Hermenêutica - Comunidades.net

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FATEFÉ - Faculdade e Seminário Teológico da Fé Reformada
Cohen University & Theological Seminary - Campus Brazil
Professor Max Clayton Marques
São Paulo, Brasil - 2012
"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação"
2 Pedro 1 . 20
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3
2. DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA ...................................................................... 5
3. SUBMISSÃO À VERDADE .................................................................................. 6
4. A BÍBLIA E A REVELAÇÃO DE DEUS ................................................................ 8
5. REGRA FUNDAMENTAL DA HERMENÊUTICA ............................................... 11
6. REGRA DO SENTIDO USUAL E ORDINÁRIO .................................................. 12
7. REGRA DO SENTIDO DA FRASE .................................................................... 14
8. REGRA DO OBJETIVO DO AUTOR.................................................................. 16
9. REGRA DO CONTEXTO ................................................................................... 19
10. REGRA DO TEXTO PARALELO..................................................................... 21
11. REVELAÇÃO PROGRESSIVA........................................................................ 24
12. ESTILOS LITERÁRIOS ................................................................................... 26
13. APLICAÇÃO .................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36
Hermenêutica 3
1. INTRODUÇÃO
A Reforma Protestante trouxe uma grande conquista para a Igreja de Cristo.
Lutero considerava que a distância entre o povo de Deus e Sua Palavra levaria a
Igreja à corrupção; assim, se propôs ao estudo dos idiomas originais e ao ensino da
Bíblia como única autoridade e regra de fé para a Igreja, “Sola Scriptura”. Aos 31 de
outubro de 1517, as 95 teses luteranas foram fixadas na Igreja do castelo de
Wittenberg.
Antes da Reforma, a leitura da Bíblia estava reservada aos conhecedores dos
idiomas originais e do latim; Lutero inicia um sistema de educação para que o povo
pudesse aprender a leitura bíblica em alemão, de modo que a Bíblia passa ser
acessível a todos. Assim, a Bíblia passa a ter o devido reconhecimento como
verdadeira Palavra de Deus.
Ao aproximar-se da Bíblia, o cristão deve ter a consciência de que não se
trata simplesmente de mais um livro. Embora seja um material compilado por seres
humanos e que deve ser estudado segundo regras comuns de interpretação textual,
a verdadeira Palavra de Deus está revelada na Bíblia Sagrada, segundo a
inspiração divina sobre os escritores do Antigo e do Novo Testamentos.
O Estudo Pessoal Da Bíblia
O estudante da Bíblia deve ter uma postura de reverência para com ela,
devido ao conhecimento de seu Autor (1Ts 2.13); de desejo por encontrar-se com o
Senhor, pois Ele assim promete (Jr 29.13); de disposição e humildade para
obedecer ao Senhor (Sl 25.9; Is 66.2; 1Co 2.14-15); de perseverança, pois a Bíblia
serve de bússola para a jornada até Deus (Jo 8.31; 2Pe 1.3-11).
Além da postura necessária para estudar o Texto Sagrado, o cristão deve se
aproximar da Bíblia buscando mais do que acúmulo de conhecimento. Deve buscar
na Bíblia, em primazia, a salvação (Jo 5.24, 39, 6.68; Ef 1.13; 2Tm 3.15; Tg 1.21); a
direção para os seus caminhos (Sl 119.105); fé (Rm 10.17); a esperança (Rm 15.4;
2Pe 1.19); a alegria (Sl 19.8; Jr 15.16); a paz (Sl 119.65); o sustento (Dt 8.3; Mt 4.4;
1Tm 4.6); o crescimento (1Pe 2.2); a pureza (Sl 119.9; Jo 15.3; Ef 5.26; 1Pe 1.22); a
santidade (Jo 17.17; Ef 5.26); a maturidade (Hb 5.12-14); a sabedoria (Sl 119.98100; 2Tm 3.15); as defesas espirituais (Mt 4.1-11; Ef 6.17); a eficácia espiritual (2Tm
3.16-17); a introvisão (Hb 4.12; Tg 1.22-25); a cosmovisão (Rm 16.25-27) e a bemaventurança (Sl 119.1; Lc 11.27-28; Ap 1.3).
O estudo pessoal da Bíblia capacita o cristão a pensar por si mesmo a
respeito de sua fé e das doutrinas bíblicas, de modo a experimentar a alegria da
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descoberta pessoal. Também capacita o estudante a avaliar palestras, preleções e
materiais de estudo de maneira crítica, auxiliando os demais na compreensão e
aplicação da Palavra de Deus. Estudar a Bíblia devocionalmente leva o cristão a
conhecer melhor e desenvolver um relacionamento mais íntimo com Deus, que se
revela em Sua Palavra. Isso é crescimento espiritual.
Além disso, o estudo pessoal prepara o estudante para manejar bem a
Palavra da verdade (2Tm 2.15), evitando erros quanto ao contexto e aplicação de
textos bíblicos (2Pe 1.20; 1Co 2.13).
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2. DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA
A hermenêutica é a ciência, a técnica e a arte da interpretação. É um ramo da
filosofia cujo objeto de estudo são os métodos e as leis para a interpretação correta
das informações.
A hermenêutica tradicional refere-se ao estudo da interpretação de textos
escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito, incluindo, assim, a
hermenêutica Bíblica.
Atualmente, a hermenêutica engloba, além de textos escritos, formas verbais
e não verbais de comunicação e os aspectos que afetam a comunicação, como
preposições e pressupostos.
É importante salientar que as regras de interpretação não foram criadas pelos
cristãos para a leitura bíblica. Não são regras variáveis, mas métodos e regras que
têm sido usadas com eficácia pelo homem há milênios, para a comunicação clara e
correta, de modo que essas regras se tornam naturais no dia a dia no convívio da
comunicação.
Entretanto, ao passo que a comunicação, no caso a Bíblia, se torna complexa
devido à sua época, é necessário empregar especificidades para a correta
compreensão. Estas regras são chamadas de hermenêutica bíblica.
Origem Do Termo
O termo "hermenêutica" tem origem no verbo grego "hermēneuein" e significa
"declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, "traduzir", ou seja, é levar o
escrito a "tornar-se compreensível" ou "à compreensão".
Segundo alguns intérpretes, o termo deriva do grego “Hermes”, na mitologia,
o mensageiro dos deuses que entregava e interpretava as mensagens aos mortais.
No sentido de interpretação correta e objetiva da Bíblia, o termo é usado desde os
séculos XVII e XVIII. Spinoza é um dos precursores da hermenêutica bíblica.
Para outros intérpretes, o termo deriva do grego "ermēneutikē" que significa
"ciência", "técnica" e tem por objeto a interpretação de textos poéticos ou religiosos.
Hermenêutica geral e hermenêutica especial
Hermenêutica geral é o estudo das regras de interpretação que regem a
interpretação do texto bíblico inteiro, incluindo questões como análises históricoculturais, léxico-sintáticas, contextuais e teológicas. Hermenêutica especial refere-se
ao estudo das regras que se aplicam a gêneros específicos como parábolas,
alegorias, tipos e profecias.
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3. SUBMISSÃO À VERDADE
É impossível compreender um texto bíblico se o intérprete se aproximar deste
com uma ideia preconcebida sobre seu significado, seja por um aprendizado
deficiente ou por interesse pessoal.
A perseguição contra Jesus nos dias em que andou na terra se deve, em
grande parte, à resistência dos líderes religiosos em aceitar a interpretação correta
que ele fazia da lei e dos profetas.
Mt 5.19-22: Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor
que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos
céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no
reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos
escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. Ouvistes
que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de
juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar
contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão:
Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do
fogo do inferno.
Mt 5.27,28: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu,
porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já
em seu coração cometeu adultério com ela.
A tradição oral sobrepujava a importância das escrituras, de modo que seria
impossível interpretar textos cujo significado era determinado pelos escribas,
fariseus de doutores da lei.
