim, pedir um coração receptivo, sedento e obediente (Sl 42.1,2; Pv 23.12; Hb 10.22). A revelação de Deus A natureza não revela a verdade de Deus, pois ela está numa esfera estranha ao pensamento humano, pois o pecado corrompe o pensamento humano, de modo que este não compreende a mente de Deus. 1 Co 2.14: Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Deus sempre teve um propósito de revelar-se ao homem. Depois da criação, forma um jardim para ser um local de encontro com o ser humano: Gn 1.8: E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e pôs ali o homem que tinha formado. Depois do pecado humano, continua a revelar-se na história, através de teofanias, profetas, visões de anjos. No NT, o ápice da revelação de Deus. Revelase através de Jesus Cristo: 2 Co 4.6: Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Hermenêutica 9 Mas a ferramenta principal da revelação de Deus é a sua Palavra. É na Palavra que o ser humano conhece Deus, seus atributos e seus propósitos. Dt 29.29: “As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei”. Deste modo, compreende-se que Deus revelou tudo o que é necessário saber sobre as coisas espirituais. Não há, da parte de Deus, discursos exaustivos e científicos, mas uma revelação da verdade para que o homem cumpra seus propósitos nesta vida. Ec 12.13 De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem. Este princípio está relacionado com quatro verdades básicas: 1. A Revelação do próprio Deus A criação testifica a existência de Deus. A humanidade é indesculpável ao não crer e entregar-se, submetendo-se à sua vontade. Sl 19.1: OS céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Rm 1.18-20: Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; A revelação que Deus faz de Si mesmo revela que Ele é Criador e Senhor, de modo que todos os homens devem fidelidade e adoração a Ele. Além disso, revela Sua direção providencial de todas as coisas para o bem da criatura que se submete à vontade de Deus. A desobediência encaminha à condenação, porém, é um assunto primordial das escrituras o fato de que o Deus Triúno que guarda a aliança que fez com o Seu povo realizou uma redenção por eles, e isso desde o princípio. Gn 3.15: E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Mt 1.21: E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. Assim, a seguinte compreensão é fundamental à interpretação correta das escrituras: “Todas as coisas revelam a personalidade graciosa de Deus, e devem ser reconhecidas como a revelação que Ele faz de Si mesmo”. Hermenêutica 10 2. A revelação da depravação humana A escritura sagrada ensina que o homem nasce em um estado de depravação. Adão, como representante de toda a humanidade, pecou. O resultado é um estado natural de pecaminosidade sobre todos. Rm 5.12: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram. Rm 3.23: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Isso não significa que o homem tenha maus desígnios em tudo o que faz, mas que uma aversão inata move o homem natural a ser alienado de Deus. Assim, é impossível interpretar a Palavra de Deus corretamente sem a aceitação da depravação total do homem. 3. A revelação de Deus é pela graça A graça é o único meio pelo qual o homem se achega a Deus sem a condenação que lhe é cabida. De outra forma, não haveria esperança para o ser humano. Rm 10.17: De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. Rm 4.16: Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós. É necessário compreender e aceitar a exclusividade da graça divina como meio de conhecer a Deus para uma justa interpretação da Palavra de Deus. 4. A revelação da bondade de Deus aos homens Uma característica de Deus presente em todas as suas atitudes para com o ser humano é a sua bondade, até que o homem as rejeite mediante rebelião. A criação foi estabelecida para manifestar bondade de Deus ao ser humano. O sofrimento é resultado do pecado humano, seja este próprio, do mundo em geral ou oriundo em Adão. A bondade de Deus se evidencia no fato de que o próprio arrependimento humano tem origem em Deus. Rm 2.4: Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? A bondade de Deus foi revelada na criação para o ser humano perceba o valor dado por Deus ao amor do homem. Hermenêutica 11 5. REGRA FUNDAMENTAL DA HERMENÊUTICA A Escritura Sagrada interpreta a si mesma. A regra mais fundamental da hermenêutica bíblica é esta: a Bíblia é seu principal intérprete. Evidentemente, isso não exclui do estudo da Bíblia o conhecimento geral, livros da cultura e costumes judaicos, livros de história de civilizações paralelas às da Bíblia, dicionários, consulta aos idiomas originais, entre outros. O fato é que a inspiração divina está limitada aos sessenta e seis livros e, apenas eles, podem manifestar a Revelação de Deus. Assim, a Bíblia é interpretada e explicada pelo seu próprio conteúdo. O primeiro a transgredir o princípio mais básico da interpretação bíblica foi Satanás, distorcendo o significado das palavras de Deus, omitindo parte do conteúdo e citando apenas o que lhe convinha: “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Gn 3.1-5 Na atualidade, as interpretações errôneas são as mais diversas. Por falta de caráter dos que usam do texto bíblico, por ignorância das regras hermenêuticas ou por um aprendizado deficiente. Textos fora de seus contextos ou interpretados segundo a vontade de homens criam heresias as mais diversas na Igreja de Cristo. Ao se deparar com interpretações diferentes ou contraditórias, o intérprete deve buscar o texto na Bíblia, tendo a regra fundamental como norte para averiguação da veracidade do significado do texto. 