COLETÃNEA SOBRE PINHÃO MANSO, NA EPAMIG PRIMEIRA PARTE: 1- RELATÓRIO FINAL DO PRIMEIRO PERÍODO 2- PESQUISANDO: A CULTURA DO PINHÃO MANSO 3- PINHÃO MANSO - Nota explicativa sobre a presente coletânea e o trabalho com Pinhão Manso na EPAMIG. Ao se retomar esforços no sentido de obter biodiesel a partir do pinhão manso, é obvio que se procure neste ano de 2003, obter informações e conhecimentos advindos de trabalhos já realizados. A EPAMIG iniciou na década de 1980 trabalhos em parceria com o Finep, descritos em relatório datado de março de 1985, relativos a primeira etapa de um vasto plano então delineado. O texto deste relatório e também informações sobre a cultura então disponíveis, são apresentados na primeira parte desta coletânea. Infelizmente, é necessário dizer, os trabalhos não tiveram seqüência, não foram aportados recursos necessários à continuação dos cronogramas, e não prosseguiram os plantios experimentais. Uma mudança no enfoque governamental deixou à margem todo o trabalho feito, e por ausência de meios, a pesquisa não avançou e tampouco gerou resultados. Procura-se agora informações sobre a cultura que nestes 20 anos passados poderiam ter sido obtidas, e constituir um importante e vasto acervo para ações no presente. Os fatos ocorridos explicam a razão da não existência destas informações no âmbito da EPAMIG. Entretanto não significa isto desmotivação ou falta de apreço com o tema. Existindo interesse em uma retomada de trabalhos experimentais, tem todo o interesse em voltar à lide naquilo que lhe compete, com todo o seu acervo de pesquisadores, infra-estrutura e fazendas experimentais. Basta para tanto ter as condições materiais e os recursos econômicos necessários à tarefa. Durante a busca de informações sobre o pinhão manso e outras espécies, tivemos oportunidade de falar com o Dr. Lamster sobre combustíveis advindos da biomassa, tema por ele estudado. Por gentileza de sua parte, disponibilizou dados que constituem a segunda parte desta coletânea, bem como informações sobre um tipo de motor especializado para este tipo de combustível. Ao Dr. Lamster nossos melhores agradecimentos. EPAMIG. PROJETO PINHÃO MANSO EPAMIG /FINEP RELATÓRIO FINAL RELATIVO AO 1º PERÍODO ENCERRADO A 31 DE MARÇO DE 1985 Introdução: O pinhão manso, Jatropha curcas l., é uma Euforbiácea produtora de sementes ricas em óleo fácil e economicamente transformado em óleo para fins combustíveis, em substituição ao óleo tradicional. A EPAMIG, por este projeto em parte financiado pela FINEP, procurou desenvolver estudos e práticas culturais que permitam a cultura em grande escala desta oleaginosa com a vantagem do país passar a possuir uma nova fonte de óleo combustível para seus motores a explosão e caldeiras estáticas trazendo ao mesmo tempo nova fonte de renda para o meio rural. Como a semente do pinhão é armazenada por muitos meses sem se estragar antes do beneficiamento, esta planta poderá ser cultivada também nas pequenas propriedades e suas produções arrebanhadas para o benefício em usinas centrais. Tendo longa vida, mais de 30 anos, de produção, a cultura estabelecida numa propriedade poderá ser uma fonte de renda permanente, quase não exigindo cuidados especiais, depois de estabelecida. TRABALHOS EXECUTADOS Os plantios do pinhão foram lançados em 5 fazendas experimentais da EPAMIG: Felixlândia, na rodovia Belo Horizonte/Brasília, em região de cerrado pobre, com 3 hectares; Janaúba, no Norte de Minas, com irrigação, em terreno aluvial rico, em sucessão a um plantio de banana, com 1 hectare; Jaíba, próxima a Janaúba (sob a mesma administração),em terreno de mata seca, sem irrigação, terra boa, 10 hectares; Acauã, no Município de Minas