Mt 15.3: Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós,
também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?.
A submissão ao Espírito santo é o caminho para alcançar a interpretação
correta das escrituras, independente do conhecimento das técnicas e leis da
hermenêutica. O espírito Santo não é único espírito que procura influenciar o ser
humano. Este é influenciado por suas próprias concepções pré-estabelecidas e, se
não estiver em Cristo, pode ser influenciado pelo espírito do inimigo.
1 Co 2.11-12: Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o
espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas
de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do
mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos
conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.
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Deus preocupa-se com a submissão à sua Palavra e Jesus demonstrou a
mesma preocupação em seu ministério terreno.
Os 4.6: O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque
tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas
sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus,
também eu me esquecerei de teus filhos.
Jo 7.17: Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma
doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.
O desejo humilde e submisso de fazer a vontade de Deus é fundamental para
a interpretação correta das escrituras sagradas.
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4. A BÍBLIA E A REVELAÇÃO DE DEUS
Diferente das demais ciências, nas quais o estudioso está acima de seu
objeto de estudo, a interpretação bíblica parte da compreensão de que Deus deu
uma revelação de Si mesmo e Sua vontade. O cientista bíblico apenas conhece
Deus ao passo que este se dá a conhecer. Uma vez que a Bíblia se apresenta como
a verdade revelada de Deus, deve ser compreendida como obra sobrenatural deste.
Inspiração
Para que a Bíblia chegasse aos dias atuais na forma como está, Deus se
valeu de autores humanos, que foram inspirados por Ele para a compilação dessa
obra (1Ts 2.13). Inspirado significa soprado, exalado por Deus, ou seja, embora
escrevendo segundo seu próprio ponto de vista (Js 10.13), produziram obras
segundo a vontade de Deus.
Iluminação
Ao passo que a inspiração foi a obra mediante a qual Deus usou homens para
a produção literária de sua revelação, a iluminação é o ministério do Espírito Santo,
que esclarece as verdades reveladas na Bíblia para seus leitores (Jo 16. 12-15). É
importante que o estudante sincero peça que o Espírito de Deus sonde seu coração
(Sl 139.23,24), confessando seus erros (Sl 32.5; 51.2,7,10,17; 66,18; 1Jo 1.9),
segundo o Espírito Santo ensina mediante a Palavra de Deus e, assim, pedir um
coração receptivo, sedento e obediente (Sl 42.1,2; Pv 23.12; Hb 10.22).
A revelação de Deus
A natureza não revela a verdade de Deus, pois ela está numa esfera estranha
ao pensamento humano, pois o pecado corrompe o pensamento humano, de modo
que este não compreende a mente de Deus.
1 Co 2.14: Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de
Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente.
Deus sempre teve um propósito de revelar-se ao homem. Depois da criação,
forma um jardim para ser um local de encontro com o ser humano:
Gn 1.8: E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, do lado oriental; e
pôs ali o homem que tinha formado.
Depois do pecado humano, continua a revelar-se na história, através de
teofanias, profetas, visões de anjos. No NT, o ápice da revelação de Deus. Revelase através de Jesus Cristo:
2 Co 4.6: Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é
quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento
da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.
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Mas a ferramenta principal da revelação de Deus é a sua Palavra. É na
Palavra que o ser humano conhece Deus, seus atributos e seus propósitos.
Dt 29.29: “As coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus; porém
as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para
cumprirmos todas as palavras desta lei”.
Deste modo, compreende-se que Deus revelou tudo o que é necessário saber
sobre as coisas espirituais. Não há, da parte de Deus, discursos exaustivos e
científicos, mas uma revelação da verdade para que o homem cumpra seus
propósitos nesta vida.
Ec 12.13 De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus, e guarda os
seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem.
Este princípio está relacionado com quatro verdades básicas:
1. A Revelação do próprio Deus
A criação testifica a existência de Deus. A humanidade é indesculpável ao
não crer e entregar-se, submetendo-se à sua vontade.
Sl 19.1: OS céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra
das suas mãos.
Rm 1.18-20: Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a
impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.
Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque
Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do
mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e
claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem
inescusáveis;
A revelação que Deus faz de Si mesmo revela que Ele é Criador e Senhor, de
modo que todos os homens devem fidelidade e adoração a Ele. Além disso, revela
Sua direção providencial de todas as coisas para o bem da criatura que se submete
à vontade de Deus. A desobediência encaminha à condenação, porém, é um
assunto primordial das escrituras o fato de que o Deus Triúno que guarda a aliança
que fez com o Seu povo realizou uma redenção por eles, e isso desde o princípio.
Gn 3.15: E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua
semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Mt 1.21: E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele
salvará o seu povo dos seus pecados.
Assim, a seguinte compreensão é fundamental à interpretação correta das
escrituras: “Todas as coisas revelam a personalidade graciosa de Deus, e devem
ser reconhecidas como a revelação que Ele faz de Si mesmo”.
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2. A revelação da depravação humana
A escritura sagrada ensina que o homem nasce em um estado de
depravação. Adão, como representante de toda a humanidade, pecou. O resultado é
um estado natural de pecaminosidade sobre todos.
Rm 5.12: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso
que todos pecaram.
Rm 3.23: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus;
Isso não significa que o homem tenha maus desígnios em tudo o que faz,
mas que uma aversão inata move o homem natural a ser alienado de Deus. Assim,
é impossível interpretar a Palavra de Deus corretamente sem a aceitação da
depravação total do homem.
3. A revelação de Deus é pela graça
A graça é o único meio pelo qual o homem se achega a Deus sem a
condenação que lhe é cabida. De outra forma, não haveria esperança para o ser
humano.
Rm 10.17: De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.
Rm 4.16: Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a
promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas
também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.
É necessário compreender e aceitar a exclusividade da graça divina como
meio de conhecer a Deus para uma justa interpretação da Palavra de Deus.
4. A revelação da bondade de Deus aos homens
Uma característica de Deus presente em todas as suas atitudes para com o
ser humano é a sua bondade, até que o homem as rejeite mediante rebelião.
A criação foi estabelecida para manifestar bondade de Deus ao ser humano.
O sofrimento é resultado do pecado humano, seja este próprio, do mundo em geral
ou oriundo em Adão.
A bondade de Deus se evidencia no fato de que o próprio arrependimento
humano tem origem em Deus.
Rm 2.4: Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e
longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao
arrependimento?
A bondade de Deus foi revelada na criação para o ser humano perceba o
valor dado por Deus ao amor do homem.
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5. REGRA FUNDAMENTAL DA HERMENÊUTICA
A Escritura Sagrada interpreta a si mesma.
A regra mais fundamental da hermenêutica bíblica é esta: a Bíblia é seu
principal intérprete. Evidentemente, isso não exclui do estudo da Bíblia o
conhecimento geral, livros da cultura e costumes judaicos, livros de história de
civilizações paralelas às da Bíblia, dicionários, consulta aos idiomas originais, entre
outros. O fato é que a inspiração divina está limitada aos sessenta e seis livros e,
apenas eles, podem manifestar a Revelação de Deus. Assim, a Bíblia é interpretada
e explicada pelo seu próprio conteúdo.
O primeiro a transgredir o princípio mais básico da interpretação bíblica foi
Satanás, distorcendo o significado das palavras de Deus, omitindo parte do
conteúdo e citando apenas o que lhe convinha:
“Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o
SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse:
Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à serpente: Do
fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no
meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que
não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis.
Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos
olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Gn 3.1-5
Na atualidade, as interpretações errôneas são as mais diversas. Por falta de
caráter dos que usam do texto bíblico, por ignorância das regras hermenêuticas ou
por um aprendizado deficiente. Textos fora de seus contextos ou interpretados
segundo a vontade de homens criam heresias as mais diversas na Igreja de Cristo.
