279 A FORMAÇÃO DE LEITORES COMPREENDEDORES

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A FORMAÇÃO DE LEITORES COMPREENDEDORES ATRAVÉS DE
OFICINAS DE LEITURA
Márcia Rita de Campos
Aluna do 4º período do Curso de Pedagogia – UEMG/Barbacena
Ms. Elaine Leporate Barroso Faria
Professora e Pesquisadora da UEMG/Barbacena
RESUMO
Este plano visa a elaboração de oficinas de leitura para aguçar a curiosidade dos alunos,
despertar o interesse pela leitura e escrita, incentivar o hábito da leitura, destacar a
importância do domínio da língua, promover o desempenho oral e o desenvolvimento de
argumentos, estimular o leitor à um pensar organizado, reflexivo e crítico e aplicar técnicas de
codificação, retenção e recordação das informações.
PALAVRAS CHAVE: leitura, cognição, compreensão, oficina.
INTRODUÇÃO
O ato de ler implica muito além da alfabetização entre outras técnicas de iniciação
estudantil, processos que ocorrem em nossa mente e que nos possibilitam dar sentido ao que
lemos. Os conceitos de leitura, compreensão e cognição, definidos a partir da perspectiva
teórica da Psicologia Cognitiva são apresentados para o entendimento da relação entre leitura
e compreensão da leitura. A cognição influencia na vida escolar, considerando o fato de que o
processo de leitura acompanha o estudante por toda sua trajetória acadêmica. Desta forma, o
conhecimento prévio é a base da compreensão, em que o leitor relaciona texto e contexto em
que está inserido. A partir do conhecimento prévio se dá a possiblidade de compreensão e
assimilação de novas informações. No âmbito educacional é importante o ensino do uso
estratégias cognitivas e metacognitivas da leitura desde os primeiros anos do Ensino
Fundamental. Mediante pesquisa realizada anteriormente no projeto de pesquisa intitulado
“As habilidades cognitivas na compreensão da leitura”, por meio da atividade extensionista,
colocamos em prática os conhecimentos adquiridos.
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Segundo o Programme for International Student Assessment 2012 (PISA) o Brasil
ocupa o 55º lugar em leitura em um ranking de 65 países no Programa Internacional de
Avaliação de Alunos e confirma o baixo desempenho dos alunos brasileiros em leitura em
língua materna. Não é muito diferente do de 2009, quando o país assumiu a 53ª posição em
leitura em que o Brasil obteve 375 pontos, ficando em penúltimo lugar entre os 42 países
participantes da avaliação internacional, sendo o país de melhor pontuação a Coreia com 552
pontos. (OECD, 2006, 2009), dados estes que evidenciam a necessidade de um projeto que
atenda crianças de rede pública, para que se sintam motivadas e obtenham melhora na leitura
e na compreensão.
O objetivo deste projeto é o de fazer com que alunos do Ensino Fundamental I, da rede
pública, que estejam em situação de fracasso escolar, tenham a oportunidade de melhorarem
em leitura e compreensão, o que posteriormente os auxiliarão em sua caminhada acadêmica,
visto o fato de que todas as áreas de instrução acadêmica necessitam da leitura e compreensão
de textos.
A LEITURA PELA PERSPECTIVA COGNITIVA
Para Piaget a cognição humana era como uma forma específica de adaptação biológica
de um organismo complexo a um ambiente complexo. O sistema cognitivo que ele idealizou
é, extremamente ativo, pois seleciona e interpreta ativamente a informação ambiental à
medida que constrói seu próprio conhecimento. (FLAVELL; MILLER; MILLER, 1999). O
conhecimento se faz presente em quase todos os momentos da vida humana, a leitura por sua
vez é indispensável a sobrevivência no mundo atual, fatos estes que justificam a importância
de saber ler e compreender, para acumulação de conhecimentos.