Novas, também no Norte de Minas, terras de fertilidade média, de mata seca, formação de chapada, 10 hectares, no Vale do Jequitinhonha; Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, terras de pastagens (matas originais), terreno amorrado, não permitindo sua mecanização, 7 hectares. A área total plantada, em 1983 e 1984, foi de 40 hectares. Apenas em Governador Valadares os terrenos são acidentados, nas outras fazendas os plantios foram mecanizados. O clima é quente, em Governador Valadares, Janaúba e Jaíba, menos quente em Felixlândia e ameno em Acauã, por ser uma chapada. Pequenos plantios foram feitos também em Lambari, Sul de Minas e na Seropédica, Baixada Fluminense (PESAGRO-RIO), município de Itaguaí – RJ, com o clima frio no inverno e muito quente e úmido, respectivamente. A semente do pinhão usada nestes plantios foi obtida nas próprias regiões do plantio e um bom estoque foi recebido da CATI, de São Paulo, de seu plantio experimental em Araçatuba, no Nordeste paulista, onde a planta é conhecida com o nome de pinhão do Paraguai. Nos plantios efetuados procuraram-se estudar as melhores práticas culturais a serem seguidas pelo produtor, pois não havia informações sobre a técnica a se usar para esta cultura. O pinhão, no interior, geralmente é plantado por estaca, às vezes por sementes, ao longo de cercas da propriedade, pois quando crescem as plantas formam um tapume intransponível ao gado, com a vantagem de não ser uma planta por demais agressiva, espinhenta e o óleo de suas sementes ser usado na fabricação de sabão caseiro e industrial além de ser muito superior ao querozene para a iluminação por lamparinas, tão corriqueira em nosso meio rural. Apenas em Araçatuba, no plantio da CATI, algumas informações foram obtidas, do Dr. Getúlio Yuassa, conseguidas com uma visita do agrônomo executor do projeto àquela localidade, em 1983. Procurando-se então elucidar quais diretrizes a seguir no grande plantio do pinhão, os seguintes experimentos foram lançados: Em Felixlândia: - Em março de 1982 foi feito o 1º plantio, com sementes de Pedra Azul(MG), Araçatuba e locais. Apenas as 2 últimas germinaram bem, sendo feito o replantio das falhadas. Neste plantio, feito com 3 x 2 m de espaçamento, há covas com duas (2) plantas e outras com 1 (uma) planta; foram etiquetadas 40 covas de cada tipo, escolhidas as das melhores plantas e suas produções individuais estão sendo registradas, para apuração do efeito do número de plantas por cova sobre a produção e escolha de matrizes. Em outubro de 1983 foram lançados os seguintes experimentos, em outras áreas: - Espaçamento: 3 x 3m, 3 x 2, 3 x 1, 2 x 2, 2 x 0,5, 2 x 1, (3 + 2 + 3) x 2, (3 + 2 + 3) x 2, (3 + 2 + 3) x 1, (2 + 1 + 2) x 1, (2 + 1 + 2) x 2, (3 + 1 + 3) x 2, (3 + 1 + 3) x 1. Com 3 repetições. ( O 1º valor no espaçamento refere-se a distância entre fileiras, o 2º entre plantas na fileira. Valores entre parêntesis referem-se a distâncias desiguais entre fileiras). - Consorciação do pinhão com outras culturas: pinhão plantado a 3 x 2 m, nas ruas plantadas 2 fileiras de; feijão Carioca, ou milho CMS 19, ou milho BR 126, ou sorgo granífero AG 1015, ou sorgo forrageiro BR 301, e a testemunha (sem consórcio); 4 repetições. Em Dezembro de 83 foi lançado: - Experimento de adubação: com calcáreo dolomítico e sem calcáreo, na cova, colocado com antecedência: NPK 4-14-8 100 gr/cova, NPK 200 gr, esterco bovino 10 lt/cova, esterco + NPK 100 gr, esterco 20 lts/cova, testemunha sem adubo, 4 repetições, espaçamento 3 x 2 m. Em abril de 84 foi lançado: - Experimento de propagação por sementes e mudas; plantio por 4 sementes na cova, plantio por estacas inteiras com 1 metro de comprimento , plantio por