Ao se deparar com interpretações diferentes ou contraditórias, o intérprete
deve buscar o texto na Bíblia, tendo a regra fundamental como norte para
averiguação da veracidade do significado do texto.
2Pe 1.20: Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura
é de particular interpretação.
Desta regra, surgem outras regras fundamentais para a interpretação bíblica:
Hermenêutica 12
6. REGRA DO SENTIDO USUAL E ORDINÁRIO
Esta regra quer dizer que determinada palavra usada nas Escrituras deve ser
compreendida em seu sentido mais comumente aceito. Naturalmente, se Deus
tivesse a intenção de dar uma revelação de Si mesmo à humanidade, o faria em
palavras que o homem pudesse entender facilmente, e não encobrir o sentido em
termos misteriosos e desconhecidos. A Palavra de Deus é chamada de “revelação”
(grego apokalupse), porque revela Sua vontade e caminho ao homem.
Enquanto for possível, é necessário tomar as palavras no seu sentido usual e
ordinário.
Os escritores bíblicos escreveram com o propósito de deixar uma mensagem
clara ao povo de Deus e ao mundo, usando palavras conhecidas pelo povo em geral
da época em que o texto foi escrito. Assim, devem-se interpretar as palavras no
sentido simples do que elas significam e do que elas significavam para os seus
destinatários originais.
“Deste-lhe [ao homem] domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés
tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as
aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos
mares”. Sl 8.6-8.
No texto acima, as ovelhas seriam os crentes em Cristo e os peixes os
homens que precisam de evangelização? É evidente que não. Esse é um tipo de
erro comum que pode ser evitado se a primeira regra for respeitada: Ovelhas são
ovelhas e peixes são peixes, simplesmente.
Contudo, é necessário observar que sentido usual nem sempre é equivalente
a sentido literal. Cada idioma apresenta peculiaridades e singularidades que ficam
destituídas de seu sentido em uma tradução literal.
Exemplo: Veja-se a expressão da Língua portuguesa “cara de pau”, que, na
linguagem popular, se refere a alguém que mente ou dissimula sem peso na
consciência. Uma tradução ao pé da letra para o inglês “face of timber” não teria o
menor sentido para um falante de tal idioma. Assim, estas particularidades devem
ser levadas em conta no momento da interpretação do grego ou hebraico, bem
como o uso destas palavras na cultura da época. Isto se deve ao fato dos escritores
bíblicos se dirigirem, em um primeiro momento, ao povo em geral, usando
linguagem figurada e popular. O resultado é o abundante uso de figuras retóricas,
símiles, parábolas e expressões simbólicas.
"Porque toda carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra" (Gn
6.12, grifo do autor).
Hermenêutica 13
O sentido literal da palavra carne – tecido muscular do homem e dos animais
- não expressa a ideia do texto, pois não foi a carne humana que se corrompeu, mas
os homens representados por esta carne. Da mesma forma, o caminho – faixa de
terreno que conduz de um lugar a outro, terreno ou espaço por onde se anda - do
homem não estava corrompido, mas os costumes, modo de vida, religião, etc.
“Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te
convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo
lançado no inferno”. Mt 5.29
Da mesma forma, Jesus não está sugerindo a automutilação, mas usando um
modo próprio de expressão do idioma original, enaltecendo a vantagem de sacrificar
algo valioso com o objetivo de obedecer à vontade de Deus – ainda mais valiosa.
“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade
de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo
Espírito Santo” 1 Pe 1.20,21
A palavra profecia neste trecho e em outros não se restringe à predição de
acontecimentos futuros. A palavra grega propheteia significa literalmente proclamar,
pregar. Este é o sentido mais comum nas escrituras. Assim, profecia significa a
proclamação do conselho de Deus (pro, para frente, phemi, falar). É fato que grande
parte das profecias do Antigo testamento trata de previsão, mas isso não encerra a
ideia de profecia na Bíblia. A profecia é uma declaração do que não se pode
conhecer por meios naturais e a proclamação da vontade de Deus, seja com
referência ao passado, ao presente ou ao futuro (Gn 20.7; Dt 18.18; Ap 10.11; 11:3).
Hermenêutica 14
7. REGRA DO SENTIDO DA FRASE
É necessário considerar a frase em que as palavras aparecem, questionando
o pensamento do autor para determinar o sentido correto que a palavra assume
dentro de uma frase. Em qualquer tipo de mensagem, escrita ou falada, o sentido
das palavras muda de acordo com a frase em que estão inseridas.
É absolutamente necessário tomar as palavras no sentido que indica o
conjunto da frase.
Um exemplo é o uso da Palavra fé nos diferentes trechos:
"ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que se não vêem." Hb 11.1.
Aqui a palavra fé é usada no seu sentido primário: convicção, crédito na
existência de um fato, crença, confiança.
"Agora prega a fé que outrora procurava destruir" Gl 1.23
Neste trecho, entretanto, analisando o conjunto da frase, o sentido primário da
palavra fé não encerra a ideia do versículo. Do conjunto desta frase precebe-se que
fé, aqui, significa a doutrina do Evangelho.
"Mas aquele que tem dúvidas, é condenado, se comer, porque o que faz
não provem de fé; e tudo o que não provam de fé é pecado" Rm 14.23.
Neste verso a palavra se refere ao dever cristão para com os irmãos.
Outro exemplo prático desta regra, é a analise do significado da palavra
“sangue” em cada um dos diferentes textos bíblicos:
“Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não
foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”. Mt
16.17
Neste texto, Jesus se refere à percepção humana de Pedro, afirmando que
não foi esta quem lhe revelou a divindade de Jesus. Assim, sangue = percepção
humana.
“Pequei, traindo sangue inocente. Eles, porém, responderam: Que nos
importa? Isso é contigo”. Mt 27.4
Nesta passagem os Judas reconhece que Jesus era uma pessoa inocente e
devolve o dinheiro pelo qual o entregou, de modo que sangue = pessoa.
“E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito
deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue”. Mt 27.6
Hermenêutica 15
Os sacerdotes dizem que o dinheiro devolvido por Judas foi o preço do
assassinato de Jesus, portanto, sangue = assassinato.
“E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos
filhos!”. Mt 27.25
O povo diz a Pilatos que assumiria a culpa pela morte de Jesus, ainda que o
próprio Pilatos o considerara inocente. Assim, sangue = culpa.
“Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue
e água”. Jo 19.34
Nesta última passagem, não há outra palavra a encaixar no texto, senão o
próprio sangue que escorreu de Jesus, logo sangue = sangue.
Hermenêutica 16
8. REGRA DO OBJETIVO DO AUTOR
É preciso tomar em consideração o desígnio ou objetivo do livro ou passagem
em que ocorrem as palavras ou expressões obscuras.
Essa regra pressupõe a adequada consideração do “quem”, “o que”,
“quando”, “como” e “por que” do assunto que está analisado.
1. Quem escreveu este texto?
O salmo 23 foi escrito por um pastor de ovelhas. A consideração dos
pormenores desta profissão na época de Davi contribui para extrair princípios e
ensinamentos, aproveitando mais daquilo o que o autor quis transmitir em sua
poesia, no que se refere a Deus como o Pastor e ao homem como ovelha do
Senhor.
O evangelho segundo Mateus foi escrito por um judeu que andou com Jesus,
o que explica o esforço do autor para provar que Jesus é o cumprimento das
predições antigas, ao passo que Lucas é um gentio, médico (Cl 4.14) que não foi
testemunha ocular dos acontecimentos, o que explica a minuciosidade da pesquisa
que realizou para poder escrever e a riqueza de detalhes em seus livros.
2. A quem é dirigida esta parte da Escritura?
Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos o sou para vós; porque
vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. 1Co 9.2
Este trecho da escritura não pode ser aplicado à igreja em geral, pois o autor
está defendendo o seu apostolado e invocando os Coríntios como selo deste, uma
vez que estes chegaram à fé pelo ministério de Paulo. Assim, apenas conhecendo
os destinatários é que se pode interpretar o texto.
