ELEIÇÕES - EMBALAGEM X CONTEÚDO Ninguém pode negar a importância da propaganda e do marketing no mundo moderno, especialmente para os negócios. Aliás, neste particular, a sua relevância é tal que até se cunhou a expressão: “A propaganda é a alma do negócio”. É fato que inúmeras vezes diante de produtos similares nas gôndolas de um supermercado, como clientes somos levados a uma escolha baseada em critérios subjetivos. Embalagem mais atrativa, com cores vibrantes, formato atual, texto e imagens mais sugestivas, enfim, toda uma estética produzida com vistas a agradar os sentidos do potencial cliente. Anúncios publicitários nos meios de comunicação indicando que o produto é o melhor e o mais adequado frente as demais opções de mercado, bem como, estabelecendo que o fabricante é extremamente preparado e mais responsável socialmente, de maneira que o cliente possa associar que ao adquirir a mercadoria estará não só atendendo a sua necessidade imediata de consumo - com qualidade e segurança - mas que, inclusive, irá colaborar com as práticas de boa gestão e respeito ao meio ambiente propostas pelo fabricante. Dizem alguns que os bons propagandistas são como verdadeiros magos. Não raras vezes, uma empresa com produto melhor e mais útil para os consumidores perde mercado para outra com produto de qualidade inferior, simplesmente porque o marketing desta é mais elaborado, cativando e seduzindo com melhor eficiência o consumidor. Inclusive, em muitos casos, a propaganda consegue mercado real até para produtos que sequer existem. São ainda idéias e projetos que mesmo antes de saírem da prancheta, já possuem consumidores ávidos pela novidade. Nesse sentido não é difícil entender o motivo das empresas pagarem muito bem pelos melhores profissionais da área. Entretanto, seria ingenuidade afirmar que a propaganda e o marketing são ferramentas apenas para incremento de negócios. Na verdade, em medidas variáveis estão permeando tudo na vida moderna. A política não foge a esta regra. A cada nova eleição temos acompanhado o desfile dos candidatos, todos com discurso muito parecido, pois invariavelmente prometem mais saúde, mais educação, mais segurança, etc. A única coisa que os diferencia é a legenda pela qual concorrem. De fato, cada partido por assim dizer “embala” o seu candidato como um “produto” que será oferecido ao público eleitor, nos moldes estabelecidos pela área de propaganda e marketing da campanha. Dependendo do poder econômico que o partido detém, o candidato é brindado com panfletos bem impressos e acabados, programas de vídeo produzidos nas mais conceituadas empresas do ramo, artistas e personalidades da mídia são contratados para apoiar os comícios, tudo sob a direção de experientes profissionais de propaganda. Portanto, não é exagero afirmar que em cada eleição existe apenas uma luta entre os “partidos de embalagem” para cativar o “eleitor cliente”, já que os “candidatos produtos” possuem sempre as mesmas promessas. É verdade que de vez em quando alguma parceria partido-candidato quebra essa unanimidade. De fato, causou surpresa a recente declaração do candidato a prefeitura da cidade de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores - PT, Fernando Haddad, que, diante de peça publicitária de partido da oposição que alegava que ele teria ligação com os réus do Mensalão, entrou com representação perante a Justiça Eleitoral solicitando que a referida peça fosse suspensa, argumentando ser "manifestamente degradante para ele ser associado aos colegas de partido José Dirceu e Delúbio Soares” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/67076-haddad-diz-que-e-degradante-serligado-a-dirceu-e-delubio.shtml). Palavras duras. É preciso ressaltar que no caso de José Dirceu, o peso da declaração é maior, tendo em vista que ele é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, e inclusive já foi presidente nacional durante um período. Ora, se o candidato Fernando Haddad considera degradante qualquer associação com um dos mais proeminentes líderes do partido ao qual está filiado, porque ele ainda continua lá? Será que ele é tão dependente da “embalagem” do partido, sem a qual, a candidatura não teria apelo perante a opinião pública? Não sabemos ao certo, como também não sabemos como ficaria o projeto de governo, tendo em vista a existência desse fosso tão profundo entre ele e setores do seu partido. Diante do exposto é inegável que os eleitores precisam abrir as “embalagens” que os partidos fazem, para saber exatamente o conteúdo das candidaturas propostas. Cada eleitor deve avaliar detidamente os programas políticos dos vários candidatos antes de conceder o seu voto a algum deles. E mais. Deve avaliar a coerência entre o discurso e as ações dos candidatos. Os políticos dizem que lutam pela saúde, prometendo hospitais e médicos, porém, quando adoecem procuram os melhores hospitais particulares, inacessíveis para o geral da população? Prometem escolas com ensino público de qualidade, entretanto, os filhos estudam em colégios particulares, com mensalidades fora do alcance da maioria da população? Garantem que vão ter uma atenção especial com a segurança pública, porém, desconhecem a realidade da violência que atinge níveis alarmantes para a sociedade, já que sempre circulam em veículos blindados e cercados de seguranças? Dizem que será dada uma atenção especial a questão da moradia, com construção de habitações para a população, porém, mesmo os políticos provenientes de classes menos favorecidas, após eleitos procuram fixar residência nos bairros mais nobres e caros? Em resumo, caso as respostas seja positivas, fica a pergunta: Porque a população não pode ter acesso a serviços públicos com qualidade similar a que a classe política quer usufruir? É preciso ocorrer uma grande mudança de paradigmas. Os eleitores precisam escolher de maneira sensata e coerente o que realmente desejam para si e para a coletividade. Quantas pessoas alegam que vão votar no candidato do partido, mesmo sem conhecimento adequado da sua plataforma política, com base no seguinte raciocínio: “meu partido é bom, logo o candidato apresentado também é bom, e, portanto, merece o meu voto”. Negam sequer analisar a plataforma política de outros partidos com base em igual raciocínio simplista: “os outros partidos são ruins, logo os candidatos deles não são bons, e, portanto, não merecem o meu voto”. Esse maniqueísmo é um atraso completo para a democracia. Não devemos votar em candidatos simplesmente porque foram indicados por qualquer partido e/ou líder político. Devemos votar em candidatos com idéias e projetos próprios, o que vai possibilitar a cobrança posterior das promessas de campanha. Votar apenas pela “embalagem” pode significar quatro anos amargando um “produto” insatisfatório. Vamos pensar nisso. O bem estar social em grande medida vai depender das boas escolhas que fizermos. [email protected]