ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Geriatrics & Gerontology Brazilian Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology EDITORIALS Aging and public health . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 Luiz Eugenio Garcez Leme Along the way is a woman, Nara Costa Rodrigues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Jussara Rauth ORIGINAL ARTICLES Translation and cultural adaptation of the Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire in community-dwelling older people . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Lygia Paccini Lustosa, Daniele Sirineu Pereira, Rosângela Correa Dias, Raquel Rodrigues Britto, Adriana Netto Parentoni, Leani Souza Máximo Pereira Health indicators associated with functional disability in low-income elderly. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 Gustavo Nunes Pereira, Giovâni Firpo Del Duca, Gisele Alsina Nader Bastos Correlation between functional mobility, balance and risk of falls in elderly patients with Parkinson’s disease . . . . 74 Nayara Cristina Ferreira, Fabrícia Moura Caetano, Laila Cristina Moreira Damázio Correlates between physical fitness and sexual activity in elderly. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80 Cícero Augusto de Souza, Fernando Luiz Cardoso, Rozana Aparecida da Silveira, Márcio Borgonovo dos Santos, Priscilla Geraldine Wittkopf Agility and balance deficits in individuals with Parkinson disease and their correlation with the functional independence of the gait. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86 Heloyse Uliam Kuriki, Augusto Cesinando de Carvalho, Tânia Cristina Bofi, Michelle Binotto Pereira Costs and length of stay of hospitalization for elderly residents in Recife - PE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Simone Morosini, Ana Paula de Oliveira Marques, Márcia Carréra Campos Leal, Jacira Guiro Marino, Hugo Moura de Albuquerque Melo SPECIAL ARTICLE: CULTURE AND GERONTOLOGY Gerontologic aspects analyze in the song “Foster child” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Hudson Azevedo Pinheiro, Altair Macedo Lahud Loureiro Reviews Geriatric oncology: concepts, trends and challenges. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 Christyanne Maria Rodrigues Barreto de Assis, Hugo Moura de Albuquerque Melo, Elisa Moura de Albuquerque Melo, Daniel Kitner, José Iran Costa Júnior Cytomegalovirus infection, immunologic risk profile (IRP) and mortality correlation in elderly. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112 Marcelo Henrique Reis Caldeira, Maysa Seabra Cendoroglo, Clineu de Mello Almada Filho GUIDELINES SBGG Geriatrics Residency Program: Recommendations of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology (SBGG). . 119 LETTER TO THE EDITOR Vacancies in Geriatrics medical residency . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Milton Luiz Gorzoni meetings instructions for authors VOLUME 5 • NUMBER 2 • APR/MAY/jun 2011 Geriatria & Gerontologia Editor-Chefe João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Editores Associados Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo, Brasil (USP) Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina, Brasil (UEL) Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp) Myrian Spínola Najas – São Paulo, Brasil (Unifesp) Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Editores Executivos João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Jussara Rauth da Costa – Porto Alegre, Brasil Marianela Flores de Hekman – Porto Alegre, Brasil Noêmia Lima Silva – Aracaju, Brasil Salo Buksman – Rio de Janeiro, Brasil Conselho Editorial Nacional Adriana de Melo Gomes João Carlos Barbosa Machado Mônica Rodrigues Perracini João Marcos Domingues Dias Newton Luiz Terra João Toniolo Neto Paulo Rogério Wasserstein Hekman Johannes Doll Renato Maia Guimarães José Elias Soares Pinheiro Renato Moraes Fabbri Júlio César Moriguti Ricardo Komatsu Karla Cristina Giacomin Roberto Dischinger Miranda Kátia Magdala Lima Barreto Rômulo Luiz de Castro Meira Laura Mello Machado Sérgio Márcio Pacheco Paschoal Leani Souza Máximo Pereira Silvia Maria Azevedo dos Santos Ligia Py Sônia Lima Medeiros Luiz Roberto Ramos Tereza Loffredo Bilton Maira Tonidandel Barbosa Toshio Chiba Marcella Guimarães Assis Tirado Túlia Fernanda Meira Garcia Maria Fernanda Furtado de Lima e Costa Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha Maurício Gomes Pereira Vânia Beatriz Merlotti Herédia Maurício Wajngarten Wilson Jacob Filho Recife, Brasil (Instituto de Geriatria e Gerontologia de Pernambuco) Belo Horizonte, Brasil (AURUS) Adriano Cézar Balthazar da Silveira Gordilho Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Salvador, Brasil Ana Amélia Camarano São Paulo, Brasil (Unifesp) Rio de Janeiro, Brasil (IPEA) Anita Liberalesso Néri Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Campinas, Brasil (Unicamp) Carlos Montes Paixão Júnior Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) Cláudia Burlá Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Rio de Janeiro, Brasil (CFM) Clineu Mello Almada Rio de Janeiro, Brasil (UERJ) São Paulo, Brasil (Unifesp) Edgar Nunes de Moraes Recife, Brasil (UFPE) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Eduardo Ferriolli Rio de Janeiro, Brasil Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Eliane Jost Blessmann Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Elisa Franco de Assis Costa Goiânia, Brasil (HUGO) Elizabete Viana de Freitas Rio de Janeiro, Brasil (UERJ) Emílio Hideyuki Moriguchi Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Emílio Jeckel Neto Porto Alegre, Brasil (PUC-RS) Flávio Chaimowicz Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Guita Grib Debert Campinas, Brasil (Unicamp) Ivete Berkenbrock Curitiba, Brasil Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) São Paulo, Brasil (UFSP) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Belo Horizonte, Brasil (Fiocruz-MG) Brasília, Brasil (UnB) São Paulo, Brasil (USP) São Paulo, Brasil (Unifesp) Porto Alegre, Brasil (PUC-RS) Porto Alegre, Brasil Brasília, Brasil (UnB) São Paulo, Brasil (Santa Casa/SP) Marília, Brasil (Famema) São Paulo, Brasil (Unifesp) Salvador, Brasil (UFBA) São Paulo, Brasil (USP) Florianópolis, Brasil (UFSC) São Paulo, Brasil (Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia-SP) São Paulo, Brasil (PUC-SP) São Paulo, Brasil (USP) Fortaleza, Brasil (Escola de Saúde Pública/CE) Belo Horizonte, Brasil (IPSENG) Porto Alegre, Brasil (UCS) São Paulo, Brasil (USP) Milton Luiz Gorzoni São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Conselho Editorial internacional Andrea Caprara David V. Espino Ângelo Boss Jay Luxenberg Roma, Itália Baltimore, Estados Unidos Antony Bayer Cardiff, Reino Unido Bruno Vellas San Antonio, Estados Unidos Masatoshi Takeda Osaka, Japão Paulo Henrique M. Chaves San Francisco, Estados Unidos Jeanne Wei Baltimore, Estados Unidos Roberto Kaplan Buenos Aires, Argentina Little Rock, Estados Unidos Sergio Ariño Blasco Barcelona, Espanha Toulouse, França Base Editorial Rua Cap. Francisco Pedro, 1255 – Bairro Rodolfo Teófilo – 60430-370 – Fortaleza – CE e-mails: [email protected]/[email protected] Indexada no LaTindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, Espa~na y Portugal). Diretoria Nacional da SBGG Presidente Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) 1o Vice-Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 2a Vice-Presidente (Presidente do Departamento de Gerontologia) Eliane Jost Blessmann (RS) Secretária Geral Márcia Helena Pereira Morgado (RJ) Secretária Adjunto Leonor Campos Mauad (SP) Tesoureira Débora Ávila Carvalho (MG) Diretor Científico Sabri Lakhdari (DF) Diretor de Defesa Profissional Adriano da Silveira Gordilho (BA) Conselho Consultivo André Junqueira Xavier (SC) Ligia Auxiliadora Oliveira Py (RJ) Paulo Renato Canineu (SP) Membros Natos do Conselho Consultivo Adriano César Gordilho (BA) Antônio Jordão Neto (SP) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth da Costa (RS) Laura Mello Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Aulixiadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo César Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Sônia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Eliane Jost Blessmann (RS) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão Científica Sabri Lakhdari (DF) Leonor Mauad (SP) Comissão de Normas Presidente: Marianela Hekman (RS) Jussara Rauth (RS) Elisa Franco (GO) Silvia Pereira (RJ) Adriano Gordilho (BA) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Comissão de Defesa Profissional Adriano Gordilho (BA) Tássio da Silva (SP) Comissão para Assuntos Internacionais Eliane Blessmann (RS) Silvia Pereira (RJ) Marianela Hekman (RS) Comissão de Título de Geriatria Presidente: Siulmara Galera (CE) Elisa Franco (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Karlo Edson Moreira Santana (PA) Lívia Devéns (ES) Maira Tonidandel (MG) Maria do Carmo Lencastre (PE) Paulo José Villas Boas (SP) Rodolfo Pedrão (PR) Comissão de Título de Gerontologia Presidente: Marisa Accioly Domingues (SP) Adriana Keller (MG) Etiene Fittipald (PE) Maria Celi Lyrio Crispim (RJ) Marlene Teda (RS) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Ligia Py (RJ) Claudia Burlá (RJ) Dulcinea Monteiro (RJ) Johannes Doll (RS) José Francisco Oliveira (RJ) Leo Pessini (SP) Lucia Takase (SC) Margarida Santos (PE) Toshio Chiba (SP) Viviane Lemos (GO) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria – Verônica Hagemeyer (RJ) Gerontologia – Célia Pereira Caldas (RJ) Comissão de Publicações Editor-Chefe da Revista G&G: João Macedo (CE) Luiz Eugenio Garcez Leme (SP) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Maysa Seabra Cendoroglo (SP) Myrian Spínola Najas (SP) Rosangela Corrêa Dias (MG) Comissão de Informática Daniel Azevedo (RJ) Rubens de Fraga Júnior (PR) Comissão de Comunicação Salo Buksman (RJ) DIRETORIAS REGIONAIS DA SBGG BAHIA (2010/2012) Presidente: Christiane Machado 2a Vice-Presidente: Íris Soeiro Diretora Científica: Alini Ponte MATO GROSSO DO SUL (2011/2012) Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier MINAS GERAIS (2009/2011) Presidente: Claudia Pacheco C. Vieira CEARÁ (2010/2012) Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Rita de Cássia Guedes 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Diretora Científica: Ana Cristina N. B. Faria Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho PARÁ (2010/2012) Presidente: João Sérgio F. do Nascimento DISTRITO FEDERAL (2010/2012) 2o Vice-Presidente: João Sérgio S. Oliveira Presidente: Marcelo de Faveri Diretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Rodrigo Nery Macedo Cruz PARAÍBA (2010/2012) Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas ESPÍRITO SANTO (2009/2011) 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Presidente: Regina Ângela V. Mesquita Diretor Científico: João Borges Virgolino a 2 Vice-Presidente: Elaine R. da Mata Baptista Diretora Científica: Daniela Souza G. Barbieri PARANÁ (2010/2012) Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão GOIÁS (2010/2012) 2a Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. Farias Presidente: Juliana Junqueira Marques Teixeira Diretora Científica: Débora Christina de A. Lopes 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretora Científica: Isadora C. Alves Teixeira PERNAMBUCO (2010/2012) Presidente: Daniel Kitner MATO GROSSO (2010/2012) 2a Vice-Presidente: Marcia Carrera Presidente: Luis Gustavo Castro Marques Diretora Científica: Clarice Correia 2a Vice-Presidente: Leila Auxiliadora Sant’Anna Diretora Científica: Rosangela A. P. Carapeba RIO DE JANEIRO (2010/2012) Presidente: José Elias Soares Pinheiro 2a Vice-Presidente: Maria Angélica Sanches Diretor Científico: Rodrigo Bernardo Serafim RIO GRANDE DO SUL (2010/2012) Presidente: Marianela Flores de Hekman 2a Vice-Presidente: Jussara Rauth da Costa Diretor Científico: João Senger SANTA CATARINA (2010/2012) Presidente: Paulo Borges 2a Vice-Presidente: Jordelina Schier Diretora Científica: Angela Becker SÃO PAULO (2009/2011) Presidente: Omar Jaluul 2a Vice-Presidente: Claudia Marina Fló Diretor Científico: Renato Moraes Alves Fabbri Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia m e r a c i l b u p e u q r Po & geriatria gerontologia É a revista de maior circulação na área de Geriatria e Gerontologia, com distribuição para cerca de 2.000 associados da SBGG Circula nas principais bibliotecas de ciências da saúde do País Segue os padrões internacionais para indexação Caráter interdisciplinar, o que caracteriza o campo de Geriatria e Gerontologia www.sbgg.org.br editorial Envelhecimento e saúde pública O presente número de Geriatria & Gerontologia aborda, entre outros, artigos referentes a limitações físicas da população idosa e aos custos de atenção a ela. Nessa perspectiva, alguma consideração pode ser feita sobre aspectos relativos à Saúde Pública brasileira e sua relação com uma população que envelhece rapidamente. A atenção de comunidade científica, particularmente da relacionada à geriatria e à gerontologia, deve, cada vez mais, estar ligada aos conhecimentos relativos à Saúde Pública em nosso meio e não apenas aos profissionais ligados a essa área, como é o caso dos sanitaristas, demógrafos e epidemiologistas, mas, e principalmente, do profissional da prática cotidiana, do profissional de saúde ligado à atenção primária, do ligado às instituições hospitalares ou de longa permanência. Esse tipo de conhecimento, longe de se prender a um interesse específico ou peregrino, é indispensável na formação de uma visão integrada, holística como alguns gostam de considerar da realidade da comunidade idosa em nosso meio que se reflete, de alguma maneira, na atenção individual a cada idoso. O Brasil vive, atualmente, um momento peculiar. Por um lado, graças a passos dados nos últimos 20 anos, podem ser observadas melhoras em diversos marcadores de saúde da comunidade. Assim, a mortalidade infantil caiu de 48/1.000 para 17/1.000; as internações hospitalares por diabetes e acidente vascular cerebral diminuíram em 25% em cinco anos; a proporção de crianças abaixo de 5 anos com baixo peso caiu em 67%; mais de 75% das gestantes agora recebem sete ou mais consultas de pré-natal; a cobertura vacinal de tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) em crianças menores de 1 ano é superior a 95% na maioria dos municípios1 e a cobertura nacional para influenza é próxima de 80% da população. Boa parte desses resultados parece estar relacionada a políticas de descentralização e incorporação da família na comunidade de saúde, com evidente relação custo-benefício. Por outro lado, as consequências de uma política exclusivamente desenvolvimentista, iniciada nos anos 1960 com forte estímulo à redução da natalidade, mostra agora um painel de queda intensa de taxa de fecundidade, em muitos lugares abaixo da taxa de reposição, que nos fazem prever desafios comuns a todos os países que se tornaram velhos antes de se tornarem ricos, com importante enfraquecimento da estrutura familiar, dilapidada nas últimas décadas. Trata-se de um dos mais claros exemplos de involuntário tiro no pé. Esse é apenas um dos desafios que cabem a todos os cidadãos, principalmente àqueles que têm conhecimento das peculiaridades de pessoas e populações envelhecidas. O país, apesar de suas melhoras, continua pobre, exigindo recursos crescentes em áreas como o controle de doenças crônicas, prevenção de incapacidades e traumas e promoção de saúde. O apoio social e material para idosos ainda deve melhorar muito para atingir níveis desejáveis. A atenção estruturada em geriatria no Brasil, apesar de ser, talvez, a maior da América do Sul, ainda é totalmente insuficiente para a magnitude do desafio do envelhecimento no Brasil. Com um editorial número próximo dos 900 médicos geriatras (um geriatra para cada 22.000 idosos), o Brasil tem grande disparidade na distribuição dos recursos, existindo com áreas geográficas nas quais a cobertura geriátrica é praticamente inexistente. Esses desafios exigem não apenas a elaboração de políticas por alguns “iluminados” que já se demonstrou insuficiente, mas a integração de toda a comunidade de saúde, consciente da realidade epidemiológica na busca de soluções aplicáveis, simples, baratas e eficazes. Exemplo típico é do Programa de Saúde da Família, que atualmente já incorpora os cuidados com doenças crônicas, fornecendo treino e qualificação para apoiar os cuidados diferenciados de atenção primária a idosos, bem como programas de prevenção e promoção de saúde em um caminho adequado e de baixo custo. As campanhas de vacinação, principalmente para influenza, pneumonia e tétano, já são uma estratégia vencedora e de excelente relação custo-benefício, devendo ser mantidas. O fornecimento gratuito de medicamentos básicos, além de propiciar a possibilidade de tratamento efetivo de doenças crônicas ao melhorar a taxa de aderência e reduzir complicações e internações, é outro instrumento de alto impacto e de excelente relação custo-benefício. As ações visando à formação de cuidadores para idosos têm igualmente alto impacto e relação custo-benefício. Seu desenvolvimento é desejável e deveria ser ampliado com maior divulgação de material didático e elaboração de cursos em nível local, bem como por meio de benefícios fiscais e de suporte social e profissional para os cuidadores. Nessa perspectiva, fica patente que a atenção ao idoso no Brasil apresenta-se com uma grande série de desafios, entre os quais a rápida taxa de envelhecimento e de fragilização da população, da carência de meios materiais e profissionais específicos. No entanto, instrumentos sociais já existentes podem ser empregados de maneira rápida e com boa relação custo-benefício, permitindo prever uma melhor atenção à população idosa brasileira como todos desejamos. Referência 1. Ministério da Saúde, Brasil. Orientações acerca dos indicadores de monitoramento. Avaliação do pacto pela saúde, nos componentes pela vida e de gestão para o Biênio 2010-2011. 2010. Conforme portaria no 2669 gm/ms de 3 de novembro de 2009. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2669_03_11_2009.html. Acessado em: 10/08/2011. Luiz Eugenio Garcez Leme Editor Associado editorial No meio do caminho tem uma mulher: Nara Costa Rodrigues Nara Costa Rodrigues * 20/6/1926 – † 17/5/2011 Em meados da década de 1970, começa a ser revelada mais uma “questão social brasileira”: o envelhecimento populacional. O perfil de saúde desse segmento etário, podia-se dizer, estava esboçado e com possibilidades prospectivas de se consolidar, especialmente pela existência da então Sociedade Brasileira de Geriatria. Mas como compreenderíamos os aspectos sociais e culturais envolvidos nesse fenômeno? O que deveríamos fazer? Como faríamos? A partir dessas indagações, surge a perspectiva da disseminação, do compartilhamento e da multiplicação do conhecimento: Nara Costa Rodrigues. Assistente social aposentada, concluiu em 1980, aos 54 anos, sua especialização em Gerontologia Social pela Universidade René Descartes, Paris V-Sourbonne. Professora exemplar, generosa na partilha do conhecimento e sempre disposta a dar o melhor de si para seus alunos e colegas, aos poucos foi se tornando “nossa mestra, nossa guru”. Em 1985, ingressa como sócia “colaboradora” da já Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e em 1986 cria e dirige a Comissão de Gerontologia Social na SBGG-RS, iniciativa pioneira, arrojada, vanguardista, bem como era o seu perfil. O reconhecimento de sua contribuição chega rapidamente, e em 1987 recebe o título de Especialista em Gerontologia Social, por “Notório Saber, conferido pela SBGG. Sua trajetória e história profissional fundem-se e confundem-se com a própria história de luta pelos direitos sociais nos últimos 60 anos, especialmente no que diz respeito à população idosa brasileira nos últimos 35 anos, fazendo de Nara uma militante convicta, perseverante e persistente. Não satisfeita, e sempre em busca “da atualização, do aperfeiçoamento e da compreensão do processo que o outro vive e que é seu próprio experimento: a velhice”, em 1994, aos 68 anos, desafiou-se a cursar o mestrado em Gerontologia Social na Universidade de Barcelona, Espanha. editorial Foi estimuladora e facilitadora do surgimento de inúmeras iniciativas, serviços, entidades e órgãos como a Associação Nacional de Gerontologia, o Conselho Estadual do Idoso do Rio Grande do Sul, o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, Fóruns Regionais, bem como de políticas nacionais, estaduais e municipais, além de participar efetivamente para que a legislação garantidora dos direitos da pessoa idosa, como a Lei nº 8.842/94 e a Lei nº 10.741/2003, fosse sancionada e colocada em vigência. Nara era uma pessoa rara que, conosco, com todos os profissionais voltados para o estudo e a atuação no envelhecimento e com muitos idosos nos quatro cantos deste Brasil, “jogou um jogo de carinho, afeto e amizade, um jogo de liberar emoções, um jogo para mostrar o quanto aprendemos com ela”. Nos muitos achados de Nara, encontrei este texto de Ferreira Gullar, de 1971, intitulado “Cantiga para não Morrer”: Quando você for embora, Moça branca como a neve, Me leve. Se acaso você não possa Me carregar pela mão, Menina branca de neve, Me leve no coração. Se no coração não possa Por acaso me levar, Moça de sonho e de neve, Me leve no seu lembrar. E se aí também não possa Por tanta coisa que leve Já viva em seu pensamento, Menina branca de neve, Me leve no esquecimento. No dia 17 de maio de 2011, somente a presença materializada de Nara nos deixou. Não perdemos. Ganhamos com seu ensinamento profissional, de amizade, ética, retidão, justiça, esperança e, especialmente, certeza de que a partir do meio do caminho tem uma mulher chamada Nara Costa Rodrigues. Jussara Rauth Presidente do Departamento de Gerontologia da SBGG-RS ARTIGO ORIGINAL Tradução e adaptação transcultural do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire em idosos Translation and cultural adaptation of the Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire in community-dwelling older people Lygia Paccini Lustosa1, Daniele Sirineu Pereira2, Rosângela Correa Dias2, Raquel Rodrigues Britto2, Adriana Netto Parentoni3, Leani Souza Máximo Pereira2 Recebido em 14/5/11 Aceito em 17/6/11 RESUMO Objetivo: Realizar o processo de tradução e adaptação transcultural do Minnesota Leisure Time Activities Question­naire para o português-Brasil e verificar sua confiabilidade inter e intraexaminadores, em idosos da comunidade. Métodos: Foram avaliados 39 idosos (71,2 ± 6,8 anos), sem distinção de gênero, raça e/ou classe social, sendo excluídos os que apresentavam alterações cognitivas (Miniexame do Estado Mental, versão brasileira). O processo de tradução seguiu os critérios propostos por Beaton et al. (2000). A análise dos dados das médias de consumo calórico foi feita por meio do coeficiente de correlação intraclasse (CCI), considerando-se o relato anual e nas últimas duas semanas de atividade física, e foi realizada a análise visual da média das diferenças nos gráficos de Bland e Altman (1986). Resultados: Encontrou-se forte concordância significativa inter e intraexaminadores para a aplicação referente às duas últimas semanas (CCI = 0,911, p = 0,000; CCI = 0,777, p = 0,000), quanto para as informações referentes às atividades anuais (CCI = 0,969, p = 0,000; CCI = 0,791, p = 0,000) realizadas pelos idosos. As análises visuais gráficas foram satisfatórias, apresentando pouca variabilidade entre as medidas. Conclusão: Os resultados encontrados demonstraram que a versão do português-Brasil do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire pode ser usada como um instrumento para verificar o consumo calórico semanal e/ou anual em idosos da comunidade. Palavras-chave: Atividade física, confiabilidade, questionário. ABSTRACT Centro Universitário de Belo Horizonte e Centro Universitário Newton Paiva, Belo Horizonte, MG, Brasil. 2 Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil. 3 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG, Brasil. 1 Objective: To execute the process of translation and cultural adaptation of the Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire for the Portuguese-Brazil and to verify its intra and inter-rater reliability in community-dwelling elderly. Methods: Thirty-nine elderly were evaluated (71.2 ± 6.8 y.), irrespective of gender, race and/or social class, being excluded those who had cognitive impairment (Mini-Mental State Exam, the Brazilian version). The process of translation and cultural adaptation followed the criteria proposed by Beaton et al. (2000). The data analysis was done to the intra-class coefficient correlation in the annual and the last two weeks activities. The visual analysis was done for the Bland and Altman graphics’. Results: There was a strong significant intra and inter-rater concordance for the application concerning the last two weeks (ICC = 0.911, p = 0.000, ICC = 0.777, p = 0.000), and for the information concerning the annual activities (ICC = 0.969, p = 0.000, ICC = 0.791, p = 0.000) performed by the elderly. The validity analyses had a satisfactory result considering the average of differences seen through Bland-Altman graphics, with a little variability between measures. Conclusion: The results found allow to state that the Portuguese-Brazil version of the Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire can be used as a tool to verify the weekly and/or annual calorie consumption in community-dwelling elders. Keywords: Physical activity, reliability, questionnaire. Endereço para correspondência: Lygia Paccini Lustosa • Departamento de Fisioterapia do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH) • Av. Mário Werneck, 1685, Buritis – 30455-610 – Belo Horizonte, MG, Brasil • E-mail: [email protected] 58 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):57-65 INTRODUÇÃO Duas importantes transições, com grande impacto na área da saúde, estão ocorrendo no Brasil: a demográfica e a epidemiológica1. Dessa forma, com o aumento do número de idosos, a prevalência e a incidência de doenças crônico-degenerativas crescem significantemente e suas complicações tornam-se mais frequentes, aumentando também a proporção de idosos mais vulneráveis e frágeis2,3. Dentre os diversos fatores que influenciam o processo de envelhecimento, a atividade física regular é um dos mais importantes e de maior impacto sobre o organismo, sendo fundamental para a manutenção da saúde, do bem-estar e da funcionalidade em indivíduos idosos4. Embora o envelhecimento seja inexorável e nenhum tipo de atividade física possa parar esse processo biológico, há evidências científicas que mostram que a atividade física realizada de maneira regular pode minimizar os seus efeitos e as incapacidades ocasionadas pelas doen­ças crônicas5. Frequentemente, os termos atividade física e exercícios físicos são usados como sinônimos. Mesmo apresentando alguns elementos em comum, a expressão exercício físico não deve ser utilizada com conotação idêntica à atividade física6. A atividade física pode ser definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos, que resulta em um gasto energético maior do que os níveis de repouso. Por outro lado, o exercício físico é toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a melhoria e a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física6. Algumas ocupações profissionais, tarefas domésticas específicas e outras atividades diárias devem também ser consideradas, uma vez que a demanda energética envolvida pode repercutir favoravelmente na aptidão física. Contudo, por não envolverem planejamento, estruturação e repetição, tais atividades não podem ser consideradas como exercício físico. Por outro lado, o esporte é uma atividade ainda mais complexa, pois envolve treinamento sistematizado e o organismo é exposto a altíssimas cargas, diretamente relacionadas com o estresse físico e mental6. Kligman apontou que 60% a 70% dos idosos são sedentários e que menos de 20% realizam atividades físicas suficientes para levar ao condicionamento físico cardiorrespiratório e aos benefícios para a saúde7. Esse declínio na atividade física, observado com o avanço da idade, vem sendo relacionado às alterações deletérias na composição corporal, distúrbios da marcha e da mobilidade e ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares4,8. Dessa forma, a identificação e a categorização do nível de atividade física e o gasto energético da pessoa idosa podem facilitar a compreensão dos desfechos funcionais observados no envelhecimento. Entretanto, existe ainda uma carência de instrumentos para avaliação do nível de atividade física em países de língua não inglesa, como o Brasil, especialmente àqueles específicos para a crescente população idosa. A literatura sugere que é preferível usar um instrumento desenvolvido em outro idioma, com sua confiabilidade já testada, a criar um novo instrumento, uma vez que o processo de adaptação transcultural tem a possibilidade de ser executado de maneira mais rápida e econômica e ainda possibilitar a comparação de populações de países e/ou culturas diferentes9-11. O Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire é um instrumento que foi criado com o objetivo de avaliar o nível de atividade física, esportes e lazer de acordo com o gasto energético12 e tem sido usado em pesquisas sobre atividade física13-15. É um instrumento de fácil administração, de baixo custo16 e seu coeficiente de correlação teste-reteste já foi verificado em amostras de homens e mulheres, com faixa etária entre 25 e 74 anos (r = 0,79-0,88; p < 0,001), participantes de um estudo de base populacional17. Apesar de não ser adaptado para indivíduos idosos, esse instrumento foi utilizado nessa população14,15,18, sendo inclusive usado o gasto energético mensurado pelo questionário como um dos critérios para identificar idosos frágeis, segundo o fenótipo preconizado por Fried et al.3. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi realizar o processo de tradução e adaptação cultural do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire para o português-Brasil e verificar suas propriedades psicométricas, em particular a confiabilidade inter e intraexaminadores, em uma população de indivíduos idosos da comunidade. MÉTODOS Trata-se de um estudo do tipo metodológico e observacional, transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), com o parecer de número 080/2007, que utilizou uma amostra de conveniência de idosos da comunidade. MINNESOTA LEISURE TIME ACTIVITIES QUESTIONNAIRE A versão original do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire é constituída por 63 itens. As atividades Tradução do Minnesota Questionnaire são agrupadas em nove categorias: caminhada, exercícios de condicionamento, atividades aquáticas, atividades de inverno, esportes, golfe, atividades de horta e jardim, atividades de reparos domésticos, caça, pesca e outras atividades. Para cada atividade, os sujeitos devem identificar se ela foi realizada e, em caso afirmativo, informar o número médio de vezes por mês, considerando o último ano e o tempo médio, em minutos, gasto em cada ocasião12. O tempo médio para a aplicação do questionário é estimado em cerca de 20 minutos para avaliadores treinados. Para a redução dos dados e interpretação do gasto energético do indivíduo avaliado, é utilizada a equação12: IAM = ∑ (I x M x F x T), em que IAM = gasto energético anual; I = intensidade de cada atividade em METS; M = número de meses/ano em que a atividade foi realizada; F = número médio de vezes em que foi realizada no mês; T = duração média da atividade em cada ocasião. Para obter o valor em quilocalorias, utiliza-se a multiplicação do I pela constante 0,0175 e o peso do indivíduo em quilogramas19. Fried et al. utilizaram o gasto energético mensurado pelo questionário como um dos critérios para caracterizar a síndrome de fragilidade, estabelecendo como informação as atividades realizadas nas duas últimas semanas, e não a informação anual3. PROCESSO DE TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO CULTURAL DO INSTRUMENTO A tradução e a adaptação cultural do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire foram realizadas segundo os critérios propostos por Beaton et al.10, que preconizaram a tradução e a retrotradução por tradutores bilíngues independentes e a análise do resultado por um painel de especialistas, constituído por profissionais da área, com domínio do tema e fluentes nos dois idiomas10. Os autores do instrumento original forneceram consentimento por escrito para a realização deste estudo. Sendo assim, dois tradutores realizaram a tradução de forma independente do questionário. Na sequência, um comitê de especialistas se reuniu para confrontar as duas versões, produzindo uma única versão, que foi traduzida novamente para o inglês por outro tradutor bilíngue. Esse processo também foi acompanhado pelo comitê de especialistas. O comitê de especialistas foi formado por um grupo de profissionais com larga experiência clínica e com pesquisas na área, composto por quatro fisioterapeutas, doutores na área de Saúde e Reabilitação do Idoso, e duas fisioterapeutas, mestres na área de Ciências da Reabilitação, todos eles docentes de universi- 59 dades e com amplo conhecimento da língua inglesa, e por um tradutor bilíngue, de nacionalidade americana, mas residente no Brasil há mais de 15 anos. Esses profissionais observaram a adequação semântica (equivalência gramatical e de vocabulário), a equivalência idiomática, a equivalência cultural (coerência entre os termos utilizados e os hábitos da população do país) e a equivalência conceitual. Dessa forma, o comitê sugeriu modificações para o último item da seção F referente às “Atividades no jardim e na horta”. Esse item do questionário original foi traduzido como “Remoção de neve com a pá”, e o comitê de especialistas sugeriu a inclusão da palavra “terra”. Dessa forma, a redação final permaneceu “Remoção de neve/terra com a pá”. Optou-se pela permanência da palavra “neve” tendo em vista as características geográficas e climáticas do Brasil, com referência ao extremo sul do país. Alguns itens específicos como “seção D: Atividades de inverno”, “seção E: Esportes” e “seção H: Caça e pesca” foram discutidos, e o comitê de especialistas, em decisão unânime, optou por manter as “Atividades de inverno” como no instrumento original, por causa da grande diversidade geográfica, climática, social e cultural brasileira. O mesmo raciocínio foi utilizado para o item “Esporte”. Como o questionário é um instrumento que pode ser utilizado em indivíduos adultos e idosos, os especialistas optaram por manter na versão do instrumento português-Brasil as atividades tais como alpinismo, ciclismo, hipismo, golfe. Essa justificativa foi pautada na seguinte justificativa: dependendo da condição econômica da população estudada, essas atividades poderiam ser realizadas esporadicamente como em férias ou outras ocasiões. Entretanto, foi consenso a retirada das práticas esportivas “softball”, “badminton”, “paddleball”, “racquetball” e “futebol americano”, por serem consideradas atividades culturalmente não praticadas pela população brasileira. A decisão do comitê de especialistas considerou a possibilidade de esse questionário ser aplicado em uma população com hábitos esportivos diferentes, mas isso, mesmo com a retirada dos itens mencionados, não comprometeria o escore final e a sua validade, visto que o cálculo do gasto energético é feito baseado somente nas atividades realizadas. Em relação à seção “Caça e pesca”, o comitê foi unânime em retirar os itens relativos à caça, visto que esta é proibida em nosso país e não é realizada como atividade esportiva ou de lazer. Concluída a etapa de tradução, retrotradução e adequação cultural, o instrumento (Anexo 1) foi aplicado como um pré-teste, em uma amostra de 30 idosos, para verificar a compreensão dos itens do 60 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):57-65 questionário. Após essa etapa, a confiabilidade intra e interexaminadores foi testada. Dois entrevistadores realizaram um treinamento prévio. AMOSTRA Para a realização deste estudo, foram recrutados, por busca ativa, indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes da comunidade, sem distinção de gênero, raça e/ou classe social, frequentadores de grupos de atividades e projetos de extensão de duas escolas de ensino superior. O cálculo amostral determinou a necessidade de 35 indivíduos, considerando-se dois avaliadores, um nível de significância de 5% e um poder estatístico mínimo de 80%. O critério de exclusão adotado foi apresentar alterações cognitivas detectáveis pelo Miniexame do Estado Mental, adotando o ponto de corte definido por Bertolucci et al., versão brasileira, conforme a escolaridade19. Dessa forma, participaram deste estudo 39 idosos funcionalmente independentes, que, inicialmente, responderam a um questionário para caracterização da amostra. Esse questionário foi padronizado e construído especificamente para este estudo e constava de perguntas sobre os dados sociodemográficos e informações relativas às condições clínicas dos sujeitos como hábitos de saúde, medicações utilizadas, presença de comorbidades, ocorrência de quedas, déficits visuais e auditivos e autopercepção da saúde. Após esse procedimento, a versão final traduzida e adaptada para a população brasileira do instrumento Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire foi aplicada. AVALIAÇÃO DA CONFIABILIDADE INTRA E INTEREXAMINADORES DO INSTRUMENTO O Questionário Minnesota de Atividades Físicas, Esportes e Lazer foi aplicado, sob a forma de entrevista, por dois examinadores previamente treinados, que seguiram as instruções padronizadas propostas12,20. A confiabilidade foi avaliada por sua aplicação em duas condições: inter e intraexaminadores. No primeiro momento, o indivíduo foi avaliado pelo examinador A, que repetiu a aplicação do questionário em um segundo momento, dentro de um intervalo de sete a dez dias. E por último, após o mesmo intervalo de tempo, a avaliação foi repetida pelo examinador B, caracterizando o terceiro momento da aplicação. REDUÇÃO DOS DADOS Utilizou-se a equação sugerida pelos autores, relatada aqui neste estudo junto com a apresentação do instrumento, considerando o intervalo do último ano, segundo a versão original. No entanto, pelo interesse em utilizar o gasto energético mensurado por esse instrumento como um dos critérios para identificar a síndrome da fragilidade em idosos brasileiros, de acordo com o fenótipo proposto por Fried et al., utilizou-se, ainda, o mesmo procedimento sugerido por esses autores, ou seja, além de investigar as atividades realizadas no último ano, o questionário também foi aplicado considerando as atividades realizadas nas duas últimas semanas3. Dessa forma, foi possível observar a utilização desse instrumento para a caracterização do item “gasto energético”, exatamente como proposto por Fried et al.3. ANÁLISE ESTATÍSTICA As análises estatísticas foram realizadas no software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 13.0, 2004, em ambiente Windows, utilizando o coeficiente de correlação intraclasse (CCI) e, ainda, a análise do diagrama de dispersão de Bland e Altman21, que permitiu visualizar as diferenças médias e os limites extremos de concordância de dois desvios-padrão da diferença das medidas. O nível de significância foi considerado igual ou menor a 5%. RESULTADOS Foram avaliados 39 idosos – 37 completaram a avaliação intraexaminador e 36 completaram a avaliação inter e intraexaminadores. A média de idade foi de 71,2 ± 6,8 anos. Trinta e dois (82,1%) voluntários eram do sexo feminino e sete (17,9%), do masculino. Em relação ao estado civil: 46,2% relataram ser casados, 28,2%, viúvos, 15,4%, separados ou divorciados e 10,2%, solteiros. Todos os entrevistados relataram ter pelo menos quatro anos de escolaridade e eram habitantes da mesma cidade. A média de tempo gasto para aplicação do questionário foi de 20 minutos. Os resultados da aplicação do questionário, por ambos os avaliadores, encontram-se na tabela 1, considerando-se as atividades realizadas no último ano e nas duas últimas semanas. Após o cálculo do CCI, encontrou-se forte concordância inter e intraobservadores, significativa, tanto para a aplicação relativa às duas últimas semanas quanto para a aplicação com 61 Tradução do Minnesota Questionnaire relação ao último ano de atividade. Esses dados encontram-se na tabela 2. Na análise gráfica de dispersão das diferenças das medidas, observou-se, tanto na condição inter quanto intraexaminadores, pouca variação entre a diferença das médias de aplicação do questionário e a média das medidas, dentro do intervalo de concordância, sugerindo uma concordância moderada (Gráficos 1 e 2). No entanto, a observação dos limites amplos de concordância com maiores desvios-padrão sugere menor precisão para valores mais elevados, ou seja, uma variabilidade com menor reprodutibilidade do instrumento. Verificou-se, ainda, que a maioria dos idosos da amostra estudada relatou não realizar atividades como: “alpinismo”, “ciclismo”, “hipismo”, “atividades aquáticas”, exceto a hidroginástica, “esportes”, “atividades de inverno”, “golfe”, “atividades de reparo doméstico” e “pesca”, demonstrando um efeito chão desses itens nessa população. Tabela 1. Média, desvio-padrão e mediana da aplicação do questionário pelo examinador A e B, referente às duas últimas semanas e anual das atividades físicas relatadas pelos idosos Avaliador A 1ª aplicação Avaliador A 2ª aplicação Avaliador B n válido 39 37 36 Duas últimas semanas Média (SD) 1.579,00 (± 1.620,32) 1.842,03 (± 1.729,59) 1.900,07 (± 2.089,82) Mediana 1.292,76 1.655,01 1.382,69 Aplicação anual Média (SD) 1.567,48 (± 1.580,97) 1.728,34 (± 1.661,19) 1.733,46 (± 2.065,54) Mediana 990,33 1.196,18 1.166,41 Tabela 2. Valor do CCI, do intervalo de confiança e da significância do teste, considerando a análise das duas últimas semanas e anual de atividade, inter e intraobservador IC 95% CCI LI LS Valor p Intraobservador, duas últimas semanas 0,911 0,830 0,954 0,0001 Interobservador, duas últimas semanas 0,777 0,605 0,880 0,0001 Intraobservador, anual 0,969 0,940 0,984 0,0001 Interobservador, anual 0,791 0,629 0,888 0,0001 CCI: coeficiente de correlação intraclasse; IC: intervalo de confiança; LI: limite inferior; LS: limite superior. Análise gráfica da concordância das medidas do examinador A (anual), segundo procedimento de Bland-Altman Análise gráfica da concordância das medidas do examinador A (em duas semanas), segundo procedimento de Bland-Altman 2000,00 Diferença das médias (Duas semanas) Diferença das médias 1000,00 500,00 0,00 -500,00 1000,00 0,00 -1000,00 -2000,00 -1000,00 -3000,00 -1500,00 -4000,00 0,00 2000,00 4000,00 6000,00 8000,00 Média das medidas 10000,00 0,00 2000,00 4000,00 6000,00 8000,00 10000,00 Média das medidas em duas semanas Gráfico 1. Análise da concordância das medidas do examinador A, anual e das duas últimas semanas, segundo procedimento de Bland e Altman. Média anual = -110,66; intervalo de confiança = 669,69 ─┤-891,01. Média nas duas últimas semanas = -222,07; intervalo de confiança = 1.128,08 ─┤-1.572,22. 62 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):57-65 Análise gráfica da concordância das medidas interexaminadores (em duas semanas), de acordo com Bland-Altman Análise gráfica da concordância das medidas interexaminadores (anual), de acordo com Bland-Altman 6000,00 Diferença das médias interexaminadores Diferença das médias interexaminadores 4000,00 2000,00 0,00 -2000,00 4000,00 2000,00 0,00 -2000,00 -4000,00 -4000,00 0,00 2000,00 4000,00 6000,00 8000,00 10000,00 12000,00 Média das medidas interexaminadores 0,00 2000,00 4000,00 6000,00 8000,00 10000,00 12000,00 Média das medidas interexaminadores Gráfico 2. Análise da concordância das medidas interexaminadores, nas duas últimas semanas e anual, segundo procedimento de Bland e Altman. Média nas duas últimas semanas = -362,57; intervalo de confiança = 2.044,76 ─┤-2.769,90. Média anual = -168,90; intervalo de confiança = 2.198,27 ─┤ -2.536,07. DISCUSSÃO Esse estudo teve como objetivo realizar o processo de tradução e adaptação cultural do Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire para o português-Brasil e verificar a confiabilidade da aplicação inter e intraexaminador, considerando as situações de um ano e as últimas duas semanas de atividade realizadas por idosos da comunidade. Os resultados demonstraram uma forte concordância inter e intraexaminadores, nas duas situações, com pouca variação entre a diferença das médias de aplicação do questionário e a média das medidas, dentro do intervalo de concordância. Diversos estudos demonstraram os benefícios e a importância da realização de atividade e exercícios físicos no processo de envelhecimento, sendo essa prática um hábito benéfico que pode modificar o risco e as disfunções resultantes de doenças crônico-degenerativas16,22-24. Sendo assim, a utilização de instrumentos que informem a quantidade do gasto energético despendido na realização de atividades físicas, exercícios, lazer e esportes, em uma semana ou ano, parece ser mais adequada para caracterizar e estimar o nível de atividade realizada pelos idosos, bem como a comparação entre os estudos16,22-24. Visser et al. discutiram que, além da atividade física habitual, atividades consideradas de lazer, como jardinagem, pesca, esporte com os amigos e atividades sociais, também poderiam interferir no processo de envelhecimento proporcionando melhores condições de saúde física, funcional, cardiovascular e cognitiva e sugeriram o gasto energético como forma de mensurar essas atividades24. Em consonância, vários outros autores reforçaram essa afirmativa acrescentando que a análise do gasto energético pode fornecer pontos de corte específicos para predizer riscos de adoecimento, levando-se em consideração os extremos: sedentarismo e atividade física realizada16,22-24. Como não existem na literatura nacional, até o momento, questionários que possam informar sobre o gasto energético semanal, a forte confiabilidade da versão português-Brasil desse questionário parece preencher essa lacuna. Neste contexto, esse resultado sugere que o Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire pode ser usado na prática clínica para obter informação da quantidade de quilocalorias consumidas, na semana ou anualmente, considerando a frequência e a duração das atividades pesquisadas. A presença de várias opções de atividades no instrumento, tais como exercícios, atividades aquáticas, esportes, jardinagem e reparo doméstico, possibilitou a aproximação de alguns hábitos domésticos e do cotidiano realizados pelos idosos, e não somente exercícios físicos e esportes. Como exemplo a maioria relatou rea­lizar algum tipo de atividade de “jardinagem”. Por outro lado, observou-se que algumas atividades que constam no questionário não foram realizadas pela população estudada. No entanto, acredita-se que a não realização dessas atividades não interferiu no resultado, pois o gasto energético final foi calculado somente em relação à frequência daquelas atividades realizadas pelos participantes. Sendo assim, atividades que não foram realizadas não foram pontuadas nem agregadas aos resultados finais, confirmando a alta confiabilidade interexaminadores. Da mesma forma que na análise gráfica, o agrupamento entre os pon- Tradução do Minnesota Questionnaire 63 tos demonstrou baixa variabilidade tanto na aplicação considerando o recordatório de um ano quanto nas duas últimas semanas. No entanto, os resultados sugerem que estudos futuros devem ser realizados para verificar o comportamento desses itens em uma população mais jovem. E, ainda, uma análise em relação à validade de critério para a versão português-Brasil também pode ser sugerida como estudos futuros. Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire para o português-Brasil. Esses resultados permitem afirmar que o questionário pode ser utilizado como um instrumento para verificar o gasto energético semanal e/ ou anual na amostra pesquisada. No entanto, sugere-se o desenvolvimento de uma versão abreviada do instrumento, específica para a população idosa. Alguns autores discutiram que o Minnesota Leisure Time Activities Questionnaire subestima o gasto energético e as atividades físicas realizadas pelos idosos em cerca de 60% a 62%25-27, pelo fato de o instrumento apresentar itens de esportes coletivos e atividades de alta intensidade, que geralmente não são realizadas pelos idosos. Dessa forma, uma opção seria a elaboração, em estudos futuros, de uma forma abreviada do questionário, específica para idosos. Essa possibilidade foi mencionada por Fried et al., que demonstraram 18 atividades do questionário como as mais frequentes3. De acordo com esses autores, as atividades mais frequentes relatadas pelos participantes desta pesquisa foram aquelas relacionadas com jardinagem, caminhada, hidroginástica e tarefas domésticas. REFERÊNCIAS Outro fator a ser discutido, que pode ser uma limitação do estudo, é a forma de aplicação do questionário pelo autorrelato. Sabe-se que, em relação aos idosos, seria mais adequada a observação direta na realização das tarefas e atividades físicas questionadas28,29. Essa operacionalização evitaria o viés da memória ou a super ou subestimação quanto à intensidade e à frequência das atividades, permitindo melhor reprodutibilidade e sensibilidade às mudanças e, podendo, ainda, ser utilizada para avaliar pacientes com alterações cognitivas, visuais e/ou analfabetos28,29. No entanto, a participação neste estudo de idosos da comunidade, sem alterações cognitivas, pode ter minimizado esse efeito sobre os resultados. Esse pressuposto pode ser confirmado pela observação gráfica das diferenças das médias das medidas, que, apesar de apresentarem um amplo intervalo de confiança, na maioria, encontraram-se agrupadas, próximas à média das medidas. CONCLUSÃO Os resultados demonstraram forte concordância inter e intraexaminadores, nas situações de aplicação anual e nas duas últimas semanas, com forte correlação, significativa e boa reprodutibilidade quando avaliados por meio da técnica de Bland e Altman, entre as aplicações da tradução e adaptação cultural do 1. Chaimowicz F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século XXI: problemas, projeções e alternativas. Rev Saude Publica. 1997;31(2):184-200. 2. Borst SE. Interventions for sarcopenia and muscle weakness in older people. Age Ageing. 2004;33:548-55. 3. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. 4. King AC. Interventions to promote physical activity by older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(Special Issue II):36-46. 5. Salem GJ, Skinner JS, Chodzko-Zajko WJ, David N, Fiatarone-Singh MA, Minson CT, et al. 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Souza AC, Magalhães LC, Teixeira-Salmela LF. Cross-cultural adaptation and analysis of the psychometric properties in the Brazilian version of the Human Activity Profile. Cad Saude Publica. 2006;22(12):2623-36. ANEXO 1 Questionário Minnesota de Atividades Físicas, Esporte e Lazer Uma série de atividades está listada abaixo. Atividades relacionadas estão agrupadas sob títulos gerais. Favor ler a lista e marcar “Sim” na coluna 4 para as atividades que você praticou nos últimos 12 meses e “Não” na coluna 3 para aquelas que você não praticou. Não preencha as outras colunas 010 020 030 040 050 060 115 125 Caminhada recreativa Caminhada para o trabalho Uso de escadas quando o elevador está disponível Caminhada ecológica Caminhada com mochila Alpinismo/escalando montanhas Ciclismo recreativo/por prazer Dança – salão, quadrilha e/ou discoteca, danças regionais 135 Dança/ginástica – aeróbia, balé 140 Hipismo/andando a cavalo Seção B: Exercício de condicionamento 150 Exercícios domiciliares 160 Exercício em clube/em academia 180 Combinação de caminhada/corrida leve 200 Corrida 210 Musculação Seção C: Atividades aquáticas 220 Esqui aquático 235 Velejando em competição 250 Canoagem ou remo recreativo 260 Canoagem ou remo em competição 270 Canoagem em viagem de acampamento 280 Natação em piscina (pelo menos 15 metros) 295 Natação na praia 310 Mergulho autônomo 320 Mergulho livre – snorkel Dez Nov Out Set Ago Jul Jun Maio Abr Não Sim Mar Seção A: Caminhada Média vezes/ mês Mês da Atividade Fev Atividade Você realizou esta atividade? Jan A ser completado pelo participante Tempo por ocasião H Min Tradução do Minnesota Questionnaire Seção D: Atividades de inverno 340 Esquiar na montanha 350 Esquiar no plano 360 Patinação no gelo ou sobre rodas 370 Trenó ou tobogã Seção E: Esportes 390 Boliche 400 Voleibol 410 Tênis de mesa 420 Tênis individual 430 Tênis de duplas 480 Basquete sem jogo (bola ao cesto) 490 Jogo de basquete 500 Basquete como juiz 520 Handebol 530 Squash 540 Futebol Golf 070 Dirigir carro de golfe 080 Caminhada, tirando os tacos do carro 090 Caminhada carregando os tacos Seção F: Atividades no jardim e na horta 550 Cortar a grama dirigindo um carro de cortar grama 560 Cortar a grama andando atrás do cortador de grama motorizado 570 Cortar a grama empurrando o cortador de grama manual 580 Tirando o mato e cultivando o jardim/horta 590 Afofar, cavando e cultivando a terra no jardim e na horta 600 Trabalho com ancinho na grama 610 Remoção de neve/terra com pá Seção G: Atividades de reparos domésticos 620 Carpintaria em oficina 630 Pintura interna de casa ou colocação de papel de parede 640 Carpintaria do lado de fora da casa 650 Pintura exterior de casa Seção H: Pesca 660 Pesca na margem do rio 670 Pesca em correnteza com botas Seção I: Outras atividades 65 ARTIGO ORIGINAL Indicadores de saúde associados à incapacidade funcional em idosos de baixa renda Health indicators associated with functional disability in low-income elderly Gustavo Nunes Pereira1, Giovâni Firpo Del Duca2, Gisele Alsina Nader Bastos3 RESUMO Objetivo: Investigar a associação entre incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais da vida diária e aspectos comportamentais e de saúde em idosos moradores dos distritos sanitários Restinga e Extremo-Sul da cidade de Porto Alegre/RS. Métodos: Estudo com delineamento transversal incluindo 638 indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos. Para a avaliação das atividades básicas e instrumentais da vida diária, foram empregados o índice de Katz e a escala de Lawton, respectivamente. Definiu-se como incapacidade funcional para cada domínio a necessidade de ajuda em, no mínimo, uma atividade investigada. As variáveis independentes foram: tabagismo, nível de atividade física, consumo excessivo de álcool, hipertensão arterial, depressão, diabetes, hipercolesterolemia, osteoporose, internação hospitalar no último ano, número de consultas médicas nos últimos três meses e autopercepção de saúde. Empregou-se teste de Wald para tendência e heterogeneidade na análise bruta e Regressão de Poisson com variância robusta na análise ajustada. Resultados: A prevalência de incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais foi de 15,8% (IC 95%: 12,9-18,6) e 25,9% (IC 95%: 22,5-29,3), respectivamente. Observou-se que idosos com osteoporose (RP = 1,64) e maior número de consultas médicas nos últimos três meses apresentaram maiores ocorrências de incapacidade para atividades básicas. Já para as atividades instrumentais, idosos com diagnóstico de depressão apresentaram maior incapacidade funcional (RP = 1,39). A incapacidade funcional tanto para as atividades básicas quanto para atividades instrumentais associaram-se com inatividade física e pior autopercepção de saúde. Conclusão: A incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais apresentaram associação com diversos fatores comportamentais e de saúde. A inatividade física e piores percepções de saúde foram os fatores mais fortemente associados à incapacidade em ambos os domínios investigados. Palavras-chave: Idoso, saúde do portador de deficiência, atividades cotidianas, estudos transversais, atividade motora. ABSTRACT Objective: To investigate the association between functional disability for basic and instrumental activities of daily living and behavioral aspects of health in the elderly and residents of neighborhoods Restinga and Far southern city of Porto Alegre. Methods: A cross-sectional study, including 638 individuals aged greater than or equal to 60 years. For the evaluation of basic and instrumental activities of daily living, Katz’s Index and Lawton Scale, were used respectively. Defined as functional disability for each area needing help in at least one activity investigated. The independent variables were: smoking, physical activity, excessive alcohol consumption, hypertension, depression, diabetes, hypercholesterolemia, osteoporosis, hospitalizations in the previous year, number of physician visits in the last three months and self-rated health. We used the Wald test for heterogeneity and trend in the crude analysis and Poisson regression with robust variance in the adjusted analysis. Results: The prevalence of disability for basic and instrumental activities was 15.8% (95% CI: 12.9-18.6) and 25.9% (95% CI: 22.5-29.3), respectively. Endereço para correspondência: Gustavo Nunes Pereira • Hospital Moinhos de Vento – Instituto de Educação e Pesquisa • Rua Ramiro Barcelos, 910, Independência – 90035-005 – Porto Alegre, RS • Telefone: (51) 8120-6622 • E-mail: [email protected] Recebido em 13/3/11 Aceito em 30/7/11 1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), Hospital Moinhos de Vento – Instituto de Educação em Pesquisa (HMV-IEP), Porto Alegre/RS. 2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 3 Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre/ RS, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), UFRGS. Incapacidade funcional em idosos de baixa renda 67 It was observed that elderly patients with osteoporosis (PR = 1.64) and greater number of physician visits in the last three months had higher occurrences of failure to basic activities. As for instrumental activities, the elderly diagnosed with depression had greater functional disability (PR = 1.39). Both the functional and basic activities for instrumental activities were associated with physical inactivity and poor self-rated health. Conclusion: Functional disability for basic and instrumental activities were associated with several behavioral and health. Physical inactivity and poorer perceptions of health were the factors most strongly associated with disability in both areas investigated. Keywords: Elderly, disabled health, daily activities, cross-sectional studies, motor activity. INTRODUÇÃO A transição demográfica, caracterizada pelo aumento relativo da população idosa em termos globais, tem recebido maior destaque das políticas públicas1, especialmente no caso de países em desenvolvimento, onde tal processo vem ocorrendo em velocidade mais acelerada. Projeções realizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS)2,3 estimam que a população de idosos aumentará de sete a oito vezes em nações em desenvolvimento até o ano de 2025 e, nesse panorama, o Brasil passará a ocupar a quinta colocação entre as nações com maior número absoluto de indivíduos com idade ≥ 60 anos. O aumento da expectativa de vida certamente é um grande feito para a humanidade e, mesmo não acontecendo de forma igualitária em todos os contextos socioeconômicos, gera um grande desafio para a saúde pública: o aumento da prevalência e da incidência da incapacidade funcional4. Verbrugge e Jette5 definem a incapacidade funcional como a dificuldade experimentada em realizar atividades em qualquer domínio da vida, devido a um problema físico ou de saúde, com impactos sobre a habilidade de a pessoa exercer papéis e atividades na sociedade. Essas ações cotidianas podem ser agrupadas em atividades básicas, representadas por tarefas relacionadas ao autocuidado, como tomar banho e vestir-se, por exemplo, e atividades instrumentais, que incluem ações voltadas para uma vida independente na comunidade, compreendendo a realização de compras, o uso do telefone, a administração de finanças, entre outras4. A obra Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde6, publicada em 2003, objetiva prover uma padronizada e unificada linguagem para descrição conceitual do estado de saúde, considerando as atividades que um indivíduo que apresenta alterações de função e/ou da estrutura do corpo pode desempenhar, assim como sua participação social6. Segundo esse conceito, o bem-estar do idoso seria um equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional, incluindo saúde física e mental, independência para a realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. No Brasil, algumas dessas condições estão longe de ocorrer para a maioria da população, e o desenvolvimento da funcionalidade entre os idosos se dá em um contexto de pobreza e desigualdade social7. Segundo resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2003, percebe-se que, entre os idosos, 22,7% referem ter alguma dificuldade para caminhar cerca de 100 metros8. Os maiores níveis de incapacidade funcional são encontrados em idosos com renda per capita de até um salário-mínimo9. Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo estimar a prevalência de incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais da vida diária, assim como investigar aspectos comportamentais e de saúde associados em idosos residentes em comunidade de baixa renda em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. MÉTODOS O presente estudo faz parte de amplo inquérito epidemiológico realizado nos Distritos Sanitários da Restinga e do Extremo-Sul, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O estudo foi desenvolvido pelo Hospital Moinhos de Vento, em convênio com o Ministério da Saúde, visando à construção de um distrito de saúde nas referidas comunidades. Em termos históricos, os referidos bairros foram criados a partir de um grande projeto habitacional, que transferiu a população economicamente desfavorecida de áreas em desenvolvimento urbano em Porto Alegre para cerca de 22 quilômetros de distância do centro da cidade. A pesquisa teve delineamento transversal de base populacional. No processo amostral por conglomerados, foram definidos dois estágios: os setores censitários, definidos como unidades amostrais primárias, e os domicílios, constituindo as unidades amostrais secundárias. Foi realizado mapeamento prévio dos 121 setores censitários existentes, constatando-se que, desses, 68 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):66-73 117 eram setores domiciliares. Na fase de identificação de domicílios, foram mapeadas 29.929 residências habitadas. A partir de pulos sistemáticos, fizeram parte da amostra deste estudo todos os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos residentes nos domicílios sorteados dos 117 setores. Perdas e recusas foram definidas após a não realização da entrevista em, no mínimo, três visitas efetuadas em dias e horários distintos. O cálculo do tamanho de amostra necessário para este estudo empregou os seguintes parâmetros e estimativas: prevalência de incapacidade funcional para atividades básicas da vida diária de 15% e 28% para atividades instrumentais, ambas com intervalo de 95% de confiança e erro aceitável de três e quatro pontos percentuais, respectivamente. Foi utilizado um adicional de 10% para perdas e recusas e 15% para fatores de confusão, resultando em 544 sujeitos para atividades básicas e 556 para atividades instrumentais. No entanto, outros cálculos amostrais foram realizados com intuito de se adquirir uma amostra que viabilizasse os diversos desfechos estudados. Sendo assim, dentre todos os valores calculados, prevaleceu o maior tamanho amostral, que correspondeu à necessidade de entrevistar todos os idosos residentes em 1.750 domicílios. A coleta de dados ocorreu no período de julho a dezembro de 2009, por meio de questionário padronizado aplicado por entrevistadores submetidos a treinamento de 80 horas, com intuito de adequada aplicação do instrumento. Foi realizado controle de qualidade em 10% da amostra via telefone. Foi utilizado o programa Office Remark (Gravic Inc, Philadelphia, Estados Unidos) para digitação dos dados e a análise dos dados foi realizada no programa Stata, versão 9.0, para checar inconsistência dos dados. Para obtenção dos desfechos, incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais da vida diária, foram utilizados, respectivamente, o índice de Katz10 e a escala de Lawton11. Foram investigadas seis atividades básicas (tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, deitar-se e levantar-se da cama/cadeira, comer e controlar as funções de urinar/evacuar) e oito atividades instrumentais (usar o telefone, deslocar-se utilizando meio de transporte, fazer compras, preparar a refeição, arrumar a casa, lavar a roupa, cuidar de finanças e tomar remédios). Ambos os desfechos foram definidos da mesma forma: necessidade de ajuda parcial ou total para, no mínimo, uma das atividades diárias investigadas. Os aspectos comportamentais e de saúde avaliados foram: tabagismo (não fumante, fumante, ex-fumante), nível de atividade física (inativo e ativo, correspon- dendo às categorias de até 149 minutos/semana ou ≥ 150 minutos/semana de prática de atividades físicas, conforme o Questionário Internacional de Atividade Física12), consumo excessivo de álcool (pela aplicação do questionário AUDIT13, em que os sujeitos foram classificados pelo consumo de baixo risco – escore ≤ 7 – e consumo de risco aumentado – escore ≥ 8), hipertensão arterial, depressão, diabetes, hipercolesterolemia e osteoporose autorreferidas (sim ou não), internação hospitalar no último ano (sim ou não), número de consultas médicas nos últimos três meses (nenhuma, uma ou duas ou mais) e autopercepção de saúde (muito boa/boa, regular ou ruim/muito ruim). Na estatística descritiva, foram empregados proporções e respectivos intervalos de 95% de confiança para variáveis categóricas. Na análise bruta, empregou-se o teste qui-quadrado de Pearson para variáveis categóricas dicotômicas e politômicas nominais e tendência linear para variáveis categóricas ordinais. Na análise ajustada, foi empregada a regressão de Poisson com variância robusta, com os resultados expressos em razões de prevalências14. Levou-se em consideração a amostragem por conglomerados, bem como a hierarquia entre os possíveis fatores associados com o desfecho para a análise dos dados. A análise ajustada foi controlada para as seguintes variáveis: sexo, idade, escolaridade e nível econômico. Na modelagem estatística, foram adotados a estratégia de seleção “para trás” e um nível crítico de valor p ≤ 0,20 para permanência no modelo para controle de confusão, considerando-se estatisticamente significativos valores de p ≤ 0,05. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Moinhos de Vento, conforme o Protocolo 2009/28. Este trabalho cumpriu integralmente os princípios éticos contidos na declaração de Helsinki (2000), além do atendimento à legislação específica deste país. rESULTADOS De todos os domicílios visitados, 671 idosos foram elegíveis para o estudo (idade ≥ 60 anos). Desses, foram entrevistados 638 idosos gerando, então, um percentual de perdas/recusas de 4,9%. O sexo feminino foi predominante entre os idosos, totalizando 59,7% da amostra, com idade amostral variando de 60 a 96 anos (média = 68,6 e dp = 7,1). Quando foram observados os aspectos de saúde, evidenciou-se que 46,8% dos idosos fumavam ou já foram tabagistas, 33,7% foram classificados como fisi- 69 Incapacidade funcional em idosos de baixa renda camente ativos e 41,8% apresentaram autopercepção de saúde positiva. Quando foi investigado autorrelato de doenças crônicas, observou-se que 61,7% dos indivíduos eram hipertensos, 39,8% apresentavam hipercolesterolemia e 19,5% tinham osteoporose. Mais detalhes de caracterização de aspectos relacionados à saúde da amostra encontram-se descritos na tabela 1. Tabela 1. Descrição das características de saúde dos idosos residentes em Restinga/Extremo Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2009 Variável n % Não fumante 340 53,2 Fumante 122 14,1 Ex-fumante 176 32,7 Inativo (≤ 149 minutos/semana) 215 66,3 Ativo (≥ 150 minutos/semana) 423 33,7 Baixo risco (≤ 7 pontos) 616 96,6 Risco aumentado (≥ 8 pontos) 22 3,4 Não 244 38,3 Sim 393 61,7 Não 515 83,7 Sim 100 16,3 Não 494 77,8 Sim 141 22,2 Não 382 60,2 Sim 252 39,8 Não 509 80,5 Sim 123 19,5 Não 535 83,8 Sim 103 16,2 Nenhuma 232 36,4 Uma 195 30,7 Duas ou mais 209 32,9 Muito boa/boa 266 41,8 Regular 283 44,5 Ruim/muito ruim 87 13,7 Tabagismo Nível de atividade física Consumo de álcool (AUDIT) Hipertensão arterial Depressão* Em relação à prevalência de incapacidade funcional, observou-se que 25,9% (IC 95%: 22,5-29,3) dos idosos necessitavam de auxílio para realizar, no mínimo, uma atividade instrumental de vida diária e 15,8% (IC 95%: 12,9-18,6), para atividade básica de vida diária. A figura 1 apresenta mais detalhes sobre a prevalência de incapacidade funcional e o número de atividades acumuladas com incapacidade funcional nos idosos. As tabelas 2 e 3 apresentam a descrição e os fatores associados à incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais, respectivamente, em idosos dos bairros Restinga e Extremo-Sul. Com relação às atividades básicas, após análise ajustada, constatou-se que indivíduos inativos apresentaram probabilidade 105% maior de desenvolver o desfecho. Idosos com osteoporose (RP = 1,64), com maior número de consultas médicas nos últimos três meses (p = 0,03) e com pior autopercepção de saúde (p = 0,002), também apresentaram maiores ocorrências de incapacidade funcional para as atividades básicas. Na análise ajustada das atividades instrumentais, a incapacidade funcional associou-se à inatividade física (RP = 1,88) e à presença de depressão (RP = 1,39). Além disso, observou-se relação inversa entre o desfecho e a autopercepção de saúde, ou seja, quanto melhor a autopercepção de saúde, menor a ocorrência de incapacidade funcional (p = 0,004). Diabetes Hipercolesterolemia AIVD 7,9 6,0 74,1 12,0 Osteoporose ABVD 9,3 3,1 3,4 84,2 Internação hospitalar (último ano) 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Consulta médica (últimos três meses) Autopercepção de saúde * Variável com maior número de informações ignoradas (n = 23). Nenhuma atividade Uma atividade Duas ou três atividades Quatro ou mais atividades Figura 1. Prevalência de incapacidade funcional para atividades básicas de vida diária (ABVD) e atividades instrumentais de vida diária (AIVD) dos idosos residentes em Restinga/Extremo Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2009. 