E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Ec
12.7
Este versículo dá a impressão de que todo espírito volta a Deus depois da
morte, quando, na verdade, a mensagem da Bíblia afirma que nem todos herdarão o
Reino dos Céus. Voltando alguns versículos para encontrar a quem se destina esta
afirmação, tem-se:
LEMBRA-TE também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que
venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais venhas a dizer: Não
tenho neles contentamento Ec 12.1.
Ou seja, o pregador exorta o homem a lembrar-se de Deus enquanto jovem,
pois se apenas lembrar-se de Deus depois de velho, chegarão os anos difíceis, não
terá contentamento em seus dias, a morte chegará e para este homem – que se
lembrou de Deus - a morte levará o corpo ao pó e o espírito a Deus. Assim, sabendo
quem é o destinatário da mensagem, é possível a correta interpretação.
Hermenêutica 17
Haverá textos na Escritura que serão destinados a um destinatário específico,
o que não elimina sua relevância para a atualidade, seja em princípio, seja em
revelação da personalidade e propósitos de Deus. Outros textos, no entanto, são
destinados a todos os leitores da Bíblia, ainda que, originalmente, tivessem um
destinatário específico.
Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já
dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm
esperança. 1Ts 4.13
Este texto, embora destinado originalmente à igreja em Tessalônica, pode ser
direcionado e aplicado a todos os cristãos de todas as épocas.
3. Qual o objetivo deste autor neste trecho das Escrituras?
Para compreender o desígnio ou objetivo do livro, é necessário estudá-lo e
analisá-lo exaustiva e minuciosamente, considerando a época e o contexto de sua
escrita. Muitas vezes o objetivo do livro está expresso em seu próprio texto:
PROVÉRBIOS de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; Para se conhecer a
sabedoria e a instrução; para se entenderem, as palavras da prudência.
Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a
equidade; Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e
bom siso; Pv 1.1-4
Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. Jo 20.31
Para que vos lembreis das palavras que primeiramente foram ditas pelos
santos profetas, e do nosso mandamento, como apóstolos do Senhor e
Salvador. 2Pe 3.2
Determinar o objetivo do livro elimina aparentes contradições e facilita ao
intérprete pensar como o escritor, olhando na mesma direção, facilitando a
interpretação.
Existem passagens que se referem a questões isoladas e culturais dos
destinatários:
Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se
para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu.
1Co 11.6
Há passagens que estão respondendo perguntas dos destinatários:
ORA, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não
tocasse em mulher; 1Co 7.1
Por que João parece tão diferente de Lucas ao contar a mesma história?
Porque o objetivo de João não era fazer uma acurada investigação dos fatos como
Lucas (Lc 1.1-4) para possível comprovação histórica, mas mostrar para os crentes
a verdadeira identidade do Senhor Jesus (Jo 20.31) e tudo o que ele escreve visa o
cumprimento deste objetivo. Assim, ao ler Lucas, o intérprete terá em mente sua
dedicação por detalhar fatos para alguém que, provavelmente, não conhecia a
Hermenêutica 18
história de Jesus; mas ao ler João, pensará em um livro que visa mostrar a
verdadeira personalidade do Cristo e causar um efeito vivificador nos leitores
cristãos.
Outro exemplo que demonstra bem a aplicação desta regra diz respeito à
questão da fé e das obras sob o ponto de vista de Paulo e Tiago. Aparentemente,
Paulo defende a fé em detrimento das obras, enquanto Tiago defende as obras
desprezando a fé. Porém, levando em conta o objetivo evidenciado nos escritos de
cada autor, percebe-se que não há contradição doutrinária entre eles:
"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei."
Rm 3.28
Paulo não está excluindo a importância das obras do Cristão. Tanto que,
alguns versículos antes, afirma:
"O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida
eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e
incorrupção” Rm 2.6.
O objetivo do autor com esta afirmação é defender que as obras – embora
necessárias e indispensáveis – não podem salvar. Paulo não diminui a importância
das obras, mas exclui a participação destas obras, as obras da lei, na salvação do
homem. Isto é percebido na leitura do contexto geral de Romanos, como nos versos
abaixo:
Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o
diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável
diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas
obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado. Rm 3.19,20
Tiago, por sua vez, está preocupado com a prática da religião. O ouvir a
Palavra e viver, atentando para o seu conteúdo:
E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos
com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não
cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto
natural; Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de
como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e
nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este
tal será bem-aventurado no seu feito. Tg 1.22-25
Assim, Tiago afirma que a fé sem as obras não são proveitosas:
Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as
obras? Porventura a fé pode salvá-lo? Tb 2.14
O que Tiago defende não são as obras para a salvação, mas as obras que
provém da salvação, as obras que mostram a fé que as pressupõe.
Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem
as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tg 2.18
Hermenêutica 19
9. REGRA DO CONTEXTO
É necessário tomar as palavras no sentido que indica o contexto, isto é, os
versos que precedem e seguem o texto que se estuda.
Quando a frase ou versículo não são suficientes para definir o significado do
termo, deve-se recorrer aos versículos que antecedem ou sucedem o trecho bíblico.
A palavra “contexto” significa literalmente “tecer junto” e trata do que está
escrito antes e depois de uma palavra ou passagem específica das Escrituras.
Assim, o contexto de um texto das Escrituras são os versículos ao redor que têm
relação com o mesmo assunto ou tema
“...pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do
mistério de Cristo”. Ef 3.4
O texto acima menciona que Paulo compreendeu algum mistério no que se
refere a Cristo. O trecho isolado sugere que Paulo saberia coisas a respeito de
Cristo que não registrou na Bíblia. Um pregador desavisado poderia usar deste texto
para incentivar os ouvintes a orarem em busca da revelação de algum mistério.
Porém, à luz do contexto, é evidente que não:
“Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de
vós, gentios, se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de
Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi
dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo
que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério
de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos
dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e
profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do
mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do
evangelho” Ef 3.1-6.
O texto na íntegra revela que o mistério nada mais é do que a participação
dos gentios na Nova Aliança em contraste com a Antiga.
“Eu amo os que me amam; os que de madrugada me procuram me acham”.
Pv 8.17
Não é incomum que este texto seja usado por pregadores para afirmar que o
ser humano precisa amar a Deus para ser amado por ele. Porém, a Bíblia afirma
que Deus ama ao pecador que o despreza, pois o amor é a própria essência de
Deus:
Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. 1Jo 4.8.
A Bíblia afirma, ainda, que quem ama a Deus o ama em consequência de seu
próprio amor:
"Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro." 1Jo 4.19.
Hermenêutica 20
Além disso, Deus não tem preferência por horários. Afinal, os cristãos
primitivos oravam nos mesmos horários dos judeus e Jesus afirmou que, onde
houvessem dois ou três reunidos em seu nome, ali se faria presente independente
do horário.
E PEDRO e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona. At 3.1
"Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu
no meio deles." Mt 18.20
Assim, o texto deve ser considerado em sua totalidade:
“Eu, a Sabedoria, habito com a prudência e disponho de conhecimentos e
de conselhos. O temor do SENHOR consiste em aborrecer o mal; a
soberba, a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu os aborreço.
Meu é o conselho e a verdadeira sabedoria, eu sou o Entendimento, minha
é a fortaleza. Por meu intermédio, reinam os reis, e os príncipes decretam
justiça. Por meu intermédio, governam os príncipes, os nobres e todos os
juízes da terra. Eu amo os que me amam; os que de madrugada me
procuram me acham. Riquezas e honra estão comigo, bens duráveis e
justiça”. Pv 8.12-18.
O contexto revela que o texto se refere à sabedoria, que só ama os que a
amam e só é achada por aqueles que passam as madrugadas estudando e
meditando para adquiri-la. Deus ama a todos e ouve as orações realizadas em
qualquer hora e lugar.