estaca tirada da base com 30 cm, plantio por estaca tirada do topo com 30 cm. Espaçamento 2 x 1 m. Em dezembro de 84 foi lançado o experimento: plantio do pinhão com mudas de raízes nuas, de viveiro, de diversas idades, com consórcio. Foram usadas mudas com 8 meses, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 mês de idade, mudas em saquinhos plásticos com 6 meses de idade, semeio direto na cova (como testemunha). Plantio 4 x 2 m. Consórcio com mamona, var. roxa e variedade verde, sementes locais. Covas feitas à perfuratriz de trator, 75 x 25 cm, 10 lts de esterco bovino curtido no fundo da cova e 100 gr NPK 4-14-8 na camada superficial da terra. Os tratamentos foram lançados em fileiras de 58 a 158 metros, ocupando o experimento uma área de 4.708 m2 . Também em dezembro de 84 foi lançado o experimento: plantio do pinhão com e sem esterco, com consorciação com a mandioca, esta plantada em covas e em camalhões. Espaçamento do pinhão 4 x 2. adubação na cova do pinhão com esterco. 10 Litros plantio com 4 sementes por cova. Mandioca cultivar Sonora. Pinhão plantado em sulcos feitos a trator, com sulcador de cana, o local da cova com terra acumulada em forma de tumba. Dados de Observações Obtidas até Março de 85 em Felixlândia - O plantio de 1982 já deu algumas “catações” de frutos, mas os de 83 e 84 estão ainda muito novos. Acreditamos que sob as condições de cerrado o pinhão poderá produzir normalmente somente do 4º ano em diante, firmando-se sua carga aos 6 anos de idade. Os espaçamentos mais juntos são indicados nos plantios por sementes, diretamente na cova, pois ocorre sempre de 20 a mais por cento de falhas; os plantios com mudas de raízes nuas foram mais práticos, pois as plantas foram para o campo já bem fortes, em melhores condições de arrostar o sol forte de verão e ataque de formigas e outras pragas; mudas formadas no viveiro com 6 meses de idade mostraram ótimas condições para serem levadas ao campo, no início das chuvas de verão; a obtenção das mudas no viveiro por sementeiras concentradas e bem preparadas mostrou-se um método e eficiente na propagação do pinhão. Devido à demora do início da produção do pinhão, o espaçamento nas ruas de 4 ms, mostrou-se ser o mais indicado, permitindo melhores tratos mecânicos e plantios de cultura em consorciação. O sorgo, feijão e o milho deram boas produções em consórcio, assim como a mamona. Esta oleaginosa, plantada em dezembro de 84, deu ótima colheita em junho de 85, quando as plantas do pinhão ainda tinham 80 cm de altura. Acreditamos que a mamona consorciada ao pinhão suprirá plenamente a produção de óleo até o pinhão entrar em franca produção. No próximo verão, a EPAMIG plantará em consórcio com o pinhão toda sua coleção de linhagens e cultivares de mamona, no estudo das que mais se adaptem a este consórcio. A questão da confecção da cova para o pinhão ficou resolvida com o uso de perfuratriz de 75 x 25 cm acoplada ao trator ou o sulcateamento do terreno com sulcador de cana, marcando-se as covas a enxadão no fundo do sulco, colocando-se a muda de raízes nuas no local já adubado com esterco e NPK. Com a perfuratriz fazem-se 2 covas por minuto, em trabalho contínuo de 4 horas, sem intervalo. Uma vantagem deste tipo de cova é não ser essencial a aradura e gradagem de todo o terreno antes do plantio, bastaria sua limpeza com foice e as covas feitas em seguida com o perfuratriz. Em terrenos acidentados, a cova terá de ser feita a cavadeira de lâmina simples seguida de duas conchas (boca de jacaré) para a retirada da terra até os 75 cm de profundidade. As observações até agora, feitas no campo em um teste de plantio do pinhão em covas desde 10 cm profundidade até 1 metro e