2Pe 1.20: Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Desta regra, surgem outras regras fundamentais para a interpretação bíblica: Hermenêutica 12 6. REGRA DO SENTIDO USUAL E ORDINÁRIO Esta regra quer dizer que determinada palavra usada nas Escrituras deve ser compreendida em seu sentido mais comumente aceito. Naturalmente, se Deus tivesse a intenção de dar uma revelação de Si mesmo à humanidade, o faria em palavras que o homem pudesse entender facilmente, e não encobrir o sentido em termos misteriosos e desconhecidos. A Palavra de Deus é chamada de “revelação” (grego apokalupse), porque revela Sua vontade e caminho ao homem. Enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu sentido usual e ordinário. Os escritores bíblicos escreveram com o propósito de deixar uma mensagem clara ao povo de Deus e ao mundo, usando palavras conhecidas pelo povo em geral da época em que o texto foi escrito. Assim, devem-se interpretar as palavras no sentido simples do que elas significam e do que elas significavam para os seus destinatários originais. “Deste-lhe [ao homem] domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”. Sl 8.6-8. No texto acima, as ovelhas seriam os crentes em Cristo e os peixes os homens que precisam de evangelização? É evidente que não. Esse é um tipo de erro comum que pode ser evitado se a primeira regra for respeitada: Ovelhas são ovelhas e peixes são peixes, simplesmente. Contudo, é necessário observar que sentido usual nem sempre é equivalente a sentido literal. Cada idioma apresenta peculiaridades e singularidades que ficam destituídas de seu sentido em uma tradução literal. Exemplo: Veja-se a expressão da Língua portuguesa “cara de pau”, que, na linguagem popular, se refere a alguém que mente ou dissimula sem peso na consciência. Uma tradução ao pé da letra para o inglês “face of timber” não teria o menor sentido para um falante de tal idioma. Assim, estas particularidades devem ser levadas em conta no momento da interpretação do grego ou hebraico, bem como o uso destas palavras na cultura da época. Isto se deve ao fato dos escritores bíblicos se dirigirem, em um primeiro momento, ao povo em geral, usando linguagem figurada e popular. O resultado é o abundante uso de figuras retóricas, símiles, parábolas e expressões simbólicas. "Porque toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra" (Gn 6.12, grifo do autor). Hermenêutica 13 O sentido literal da palavra carne – tecido muscular do homem e dos animais - não expressa a ideia do texto, pois não foi a carne humana que se corrompeu, mas os homens representados por esta carne. Da mesma forma, o caminho – faixa de terreno que conduz de um lugar a outro, terreno ou espaço por onde se anda - do homem não estava corrompido, mas os costumes, modo de vida, religião, etc. “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno”. Mt 5.29 Da mesma forma, Jesus não está sugerindo a automutilação, mas usando um modo próprio de expressão do idioma original, enaltecendo a vantagem de sacrificar algo valioso com o objetivo de obedecer à vontade de Deus – ainda mais valiosa. “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” 1 Pe 1.20,21 A palavra profecia neste trecho e em outros não se restringe à predição de acontecimentos futuros. A palavra grega propheteia significa literalmente proclamar, pregar. Este é o sentido mais comum nas escrituras. Assim, profecia significa a proclamação do conselho de Deus (pro, para frente, phemi, falar). É fato que grande parte das profecias do Antigo testamento trata de previsão, mas isso não encerra a ideia de profecia na Bíblia. A profecia é uma declaração do que não se pode conhecer por meios naturais e a proclamação da vontade de Deus, seja com referência ao passado, ao presente ou ao futuro (Gn 20.7; Dt 18.18; Ap 10.11; 11:3). Hermenêutica 14 7. REGRA DO SENTIDO DA FRASE É necessário considerar a frase em que as palavras aparecem, questionando o pensamento do autor para determinar o sentido correto que a palavra assume dentro de uma frase. Em qualquer tipo de mensagem, escrita ou falada, o sentido das palavras muda de acordo com a frase em que estão inseridas. É absolutamente necessário tomar as palavras no sentido que indica o conjunto da frase. Um exemplo é o uso da Palavra fé nos diferentes trechos: "ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem." Hb 11.1. Aqui a palavra fé é usada no seu sentido primário: convicção, crédito na existência de um fato, crença, confiança. "Agora prega a fé que outrora procurava destruir" Gl 1.23 Neste trecho, entretanto, analisando o conjunto da frase, o sentido primário da palavra fé não encerra a ideia do versículo. Do conjunto desta frase precebe-se que fé, aqui, significa a doutrina do Evangelho. "Mas aquele que tem dúvidas, é condenado, se comer, porque o que faz não provem de fé; e tudo o que não provam de fé é pecado" Rm 14.23. Neste verso a palavra se refere ao dever cristão para com os irmãos. Outro exemplo prático desta regra, é a analise do significado da palavra “sangue” em cada um dos diferentes textos bíblicos: “Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”. Mt 16.17 Neste texto, Jesus se refere à percepção humana de Pedro, afirmando que não foi esta quem lhe revelou a divindade de Jesus. Assim, sangue = percepção humana. “Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos importa? Isso é contigo”. Mt 27.4 Nesta passagem os Judas reconhece que Jesus era uma pessoa inocente e devolve o dinheiro pelo qual o entregou, de modo que sangue = pessoa. “E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue”. Mt 27.6 Hermenêutica 15 Os sacerdotes dizem que o dinheiro devolvido por Judas foi o preço do assassinato de Jesus, portanto, sangue = assassinato. “E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!”. Mt 27.25 O povo diz a Pilatos que assumiria a culpa pela morte de Jesus, ainda que o próprio Pilatos o considerara inocente. Assim, sangue = culpa. “Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”. Jo 19.34 Nesta última passagem, não há outra palavra a encaixar no texto, senão o próprio sangue que escorreu de Jesus, logo sangue = sangue. Hermenêutica 16 8. REGRA DO OBJETIVO DO AUTOR É preciso tomar em consideração o desígnio ou objetivo do livro ou passagem em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras. Essa regra pressupõe a adequada consideração do “quem”, “o que”, “quando”, “como” e “por que” do assunto que está analisado. 