70 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):66-73 Tabela 2. Descrição, análise bruta e ajustada da incapacidade funcional para atividades básicas da vida diária (ABVD) conforme variáveis relacionadas à saúde em idosos (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2008) Variável Incapacidade funcional para ABVD Análise bruta n % RP (IC 95%) 52 15,4 1,00 Análise ajustada Valor p RP (IC 95%) Valor p Comportamentos relacionados à saúde Tabagismo Não fumante 0,18 0,20 1,00 Fumante 14 11,5 0,75 (0,43; 1,30) 0,80 (0,47; 1,35) Ex-fumante 34 19,3 1,26 (0,85; 1,86) 1,29 (0,87; 1,89) Nível de atividade física < 0,001 0,005 Inativo (≤ 149 minutos/semana) 83 19,7 2,49 (1,52; 4,09) 2,05 (1,89; 2,21) Ativo (≥ 150 minutos/semana) 17 7,9 1,00 1,00 Baixo risco 99 16,1 1,00 1,00 Risco aumentado 1 4,6 0,28 (0,04; 1,93) 0,45 (0,07; 2,86) Consumo de álcool 0,14 0,40 Doenças crônicas Hipertensão arterial 0,15 Não 32 13,1 1,00 Sim 68 17,4 1,33 (0,90; 1,96) Depressão 0,41 1,00 1,21 (0,78; 1,87) 0,007 0,16 Não 61 11,9 1,00 1,00 Sim 22 22,0 1,85 (1,19; 2,87) 1,37 (0,88; 2,12) Diabetes 0,01 0,54 Não 68 13,8 1,00 1,00 Sim 32 22,7 1,64 (1,13; 2,39) 1,15 (0,74; 1,79) Não 53 13,9 1,00 1,00 Sim 47 18,7 1,35 (0,94; 1,93) 1,48 (0,98; 2,23) Não 64 12,6 1,00 1,00 Sim 34 27,6 2,19 (1,52; 3,16) 1,64 (1,09; 2,47) Hipercolesterolemia 0,10 Osteoporose 0,06 < 0,001 0,02 Cuidados médicos Internação hospitalar (último ano) 0,003 0,95 Não 74 13,9 1,00 1,00 Sim 26 25,5 1,84 (1,24; 2,73) 0,99 (0,61; 1,60) Consulta médica (últimos três meses) 0,002* 0,03* Nenhuma 22 9,5 1,00 1,00 Uma 35 18,0 1,90 (1,16; 3,13) 2,05 (1,12; 3,74) Duas ou mais 42 20,2 2,13 (1,32; 3,44) 1,91 (1,06; 3,42) Variável de autopercepção Autopercepção de saúde < 0 ,001* 0,002* Muito boa/boa 21 7,9 1,00 1,00 Regular 43 15,3 1,92 (1,17; 3,16) 1,57 (0,89; 2,75) Ruim/muito ruim 35 40,2 5,08 (3,13; 8,24) 2,76 (1,43; 5,29) ABVD: atividades básicas da vida diária; RP: razão de prevalências; IC 95%: intervalo de confiança de 95%; *: valor p de tendência linear. 71 Incapacidade funcional em idosos de baixa renda Tabela 3. Descrição, análise bruta e ajustada da incapacidade funcional para atividades instrumentais da vida diária (AIVD) conforme variáveis relacionadas à saúde em idosos (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2008) Variável Incapacidade funcional para AIVD Análise bruta Análise ajustada n % RP (IC 95%) Valor p RP (IC 95%) Não fumante 82 24,3 1,00 1,00 Fumante 29 24,0 0,99 (0,68; 1,43) 1,06 (0,75; 1,51) Ex-fumante 53 30,5 1,26 (0,94; 1,68) Valor p Comportamentos relacionados à saúde Tabagismo 0,27 Nível de atividade física 0,06 1,37 (1,05; 1,77) < 0,001 0,02 Inativo (≤ 149 minutos/semana) 136 32,5 2,48 (1,71; 3,60) 1,88 (1,05; 1,77) Ativo (≥ 150 minutos/semana) 28 13,1 1,00 1,00 Consumo de álcool Baixo risco Risco aumentado 0,40 0,93 160 26,2 1,00 1,00 4 18,2 0,69 (0,28; 1,70) 0,96 (0,36; 2,58) Doenças crônicas Hipertensão arterial 0,03 Não 51 21,1 1,00 Sim 112 28,7 1,36 (1,02; 1,82) Depressão 0,15 1,00 1,26 (0,92; 1,73) < 0,001 Não 105 20,6 1,00 Sim 38 38,0 1,85 (1,36; 2,50) Diabetes 0,03 1,00 1,39 (1,02; 1,88) < 0,001 0,08 Não 110 22,5 1,00 1,00 Sim 54 38,6 1,72 (1,32; 2,24) 1,30 (0,97; 1,75) Hipercolesterolemia 0,10 0,45 Não 90 23,8 1,00 1,00 Sim 74 29,6 1,25 (0,96; 1,62) 1,12 (0,84; 1,59) Não 115 22,8 1,00 1,00 Sim 47 38,5 1,69 (1,28; 2,23) 1,22 (0,92; 1,62) Osteoporose < 0,001 0,17 Cuidados médicos Internação hospitalar (último ano) < 0,001 0,12 Não 119 22,4 1,00 1,00 Sim 45 44,6 1,99 (1,52; 2,61) 1,28 (0,93; 1,77) Consulta médica (últimos três meses) 0,002* 0,18* Nenhuma 48 21,1 1,00 1,00 Uma 44 22,6 1,07 (0,75; 1,54) 0,95 (0,65; 1,38) Duas ou mais 71 34,1 1,62 (1,18; 2,22) 1,23 (0,89; 1,72) Variável de autopercepção Autopercepção de saúde < 0,001* 0,004* Muito boa/boa 39 14,9 1,00 1,00 Regular 75 26,6 1,79 (1,26; 2,53) 1,42 (1,02; 1,97) Ruim/muito ruim 48 55,2 3,71 (2,62; 5,24) 1,76 (1,18; 2,63) AIVD: atividades instrumentais da vida diária; RP: razão de prevalências; IC 95%: intervalo de confiança de 95%; *: valor p de tendência linear. 72 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):66-73 dISCUSSÃO Recente estudo de base populacional15 realizado em Belo Horizonte, utilizando o mesmo critério adotado neste estudo, avaliou incapacidade funcional para atividades básicas da vida diária em idosos pelo emprego do índice de Katz, encontrando prevalência de 16%. Segundo a PNAD de 20039, o critério para definição de incapacidade funcional foi dificuldade para caminhar 100 metros, e a prevalência especificamente na região Sul do Brasil foi de 21,2%. Com relação às atividades instrumentais, um estudo realizado no Rio Grande do Sul16 avaliou 598 idosos utilizando a escala de Lawton, definindo como incapacidade funcional para cada domínio a necessidade de ajuda parcial ou total para a realização de, no mínimo, uma atividade da vida, e encontrou prevalência de incapacidade funcional de 28,8%. Esses achados de base populacional estão muito próximos das prevalências observadas em idosos de Restinga e Extremo-Sul, bairros de baixa renda do município de Porto Alegre. Tal fato sugere que características socioeconômicas das populações podem não estar diretamente associadas à ocorrência de incapacidade funcional. No presente estudo, encontrou-se associação significativa da incapacidade funcional para atividades básicas com a presença de osteoporose e maior número de consultas médicas com o desfecho, mostrando consistência com outros achados realizados com populações idosas no Brasil15,17,18. A incapacidade funcional pode ser causada por doenças que normalmente iniciam na idade adulta e progridem com o passar do tempo15. A osteoporose é a doença osteometabólica mais comum entre idosos de ambos os sexos. Essa doença causa grande impacto na qualidade de vida e na sobrevida do idoso, pois a ocorrência de fraturas osteoporóticas aumenta consideravelmente a probabilidade de comorbidade e mortalidade. Embora a doença seja mais frequente no sexo feminino, devido à deficiência estrogênica pós-menopausa, ela também acomete de forma significativa o sexo masculino, principalmente pela deficiência de vitamina D, absorção diminuída de cálcio e aumento dos níveis de paratormônio19,20. Mesmo com a falta da padronização de escalas que avaliam, sabe-se que a osteoporose é um importante fator contribuinte para essa síndrome que está relacionada com a incapacidade funcional, principalmente em achados para o sexo feminino21. Verificou-se também a associação entre depressão e incapacidade funcional para atividades instrumen- tais. Resultados semelhantes foram encontrados em idosos da região Nordeste22,23. Essa associação pode ser justificada pelos escassos recursos sociais e financeiros da população em estudo, agregado também aos fatores ambientais dessa localidade, o que pode levar a um quadro de perda da capacidade para realizar tarefas que estão ligadas à vida em sociedade, causando sensação de invalidez e afastamento social, podendo gerar características depressivas24,25. Tanto a inatividade física quanto a autopercepção de saúde negativa associaram-se significativamente para ambos os domínios da incapacidade funcional. A autopercepção de saúde está diretamente associada com condições clínicas de saúde, morbidade e mortalidade. Esses fatores também levam a uma diminuição da qualidade de vida e rede social do idoso15, podendo causar limitações na capacidade para realizar atividades básicas e instrumentais. Outros estudos nacionais também associaram pior percepção de saúde com incapacidade funcional15,23,26, ao passo em que a melhor percepção de saúde manteve importante ligação com o envelhecimento bem-sucedido27. Por sua vez, a prática regular de atividade física é responsável por melhora na força e resistência muscular, além de elevar a autoestima do idoso, contribuindo para as relações psicossociais e equilíbrio emocional28. Estudos concluíram que tanto o exercício aeróbico29 quanto o exercício de força30 têm efeitos positivos sobre a cognição. Como limitações do presente estudo, pode-se mencionar o fato de que, mesmo após a realização de análise ajustada para possíveis fatores de confusão, o emprego do delineamento transversal impediu uma análise causal, impossibilitando o entendimento da temporalidade na relação entre a incapacidade funcional e as exposições do estudo. Sabe-se que a incapacidade funcional está diretamente associada com o processo de fragilidade nos idosos e, consequentemente, com o aumento da morbidade e da mortalidade, tornando-se um importante problema de saúde pública. Desse modo, sua prevenção, seu diagnóstico e o conhecimento dos fatores associados a essa condição são fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos idosos. A dependência é o maior temor nessa faixa etária e evitá-la ou postergá-la passa a ser uma função da equipe de saúde, em especial na Atenção Básica. O cuidado à pessoa idosa deve ser um trabalho conjunto entre equipe de saúde, idoso e família31. Faz-se necessária a implementação de serviços e políticas públicas focando o atendimento ao idoso Incapacidade funcional em idosos de baixa renda 73 frágil nos três níveis de atenção a saúde, mas voltada principalmente à atenção primária, a fim de realizar um diagnóstico precoce da incapacidade funcional e estabelecer condutas terapêuticas. 16. Del Duca GF, Da Silva MC, Hallal PC. Incapacidade funcional para atividades básicas e instrumentais da vida diária em idosos. Rev Saude Publica. 2009;43(5):796-805. REFERÊNCIAS 18. Dos Santos KA, Koszuoski Ricardo, Dias-da-Costa JS, Pattussi MP. Fatores associados com a incapacidade funcional em idosos do Município de Guatambu, Santa Catarina, Brasil. Cad Saude Publica. 2007;23(11):2781-8. 1. Organização Mundial da Saúde. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS); 2005. 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em http:// www.ibge.com.br. Acesso em 11 out. 2008. 3. 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ARTIGO ORIGINAL Correlação entre mobilidade funcional, equilíbrio e risco de quedas em idosos com doença de Parkinson Correlation between functional mobility, balance and risk of falls in elderly patients with Parkinson’s disease Nayara Cristina Ferreira1, Fabrícia Moura Caetano1, Laila Cristina Moreira Damázio2 RESUMO Objetivo: O presente estudo tem como objetivo avaliar o equilíbrio, a mobilidade de tronco e o risco de quedas em pacientes com doença de Parkinson. Métodos: Foram avaliados seis idosos, de ambos os sexos, com idade igual ou maior que 60 anos portadores dessa doença. A pesquisa utilizou uma ficha de avaliação para coleta dos dados da anamnese, uma escala para avaliação do equilíbrio corporal (escala de Berg), outra escala (Downton) para avaliar risco de queda e o teste de alcance funcional para mensurar a mobilidade do tronco e equilíbrio estático. A análise estatística utilizada foi o teste de correlação de Pearson com nível de significância de 5% e 1%. Resultados: Existem correlação entre o equilíbrio corporal e o risco de quedas com r de -0,8083, correlação entre a idade e o risco de quedas com r de -0,7394, não correlação entre o alcance funcional e o risco de quedas com r de -0,3593 e o tempo de lesão com o risco de quedas com r igual a -0,2292. Conclusão: A diminuição do equilíbrio está diretamente relacionada com o maior risco de quedas e o teste de alcance funcional não permite predizer sobre o risco de quedas entre a população estudada. Recebido em 1/2/11 Aceito em 13/6/11 Palavras-chave: Risco de quedas, equilíbrio corporal, doença de Parkinson. ABSTRACT Objective: The present study has as objective evaluates the balance, the trunk mobility and the risk of falls in patients with Parkinson’s disease. Methods: They were appraised six senior of both sexes with age same or larger than 60 years bearers of the Parkinson’s disease. The research used an evaluation record for collection of the data of the history, a scale for evaluation of the corporal balance (scale of Berg), other scale (Downton) to evaluate fall risk and the test of functional reach to measure the mobility of the trunk and static balance. The statistical analysis used was the Pearson’s test correlation with level of significance of 5% and 1%. Results: There is a correlation between the corporal balance and the risk of falls with r -0,8083, the correlation between the age and the risk of falls with r -0,7394, there is no correlation between the functional reach and the risk of falls with r -0,3593 and the time of lesion with risk of falls with r equal the -0,2292. Conclusion: The decrease of the static balance is directly related with the largest risk of falls and that the test of functional reach doesn’t allow to predict on the risk of falls among the studied population. Keywords: Risk of falls, balance, Parkinson’s disease. Endereço para correspondência: Nayara Cristina Ferreira • Rua Raul Soares, 594 – 36512-970 – Tocantins, MG • E-mail: [email protected] ¹ Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), UBÁ, MG. ² Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ), Universidade Federal de São João del-Rei, Campos Centro-Oeste (UFSJ), Universidade Federal de Viçosa (UFV). Quedas em idosos com doença de Parkinson INTRODUÇÃO A doença de Parkinson é considerada por alguns pesquisadores como uma aceleração anormal do envelhecimento de etiologia desconhecida, mas intimamente relacionada à idade. Os sintomas da doença de Parkinson são sensação de fadiga, seguida de tremores progressivos, rigidez, bradicinesia, alterações posturais com instabilidade, distúrbios motores significativos até o paciente necessitar de ajuda em algumas ou todas as suas atividades de vida diária (AVDs)1-3. O tremor da doença de Parkinson é clinicamente descrito como tremor de repouso, porém se exarceba durante a marcha e a bradicinesia é considerada o sintoma mais frequente. A deambulação do paciente torna-se difícil quando há instalação da bradicinesia, porque, além da dificuldade na realização dos movimentos, ocorre perda da capacidade de realizar ajustes rápidos de ação muscular que são necessários para manter o equilíbrio e iniciar essa ação. A instabilidade postural resulta principalmente da diminuição dos reflexos posturais e compreende uma postura tipicamente flexionada ou encurvada para frente4. Essa postura típica pode não ser notada na fase inicial, porém, com a evolução da doença, pode associar-se às alterações degenerativas que comprometem o envelhecimento normal, como a perda de equilíbrio e os prejuízos do movimento e da postura. Esses eventos ocasionam diminuição da capacidade funcional e comprometimento na execução das AVDs5-8. A menor velocidade de contração muscular reduz a capacidade do músculo em realizar o reflexo de proteção e a resposta ao estiramento, prejudicando a percepção de desequilíbrio e ocasionando maior tendência a quedas. A lentidão dos reflexos posteriores por si só nem sempre é capaz de provocar a queda, mas, em combinação com outras alterações biológicas como atraso na identificação do equilíbrio e desorganização dos processos centrais, acarreta maiores riscos de quedas para os indivíduos idosos2. O desequilíbrio é um fator desencadeante de quedas e estas são encontradas com maior frequência em mulheres do que homens da mesma faixa etária. A fraqueza muscular diminui a eficiência do músculo em responder a distúrbios da postura, levando, assim, ao desequilíbrio. A mobilidade funcional também está relacionada com essa fraqueza e determina a qualidade da execução das AVDs. Estudos demonstram que a menor mobilidade em idosos aumenta o risco de quedas9. A queda é definida como uma falta de capacidade para corrigir o deslocamento do corpo durante o mo- 75 vimento no espaço10,11. As quedas entre pessoas idosas constituem um dos principais problemas clínicos e de saúde pública. Dentre os sintomas clínicos, destacam-se as fraturas do quadril, punho e hematomas subdurais, que geralmente levam a internação e severas incapacidades funcionais11. As quedas são ocorrências relativamente comuns nos idosos e constituem fatores de morbidade e mortalidade em indivíduos com mais de 65 anos12. Essas quedas são atualmente uma das maiores preocupações, pela sua frequência e consequências em relação à qualidade de vida do idoso13. MÉTODOS O estudo é original, com delineamento transversal, sendo realizado na clínica-escola da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), na cidade de Ubá, no período de setembro a novembro de 2009. A amostragem selecionada constou de seis indiví­ duos, com o diagnóstico de doença de Parkinson, de ambos os sexos, com idade maior ou igual a 60 anos, assistidos pela clínica-escola da Unipac de Ubá, que se enquadravam no critério inclusão e exclusão. O critério de exclusão são os indivíduos que necessitam de cadeiras de rodas e apresentam fraturas em membros inferiores, problemas reumáticos graves que limitam a deambulação, problemas circulatórios graves e doenças neurológicas associadas à doença de Parkinson. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unipac, por estar de acordo com a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, para pesquisa com seres humanos. Os responsáveis da administração e o coordenador do estágio de neurologia da clínica-escola da Unipac de Ubá, bem como os responsáveis pelos indivíduos avaliados na pesquisa, receberam o termo de consentimento livre e esclarecido, para a segurança dos participantes e da pesquisa, sendo o estudo iniciado após o consentimento deles. Foi utilizada na pesquisa uma ficha de avaliação para anamnese dos idosos com dados sobre a história da doença, qualidade de vida, medicamentos utilizados e tempo de lesão. Essa ficha, elaborada pelos autores do trabalho, apresentava perguntas abertas sobre os itens relacionados anteriormente. Para avaliação da mobilidade de tronco e equilíbrio estático, foi utilizado o teste alcance funcional, que apresenta valor normal de 14 cm – pontuações inferiores caracterizam maior risco de quedas. O indivíduo permanece na posição ortostática lateralmente a uma parede, com os pés separados por alguns centímetros, descalços, 76 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):74-9 alinhados com os ombros e com 90° de flexão e cotovelo estendido. Na extremidade do membro superior que está junto da parede, o limite inicial de extensão do membro é marcado na parede (limite inicial) e, sem movimentar os pés e com os olhos abertos, o paciente deve fletir seu corpo o máximo possível no sentido anterior, sem perder o equilíbrio e sem sair da posição inicial de alinhamento dos pés. No momento em que o paciente relata estar no seu deslocamento anterior máximo, é marcado novamente na parede o limite final de extensão do membro superior. Nesse teste, portanto, o centro da gravidade do paciente é deslocado e a diferença entre a medida inicial e a medida final revela o deslocamento real, isto é, o máximo de deslocamento anterior que pode ser realizado pelo paciente sem que haja rearranjo de sua postura determinando seu limite de estabilidade anterior. O teste foi realizado em três tentativas, sendo considerado o maior valor no alcance. liada a mobilidade de tronco com o teste de alcance funcional, a fim de não fadigar os indivíduos e não interferir nos resultados das escalas. Para não ocorrer problemas na coleta dos dados das escalas, uma pesquisadora aplicou a escala de Berg, outra aplicou a escala de Downton e uma terceira aplicou o teste de alcance funcional. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido antes de serem submetidos à análise por quaisquer das escalas que foram utilizadas no estudo. A análise estatística empregada no estudo foi o teste de correlação de Pearson com um nível de significância de p = 0,05 e p = 0,01. RESULTADOS O estudo constou da avaliação de seis pacientes com doença de Parkinson, com idade média de 72,67 ± 11,98 anos, sendo três do gênero feminino e três do gênero masculino, distribuídos de acordo com a tabela 1. Na análise do escore da escala de Berg, foram identificados escores variando de 17 a 45. De acordo com os subitens da escala de Downton para quedas, foi observado que cinco pacientes apresentaram episódio prévio de quedas e um não apresentou episódios anteriores. Cinco pacientes apresentaram déficit visual e três, déficit auditivo; dois pacientes apresentaram estado mental confuso e três necessitam de ajuda para deambular, como demonstrado na tabela 1. Para avaliação do equilíbrio corporal, foi utilizada a escala de equilíbrio funcional de Berg, composta por 14 itens envolvendo tarefas funcionais específicas em diferentes bases de apoio. O escore varia entre 0 e 4, totalizando 56 pontos, sendo um escore baixo indicativo de maior risco de quedas10. Para quantificar o risco de queda, foi utilizada a escala de Downton, composta por cinco itens envolvendo medicamentos, distúrbios visuais e auditivos, estado mental e deambulação. A escala é composta por cinco itens cujo escore varia entre 0 e 14, com pontuações superiores caracterizando maior risco de queda. Ao analisar a utilização de medicamentos entre os pacientes avaliados, foi observado que dois pacientes (pacientes 2 e 5) utilizavam quatro medicações diferentes, dois utilizavam três medicações (pacientes 1 e 4) e dois utilizavam dois medicamentos (pacientes 3 e 6), de acordo com a tabela 2. A avaliação dos idosos foi realizada na clínica-escola da Unipac em Ubá, durante três dias; no primeiro dia foi avaliado o equilíbrio por meio da escala de Berg, no segundo dia foi avaliado o risco de queda com a escala de Downton e no terceiro dia foi ava- Tabela 1. Dados das idades dos pacientes, equilíbrio (escala de Berg), risco de quedas, déficit visual e auditivo, estado mental e deambulação (escala de Downton) Pacientes Idade Escala de Berg Escala de Downton Déficit visual Déficit auditivo Estado mental Deambulação 1 61 anos 45 pontos 5 pontos Sim Não Orientado Não necessita de ajuda 2 86 anos 17 pontos 7 pontos Sim Sim Confuso Necessita de ajuda 3 67 anos 50 pontos 3 pontos Sim Não Orientado Não necessita de ajuda 4 60 anos 26 pontos 5 pontos Sim Sim Orientado Não necessita de ajuda 5 87 anos 17 pontos 7 pontos Sim Sim Confuso Necessita de ajuda 6 75 anos 19 pontos 5 pontos Não Não Orientado Não necessita de ajuda 71 ± 11,97 22,5 ± 11,8 5 ± 1,5 - - - - X ± DP 77 Quedas em idosos com doença de Parkinson Tabela 2. Dados das medicações, histórico de quedas prévias (escala de Downton), teste de alcance funcional e tempo de lesão dos pacientes avaliados Pacientes Medicamentos Escala de Downton Quedas prévias Teste de alcance funcional Tempo de lesão 1 3 5 pontos Sim 10 cm 13 anos 2 4 7 pontos Sim 3 cm 2 anos 3 2 3 pontos Não 6 cm 9 anos 4 3 5 pontos Sim 9 cm 5 anos 5 4 7 pontos Sim 6 cm 10 anos 6 2 5 pontos Sim 5 cm 30 anos X ± DP - 5 ± 1,5 - 6 ± 2,6 9,5 ± 9,85 O teste de correlação de Pearson demonstrou que existe correlação entre a idade dos pacientes e a escala de Downton, em que ocorreu r = 0,7394 com nível de significância de 5%. Ao correlacionar os dados da escala de Downton e o teste de alcance funcional, não foi evidenciada correlação com r = -0,3593, como observado no gráfico 1. 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Idade dos pacientes parkinsonianos (anos) A 1 2 3 4 5 6 Escore da escala de Downton (unidade) 7 60 50 r = -0,8083 p < 0,01 40 30 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 Escore da escala de Downton (unidade) 7 8 Gráfico 2. Dispersão e correlação entre os dados da escala de Berg e a escala de Downton dos pacientes com doença de Parkinson. r = 0,7394 p < 0,05 0 Na comparação entre o tempo de lesão e os dados da escala de Downton, não foram demonstrados dados significantes com r = -0,2292 e p = 0,05. Já a correlação entre a escala de Berg e a escala de Downton permitiu demonstrar correlação com um valor de r de -0,8083 e nível de significância de 1%, como demonstrado no gráfico 2. Escore da escala de Berg (unidade) Ao avaliar histórico de quedas, cinco pes­soas demonstraram quedas prévias e apenas uma não apresentou quedas anteriores. O teste de alcance funcional demonstrou valores entre 3 e 10 cm de alcance e o tempo de diagnóstico da lesão neurológica (doença de Parkinson) foi de 2 a 30 anos (tabela 2). 8 DISCUSSÃO Escore da escala de Downton (unidade) B 8 7 6 5 4 3 2 1 0 r = 0,3593 p < 0,05 0 2 4 6 8 10 Escore do Teste de Alcance e Funcional (cm) 12 Gráfico 1. Dispersão dos dados dos pacientes com doença de Parkinson. Em A está a correlação entre a idade e a escala de Downton e em B, a correlação entre a escala de Downton e o teste de alcance funcional. A idade é um fator predisponente de quedas, já que os dados demonstraram que dois pacientes (2 e 5) com idade acima de 80 anos apresentaram altos índices de risco de queda na escala de Downton. Os dados estatísticos evidenciaram correlação entre a idade e os dados da escala de Downton com r = 0,7394 e p < 0,05. Baraúna et al.8 utilizaram o teste de Romberg em 68 idosos da cidade de Campo Grande para avaliar equilíbrio e o sistema biofotogramétrico computadorizado para avaliar deslocamentos da linha de equilíbrio e afirmaram que existe uma relação entre o avanço da idade e o declínio dos vários sistemas fisiológicos que participam do controle e dos ajustes posturais, acentuando a tendência a quedas. 78 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):74-9 O presente estudo não identificou maior índice de quedas entre os indivíduos do gênero feminino ou masculino e também não evidenciou relação entre os valores da escala de Downton e o tempo de diagnóstico da doença, pois os resultados apresentados na tabela 1 demonstraram grande variabilidade nos dados do tempo de diagnóstico da doença e o teste estatístico evidenciou um r de -0,2292, com nível de significância de 5%. Barbosa e Sallem14 afirmam existir dificuldade em diagnosticar a doença de Parkinson, na qual muitas vezes o paciente evidencia os sintomas em uma fase avançada da doença. Os resultados obtidos permitem observar que existe correlação entre a quantidade de medicamentos ministrados e o risco de quedas, pois, dos seis pacientes avaliados, dois fazem uso de quatro medicamentos e apresentam escore elevado na escala de Downton, o que representa grande risco às quedas. O mesmo foi relatado no estudo de Hamra et al.15, que avaliaram 205 pacientes internados no serviço de ortopedia e traumatologia, vítimas de fratura por queda, com idade a partir de 60 anos. Os autores afirmaram que a administração de drogas provoca efeitos colaterais como tontura e diminuição dos reflexos com consequente risco de quedas. Os mesmos pacientes apresentaram um quadro de confusão mental, o qual permite demonstrar que o estado cognitivo também é um fator importante para predispor a quedas. Isso contradiz o estudo de Aragão e Navarro1, no qual afirmam que o estado cognitivo não mostrou estar relacionado com o maior risco de queda e a cognição foi avaliada pelo Miniexame do estado mental (MEEM), que a considera como a capacidade de sequenciamento, ordenação temporal de ideias e fatos. Já no presente estudo, o estado mental foi avaliado pela escala de Downton, que determina a confusão como sendo alterações do comportamento. Ao observar se os pacientes apresentavam história prévia de quedas, foi evidenciado que apenas um paciente (paciente 3) não a apresentou, e seu escore na escala de Downton foi o mais baixo. Isso está de acordo com Zijlstra et al.16, que avaliaram 100 pessoas mais velhas em dois centros urbanos dos países baixos. Esses autores utilizaram um questionário que avalia o medo de cair e os fatores associados às quedas, identificando maior probabilidade de os idosos expressarem medo quando já apresentaram episódios de quedas. O medo limita a função do idoso, que permanece mais sedentário, com maior fraqueza muscular, diminuição do equilíbrio e mais propenso às quedas. No trabalho de Protas et al.17, foi confirmado que histórias prévias de quedas têm sido apontadas como fator de risco às quedas. Os resultados da correlação entre o alcance funcional e a escala de Downton não evidenciaram correlação com um r igual a -0,3593 e p < 0,05. No estudo de Aragão e Navarro2, que avaliou 50 pacientes portadores de doença de Parkinson em Curitiba/PR utilizando o teste de levantar e andar e o teste de alongamento funcional para avaliar mobilidade de tronco e equilíbrio, não foram evidenciados claramente a relação entre a mobilidade de tronco e o maior risco de quedas. Esses autores afirmam em seu trabalho que o alcance funcional menor que 25,4 cm indica maior risco de quedas. Com isso, apesar de o presente estudo não identificar correlação estatística entre o teste de alcance funcional e os dados da escala de Downton, pode-se observar que todos os pacientes apresentaram valores menores que 25,4 cm, podendo ser indicativos de alto risco de quedas. Dentre os seis pacientes avaliados, cinco apresentaram déficits visuais e três apresentaram déficits auditivos. Os indivíduos com déficits visuais apresentaram alto índice de quedas na escala de Downton, já os indivíduos com déficits auditivos não apresentaram os piores escores na escala de quedas, o que não permite correlacionar o déficit auditivo com o maior índice de quedas. Tal evidência foi descrita no trabalho de Luiz et al.7, em que avaliou 96 idosos residentes na comunidade em Amparo/SP utilizando um questionário que avalia a presença de doenças visuais juntamente com uma tabela direcional E ou Snellen que avalia acuidade visual. Foi avaliada também a capacidade funcional com o instrumento Brazilian OARS Multidimensional Functional Assessment Questionnaire (BOMFAQ), a saúde mental com o instrumento Geriatric Depression Scale (GDS) e a mobilidade funcional e o equilíbrio com o Timed Up e Go Test. Esses autores explicam que os idosos com distúrbios visuais tendem a limitar a realização das AVDs, diminuindo, assim, sua capacidade funcional. O estudo ainda afirma que, apesar de o distúrbio visual limitar a deambulação do idoso, permanecendo mais acamado, a limitação piora o seu quadro funcional e motor, aumentando a chance de o idoso cair em uma tentativa de locomoção. Ao analisar o critério da escala de Downton a respeito da ajuda para deambulação, três pacientes demonstraram necessitar de ajuda e apresentaram altos índices na escala de risco de quedas. O idoso que necessita de ajuda para deambular apresenta grande comprometimento do equilíbrio e da força muscular, o que colabora para maior instabilidade postural, levando às quedas. O resultado da correlação entre os valores da escala de Berg e Downton, com um nível de significância de p < 0,01 e r = -0,8083, demonstrou correlação entre esses dados. Zijlstra et al.16 confirmaram a existência Quedas em idosos com doença de Parkinson de correlação entre fraqueza muscular, sedentarismo, aumento da morbidade, redução do equilíbrio e aumento do risco de quedas entre idosos. Baraúna et al.8 identificaram que a oscilação no plano sagital anteriormente e no plano frontal para a esquerda é preferencial para desequilibrar o idoso e provocar quedas. E explicam que isso se deve ao deslocamento anterior do centro de gravidade em idosos e ao fato de eles serem destros, provocando deslocamento do corpo para o lado mais fraco, que nesse caso é o lado esquerdo. Contudo, o estudo apresentou algumas limitações como o pequeno número da amostra, a falta de descrição dos medicamentos utilizados e os tipos de intervenções empregadas no tratamento de cada um. 79 dios de quedas, em uma população parkinsoniana. Rev Fisioter Bras. 2005;6(4):250-4. 2. Aragão AF, Navarro MF. Análise da correlação entre os distúrbios de equilíbrio e a propensão a quedas em uma população parkinsoniana. Fisioter Mov. 2007;19(3):47-54. 3. Souza GFM, Moura TP, Neto JDC, Lima CF. Doença de Parkinson, aspectos clínicos: visão da fisioterapia. Fisioter Mov. 2006;19(3):27-34. 4. Mata FAF, Barros ALS, Lima CF. Avaliação do risco de queda em pacientes com doença de Parkinson. Rev Neurocienc. 2008;16(1):20-4. 5. Monte SCC, Pereira JS, Silva MAG. A intervenção fisioterapêutica na doença de Parkinson. Fisioter Bras. 2004;5(5):60-5. 6. ChristofolettiI G, Oliani MM, Gobbi LTB, Stella F. Risco de quedas em idosos com doença de Parkinson e demência de Alzheimer: um estudo transversal. Rev Bras Fisioter. 2006;10(4):429-33. Com isso, torna-se necessária a realização de mais estudos nessa área para elucidar as dúvidas e desafios para descrever os fatores predisponentes às quedas entre pacientes idosos com doença de Parkinson e que correlacione quedas com a mobilidade funcional de tronco, equilíbrio e risco de quedas. 7. Luiz CL, Rebellator J, Coimbra MV, Ricci NA. Associação entre déficit visual e aspectos clínico-funcionais em idosos da comunidade. Rev Bras Fisioter. 