em saquinhos compridos na casa de vegetação do CIAP (BH) mostraram que a muda do pinhão forma rapidamente sua raiz pivotante; se ela encontrar terra fofa e fresca, devido ao esterco que foi colocado no fundo de cova, ela logo se alonga até o fundo da cova; as raízes secundárias formam-se então a uma boa profundidade no terreno. Esse sistema radicular assim desenvolvido estará então muito mais apto a explorar o terreno para a planta, quer em fertilidade quer na água disponível, trazendo-a das camadas mais fundas. Acreditamos, pelas observações feitas, que nas áreas não mecanizáveis, o maior investimento no plantio do pinhão deverá ser feito na feitura das covas, pois a mão-de-obra necessária será algo elevada, devido o tempo necessário. A adubação da cova do pinhão com 10 litros ou mais de esterco é essencial para o bom desenvolvimento da planta. Isto vem confirmar a observação de que os bons pés de pinhão, com mais de 30 anos que temos visto, com produções até de vários quilos de sementes por ano, encontrados nas fazendas, estão sempre à beira de quintais e áreas próximas a currais e residências, onde recebem certa quantidade de resíduos orgânicos o ano todo. O viveiro para a produção de mudas de pinhão deve ser formado com terra boa, as sementes colocadas lado a lado na fileira, havendo assim uma boa seleção entre as plantas em desenvolvimento devido a concorrência entre elas; as mudas saem do viveiro com raízes nuas, o que facilita sobremodo seu transporte e sua inspecção; é essencial, todavia, que as mudas sejam desfolhadas no arranquio e levadas ao campo envoltas em aniagem molhada; seu sistema radicular não pode ser ressecado ao sol. A formiga chamada em Felixlândia “rapa-rapa”, que come a casca ou líber da muda, foi a praga mais importante; no plantio do pinhão por estacas, esta formiga pode causar certa porcentagem de falhas. O plantio por mudas de 6 meses de idade, já com certo desenvolvimento, mostra também esta vantagem, pois a rapa-rapa não lhe causa prejuízos. O trips, Selenonothrips rubrocinatus apareceu com intensidade, sem causar prejuízos, pois ataca mais as folhas maduras da planta. O ácaro branco Polyphagotarsonemus latus apareceu num foco com intensidade, o qual foi prontamente debelado com a aplicação de enxofre em pó nas plantas. Janaúba: Nesta Fazenda foi formado um hectare de pinhão por semeio direto, em 1982 (dezembro), em terreno de aluvião, rico em matéria orgânica, fértil, onde tinha havido antes um bananal. Irrigação freqüente por infiltração. As plantas de desenvolveram otimamente, produzindo até 1984 quilos de sementes por hectare (vide em anexo). Em fins de 83 apareceram algumas plantas morrendo, na parte mais arenosa do terreno. Exames revelaram ataque de cupim e possivelmente de algum fungo atacando o coleto de árvore. Isolamentos do material doente foram feitos no laboratório da EPAMIG em Janaúba e no CIAP em Belo Horizonte; vários fungos foram obtidos destes isolamentos, os quais sempre fracassaram nas provas de patogenicidade. Aparentemente o cupim é o principal fator da morte do pinhão neste plantio. Um mapa detalhado, com a localização de planta por planta, e seu estado sanitário, foi feito de todo o campo, para se estudar o avanço da praga; as árvores em volta dos focos foram todas tratadas com aldrin, em sua base, inseticida capaz de evitar o ataque do inseto. O oídio (Oidium sp) e os trips Selenotrips rubrocinatus atacaram sem intensidade a cultura. Jaíba: O plantio do pinhão nesta fazenda de terras boas mas secas no inverno, foi feito em 1983 em uma área de 5 hectares, destocada, arada e gradeada, por semente. Em 1984 área semelhante, ao lado da primeira, foi também plantada, depois de