A regra do contexto não se limita aos versículos ou mesmo ao capítulo que
está sendo analisado, pois este pode não ser suficiente para esclarecer o seu
sentido. Assim, a regra do contexto é gradativa: Palavra – Frase – Capítulo – Livro –
Bíblia.
Hermenêutica 21
10. REGRA DO TEXTO PARALELO
É indispensável consultar as passagens paralelas explicando as coisas
espirituais pelas espirituais.
A palavra “paralelo” significa lado a lado, de modo que esta regra está
relacionada com o agrupamento de todas as passagens que se relacionam com
determinado assunto, quer elas usem a mesma terminologia ou não.
Para estudar um assunto utilizando o uso comum, é necessária uma
Concordância para mostrar onde os mesmos termos aparecem em outros lugares
das Escrituras. Ao aplicar a lei da referência paralela é bastante útil um Livro de
Tópicos ou de Assuntos. Esta ferramenta tem uma índice temática, ou seja, uma
lista de temas relacionados agrupados pelos seus diversos tópicos.
Assim, o intérprete deve consultar as passagens bíblicas que fazem referência
umas às outras, possuem alguma ligação entre si ou tratam do mesmo assunto. Há
três classes de paralelos:
1. Paralelos de palavras
É necessário traçar um paralelo entre as palavras e afirmações obscuras para
determinar seu verdadeiro sentido:
“E, tendo tirado a este, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando
testemunho, disse: Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu
coração, que fará toda a minha vontade”. At 13.22
O texto afirma que Davi foi um rei segundo o coração de Deus. Porém, a
história deste personagem revela o pecado e reprovação e até mesmo o castigo de
Davi. Deus teria aprovado todos os atos de Davi? O adultério, a poligamia, o
homicídio e outros erros que Davi cometeu são condenados pela mensagem da
Bíblia. Para solucionar esta dificuldade de interpretação é necessário fazer uma
consulta a outros textos bíblicos que falem a respeito de Davi.
“Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que
tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele
diante do meu ungido para sempre”. 1Sm 2.35
Este texto mostra que Davi foi um homem segundo o coração de Deus em
sua missão de rei-sacerdote, a qual cumpriu muito bem. O texto de 1Samuel 13.14
confirma esta verdade.
Porém agora não subsistirá o teu reino; já tem buscado o SENHOR para si
um homem segundo o seu coração, e já lhe tem ordenado o SENHOR, que
Hermenêutica 22
seja capitão sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR
te ordenou. 1Sm 13.14
2. Paralelos de ideias
Quando uma ideia defendida em algum trecho da Bíblia parece contraditória
com a mensagem geral, é possível usar o paralelo desta ideia para esclarecer seu
significado.
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Mt 16.18
O texto acima passa a ideia de que Pedro é a pedra sobre a qual Jesus
edificaria sua Igreja. Não seria muito perigoso que Jesus tivesse estruturado sua
igreja sobre um homem, ainda que de Deus, limitado e sujeito a errar? Uma análise
a respeito da ideia de uma pedra fundamental esclarece a questão.
Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra, que os edificadores
rejeitaram, Essa foi posta por cabeça do ângulo; Pelo Senhor foi feito isto, E
é maravilhoso aos nossos olhos? Mt 21.42
Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus
Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem ajustado,
cresce para templo santo no Senhor. Ef 2.20,21
Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o
fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre
ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo. 1 Co 3.10,11
Além destes textos, o próprio apóstolo Pedro fala a respeito da pedra:
“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras
que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a
fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio
de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma
pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum,
envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade;
mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio
a ser a principal pedra, angular e: Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São
estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que
também foram postos”. 1Pe 2.4-8
Logo, a dificuldade de interpretação de um único texto isolado – Mateus 16.18
– é esclarecida por inúmeros textos bíblicos que apontam Jesus como “a única
Pedra angular”.
Hermenêutica 23
3. Paralelos de ensinos gerais
Algumas questões de difícil interpretação devem ser analisadas de acordo
com os ensinos gerais da Bíblia. Por exemplo, Deus é descrito como Onisciente,
Onipotente, Transcendente, Espírito Perfeito, mas há textos que descrevem Deus
com características de homem, limitando-o a tempo, lugar, espaço, etc. Para
compreender este tipo de aparente contradição, levam-se em consideração os
ensinos gerais da Bíblia que, apesar de ser uma obra inspirada por Deus, foi escrita
para seres humanos, revelando Deus de modo que os seres humanos o possam
compreender. A esse fenômeno, a teologia chama antropomorfismo – Deus se
revela com aparência de homem e antropopatia – Deus se revela com sentimentos
de homem. Assim, quando há referência a Deus de maneira limitada, não se deve
esquecer que faz parte daquela passagem isolada, sendo o ensino geral o que deve
prevalecer para formulação de conceitos teológicos.
Hermenêutica 24
11. REVELAÇÃO PROGRESSIVA
A Bíblia foi escrita durante, aproximadamente, dezesseis séculos, por cerca
de quarenta autores diferentes e em diversas línguas, com centenas de tópicos; é
notadamente uma obra sobrenatural que a Bíblia apresente espantosa unidade
temática — Jesus Cristo.
Assim, visto que Deus levou milênios para a conclusão dessa obra, é de se
compreender que a Revelação de Deus foi gradual e que as mensagens mais
recentes da Bíblia confirmam, interpretam ou explicam as mais antigas.
HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras,
aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, Hb
1.1
É importante lembrar que, a cada século, Deus inspirava escritores para
revelar mais de Sua verdade. Assim, houve acréscimo de fato para fato, e verdade
para verdade, de modo que as doutrinas eram brotos no começo, mas durante o
processo de revelação, se expandiram até amadurecerem em flor.
Usando a comparação de B. H. Carroll, “em seu início a Bíblia escolhe e
aponta para a raiz completamente suficiente da qual todas as doutrinas brotam. A
raiz é Deus. Nele são inerentes todas as virtudes que podem criar e sustentar um
mundo. Portanto, conhecendo a ele, a criatura inteligente conhecerá as doutrinas
que podem instruí-la e edificá-la. Daí a forma elementar de uma doutrina se achará
nas partes mais antigas das Escrituras; a forma mais desenvolvida nos livros
posteriores. Isso cria duas regras similares de interpretação. O sentido de uma
palavra ou frase num livro posterior das Escrituras não deverá ser transferido para
um livro mais antigo, a menos que o contexto exija. A forma de uma doutrina numa
parte subseqüente da Bíblia não deve ser aceita como plenamente desenvolvida
numa parte precedente sem a sanção do uso e do contexto”.
Veja-se as declarações dos profetas do Antigo testamento, muitas vezes
obscuras e que aparentavam ter aplicação restrita àquela época. Nos dias do Novo
Testamento estas se revelam como predições de eventos futuros.
Sim, e todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram,
também predisseram estes dias At 3.24
A promessa feita a Abraão de que este teria uma descendência incontável e
que abençoaria a terra parecia cumprida quando o povo de Israel deixou o Egito e
entrou na terra prometida.
ORA, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da
casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande
nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma
bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. Gn 12.1-3
Hermenêutica 25
Mais de seiscentos mil homens (Nm 11.21), fora as mulheres e crianças
deixaram o Egito e entraram na terra prometida. O reino cresceu e prosperou. No
reinado de Davi houve expansão geográfica; no reinado de Salomão crescimento
diplomático e econômico. O reino de Israel se tornou notório e passaram a
considerar o cumprimento das promessas de Deus.
"Portanto assim diz o SENHOR, que remiu a Abraão, acerca da casa de
Jacó: Jacó não será agora envergonhado, nem agora se descorará a sua
face." Is 29.22
Mas o Novo testamento revela que esta promessa, esta descendência
abençoadora diz respeito a um único descendente: Jesus Cristo, pois apenas nele
são benditas todas as famílias da terra.
"Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E
às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua
descendência, que é Cristo." Gl 3.16.