2009;13(5):444-50. CONCLUSÃO 10. Ferrantin AC, Borges CF, Morelli JGS, Rebelatto JR. A execução de AVDs e mobilidade funcional em idosos institucionalizados e não institucionalizados. Fisioter Mov. 2007;20(3):115-21. A diminuição do equilíbrio está diretamente relacionada ao maior risco de quedas e o teste de alcance funcional não permite predizer sobre o risco de quedas entre a população estudada. O estudo demonstrou que a idade é importante na avaliação do risco de quedas e que o tempo de lesão não informa sobre as complicações existentes no indivíduo com doença de Parkinson. Foi possível relacionar alguns fatores importantes na avaliação do risco de quedas, tais como a utilização de medicamentos, a história prévia de quedas, a presença de déficits visuais, a ajuda para deambulação e o estado mental dos pacientes com doença de Parkinson. 8. Baraúna MA, Barbosa SRM, Canto RST, Silva RAVS, Silva CDC, Baraúna KMP. Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação com quedas. Rev Fisioter Bras. 2004;5(2):136-41. 9. Mazo GZ, Liposki DB, Ananda C, Prev D. Condições de saúde, incidência de quedas e nível de atividade física dos idosos. Rev Bras Fisioter. 2007;11(6):437-42. 11. Fabrício SCC, Rodrigues RAP, Costa Júnior ML. Causas e consequências de quedas de idosos atendidos em hospital público. Rev Saude Publica. 2004;38(1):1-8. 12. 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Protas EJ, Mitchell K, Williams A, Qureshy H, Caroline K, Lai EC. Gait and step training to reduce falls in parkinson’s disease. Neuro Rehab. 2005;20:183-90. ARTIGO ORIGINAL Correlação entre capacidade física e atividade sexual em idosos Correlates between physical fitness and sexual activity in elderly Cícero Augusto de Souza1, Fernando Luiz Cardoso2, Rozana Aparecida da Silveira3, Márcio Borgonovo dos Santos3, Priscilla Geraldine Wittkopf3 Resumo Introdução: Com o aumento da expectativa de vida, cresce o interesse dos idosos em se manterem independentes e com qualidade de vida. Nesse contexto, a atividade sexual é parte importante e o exercício físico tem demonstrado efeito protetor à saúde sexual no envelhecimento. Objetivo: O objetivo deste estudo foi conhecer a relação entre capacidade física e atividade sexual em homens de 55 a 72 anos. Métodos: Os participantes realizaram um teste ergométrico e foram entrevistados sobre fatores de risco cardiovascular e aspectos da vida sexual como satisfação, desejo e frequência. Para tratamento dos dados, foram utilizados testes de correlação de Spearman para variáveis não paramétricas e qui-quadrado para variáveis categóricas. Resultados: A capacidade física e os aspectos da atividade sexual foram menores nos sujeitos mais velhos. Ajustados para a idade, idosos com maior capacidade física tiveram melhores escores de desejo e frequência sexual, porém não houve correlação com a satisfação. Os baixos escores de satisfação foram justificados pela dificuldade em manter a ereção no ato sexual e tiveram associação com o fator de risco hipercolesterolemia. Conclusão: Embora a capacidade física esteja associada a melhores escores de desejo e frequência sexual, o uso concomitante de medicamentos para a ereção e/ou aconselhamento com terapeuta sexual podem auxiliar os idosos no aumento da satisfação sexual. Recebido em 5/1/11 Aceito em 19/6/11 Palavras-chave: Envelhecimento, capacidade física, atividade sexual. Abstract Introduction: With increasing life expectancy, interest is growing in the elderly remain independent and quality of life. In this context, sexual activity is an important part and the exercise has shown protective effect on the sexual health in aging. Objective: The objective of this study was to explore the relationship between physical fitness and sexual activity in men 55 to 72 years. Methods: The participants underwent an exercise test and were interviewed about risk factors and cardiovascular aspects of life such as sexual satisfaction, desire and frequency. The data collected was used Spearman correlation tests for nonparametric variables and chi-square for categorical variables. Results: The physical fitness and aspects of sexual activity were lower in older subjects. Adjusted for age, seniors with higher functional ability had better scores for sexual desire and frequency, but with no correlation to satisfaction. The lowest satisfaction scores were justified by the difficulty in maintaining an erection during the sexual act, and was associated with the high cholesterol risk factors. Conclusion: Although physical fitness is associated with better scores for sexual desire and frequency, the use of medications for erection and sexual counseling with a therapist can help the elderly increase in sexual satisfaction. Keywords: Aging, physical fitness, sexual activity. Endereço para correspondência: Cícero Augusto de Souza • Hospital Regional de São José • Rua Adolfo Donato Silva, s/n, Praia Comprida – 88103-450 – São José, SC, Brasil Instituto de Cardiologia, São José, Santa Catarina, Brasil Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. 1 Instituto de Cardiologia de Santa Catarina/ Universidade do Estado de Santa Catarina (UFSC). 2 Laboratório de Gênero, Sexualidade e Corporeidade da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). 3 Udesc. Atividade sexual em idosos INTRODUÇÃO A prática regular de exercícios físicos está associada à melhor percepção de saúde e qualidade de vida1, que, por sua vez, representa importante ferramenta na predição de mortalidade nos idosos2. Além do aumento na longevidade, a capacidade física tem efeito protetor contra as limitações funcionais às quais os idosos estão expostos. A prevalência de doenças crônicas nessa população é elevada e o exercício confere até 50% de redução nas limitações das atividades do dia a dia e afazeres domésticos3. Dentre as atividades habituais, um aspecto importante relacionado à qualidade de vida e que sofre influência do envelhecimento é a função sexual. Dados do Health Professionals Follow-up Study (HPFS), que avaliou o quanto a idade interfere no comportamento sexual em mais de 31 mil norte-americanos, revelaram que, na faixa dos 50-59 anos, 4% dos homens julgavam sua função erétil muito ruim, enquanto na faixa dos 70-79 anos esse número aumentou para 32%. Os fatores de risco como diabetes, hipertensão, tabagismo e depressão estiveram associados aos escores de disfunção sexual4. Em idosos participantes do 50 + Fitness Association, grupo formado por mais de 2.000 idosos americanos adeptos do estilo de vida saudável, 74%, 55% e 53% dos homens revelaram ser ativos sexualmente para os grupos 50-59 anos, 60-69 anos e acima de 70 anos, respectivamente. Entre os fatores avaliados, houve forte correlação positiva entre o aumento nos níveis de atividades físicas e o grau de satisfação com a vida sexual nos homens5. No estudo de Bacon et al.4, a capacidade física contribuiu positivamente para manter a função sexual. Aqueles que praticavam exercícios regularmente apresentavam até 30% de diminuição no risco de desenvolvimento de disfunção erétil (DE). Com o objetivo de investigar a relação entre exercício físico e comportamento sexual, Frauman6 comparou um grupo de sedentários (n = 78) com praticantes de esportes populares (n = 144). Os jovens, de ambos os sexos, responderam a um questionário sobre aspectos da sexualidade, com questões relacionadas à frequência semanal e ao desejo sexual. Como resultado, o grupo que reportou maior dispêndio de tempo para atividades físicas (p < 0,001) também apresentou maior frequência sexual (p < 0,001) e maior desejo (p < 0,001). Outro estudo seguindo o mesmo modelo revelou que os praticantes de exercícios relataram maior satisfação (p < 0,05) e que o treinamento físico poderia aumentar a satisfação sexual7. 81 Nas mulheres, Mazo e Cardoso8 avaliaram a satisfação sexual de 198 idosas ativas, que foram classificadas em dois grupos – as mais ativas (idade média: 72,03 ± 5,3) e as menos ativas (idade média: 76,73 ± 5,7) –, e descobriram que as mais ativas tinham mais energia para as atividades diárias e de trabalho, mas não se diferenciavam das menos ativas em termos de satisfação sexual, muitas vezes porque a iniciativa para o ato sexual parte do homem. A maioria das investigações tem examinado a capacidade física por meio de estimativas por questionários e entrevistas, deixando de lado outros testes de campo disponíveis. O objetivo deste estudo foi relacionar a capacidade física, medida com teste ergométrico, com aspectos da atividade sexual em idosos. MÉTODOS Trata-se de um estudo observacional, de delineamento transversal e não probabilístico, que avaliou 44 idosos com relação à capacidade funcional e aspectos da qualidade de vida sexual. Os participantes foram selecionados no ambulatório de ergometria de um hospital de referência em cardiologia. Como critério de inclusão, os sujeitos deveriam ter união conjugal estável e vida sexual ativa nos últimos 12 meses. A capacidade física foi avaliada de maneira indireta pelo teste de esforço em esteira rolante (protocolos de Bruce e Ellestad) e os resultados foram expressos em MET (coeficiente metabólico), no qual 1 MET equivale a 3,5 ml/kg/min. Além dos dados demográficos, foram mensurados aspectos da atividade sexual, por meio de medidas psicométricas, pela escala Likert (0 a 10): Desejo Sexual (Nenhum Desejo, 0 a 3; Pouco Desejo, 4 a 6; e Desejo Normal/Alto, 7 a 10); Satisfação Sexual (Insatisfeito, 0 a 3; Pouco Satisfeito, 4 a 6; Satisfeito, 7 a 10); a Frequência Sexual foi autorreferida de acordo com o número de relações sexuais por semana. Por causa da dificuldade de interpretação dos instrumentos para avaliar a função erétil, utilizou-se a questão “Você está satisfeito com sua função erétil? (Sim/ não)” para avaliar a satisfação com a ereção. A tabela 1 apresenta informações referentes à amostra. Os sujeitos foram convidados a participar da entrevista em local reservado e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Para análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva, qui-quadrado para variáveis categóricas e teste de correlação de Spearman para variáveis não paramétricas. Este estudo cumpriu as normas da Resolução nº 196/969 e foi registrado no Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina sob o nº 15/2006. 82 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):80-5 Tabela 1. Perfil demográfico, fatores de risco, avaliação fisiológica e atividade sexual dos participantes do estudo Média ± DP Mínimo-Máximo Idade (anos) 61,3 ± 4,5 55-72 Escolaridade (anos) 4,5 ± 3,1 0-15 33,1 ± 11,3 3-49 n % Hipertensão arterial 35 79,5 Diabetes 6 13,6 Hiperlipidemia 28 63,6 Obesidade 12 27,3 Os escores sexuais não tiveram relação com a escolaridade e o tempo de relação conjugal. Entre as variáveis antropométricas, houve correlação da circunferência de cintura com o desejo sexual (t = -0,405; p = 0,022), ou seja, quanto maior o perímetro abdominal, menor o desejo para o ato sexual. Dentre os fatores de risco, apenas a hipercolesterolemia teve associação com a DE (f = 4,044; p = 0,044). Sedentarismo 17 38,6 A Tabagismo 11 25,0 12 Depressão 3 6,8 10 Média ± DP Mínimo-Máximo 8 9,4 ± 2,8 5,6-18,5 Relação conjugal (anos) Fatores de risco Avaliação fisiológica MET C. cintura (cm) 97,7 ± 10 79-12,5 IMC (kg/m²) 34,2 ± 3,3 26,7-40,1 Média ± DP Mínimo-Máximo Desejo sexual 7,1 ± 2,3 2-10 Satisfação sexual 6,0 ± 2,6 1-10 Frequência sexual 1,7 ± 1,5 0,5-7 23 52,3 Atividade sexual Disfunção erétil RESULTADOS A satisfação sexual diminuiu com a idade (t = -0,315, p = 0,038), que, por sua vez, diminuiu a frequência sexual (t = 0,353, p = 0,032). Embora o desejo e a frequência sejam menores nos sujeitos mais velhos, essas diferenças não foram significativas entre os participantes na amostra. Na figura 1B, estão expressas as linhas de tendência dos escores sexuais e a relação com a capacidade física. Ajustados para a idade, pode-se observar que o desejo e a frequência sexual aumentaram com a capacidade física. Não houve correlação da satisfação -0,315* 4 0 -0,215 50 55 60 Desejo Idade 65 70 Satisfação 75 Frequência B 12 10 0,455** 8 0,335 6 4 0,358* 2 0 Neste estudo, a capacidade física (MET) apresentou correlação negativa com a idade, ou seja, quanto mais velho o sujeito, menor era o consumo de oxigênio no teste de esforço físico (t = -0,346, p = 0,027). Os aspectos da atividade sexual também apresentaram redução com a idade, conforme mostra a figura 1A. -0,261 6 2 Escore DP: desvio-padrão; C. cintura: circunferência de cintura; MET: unidade de medição da capacidade física (1 MET equivale a 3,5 ml/kg/min); IMC: índice de massa corporal. Escore Dados demográficos sexual com a condição física, e a incapacidade em manter a ereção durante a relação sexual foi o fator citado por 52,3% dos sujeitos para justificar a baixa satisfação. 0 5 Desejo 10 MET’s Satisfação 15 20 Frequência Figura 1. (A) Correlação entre os escores sexuais e a idade; (B) Correlação entre escores sexuais e capacidade física (em MET). * Correlação significante, p < 0,01. ** Correlação significante, p < 0,05. DISCUSSÕES A primeira grande publicação sobre o comportamento sexual masculino, em 1948, revelou que a atividade sexual diminuía com o envelhecimento10. A partir de então, diversos estudos confirmaram esses resultados e mostraram que, além da redução no número de relações sexuais, o interesse e o prazer resultante do ato sexual também reduziam com a idade10-17. Atividade sexual em idosos Com o crescente aumento na expectativa de vida, existe interesse dos idosos em melhorar a qualidade de vida e em manter a atividade sexual. Apesar dos muitos mitos que envolvem a sexualidade nessa faixa populacional, a grande maioria deles considera o ato sexual muito importante em suas vidas18 e são ativos sexualmente12,17. Em nosso estudo, o objetivo foi avaliar a relação entre a capacidade física e os aspectos da vida sexual em idosos. Os resultados revelaram que a capacidade física e a satisfação sexual eram menores nos homens mais velhos. Porém, apesar de o desejo e a frequência sexual apresentarem tendência a serem menores nos mais velhos, não houve diferença estatística em nossa amostra. No estudo de Gralla et al.19, que investigou a vida sexual de 904 homens de 18 a 79 anos e sua relação com DE, o desejo sexual foi maior nos mais jovens e a satisfação esteve correlacionada com a severidade do problema sexual. Porém, para um mesmo nível de DE, homens mais velhos eram mais satisfeitos com sua vida sexual que seus pares mais jovens. A preocupação com a função erétil era maior nos mais jovens e talvez pudesse explicar a menor satisfação nessa faixa de idade. Em outro estudo, Althof et al.20 estudaram a relação entre satisfação sexual e problemas de ereção em 3.935 homens de 28 países e observaram que quanto mais severa era a DE, menor eram os escores de satisfação na atividade sexual. Esses estudos revelaram que a satisfação sexual nos idosos estava diretamente ligada à função erétil e aqueles com piores escores de DE eram os menos satisfeitos. Cabe ressaltar que, além da redução na satisfação da atividade sexual, a disfunção erétil diminui a qualidade de vida21. Não houve associação dos escores sexuais com o grau de escolaridade. No estudo de Abdo et al.22, que investigou a vida sexual do homem brasileiro, houve associação inversa entre risco de DE e nível educacional. Indivíduos com baixa escolaridade tinham menor conhecimento acerca da função sexual e dos cuidados com a saúde, que são prejudiciais ao desempenho sexual. Com relação ao estado civil, não foram encontradas diferenças entre casados e solteiros, porém os viúvos apresentavam 90% mais chances de desenvolver DE. Em nosso estudo, todos os participantes tinham parceira estável e não houve associação entre tempo de relação conjugal e satisfação sexual. Com relação às variáveis antropométricas, encontrou-se relação entre circunferência de cintura e desejo sexual. Aqueles com maior circunferência de cintura apresentaram piores escores de desejo. 83 De acordo com a literatura, o excesso de peso, independentemente, prediz piores escores na satisfação, desejo, ereção e ejaculação23 e que existe relação inversa entre o índice de massa corporal (IMC) e a satisfação com a vida sexual7. Contudo, a redução do peso corporal, seja por dieta/exercício24,25 ou por meio de procedimentos cirúrgicos23,26, permite inferir melhora na função sexual. Em nosso estudo, não utilizamos instrumentos para mensurar a função sexual em virtude da baixa escolaridade dos participantes e da dificuldade de interpretação. Entretanto, encontramos que o descontentamento com a função erétil foi o principal responsável pelos baixos escores de satisfação na atividade sexual, afetando cerca de 50% dos sujeitos. Entre os fatores de risco, encontramos associação de queixas referentes à função sexual e colesterol elevado. Embora a baixa fração de HDL (< 35 mg/dl) e o colesterol total elevado (> 240 mg/dl) estejam relacionados com DE orgânica27, a melhora do perfil lipídico está associada à melhora na função erétil28,29. No HPFS, a presença de hipertensão, diabetes, doença cardíaca ou obesidade esteve associada aos piores escores da função sexual, porém homens sem fatores de risco e engajados em programas de exercícios tiveram menor prevalência de disfunções sexuais que aqueles com um ou mais fatores de risco4. Apesar de a idade reduzir os escores sexuais, o aumento da capacidade física mostrou correlação positiva com o desejo e a frequência sexual, mas não se correlacionou com a satisfação. No estudo de Bortz e Wallace5, a capacidade física esteve correlacionada a elevados níveis de atividade sexual e satisfação em idosos de ambos os sexos. E essa relação com o exercício foi apresentada por Tina e Young30, que mostraram que aqueles muito ativos fisicamente (6 a 7x/ semana) foram os que apresentaram escores de desejo acima da média ou muito acima da média (p < 0,01). Partindo do pressuposto de que a capacidade física apresenta relação com a atividade sexual, White et al.31 utilizaram um programa de treinamento com exercício para o tratamento das disfunções sexuais e randomizaram 78 homens de meia-idade (média de 48 anos) e sedentários. O grupo treinado foi submetido a nove meses de exercícios supervisionados, três vezes por semana com sessões de 60 minutos de duração. Os sujeitos foram orientados a se exercitar entre 75% e 80% da FC máxima predita pelo teste ergométrico. O grupo controle foi composto por 17 homens (média de idade de 44 anos) que permaneceram sedentários durante o período. Os resultados 84 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):80-5 do estudo proveram sistemáticas evidências de que o aumento nos níveis de exercício físico melhorou o desempenho sexual, o desejo, a excitação, a frequência semanal e a satisfação na atividade sexual e diminuiu a insatisfação e os episódios de disfunção erétil no grupo submetido ao treinamento. A satisfação sexual esteve associada à idade e não podemos inferir o quanto a capacidade física influenciou a função erétil. Cabe ressaltar que nenhum dos sujeitos havia procurado ajuda especializada e/ou fazia uso de medicamentos para ereção. 0,53) e que exercícios intensos apresentaram melhores resultados que os moderados (RR = 0,42 vs. 0,63). Nosso estudo avaliou a capacidade física por meio de teste ergométrico convencional, por ser um exame largamente utilizado por médicos clínicos e cardiologistas. E apesar de não apresentar a mesma especificidade e reprodutibilidade que os exames ergoespirométricos, consiste em ferramenta muito útil na avaliação da capacidade de exercício, seja no sistema de saúde público ou privado. As recomendações no tratamento da DE consistem em modificações dos fatores de risco, como redução de peso e prática regular de exercícios físicos, além do controle de fatores de risco e doenças metabólicas32. Dados da literatura mostram que o assunto DE e atividade sexual é discutido por menos de 10% dos homens nos consultórios médicos33,34 e muitas vezes só acontece quando o paciente apresenta suas queixas34. No entanto, o uso de medicamentos orais para ereção, assim como o aconselhamento sexual, apresenta efeitos positivos na qualidade de vida sexual. Para comprovar isso, Abdo et al.21 randomizaram 117 pacientes com DE em três grupos: um grupo que recebeu aconselhamento sexual, um grupo em uso do medicamento oral sildenafil e outro grupo com ambos os tratamentos. Os instrumentos usados para mensurar a qualidade de vida sexual foram o Male Sexual Quociente (MSQ) e o Sexual Health Inventory for Man (SHIM). Após três meses de acompanhamento, houve melhora significativa tanto no MSQ quanto no SHIM nos três grupos de estudo (p < 0,05). Pacientes com aconselhamento sexual e com uso adicional do medicamento tiveram os melhores resultados na satisfação sexual e na qualidade da ereção que seus pares com tratamentos somente de orientação ou de remédio. CONCLUSÃO O exercício físico aumenta a capacidade funcional e o incremento de 1 MET eleva em 12% a expectativa de vida nos homens35. Além da sobrevida, o estilo de vida ativo confere proteção à saúde sexual dos homens. No estudo de Bacon et al.4, exercício vigoroso (> 32,6 MET/hora/semana) esteve associado a 30% de redução no risco de desenvolver DE quando comparado ao grupo de sedentários (< 2,7 MET/hora/semana), e aqueles mais jovens (< 60 anos) se beneficiaram mais que os idosos (> 80 anos), com um risco relativo de 0,5 (IC, 0,4 a 0,6) e 0,9 (IC, 0,8 a 1,0), respectivamente. FONTES DE FINANCIAMENTO Metanálise de Cheng et al. , que contemplou cerca de 12 mil homens e investigou a relação entre atividade física e DE, revelou que o exercício físico estava associado ao menor risco de desenvolver DE (RR = 36 Não houve diminuição no desejo e na frequência sexual, porém a satisfação foi significativamente menor na faixa etária dos 50 aos 70 anos e a DE foi a queixa mais frequente. A capacidade funcional correlacionou-se positivamente com a frequência e o desejo sexual, porém a melhor condição física isoladamente não se relacionou com a satisfação sexual. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem os alunos e professores do Laboratório de Gênero, Sexualidade e Corporeidade (Lagesc) da Universidade do Estado de Santa Catarina, por sua participação no trabalho, e aos funcionários do Instituto de Cardiologia, pelo apoio durante as fases deste projeto. POTENCIAL CONFLITO DE INTERESSES Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. REFERÊNCIAS 1. Acree L, Longfors J, Fjeldstad A, Fjeldstad C, Schank B, Nickel KJ, et al. Physical activity is related to quality of life in older adults. Health Qual Life Outcomes. 2006;4(37):1-6. 2. Tsai S, Chi L, Lee C, Chou P. Health-related quality of life as a predictor of mortality among community-dwelling older persons. Eur J Epidemiol. 2007;22:19-26. 3. Huang Y, Macera CA, Blair SN, Brill PA, Kohl III HW, Kronenfeld J. Physical fitness, physical activity, and functional limitation in adults aged 40 and older. 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ARTIGO ORIGINAL Déficit de equilíbrio e agilidade em indivíduos com doença de Parkinson e sua correlação com a independência funcional da marcha Agility and balance deficits in individuals with Parkinson disease and their correlation with the functional independence of the gait Heloyse Uliam Kuriki1, Augusto Cesinando de Carvalho2, Tânia Cristina Bofi2, Michelle Binotto Pereira3 RESUMO Objetivos: A doença de Parkinson está relacionada ao declínio das atividades diárias funcionais, levando à redução na qualidade de vida. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar o equilíbrio e a agilidade da marcha e a correlação destes com as atividades funcionais. Métodos: Foram avaliados 21 voluntários: 10 parkinsonianos e 11 clinicamente saudáveis. Todos os voluntários foram avaliados usando a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), o Timed Up and Go Test (TUGT) e um pedômetro durante 48 horas. Resultados: Foi observado que os valores obtidos na EEB e no TUGT foram significantemente diferentes entre os grupos (p < 0,05). Para o número de passos, o mesmo não foi observado; o número de passos durante 48 horas foi equivalente para ambos os grupos. Além disso, observou-se forte correlação entre o número de passos e a EEB. Conclusão: Indivíduos com doença de Parkinson apresentaram déficit de equilíbrio e na agilidade da marcha, porém não houve interferência na independência da marcha, uma vez que os indivíduos avaliados apresentaram quantidade de passos similar ao grupo controle no período de avaliação. Recebido em 25/5/11 Aceito em 29/7/11 Palavras-chave: Doença de Parkinson, fisioterapia, equilíbrio postural, marcha. ABSTRACT Objectives: Parkinson’s disease is related to the decline in daily functional activities, favoring reduced quality of life. Because of it, the aim of this study was to analyze the balance and gait agility of parkinsonian and their correlation on the functional activities. Methods: It was evaluated 21 volunteers: 10 parkinsonian and 11 clinically healthy individuals. All the volunteers were assessed using the Berg Balance Scale (BBS), the Time Up and Go Test (TUGT) and a pedometer during 48 hours. Results: It was observed that the values obtained by BBS and TUGT were significantly different between the groups (p < 0.05). For the number of steps it was not observed the same, the steps/48 hours were equivalent for both groups. Furthermore, it was observed great correlation between the number of steps and the BBS. Conclusion: Individuals with Parkinson disease showed a deficit of balance and gait agility, but there was no interference in the independence of gait, since the subjects evaluated had similar number of steps in relation to the control group during the evaluation period. Keywords: Parkinson disease, physical therapy, postural balance, gait. Endereço para correspondência: Departamento de Fisioterapia/Laboratório de Fisioterapia Aplicada ao Movimento Humano (LAFAMH) • Heloyse Uliam Kuriki • Rua Roberto Simonsen, 305, Jardim das Rosas – 19060-900 – Presidente Prudente, SP, Brasil • Telefone: (18) 9732-4343 • E-mail: [email protected] Interunidades Bioengenharia da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, SP, Brasil. 2 Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Presidente Prudente, SP, Brasil. 3 Fisioterapeuta, especialista em Neurologia. 1 Equilíbrio e marcha na doença de Parkinson INTRODUÇÃO A doença de Parkinson (DP) é uma das doenças degenerativas mais comuns do sistema nervoso central1,2. Por se caracterizar pelo acometimento de neurônios da zona compacta da substância negra com presença de corpúsculos de Lewy, há diminuição da dopamina, que leva a desordens do movimento3-7. Caracteriza-se clinicamente por bradicinesia, tremor, rigidez e instabilidade postural. Esses problemas, juntamente com distúrbios do equilíbrio, aumentam a incidência de quedas com risco de fraturas8. Dessa maneira, associado ao tratamento médico, deve-se orientar os pacientes a realizarem fisioterapia. Nesse caso, o exercício terapêutico é fundamental, complementado por outras intervenções, com a finalidade de aprimorar a função e reduzir uma incapacidade, ou seja, melhorar e manter a facilidade e a segurança das atividades de vida diária (AVD) e prevenir complicações secundárias9-11. A reabilitação pode ser individual ou em grupo e compreende exercícios motores, treinamento de marcha, treinamento das AVDs, terapia de relaxamento e exercícios respiratórios1. Para verificar a intensidade dos sintomas e sinais da DP e acompanhar os pacientes clinicamente, são necessárias avaliações periódicas. A Escala de Estágios de Incapacidade de Hoehn e Yahr (HY – Degree of Disability Scale) é uma escala de avaliação da incapacidade dos indivíduos com DP capaz de indicar seu estado geral de forma rápida e prática. Sua forma modificada compreende cinco estágios de classificação para avaliar a gravidade da DP e abrange, essencialmente, medidas globais de sinais e sintomas que permitem classificar o indivíduo quanto ao nível de incapacidade. Os indivíduos classificados nos estágios de 1 a 3 apresentam incapacidade leve a moderada, enquanto os que estão nos estágios 4 e 5 apresentam incapacidade grave12. O déficit de equilíbrio é um dos sintomas mais comuns em indivíduos com DP, por causa dos danos motores causados pela degeneração da via nigroestriatopalidal13,14. Como as maiores perdas observadas nos indivíduos com DP são no equilíbrio, destreza e marcha, avaliações para essas capacidades também são necessárias. Para a avaliação do equilíbrio, uma escala bastante usada e validada para indivíduos com DP é a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB)15. A EEB foi desenvolvida para mensurar mudanças na manutenção do equilíbrio funcional por meio do tempo. São 14 itens que atribuem a cada função valores de 0 a 4 de acordo com o nível de dependência ou independência durante atividades envolvendo sentar, levantar e mudanças de posição. A soma do total de pontos indica 87 a capacidade de equilíbrio de maneira global, sendo os pontos interpretados da seguinte maneira: 0 a 20, dependente de cadeira de rodas; 21 a 40, capaz de deambular com assistência; e 41 a 56, independente16-18. Para verificar a agilidade na execução da marcha, um teste bastante utilizado é o Timed Up and Go Test (TUGT), que mensura o tempo gasto para que o paciente se levante de uma cadeira, caminhe três metros, vire-se, caminhe de volta até a cadeira e se sente19. Os pedômetros permitem quantificar o número de passos realizados por esse paciente durante o período em que foi monitorado20. Esses pedômetros vêm sendo utilizados para quantificar a mobilidade, pois possuem sensores de movimento e, quando acoplados à cintura ou ao tornozelo dos indivíduos, demonstram a capacidade funcional a partir as oscilações que ocorrem no corpo durante as AVDs. Estudos mostram que existe diminuição da mobilidade em pacientes com desordens neurológicas, porém ainda há poucos estudos que utilizam essa quantificação em indivíduos parkinsonianos, e esses estudos não avaliam pacientes em tratamento fisioterapêutico21. Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o equilíbrio, a agilidade e a mobilidade em pacientes com DP em tratamento fisioterapêutico em grupo e compará-los com idosos saudáveis utilizando, respectivamente, a EEB, o TUGT e a quantificação da mobilidade pelo pedômetro e, além disso, correlacionar a EEB e o TUGT à mobilidade dos indivíduos com DP. MÉTODOS Participaram deste estudo 21 voluntários divididos da seguinte maneira: i) grupo Parkinson, formado por 10 indivíduos com diagnóstico médico de DP (sete com HY estágio I, dois com HY estágio II e um com HY estágio III), idade média de 69,0 ± 7,1 anos, todos em tratamento fisioterapêutico; ii) grupo controle, formado por 11 indivíduos clinicamente saudáveis, com idade média – intencionalmente semelhante ao grupo Parkinson – de 68,6 ± 5,4 anos. Todos os participantes assinaram termo de consentimento após receber informações sobre a participação no estudo, que teve suas implicações éticas aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa local (proc. nº 75/2009). Inicialmente, os voluntários foram submetidos a avaliações pela EEB e pelo TUGT conforme recomendações específicas para esses testes22,23. Em seguida, um pedômetro (Hallmark, Oregon Scientific, model: PE316CA) foi instalado na cintura desses indivíduos e eles foram orientados a permanecer por 88 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):86-90 48 horas com o equipamento e retirá-lo apenas para tomar banho e dormir durante a noite, recolocando-o em seguida. Decorridas as 48 horas, o pedômetro foi retirado e os dados, armazenados. Para a análise dos resultados, os dados coletados (EEB, TUGT e número de passos) foram previamente submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov. Para comparar o grupo Parkinson com o grupo controle, foi utilizado o teste t-student para amostras não pareadas para a EEB e o número de passos; e o teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar o TUGT entre os grupos avaliados. Posteriormente, foi utilizada a correlação de Pearson para correlacionar os valores da EEB com o número de passos e os valores do TUGT com o número de passos; essa correlação foi investigada apenas no grupo Parkinson para confirmar ou não se a diminuição na mobilidade observada com a evolução da doença pode ser explicada pela diminuição em variáveis como equilíbrio e agilidade. RESULTADOS A tabela 1 mostra os resultados referentes à EEB, ao TUGT e ao número de passos e compara estatisticamente indivíduos com DP aos idosos saudáveis. A pontuação da EEB para os indivíduos do grupo Parkinson foi 50,5 ± 2,7 e para o grupo controle, 54,5 ± 1,4, o que mostra que indivíduos com DP apresentam equilíbrio significantemente menor em relação ao grupo controle (p < 0,05). Em relação ao TUGT, os valores foram 14,6 ± 8,1s e 9,1 ± 1,0s para os grupos Parkinson e controle respectivamente, também comprovando que indivíduos com DP apresentam menor agilidade para execução da marcha quando comparados ao grupo controle (p < 0,05). Já em relação ao número de passos durante as 48 horas de avaliação, não foi observada diferença significante: os indivíduos do grupo DP apresentaram 18.703 ± 8.596 passos, enquanto os indivíduos do grupo controle apresentaram uma média de 19.915 ± 10.561 passos. Na tabela 2, apresentamos a correlação entre os valores de EEB e TUGT com o número de passos no grupo Parkinson. Para a correlação entre a EEB e o número de passos, notamos uma boa correlação (r = 0,7, p = 0,027), indicando que quanto maior o equilíbrio, maior o número de passos. Não sendo o mesmo comportamento observado para a correlação entre o TUGT e o número de passos (r = -0,4, p = 0,25), ou seja, a agilidade na execução da marcha pode não ser um fator que influencia diretamente a mobilidade desses indivíduos. Tabela 1. Comparação entre os grupos para EEB, TUGT e passos/48 horas média ± SD Grupo Parkinson Grupo Controle p-valor EEB 50,5 ± 2,7 54,5 ± 1,4 0,001* TUGT 14,6 ± 8,1 9,1 ± 1,0 0,002* 18.703 ± 8.596 19.915 ± 10.561 0,273 Passos/ 48 horas * Indica diferença significante (p < 0,05), EEB (Escala de Equilíbrio de Berg), TUGT (Timed Up and Go Test). Tabela 2. Correlação entre os testes para o grupo Parkinson r p-valor EEB x passos/48 horas 0,7 0,027* TUGT x passos/48 horas -0,4 0,25 * Indica diferença significante (p < 0,05), EEB (Escala de Equilíbrio de Berg), TUGT (Timed Up and Go Test). DISCUSSÃO Segundo a classificação de HY, os indivíduos avaliados neste estudo apresentam incapacidade de leve a moderada (estágios I a III do HY). Apesar de serem indivíduos não tão gravemente acometidos pela enfermidade, percebe-se que os valores obtidos na EEB e no TUGT são capazes de diferenciar esses indiví­ duos dos indivíduos do grupo controle, uma vez que a pontuação da EEB para os indivíduos do grupo Parkinson foi 50,5 ± 2,7 e, para o grupo controle, foi de 54,5 ± 1,4; e, em relação ao TUGT, os valores foram 14,6 ± 8,1s e 9,1 ± 1,0s para os grupos Parkinson e controle respectivamente. Resultados similares foram obtidos por Brusse et al.24, que avaliaram indivíduos parkinsonianos com HY variando entre 1 e 4 e observaram pontuação na EEB de 46,0 ± 7,0 e no TUGT um tempo de 14,8 ± 5,8s; neste estudo não houve comparação com grupo controle e não foi relatado se os indivíduos estavam sendo tratados com fisioterapia. Outro estudo que utilizou a EEB e o TUGT concluiu que, em indivíduos parkinsonianos com HY igual ou superior a II, é possível notar diferença nas pontuações em relação a indivíduos clinicamente normais, sendo então esses testes bons preditores de equilíbrio e marcha25. Além disso, este estudo mostrou que o risco de quedas pode estar associado ao déficit cognitivo, devendo os exercícios incluir, além de estimulação motora, estimulação cognitiva. Sabe-se que, à medida que a doença progride, ocorre comprometimento da coordenação motora e o Equilíbrio e marcha na doença de Parkinson indivíduo diminui suas AVDs desencadeando atrofia muscular. Com o exercício, o aumento da mobilidade pode de fato prevenir contraturas, aumentar a amplitude de movimento e permitir a socialização, já que o sedentarismo leva ao isolamento e consequentemente facilita estados depressivos26 acompanhado da própria evolução da doença, cuja condição debilitante e progressiva é preocupante por causa da perda motora, que leva à deterioração da qualidade de vida dos pacientes e, nos estágios mais avançados, à exclusão social27. Os exercícios não impedem a progressão da doença, mas mantêm um estado de funcionamento muscular e osteoarticular convenientes28. Um dos exercícios mais estimulados a serem praticados por idosos é a caminhada. Segundo estudos, 10.000 passos/dia parecem ser uma estimativa razoável da atividade diária para adultos aparentemente saudáveis, e esse número de passos tem sido documentado como benéfico para a saúde29. Com base nesses dados, consideramos conveniente mensurar a quantidade de passos realizada pelos pacientes avaliados neste estudo. Durante as 48 horas de avaliação, não foi possível notar diferenças entre os grupos; os indivíduos do grupo Parkinson realizaram em média 18.703 ± 8.596 passos/48 horas, enquanto os indivíduos do grupo controle realizaram 19.915 ± 10.561 passos/48 horas. Dessa maneira, apesar de serem indivíduos com comprometimento visíveis no equilíbrio e na mobilidade, confirmados pela EEB e TUGT, respectivamente, esses indivíduos não apresentaram alteração no número de passos. Ou seja, o déficit de equilíbrio e a mobilidade para a execução da marcha nesses indivíduos não os incapacitaram para executar esse gesto motor. O estudo de Busse et al.21 mostrou que existe um déficit no número de passos quando indivíduos parkinsonianos (3.600 ± 1.282) foram comparados a indivíduos clinicamente normais (6.374 ± 1.819); porém, neste estudo não é especificado se os indivíduos realizavam fisioterapia, bem como não são separados segundo o estágio de evolução da doença pelo HY. Deve-se salientar, ainda, que o número notavelmente menor de passos observado em ambos os grupos em relação à nossa pesquisa deve-se ao fato de esses autores instalaram o pedômetro no tornozelo direito dos indivíduos, computando, assim, apenas os passos realizados pelo membro inferior direito e durante 24 horas, enquanto em nosso estudo foram computados os passos de ambos os membros em 48 horas. Tendo em vista que 10.000 passos diários são recomendados para indivíduos clinicamente saudáveis, podemos observar que os pacientes com DP avaliados neste estudo atendem a essa expectativa. Assim, 89 o objetivo terapêutico vem sendo cumprido, uma vez que garantiu não apenas a independência desses indivíduos durante a caminhada, como também garantiu que essa caminhada ocorresse na quantidade que vem sendo recomendada para os cuidados à saúde. Sugere-se, então, que o exercício terapêutico poderia auxiliar na manutenção da caminhada como AVD nos indivíduos com DP. Entende-se que a ausência de avaliações quanto ao número de passos de indivíduos com DP fora de programas de tratamento fisioterapêutico é uma limitação deste estudo, sendo necessárias pesquisas nesta área que avaliem parkinsonianos sedentários e não tratados por fisioterapia, para permitir comparações com indivíduos parkinsonianos ativos. Pela análise de correlação entre os testes, nota-se que mobilidade (TUGT) e número de passos não se apresentam fortemente correlacionados (r = -0,4, p = 0,25). Dessa maneira, esses indivíduos parecem apresentar lentidão nos movimentos, mas que não os impede de executar as AVDs que envolvem a marcha. Já o equilíbrio mensurado pela EEB correlaciona-se fortemente com o número de passos executado por esses indivíduos (r = 0,7, p = 0,027). Assim, quanto maior o equilíbrio, maior a mobilidade. Os sujeitos aqui avaliados apresentam uma média de pontuação da EEB de 50,5, o que os classifica como independentes30; por isso, não houve diferença no número de passos com relação aos sujeitos do grupo controle. Porém, a forte correlação do número de passos com a EEB sugere que, se esses indivíduos evoluírem com déficits cada vez maiores de equilíbrio, isso provavelmente acarretará no déficit de mobilidade. Nesse contexto, um dos focos da terapia no parkinsoniano poderia ser a manutenção do equilíbrio visando à manutenção de sua mobilidade e independência funcional. Em conclusão, pela avaliação do equilíbrio e da marcha, podemos considerar que indivíduos com DP apresentam déficit no equilíbrio e na agilidade da marcha, entretanto essas deficiências parecem não interferir na independência da marcha, uma vez que os indivíduos com DP apresentaram número de passos similar ao grupo controle durante o período de avaliação. Como os voluntários avaliados neste estudo estavam em tratamento fisioterapêutico, sugerimos que o tratamento medicamentoso deva ser associado à fisioterapia para garantir a independência funcional, afastando o máximo possível as complicações relacionadas aos déficits motores. Novos estudos, com delineamento do tipo experimental e com maior número de indivíduos, são recomendados para avaliar melhor as hipóteses suscitadas neste estudo. 90 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):86-90 REFERÊNCIAS 1. Santos VV, Leite MAA, Silveira R, Antoniolli R, Nascimento OJM, Freitas MRG. Fisioterapia na doença de Parkinson: uma breve revisão. 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Measuring balance in the elderly: validation of an instrument. Can J Public Health. 1992;83(S2):7-11. ARTIGO ORIGINAL Custo e tempo de permanência hospitalar de idosos residentes em Recife - PE Costs and length of stay of hospitalization for elderly residents in Recife - PE Simone Morosini1, Ana Paula de Oliveira Marques2, Márcia Carréra Campos Leal2, Jacira Guiro Marino2, Hugo Moura de Albuquerque Melo3 Recebido em 10/6/11 Aceito em 30/7/11 Baseado na dissertação de Mestrado em Saúde Coletiva “Perfil de internações hospitalares em idosos residentes no município do Recife/ PE”, apresentada ao Programa Integrado de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Departamento de Medicina Social da UPE, por Simone Morosini. 1 Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE). 2 Departamento de Medicina Social da UPE. 3 Hospital Metropolitano Sul Dom Helder Câmara. RESUMO Objetivo: Descrever a distribuição das internações hospitalares, no Sistema Único de Saúde (SUS), de idosos residentes no Recife, por custo e tempo de permanência hospitalar, segundo sexo, idade e principais causas, de 1998 a 2005. Métodos: Estudo descritivo e transversal, com dados do Sistema de Internações Hospitalares do SUS (SIH), sendo analisadas as Autorizações de Internações Hospitalares (AIHs), destinadas aos idosos (60 anos e mais), no período investigado. Foram estudados: sexo; idade e diagnóstico primário (variáveis independentes) e tempo de permanência hospitalar e custo da internação (dependentes). Para análise estatística, foram utilizados o teste do qui-quadrado de Pearson e regressão linear. Resultados: Foram descritas 137.546 internações hospitalares com valor total de R$ 101.019.926,20, em todo o período do estudo. Desse total, R$ 49.661.829,38 foram destinados para o sexo masculino (49,2%) e R$ 51.358.096,77, para o feminino (50,8%). A razão entre a proporção de recursos pagos às internações hospitalares e o tamanho proporcional da população aumenta gradativamente com a idade. O tempo e o custo médio de internação hospitalar decrescem com o aumento da idade. Do total gasto, 70,6% foram para as doenças do aparelho circulatório, transtornos mentais, doenças do aparelho respiratório, doenças do aparelho digestivo e neoplasias, com custo total de R$ 71.480.950,14. O tempo médio das internações foi maior para os transtornos mentais e comportamentais. Conclusão: O conhecimento do perfil de internações mostra-se importante para o planejamento e a avaliação das ações de saúde, o que reforça a necessidade de atividades de prevenção e promoção ao longo da vida. Palavras-chave: Envelhecimento, idoso, morbidade, internação hospitalar. ABSTRACT Objective: To describe the distribution of hospitalizations in the Unified Health System (SUS) of elderly in Recife, with respect to cost and length of hospitalization, according to gender, age and major causes from 1998 to 2005. Methods: A study of descriptive and cross-sectional nature were performed, using data obtained from the Bank of the Hospitalization System of the SUS, focusing on the analysis of Hospitalization Authorizations (AIHs) issued for elderly patients (aged 60 and over) in the referred period. Gender, age and primary diagnosis were studied as independent variables while cost and length of hospitalization were the dependent variables. The statistical analysis were performed by means of Pearson’s chi-square test and linear regression. Results: A total number of 137,546 hospitalizations with cost of R$ 101,019,926.20 have been described throughout the study period. Of this total, R$ 49,661,829.38 was allocated for males (49.2%) and R$ 51,358,096.77 for females (50.8%). The ratio between the proportion of funds paid for hospitalizations and the proportional size of the population increases gradually with age for both sexes. The average cost and length of hospitalization decrease with increasing age. 70.6% of total expenditures (R$ 71,480,950.14) were for circulatory diseases, mental disorders, respiratory diseases, digestive Endereço para correspondência: Simone Morosini • Rua Cônego Romeu, 161/2602, Boa Viagem – 51030-340 – Recife, PE • Telefone: (81) 9963-1322/3461-3826 • Telefax: (81) 3183-3529 • E-mail: [email protected] 92 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):91-8 tract, and neoplasms. The mean length of hospitalization was longer for the mental and behavioral disorders. Conclusion: Knowing the profile of hospitalizations has shown to be very important for monitoring and evaluating the health care system and the outcome of this study reinforces the need for implementing prevention activities and health programs throughout the life course. Keywords: Aging, elderly, morbidity, hospitalization. INTRODUÇÃO O envelhecimento populacional, fenômeno inicialmente observado em países desenvolvidos, hoje se apresenta de forma mais intensa nos países em desenvolvimento, com aumento considerável de pessoas idosas. No Brasil, de acordo com dados do Censo do IBGE de 20101, estima-se que a população com idade equivalente ou superior a 60 anos situa-se em torno de 10,9% dos atuais 190.732.694 habitantes1. No Recife, a proporção de idosos confere à cidade a referência de terceira capital mais envelhecida do país, representando 10,1% da população total do município2. O processo de envelhecimento, associado a mudanças biológicas, resulta em demanda crescente por serviços de saúde, com internações hospitalares mais frequentes e tempo de permanência maior quando comparado a outras faixas de idade3-6. As doenças crônicas, típicas dos mais velhos, são as principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade em todas as regiões do mundo, inclusive nos países em desenvolvimento7. Nos Estados Unidos da América, em 1996, as pessoas com mais de 65 anos representavam 13% da população total e esse grupo foi responsável por 38% do total de internações hospitalares e por 48% de internações em hospitais de curta permanência8. Em estudo realizado no mesmo país em 1999, as taxas de hospitalizações aumentaram com a idade, bem como o número de condições crônicas. Os indivíduos que apresentavam uma ou mais condições crônicas (82%) eram responsáveis por 99% dos gastos com saúde9. No Brasil, para o ano de 2005, foram destinados R$ 1.794.798.747,00 (representando 27,8% do total gasto) com internações de idosos (8,4% da população brasileira), com tempo de permanência e valor médio das Autorizações de Internação Hospitalares maior em relação às demais faixas de idade10. Por meio de dados nacionais do Datasus, inferiu-se que aproximadamente 11,7% dos idosos foram hospitalizados em 2008, sendo essa estimativa incrementada pelo avanço da idade (9,7%, 14,5% e 20%, respectivamente, dos idosos com idade de 60-69, 7079 e ≥ 80 anos)11. O envelhecimento populacional caracterizado por um quadro de enfermidades complexas e onerosas, próprias das faixas mais avançadas, estimula a uma discussão acerca dos custos destinados a essa parcela da população. O Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS) permite determinar o perfil de hospitalizações da população idosa assistida no Sistema Único de Saúde, bem como custos correspondentes, complementando as informações epidemiológicas fundamentais para o planejamento da atenção à saúde. O objetivo deste estudo é descrever a distribuição das internações hospitalares no SUS de idosos residentes no Recife, por custo e tempo de permanência hospitalar, segundo sexo, idade e principais causas entre 1998 e 2005. MÉTODO Trata-se de estudo de natureza descritiva de corte transversal, tendo sido analisadas as internações ocorridas em pacientes com idade equivalente ou superior a 60 anos, residentes no município do Recife, ocorridas nos hospitais próprios e conveniados ao SUS, no período de 1998 a 2005. A coleta de informações se processou nas bases de dados do SIH/SUS, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, por meio do Datasus, utilizando-se dados referentes às Autorizações de Internações Hospitalares (AIH), incluídas apenas as AIH do tipo 1, emitidas no início da internação10. A população residente no município do Recife, para cada ano do estudo, foi obtida mediante estimativas populacionais realizadas pelo Datasus2. As variáveis independentes estudadas foram: sexo; faixa etária; diagnóstico primário, agregado às categorias e subcategorias dos capítulos da Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID-10)12 e, como variáveis dependentes: tempo de permanência hospitalar, em dias, e custo da hospitalização, em real. Foi calculada a razão entre a proporção de custo e o tamanho proporcional da população, por faixa etária. 93 Custo de hospitalização de idosos Para testar a hipótese de independência entre as variáveis, o teste utilizado foi o qui-quadrado de Pear­ son. A regressão linear foi efetuada para análise do custo/sexo e custo/faixa etária. Nessa etapa, foram utilizados os programas Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows, versão 13.0, e uma versão demo do XLSTAT-Pro. RESULTADOS O número total de internações em idosos (60 anos e mais), registrado em unidades hospitalares no âmbito do SUS, entre 1998 e 2005, foi de 137.546 internações. Dessas, 66.730 (48,5%) ocorreram em pessoas do sexo masculino e 70.816 (51,5%) em pessoas do sexo feminino. O valor total dos gastos em todo o período analisado correspondeu a R$ 101.019.926,20. Desse total, foram destinados para o sexo masculino R$ 49.661.829,38 (49,2%) e, para o sexo feminino, R$ 51.358.096,77 (50,8%). A tabela 1 apresenta comparativo entre o ano de 1998 e 2005, com a distribuição da população por faixa etária, recursos pagos e a razão custo/habitan- te. Verifica-se que, apesar de os recursos pagos se concentrarem na população de 15 a 59 anos, maior contingente populacional, a razão entre a proporção de recursos pagos para as internações hospitalares e o tamanho proporcional da população aumenta gradativamente com a idade nos dois anos. Há também incremento de 21,5%, nessa razão, quando comparados 1998 e 2005, nas internações de idosos. Quanto ao valor total gasto, houve incremento de R$ 11.665.909,11 quando comparados os dois anos, o que representou aumento de 143,1%. Na tabela 2, pode ser observado que, tanto em números absolutos quanto relativos, há diminuição nos internamentos e no valor gasto, com o aumento da idade da população, para os anos de 1998, 2005 e quando considerado todo o período do estudo, para ambos os sexos. O valor médio das internações correspondeu a R$ 786,74, em todo o período, sendo verificado acréscimo de R$ 588,35 nesse valor, representando 113,4% de aumento, quando comparados os anos de 1998 e 2005. Em relação ao sexo, o custo médio é maior no masculino, em todas as faixas de idade, com exceção apenas no ano de 1998, dos 70 aos 79 anos. Tabela 1. Distribuição da população, recursos pagos em internações e razão custo/habitante, segundo faixa etária (Recife, 1998 e 2005) População Faixa etária Recursos pagos Nº % Valor % Razão Custo/ habitante 0-14 382.583 28,0 7.703.895,75 18,1 0,6 1998 15-59 864.342 63,4 26.756.479,62 62,8 1,0 60-69 66.678 4,9 3.720.348,04 8,7 1,8 70-79 36.463 2,7 3.003.518,33 7,0 2,6 80 ou + 13.857 1,0 1.429.183,73 3,4 3,4 Total 1.363.923 100,0 42.613.425,47 100,0 -- 60 e + 116.998 8,6 8.153.050,10 19,1 2,2 0-14 392.673 26,2 14.656.136,64 17,2 0,6 2005 15-59 967.475 64,5 50.804.423,22 59,6 0,9 60-69 76.583 5,1 9.009.821,13 10,6 2,1 70-79 45.854 3,0 6.859.793,69 8,0 2,7 80 ou + 18.425 1,2 3.949.344,41 4,6 3,8 Total 1.501.010 100,0 85.279.519,09 100,0 -- 60 e + 140.862 9,4 19.818.959,23 23,2 2,5 Fonte: Ministério da Saúde, Datasus (2006). 94 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):91-8 Tabela 2. Distribuição dos internamentos de idosos no Recife, valor total e médio por sexo e faixa etária (1998 a 2005) Faixa etária/ sexo Internamentos Nº Valor total internamentos % Nº % Valor médio 1998 Homens 60-69 3.702 22,3 1.949.094,34 24,0 530,94 70-79 3.001 18,1 1.449.818,94 17,8 479,12 80 ou + 1.258 7,6 577.635,76 7,1 456,99 Total 7.961 48,0 3.976.549,04 48,9 499,50 60-69 3.616 21,8 1.771.253,70 21,7 490,65 70-79 3.094 18,6 1.553.699,39 19,0 503,47 80 ou + 1.925 11,6 851.547,97 10,4 446,54 Total 8.635 52,0 4.176.501,06 51,1 485,47 60-69 7.318 44,1 3.720.348,04 45,7 510,97 70-79 6.095 36,7 3.003.518,33 36,8 491,41 Mulheres Idosos 80 ou + 3.183 19,2 1.429.183,73 17,5 450,70 Total 16.596 100,0 8.153.050,10 100,0 492,22 60-69 4.786 23,3 4.810.335,97 24,3 1.139,62 70-79 3.400 17,1 3.445.091,95 17,4 1.073,57 80 ou + 1.907 8,2 1.727.564,79 8,7 948,69 Total 10.093 48,6 9.982.992,71 50,4 1.079,13 60-69 4.344 21,9 4.199.485,16 21,2 1.059,41 70-79 3.425 17,7 3.414.701,74 17,2 1.027,91 80 ou + 2.387 11,8 2.221.779,62 11,2 954,37 Total 10.156 51,4 9.835.966,52 49,6 1.023,09 60-69 9.130 45,2 9.009.821,13 45,5 1.100,77 70-79 6.825 34,8 6.859.793,69 34,6 1.050,34 80 ou + 4.294 20,0 3.949.344,41 19,9 951,88 Total 20.249 100,0 19.818.959,23 100,0 1.050,57 60-69 31.992 23,3 24.791.582,13 24,6 882,26 70-79 23.454 17,1 16.948.285,90 16,8 758,08 2005 Homens Mulheres 1998-2005 Homens 80 ou + 11.284 8,2 7.921.961,35 7,8 726,05 Total 66.730 48,6 46.661.829,38 49,2 809,25 30.194 21,9 22.363.243,25 22,1 810,82 Mulheres 60-69 Fonte: Ministério da Saúde, Datasus (2006). 95 Custo de hospitalização de idosos R$ 71.480.950,14 (70,6%) para esses cinco grupos de causas, considerando todos os anos analisados. O incremento percentual, quando comparados os anos de 1998 e 2005, demonstra que as neoplasias tiveram a maior expansão de recursos financeiros, seguidas das doenças do aparelho circulatório e respiratório. Os transtornos mentais e comportamentais, que tiveram o menor percentual, praticamente dobraram no aporte de recursos (Tabela 3). O grupo de causas (CID-10) com o maior custo médio (em real), em todo o período, correspondeu às doenças do aparelho circulatório, seguidas pelas neoplasias. Para efeito de regressão linear, considerando o sexo masculino, foi utilizada a equação segundo o modelo: Masculino = -143430,536031647 + 72,0248665131812*ano, com o coeficiente de correlação (R²) igual a 0,972, observando-se aumento anual de R$ 72,02 no valor de cada internação, para o sexo masculino. Quando considerado o sexo feminino, foi utilizada a equação segundo o modelo: Feminino = -144194,765256776 + 72,3991737922942*ano, com o R² igual a 0,966, observando-se aumento anual de R$ 72,40 no valor de cada internação, para o sexo feminino. Na tabela 4, observa-se que o tempo médio de internação hospitalar decresce com o aumento da idade. Porém, verifica-se aumento do tempo de permanência em todas as faixas etárias, de 1998 a 2005. Considerando-se o início e o final do estudo, para todas as faixas de idade, o tempo médio de permanência hospitalar tem 23% de aumento, passando de 8,7 para 10,7 dias. Quanto ao valor total destinado aos internamentos dos idosos, no período do estudo, observa-se que 35,1% do total dos recursos foram destinados às doenças do aparelho circulatório, seguidas pelos transtornos mentais (10,5%), doenças do aparelho respiratório (9,5%), doenças do aparelho digestivo (8,6%) e neoplasias (7,0%), com custo total de Tabela 3. Valor total do gasto em internações hospitalares (em reais) em idosos no município do Recife (1998 a 2005) Ano % de aumento (1998/2005) Grupo de causas (CID-10) Aparelho circulatório Transtornos mentais Aparelho respiratório Aparelho digestivo Neoplasias Total por todos os grupos de causas 1998 2.685.564,95 675.339,52 859.833,91 678.883,29 497.050,00 8.153.050,10 1999 3.097.646,45 1.224.383,68 913.061,42 890.426,64 458.774,34 9.932.854,09 2000 3.506.152,06 1.413.111,98 977.299,56 878.437,23 496.005,03 10.697.829,64 2001 3.927.055,31 1.477.759,84 1.019.782,12 941.919,43 571.384,07 11.624.586,54 2002 3.925.120,59 1.532.963,06 1.145.635,06 1.151.412,54 981.254,01 11.922.273,97 2003 5.104.554,27 1.535.739,36 1.113.005,18 1.135.815,92 1.284.382,09 13.830.467,80 2004 5.815.328,18 1.464.562,05 1.431.868,35 1.184.068,17 1.183.145,29 15.039.904,78 2005 7.418.508,00 1.341.341,28 2118.296,14 1.797.735,10 1.626.344,67 19.818.959,23 Total 35.479.929,81 10.665.200,77 9578.781,74 8.658.698,32 7.098.339,5 101.019.926,20 176,2% 98,6% 146,8% 164,8% 227,2% 143,1% Aumento (1998/2005) Fonte: Ministério da Saúde, Datasus (2006). Tabela 4. Tempo médio de permanência hospitalar (em dias), segundo faixa etária, dos idosos no Recife (1998 a 2005) Faixa Etária Ano Total 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 60 a 69 9,5 12,3 13,4 13,3 14,5 14,2 14,0 12,2 12,9 70 a 79 8,1 9,4 10,1 10,1 10,8 10,8 10,9 10,0 10,0 80 e mais 7,7 8,9 9,1 9,1 9,3 9,3 9,0 8,9 8,9 Total 8,7 10,6 11,4 11,3 12,1 11,9 11,8 10,7 11,0 Fonte: Ministério da Saúde, Datasus (2006). 96 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):91-8 Tabela 5. Tempo médio de internações hospitalares (em dias), segundo grupo de causas (CID-10) e sexo, dos idosos no Recife (1998 a 2005) Sexo Grupo de causas Total Masc. Fem. Transtornos mentais e comportamentais 106,1 95,3 101,2 Contatos com serviços de saúde 15,5 16,0 15,8 Doenças do sistema nervoso 11,5 10,4 11,0 Algumas doenças infecciosas e parasitárias 12,4 9,5 10,9 Doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo 11,0 10,5 10,7 Doenças do sangue, órgãos hematopoiéticos e transtornos imunitários 10,4 9 9,6 Doenças do aparelho circulatório 9,6 9,3 9,4 Neoplasias (tumores) 9,6 8,6 9,0 Causas externas de morbidade e mortalidade 9,2 8,7 9,0 Doenças do aparelho respiratório 8,9 8,7 8,8 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas 8,8 8,1 8,4 Doenças da pele e do tecido subcutâneo 7,8 8,1 8,0 Lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas 7,2 6,0 6,7 Total 11,8 10,3 11,0 Fonte: Ministério da Saúde, Datasus (2006). DISCUSSÃO Ao se trabalhar com dados secundários, pode-se incorrer em erros, pelo não controle no registro das variá­ veis em estudo. Além disso, o SIH/SUS é um sistema que surge dentro da lógica de pagamento da atenção hospitalar, apresentando limitações inerentes a um banco de dados administrativos. Não é um sistema universal, registrando apenas as internações realizadas no âmbito do SUS e há eventual dupla ou tripla contagem de um mesmo paciente, em razão de o sistema não identificar reinternações e transferências de outros hospitais13,14. Porém, é de abrangência nacional, com a vantagem de oferecer informações demográficas, geográficas e diagnósticas, para cada internação hospitalar, ampliando a possibilidade de produção de conhecimento no campo da saúde coletiva15. Na comparação, entre as faixas etárias mais jovens e de idosos, da razão entre a proporção de custo e o tamanho proporcional da população, observou-se que essa aumenta com a idade. De acordo com outros estudos, há pelo menos três motivos de as pessoas idosas terem perfil de morbidade mais dispendioso: a morbidade prevalente nessas faixas etárias é mais cara; as taxas de internação em faixas etárias mais avançadas são mais elevadas; e o custo médio de internações de pessoas idosas é maior do que em faixas mais jovens16,9. Já quando a análise passa a ser apenas das faixas etárias correspondentes aos idosos, o número de internações decresce, à medida que aumenta a faixa etária da população idosa, o que corresponde ao esperado, já que o contingente populacional é menor nas faixas etárias mais elevadas. Em 2005, a população idosa do Recife correspondeu a 1.402.862 habitantes. Os idosos de 60 a 69 anos representaram 54,4% dessa população, os de 70 a 79 anos, 32,5% e os de 80 anos e mais, 13,1%2. Em relação ao valor médio de cada internação, esse também decresce à medida que evolui a idade, corroborando outros estudos5,6,17. Uma provável explicação para essa queda de custos é a redução da eficácia de certos procedimentos mais onerosos para os grupos etários de idade mais avançada. Esses grupos, provavelmente, responderiam qualitativamente menos, pois possuem condição de saúde mais frágil18. Isso pode ser explicado também pelo fato de que as internações de maior custo, como as doenças isquêmicas do coração19, que representam, neste estudo, 21,2% das internações do aparelho circulatório, ocorrem nas faixas mais jovens. As neoplasias, como segundo maior custo médio de internação, também diminuem com o avançar da idade. O mesmo acontece com o tempo médio de permanência hospitalar, que diminui com o aumento Custo de hospitalização de idosos da idade. Esse fato pode ser explicado pela sobrevida menor com o avançar da idade e pela cronicidade das patologias que acompanham a pessoa mais idosa. Como o SIH/SUS tem como finalidade o pagamento de AIHs, pode haver tendência de alta precoce com relação às doenças crônicas dos mais idosos, já que seu custo é menor. Como consequência, esses idosos internam-se com mais frequência e, a cada internação, há um novo registro, já que o SIH/SUS não detecta reinternações. O incremento no valor médio das internações hospitalares referentes aos anos de estudo, quando comparados 1998 e 2005, e o aumento em todos os valores médios de hospitalização, nas diversas faixas de idade estudadas, sugerem que o aumento da proporção de idosos na população eleva os custos com assistência hospitalar. Em relação ao valor total destinado aos internamentos dos idosos, no período do estudo, observa-se que 70,6% do total dos recursos foram destinados às doenças do aparelho circulatório, aos transtornos mentais, às doenças do aparelho respiratório, às doenças do aparelho digestivo e às neoplasias. Com o envelhecimento populacional, o perfil de mortalidade típico de uma população jovem passa para um quadro caracterizado por enfermidades complexas e onerosas, próprias das faixas etárias mais avançadas7. As doenças crônicas, típicas dos mais velhos, transformam-se nas principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade em todas as regiões do mundo, inclusive nos países em desenvolvimento, e requerem cuidados continuados e custosos4,20, fato que pode explicar esses gastos, já que o envelhecimento populacional e a incorporação de modernas tecnologias nas práticas de saúde incrementam os custos com assistência hospitalar. Os resultados da presente investigação reforçam a necessidade de adotar atividades de prevenção e de promoção à saúde. Os esforços devem ser concentrados na mudança do estilo de vida da população, com a disseminação de informações sobre os benefícios decorrentes de hábitos de vida mais saudáveis, levando à melhor qualidade de vida da população idosa, destacando-se a sua importância também para as faixas de idade que antecedem a velhice, visando ao envelhecimento ativo. Ressalta-se, nesse contexto, a expansão do Programa Saúde da Família e do Programa Agentes Comunitários de Saúde, no Brasil, responsável por importante redução nas taxas de internação hospitalar por condições sensíveis à atenção primária à saúde21. Apesar da relevância do trabalho, que pode servir de referência para estudos comparativos não só em 97 âmbito local, mas extrapolados para outros municípios deste e de outros estados, os resultados apontam para a necessidade de estudos adicionais aplicando metodologia mais refinada, que contribuam para o aprimoramento do conhecimento acerca da morbidade em pessoas idosas. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver. REFERÊNCIAS 1. IBGE. Resultados do Censo 2010 [on-line]. Disponível em: <http:// www.censo2010.ibge.gov.br/resultados_do_censo2010.php>. Acesso: 30 jan. 2011. 2. Datasus. Informações de Saúde. Demográficas e socioeconômicas [on-line]. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/ deftohtm.exe?ibge/cnv/poppe.def>. Acesso em: 12 fev. 2010. 3. Amaral ACS, Coeli CM, Costa MCE, Cardoso VS, Toledo ALA, Fernandes CR. Perfil de morbidade e de mortalidade de pacientes idosos hospitalizados. Cad Saude Publica. 2004;20(6):1617-26. 4. Carmo EH, Barreto ML, Da Silva Jr JB. Mudanças nos padrões de morbimortalidade da população brasileira: os desafios para um novo século. Epidemiol Serv Saúde. 2003;12(2):63-75. 5. Lima-Costa MF, Barreto SM, Giatti L. Condições de saúde, capacidade funcional, uso de serviços de saúde e gastos em medicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo baseado na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios. Cad Saude Publica. 2003;19(3):735-43. 6. Loyola-Filho AI, Matos DL, Giatti L, Afradique ME, Peixoto SV, Lima-Costa MFL. Causas de internações hospitalares entre idosos brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde. Epidemiol Serv Saúde. 2004;13(4):229-38. 7. Gordilho A, Nascimento JS, Silvestre J, Ramos LR, Freire MPA, Espindola N, et al. Desafios a serem enfrentados no terceiro milênio pelo setor de saúde na atenção integral ao idoso. Rio de Janeiro: Universidade Aberta da Terceira Idade/Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2000. 8. Desai MM, Zhang P, Hennessy CH. Surveillance for morbidity and mortality among older adults – United States, 1995-1996. Surveill Summ. 1999;48:7-25. 9. Wolff JL, Starfield B, Anderson G. Prevalence, expenditures and complications of multiple chronic conditions in the elderly. Arch Surveill Inter Med. 2002;162:2269-76. 10. Datasus. Informações de Saúde. Morbidade [on-line]. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sih/cnv/ mrpe.def>. Acesso em: 1 jun. 2006. 11. Duca GFD, Nader GA, Santos IS, Hallal PC. Hospitalização e fatores associados entre residentes de instituições de longa permanência para idosos. Cad Saude Publica. 2010;26(7):1403-10. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-311X2010000700019&lng=en>. Acesso em: 30 jan. 2011. 12. Datasus. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID-10 [on-line]. Disponível 98 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):91-8 em: <http://www.datasus.gov.br/cid10/v2008/cid10.htm> Acesso em: 2 jun 2008. 13. Gonçalves FANI. Infarto agudo do miocárdio em idosos: morbimortalidade e indicadores de desempenho dos serviços hospitalares no Brasil [dissertação]. 2005. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2005. 14. Datasus. Manual Técnico Operacional do Sistema de Informação Hospitalar [on-line]. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/Manual_SIH_junho_2009.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2009. 15. Peixoto SV, Giatti L, Afradique ME, Lima-Costa MF. Custo das internações hospitalares entre idosos no âmbito do Sistema Único de Saúde. Epidemiol Serv Saúde. 2004;13(4):229-38. 16. Glennerste RH, Matsaganis M. The English and Swedish care reforms. Int J Health Serv. 1994;24(2):231-51. 17. Rubio VO. La economia en sanidad y medicina: instrumentos y limitaciones. Barcelona: Euge; 1990. 18. Nunes A. O envelhecimento populacional e as despesas do Sistema Único de Saúde. In: Camarano AA. Os novos idosos brasileiros: muito além dos 60? Rio de Janeiro: IPEA; 2004. p. 1-24. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/idososalem60/Arq_21_Cap_13.pdf>. Acesso em: 28 set. 2009. 19. Laurenti R, Buchalla CM, Caratin CVS. Doença isquêmica do coração. internações, tempo de permanência e gastos. Brasil, 1993 a 1997. Arq Bras Cardiol. 2000;74(6):483-7. 20. OMS. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília, Organização Pan-Americana de Saúde; 2005. 21. Alfradique ME, Bonolo PF, Dourado I, Lima-Costa MF, Macinko J, Mendonça CS, et al. Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP – Brasil). Cad Saude Publica. 