ter sido apenas roçada e covada a enxadão. Ambas as áreas sofreram muitas falhas, necessitando repetidos replantios. Foi feito o consórcio em parcelas experimentais com a mamona, sorgo forrageiro, milho e a nova cultura Amaranthus na 1ª. área, com boas produções. O desenvolvimento das plantas na área arada está agora bem melhor do que o da área não arada, nesta a concorrência da vegetação expontânea que logo reapareceu após o plantio, prejudicou o crescimento das mudinhas de pinhão. O uso de mudas apropriadas evidentemente contornaria este problema, o que será evidenciado com plantios na mesma área por mudas, no próximo verão. Acauã: Foram plantados também 10 hectares em terreno de mata seca recém-derrubada, por semente. Houve intenso ataque às mudinhas pela saúva, Atta sexdens o que exigiu elevada aplicação do inseticida Mirex. Foram feitos vários replantios. Esta área será também replantada com mudas, no próximo verão. Pode-se observar mais uma vez a importância da matéria orgânica no solo para o desenvolvimento do pinhão em reboleiras que se formaram nesta área, com plantas vigorosas, correspondendo aos locais onde foram amontoados os detritos da vegetação retirada do terreno. Governador Valadares: Plantio de 1 hectare em 83 e mais 5, em 84, em terreno de pasto, amorrado, por semente, em covas feitas a enxadão. As plantas estão se desenvolvendo bem nas partes do terreno mais baixas, com certa fertilidade e mais frescas. Vários replantios foram feitos. Medidas mensais das plantas têm sido feitas de seu desenvolvimento em séries acompanhando fileiras de pinhão subindo o morro, desde a baixada no sopé do morro até o alto. Assim é que enquanto a planta no sopé do morro tem agora 2,80 a 3,20 m de altura, a do alto do morro, a cerca de 30 metros acima, está apenas com 45 cm a 1,10 m de altura. No próximo verão serão feitos novos plantios com covas de 75 cm profundidade, adubadas com esterco e plantadas com mudas, para se verificar a influência dos fatores umidade do solo e fertilidade, nesta discrepância do desenvolvimento das plantas. Conclusões Preliminares: Os estudos com o pinhão devem ser prosseguidos, pois é uma cultura que depois de estabelecida não exige mais cuidados quase algum, sua produção pode ser armazenada mais de um ano para ser processada e é uma planta já conhecida, com tradição, no meio rural, do estado de São Paulo para o Norte e Oeste do Brasil, como produtora de óleo para sabão e lamparina. E a planta do pinhão permanece em produção por mais de 30 anos. O pinhão é uma planta xerofita mas exige boa fertilidade do terreno para ter altas produções em sementes. A adubação orgânica com esterco na cova é essencial para a alta produção da planta, assim como a correção por calagem dos solos com teores excessivos de Al livre. O plantio deve ser feito com mudas selecionadas na sementeira-viveiro, de raízes nuas, com 6 meses de idade no início das chuvas de verão; cuidados especiais devem ser tomados para que as raízes das mudas expostas não sofram dessecamento no transporte para o campo. O grande plantio desta oleaginosa para fins energéticos deve ser orientado para o espaçamento de 4 metros entre fileiras de modo a se permitir sua consorciação principalmente com a mamona, que passa a produzir o óleo logo aos 7 meses após o plantio. As covas para o plantio devem ser profundas, pois a raiz pivotante do pinhão cresce rapidamente; devem ter 75 x 25 cm, feitas à perfuratriz de trator, se possível, ou com ferramentas manuais, formando-se tumbas no local da cova a enxadão. O pinhão é pouco perseguido por pragas e doenças, mas a formiga saúva e a rapa-rapa devem ser combatidas, preventivamente; o cupim deve ser evitado com