A cognição exibe dois aspectos simultâneos e complementares que Piaget denominou
de assimilação e acomodação, percebemos que a assimilação está ligada a aplicação do saber
já adquirido para interpretar os eventos do ambiente, enquanto a acomodação ajusta o
conhecimento em resposta de um objeto ou evento. Portanto a assimilação refere-se a adaptar
os estímulos externos às estruturas mentais internas, enquanto a acomodação faz o processo
reverso, adapta as estruturas mentais aos estímulos externos. (FLAVELL; MILLER;
MILLER, 1999). A assimilação e a acomodação são aspectos cognitivos de interpretação em
relação ao ambiente, o primeiro adapta os estímulos externos às estruturas mentais internas e
o segundo faz o processo contrário, ou seja, adapta as estruturas mentais aos estímulos
internos.
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Segundo Palinscar e Perry (1995) apud Joly e Marini (2006), a leitura envolve
habilidades cognitivas, especialmente as relacionadas à solução de problemas para decodificar
e compreender textos. Na visão de Flanagan, Ortiz, Alfonso e Mascolo (2002) decodificar
está relacionado ao reconhecimento de símbolos gráficos, representados por letras ou
palavras, partindo de uma análise que permite ao leitor atribuir-lhes significado. A
compreensão em leitura envolve entender o significado sintático e semântico desses símbolos
no contexto de um texto, sendo assim a leitura uma habilidade cognitiva.
A leitura envolve muito mais do que saber ler, requer a habilidade de entender a
mensagem transmitida e que está implícita no texto por meio de conhecimento prévio
armazenado em nossa memória. Uma compreensão eficiente leva o indivíduo a fazer
inferências, quer requer do leitor a observação de informações que estão apenas sugeridas no
texto ou que esteja relacionada com conhecimentos anteriores sobre o assunto. Então, o leitor
utiliza no processo de compreensão de um texto, um conjunto de processos metacognitivos,
sendo que a estratégia mais utilizada para monitorar o entendimento é o próprio objetivo que
todo leitor adota, isto é, o de obter significado ou o de realizar um esforço para conseguir uma
representação coerente do material lido. Assim, esta estratégia promove a realização de
julgamentos por parte do leitor sobre o entendimento do texto.
O desenvolvimento cognitivo é formado por vários processos mentais que estão
envolvidos na vida do ser humano desde o início do ciclo da vida e que avança de acordo com
as experiências vivenciadas. Assim, a cognição acompanha o indivíduo por toda a vida e
principalmente, constitui fator de integração social.
O conhecimento em uma determinada área do saber está ligado a leitura e
compreensão de textos nesta área e isso remete a importância da leitura e da educação tanto
na formação acadêmica, quanto na vida intelectual do indivíduo. A leitura é indispensável aos
universitários porque, através dela, se dá o acesso ao conteúdo das várias disciplinas
curriculares e à produção científica, mas a habilidade de leitura tem papel importante na
escola, que tem como principal objetivo o ensino de conceitos por meio de práticas que
requerem habilidade de leitura. Podemos dizer que quanto mais lemos, mais aprimoramos
nossa capacidade de compreensão do mundo e por meio da leitura crítica estabelecemos
relações entre o texto e o contexto (FARIA, 2011; FARIA; MOURÃO-JÚNIOR, 2013).
O USO DE ESTRATÉGIAS DE LEITURA
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Segundo Oliveira, Boruchovitch e Santos (2007) apud Faria (2011), tem sido
preocupante o aumento do número de estudantes em situação de fracasso escolar. Os
professores buscam explicações para o não aprendizado do aluno, atribuindo a ele a culpa por
seu baixo desempenho ou a características do ambiente. Por outro lado, o aluno, frente ás
dificuldades de aprendizagem, se considera incapaz e pouco inteligente.