2009;25:1337-49. ARTIGO ESPECIAL: CULTURA E GERONTOLOGIA Análise dos aspectos gerontológicos na canção “Filho adotivo” Gerontologic aspects analyze in the song “Foster child” Hudson Azevedo Pinheiro1, Altair Macedo Lahud Loureiro2 Recebido em 9/3/11 Aceito em 9/7/11 RESUMO A gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento, levando em consideração aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Trata-se de um processo dinâmico e individual. A canção “Filho adotivo”, um clássico da música sertaneja interpretado por Sérgio Reis, revela inúmeros aspectos sobre o envelhecimento; a família e suas relações, desde o criar e educar os filhos até responsabilidade empírica de esses filhos cuidarem de seus pais quando idosos. Questões como asilamento, violência, avosidade, ressignificação e espiritualidade também são abordadas nessa música. A música sertaneja é extremamente popular, com grande identidade da população brasileira, e o seu uso como instrumento de comunicação e informação pode auxiliar na quebra de tabus e na reflexão crítica sobre o envelhecer, que a cada dia está mais presente em nossa população. Palavras-chave: Gerontologia, envelhecimento, música sertaneja, família. ABSTRACT Gerontology is the elderly’s study that includes the relation between biological, psychological and social aspects. It’s a dynamic e personal process. The song “foster child” is a classic regional Brazilian song that shows a lot of aspects about elderly; the family and her relationships since of children education until their responsibility to take care of the parents when they became older. Themes like violence, asylum, to be father in law and others will be discuss in this song. The regional Brazilian song is so popular and it can be used to get information and paradigms changes in the society Keywords: Gerontology, elderly, regional Brazilian song, family. 1 Universidade Católica de Brasília (UCB). 2 Universidade de São Paulo (USP), UCB. Endereço para correspondência: Hudson Azevedo Pinheiro • QNC 04, chácara 2, casa 89, Taguatinga – 72115-540 – Brasília, DF • E-mail: [email protected] 100 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):99-105 INTRODUÇÃO O termo “música sertaneja” designa um gênero surgido da moda de viola rural, nos anos de 1920, que até hoje conserva a tradição do canto com duas vozes, a segunda delas uma terça acima da principal, que é chamada primeira voz, e é composta por modas, toadas, cateretês, chulas, emboladas e batuques, com o uso de violas caipiras e acordeons para evocar a paisagem bucólica do campo, da vida e da gente simples do interior, particularmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste brasileiras¹. Na criação musical, o tempo de vida e de experiência se transpõe para a realidade existencial como uma capacidade de acordar a estética do homem e exalá-la para um externo a ser conhecido; logo, a letra de uma música pode acordar como poesia, prosa, versos aleatórios e soltos, mas pode vir da construção história vivida por esse compositor que relata o objeto observado no próprio meio2. A música nos permite buscar novas formas de nos compreender, tendo em vista que uma canção transborda o significado meramente estético e carrega consigo a possibilidade de ser tomada como símbolo, indo além do fenômeno físico-sonoro e sendo incorporada, como imagem, ao conjunto de representações que abastecem determinado imaginário social e consagra a história e a identidade de uma nação3. A canção “Filho adotivo” é um clássico da música sertaneja brasileira, composta por Sebastião Ferreira da Silva e Arthur Moreira e interpretada por Sérgio Reis em seu disco Boiadeiro Errante (1981), que conta a história de um homem simples e trabalhador que tinha sete filhos pequenos para criar, sendo um deles adotivo. Essa canção nos faz refletir sobre conceitos sociológicos e biológicos relacionados ao envelhecer, além de conquistas e problema geralmente observados nessa população. O objetivo deste trabalho foi analisar os conceitos gerontológicos na canção “Filho adotivo” por meio de uma análise qualitativa dos versos e estrofes da canção, comentando os aspectos nela existentes. ANÁLISE DA CANÇÃO “Com sacrifício Eu criei meus sete filhos Do meu sangue eram seis E um peguei com quase um mês Fui viajante Fui roceiro, fui andante E pra alimentar meus filhos Não comi pra mais de vez... Sete crianças Sete bocas inocentes Muito pobres, mas contentes Não deixei nada faltar Foram crescendo Foi ficando mais difícil Trabalhei de sol a sol Mas eles tinham que estudar... Meu sofrimento Ah! Meu Deus, valeu a pena Quantas lágrimas chorei Mas tudo foi com muito amor Sete diplomas Sendo seis muito importantes Que as custas de uma enxada Conseguiram ser doutor...” A família constituída pelo par heterossexual e seus dependentes sempre foi tida como o modelo natural e, com base nesse modelo, a esposa é a encarregada em tempo integral dos cuidados dos filhos e marido, o provedor do lar4, desempenhando um papel importante na função social das crianças, em que a mãe é a responsável por desenvolver funções expressivas e atividades socioemocionais e cabe ao pai as funções instrumentais que conecta a família ao domínio público. Pensando nesse contexto, a velhice era tratada como um quadro dramático marcado pela perda de status e, com o processo de urbanização e industrialização, houve destruição e perda da segurança econômica e das relações estreitas que vigoravam entre as gerações nas sociedades tradicionais, marcando a velhice moderna com preconceitos e abandonando os velhos uma existência sem significado5. “Hoje estou velho Meus cabelos branqueados O meu corpo está surrado Minhas mãos nem mexem mais Uso bengala” O envelhecimento não começa subitamente aos 60 anos, mas consiste no acúmulo e interação de processos biopsicossociais e culturais durante toda a vida, que podem constituir fatores de adoecimento ou ser promotores de saúde e de bem-estar; de modo geral, indivíduos idosos possuem doenças coexistentes que geram incapacidades e causam dependência e fragilidades. A doença “fala” por meio dos sinais e sintomas 101 Canção "Filho Adotivo" no corpo do indivíduo, e cada pessoa tem uma maneira própria de vivenciar, interpretar e narrar suas enfermidades, num processo intersubjetivo que se dá a partir do diálogo6. É comum nas pessoas com idade avançada um quadro de enfermidades complexas e onerosas, o que implica maior utilização de serviços de saúde e maior número de problemas de longa duração, sendo a doença crônica a maior causa de incapacidade entre os velhos7. Definições mais atuais sobre envelhecimento dividem-no em primário ou senescência, envelhecimento secundário ou patológico e terciário ou terminal. O envelhecimento primário é um fenômeno que atinge todos os seres humanos pós-reprodutivos, sendo progressivo e levando à diminuição de capacidades funcionais, não sendo caracterizado como doença; cabelos brancos, rugas, sarcopenia e déficits sensoriais são os principais indicadores desse processo5. O envelhecimento patológico diz respeito a alterações ocasionadas por doenças associadas ao envelhecimento, que podem aparecer associadas a estilos de vida do indivíduo, além de aspectos ambientais, sendo mais prevalentes doenças cardiovasculares e cerebrovasculares e câncer. Já o envelhecimento terminal compreen­ de um período relativamente curto, ao cabo do qual a pessoa morre, quer por efeitos do envelhecimento primário, quer pelo envelhecimento secundário8. A fragilidade no idoso ocorre de maneira progressiva com base em um tripé de alterações relacionadas ao envelhecimento, composto principalmente por sarcopenia (perda de massa muscular), desregulação neuroendócrina e disfunção imunológica e de natureza multifatorial, com isso aumentando o risco de desenvolvimento de doenças que influenciam na qualidade de vida; aspectos emocionais e psicológicos podem contribuir para o desenvolvimento da síndrome da fragilidade no idoso9. “Sei que dou muito trabalho Sei que às vezes atrapalho Meus filhos até demais...” A responsabilidade que os filhos têm com seus pais está fundamentada na perspectiva de uma reciprocidade esperada, que se manifesta na retribuição pelo cuidado recebido na infância e no amor filial, mas nem sempre isso acontece, mesmo tendo sido esse amparo estabelecido pela Constituição Brasileira, nos artigos 229 e 230, que relata, respectivamente, que os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores; os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade; e a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando-lhes a sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida6,10. “Passou o tempo E eu fiquei muito doente Hoje vivo num asilo E só um filho vem me ver” O adoecimento do idoso que resulte em impossibilidade de ele realizar as atividades da vida diária e/ou instrumental e a necessidade de cuidados especiais, como no caso de dependência absoluta, em que há exigência de alguém para prestar o cuidado contínuo, quando a família não tenha possibilidade de provê-lo, é outro motivo apontado pelos entrevistados para a internação em uma instituição asilar11. O adoecimento e a consequente dependência não estão exclusivamente relacionados às questões orgânicas, mas também se referem aos aspectos da cognição, como nas demências em geral. Outra questão observada por Perlini et al.11 é que a dependência do idoso e a necessidade de os familiares manterem-se no mercado de trabalho, aliadas à dificuldade em encontrar e manter um cuidador profissional que responda pelo atendimento das demandas oriundas da pessoa idosa, constituem-se em outro motivo para o encaminhamento dela a uma instituição de longa permanência. Normalmente, a família busca, em um primeiro momento, alguém que já tenha conhecimentos e habilidade para prestar os cuidados necessários. Quando não o consegue, passa a contratar pessoas que se disponham a realizar essa incumbência. Contudo, quando todas as possibilidades parecem ter sido esgotadas, a saída encontrada é o asilamento. O asilo pode ser considerado uma instituição total, um local de residência ou trabalho, onde um grande número de indivíduos em situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável perío­do de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada; a internação não significa apenas a mudança de espaço e de ambiente físico, mas, principalmente, uma alteração possível nas pautas de relação e, nesse caso, os idosos vivenciam as duas coisas, a mudança do ambiente físico e das relações, relações estas que não são mediadas pelo laço parental, mas por um laço profissional12. As razões para a internação se repetem em diversos meios familiares em que os indivíduos têm uma vida agitada e não têm tempo para os cuidados de que o idoso necessita, que trabalham o dia todo; e para não deixar o idoso sozinho, pagam-se profissionais para cuidar dele e lhe proporcionar uma qualidade de vida que não era 102 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):99-105 possível em seu lar. Logo, deixar o idoso na instituição mostra certo desapego do laço parental, em que o idoso deixa de ser pai, mãe, tia, avó, pois não se comporta mais como tal, perdendo o papel de cuidador para necessitar de cuidados e assim há um apego à patologia do idoso, como o mal de Alzheimer, que dificulta os cuidados e impede o convívio familiar. Fatores como limitações físicas e dependência funcional, verificados nos idosos residentes em instituições de longa permanência (ILPI), associam-se ao isolamento e à negação da percepção de um ambiente que pode não lhes ser agradável, afetando profundamente seus sentimentos, contribuindo para o desenvolvimento de doenças não apenas físicas como também psicológicas13. Tratando-se da realidade asilar, muitos idosos são asilados na maioria das vezes contra sua própria vontade, tornando-se dessa maneira uma espécie de “prisioneiros” da instituição. Além disso, parte dos familiares, após a institucionalização de seus idosos, não retorna mais à instituição para visitá-los, delegando os cuidados do idoso a profissionais, muitas vezes, despreparados e desqualificados para a função11. Outra questão observada é que a mentalidade de que o idoso é símbolo de fraqueza e empecilho para todos ainda é bem forte. Esse tipo de mentalidade é reforçada pela reestruturação familiar, em que os filhos ou familiares mais próximos deixaram de ter tempo e condições para cuidar de seus idosos e os internam em tais instituições; nesse momento, fica evidente que a responsabilidade familiar para com o idoso torna-se quase inexistente e passa a ser uma responsabilidade pública12. “Esse meu filho Coitadinho, muito honesto Vive apenas do trabalho Que arranjou para viver... Mas Deus é grande Vai ouvir as minhas preces Esse meu filho querido Vai vencer, eu sei que vai Faz muito tempo Que não vejo os outros filhos Sei que eles estão bem Não precisam mais do pai...” A condição de asilado afeta profundamente os idosos, que, aos poucos ou rapidamente, se entregam ao marasmo de uma vida a “desviver”, em que eles se sentem como se estivessem em uma ilha; ilhados são idosos isolados do convívio social mais amplo da vida diversa que os cerca, e a intenção desses redutos, por vezes bem intencionados, mas desumanos no seu cotidiano, é receber e oferecer cuidados àqueles que deles necessitam, pela fragilidade do abandono familiar e social e/ou das energias vitais14. O idoso asilado é, na maioria das vezes em nosso país, um ser que não possui, é um despossuído no amplo sentido da palavra. Raramente está no asilo por decisão própria, por sua vontade, mas por ser essa a habitação possível, o único lugar que o hospeda, o espaço que lhe sobrou15! Além disso, Loureiro15 comenta, ainda, que família, a “sagrada família”, para cada um dos idosos institucionalizados, pode ter defeitos e pecados, mas que os outros, de fora dela, não têm o direito de condenar, falar mal. Não se entendem como abandonados e imaginam-se passando uma temporada ali, dizendo: “Este não é o meu lugar, eu vou embora, tenho alguém me esperando lá fora”. É comum ouvir isso e eles rezam para que logo se conclua a temporada. A ideia de morte, porém, se acentua, com um universo mítico místico negativo de passividade, nostalgia, exclusão, solidão e tristeza15. O ser humano institucionalizado desumanamente está no limbo, segregado do convívio social, afastado dos seus amores e afazeres, de seus pertences, casa e cantos encharcados de afeto; as mudanças físicas representam angústia, medo, insegurança e sensação de perda, principalmente quando essa mobilidade, que não é só de lugar, mas também do ser, é contrária ao desejo do próprio indivíduo. As lembranças da casa o institucionalizado não encontra no asilo, onde seus cantos desapareceram, seus cheiros se esfumaçaram e seus amores ali não estão! É preciso criar novos vínculos afetivos com o novo espaço e de pertença no asilo para que a desestrutura do imaginário não ocorra13. A violência contra o idoso está longe de ser problema isolado e localizado envolvendo apenas idosos fragilizados e cuidadores despreparados, é um problema de larga escala, em nível nacional, muitas vezes relacionados aos próprios familiares e/ou cuidadores, e o abandono é um dos principais tipos de violência16. A maioria das culturas tende a separar os velhos, a segregá-los e, real ou simbolicamente, a desejar sua morte. Assim, a violência é um fenômeno multifacetado, realidade complexa que implica conflitos e relações de poder, constituindo violação aos direitos humanos. No tocante ao idoso, constitui uma afronta à sua dignidade, um avesso ao respeito17. A violência tem sido, entre outros, um dos problemas mais desafiadores para a sociedade desde os tempos Canção "Filho Adotivo" remotos e, no que se refere ao idoso, pode ser situada nos aspectos socioculturais implicados nos conflitos interpes­soais e intergeracionais. Quando se verifica o problema social da violência contra os idosos, observa-se uma dimensão muito forte que convive com o imaginário popular, construído por uma visão negativa da velhice e do envelhecimento. A sociedade mantém e reproduz a ideia de que a pessoa vale o quanto produz e o quanto ganha. O cultivo do novo, do belo, que envolve a contemporaneidade, é também um fator que caminha na contramão da valorização do idoso. Dá-se relevância à força e à agilidade dos jovens, desprestigiando, desconsiderando e desvalorizando aqueles que acumularam experiência e podem ser uma fonte viva de sabedoria. A violência contra o idoso pode ser considerada uma afronta à dignidade humana, estando relacionada com a visão negativa da velhice17. “Um belo dia Me sentindo abandonado Ouvi uma voz bem do meu lado Pai eu vim pra te buscar Arrume as malas Vem comigo pois venci Comprei casa e tenho esposa E o seu neto vai chegar... De alegria eu chorei E olhei pr’o céu Obrigado meu Senhor A recompensa já chegou Meu Deus proteja Os meus seis filhos queridos Mas foi meu filho adotivo Que a este velho amparou” A percepção do suporte social protege os indivíduos contra a desestabilização, logo o apoio social pode ser considerado de suma importância para o enfrentamento das adversidades e embates da vida, e o vínculo entre as pessoas e o sentimento de pertencer e de ser respeitado em suas potencialidades, limites e necessidades levam as pessoas a reencontrarem a essência de sua condição de vida18. A avosidade é sempre estruturante, não importando se o neto teve ou não contato com os avós, pois estes, ainda que ausentes, podem ter marcado ideais, colaborando na montagem de representações sobre a vida, a morte, a sexualidade e o trabalho. A função de avô, bem ou mal sucedida, satisfatória ou conflitiva, vai depender de como tenha sido exercida a função paternal. Portanto, a avosidade é o ponto 103 culminante para a paternidade, não porque aí acabe, mas porque nesse ponto se reproduz. Ser filho e pai ao mesmo tempo sem que os papéis se confundam é o verdadeiro legado de uma transmissão geracional que basicamente funcionou bem. Questionar os papéis de filho e de pai, na tentativa de não repetir os erros e compensar as faltas e a existência do neto, intranquiliza, gerando um tumulto interno que propiciará o surgimento de novos interesses e o resgate da vitalidade. Por intermédio do amor pelo neto, o idoso redescobre esse sentimento em si19. Pessoas idosas identificam a fé e a espiritualidade como uma força diante dos acontecimentos adversos mais significativos de suas vidas, sendo assim, a fé em Deus revela-se como força para o crescimento e resposta na hora da dor, remoção da montanha das dificuldades da vida e confiança na melhora, apelo, oração, confiança na providência, invocação de uma figura de Deus, reza e petição quando se precisa como proteção contra todo mal aos membros da família e também gratidão pela vida20. DISCUSSÃO O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção, um direito social, tendo o Estado a obrigação de garantir a proteção à vida e à saúde e toda a população a obrigação de zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor20. Uma boa qualidade de vida na velhice não é representada no indivíduo apenas levando em consideração aspectos biológicos, psicológicos ou sociais, nem uma responsabilidade individual, e sim como uma interação entre pessoas em mudança, vivendo numa sociedade em mudança, sendo necessários para avaliá-la quatro indicadores: 1) competência comportamental, que se refere ao funcionamento pessoal quanto à saúde, à funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo pelo idoso; 2) qualidade de vida percebida, que está relacionada ao autojulgamento do idoso sobre a sua funcionalidade física, social e psicológica, bem como sobre sua competência comportamental nessas áreas; 3) condições contextuais, que compreendem as situações relativas à experiência de velhice; e 4) bem-estar psicológico, que está relacionado ao domínio das percepções, das expectativas, dos sentimentos e dos valores21. O processo de modernização da sociedade brasileira interfere nos padrões de comportamento e de mentalidade, em que o modelo idealizado da famí- 104 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):99-105 lia, como célula mater da sociedade, se sucede um conceito de indivíduo para quem a sociedade existe como espaço de plena realização, em que todas as possibilidades passam a ser possíveis. Todavia, o caráter institucional da família impede um autêntico relacionamento, e as normas sociais são as responsáveis pela distorção dos laços afetivos22. Correia16 comenta a respeito da visão simplista sobre o indivíduo idoso que é institucionalizado, afastando-o da realidade da terceira idade, e critica também a uniformização desse indivíduo, em que aspectos pessoais, históricos e culturais de cada indivíduo deixam de existir; logo, o indivíduo deixa de ser um ser ativo e passa a ser um “paciente” daquela instituição. Ele ressalta, ainda, a velhice como um problema social eminente devido ao avanço demográfico nos próximos anos16. O envelhecimento, característica pertencente ao homem, é entendido aqui como um fenômeno que se insere num processo de desenvolvimento, de crescimento, de aprendizagem, de amadurecimento e de aperfeiçoamento humano. Assim, o idoso precisa ter atitudes positivas na vida para desenvolver suas potencialidades e, entre estas, a primeira é a de aprender a viver consigo mesmo, a conhecer-se tal como é em todas as dimensões. Tais atitudes são necessárias, porque não há uma existência humana plenamente feliz e completamente protegida das intempéries e incertezas da vida20. A consciência ou aceitação do ingresso na etapa da vida considerada como velhice não é algo natural e espontâneo, ou seja, a pessoa custa a se aceitar como idosa23. É um momento de crise de identidade, uma fase de existência diferente da juventude e da maturidade, mas dotada de um equilíbrio próprio, deixando aberta ao indivíduo uma ampla gama de possibilidades. A esperança é a pulsão para o mudar, para o criar, o que leva o homem a se rebelar contra o horizonte histórico imposto, deixando que a erupção do seu interior ativo, mas oculto pelo convencional, surja numa inovação, no inédito da criação, que, durandianamente, é a única possibilidade de inovar, considerando a verdade, em processo constante. Loureiro23 afirma que a velhice é apenas uma das fases da vida, em que a pessoa se encontra fisicamente prejudicada, mas na qual um espírito jovem ainda se agita no dinamismo inerente ao seu interior ativo, que o ser humano possui. Os mitos criados e cultivados pelas sociedades e expressos cotidianamente nas representações simbólicas são agentes que interferem na realidade do idoso; os mitos que a sociedade e o próprio velho fazem ou têm precisam ser derrubados, para que se transformem em uma imagem desmistificada com a qualidade de uma ação mais pausada, menos corrida e oprimida, permitindo a afetividade e a vontade própria do homem maduro, maturando a vida no decorrer do tempo23. É natural que os idosos, ao se internarem em uma instituição, cheguem com uma cultura de uma forma de vida e um conjunto de atividades aceitas sem discussão até o momento de admissão na instituição. A família é portadora de mitos, e cada um desses idosos traz consigo seus mitos particulares. Há um confronto entre os mitos trazidos de cada família. É difícil a convivência entre eles. O silêncio e o isolamento na solidão de cada um expressam-se nas fisionomias paradas com olhares sem foco15. Podemos observar que, apesar de a gerontologia ser uma área relativamente nova, conceitos importantes já foram empregados em uma música que é um dos clássicos do cancioneiro popular, mostrando que preocupações quanto ao processo de envelhecimento sempre existiram. A questão familiar, muito ligada ao processo de modernização, também é discutida nessa canção; o tabu da velhice e suas repercussões, muitas vezes silenciosas, trazem influências psicológicas e sociais que influenciam o desenvolvimento do indivíduo, que não deixa de existir, mas que muitas vezes é marginalizado, até mesmo dentro do ambiente em que menos se esperaria: o seu lar. Todavia, a canção não aborda apenas aspectos negativos. O clímax da canção cita a alegria que o idoso sentiu ao receber a visita do seu filho adotivo e de saber que ele veio buscá-lo para voltar para casa. Aspectos como autoestima, alegria e dignidade tornam-se bem presentes nesse trecho do texto, também marcado pela notícia de o idoso ser avô, um marco na vida dele, como já mencionamos anteriormente, considerando-se que o amor pelo neto faz com que ele descubra o amor a si próprio. A música também traz conceitos bem futuristas que até o presente momento ainda não foram abordados em artigos e trabalhos, como a avosidade na adoção e sentimentos e expectativas relacionados ao nascimento e ao convívio de um neto que foi gerado por um filho adotivo. Não encontramos nas pesquisas trabalho algum que mencionasse e/ou sugerisse esse tema. A música sertaneja é extremamente popular, com grande identidade da população brasileira, e o seu uso como instrumento de comunicação e informação Canção "Filho Adotivo" 105 pode auxiliar na quebra de tabus e na reflexão crítica sobre o envelhecer, que a cada dia está mais presente entre nossa população. 10. Brasil. Lei 10.741, de 1 de outubro de 2003. Estatuto do Idoso. Este trabalho foi requisito parcial à aprovação da disciplina “Qualidade de vida e envelhecimento: aspectos psicossociais e culturais”. Este trabalho é inédito, não havendo conflito de interesses. 12. Zicardi E, Souza S. Da instituição negada à instituição idealizada: uma experiência asilar. Disponível em: www.geracoes.org. br/arquivos_dados/foto_alta/arquivo_1_id-115.pdf. Acesso em: 4/10/2010. REFERÊNCIAS 1. Silva MRC. Coisas da roça: a música sertaneja no cinema brasileiro. Trabalho apresentado ao Núcleo de Pesquisa NAU – Comunicação Audiovisual, do XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Santos, 29 de agosto a 2 de setembro de 2007. 2. Hack O, Gomes L, Tavares A. O velho na música popular brasileira. Rev Kairós. 2008;11(2):235-48. 3. Moura AS, Santana CS, Carreta RYD, Cardoso B. A velhice cantada na música brasileira: reflexões sobre as representações do idoso no imaginário social. Rev Iluminart IFSP. 2009;1(3):265-75. 4. Debert GG, Simões JA. 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ARTIGO de revisão Oncologia geriátrica: conceitos, tendências e desafios Geriatric oncology: concepts, trends and challenges Christyanne Maria Rodrigues Barreto de Assis1, Hugo Moura de Albuquerque Melo2, Elisa Moura de Albuquerque Melo3, Daniel Kitner4, José Iran Costa Júnior4 Recebido em 1/3/11 Aceito em 8/7/11 RESUMO No Brasil, a população idosa compõe hoje o segmento que mais cresce em termos proporcionais e, segundo a Organização Mundial de Saúde, o impacto global do câncer mais que dobrou em 30 anos. As estimativas nacionais para o ano de 2010, que serão válidas também para o ano de 2011, apontam para a ocorrência de 489.270 novos casos. E, embora a ligação entre câncer e senectude seja complexa e questões fundamentais permaneçam sem resposta, com o progressivo envelhecimento da população, é de se esperar que esses indicadores aumentem cada vez mais. Nesse contexto, faz-se necessário o desenvolvimento de uma interação entre a oncologia e a geriatria, a fim de promover a avaliação do idoso com câncer de forma individual, em suas múltiplas dimensões, focando as suas comorbidades, estado funcional, grau de dependência e os fatores fisiológicos da senescência que limitam o tratamento, para, de forma interdisciplinar, elaborar o melhor esquema terapêutico para cada paciente, garantindo a igualdade no acesso a cuidados de qualidade. Palavras-chave: Oncologia, geriatria, avaliação geriátrica. ABSTRACT In Brazil, the elderly population presents the fastest growing segment in proportional terms and according to World Health Organization, the global impact of cancer more than doubled in 30 years. National estimates of 2010, which will be also valid for 2011, show the occurrence of 489,270 new cases. Although the link between cancer and senectude be complex and fundamental questions remain unanswered, it is expected that these indicators will increase even more with the progressive aging of the population. In this context, it is necessary to develop an interaction between oncology and geriatrics, in order to promote the evaluation of elderly patients with cancer individually, in its multiple dimensions, focusing on their comorbidities, functional status, level of dependence and the physiological factors related to senescence that limit treatment to develop the best therapeutic regimen for each patient in an interdisciplinary way, ensuring equal access to quality care. Keywords: Medical oncology, geriatrics, geriatric assessment. Endereço para correspondência: Christyanne Maria Rodrigues Barreto de Assis • Avenida Engenheiro Domingos Ferreira, Boa Vigem – 51020-035 – Recife, PE • Telefones: +55 (81) 8825-4006/+55 (81) 3463-9021 • E-mail: [email protected] Hospital Barão de Lucena (Recife/ SUS-PE). 2 Hospital Metropolitano Sul Dom Helder Câmara (Cabo/SUS-PE). 3 Unidade Mista Santo Cristo (Ipojuca/SUS-PE). 4 Hospital das Clínicas de Pernambuco (Recife/HC-UFPE). 1 Oncologia geriátrica 107 INTRODUÇÃO EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER No Brasil e no mundo, a população idosa (indivíduos com 60 anos ou mais) compõe hoje o segmento que mais cresce em termos proporcionais. Com o progressivo envelhecimento populacional, é de esperar um aumento dramático na incidência de câncer nos próximos anos, visto que a doença ocorre principalmente em pacientes com mais de 50 anos e se acentua com o avançar da idade. Segundo a Organização Mundial de Saúde3 (2009), o impacto global do câncer mais que dobrou em 30 anos. Em 2008, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer estimou que ocorreriam 12,4 milhões de casos novos e 7,6 milhões de óbitos por câncer no mundo. Desses, os mais incidentes foram o câncer de pulmão (1,52 milhão), mama (1,29 milhão) e cólon e reto (1,15 milhão). Devido ao mau prognóstico, o câncer de pulmão foi a principal causa de morte (1,31 milhão), seguido pelo câncer de estômago (780 mil óbitos) e pelo câncer de fígado (699 mil óbitos). Para a América do Sul, a América Central e o Caribe, estimou-se, em 2008, cerca de 1 milhão de casos novos de câncer e 589 mil óbitos. Em homens, o mais comum foi o câncer de próstata, seguido pelos de pulmão, estômago e cólon e reto. Nas mulheres, o mais frequente foi o câncer de mama, seguido pelos de colo do útero, cólon e reto, estômago e pulmão3. Nesse contexto, tendo por objetivo revisar alguns aspectos conceituais, desafios e peculiaridades encontrados na oncogeriatria, foi feita uma identificação de estudos, a partir de pesquisa na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), utilizando os descritores “oncogeriatria”, “oncologia geriátrica” e suas versões em inglês (“oncogeriatrics” e “geriatric oncology”), realizada no dia 8 de julho de 2010. Os resultados foram agrupados por ordem de relevância e a busca realizada no índice “título” das fontes Lilacs e Medline, sob o aspecto clínico “prognóstico”, publicados a partir do ano 2000. Foram incluídos artigos de revisão que não envolvessem no assunto “terapia”, além de artigos de opinião/editoriais. Os critérios de exclusão foram publicações em congressos e os artigos que não se relacionavam com o tema. Após análise do levantamento bibliográfico, considerando os critérios antes mencionados, foram selecionados os artigos e textos de maior relevância para o objetivo deste estudo. EPIDEMIOLOGIA DO ENVELHECIMENTO No Brasil, a população idosa, considerada pela Lei nº 8.842/94 (Política Nacional do Idoso) como aqueles indivíduos com 60 anos e mais, compõe hoje o segmento populacional que mais cresce em termos proporcionais. De acordo com as projeções estatísticas, até o ano de 2025, seremos a sexta maior população idosa do mundo em números absolutos, com mais de 32 milhões de idosos, os quais corresponderão a 15% da população1. O envelhecimento populacional constitui, assim, um dos maiores desafios para a saúde pública contemporânea, especialmente em países em desenvolvimento, porque exige que se agregue qualidade aos anos adicionais de vida, levando em conta a manutenção da capacidade funcional desses indivíduos, a necessidade de autonomia, a elaboração de novos significados para a vida na idade avançada, incentivando a prevenção, o cuidado e a atenção integral à saúde2. No Brasil, as estimativas para o ano de 2010 serão válidas também para o ano de 2011 e apontam para a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude observada para a América Latina4. EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER EM IDOSOS Com a continuidade do crescimento da população mundial e o progressivo envelhecimento, é de esperar que esses indicadores reflitam também no impacto do câncer no mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. Enquanto a expectativa de vida está em crescimento paulatino, um aumento dramático na incidência de câncer é esperado na próxima década, pois a doença ocorre principalmente em pacientes com mais de 50 anos e se acentua a partir da sétima década5. Segundo Remontet et al.6 e Yancik e Ries7, mais de 60% dos novos casos e mais de 70% das mortes por câncer ocorrem além dos 85 anos na Europa e nos Estados Unidos. Estima-se que, em 2020, 70% das neoplasias ocorram em indivíduos com idade superior a 65 anos7. BIOLOGIA DO CÂNCER EM IDOSOS A ligação entre câncer e envelhecimento é complexa e questões fundamentais permanecem sem resposta. Segundo Kristjansson e Wyller8, embora a senectude 108 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):106-11 seja um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer, curiosamente, após os 80 anos, a incidência dos níveis de neoplasias diminui. Ademais, outra peculiaridade da biologia tumoral no idoso é o reconhecimento de que algumas neoplasias se apresentam de forma mais agressiva, a exemplo da leucemia mieloide aguda, enquanto outras se caracterizam por serem mais indolentes nesses pacientes, a exemplo do câncer mamário9. rentes de uma população, sendo dependente de fatores ambientais e genéticos, nível de atividade física e mental, hábitos e doenças pregressas. Além disso, a senescência não pode ser quantificada perfeitamente pelos exames complementares existentes e a idade cronológica pode não refletir a reserva funcional e a expectativa de vida da pessoa em questão, necessitando, assim, que o idoso seja avaliado clinicamente de forma global e individualizada. Como mostra Balducci10,11, as alterações moleculares no idoso geram mudanças que podem ser favoráveis e outras que podem se opor à carcinogênese. Ainda segundo o mesmo autor, as mudanças pró-carcinogênicas incluem a hipometilação do DNA e a instabilidade genética, enquanto o encurtamento dos telômeros, a redução da atividade da telomerase e a ativação do antioncogene