Por séculos os Salmos foram entoados como simples relatos de Davi acerca
de suas dificuldades e aflições, e sua conduta sob essas circunstâncias. Mas o Novo
Testamento revela o sentido profético dos Salmos.
“Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com
juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o
Cristo, para o assentar sobre o teu reino, Nesta previsão, disse da
ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a
sua carne viu a corrupção”. At 2.30-31
A Revelação progressiva fica evidente na carta aos Hebreus, que traça um
comentário neotestamentário acerca do sistema sacrifical veterotestamentário. O
Pentateuco apresenta o tipo que, por milênios foi a única faceta da revelação que os
homens possuíam. Mas Hebreus apresenta o antítipo, ou sejam, a explicação deste
tipo. Na verdade, todo o Novo Testamento apresenta esse caráter de uma
interpretação veterotestamentária.
Essa compreensão facilita o estudo de passagens nas quais Deus que diz:
“Não matarás” manda matar nações inteiras, além de outras questões de difícil
interpretação. Havia um propósito que apontava para Cristo, o que só pode ser
compreendido de posse da totalidade da mensagem bíblica. Aliás, toda a mensagem
bíblica aponta para seu tema central e para ele converge: Cristo.
Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus
caminhos! Porque, quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi
seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja
recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
glória, pois, a ele eternamente. Amém. Rm 11.33-36
Hermenêutica 26
12. ESTILOS LITERÁRIOS
É necessário considerar a estrutura gramatical do texto em análise, bem
como o estilo empregado na composição do texto.
Devido à inspiração – não obstante as transcrições e traduções – é fato que
cada partícula das escrituras tenha um significado a se considerar, diferente do que
afirmam alguns teólogos liberais.
O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar. Mt
24.35
“Até que o céu e a terra passem,nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem
que tudo seja cumprido” Mt 5:18
Jota, como é traduzido, refere-se ao Yod, menor letra do alfabeto hebraico e o
til refere-se a um pequeno sinal gráfico anexo que diferencia algumas letras. Deste
modo, até os menores sinais da palavra de Deus trazem sentido, quanto mais as
palavras e o estilo utilizados na composição. A seguir, as figuras de linguagem e
estilos a serem considerados na interpretação bíblica.
1. Metonímia
Metonímia é alteração do sentido natural das palavras pelo emprego da causa
pelo efeito, do todo pela parte, do continente pelo conteúdo.
Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lc 16.29
É evidente que o povo de Israel da época de Jesus não tinha a presença de
Moisés ou dos profetas, mas de seus escritos.
2. Hipérbole
Hipérbole é a figura que consiste em aumentar ou diminuir exageradamente a
verdade das coisas, de modo a causar um impacto maior nas afirmações.
"Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das
quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os
livros que se escrevessem. Amém." Jo 21.25.
É evidente que seriam necessários livros incontáveis para preencher todo o
planeta. O apóstolo quer mostrar o quanto as obras de Jesus vão além do que as
palavras poderiam descrever.
3. Antítese
Antítese é a figura que apresenta oposição de pensamentos ou de palavras,
contrastando pessoas ou coisas.
"A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do
seu fruto." Pv 18.21
Hermenêutica 27
Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se mal fizeres, o pecado
jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar. Gn
4.7
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que
conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; Mt 7.13
O objetivo é firmar uma ideia ou conceito através do contraste com ideias ou
conceitos inversos ou opositores.
4. Símile e Parábola
A símile (do latim "similis") significa semelhante ou parecido a outro. Segundo
o dicionário da Língia Portuguesa, “qualidade do que é semelhante, comparação de
duas ou mais coisas que se assemelham”. É usada para comparar dois elementos
que não pertencem necessariamente à mesma categoria.
"Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo,
assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não
conhecerá daí em diante o seu lugar." Sl 103.11-16 .
O profeta Isaías usa deste método literário para demonstrar a superioridade
do pensamento e da Palavra de Deus em relação aos homens:
Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os
vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR. Porque assim como
os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais
altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do
que os vossos pensamentos. Porque, assim como desce a chuva e a neve
dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir, e
brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, Assim será a
minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia,
antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei. Is 55.811
A parábola, por sua vez, é a ampliação do uso de símiles. Ao iniciar as
parábolas a respeito do porvir, Jesus dizia “o reino de Deus é semelhante a...”.
A parábola pode ser definida como a narração alegórica que encerra uma
verdade importante ou um preceito de moral.
Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que
busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu
tudo quanto tinha, e comprou-a. Igualmente o reino dos céus é semelhante
a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. E,
estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os
cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Assim será na consumação
dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, E
lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. Mt
13.45-50
Hermenêutica 28
Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao
grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo; O
qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a
maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e
se aninham nos seus ramos. Mt 13.31,32
Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento, que
uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja
levedado. Mt 13.33
Alguns pontos devem ser observados para uma compreensão mais clara das
parábolas:
 O propósito da parábola, ou seja, qual o ensino que encerra.
 As parábolas visam ilustrar e não criar doutrinas.
 Foco no objetivo e não nos pontos que servem para completar a narrativa. Este
princípio deve ser observado porque pode ser perigoso para a correta
interpretação ater-se a pontos da parábola que não estão relacionados ao seu
propósito fundamental.
Dizendo: Havia numa cidade um certo juiz, que nem a Deus temia, nem
respeitava o homem. Havia também, naquela mesma cidade, uma certa
viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu adversário.
E por algum tempo não quis atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda
que não temo a Deus, nem respeito os homens, 5 Todavia, como esta
viúva me molesta, hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte, e me
importune muito. E disse o Senhor: Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não
fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda
que tardio para com eles? Lc 18.2-7
Jesus foca a importância da perseverança na oração. Não há relação alguma
entre o iníquo juiz e a pessoa de Deus.
5. Metáfora e Alegoria
A metáfora é uma figura de linguagem em que a significação natural de uma
palavra é substituída por outro em virtude da relação de semelhança subentendida,
ou seja, dois objetos ou fatos, caracterizando-se um com o que é próprio do outro.
"E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá
fome, e quem crê em mim nunca terá sede" Jo 6.35.
Jesus diz ser o pão da vida no sentido em que, assim como é característica
do pão matar a fome do corpo, ele mataria a fome da alma, trazendo alimento
espiritual.
Uma metáfora ampliada é uma alegoria. A alegoria é um método literário em
que a exposição de um pensamento é feita de forma figurada. Uma coisa para dar a
ideia de outra.
Hermenêutica 29
Trouxeste uma vinha do Egito; lançaste fora os gentios, e a plantaste.
Preparaste-lhe lugar, e fizeste com que ela deitasse raízes, e encheu a
terra. Os montes foram cobertos da sua sombra, e os seus ramos se
fizeram como os formosos cedros. Ela estendeu a sua ramagem até ao mar,
e os seus ramos até ao rio. Por que quebraste então os seus valados, de
modo que todos os que passam por ela a vindimam? O javali da selva a
devasta, e as feras do campo a devoram. Sl 80.8-13
O povo de Israel é representado através de uma linguagem alegórica, na
viagem do Egito a Canaã. Depois da chegada do Egito, esta vinha que representa
Israel lança raízes. Por fim, o javali selvagem devasta essa plantação de Deus.
Existe uma diferença marcante entre parábolas e alegorias: Nas parábolas,
geralmente, a historia e a aplicação são distintas, de modo que a aplicação
acompanha a história. Nas alegorias, a história e a aplicação se entrelaçam.
6. Provérbio
Consiste em ditos proverbiais, geralmente concisos, podendo ser, inclusive, a
compressão de uma parábola ou alegoria. Seu uso era comum nos dias de Jesus.
"Médico cura-te a ti mesmo" Lc 4.23
"Não há profeta sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na
sua casa." Mt 13:57
A interpretação de provérbios é fundamental para a integração dos preceitos
espirituais com a vida prática dos cristãos. O foco do livro de provérbios é o aspecto
moral da lei. Para a correta interpretação destas joias de sabedoria, é importante
lembrar que são princípios para a vida prática, incentivos para decisões
responsáveis, tementes a Deus e não promessas da aliança.