inseticida na cova ou em pasta aplicado na base das plantas; o enxofre em pó combate bem os ácaros e o oídio. As pequenas e grandes propriedades poderiam plantar o pinhão em suas cercas, garantido assim uma boa fonte de produção desta oleaginosa e uma renda a mais para o homem rural. Trabalhos Futuros com o Pinhão: Continuando estas pesquisas com o pinhão, a EPAMIG e o FINEP aumentarão sua área de plantio para 100 hectares, agora aplicando a tecnologia descrita acima, resultado dos trabalhos da 1ª fase deste projeto. Serão objetos dos estudos também: - Seleção de matrizes, introdução de novos germoplasma, importação dos paízes africanos que já produziram o óleo do pinhão para o mercado europeu. - Poda da planta – os primeiros ensaios já foram feitos. - Menor espaçamento na fileira, conservando-se o espaçamento nas ruas de 4 metros, para os plantios de consórcio. - Intensificação dos estudos com a mamona consorciada ao pinhão, para o desenvolvimento do binômino energético pinhão-mamona. - Pragas e doenças do pinhão, sua identificação e controle. - Métodos práticos do transporte do esterco ao campo por fardos. - Aproveitamento de áreas para o pinhão simplesmente roçadas, com o plantio por mudas desenvolvidas em viveiros. - Adubação mineral: NPK e micronutrientes. Conclusões: Nesta primeira fase, com os recursos do FINEP e da EPAMIG, foi possível lançarem-se alguns experimentos e plantios maiores do pinhão, para se obter diretrizes seguras para o grande plantio desta oleaginosa. Apesar de ainda não termos dados de produção desses experimentos e campos, a não ser os do hectare irrigado de Janaúba, as seguintes diretrizes estão se evidenciando: - O pinhão é uma planta xerófita, tolerando bem períodos de seca e calor (ou frio), paralisando nesses períodos sua vegetação, com a desfolha total e vivendo às custas da água armazenada em seu caule. Mas não é uma planta pouco exigente em fertilidade do solo, como se acreditava – ela sobrevive bem em solos pobres e secos, mas boas produções em sementes são obtidas em solos com certa fertilidade e bom teor de umidade. Desde que a planta receba chuvas normais de novembro a abril, todavia, poderá dar boas produções, dependendo da fertilidade do solo. - Terras pobres poderão ser aproveitadas desde que o plantio seja feito em covas profundas (75 cm) e bem adubadas com esterco, pelo menos 10 ls. Colocados no fundo. Por este método a raiz pivotante da planta se desenvolve rapidamente, garantindo um melhor fornecimento de água à planta, com a formação das raízes secundárias mais profundamente, fatores que contribuem para que a planta explore melhor o terreno em sua fertilidade e suporte bem as condições da seca. - A correção do solo quanto a seu teor em al livre, pela calagem, tem efeito positivo sobre o desenvolvimento do pinhão. Em área irrigada, com certa fertilidade, o pinhão poderá começar a produzir logo no 2º ano de plantio, atingindo as 2 toneladas por hectare no 3º ano. O plantio por semente diretamente no campo, mesmo na época chuvosa, é muito arriscado, podendo dar mais de 80% de falhas. O melhor sistema é o plantio por mudas de raízes nuas, com 3 a 6 meses de idade no viveiro, levadas ao campo no início das chuvas de verão. É fundamental o transporte das mudas envoltas em aniagem molhada, evitando-se o ressecamento de seu sistema radicular. - O viveiro deve ser feito com as sementes postas lado a lado, dando margem à seleção entre as plantas, devido à concorrência entre elas. Leva-se ao campo somente as mais desenvolvidas e fortes. - Não tem havido problemas sérios de doenças e pragas no pinhão, apenas a saúva, a formiga rapa-rapa e os cupins podem fazer ataques esporádicos. No caso do