Interesses privados não podem estar acima dos - catedral

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"Interesses privados não podem estar acima dos coletivos"
Pedro Teixeira
Da Redação
Faltam menos de 15 dias para as eleições municipais do Brasil, na qual serão eleitos vereadores e prefeitos. Neste contexto,
em entrevista ao noticias.cancaonova.com, o cientista político, Silvio Costa, falou sobre o surgimento das eleições no Brasil,
sobre a importância que deve ser dada ao voto e à participação política e, ainda, sobre corrupção eleitoral. O especialista
assinalou que em uma sociedade democrática não basta votar, é preciso participar da política e lutar contra individualismo.
noticia.cancaonova.com: Predomina o interesse do poder econômico sobre o político?
Cientista político: "Quando tivemos a instauração do sistema representativo, na Inglaterra, no século XVII, desse modelo,
onde nós escolhemos o governo a partir do voto, houve uma crença que determinadas pessoas eram superiores e que eram
essas que deveriam ser eleitas. Na concepção liberal original, esses superiores são os proprietários porque são aqueles que
são mais interessados nos negócios públicos e interesses da sociedade. Por isso, não votavam as mulheres, os escravos, os
idosos e os jovens.
Esse processo chegou ao Brasil no século XIX quando iniciou o chamado voto censitário, ou seja, podiam votar e ser votado,
aqueles que, no censo econômico, tinham um índice de propriedade significativo, ou seja, aquele que tinha muitos escravos,
muitos alqueires de terra ou que produzia muitas arrobas de café."
noticia.cancaonova.com: Nosso processo eleitoral é justo?
Cientista político: O filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau dizia que a soberania é inalienável, ou seja, a minha vontade é
intransferível. É impossível transferir a minha vontade para que alguém a represente. Ele afirmava que manipulações dos
poderes midiático e financeiro faziam com que o eleitor votasse num candidato que não representava seus interesses, mas, o
interesse de determinados grupos.
Então, o processo eleitoral garante que interesses de determinados grupos e que não atendem a coletividade sejam
beneficiados, ou seja, 'eu voto em um candidato que não representa os meus interesses e que não representa minha vontade'.
noticia.cancaonova.com: A sociedade atual perdeu o idealismo político?
Cientista político: Na época da Ditadura Militar, tínhamos um regime de exceção, que proibia informação, que proibia uma
maior participação e proibia, inclusive, o próprio voto em alguns momentos. Em contrapartida, tínhamos uma sociedade que
participava mais, que estava mais vinculada à comunidade. Hoje você tem a universalização do voto, mas, um ambiente aonde
há uma cultura demasiadamente individualista, aonde cada indivíduo está cuidando daquilo que é seu.
Eu costumo dizer que a meta do mundo, hoje, não é transformar o mundo, mas é se dar bem no mundo. Na medida em que os
meus valores privados, as minhas necessidades pessoais se tornam mais importantes que a coisa pública, essa coisa pública
se esvazia. Nesse sentido, colocar o voto como centro da democracia, é um empobrecimento, porque não basta voltar, eu
preciso participar da coisa pública. Como dizia Russeau: "Quando os interesses privados são coloca acima dos interesses
coletivos, eu tenho a ruína do estado".
noticia.cancaonova.com: Mas, votar é importante?
Cientista político: A cultura individualista influencia a vida pública, porém, o resultado, da urna é soberano. A vontade do povo
interfere nos caminhos da cidade, nos caminhos da nação. Os resultados eleitorais, seja para legitimar, garantir a continuidade
de determinado prefeito, ou, de determinado projeto, quando ele elege ou reelege seu sucessor, ou no sentido de dizer não,
"não queremos mais este caminho, queremos outro", essa vontade popular é soberana, é importante.
O mecanismo da democracia representativa através do voto é insuficiente para falarmos de um processo democrático, porém,
fundamental no sentido de garantir que a população está sendo ouvida e que a voz da população tem influência nos destinos
de cada local.
noticia.cancaonova.com: O que o senhor pode falar sobre a "compra de votos"?
Cientista político: A venda do voto acontece de forma bastante ampla, extensiva, mesmo proibida por lei. Uma das provas
deste fato é o número de políticos com candidaturas cassadas. Como acontece? Acontece através de práticas
assistencialistas. Então, por exemplo, eu quero ser candidato ou sou vereador e mantenho um determinado curral eleitoral. O
que é este curral eleitoral? É um grupo de 50, 100 ou 200 famílias que vai representar mil votos, por exemplo. Com estes
votos, o candidato é eleito e mantem as famílias assistidas através de alguma prática.
Então nós vemos, por exemplo, a prática de distribuição de cestas básicas, vereadores extrapolando suas funções que seriam
estar na câmara, cuidar do legislativo e fiscalizar o executivo. Vemos, ainda, o abuso da ingenuidade do eleitor e, por outro
lado, a presença de um poderio econômico ostensivo, tentando com isso, fraudar aquilo que é sagrado.
Fonte:Canção Nova
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