É fundamental que não se faça interpretações isoladas, como se fossem
promessas para a vida em geral.
É necessário lembrar que a maioria dos provérbios está baseada em fatos e
costumes de outra época e assim, embora o princípio que encerra seja válido
atemporalmente, as afirmações nem sempre o são.
Provérbios usam abundantemente símiles, metáforas, parábolas ou alegorias
e isso deve ser levado em conta em sua interpretação.
A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas esquinas
movimentadas ela brada; nas entradas das portas e nas cidades profere as
suas palavras: Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós
escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o
conhecimento? Atentai para a minha repreensão; pois eis que vos
derramarei abundantemente do meu espírito e vos farei saber as minhas
palavras. Entretanto, porque eu clamei e recusastes; e estendi a minha mão
e não houve quem desse atenção, Antes rejeitastes todo o meu conselho, e
não quisestes a minha repreensão, Também de minha parte eu me rirei na
vossa perdição e zombarei, em vindo o vosso temor. Vindo o vosso temor
como a assolação, e vindo a vossa perdição como uma tormenta, sobrevirá
a vós aperto e angústia. Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de
Hermenêutica 30
madrugada me buscarão, porém não me acharão. Porquanto odiaram o
conhecimento; e não preferiram o temor do SENHOR: Não aceitaram o meu
conselho, e desprezaram toda a minha repreensão. Portanto comerão do
fruto do seu caminho, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o
erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o
que me der ouvidos habitará em segurança, e estará livre do temor do mal.
Pv 1.20-33
A personificação da sabedoria neste trecho revela o provérbio como uma
parábola.
Outro princípio importante diz que a universalidade formal dos provérbios e
ditos proverbiais raramente são uma universalidade absoluta. Como exemplo, dois
provérbios de Jesus:
“Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” Mt
12.30
“... Porque quem não é contra nós é por nós” Mc 9.40
A aparente contradição entre os dois ditos de Jesus é percebida
frequentemente. Para a correta interpretação de ditos proverbiais é importante que
estes não sejam tomados como verdades absolutas, ou seja, existe um contexto,
uma circunstância para a aplicação destes ditos de sabedoria.
O texto de Mt 12.30 foi expresso a pessoas indiferentes contra si próprias,
enquanto Mc 9.40 se refere aos discípulos sobre outros, cujo zelo ultrapassa seus
conhecimentos. Uma tentativa de aplicar estas afirmações para situações em geral,
certamente resulta em completa contradição.
Provérbios objetivam dar a percepção de como uma cultura sob Deus
funciona, como relacionamentos funcionam, quais devem ser as prioridades.
Contudo, estes ditos sapienciais no dão todas as exceções individuais em notas de
rodapé e sob quais circunstâncias devem ser aplicados.
7. Poesia hebraica
A poesia hebraica está presente por todo o Antigo Testamento. Salmos, Jó,
Cantares de Salomão, Eclesiastes, provérbios, profetas, etc. A rima, comum na
poesia da língua portuguesa, não é encontrada na poesia hebraica, contudo,
existem dois estilos poéticos marcantes: o acróstico e o paralelismo.
Acróstico
É o estilo de composição poética na qual cada linha da composição inicia com
uma letra respeitando a ordem alfabética. O objetivo principal do uso desta técnica é
facilitar o aprendizado e a memorização. Isto também pode ser um meio de sugerirse que o assunto foi tratado de forma completa.
Hermenêutica 31
O salmo 119 é um exemplo marcante:
‫ א‬Álef: Sl 119.1-8
‫ ט‬Tet: Sl 119.65-72
‫ ב‬Bet: Sl 119.9-16
‫ ג‬Gímel: Sl 119.17-24
‫ ד‬Dálet: Sl 119.25-32
‫ ד‬Hê: Sl 119.31-40
‫ ו‬Vav: Sl 119.41-48
‫ ז‬Zayin: Sl 119.49-56
‫ ח‬Het: Sl 119.57-64
‫ י‬Yod: Sl 119.73-80
‫ כ‬Caf: Sl 119.81-88
‫ ל‬Lâmed: Sl 119.89-96
‫ מ‬Mem: Sl 119.97-104
‫ נ‬Num Sl 119.105-112
‫ ס‬Sâmeq: Sl 119.113-
‫ ע‬Ayin: Sl 119.121-128
‫ פ‬Pê: Sl 119.129-136
‫ צ‬Tsad: Sl 119.137-144
‫ ק‬Cof: Sl 119.145-152
‫ ר‬Resh: Sl 119.153-160
‫ ש‬Chim Sl 119.161-168
‫ ת‬Tav: Sl 119.169-176
120
Ou seja, ao ler estes “nomes” no topo de cada trecho, na verdade são as
letras hebraicas com que estes trechos têm início.
Também o livro de Lamentações de Jeremias é composto em seções de
acrósticos do início ao fim.
Paralelismo
É o estilo mais importante e marcante da poesia hebraica. Consiste na
repetição de ideias. Um conceito é apresentado e expresso novamente em palavras
diferentes no verso seguinte, sendo que as ideias equivalem de certa forma.
São tipos de paralelismo:
 Sinonímico, quando as ideias são reapresentadas através de sinônimos, ou
seja, outras palavras para reafirmar o mesmo conceito.
Levanta o pobre do pó, e do monturo levanta o necessitado Sl 113.7
Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz nas pernas do homem
Sl 147.10
 Antitético, quando a ideia da afirmação anterior é reafirmada através de uma
oposição a ela.
PROVÉRBIOS de Salomão: O filho sábio alegra a seu pai, mas o filho
insensato é a tristeza de sua mãe. Pv 10.1
Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos
ímpios perecerá. Sl 1.6
 Sintético, quando a segunda afirmação é uma continuação ou desenvolvimento
da primeira.
Para sempre te louvarei, porque tu o fizeste, e esperarei no teu nome,
porque é bom diante de teus santos. Sl 52.9
 Emblemático, no qual a primeira afirmação apresenta uma figura e a segunda
sua explicação.
Tira da prata as escórias, e sairá vaso para o fundidor; Tira o ímpio da
presença do rei, e o seu trono se firmará na justiça. Pv 25.4,5
Hermenêutica 32
 De escada, no qual o pensamento é apresentado na primeira afirmação e
recebe um novo elemento a cada nova afirmação.
Porventura não achariam e repartiriam despojos? Uma ou duas moças a
cada homem? Para Sísera despojos de estofos coloridos, despojos de
estofos coloridos bordados; de estofos coloridos bordados de ambos os
lados como despojo para os pescoços. Pv 5.30
8. Tipo
O tipo é um modelo. Trata-se de uma classe de metáforas que serve de figura
de coisas, geralmente espirituais. Uma vez que o mundo espiritual é
incompreensível aos seres humanos, Deus se valeu de “sombras” do mundo
material para tipificá-las. Logo, os tipos são abundantes na Bíblia e, como em todo o
processo de interpretação, devem ser compreendidos à luz da própria Bíblia e não
da imaginação do intérprete.
O escritor aos hebreus ensina que a lei trazia apenas sombra dos bens
futuros. Cristo é o cumprimento substancial daquilo que era apenas tipológico.
PORQUE tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das
coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem
cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Hb 10.1
Tipo:
"E disse o SENHOR a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na
sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar
para ela." Nm 21.8.
Antítipo:
E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho
do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna. Jo 3.14,15
Tipo:
Preparou, pois, o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e
esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe. Jn 1.17
Antítipo:
Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim
estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra. Mt 12.40
A fim de evitar erros na interpretação de tipos, seguem alguns princípios
importantes:
 Os tipos devem ser identificados como tais pelo Novo testamento.
 Nem todos os detalhes do tipo podem ser aplicados ou devem ter relação direta
com aquilo o que tipifica.