P16 se contrapõem à proliferação neoplásica. Nesse contexto, surge a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA), que capta a complexidade de problemas típicos a essa população, abordando o idoso em suas múltiplas dimensões por meio de instrumentos que o avaliam quanto ao seu status funcional, equilíbrio e mobilidade, função cognitiva, deficiências sensoriais, condições emocionais, adequação de suporte familiar, social e ambiental e riscos nutricionais e de interações medicamentosas. Por meio da AGA, é possível identificar indivíduos frágeis – com baixa sobrevida e capacidade funcional, que não poderiam tolerar um tra­tamento oncológico – ou verificar fatores de risco po­tencialmente reversíveis que, por meio de intervenções, permitam que o paciente siga com seu tratamento14,15. Assim, uma avaliação clínica inicial e global mostra-se indispensável na orientação da conduta em idosos oncologicamente enfermos. Algumas alterações importantes do processo de senescência, a exemplo de mutações no DNA nuclear e mitocondrial induzidas por agentes ambientais, e a formação de radicais livres, juntamente com uma menor atividade dos mecanismos de reparo do DNA, podem alterar a estrutura e a função de genes importantes para a gênese e progressão de tumores. Acredita-se que, com o passar dos anos, o dano ao DNA gerado pelos radicais livres pode se acumular e esse fenômeno contribuir para a explicação do aumento na incidência de neoplasias nos mais idosos12,13. Outros contribuintes para a proliferação neoplásica no idoso são a perda da capacidade celular de sofrer apoptose e a prevalência aumentada de fatores que estimulam o crescimento tumoral, a exemplo de interleucina-6 nos linfomas não Hodgkin, e de metaloproteinases que favorecem a propagação metastática10,11. Além da suscetibilidade dos tecidos mais velhos aos carcinógenos ambientais, devida a alterações moleculares e celulares próprias da senectude, a associação de câncer e envelhecimento pode ser explicada pela casua­lidade, visto que o processo da carcinogênese pode ser prolongado, assim, pessoas que vivem mais teriam maior propensão a desenvolver neoplasias10,11. AVALIAÇÃO GERIÁTRICA AMPLA NO IDOSO COM CÂNCER Geriatras e gerontólogos têm desenvolvido escalas para avaliar e quantificar a fragilidade de pacientes idosos, uma vez que, como lembra Giglio et al.9, o processo de envelhecimento é heterogêneo tanto em um mesmo indivíduo como entre indivíduos dife- Balducci e Extermann16 definiram o objetivo principal para uma AGA no paciente oncológico idoso: detectar comorbidades que estão associadas com a diminuição da expectativa de vida e que são fatores de prognóstico independentes para câncer, comprometendo, eventualmente, a tolerância aos quimioterápicos. Uma avaliação ampla desses pacientes ajuda a entender se o câncer poderia causar sintomas ou incapacidades durante o período de vida residual, para além do que já está presente ou previsível por outras causas que não a neoplasia propriamente dita17. Além de permitir reconhecer a presença do estado de fragilidade; estimar a sobrevida esperada, independentemente do tumor; avaliar a capacidade de o paciente tolerar o tratamento; estimar o seu estado funcional; identificar situações potencialmente reversíveis; e avaliar o suporte emocional e social do paciente para enfrentar a doença18; condições que influenciam sobremaneira a agressividade do tratamento antineoplásico a ser proposto9. COMORBIDADES NOS IDOSOS COM CÂNCER A presença de comorbidades em idosos com neoplasia constitui um importante indicador prognóstico Oncologia geriátrica e terapêutico. Os pacientes com elevada taxa de comorbidades, avaliadas pelo número e/ou gravidade delas, apresentam menores taxas de sobrevivência em relação àqueles sem doenças associadas, bem como piores níveis de estado funcional e de qualidade de vida19. Além disso, a presença simultânea do câncer e outras morbidades interfere, também, no diagnóstico, retardando-o, uma vez que existe a tendência de subestimar os sintomas apresentados, que são comumente associados à idade ou a outra condição mórbida preexistente9. Segundo Extermann20, os problemas geriátricos mais encontrados na avaliação do idoso com câncer são: 1) comorbidades (90%) – 30%-40% apresentam patologias severas; 2) dependência para realização de atividades instrumentais da vida diária (50%-60%); 3) desnutrição ou risco nutricional (30%-50%); 4) qualquer grau de deficiência cognitiva (25%-35%); 5) depressão (20%-40%); 6) dependência para atividades da vida diária (20%) e performance score (PS) do Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG) ≥ 2 (20%)21. O PS baseia-se em critérios usados por médicos e pesquisadores para avaliar a progressão da doença do paciente, como afeta as habilidades de vida diária e, assim, poder melhor determinar tratamento e prognóstico. Dentre as comorbidades, as mais vistas no idoso oncológico são cardiopatias, pneumopatias e diabetes22,23. Foi observado, também, aumento importante na prevalência de demência entre esses pacientes, sendo de 0,4% entre os indivíduos com 65-73 anos e de 4,2% naqueles com 74-102 anos. Embora de definição imprecisa e, por muitas vezes, subjetiva na literatura, outro conceito importante é o de fragilidade no paciente idoso. Objetivamente, podemos reconhecer a fragilidade quando encontramos uma ou mais das seguintes características: idade superior a 85 anos; dependência em uma ou mais atividades da vida diária; presença de três ou mais comorbidades; presença de uma ou mais síndromes geriátricas ou ainda quando presentes: perda involuntária de 10% ou mais do peso original em um ano; lentificação dos movimentos; fadiga; decréscimo de força ou dificuldade em iniciar um movimento24. O geronte frágil com câncer, em muitos casos, exibe maior toxicidade aos tratamentos antineoplásicos, apresenta maior taxa de mortalidade e, na maior parte das vezes, recebe um manejo voltado apenas à paliação de seus sintomas11. De acordo com Gosney25, a fragilidade, bem como a presença simultânea de outras doenças, afeta 109 o paciente oncológico em três períodos: inicialmente, no momento do diagnóstico, por causar incertezas em relação à agressividade do plano terapêutico a ser empregado, de acordo com a reversibilidade ou não do fator determinante da fragilidade no paciente; segundo, durante o tratamento, na coexistência de contribuintes para a fragilidade que possam aumentar o risco da toxicidade associada à terapia e, assim, reduzir a qualidade de vida; e, finalmente, após o tratamento antineoplásico, o desenvolvimento ou piora da fragilidade existente pode reduzir a sobrevida. FATORES DO ENVELHECIMENTO QUE LIMITAM A TERAPÊUTICA Enquanto a incidência de neoplasias aumenta com a idade, a prevalência de pacientes que recebem tratamentos efetivos contra o câncer declina com o envelhecimento26. A senescência pode influenciar na eficácia e segurança da quimioterapia, interferindo na farmacocinética e farmacodinâmica das drogas11. Entre as alterações, podemos citar a diminuição da superfície absortiva do intestino, da circulação sanguínea esplânica, da motilidade e secreção gástricas – que determinam menor absorção das drogas administradas por via oral. Há também a diminuição das proteínas corporais totais, da albumina e do volume de distribuição, que ocasionam aumento da concentração sérica das medicações hidrossolúveis11. Adicionalmente, há a diminuição do metabolismo hepático e da taxa de filtração glomerular, levando à menor depuração das drogas e facilitando a ocorrência de interações medicamentosas e toxicidade. A menor reserva hematopoiética no idoso facilita, ainda, a ocorrência de mielossupressão, aumentando os riscos de neutropenia e maior probabilidade de infecções, bem como anemia e plaquetopenia, com diminuição do estado funcional e maior chance de ocorrência de sangramentos, respectivamente10,11,27. Assim, podemos perceber que, com o avançar da idade, tornam-se mais comuns os efeitos colaterais relacionadas à quimioterapia, incluindo mielossupressão, mucosite, cardiotoxicidade e neurotoxicidades central e periférica10. Em relação à radioterapia, os avanços nas suas técnicas reduziram significativamente os efeitos colaterais, tornando-a mais segura para o tratamento de pacientes idosos, em especial naqueles com bom estado funcional, nos quais se obtêm respostas terapêuticas semelhante aos mais jovens9,28. 110 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):106-11 Com a finalidade de diminuir a possibilidade de toxicidade do tratamento antineoplásico, o National Cancer Center Network propôs a adoção de algumas medidas, entre as quais: utilizar algum tipo de avaliação geriátrica para identificar os indivíduos frágeis e com comorbidades, a fim de analisar a segurança quimioterápica e possíveis ajustes de doses; utilizar fator estimulador de colônia de granulócitos de forma profilática em pacientes que irão receber drogas mielotóxicas; manter os níveis de hemoglobina próximos de 12 g/dL com uso de eritropoeitina, quando necessário; reduzir as doses das medicações de acordo com a função renal do paciente e tratar agressivamente os casos de mucosite29. ONCOGERIATRIA: FRONTEIRAS DE UMA COLABORAÇÃO INEVITÁVEL De acordo com Zulian et al.30, a oncologia geriátrica é definida como uma abordagem abrangente e multidisciplinar dos idosos portadores de câncer, e Guerin e Cudennec31 confirmam essa ideia ao definir a oncogeriatria não como uma disciplina nova, mas o encontro de duas especialidades. Essa é a essência que deve ser absorvida por todos os profissionais ao optarem por desenvolver seus serviços nesta área. Os pacientes idosos encaminhados aos centros de oncologia geralmente são os mais jovens e com menos doenças associadas. Em contraste, aqueles com mais comorbidades, disfunções cognitivas e dependência acabam sendo dirigidos aos geriatras32. Nesse contexto, a oncogeriatria tem por objetivo elaborar estratégias terapêuticas que integrem todos os perfis de pacientes33, realizando um plano geriátrico individual de cuidados31. Sifer-Rivière et al.34 comentam que “oncologistas e geriatras concordam que a colaboração entre eles é inevitável. Eles viram essa parceria como uma janela de oportunidade e uma forma de promover uma nova percepção da pessoa idosa e garantir que a idade não seja fator de discriminação no acesso ao tratamento”. Contudo, por tratar-se de uma nova área de interesse, os conhecimentos e pesquisas ainda são limitados. Misset e Bauer35 concordam que a oncologia geriátrica tem de avançar em várias direções. Em primeiro lugar, promover a avaliação geriátrica como parte dos exames iniciais de qualquer paciente com câncer; segundo, promover estudos sobre a farmacologia das drogas anticâncer especificamente em pacientes idosos e, por último, reforçam a importância da realização de estudos clínicos prospectivos enfocando pacientes idosos, haja vis- ta a maior parte da literatura em oncologia geriátrica fazer análises de eficácia e tolerância de medicações, comparando subgrupos idosos com populações mais jovens dos mesmos estudos31,36, o que diminui a especificidade dos resultados. Na França e nos Estados Unidos há grupos de trabalho voltados à difusão da oncogeriatria, com o objetivo de promover o diagnóstico precoce, reforçar a igualdade no acesso a cuidados de qualidade e a propagação de conhecimentos nesta área aos profissionais de saúde em vários centros desses países31,33. No Brasil, ainda há muito a percorrer. Devendo-se consolidar a transdisciplinaridade “Oncologia – Geriatria”, amparada na visão multi e interdisciplinar, sem perder de vista que a oncologia geriátrica não deve ser encarada como uma oportunidade de superes­ pecialização, mas, mormente, uma possibilidade de melhor assistir aos idosos com problemas oncológicos, de forma a auxiliar a otimização do tratamento e seguimento desses pacientes. AGRADECIMENTOS Aos pacientes e funcionários do Serviço de Oncologia do HC-PE pela inspiração, acolhimento e motivação. CONFLITOS DE INTERESSE Os autores declaram não haver. REFERÊNCIAS 1. Leal MCC, Marques APO, Marino JG, Austregésilo SC, Melo HMA. Perfil de instituições asilares no município do Recife, PE, Brasil. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2006;9(3):39-48. 2. Lima-Costa M, Barreto S. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2003;12(4):189-201. 3. World Health Organization. World Cancer Report, 2008. 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ARTIGO de revisão Correlação entre citomegalovirose, perfil imunológico de risco (PIR) e mortalidade em idosos Cytomegalovirus infection, immunologic risk profile (IRP) and mortality correlation in elderly Marcelo Henrique Reis Caldeira1, Maysa Seabra Cendoroglo2, Clineu de Mello Almada Filho2 RESUMO O citomegalovírus humano (CMVH) está relacionado como importante causa de morbidade e de mortalidade em indivíduos imunocomprometidos, mas sua ação nos indivíduos imunocompetentes vem ganhando destaque na área do envelhecimento, com inúmeros estudos relacionados à imunossenescência revelando importante associação entre infecção crônica por CMVH e aumento das limitações funcionais e da mortalidade na população após os 60 anos. Pesquisas têm demonstrado que a infecção crônica por CMVH está diretamente relacionada a alterações imunológicas do envelhecimento, com alterações especificamente na resposta das células T linfocitárias. A esse conjunto de alterações denominou-se perfil imunológico de risco (PIR), que, por sua vez, se encontra relacionado à limitação da capacidade do sistema imune em organizar uma resposta eficiente a agressores, resultando em suscetibilidade maior a infecções. Este artigo tem como objetivo revisar essa relação entre a infecção por CMVH e o envelhecimento e também o conhecimento dos marcadores que compõem o PIR descrito acima e suas consequên­ cias para a saúde da população idosa. Recebido em 15/3/11 Aceito em 29/7/11 Palavras-chave: Citomegalovírus, idosos, perfil imunológico de risco, imunossenescência. ABSTRACT Human cytomegalovirus (HCMV) is associated with important cause of morbidity and mortality in immunocompromised individuals, but their action in immunocompetent individuals has gained prominence in the field of geriatrics, in immunosenescence’s works, with numerous studies revealing a significant association between HCMV chronic infection and increase of functional limitations and mortality in the population after 60 years. Research has demonstrated that HCMV chronic infection is directly related to immunological changes of aging, specifically with changes in lymphocyte T cell response, this set of changes was called immune risk profile (IRP), which is associated with the limitation on the ability of the immune system to organize an effective response to pathogenic microorganisms, resulting in increased susceptibility to infections, among other consequences. This article aims to review the role of HCMV in the aging, the immune risk profile markers and their consequences for the health of elderly population. Keywords: Cytomegalovirus, elderly, immune risk profile, immunosenescence. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM). 2 Unifesp/EPM. 1 Endereço para correspondência: Marcelo H. R. Caldeira • Rua José da Costa, 546, Jardim Pau Preto – 13330-000 – Indaiatuba, SP • Telefone: (19) 3894-5568 • E-mail: [email protected] CMV, PIR e mortalidade em idosos INTRODUÇÃO O citomegalovírus humano (CMVH) ou herpes-vírus humano tipo 5 (HHV-5) é causa de severa morbidade e de mortalidade em indivíduos imunocomprometidos (pacientes pós-transplantes, portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida e pacientes oncológicos)1. Sua ação nos indivíduos imunocompetentes vem ganhando também destaque na área do envelhecimento. Estudos relacionados à imunossenescência demonstram importante associação entre infecção crônica por CMVH e aumento das limitações funcionais e da mortalidade na população geronte2-5. Pesquisas têm demonstrado importantes alterações imunológicas no envelhecimento, provavelmente decorrentes da infecção crônica por CMVH, especificamente na resposta das células T linfocitárias CD8, que desencadeiam limitação na capacidade do sistema imune em organizar uma resposta eficiente a agressores, resultando em suscetibilidade maior a infecções6,7. Diversos estudos transversais procuraram avaliar o processo de imunossenescência e revelaram grandes diferenças na distribuição dos tipos de células imunológicas sanguíneas entre jovens e idosos e também diferenças quanto à integridade funcional dessas células; a maior parte dessas alterações estaria associada à presença de infecção por CMVH5. Devido às limitações inerentes a esse tipo de estudo, alguns trabalhos de características longitudinais foram iniciados há mais de uma década e vêm observando as alterações imunológicas descritas, além de revelarem “marcadores imunológicos” ou biomarcadores do envelhecimento imunológico que não consistem em um único parâmetro, mas sim em um conjunto de parâmetros denominado de “perfil imunológico de risco” (PIR) ou também de fenótipo imunológico de risco8,9. Este artigo tem como objetivo realçar a relevância do CMVH no processo de imunossenescência e também revisar os principais artigos que abordam esses estudos longitudinais, destacando a importância do conhecimento desses biomarcadores que compõem o “PIR” e de suas sérias consequências para a saúde da população idosa. MÉTODOS Realizou-se revisão da literatura, buscando-se artigos científicos indexados, utilizando as seguintes fontes de base de dados: Medline, PubMed, SciELO e Lilacs. Foi realizada uma pesquisa dos últimos 15 anos, referente ao assunto, sendo incluídos artigos publi- 113 cados entre janeiro de 1995 e outubro de 2010. Os seguintes descritores foram utilizados: “perfil imunológico de risco”, “imunossenescência”, “idosos” e “citomegalovírus”. CITOMEGALOVÍRUS E IMUNOSSENESCÊNCIA O termo abrangente chamado de imunossenescência é usado para descrever as alterações celulares e sistêmicas da imunidade relacionadas ao envelhecimento, as quais contribuem diretamente com o aumento da incidência e da severidade das doenças infecciosas em idosos. Muitos trabalhos vêm demonstrando claramente essas alterações ao compararem as características imunológicas entre jovens e idosos, alterações essas principalmente relacionadas à funcionalidade dos linfócitos da linhagem das células T5,8. Neste contexto, segundo Franceschi (2007), a imunossenescência pode ser considerada o resultado final de uma ótima função imune ao longo da fase reprodutiva humana, mas que também pode representar um exemplo de antagonismo, por causa da possibilidade de efeitos deletérios ao sistema imune que podem ocorrer posteriormente na vida, alterações essas consequentes ao “sucesso” da resposta imune e inflamatória pregressa. Na verdade, o fenótipo imunológico característico dos idosos e dos muitos idosos reforça o conceito de que o envelhecimento é o processo de remodelamento pelo qual o sistema imune progressivamente se adapta por décadas a exposição interna e externa a agentes agressores, alterando o microambiente orgânico mediante mudanças na expressão gênica e imunológica. Esse processo está relacionado à desregulação não apenas celular quanto a sua função, mas também à desregulação nas citocinas inflamatórias, responsáveis pelo equilíbrio e pela velocidade de resposta imunológica do organismo, processo que atualmente vem sendo denominado “inflammaging”10,11. O consenso hoje, bem definido no Primeiro Workshop Internacional de CMV e Imunossenescência em Tubingen, Alemanha, em dezembro de 2009, define a imunossenescência como “o enfraquecimento na imunidade resultante das mudanças associadas ao envelhecimento, alterando funcionalmente uma variedade de células. Trata-se de um fenômeno de perda de função envolvendo a imunidade inata e a adaptativa, bem como o desequilíbrio entre estas”12. Há mais de uma década, estudos transversais e longitudinais vêm verificando a forte associação entre 114 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):112-8 infecção crônica por CMVH e sua influência no processo de imunossenescência e suas consequências aos seres humanos2,5,8,13. Conforme já descrito por vários autores, o CMV é um vírus complexo, com capacidade de latência, e sua presença estaria intimamente relacionada à imunossenescência, com alterações na função e disponibilidade de células T3. Há uma diminuição de células T nativas, particularmente as CD8, e o mecanismo pelo qual isso ocorreria relaciona-se ao CMVH latente presente em células precursoras da medula óssea CD34; durante o processo de diferenciação desses precursores, esse CMVH estimularia cronicamente o sistema imune, levando, no caso de idosos, a uma grande expansão clonal de células TCD8 CMVH pp65-específicas; isso reduziria a disponibilidade das células TCD8 em carregar receptores específicos para patógenos ou antígenos estranhos diferentes de CMVH, limitando a capacidade do sistema imune e favorecendo o desenvolvimento de outras patologias6,13-17. A infecção crônica por CMVH está diretamente relacionada à diminuição do número de células T nativas (particularmente CD8) e também à redução na diversidade de receptores de células nativas T (TCR). A infecção crônica por CMVH promove alterações qualitativas de funcionalidade de células T CD4, piorando a função das células B; em contrapartida, ocorre um aumento do processo inflamatório, com aumento importante das citocinas inflamatórias IL-6, IL-2 e TNF-alfa. Segundo Koch et al., ter de manter uma constante vigilância imunológica ao CMVH pode gerar graves consequências, por exemplo, como descrito anteriormente, induzir a alterações funcionais no sistema imunológico, com piora da capacidade de resposta eficiente a infecções e reinfecções, sendo fator relevante no aumento de mortalidade desses pacientes9,18. Abecassis e Humel relatam que é difícil definir infecção crônica ou latente ao buscar alterações moleculares, mas pode-se defini-la operacionalmente quando não há a detecção de DNA viral nas células linfocitárias B ou T maduras. É importante lembrar que o DNA do CMVH latente pode ser detectado em células de linhagem monocítico-macrofágica e também nas células CD34, que são precursoras dos linfócitos B e T; estes últimos, em sua forma madura, não carregam o DNA viral na fase de latência19. A infecção ativa ou reativação viral por CMVH, ou seja, a presença de DNA viral nas células de linhagem linfocítica periférica, ocorre normalmente em pacientes imunocomprometidos e/ou quando há desequilíbrio entre o vírus e o sistema imunológico, ocasionando um incontrolável processo de replicação viral (atividade viral), com ativação das células T (CD4, CD8, CD34 e CD28) e das citocinas inflamatórias19. Até recentemente, autores como Khan et al. e Vescovine et al. fracassaram ao tentar determinar parâmetros de reativação viral em idosos da comunidade, não conseguindo verificar a presença de DNA de CMVH no plasma ou leucócitos periféricos dessa população; entretanto, Stowe et al. conseguiram determinar altos índices de reativação do CMVH em idosos, por meio da detecção de DNA de CMVH na urina, determinando índices de reativação em 91% dos idosos estudados e criando novas perspectivas para avaliação da atividade do CMVH20-22. Avaliando o CMVH e suas implicações imunológicas, há diferenças importantes em relação aos pacientes centenários, pois vários estudos têm demonstrado que estes apresentam respostas imunológicas diferenciadas dos demais idosos da população em geral. Eles apresentam uma resposta inflamatória efetiva e adequada (boa adaptação e remodelamento imunológico) com uma resposta anti-inflamatória também adequada, restabelecendo o balanço imunológico; mas estudos têm sugerido que esse processo efetivo de controle inflamatório estaria associado a maior suscetibilidade às doenças infecciosas durante a fase reprodutiva de vida, ou seja, os centenários não possuiriam o melhor sistema imunológico durante a vida, mas o mais adaptável. Alguns trabalhos têm demonstrado, ainda, tratar-se da presença de uma série de polimorfismos genéticos, que estabeleceriam essa adequada plasticidade imunológica e homeostasia23,24. Além dessas adaptações descritas, o trabalho de Derhovanessian et al. comparou dois grupos de centenários CMVH soropositivos: o primeiro pertencente a uma família de longevos e o segundo sem esse antecedente. Verificou-se que no primeiro grupo, além de uma menor alteração nos padrões de células T, causadas pelo CMVH, o nível sérico da proteína C reativa foi significativamente menor, indicando menor estímulo pró-inflamatório, estímulo esse responsável pelo aumento na incidência de infarto do miocárdio e hipertensão arterial, entre outras doenças. Esses mesmos autores estão analisando especificamente essa relação entre CMVH e PCR em nonagenários, num estudo de coorte chamado LLS (Leiden Longevity Study), cujo manuscrito com os resultados parciais ainda está em elaboração24. CMV, PIR e mortalidade em idosos Quanto aos outros herpes-vírus, também de presença crônica no organismo humano, os estudos vêm demonstrando que apenas o vírus Epstein-Barr pode levar a uma pequena desregulação na expansão clonal das células CD8, o que não acontece com o herpes simples e o varicela zoster. É importante ressaltar que essa desregulação causada pelo vírus Epstein-Barr é de extensão muito menor quando comparada ao CMVH e, na coinfecção com este último, os efeitos do CMVH predominam12,18. Essas alterações imunológicas, decorrentes da ação do CMVH, descritas anteriormente, são determinantes de um padrão de alterações chamado de PIR. PERFIL IMUNOLÓGICO DE RISCO O termo “perfil imunológico de risco” surgiu a partir de dois estudos longitudinais, denominados OCTO e NONA, realizados na Suécia na cidade de Jönköping, sendo o primeiro no final dos anos 1980 e início da década de 1990 e o segundo no final da década de 1990, com idosos maiores de 85 anos25,26. Esses estudos avaliaram a relação entre sobrevida de idosos da comunidade e alterações de importantes parâmetros imunológicos relacionados às células de linhagem linfocitária. A seleção desses idosos foi realizada com protocolos bem estabelecidos (SENIEUR European e OCTO-Immune – Protocols) que buscavam selecionar idosos saudáveis na comunidade para acompanhamento clínico e trabalhos científicos. As análises foram realizadas comparando as mensurações laboratoriais de parâmetros imunológicos iniciais entre os indivíduos que continuavam vivos e aqueles que haviam falecido dois anos após o início dos referidos trabalhos; e posteriormente reavaliações após quatro e seis anos foram feitas seguindo o mesmo padrão descrito25-28. A avaliação imunológica consistiu na determinação do número e da linhagem de linfócitos existentes, bem como de suas relações. Após análise laboratorial e estatística, esses trabalhos identificaram que o subgrupo associado a menor sobrevida apresentava características imunológicas semelhantes entre si e que incluíam pobre resposta proliferativa das células T, alta porcentagem de linfócitos CD8 e baixa porcentagem de linfócitos CD4 e CD19. Determinaram, portanto, um padrão inicial de vulnerabilidade imunológica a ser posteriormente estudada5,25. Hyland et al. e Olson avaliaram particularidades dessa população, mais especificamente a população 115 do OCTO-study, e verificaram uma relação determinante entre as alterações imunológicas linfocitárias apresentadas e a positividade para CMVH, sendo o maior responsável pela inversão na relação entre células linfocitárias, causando diminuição de CD4 e aumento de CD8, como também determinando a atual definição de PIR usada nos demais estudos relacionados. Nesse PIR, encontram-se a soropositividade para CMVH, a relação CD4/CD8 < 1, a diminuição no número de células B e a piora na resposta das células T7,26-29. Nilsson et al. procuraram, ainda, avaliar a influência da morbidade dos indivíduos nas alterações imunológicas e, consequentemente, no PIR em pacientes soropositivos para CMVH; para tanto, selecionaram 138 idosos que participaram do estudo NONA e aplicaram os protocolos SENIEUR (mais rigoroso) e OCTO-Immune Protocol, além de criarem três grupos para análise: idosos muito saudáveis (SENIEUR), moderadamente saudáveis (OCTO-Immune) e mais debilitados (Não SENIEUR, Não OCTO). Ao avaliar os parâmetros imunológicos desses três grupos, não houve diferença significativa entre a relação CD4/CD8, bem como no número de linfócitos T e sua função, em seus diversos subgrupos. Esse trabalho indicou que o estado de morbidade dos idosos no estudo não interferiu na avaliação do PIR deles. Em todos os grupos estudados, uma avaliação clínica inicial foi realizada e os pacientes com importante comprometimento cognitivo, aqueles portadores de doenças sem possibilidade terapêutica e/ou em cuidados paliativos, bem como aqueles em uso de drogas que atuam diretamente no sistema imunológico, foram excluídos30. Como todos os estudos anteriores trabalharam com uma população muito idosa (86-94 anos), Wikby et al. buscaram avaliar a presença e o impacto desse PIR em uma população de 20 a 100 anos, analisando a presença das alterações imunológicas características e a prevalência quanto ao gênero. Após análise dos resultados, observaram considerável aumento na prevalência do PIR após os 65 anos, sendo também significativamente menos prevalente nas mulheres que nos homens em todas as faixas etárias estudadas; os autores sugeriram uma associação entre o aumento da mortalidade (também em indivíduos com 65 anos e mais) e a presença do PIR31. Também procurando avaliar uma parcela específica da população, Strindhall et al. buscaram avaliar os centenários sobreviventes do estudo NONA após seis anos de segmento e observaram poucas altera- 116 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):112-8 ções imunológicas de células T, sem características de PIR; contudo, um aumento dos neutrófilos presentes e também um importante aumento de IL-6 foram verificados, demonstrando considerável quadro inflamatório presente, em concordância com outros trabalhos da literatura. A justificativa para tais achados já foi citada anteriormente e tem como base um sistema imunológico melhor adaptável por parte desses centenários, seja de causa genética ou de outras a serem descobertas24,32. RELEVÂNCIA CLÍNICA Por se tratar de um assunto relativamente novo, muitos trabalhos ainda serão necessários para esclarecer vários questionamentos existentes; vem-se buscando a padronização de parâmetros mensuráveis, combinando essas alterações imunológicas, como o PIR, com marcadores de envelhecimento biológicos, funcionais e cognitivos para esclarecer a relevância clínica do assunto12. A relevância do CMVH com o aumento da mortalidade, não apenas por sua simples presença no organismo, mas também associada à sua titulação, já está bem estabelecida4; várias propostas têm surgido, como buscar a associação entre o PIR e a síndrome da fragilidade ou mesmo verificar a mudança na incidência desse PIR em resposta à vacinação precoce. Importante lembrar que existem ainda trabalhos em andamento buscando avaliar claramente a associação desse PIR com alterações de marcadores inflamatórios como PCR, TNF-alfa e mortalidade12. Contrapondo-se às descrições feitas até agora, em que apenas efeitos deletérios são atribuídos ao CMVH, alguns trabalhos vêm buscando demonstrar a existência de algum benefício para os portadores de CMVH como fator protetor de câncer ou mesmo infecções e alergias na vida adulta, mas poucos estudos em laboratório foram feitos e nenhum em humanos12. INTERVENÇÃO TERAPÊUTICA Ao buscar a intervenção nesse processo de estímulo constante do sistema imunológico pelo CMVH, dispomos de estratégias sugeridas por vários pesquisadores, como instituir ações preventivas, tratamento medicamentoso e vacinação. Quanto às ações preventivas, deve-se buscar evitar a contaminação pelo CMVH no período pré e pós-natal, ressaltando o período de aleitamento materno, assim como é feito com o HIV, o que se demonstrou ser uma estratégia eficaz na diminuição dos índices de contaminação. A intervenção medicamentosa é uma opção para os já infectados e tem se mostrado eficaz em pacientes transplantados e com AIDS, com diminuição importante na quantidade de vírus CMVH circulante, bem como no estímulo imunológico deste. Segundo Koch et al., as drogas existentes (foscarnet, ganciclovir, cidofovir) podem ser usadas com segurança em idosos, bem como as mais novas como a valganciclovir, com efeitos colaterais menores. Essas drogas seriam utilizadas em idosos monitorados laboratorialmente de forma constante a intervalos regulares e quando houvesse uma excessiva expansão clonal de células CD8 CMVH-específicas ou se determinada a reativação do vírus (real-time PCR)12,18,33. Existem outras opções terapêuticas que podem ser utilizadas, baseadas em experiências bem-sucedidas no tratamento do HIV, que buscam restaurar a função de expansão clonal de células T e, consequentemente, a melhora imunológica; a primeira seria o uso de anticorpos PD-1, a segunda, de IL-10 R e a terceira, de IL-7, na tentativa de estimular a produção de mais células T nativas pelo timo33-36. Quanto à vacina para CMVH, diversos estudos vêm demonstrando benefício em seu uso para pacientes imunodeprimidos e CMVH-negativos, e outros estudos longitudinais estão em andamento, buscando demonstrar os benefícios do uso da vacina para pessoas imunocompetentes e CMVH-soronegativas e sua influência no envelhecimento, resultando em melhora na qualidade e na eficácia da resposta imunológica12,37. Ainda em relação à vacinação de idosos, é importante ressaltar que alguns trabalhos têm demonstrado menor proteção de idosos CMVH-positivos pela vacina contra influenza, justificada pela diminuição da capacidade do sistema imunológico deles em produzir células T de memória para influenza, por causa da diminuição de células nativas T CD8 e CD4 de células B e aumento de células T CD8 CMVH-específicas5,38. CONSIDERAÇÕES FINAIS Verifica-se que existe uma relação positiva e bem definida entre a soropositividade para CMVH e a presença de alterações imunológicas relacionadas principalmente com as alterações de células T e a mortalidade na população geronte. Essas alterações seguem um padrão denominado perfil imunológico de risco ou fenótipo imunológico CMV, PIR e mortalidade em idosos de risco, o qual vem ganhando relevância por estar associado a possíveis falhas à resposta vacinal, ao agravamento das infecções e ao aumento na mortalidade em decorrência da ação deletéria do CMVH no organismo; ainda existem muitas dúvidas a serem esclarecidas, como a possível associação entre reativação viral e o desencadeamento das alterações características do PIR, bem como esclarecimentos quanto ao real impacto no envelhecimento após o controle e a prevenção do CMVH. Trata-se de um assunto relativamente novo e muitos estudos ainda serão necessários para esclarecer sobre a prevenção e a intervenção nesse processo. REFERÊNCIAS 1. Nelson JA, Soderberg-Naucler C. Human cytomegalovirus latency and reactivation – a delicate balance between the virus and its host’s immune system. Intervirology. 