plantio de pinhão ser feito em áreas recém-descobertas da vegetação primitiva, existindo a saúva, é essencial o combate a esta formiga. O uso de mudas de pinhão desenvolvidas, no plantio, traz também a vantagem delas serem muito mais resistentes a essas pragas do que as mudinhas novas, recém-nascidas. - O ódio, fungo pulverulento esbranquiçado parasita das folhas do pinhão, é freqüente, não causando danos. Tanto a esta doença como os ácaros, são facilmente controláveis pela aplicação na planta do enxofre em pó. - O espaçamento de 4 metros entre fileiras do pinhão e 2ms entre covas é o mais indicado, permitindo o plantio macanizado nas ruas de outras plantas de consórcio. Dessas, a mamona, também produtora de óleo para fins energéticos, de colheita rápida (6 a 8 meses de plantio), é uma boa opção. - As covas para o plantio de pinhão devem ser feitas com 75 x 25 cm, colocando-se 10 1s. De esterco no fundo. A perfuratriz de trator faz 2 covas por minuto, em períodos de 4 horas de trabalho contínuo. - Nas pequenas propriedades, que poderão ser o baluarte da produção de semente do pinhão, o plantio ao longo das cercas é uma boa opção, não ocupando áreas especiais e sua produção, ainda que seja de pouco volume por propriedade, representará uma nova e segura fonte de renda para o homem rural. Projeto Pinhão Manso 1º Período Dados experimentais obtidos FELIXLÂNDIA Experimento: Métodos de Plantio do Pinhão - Data do plantio: 10/04/1984 - Leitura do stand a 24/04/1985 - Tratamento Plantio por sementes Estaca inteira Base da estaca Topo da estaca % de falhas 96,7 23,3 6,7 33,3 Melhor tratamento: base da estaca Experimento: Plantio do Pinhão com raízes nuas com diversas idades - Data do plantio no campo: 17/12/84, início das chuvas de verão. Stand das parcelas a 24/04/1984: Tratamento % de falhas Mudas com 8 meses 0 Mudas com 7 meses 2,4 Mudas com 6 meses 6,9 Mudas com 5 meses 0 Mudas com 4 meses 0 Mudas com 4 meses 0 Mudas com 3 meses 0 Mudas com 2 meses 22,7 Mudas com 1 mês 0 - Tratamento Mudas em saquinhos de 40cm com 5,5 meses Semeio direto na cova % de falhas 0 0,8 Todas as covas foram feitas com perfuratriz à trator, com 75cm de profundidade, 10 1s de esterco curtido bovino no fundo e 100 gr. NPK 4-14-8 na camada superficial. Este método de plantio parece ter sido o fator do alto stand do semeio direto, enquanto que um experimento simultâneo (mesmo terreno a mesma semente, feito no mesmo dia) em plantio em covas a enxadão, o stand foi feito apenas de 3%. Detalhe a esclarecer por pesquisa futura. No ótimo stand verificado por semeio direto neste experimento, obtido com 4 sementes por cova com o poder germinativo de 71%, achou-se a seguinte distribuição de população de plantas por covas: Covas com 1 planta 12,8% Covas com 2 plantas 21,0% Covas com 3 plantas 36,3% Covas com 4 plantas 30,0% Precipitação pluviométrica ocorrida no período (de Dez/84 a Março/85): 990,9mm, muito acima do normal. Nas ruas deste experimento está sendo testada a mamona, em consórcio, com ótimo desenvolvimento e produção. Experimento: Adubação mineral e orgânica do pinhão - Aplicação de calcáreo: 21/11/83, na cova - Espaçamento: 3 por 2m. - Adubação da cova (feita a enxadão e plantio por sementes): 15/12/83. - Replantio por sementes a 19/11/84. Quatro repetições. Stand verificado a 24/04/85: Tratamento - Testemunha sem adubo - NPK 100gr - Esterco 10 1s - Esterco + NPK - Esterco 20 1l - NPK 200 gr Média sem calcáreo - Calcáreo - Calcáreo + NPK 100 gr - Calcáreo + esterco 10 lt - Calcáreo + est. % NPK 100 gr - Calcáreo + est. 20 lt - Calcáreo + NPK 200 gr. Média com calcáreo % de falhas 10 15 15 10 10 12,5 12,1 2,5 17,5 20,0 2,5 2,5 12,5 9,6 A análise estatística dos