 Um tipo pode tipificar coisas diferentes em passagens diferentes.
 Tipos não embasam doutrinas, apenas às ilustram e tipificam.
Hermenêutica 33
9. Símbolo
Essa espécie de tipo serve para representar alguma coisa por meio de outra
que se considera a propósito para servir de semelhança ou representação.
E disse-me um dos anciãos: Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a
raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos. Ap
5.5
O leão é símbolo da realeza, por ser considerado o rei dos animais.
Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes
como as serpentes e inofensivos como as pombas. Mt 10.16
As serpentes são símbolo de astúcia.
Devido à natureza humanamente incompreensível das verdades espirituais, a
Bíblia usa de abundância simbólica para demonstrá-las, no que se refere à morte, à
ressurreição, à nova vida, etc.
Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E,
quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples
grão, como de trigo, ou de outra qualquer semente. Mas Deus dá-lhe o
corpo como quer, e a cada semente o seu próprio corpo. Nem toda a carne
é uma mesma carne, mas uma é a carne dos homens, e outra a carne dos
animais, e outra a dos peixes e outra a das aves. E há corpos celestes e
corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres.
Uma é a glória do sol, e outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas;
porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também a
ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção;
ressuscitará em incorrupção. 1Co 15.36-42
10. Literatura Apocalíptica
O livro do Apocalipse é, na verdade, parte de um estilo chamado literatura
Apocalíptica Judaica, encontrada em partes de Daniel, Ezequiel e Zacarias. Assim,
ao tratar de literatura apocalíptica, todos esses escritos estão em foco.
Este trecho da aula não visa encerrar as diversas interpretações do livro do
Apocalipse, mas dar um norte para que o aluno aplique os princípios da
hermenêutica compreendendo o estilo, objetivo, destinatários e aplicações possíveis
para o conteúdo registrado pelo apóstolo João e outras literaturas apocalípticas ao
longo da Bíblia.
O livro do Apocalipse está repleto de alusões ao Antigo Testamento, muitas
vezes integradas no corpo da mensagem, sem a citação da fonte, tão comum entre
os autores Novo Testamento. O Apocalipse é um livro Cristocêntrico e sua
mensagem, como o restante da Bíblia, apontam para cristo.
Hermenêutica 34
Para a interpretação do Apocalipse é necessário lembrar que:
 O livro foi originalmente direcionado àqueles que estão sob perseguição; sua
interpretação depende desta observação. O Apocalipse é uma carta e tem
destinatários específicos. Grande parte do que está escrito nele tem relação direta
com aquela época específica, independente da corrente teológica que o interprete.
 O uso de imagens simbólicas é significativo para todas as gerações posteriores
porque elas não atrelam os símbolos a qualquer evento específico da história da
Igreja. Por exemplo, a imagem da besta é frequentemente atrelada ao Império
Romano (interpretação preterista), mas não se limita a este (ainda que o seja), na
verdade, serve de alusão a muitas formas de tirania que se manifestam através dos
séculos, perseguindo a igreja. O clímax pode ser o anticristo.
 O Apocalipse não tem nenhuma pretensão e nem pode ser usado para predizer
o tempo exato da segunda vinda de Cristo. Embora lance luz sobre a questão, seu
objetivo é ajudar a preparar o povo de Deus para a segunda vinda e para o tempo
difícil antes deste último acontecimento histórico.
 O estilo do livro deve ser respeitado: A interpretação é simbólica e não literal.
E a besta que era e já não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à
perdição. Ap 17.11
Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da
besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e
sessenta e seis. Ap 13.18
A busca pela interpretação literal encontra grandes dificuldades. Jesus esclarece o
simbolismo das sete estrelas e dos sete castiçais, dando uma chave para a
interpretação:
“Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos
sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os
sete candeeiros são as sete igrejas”. Ap 1.20
 Três prismas diferentes devem ser adotados para interpretar o Apocalipse: 1)
Como já visto, é uma carta que tem seus destinatários e seu cumprimento presentes
no primeiro século. 2) Princípios e ensinamentos que servem para todas as épocas
em que se possa aplicar os conselhos de Deus para as igrejas em perseguição.
João cria uma tensão entre arrependimento e santidade por parte dos santos. Visa
encorajar os santos para suportar perseguição, e para não assumir compromisso
com os padrões do mundo e como estimulo e alerta ele mostra as
recompensas daqueles que creem e obedecem as palavras deste livro e
o castigo dos que não o levarem a sério e 3) O livro revela a si mesmo como uma
profecia, predizendo o futuro. Como tal, não deve ser desprezado enquanto
revelação dos planos de Deus para o fim dos tempos.
 Por fim, João apresenta no livro descrições e visões de Jesus em sua glória
divina, fornecendo muitos exemplos de hinos de louvor e adoração que tem
inspirado por séculos os compositores de hinos.
Hermenêutica 35
13. APLICAÇÃO
“A Bíblia não foi dada para aumentar o nosso conhecimento, mas para mudar
a nossa vida”. D. L. Moody,
A Bíblia Sagrada não é um livro de caráter informativo, mas útil para
transformar a vida do ser humano.
Disse-lhes: Aplicai o vosso coração a todas as palavras que hoje testifico
entre vós, para que as recomendeis a vossos filhos, para que tenham
cuidado de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não vos
é vã, antes é a vossa vida; e por esta mesma palavra prolongareis os dias
na terra a qual, passando o Jordão, ides a possuir. Dt 32,46,47
E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos
com falsos discursos. Tg 1.22
Assim, ela deve servir para guiar a vida dos cristãos em todos os momentos
da vida cotidiana. O uso das observações devidamente interpretadas na vida diária é
a aplicação da Palavra de Deus. Para tanto, é necessário investigar o texto de forma
prática, procurando um exemplo a ser seguido, um pecado a ser evitado, um modelo
de oração, uma condição estabelecida por Deus, algum princípio a ser assimilado,
etc. Para isso é preciso ser específico, relacionando o texto com situações reais da
vida, sem generalizações, estabelecendo atitudes e um comportamento que condiga
com o texto aplicado.
A questão cultural deve ser observada. Há distinção entre os elementos
teológicos (imutáveis) e os elementos culturais (mutáveis) de um determinado
preceito. A hermenêutica é a ferramenta para fazer tal distinção.
Uma autoavaliação periódica é vital, pois o estudante de teologia, que será
(ou já é) um professor entre os irmãos, deve ser um referencial, não apenas no
conhecimento, mas no procedimento. Assim, é importante avaliar, à luz da Bíblia, o
comportamento pessoal.
Hermenêutica 36
REFERÊNCIAS
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Nova, 1998
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Vida Nova, 2000.
DOCKERY, David S. (ed). Manual Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2001.
FOLKES, Francis. Efésios: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1989.
FRANCISCO, Edson de Faria. Manual da Bíblia Hebraica: introdução ao texto
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FRYE, Herman Northrop. The Great Code: The Bible and Literature. New York:
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KONINGS, Johan. A Bíblia, sua história e leitura: uma introdução. Petrópolis:
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LACHLER, Karl. Prega a Palavra. Edições Nova vida
MARQUES, Max Clayton. A Pregação e o Pregador. São Paulo, 2010. Apostila
Teológica
MARTIN, Walter. Curso Interdenominacional de Teologia. Jundiaí, ICP, 2003
REIFLER, Hans Ulrich. A pregação ao alcance de todos. Edições Nova Vida
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica Avançada, Princípios e Processos de
Interpretação Bíblica, São Paulo, Editora Vida, 1999
GUEDES, Ivan Pereira. Apocalipse, Tipo de Literatura, disponível em
http://reflexaobiblica.spaceblog.com.br/871739/APOCALIPSE-Tipo-de-Literatura/
ZUCK, Roy. A Interpretação Bíblica, Associação Religiosa Imprensa da Fé, São
Paulo, 2002
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