1999;42:314-21. 2. Koch S, Solana R, Rosa OD, Pawelec G. 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Definição da especialidade: Geriatria é a especialidade médica responsável pelos aspectos clínicos do envelhecimento e pelos amplos cuidados de saúde necessários às pessoas idosas nos diversos ambientes dos sistemas de saúde. É a área da medicina que cuida da saúde e das doenças da velhice nos aspectos físicos, cognitivos, funcionais e sociais, nos cuidados agudos, crônicos, de reabilitação, preventivos e paliativos dos idosos, oferecendo abordagem multidimensional, atuando em equipe interdisciplinar e com o objetivo principal de garantir e otimizar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida dos idosos. Pré-requisito: Residência Médica em Clínica Médica por 2 (dois) anos, credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica. Carga horária total: 2.880 horas (60 horas semanais por 2 anos): distribuídas conforme Resoluções da CNRM. Possibilidade de terceiro ano em cinco áreas específicas (neuropsiquiatria geriátrica, cardiologia geriátrica, cuidados paliativos em geriatria, urgências em geriatria, assistência asilar geriátrica e assistência domiciliar geriátrica), desde que o serviço comprove condições para oferecer o treinamento (profissionais habilitados para supervisão e local para treinamento). Treinamento em serviço sob supervisão: 80% da carga horária. 120 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):119-25 Atividades didático-teóricas: 20% da carga horária. Distribuição da carga horária de treinamento em serviço: 40% da carga total em Unidade de Internação: Hospital e Instituição de Longa Permanência; 30% da carga horária total em Ambulatório e Assistência Domiciliar; 10% da carga horária total em Urgência e Emergência: Unidade de Terapia Intensiva e Unidade de Pronto Atendimento. Tipos de treinamento em serviço sob supervisão: Atendimento sob supervisão, apresentação de casos clínicos, visitas hospitalares, domiciliares e asilares com discussão dos casos, participação ativa nas discussões clínicas, realização de tarefas predefinidas e plantões. Tipos de atividades didático-teóricas: Participação em sessões anatomoclínicas, clínico-radiológicas e clínico-laboratoriais, cursos, palestras, seminários, discussão de artigos científicos e outras atividades. Estágios recomendados: Medicina Física e Reabilitação, Neurologia, Psiquiatria, Cardiologia, observando-se a ênfase em atendimento geriátrico. Atividades obrigatórias: Atividades em Equipe Multidisciplinar com supervisão de profissional titulado pela SBGG/AMB. Características da supervisão: Supervisão permanente e presencial por médicos portadores de certificado de Residência Médica em Geriatria e/ou título de Especialista em Geriatria pela SBGG/AMB, na proporção mínima de um preceptor em regime de tempo integral para cada 6 (seis) residentes ou de dois preceptores em regime de tempo parcial para cada 3 (três) residentes. Objetivos da Residência Médica em Geriatria: Geral: capacitar médicos a realizar prevenção, diagnóstico e tratamento especializado nas questões de saúde do indivíduo idoso, compreendendo as pecu- liaridades do processo do envelhecimento e seu aspecto multidimensional. Específico: ao longo da formação o profissional deverá receber treinamento e orientação para conhecer e compreender o processo de envelhecimento e ter habilidades e atitudes para atuar na promoção, prevenção, manutenção e reabilitação da saúde do idoso. Residente do 1° ano (R1) – deve ser capaz de: 1. Compreender o processo de envelhecimento populacional que ocorre no Brasil e no mundo (transição demográfica e epidemiológica), suas causas e consequências, bem como a importância das informações em saúde como recurso de planejamento da Atenção à Saúde do Idoso. 2. Conhecer a evolução histórica da política social dos idosos e dos espaços públicos ocupados pela sociedade civil na luta pelos direitos dos idosos, bem como toda a legislação vigente. 3. Conhecer a Política Nacional da Saúde da Pessoa Idosa e a estrutura de funcionamento dessa política. 4. Identificar as principais modificações morfofuncionais que ocorrem no processo de envelhecimento e correlacionar com a dificuldade de avaliação do indivíduo idoso. 5. Reconhecer as peculiaridades da farmacocinética e farmacodinâmica das drogas que ocorrem no idoso e sua aplicação prática. 6. Reconhecer a influência das condições sociais, psicológicas e culturais sobre o estado de saúde dos idosos. 7. Aplicar as técnicas de comunicação verbal e não verbal ao paciente idoso. 8. Conhecer as peculiaridades da anamnese e do exame físico do paciente idoso e ter habilidades na realização deles. 9. Compreender as grandes Síndromes Geriátricas (“Gigantes da Geriatria”): insuficiência cognitiva, imobilidade, instabilidade postural e quedas, incontinência, iatrogenia, suas causas e consequên­ cias. 10. Compreender a importância da Avaliação Geriátrica Ampla/Avaliação Geriátrica Global na avaliação multidimensional do idoso e ter habilidade e destreza para realização dela. 11. Reconhecer as peculiaridades da apresentação das doenças mais comuns no idoso. Residência médica em Geriatria 12. Manusear pacientes portadores de múltiplas afecções, considerando as possíveis interações entre elas, bem como o risco e o benefício de cada procedimento e/ou tratamento. 13. Identificar os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas e realizar o rastreamento dessas doenças em idosos. 14. Manusear pacientes idosos nas principais situa­ ções de urgência e emergência, bem como pacientes em estado crítico. 15. Identificar o idoso frágil ou em risco de fragilidade e programar medidas para sua prevenção, tratamento e reabilitação. 16. Atuar em equipe interdisciplinar reconhecendo a importância da assistência multidimensional no cuidado ao idoso. 17. Identificar as modalidades de suporte social como: Centro-dia, Hospital-dia, internamento domiciliar, cuidadores de idosos e instituições de longa permanência, bem como as indicações de cada uma. 18. Identificar os riscos que predispõem à institucionalização de idosos. 19. Compreender a importância da medicina basea­ da em evidências e sua utilização na prática clínica. 20. Abordar os aspectos éticos, bioéticos e legais referentes ao atendimento do idoso. Residente do 2° ano (R2) – deve ser capaz de: 1. Delinear programa de promoção, prevenção e avaliação periódica de saúde para envelhecimento saudável. 2. Identificar os riscos potenciais de hospitalização em idosos e estratégias de prevenção. 3. Abordar adequadamente os principais problemas relacionados à hospitalização de idosos. 4. Avaliar risco cirúrgico e prestar assistência perioperatória aos idosos em situações de cirurgia eletiva ou de emergência. 121 7. Reconhecer a utilidade da tecnologia médica nas condições apropriadas, cientes das limitações da intervenção médica e da sua obrigação de cuidar do idoso cronicamente doente e/ou com doença terminal. 8. Avaliar e manusear os pacientes que necessitam de cuidados paliativos, identificando suas necessidades físicas, psicológicas, espirituais e sociais, além das necessidades de seus familiares. 9. Conhecer a legislação brasileira e o Código de Ética Médica em relação à terminalidade da vida e cuidados paliativos. 10. Compreender e identificar situações de negligência e maus-tratos aos idosos e os fatores que podem influenciá-las. 11. Indicar programas de reabilitação funcional para o paciente idoso. 12. Indicar programas de adaptação de ambientes ao nível domiciliar e público e utilização de instrumentos auxiliares para melhoria da capacidade funcional. 13. Realizar atendimento domiciliar, compreendendo suas indicações, benefícios e limitações. 14. Orientar familiares cuidadores de idosos nas diversas situações clínicas. 15. Atender e acompanhar idosos em todos os ambientes da rede pública e privada de saúde, como ambulatório especializado, hospitais, serviços de Atenção Básica, Estratégia de Saúde da Família, Centro-dia, Hospital-dia, serviços de urgência, serviços de cuidados paliativos, unidades de terapia intensiva e nos serviços de assistência domiciliar. 16. Conhecer a legislação vigente com relação à curatela e a interdição nas situações indicadas nos idosos. 17. Organizar e administrar Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPs), Centro-dia, Hospital-dia e serviços de internação domiciliar. 18. Coordenar programas e serviços de Geriatria. 5. Executar com competência procedimentos médicos invasivos básicos considerados essenciais para o atendimento do idoso. 19. Aplicar os conhecimentos de ética, bioética, metodologia científica, epidemiologia e bioestatística para formulação de projetos de pesquisa na área do envelhecimento. 6. Manusear paciente sem perspectiva de cura, indicando e estabelecendo plano de cuidados paliativos. 20. Atuar em atividades de ensino como participação em preceptoria de internos e estudantes de medicina. 122 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):119-25 Programação didático-teórica – 576 horas (máximo de 20% da carga horária): valvulopatias, endocardite, cardiomiopatias, hipotensão arterial, síncope. Temas: 25. Aterosclerose, fatores de risco cardiovasculares. 1. Introdução e histórico da Geriatria no Brasil e no mundo. 26. Doenças cerebrovasculares: acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico. 2. Epidemiologia do envelhecimento (transição demográfica e epidemiológica) e indicadores de saúde. 27. Síndromes parkinsonianas, tremor essencial, doen­ça de Parkinson. 3. Ética médica e bioética. 28. Pneumonias, doença pulmonar obstrutiva crônica, embolia pulmonar, tuberculose. 4. Introdução à Metodologia Científica e Bioestatística. 29. Saúde bucal do idoso. 5. Política Nacional do Idoso/Aspectos legais. 6. Políticas de saúde para idosos e inserção do idoso no Sistema Único de Saúde. 7. O idoso na sociedade/Estatuto do idoso. 8. Biologia do envelhecimento/Teorias do envelhecimento. 9. Aspectos biológicos e fisiológicos do envelhecimento. 10. Prevenção e promoção da saúde do idoso. 11. Indicação e prescrição de atividade física para idoso. 12. Geriatria básica: conceitos básicos, atividades básicas de vida diária (ABVDs), atividades instrumentais de vida diária (AIVDs) e os “Gigantes da Geriatria”. 13. Exames complementares e instrumentos de avaliação. 30. Doenças do esôfago, gastrites, úlceras pépticas e gástricas, doenças do fígado, doenças dos intestinos, doenças da vesícula, vias biliares e pâncreas, hemorragia digestiva. 31. Hiperplasia prostática, prostatite, disfunção erétil, insuficiência renal. 32. Osteoporose, osteomalácia, osteoartrite, artrite reumatoide, doença de Paget, fibromialgia, polimialgia reumática, gota e outras doenças do tecido conectivo. 33. Diabetes mellitus, doenças da tireoide e das paratireoides, síndrome metabólica, obesidade, climatério. 34. Neoplasias no idoso. 35. Doenças dermatológicas no idoso. 36. Anemia/Mieloma múltiplo/Síndromes mielodisplásicas. 37. Dor no idoso. 14. Avaliação Geriátrica Ampla (Avaliação Geriátrica Global). 38. Sexualidade do idoso. 15. Distúrbios hidroeletrolíticos. 40. Infecções e imunizações do idoso. 16. Déficit cognitivo e demências. 17. Delirium. 18. Depressão e ansiedade. 39. Nutrição em geriatria. 41. Cirurgia e anestesia do idoso. 42. Trauma no idoso. 19. Instabilidade postural e quedas. 43. Doenças dos órgãos dos sentidos e vertigem no idoso. 20. Imobilidade e úlceras por pressão. 44. Sono do idoso. 21. Incontinência urinária e fecal. 45. Reabilitação do paciente geriátrico. 22. Iatrogenia e farmacologia em Geriatria. 46. Cuidados paliativos. 23. Síndrome da fragilidade. 47. Aspectos éticos e bioéticos no atendimento ao idoso e na terminalidade da vida. 24. Hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca, doença arterial coronária, arritmias, doença arterial periférica, doenças da carótida, 48. Equipe multidisciplinar, modalidades de atendimento e suporte social. Residência médica em Geriatria 123 49. Rastreamento de neoplasias e doenças crônicas no idoso. cursos por semestre. Podem ser convidados outros profissionais de outros serviços para participação. 50. Adaptação ambiental e indicação de instrumentos auxiliares da marcha. 7.Palestras: exposição sobre tema considerado relevante por profissional qualificado. A periodicidade dependerá da necessidade do grupo e das oportunidades, podendo ser convidados outros profissionais (extrasserviço) para participação. Estratégias de atuação: 1. Sessão anatomoclínica: discussão de casos de pacientes que foram a óbito, submetidos à necropsia em que é correlacionada a clínica com o diagnóstico anatomopatológico. Os casos são apresentados por determinado residente e a discussão é aberta para todos (residentes e preceptores), e posteriormente é feita revisão teórica sobre o diagnóstico relevante do caso e suas correlações. A periodicidade sugerida é mensal e sempre com a presença de no mínimo dois preceptores. 2. Sessão clínico-radiológica: discussão de casos em que é feita a correlação da clínica com o diagnóstico radiológico. Os casos são apresentados por determinado residente e a discussão é aberta para todos (residentes e preceptores); posteriormente é feita revisão teórica sobre o diagnóstico relevante do caso e suas correlações. A periodicidade sugerida é mensal e sempre com a presença de no mínimo um preceptor. 3. Sessão clínico-laboratorial: discussão de casos em que é feita a correlação da clínica com o diagnóstico laboratorial. Os casos são apresentados por determinado residente e a discussão é aberta para todos (residentes e preceptores); posteriormente é feita revisão teórica sobre o diagnóstico relevante do caso e suas correlações. A periodicidade sugerida é semanal, sempre com a presença de no mínimo um preceptor. 4.Seminários: grupo de estudos em que se debate a matéria exposta por cada um dos participantes, sendo o residente o agente de sua aprendizagem. A periodicidade sugerida é semanal, sempre com a presença de no mínimo um preceptor. 5. Discussão de artigos científicos: reunião em que é apresentado, por um residente, um artigo previamente escolhido e distribuído para todos e realizada discussão. A periodicidade sugerida é semanal, sempre com a presença de no mínimo um preceptor. 6.Cursos: série de aulas, conferências ou palestras sobre um tema ou sobre vários temas, conexos ou não. A periodicidade sugerida é de no mínimo dois 8. Outras atividades: poderão ser realizadas outras atividades a critério da necessidade do grupo. Treinamento prático em serviço (mínimo de 80% da carga horária): Residente do 1° ano (R1) – Programa: 1. Estágio em Urgência/Emergência e UTI, atendimento de adultos e idosos – 288 horas (10% da carga horária anual): proporção na Emergência, a depender do serviço; em UTI, máximo 3 (três) pacientes por residente. 2. Estágio em enfermaria de idosos – 576 horas (20% da carga horária anual): proporção de no mínimo 5 (cinco) e no máximo 8 (oito) pacientes por residente. 3.Estágio em instituição de longa permanência para idosos (ILPI) asilo – 576 horas (20% da carga horária anual): proporção de no mínimo 8 (oito) pacientes e no máximo 10 (dez) pacientes por residente. 4. Estágio em Ambulatório de Geriatria e assistência domiciliar geriátrica – 864 horas (30% da carga horária anual): no ambulatório, mínimo de 30 minutos por paciente; no turno de 4 horas, máximo 6 (seis) pacientes por residente; no atendimento domiciliar, máximo de 2 (duas) visitas por turno. • Em todos os locais de estágio são obrigatórias atividades em equipe multidisciplinar. • É imprescindível que o atendimento domiciliar seja feito sob supervisão. Residente do 2° ano (R2) – Programa: 1. Estágio em enfermaria de idosos – 576 horas (20% da carga horária anual: proporção de no mínimo 6 (seis) e no máximo 8 (oito) pacientes por residente. 2. Estágio em Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) – 576 horas (20% da carga horária anual): proporção de no mínimo 8 (oito) e no máximo 10 (dez) pacientes por residente. 124 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(2):119-25 3. Estágio em Ambulatório de Geriatria e assistência domiciliar geriátrica – 864 horas (30% da carga horária anual): no ambulatório, mínimo 30 minutos por paciente; no turno de 4 horas; máximo 8 (oito) pacientes por residente; no atendimento domiciliar, máximo de 2 (duas) visitas por turno. 4. Estágio em especialidade 1 – 144 horas (5% da carga horária anual). 5. Estágio em especialidade 2 – 144 horas (5% da carga horária anual). • Atenção: em todos os locais de estágio são obrigatórias atividades em equipe multidisciplinar. • É imprescindível que o atendimento domiciliar seja feito sob supervisão. • Nos estágios das especialidades deve haver ênfase no atendimento geriátrico. Plantões: • A carga horária máxima de plantões é de 24 horas semanais em cada ano da residência. • Objetivos dos plantões: • Em nenhuma hipótese serão aceitos como supervisores oficiais médicos sem a titulação exigida; a supervisão deve ser presencial e permanente. Há exceção para as situações de plantões, em que médicos-assistentes do serviço poderão realizar essa supervisão desde que sejam portadores de certificado de Residência Médica e/ou de especialista pela sociedade específica/AMB em área clínica. 3. Equipe multidisciplinar: faz-se necessária equipe multidisciplinar mínima nos locais de estágio e para atendimento domiciliar. 4. Secretaria administrativa: funcionária com no mínimo 2° grau completo, que auxiliará o coordenador nas atividades administrativas. Infraestrutura necessária: 1. Unidade hospitalar com enfermaria específica de Geriatria ou leitos de Geriatria em enfermaria geral com equipe multiprofissional. 2. Unidade hospitalar com atendimento de urgência/emergência para adultos (com atendimento de idosos). –– Treinamento em serviço. 3. Unidade hospitalar com Unidade de Terapia Intensiva para adultos (com atendimento de idosos). –– Atuação em situações críticas em todos os locais de estágio. 4. Unidade de atendimento ambulatorial geriátrica com equipe multidisciplinar. –– Atendimento de urgência/emergência. 5. Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) com equipe multidisciplinar. • Nos plantões, é imprescindível acesso à supervisão – o R2 supervisiona o R1 e o R2 é supervisionado por um preceptor, geralmente médico-assistente do serviço. Recursos humanos necessários: 1.Coordenador: médico portador de certificado de Residência Médica em Geriatria e/ou título de especialista em Geriatria pela SBGG/AMB. 2.Preceptor: médico portador de certificado de Residência Médica em Geriatria e/ou título de especialista em Geriatria pela SBGG/AMB, na proporção mínima de um preceptor em regime de tempo integral para cada 6 (seis) residentes ou de dois preceptores em regime de tempo parcial para cada 3 (três) residentes. • No caso dos estágios em especialidades, os preceptores deverão ser médicos portadores de certificado de Residência Médica e/ou especialista pela sociedade específica/AMB. 6. Equipe multidisciplinar para atendimento domiciliar. 7. Unidade de exames complementares acessível aos diversos cenários de prática com as seguintes características. a. Laboratório de análises clínicas. b. Métodos diagnósticos por imagem: radiologia básica, ultrassonografia e Doppler, tomografia computadorizada e densitometria óssea. c. Exames cardiológicos básicos: eletrocardiograma, teste ergométrico, ecocardiograma bidimensional com Doppler, MAPA, Holter 24 horas. 8. Sala de reunião com material audiovisual. 9. Biblioteca e/ou acesso a bibliotecas virtuais. 10. Sala de repouso para os residentes. Residência médica em Geriatria Avaliação: 1. Exigência de frequência mínima: 100% das atividades. 2. Avaliação trimestral constando de: • Avaliação longitudinal utilizando instrumento específico com no mínimo os seguintes quesitos: i. Comprometimento com a prática (pontua­ lidade, assiduidade, apresentação, organização, eficiência, realização de tarefas). ii. Habilidades de comunicação com pacientes e familiares (vínculo, segue adequadamente as fases do atendimento, empatia, estabelece confiança). iii. Habilidades de anamnese (coleta de história, habilidades de escrita e organização do prontuário, passagem de casos). iv. Habilidades de aplicação da Avaliação Geriátrica Ampla/Avaliação Geriátrica Global (escolha adequada dos testes e escalas, habilidade na aplicação, interpretação adequada, correlação com a clínica). v. Habilidades de exame físico (segue sequên­ cia eficiente, lógica; informa o paciente; sensível ao conforto do paciente). vi. Julgamento clínico (identificação e diferenciação de doenças e enfermidades, avaliação de tratamento). vii. Relacionamento com equipe multidisciplinar (respeito, encaminhamento adequado a cada membro). viii.Apresentação e participação nas atividades teóricas (apresentador: organização/ conteúdo; plateia: interesse participação). ix. Habilidades de comunicação com preceptor/supervisor (respeito, educação, hierarquia, colaboração). x. Comportamento ético (atitude: com pacientes, familiares, colegas e outros profissionais da instituição em que está atuando). xi. Evolução durante o estágio (participação, progressão, questionamento, reflexão). • A escolha do instrumento ou elaboração dele fica a critério do serviço desde que avalie todos os quesitos definidos acima. • Utilização de livro de registro (logbook) ou portfólio para registro e avaliação das atividades realizadas durante os diversos estágios. 125 • Deverá ser realizado feedback após a avaliação para que sejam reformulados os problemas encontrados. 3. Avaliação semestral constando de: • Avaliação das competências e habilidades utilizando instrumentos de avaliação padronizados: exemplos: Miniex – Miniexercício clínico avaliativo ou por OSCE (Objective Strutured Clinical Examinator) e outros. • Teste cognitivo (teste objetivo ou subjetivo). • Deverá ser realizado feedback após a avaliação para que sejam reformulados os problemas encontrados. 4. Monografia ou artigo para publicação ao término do programa (opcional); • Essa definição deve ser feita no início da Residência e devem ser elaborados os critérios exigidos. 5.Atenção: • O residente deverá estar ciente previamente dos critérios e das avaliações que serão utilizadas. Recomenda-se comunicação oficial com assinatura de documento de ciência. • O feedback deve ser sempre realizado após cada avaliação para fins de correção dos problemas encontrados. • O residente tem direito à revisão e ao recurso das notas oferecidas de acordo com o regulamento ou regimento da Coreme local. • O residente que não atingir a nota mínima exigida pelo programa será reprovado e deverá repetir o período de estágio no qual não foi aprovado. Comissão responsável pela elaboração deste documento: Dr. Adriano Cezar B. Gordilho – Diretor de Defesa Profissional da SBGG Dra. Elisa Franco de Assis Costa – Coordenadora de Residência/Membro do Conselho Consultivo da SBGG Dra. Siulmara Cristina Galera – Presidente da Comissão de Título da SBGG/AMB Dra. Silvia Regina Mendes Pereira Presidente da SBGG Gestão 2010-2012 Carta ao Editor Vagas de residência médica em Geriatria Vacancies in Geriatrics medical residency Milton Luiz Gorzoni1 Divulga-se regularmente, por vários meios de comunicação, científicos e leigos, que a população brasileira está sofrendo rápido processo de envelhecimento. O mesmo ato discursivo adverte sobre a necessidade da formação de profissionais especializados no atendimento a idosos. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) vem desenvolvendo intenso trabalho de vistoria para credenciamento de locais e/ou instituições em condições de capacitação desses profissionais. Várias dessas instituições estão obtendo, por intermédio de diversas fontes de fomento a recursos humanos, aumentos progressivos de vagas, notadamente para residência médica em Geriatria. Mas todo esse esforço, meritório e necessário, está encontrando inesperado obstáculo em seu caminho: a falta de candidatos que preencham o total de vagas de residência médica em Geriatria ofertadas por serviços – credenciados ou recredenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) e pela SBGG. Quais seriam as razões do não interesse do jovem médico em se tornar geriatra? Na ausência de candidatos, os concursos públicos para essas vagas não estariam admitindo médicos com formação duvidosa em serviços de Clínica Médica não vinculados a hospitais de ensino? A capacidade de expansão desses grupos relacionados com Geriatria e Gerontologia não sofrerá progressiva dificuldade de renovação de pessoal habilitado? As respostas a essas questões, embora preocupantes, são merecedoras de especulação e discussão entre os membros da SBGG, visto que a nossa instituição científica torna-se indiretamente corresponsável pelos rumos da boa formação de geriatras e gerontólogos no Brasil. Qual a remuneração média de um médico geriatra? É provável que o jovem médico analise esse contexto ao optar por outra especialidade médica, bem como a carga de trabalho e a qualidade de vida do especialista em Geriatria. Podemos, como Sociedade Científica, fazer algo? Sim, na abordagem da defesa profissional, concursos públicos e tabelas de procedimento. Não será uma luta simples nem curta, mas aparentemente é um dos caminhos a serem definidos. Endereço para correspondência: Milton Luiz Gorzoni •Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II• Av. Guapira, 2674 – 02265-022 – São Paulo, SP• Telefone: (11) 2176-1204/telefax: (11) 5589-9408• E-mail: [email protected] Professor adjunto e coordenador das disciplinas de Geriatria e de Fundamentos de Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 1 Vagas de residência médica em Geriatria Tendo que admitir candidatos à residência médica em Geriatria com formação duvidosa em Clínica Médica, poderíamos desenvolver programa paralelo e complementar na segunda especialidade durante o período de residência da primeira? Trata-se de questão de cunho institucional que eventualmente pode ser discutida internamente pela SBGG ou entre ela e a CNRM. Com justíssima razão, poderia ser argumentado que não é função de Geriatria ensinar Clínica Médica, mas também seria adequado questionar sobre a qualidade de formação de quem portará certificado de residência médica de instituições de alta tradição no ensino de Geriatria e Gerontologia. A terceira e última questão não deixa de ser a também de maior preocupação, visto que se corre 127 o risco da deterioração da capacidade dessas instituições em manter seu padrão de ensino e pesquisa, criando-se, assim, espaço de ocupação por outras especialidades na área de assistência e investigação do envelhecimento. O apresentado nos parágrafos anteriores não cria conclusões, mas, sim, discussões. No entanto, é tempo de os membros da SBGG ficarem atentos a esse processo evolutivo quanto a vagas de residência médica em Geriatria e de discutirem-no. Poderemos ganhar em qualidade e em quantidade, tanto como instituições individualmente, como Sociedade Científica e, principalmente, como brasileiros que estão envelhecendo. AGENDA DE EVENTOS Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP, ou por e-mail: [email protected] II Simpósio de Fonoaudiologia Gerontológica Realização: SBGG – RJ; CIPI e UnATI Data: 26 de setembro de 2011 Cidade: Rio de Janeiro Local: Centro de Estudos da Policlínica Piquet Carneiro – PPC Seccional: Rio de Janeiro Informações: [email protected] II Jornada Cearense de Geriatria e Gerontologia Caminhos para o envelhecimento ativo Realização: SBGG - Ceará Data: 14 de outubro de 2011 a 15 de outubro de 2011 Cidade: Fortaleza Local: Hotel Praia Centro Seccional: Ceará Informações: www. [email protected] GeriatRio 2011 - VI Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro Realização: SBGG-RJ Data: 20 de outubro de 2011 a 22 de outubro de 2011 Cidade: Rio de Janeiro Local: Hotel Windsor Barra Seccional: Rio de Janeiro Informações: www. [email protected] IAGG Pan American Congress 2011 – “New Directions for Aging” Realização: IAGG Data: 21 de outubro de 2011 a 23 de outubro de 2011 Cidade: Ottawa, Canadá Local: Westin Ottawa Hotel Informações: www.cagacg.ca 8th World Congress on Long Term Care in Chinese Communities and Asia Ageing Development Conference Realização: Hong Kong Association of Gerontology Data: 24 de novembro de 2011 a 26 de novembro de 2011 Cidade: Hong Kong Local: Kowloon Instruções aos autores Informações gerais Tipos de artigos publicados A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é a publicação científica tri- A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e Comentários. Esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos Originais. Contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30]. Artigos de Revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estudos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com Introdução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clí­nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências. Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências bibliográficas. Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências. mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, para veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: [email protected]; [email protected], ou por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordância com a cessão de direitos autorais. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução]. Devem ser apresentados na sequência: a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, telefone(s), fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/ mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Métodos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados. Devem se limitar a des­crever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Conflito de interesses Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Require­ments for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www. icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabili­dade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Artigos em periódicos eletrônicos Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Instructions for authors Background Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aim­ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members, and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br. Instructions for Manuscript Sending Papers should be sent either by e-mail to: [email protected]; [email protected] or by mail in CD or DVD to: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will receive message acknowledging the paper receipt; should this do not occur up to seven working days from the sending, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stat­ing that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the cession of copyright. Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the their scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized. Research Involving Human Subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (in­stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific law requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term. Categories of Manuscripts G&G accepts the following submissions: Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowl­edge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures [not exceed­ing 5]) and references [not exceeding 30]. Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on a certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief Communications. These manuscripts are short articles aiming at release of preliminary results of research; study results involving low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The structure should follow what is requested in an original article. Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduction, Case Report (describing the patient, clinical examination results, follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature), and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and should not exceed 1,500 words and 15 references. Letters to the Editor. Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references. Instructions for Manuscript Preparation Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables); fig­ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters; b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other man­uscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six key words should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu script theme, words or expressions of known use might be indicated. Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods. This section should have clear and brief description of proceedings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results. This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of Interest Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent shar­ing related to marketed products or technology involved in the manu­ script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. References Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic­al Journals. Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Examples of reference style: Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Book chapters Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Essays and theses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc. Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Articles from electronic journals Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Texts in electronic format Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 • www.segmentofarma.com.br • [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Relações institucionais: Valeria Freitas Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Marcela Crespi, Philipp Santos e Valeria Freitas Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Designer: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 12103.9.11 Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº 96/08.