1. Quem escreveu este texto? O salmo 23 foi escrito por um pastor de ovelhas. A consideração dos pormenores desta profissão na época de Davi contribui para extrair princípios e ensinamentos, aproveitando mais daquilo o que o autor quis transmitir em sua poesia, no que se refere a Deus como o Pastor e ao homem como ovelha do Senhor. O evangelho segundo Mateus foi escrito por um judeu que andou com Jesus, o que explica o esforço do autor para provar que Jesus é o cumprimento das predições antigas, ao passo que Lucas é um gentio, médico (Cl 4.14) que não foi testemunha ocular dos acontecimentos, o que explica a minuciosidade da pesquisa que realizou para poder escrever e a riqueza de detalhes em seus livros. 2. A quem é dirigida esta parte da Escritura? Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. 1Co 9.2 Este trecho da escritura não pode ser aplicado à igreja em geral, pois o autor está defendendo o seu apostolado e invocando os Coríntios como selo deste, uma vez que estes chegaram à fé pelo ministério de Paulo. Assim, apenas conhecendo os destinatários é que se pode interpretar o texto. E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Ec 12.7 Este versículo dá a impressão de que todo espírito volta a Deus depois da morte, quando, na verdade, a mensagem da Bíblia afirma que nem todos herdarão o Reino dos Céus. Voltando alguns versículos para encontrar a quem se destina esta afirmação, tem-se: LEMBRA-TE também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento Ec 12.1. Ou seja, o pregador exorta o homem a lembrar-se de Deus enquanto jovem, pois se apenas lembrar-se de Deus depois de velho, chegarão os anos difíceis, não terá contentamento em seus dias, a morte chegará e para este homem – que se lembrou de Deus - a morte levará o corpo ao pó e o espírito a Deus. Assim, sabendo quem é o destinatário da mensagem, é possível a correta interpretação. Hermenêutica 17 Haverá textos na Escritura que serão destinados a um destinatário específico, o que não elimina sua relevância para a atualidade, seja em princípio, seja em revelação da personalidade e propósitos de Deus. Outros textos, no entanto, são destinados a todos os leitores da Bíblia, ainda que, originalmente, tivessem um destinatário específico. Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. 1Ts 4.13 Este texto, embora destinado originalmente à igreja em Tessalônica, pode ser direcionado e aplicado a todos os cristãos de todas as épocas. 3. Qual o objetivo deste autor neste trecho das Escrituras? Para compreender o desígnio ou objetivo do livro, é necessário estudá-lo e analisá-lo exaustiva e minuciosamente, considerando a época e o contexto de sua escrita. Muitas vezes o objetivo do livro está expresso em seu próprio texto: PROVÉRBIOS de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência. Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade; Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso; Pv 1.1-4 Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. Jo 20.31 Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e Salvador. 2Pe 3.2 Determinar o objetivo do livro elimina aparentes contradições e facilita ao intérprete pensar como o escritor, olhando na mesma direção, facilitando a interpretação. Existem passagens que se referem a questões isoladas e culturais dos destinatários: Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. 1Co 11.6 Há passagens que estão respondendo perguntas dos destinatários: ORA, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; 1Co 7.1 Por que João parece tão diferente de Lucas ao contar a mesma história? Porque o objetivo de João não era fazer uma acurada investigação dos fatos como Lucas (Lc 1.1-4) para possível comprovação histórica, mas mostrar para os crentes a verdadeira identidade do Senhor Jesus (Jo 20.31) e tudo o que ele escreve visa o cumprimento deste objetivo. Assim, ao ler Lucas, o intérprete terá em mente sua dedicação por detalhar fatos para alguém que, provavelmente, não conhecia a Hermenêutica 18 história de Jesus; mas ao ler João, pensará em um livro que visa mostrar a verdadeira personalidade do Cristo e causar um efeito vivificador nos leitores cristãos. Outro exemplo que demonstra bem a aplicação desta regra diz respeito à questão da fé e das obras sob o ponto de vista de Paulo e Tiago. Aparentemente, Paulo defende a fé em detrimento das obras, enquanto Tiago defende as obras desprezando a fé. Porém, levando em conta o objetivo evidenciado nos escritos de cada autor, percebe-se que não há contradição doutrinária entre eles: "Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei." Rm 3.28 Paulo não está excluindo a importância das obras do Cristão. Tanto que, alguns versículos antes, afirma: "O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção” Rm 2.6. O objetivo do autor com esta afirmação é defender que as obras – embora necessárias e indispensáveis – não podem salvar. Paulo não diminui a importância das obras, mas exclui a participação destas obras, as obras da lei, na salvação do homem. Isto é percebido na leitura do contexto geral de Romanos, como nos versos abaixo: Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Rm 3.19,20 Tiago, por sua vez, está preocupado com a prática da religião. O ouvir a Palavra e viver, atentando para o seu conteúdo: E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. Tg 1.22-25 Assim, Tiago afirma que a fé sem as obras não são proveitosas: Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo? Tb 2.14 O que Tiago defende não são as obras para a salvação, mas as obras que provém da salvação, as obras que mostram a fé que as pressupõe. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tg 2.18 Hermenêutica 19 9. REGRA DO CONTEXTO É necessário tomar as palavras no sentido que indica o contexto, isto é, os versos que precedem e seguem o texto que se estuda. Quando a frase ou versículo não são suficientes para definir o significado do termo, deve-se recorrer aos versículos que antecedem ou sucedem o trecho bíblico. A palavra “contexto” significa literalmente “tecer junto” e trata do que está escrito antes e depois de uma palavra ou passagem específica das Escrituras. Assim, o contexto de um texto das Escrituras são os versículos ao redor que têm relação com o mesmo assunto ou tema “...pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo”. Ef 3.4 O texto acima menciona que Paulo compreendeu algum mistério no que se refere a Cristo. O trecho isolado sugere que Paulo saberia coisas a respeito de Cristo que não registrou na Bíblia. Um pregador desavisado poderia usar deste texto para incentivar os ouvintes a orarem em busca da revelação de algum mistério. Porém, à luz do contexto, é evidente que não: “Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho” Ef 3.1-6. O texto na íntegra revela que o mistério nada mais é do que a participação dos gentios na Nova Aliança em contraste com a Antiga. “Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram me acham”. Pv 8.17 Não é incomum que este texto seja usado por pregadores para afirmar que o ser humano precisa amar a Deus para ser amado por ele. Porém, a Bíblia afirma que Deus ama ao pecador que o despreza, pois o amor é a própria essência de Deus: Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. 1Jo 4.8. A Bíblia afirma, ainda, que quem ama a Deus o ama em consequência de seu próprio amor: "Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro." 1Jo 4.19. Hermenêutica 20 Além disso, Deus não tem preferência por horários. Afinal, os cristãos primitivos oravam nos mesmos horários dos judeus e Jesus afirmou que, onde houvessem dois ou três reunidos em seu nome, ali se faria presente independente do horário. E PEDRO e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona. At 3.1 "Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles." Mt 18.20 Assim, o texto deve ser considerado em sua totalidade: “Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de conhecimentos e de conselhos. O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço. Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha é a fortaleza. Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam justiça. Por meu intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os juízes da terra. Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram me acham. Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e justiça”. Pv 8.12-18. O contexto revela que o texto se refere à sabedoria, que só ama os que a amam e só é achada por aqueles que passam as madrugadas estudando e meditando para adquiri-la. Deus ama a todos e ouve as orações realizadas em qualquer hora e lugar. A regra do contexto não se limita aos versículos ou mesmo ao capítulo que está sendo analisado, pois este pode não ser suficiente para esclarecer o seu sentido. Assim, a regra do contexto é gradativa: Palavra – Frase – Capítulo – Livro – Bíblia. Hermenêutica 21 10. REGRA DO TEXTO PARALELO É indispensável consultar as passagens paralelas explicando as coisas espirituais pelas espirituais. A palavra “paralelo” significa lado a lado, de modo que esta regra está relacionada com o agrupamento de todas as passagens que se relacionam com determinado assunto, quer elas usem a mesma terminologia ou não. Para estudar um assunto utilizando o uso comum, é necessária uma Concordância para mostrar onde os mesmos termos aparecem em outros lugares das Escrituras. Ao aplicar a lei da referência paralela é bastante útil um Livro de Tópicos ou de Assuntos. Esta ferramenta tem uma índice temática, ou seja, uma lista de temas relacionados agrupados pelos seus diversos tópicos. Assim, o intérprete deve consultar as passagens bíblicas que fazem referência umas às outras, possuem alguma ligação entre si ou tratam do mesmo assunto. Há três classes de paralelos: 1. Paralelos de palavras É necessário traçar um paralelo entre as palavras e afirmações obscuras para determinar seu verdadeiro sentido: “E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade”. At 13.22 O texto afirma que Davi foi um rei segundo o coração de Deus. Porém, a história deste personagem revela o pecado e reprovação e até mesmo o castigo de Davi. Deus teria aprovado todos os atos de Davi? O adultério, a poligamia, o homicídio e outros erros que Davi cometeu são condenados pela mensagem da Bíblia. Para solucionar esta dificuldade de interpretação é necessário fazer uma consulta a outros textos bíblicos que falem a respeito de Davi. “Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre”. 1Sm 2.35 Este texto mostra que Davi foi um homem segundo o coração de Deus em sua missão de rei-sacerdote, a qual cumpriu muito bem. O texto de 1Samuel 13.14 confirma esta verdade. Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o SENHOR, que Hermenêutica 22 seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou. 1Sm 13.14 2. Paralelos de ideias Quando uma ideia defendida em algum trecho da Bíblia parece contraditória com a mensagem geral, é possível usar o paralelo desta ideia para esclarecer seu significado. “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Mt 16.18 O texto acima passa a ideia de que Pedro é a pedra sobre a qual Jesus edificaria sua Igreja. Não seria muito perigoso que Jesus tivesse estruturado sua igreja sobre um homem, ainda que de Deus, limitado e sujeito a errar? Uma análise a respeito da ideia de uma pedra fundamental esclarece a questão. Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo; Pelo Senhor foi feito isto, E é maravilhoso aos nossos olhos? Mt 21.42 Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. Ef 2.20,21 Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. 1 Co 3.10,11 Além destes textos, o próprio apóstolo Pedro fala a respeito da pedra: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos”. 