Estudos comprovam que maus leitores não somente recebem menos instrução em
compreensão, como é exigido deles mais tempo de prática de leitura oral, com contínuas
interrupções para corrigir erros; no entanto, não recebem propostas de reflexões ao conteúdo
do texto. Conforme Coelho e Correa (2010) apud Faria (2011), se focalizados os erros
ortográficos e gramaticais, que compreende um nível mais básico de leitura, deixa de
construir o sentido total do texto. Os leitores devem ser orientados para monitorarem sua
compreensão, utilizando padrões de avaliação semântica de alto nível, possibilitando o
monitoramento nos níveis mais baixos que são relacionados aos aspectos formais do sistema
de escrita. Em contrapartida desta colocação, a oficina de leitura se mostra uma boa
alternativa, para que os alunos aprendam a ler para compreender e não para um bom
desempenho oral sem retenção das informações contidas no texto, para tanto podemos utilizar
as estratégias cognitivas de leitura.
Com o uso de estratégias cognitivas, o aluno tende a melhorar significativamente sua
compreensão leitora. São processos mentais que o mesmo já utilizava involuntariamente,
quando o aluno vem a conhecê-las, ele se apropria das estratégias e começa a identificar em
que momento usá-las e qual estratégia deve usar.
Especulam sobre a origem da habilidade metacognitiva, a qual deve ser mediada pelos
recursos disponíveis na memória de trabalho. Explicam que à medida que os processos
básicos de leitura se tornam mais eficientes, consumindo assim menos espaço na memória de
trabalho, estes espaços provavelmente tornam-se livres para atividades como o
monitoramento da compreensão.
O leitor que domina a habilidade de monitorar textos tem capacidade para aumentar o
grau de complexidade dos textos a serem lidos, de acordo com a eficiência nos processos
básicos de leitura, o leitor abre um espaço na memória de trabalho para monitorar sua
compreensão. À medida que o aluno lê e observa que não compreendeu o que leu, e volta ao
texto em busca de informações, ele está realizando uma atividade de metacognição, que seria
o monitoramento de sua própria compreensão.
Para Gonçalves (2008) apud Faria (2011), existem diferenças entre leitores
proficientes e não proficientes, e o grau de compreensão do texto está relacionado a dois
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fatores que explicam as diferenças entre eles, o conhecimento prévio do leitor e as estratégias
de compreensão, ambos podem melhorar com a idade e o ensino. Encontramos nos textos
ideias implícitas que necessitam do uso de inferências, baseadas no conhecimento prévio do
leitor, para a sua compreensão. As inferências possibilitam ao leitor ler nas entrelinhas. As
inferências permitem ao leitor dar coerência ao texto que se lê, para que dele extraia novas
informações e evoque informações que devem ser adicionadas ao texto para a sua
completude. Esta estratégia não consegue ser evocada se o leitor pausa muitas vezes a leitura
e não consegue visualiza-la como um todo, em um contexto geral. Se o leitor interrompe sua
leitura para, por exemplo, buscar ajuda no dicionário para entender o significado de uma
palavra nova, ele pode perder o real significado desta no contexto.
A OFICINA DE LEITURA
Para Juric et al (2007) apud Faria (2011), há um grande número de investigações a
respeito das dificuldades em leitura que consideram as falhas no processo de decodificação. A
confusão a respeito das demandas da tarefa de leitura, a pobreza de vocabulário, os problemas
de memória, a falta de treinamento em estratégias de compreensão, o escasso controle da
compreensão das diferenças no modo de ensinar para bons e maus leitores são fatores que
influenciam neste processo. Os alunos participantes da oficina foram selecionados a partir de
avaliação de seus desempenhos em compreensão de leitura, no ato da leitura oral, e em outras
investigações a respeito da leitura e compreensão observadas pelos professores destes alunos.
O projeto assiste a 16 alunos do Ensino Fundamental I da Escola Municipal Jovelino
Jacinto Furtado, na zona rural do Faria, Barbacena, em situação de fracasso ou baixo
desempenho. As oficinas estão sendo realizadas nas dependências da escola em horário
diferente do período escolar, acontecem uma vez por semana, com a duração de 50 minutos. É
promovido o acesso a diferentes textos em seus suportes originais como jornais, revistas,
livros de literatura, livros didáticos, gêneros que circulam nas diversas mídias eletrônicas
como os e-mails, bate-papos. É utilizado o acervo da biblioteca e o material didático utilizado
pelos alunos. Foi realizada uma sondagem com os alunos sobre seus hábitos de leitura e
fluência verbal, para só então elaborar a dinâmica e as atividades das oficinas.