dados obtidos mostrou que as diferenças entre estes valores não são significantes entre si, as falhas foram devidas a fatores adversos às mudinhas recém-nascidas, fenômeno já observado em outros plantios por sementes. Quanto ao desenvolvimento das plantas, o número de plantas mais desenvolvidos, incorporadas e altas, mostrou: - Com esterco - Sem esterco - Com calcáreo - Sem calcáreo - Com NPK - Sem NPK 34,6% 0,1% 22,1% 18,8% 17,9% 23,3% O esterco está portanto atuando bem no desenvolvimento das plantas, o calcáreo ligeiramente e o NPK aparentemente não teve função. Experimento: Espaçamento entre as plantas do pinhão Fileiras de 15 metros, 3 repetições Tratamento Entre Fileiras (m) A 3 B 3 C 3 D 2 E 2 F 2 G (3+2+3) H (3+2+3) I (2+1+2) J (2+1+2) K (2+1+3) L (3+1+3) X X X X X X X X X X X X % de área perdida por hectare por Entre covas (m) 3 2 1 2 0,5 1 2 1 1 2 2 1 Falhas 6,7 2,4 5,6 11,9 9,4 4,4 4,8 13,3 10 4,8 11,9 4,4 Os dados originais, analisados estatísticamente, não mostraram diferenças significativas entre si quanto às porcentagens de folhas por tratamento por ter sido o experimento plantado por sementes. Será repetido com mudas. Experimento: Consorciação do pinhão com a mandioca 4 por 2 metros. Este experimento, lançado a 14/12/1984 foi plantado com 4 sementes por cova feita no fundo de sulco feito e trator enchida de terra até o nível original do terreno. Com e sem esterco. Falhou cerca de 97%, as sementes nascendo e as mudinhas morrendo em seguida, apesar do regime de chuvas predominante. Foi todo replantado com estaca a 10/04/85. Pesquisas estão sendo feitas no laboratório do CIAP sobre a composição do solo deste experimento, já que o isolamentos de mudinhas mortas não revelaram a presença de organismos patogênico algum. Governador Valadares No plantio desta fazenda estamos estudando o efeito da posição da cova em talude de terreno amorrado, com medidas mensais do desenvolvimento das plantas. As leituras de abril 85 deram os valores da carta em anexo. Vê-se que as plantas (plantadas por sementes) desenvolverem-se menos a medida que suas covas estavam mais altas no morro. Como as covas foram feitas a enxadão superficiais, no próximo verão será lançado novo experimento neste terreno, com covas com 75 por 25cm, com esterco no fundo, plantadas -om mudas (e com sementes para comparação). Procurar-se-à corrigir assim a falta de umidade do solo e a menor fertilidade nas partes mais altas do terreno. Janaúba No hectare irrigado, foram marcadas plantas matrizes, de melhor aspecto vegetativo e suas produções tem sido colhidas individualmente. Já foram feitas 9 colheitas tendo sido o plantio feito em fins de 1982. Em 1983 foram feitas 2 colheitas, em 84 – 5 colheitas e em 85 mais 2 colheitas. As covas marcadas, com essas plantas, têm 1 planta por cova, ou 2 ou 3, usando-se os dados obtidos para se estudar o efeito da população por sobre a produção. Devido as ótimas condições deste plantio, em terreno de boa fertilidade e sempre irrigado, as produções verificadas dariam os seguintes valores em quilos de sementes por hectare, com 1.500 covas úteis: Covas com 1 planta Covas com 2 plantas Covas com 3 plantas - 7.469 Kg/h 8.759 kg/h 7.639 Kg/há As produções maiores foram na 6ª colheita com valores até 1980gr por cova com 2 plantas, em maio de 1984. Estes dados mostram o potencial do pinhão em produção, se a cultura for formada por plantadas selecionadas e em terreno fértil, com irrigação, em regime de clima quente no verão. Por outro lado, os dados totais obtidos nesta área foram: Colheita de 1983 – 24ks de semente, por hectare Colheita de 1984 – 1710ks de semente por hectare Colheita de 1985 (até março) 525 ks/h - Total: 2.480 ks/h.