1Pe 2.4-8 Logo, a dificuldade de interpretação de um único texto isolado – Mateus 16.18 – é esclarecida por inúmeros textos bíblicos que apontam Jesus como “a única Pedra angular”. Hermenêutica 23 3. Paralelos de ensinos gerais Algumas questões de difícil interpretação devem ser analisadas de acordo com os ensinos gerais da Bíblia. Por exemplo, Deus é descrito como Onisciente, Onipotente, Transcendente, Espírito Perfeito, mas há textos que descrevem Deus com características de homem, limitando-o a tempo, lugar, espaço, etc. Para compreender este tipo de aparente contradição, levam-se em consideração os ensinos gerais da Bíblia que, apesar de ser uma obra inspirada por Deus, foi escrita para seres humanos, revelando Deus de modo que os seres humanos o possam compreender. A esse fenômeno, a teologia chama antropomorfismo – Deus se revela com aparência de homem e antropopatia – Deus se revela com sentimentos de homem. Assim, quando há referência a Deus de maneira limitada, não se deve esquecer que faz parte daquela passagem isolada, sendo o ensino geral o que deve prevalecer para formulação de conceitos teológicos. Hermenêutica 24 11. REVELAÇÃO PROGRESSIVA A Bíblia foi escrita durante, aproximadamente, dezesseis séculos, por cerca de quarenta autores diferentes e em diversas línguas, com centenas de tópicos; é notadamente uma obra sobrenatural que a Bíblia apresente espantosa unidade temática — Jesus Cristo. Assim, visto que Deus levou milênios para a conclusão dessa obra, é de se compreender que a Revelação de Deus foi gradual e que as mensagens mais recentes da Bíblia confirmam, interpretam ou explicam as mais antigas. HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, Hb 1.1 É importante lembrar que, a cada século, Deus inspirava escritores para revelar mais de Sua verdade. Assim, houve acréscimo de fato para fato, e verdade para verdade, de modo que as doutrinas eram brotos no começo, mas durante o processo de revelação, se expandiram até amadurecerem em flor. Usando a comparação de B. H. Carroll, “em seu início a Bíblia escolhe e aponta para a raiz completamente suficiente da qual todas as doutrinas brotam. A raiz é Deus. Nele são inerentes todas as virtudes que podem criar e sustentar um mundo. Portanto, conhecendo a ele, a criatura inteligente conhecerá as doutrinas que podem instruí-la e edificá-la. Daí a forma elementar de uma doutrina se achará nas partes mais antigas das Escrituras; a forma mais desenvolvida nos livros posteriores. Isso cria duas regras similares de interpretação. O sentido de uma palavra ou frase num livro posterior das Escrituras não deverá ser transferido para um livro mais antigo, a menos que o contexto exija. A forma de uma doutrina numa parte subseqüente da Bíblia não deve ser aceita como plenamente desenvolvida numa parte precedente sem a sanção do uso e do contexto”. Veja-se as declarações dos profetas do Antigo testamento, muitas vezes obscuras e que aparentavam ter aplicação restrita àquela época. Nos dias do Novo Testamento estas se revelam como predições de eventos futuros. Sim, e todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também predisseram estes dias At 3.24 A promessa feita a Abraão de que este teria uma descendência incontável e que abençoaria a terra parecia cumprida quando o povo de Israel deixou o Egito e entrou na terra prometida. ORA, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gn 12.1-3 Hermenêutica 25 Mais de seiscentos mil homens (Nm 11.21), fora as mulheres e crianças deixaram o Egito e entraram na terra prometida. O reino cresceu e prosperou. No reinado de Davi houve expansão geográfica; no reinado de Salomão crescimento diplomático e econômico. O reino de Israel se tornou notório e passaram a considerar o cumprimento das promessas de Deus. "Portanto assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão, acerca da casa de Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua face." Is 29.22 Mas o Novo testamento revela que esta promessa, esta descendência abençoadora diz respeito a um único descendente: Jesus Cristo, pois apenas nele são benditas todas as famílias da terra. "Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo." Gl 3.16. Por séculos os Salmos foram entoados como simples relatos de Davi acerca de suas dificuldades e aflições, e sua conduta sob essas circunstâncias. Mas o Novo Testamento revela o sentido profético dos Salmos. “Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o teu reino, Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção”. At 2.30-31 A Revelação progressiva fica evidente na carta aos Hebreus, que traça um comentário neotestamentário acerca do sistema sacrifical veterotestamentário. O Pentateuco apresenta o tipo que, por milênios foi a única faceta da revelação que os homens possuíam. Mas Hebreus apresenta o antítipo, ou sejam, a explicação deste tipo. Na verdade, todo o Novo Testamento apresenta esse caráter de uma interpretação veterotestamentária. Essa compreensão facilita o estudo de passagens nas quais Deus que diz: “Não matarás” manda matar nações inteiras, além de outras questões de difícil interpretação. Havia um propósito que apontava para Cristo, o que só pode ser compreendido de posse da totalidade da mensagem bíblica. Aliás, toda a mensagem bíblica aponta para seu tema central e para ele converge: Cristo. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém. Rm 11.33-36 Hermenêutica 26 12. ESTILOS LITERÁRIOS É necessário considerar a estrutura gramatical do texto em análise, bem como o estilo empregado na composição do texto. Devido à inspiração – não obstante as transcrições e traduções – é fato que cada partícula das escrituras tenha um significado a se considerar, diferente do que afirmam alguns teólogos liberais. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar. Mt 24.35 “Até que o céu e a terra passem,nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” Mt 5:18 Jota, como é traduzido, refere-se ao Yod, menor letra do alfabeto hebraico e o til refere-se a um pequeno sinal gráfico anexo que diferencia algumas letras. Deste modo, até os menores sinais da palavra de Deus trazem sentido, quanto mais as palavras e o estilo utilizados na composição. A seguir, as figuras de linguagem e estilos a serem considerados na interpretação bíblica. 1. Metonímia Metonímia é alteração do sentido natural das palavras pelo emprego da causa pelo efeito, do todo pela parte, do continente pelo conteúdo. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lc 16.29 É evidente que o povo de Israel da época de Jesus não tinha a presença de Moisés ou dos profetas, mas de seus escritos. 2. Hipérbole Hipérbole é a figura que consiste em aumentar ou diminuir exageradamente a verdade das coisas, de modo a causar um impacto maior nas afirmações. "Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escrevessem. Amém." Jo 21.25. É evidente que seriam necessários livros incontáveis para preencher todo o planeta. O apóstolo quer mostrar o quanto as obras de Jesus vão além do que as palavras poderiam descrever. 3. Antítese Antítese é a figura que apresenta oposição de pensamentos ou de palavras, contrastando pessoas ou coisas. "A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto." Pv 18.21 Hermenêutica 27 Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se mal fizeres, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. Gn 4.7 Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; Mt 7.13 O objetivo é firmar uma ideia ou conceito através do contraste com ideias ou conceitos inversos ou opositores. 4. Símile e Parábola A símile (do latim "similis") significa semelhante ou parecido a outro. Segundo o dicionário da Língia Portuguesa, “qualidade do que é semelhante, comparação de duas ou mais coisas que se assemelham”. É usada para comparar dois elementos que não pertencem necessariamente à mesma categoria. "Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá daí em diante o seu lugar." Sl 103.11-16 . O profeta Isaías usa deste método literário para demonstrar a superioridade do pensamento e da Palavra de Deus em relação aos homens: Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. Porque, assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. Is 55.811 A parábola, por sua vez, é a ampliação do uso de símiles. Ao iniciar as parábolas a respeito do porvir, Jesus dizia “o reino de Deus é semelhante a...”. A parábola pode ser definida como a narração alegórica que encerra uma verdade importante ou um preceito de moral. Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a. Igualmente o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Mt 13.45-50 Hermenêutica 28 Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo; O qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos. Mt 13.31,32 Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado. Mt 13.33 Alguns pontos devem ser observados para uma compreensão mais clara das parábolas: O propósito da parábola, ou seja, qual o ensino que encerra. As parábolas visam ilustrar e não criar doutrinas. Foco no objetivo e não nos pontos que servem para completar a narrativa. Este princípio deve ser observado porque pode ser perigoso para a correta interpretação ater-se a pontos da parábola que não estão relacionados ao seu propósito fundamental. Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem respeitava o homem. Havia também, naquela mesma cidade, uma certa viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário. E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os homens, 5 Todavia, como esta viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Lc 18.2-7 Jesus foca a importância da perseverança na oração. Não há relação alguma entre o iníquo juiz e a pessoa de Deus. 5. Metáfora e Alegoria A metáfora é uma figura de linguagem em que a significação natural de uma palavra é substituída por outro em virtude da relação de semelhança subentendida, ou seja, dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro. "E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede" Jo 6.35. Jesus diz ser o pão da vida no sentido em que, assim como é característica do pão matar a fome do corpo, ele mataria a fome da alma, trazendo alimento espiritual. Uma metáfora ampliada é uma alegoria. A alegoria é um método literário em que a exposição de um pensamento é feita de forma figurada. Uma coisa para dar a ideia de outra. Hermenêutica 29 Trouxeste uma vinha do Egito; lançaste fora os gentios, e a plantaste. Preparaste-lhe lugar, e fizeste com que ela deitasse raízes, e encheu a terra. Os montes foram cobertos da sua sombra, e os seus ramos se fizeram como os formosos cedros. Ela estendeu a sua ramagem até ao mar, e os seus ramos até ao rio. Por que quebraste então os seus valados, de modo que todos os que passam por ela a vindimam? O javali da selva a devasta, e as feras do campo a devoram. Sl 80.8-13 O povo de Israel é representado através de uma linguagem alegórica, na viagem do Egito a Canaã. Depois da chegada do Egito, esta vinha que representa Israel lança raízes. Por fim, o javali selvagem devasta essa plantação de Deus. Existe uma diferença marcante entre parábolas e alegorias: Nas parábolas, geralmente, a historia e a aplicação são distintas, de modo que a aplicação acompanha a história. Nas alegorias, a história e a aplicação se entrelaçam. 6. Provérbio Consiste em ditos proverbiais, geralmente concisos, podendo ser, inclusive, a compressão de uma parábola ou alegoria. Seu uso era comum nos dias de Jesus. "Médico cura-te a ti mesmo" Lc 4.23 "Não há profeta sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua casa." Mt 13:57 A interpretação de provérbios é fundamental para a integração dos preceitos espirituais com a vida prática dos cristãos. O foco do livro de provérbios é o aspecto moral da lei. Para a correta interpretação destas joias de sabedoria, é importante lembrar que são princípios para a vida prática, incentivos para decisões responsáveis, tementes a Deus e não promessas da aliança. É fundamental que não se faça interpretações isoladas, como se fossem promessas para a vida em geral. É necessário lembrar que a maioria dos provérbios está baseada em fatos e costumes de outra época e assim, embora o princípio que encerra seja válido atemporalmente, as afirmações nem sempre o são. Provérbios usam abundantemente símiles, metáforas, parábolas ou alegorias e isso deve ser levado em conta em sua interpretação. A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento? Atentai para a minha repreensão; pois eis que vos derramarei abundantemente do meu espírito e vos farei saber as minhas palavras. Entretanto, porque eu clamei e recusastes; e estendi a minha mão e não houve quem desse atenção, Antes rejeitastes todo o meu conselho, e não quisestes a minha repreensão, Também de minha parte eu me rirei na vossa perdição e zombarei, em vindo o vosso temor. Vindo o vosso temor como a assolação, e vindo a vossa perdição como uma tormenta, sobrevirá a vós aperto e angústia. Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de Hermenêutica 30 madrugada me buscarão, porém não me acharão. Porquanto odiaram o conhecimento; e não preferiram o temor do SENHOR: Não aceitaram o meu conselho, e desprezaram toda a minha repreensão. Portanto comerão do fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal. Pv 1.20-33 A personificação da sabedoria neste trecho revela o provérbio como uma parábola. Outro princípio importante diz que a universalidade formal dos provérbios e ditos proverbiais raramente são uma universalidade absoluta. Como exemplo, dois provérbios de Jesus: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” Mt 12.30 “... Porque quem não é contra nós é por nós” Mc 9.40 A aparente contradição entre os dois ditos de Jesus é percebida frequentemente. Para a correta interpretação de ditos proverbiais é importante que estes não sejam tomados como verdades absolutas, ou seja, existe um contexto, uma circunstância para a aplicação destes ditos de sabedoria. O texto de Mt 12.30 foi expresso a pessoas indiferentes contra si próprias, enquanto Mc 9.40 se refere aos discípulos sobre outros, cujo zelo ultrapassa seus conhecimentos. Uma tentativa de aplicar estas afirmações para situações em geral, certamente resulta em completa contradição. Provérbios objetivam dar a percepção de como uma cultura sob Deus funciona, como relacionamentos funcionam, quais devem ser as prioridades. Contudo, estes ditos sapienciais no dão todas as exceções individuais em notas de rodapé e sob quais circunstâncias devem ser aplicados. 7. Poesia hebraica A poesia hebraica está presente por todo o Antigo Testamento. Salmos, Jó, Cantares de Salomão, Eclesiastes, provérbios, profetas, etc. A rima, comum na poesia da língua portuguesa, não é encontrada na poesia hebraica, contudo, existem dois estilos poéticos marcantes: o acróstico e o paralelismo. Acróstico É o estilo de composição poética na qual cada linha da composição inicia com uma letra respeitando a ordem alfabética. O objetivo principal do uso desta técnica é facilitar o aprendizado e a memorização. Isto também pode ser um meio de sugerirse que o assunto foi tratado de forma completa. Hermenêutica 31 O salmo 119 é um exemplo marcante: אÁlef: Sl 119.1-8 טTet: Sl 119.65-72 בBet: Sl 119.9-16 גGímel: Sl 119.17-24 דDálet: Sl 119.25-32 דHê: Sl 119.31-40 וVav: Sl 119.41-48 זZayin: Sl 119.49-56 חHet: Sl 119.57-64 יYod: Sl 119.73-80 כCaf: Sl 119.81-88 לLâmed: Sl 119.89-96 מMem: Sl 119.97-104 נNum Sl 119.105-112 סSâmeq: Sl 119.113- עAyin: Sl 119.121-128 פPê: Sl 119.129-136 צTsad: Sl 119.137-144 קCof: Sl 119.145-152 רResh: Sl 119.153-160 שChim Sl 119.161-168 תTav: Sl 119.169-176 120 Ou seja, ao ler estes “nomes” no topo de cada trecho, na verdade são as letras hebraicas com que estes trechos têm início. Também o livro de Lamentações de Jeremias é composto em seções de acrósticos do início ao fim. Paralelismo É o estilo mais importante e marcante da poesia hebraica. Consiste na repetição de ideias. Um conceito é apresentado e expresso novamente em palavras diferentes no verso seguinte, sendo que as ideias equivalem de certa forma. São tipos de paralelismo: Sinonímico, quando as ideias são reapresentadas através de sinônimos, ou seja, outras palavras para reafirmar o mesmo conceito. Levanta o pobre do pó, e do monturo levanta o necessitado Sl 113.7 Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz nas pernas do homem Sl 147.10 Antitético, quando a ideia da afirmação anterior é reafirmada através de uma oposição a ela. PROVÉRBIOS de Salomão: O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho insensato é a tristeza de sua mãe. Pv 10.1 Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá. Sl 1.6 Sintético, quando a segunda afirmação é uma continuação ou desenvolvimento da primeira. Para sempre te louvarei, porque tu o fizeste, e esperarei no teu nome, porque é bom diante de teus santos. Sl 52.9 Emblemático, no qual a primeira afirmação apresenta uma figura e a segunda sua explicação. Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor; Tira o ímpio da presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça. Pv 25.4,5 Hermenêutica 32 De escada, no qual o pensamento é apresentado na primeira afirmação e recebe um novo elemento a cada nova afirmação. Porventura não achariam e repartiriam despojos? Uma ou duas moças a cada homem? Para Sísera despojos de estofos coloridos, despojos de estofos coloridos bordados; de estofos coloridos bordados de ambos os lados como despojo para os pescoços. Pv 5.30 8. Tipo O tipo é um modelo. Trata-se de uma classe de metáforas que serve de figura de coisas, geralmente espirituais. Uma vez que o mundo espiritual é incompreensível aos seres humanos, Deus se valeu de “sombras” do mundo material para tipificá-las. Logo, os tipos são abundantes na Bíblia e, como em todo o processo de interpretação, devem ser compreendidos à luz da própria Bíblia e não da imaginação do intérprete. O escritor aos hebreus ensina que a lei trazia apenas sombra dos bens futuros. Cristo é o cumprimento substancial daquilo que era apenas tipológico. PORQUE tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Hb 10.1 Tipo: "E disse o SENHOR a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela." Nm 21.8. Antítipo: E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Jo 3.14,15 Tipo: Preparou, pois, o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe. Jn 1.17 Antítipo: Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra. Mt 12.40 A fim de evitar erros na interpretação de tipos, seguem alguns princípios importantes: Os tipos devem ser identificados como tais pelo Novo testamento. Nem todos os detalhes do tipo podem ser aplicados ou devem ter relação direta com aquilo o que tipifica. Um tipo pode tipificar coisas diferentes em passagens diferentes. Tipos não embasam doutrinas, apenas às ilustram e tipificam. Hermenêutica 33 9. Símbolo Essa espécie de tipo serve para representar alguma coisa por meio de outra que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação. E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Ap 5.5 O leão é símbolo da realeza, por ser considerado o rei dos animais. Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas. Mt 10.16 As serpentes são símbolo de astúcia. Devido à natureza humanamente incompreensível das verdades espirituais, a Bíblia usa de abundância simbólica para demonstrá-las, no que se refere à morte, à ressurreição, à nova vida, etc. Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem toda a carne é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. 1Co 15.36-42 10. Literatura Apocalíptica O livro do Apocalipse é, na verdade, parte de um estilo chamado literatura Apocalíptica Judaica, encontrada em partes de Daniel, Ezequiel e Zacarias. Assim, ao tratar de literatura apocalíptica, todos esses escritos estão em foco. Este trecho da aula não visa encerrar as diversas interpretações do livro do Apocalipse, mas dar um norte para que o aluno aplique os princípios da hermenêutica compreendendo o estilo, objetivo, destinatários e aplicações possíveis para o conteúdo registrado pelo apóstolo João e outras literaturas apocalípticas ao longo da Bíblia. O livro do Apocalipse está repleto de alusões ao Antigo Testamento, muitas vezes integradas no corpo da mensagem, sem a citação da fonte, tão comum entre os autores Novo Testamento. O Apocalipse é um livro Cristocêntrico e sua mensagem, como o restante da Bíblia, apontam para cristo. Hermenêutica 34 Para a interpretação do Apocalipse é necessário lembrar que: O livro foi originalmente direcionado àqueles que estão sob perseguição; sua interpretação depende desta observação. O Apocalipse é uma carta e tem destinatários específicos. Grande parte do que está escrito nele tem relação direta com aquela época específica, independente da corrente teológica que o interprete. O uso de imagens simbólicas é significativo para todas as gerações posteriores porque elas não atrelam os símbolos a qualquer evento específico da história da Igreja. Por exemplo, a imagem da besta é frequentemente atrelada ao Império Romano (interpretação preterista), mas não se limita a este (ainda que o seja), na verdade, serve de alusão a muitas formas de tirania que se manifestam através dos séculos, perseguindo a igreja. O clímax pode ser o anticristo. O Apocalipse não tem nenhuma pretensão e nem pode ser usado para predizer o tempo exato da segunda vinda de Cristo. Embora lance luz sobre a questão, seu objetivo é ajudar a preparar o povo de Deus para a segunda vinda e para o tempo difícil antes deste último acontecimento histórico. O estilo do livro deve ser respeitado: A interpretação é simbólica e não literal. E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição. Ap 17.11 Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis. Ap 13.18 A busca pela interpretação literal encontra grandes dificuldades. Jesus esclarece o simbolismo das sete estrelas e dos sete castiçais, dando uma chave para a interpretação: “Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas”. Ap 1.20 Três prismas diferentes devem ser adotados para interpretar o Apocalipse: 1) Como já visto, é uma carta que tem seus destinatários e seu cumprimento presentes no primeiro século. 2) Princípios e ensinamentos que servem para todas as épocas em que se possa aplicar os conselhos de Deus para as igrejas em perseguição. João cria uma tensão entre arrependimento e santidade por parte dos santos. Visa encorajar os santos para suportar perseguição, e para não assumir compromisso com os padrões do mundo e como estimulo e alerta ele mostra as recompensas daqueles que creem e obedecem as palavras deste livro e o castigo dos que não o levarem a sério e 3) O livro revela a si mesmo como uma profecia, predizendo o futuro. Como tal, não deve ser desprezado enquanto revelação dos planos de Deus para o fim dos tempos. Por fim, João apresenta no livro descrições e visões de Jesus em sua glória divina, fornecendo muitos exemplos de hinos de louvor e adoração que tem inspirado por séculos os compositores de hinos. Hermenêutica 35 13. APLICAÇÃO “A Bíblia não foi dada para aumentar o nosso conhecimento, mas para mudar a nossa vida”. D. L. Moody, A Bíblia Sagrada não é um livro de caráter informativo, mas útil para transformar a vida do ser humano. Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir. Dt 32,46,47 E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Tg 1.22 Assim, ela deve servir para guiar a vida dos cristãos em todos os momentos da vida cotidiana. O uso das observações devidamente interpretadas na vida diária é a aplicação da Palavra de Deus. Para tanto, é necessário investigar o texto de forma prática, procurando um exemplo a ser seguido, um pecado a ser evitado, um modelo de oração, uma condição estabelecida por Deus, algum princípio a ser assimilado, etc. Para isso é preciso ser específico, relacionando o texto com situações reais da vida, sem generalizações, estabelecendo atitudes e um comportamento que condiga com o texto aplicado. A questão cultural deve ser observada. Há distinção entre os elementos teológicos (imutáveis) e os elementos culturais (mutáveis) de um determinado preceito. A hermenêutica é a ferramenta para fazer tal distinção. Uma autoavaliação periódica é vital, pois o estudante de teologia, que será (ou já é) um professor entre os irmãos, deve ser um referencial, não apenas no conhecimento, mas no procedimento. Assim, é importante avaliar, à luz da Bíblia, o comportamento pessoal. Hermenêutica 36 REFERÊNCIAS BERKHOF, Louis. Princípios de interpretação Bíblica. 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