Os alunos participantes do projeto tem se interessado devido à ludicidade de como
vem sendo aplicado e mostram-se motivados à melhorarem em leitura e interpretação textual.
É notória a dificuldade na retenção de informações e na oralidade, dificuldades que vêm
sendo trabalhadas com maior atenção. É ressaltada a importância da organização textual,
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visando o uso de estratégias metacognitivas para a compreensão leitora. A relação entre
compreensão da leitura e desempenho escolar é estreita, e a competência em leitura é uma das
habilidades fundamentais para o sucesso em todas as áreas do saber.
Este estudo contribui para a formação de professores e para a promoção de práticas de
ensino da leitura favorecedoras da formação do leitor crítico. E contribui com o
fortalecimento da educação básica porque propõe ações junto ao sistema de ensino público
através de atividades técnicas e científicas construindo um espaço de diálogo e de reflexões
críticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das oficinas de leitura, os leitores devem ser orientados a monitorarem sua
compreensão, considerando que muitas vezes alunos os não compreendem textos simples.
Desta forma, um leitor hábil é aquele que usa as estratégias cognitivas e metacognitivas,
usando também atividades de planejamento e estratégias de automonitoramento na leitura. O
leitor proficiente mostra-se ativo diante do texto e possui objetivo sobre o que irá ler, o que
analisar, revisar e questionar o significado do que leu, determinar significados desconhecidos
e lidar com inconsistências no texto. Para tanto, usa seu conhecimento prévio para realizar
inferências. Assim, leitores que sabem fazer uso de estratégias, que sabem como e quando
usa-las, são considerados leitores estratégicos. A oficina oferece aos alunos esta oportunidade
de conhecer e fazer uso de estratégias, que eles provavelmente não tinham conhecimento, e a
partir de orientações, entender o que se lê, ler com maior habilidade e reter as informações
lidas.
Boruchovitch (2001) apud Faria (2011), atenta para a necessidade de professores e
educadores desenvolverem um trabalho preventivo que propicie a formação do leitor
independente, crítico e reflexivo, e a atuação conjunta entre escola e família, elementos
fundamentais considerando que a competência em leitura inclui fatores motivacionais,
cognitivos e contextuais.
O conhecimento em leitura e compreensão está voltado para a vida acadêmica e social
do sujeito, onde lhe é exigido o tempo todo, conhecer e entender o mundo a sua volta, bem
como sempre buscar aprender sobre ele, suas inovações, suas obrigações e direitos enquanto
cidadão, para que seja um agente histórico-social, crítico, de mudança, e exerça sua cidadania
sem nenhum tipo de limitação.
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, M. W. C. L.; DIAS, M. G. B. B. Processos que levam à compreensão de textos.
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 147-154, jan./abr. 2006.
FARIA, E. L. B. Estratégias de compreensão da leitura: perspectivas teóricas. Mal-Estar e
Sociedade, Ano IV, v. 6, pp. 83-98, 2011.
FARIA, E. L. B.; MOURÃO-JÚNIOR, C. A.. Os recursos da memória de trabalho e suas
influências na compreensão da leitura. Psicologia, Ciência e Profissão, v. 33, n. 2, p. 288303, 2013.
FLAVELL, John H.; MILLER, P. H.; MILLER, S. A. Desenvolvimento cognitivo. 3. ed.
Porto Alegre: Artmed, 1999
JOLY, M. C. R. A.; MARINI, J.A. S. Metacognição e Cloze na avaliação de dificuldades em
leitura. Questões de pesquisa e práticas em Psicologia Escolar. São Paulo: Casa do
Psicólogo®, 2006.
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