AS CONCEPÇÕES ÉTICAS DE KANT (1724 - 1804) E NIETZSCHE (1844 - 1900): DEVER X AFIRMAÇÃO DA VIDA IMMANUEL KANT (1724 - 1804) E A ÉTICA DO DEVER PRESSUPOSTOS KANTIANOS: A NATUREZA HUMANA A natureza humana, segundo Kant, é formada por dois princípios: instintos e razão. Representante do Iluminismo (Ilustração, Esclarecimento): movimento intelectual do século XVIII que exaltava a capacidade humana de conhecer e agir pela “luz da razão”. Kant supervaloriza o princípio racional. POR QUE O DEVER MORAL? Natureza do Homem (instintos): egoísta, ambicioso, destrutivo, agressivo, cruel, ávidos de prazeres que nunca os saciam, em nome dos quais mentem, roubam e matam. Mas as ações humanas não são guiadas apenas pelos instintos. Através do uso da razão o homem pode refletir sobre suas ações. A razão (reflexão das ações) deu origem aos Valores Morais. A moralidade é o que dá dignidade ao ser humano. São as leis morais que levam o homem a praticar o bem, em detrimento dos seus caprichos e interesses individuais. Portanto, a moralidade melhora a conduta do ser humano. Dever moral: o indivíduo racional impõe a si mesmo o DEVER de adotar, seguir os valores morais. A BOA VONTADE A razão estabelece os princípios morais que guiam a vontade humana para a prática do bem = BOA VONTADE. Boa vontade: necessidade de agir por respeito à lei que a razão dá a si (respeito à lei moral). Boa Vontade: motivada pela simples conformidade à lei e pela boa intenção. Uma ação pode ser conforme o dever, e não ser moralmente boa (movida por interesses egoístas). Valor moral da boa vontade reside na intenção e não no resultado. LEI MORAL E LIBERDADE HUMANA Lei moral: Autonomia da Razão e Liberdade (ou Vontade Livre). Autonomia da Razão: a razão dá a si mesma as regras de sua conduta. Liberdade (Vontade Livre): Indivíduo LIVREMENTE percebe a importância dos valores morais e decidir segui-los. Liberdade humana: o ser humano só se torna livre quando se livra da influência dos seus desejos e impulsos e se submete às leis da razão. UNIVERSALIDADE DAS NORMAS MORAIS E A DIGNIDADE A razão humana é um princípio universal (geral, comum a todos os homens). Os valores morais e a boa vontade, que são frutos da razão, também são universais. DIGNIDADE “[...] tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente, por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço compreende uma dignidade. A moralidade e a humanidade são as únicas coisas providas de dignidade” (KANT, Fundamentação da Metafísica dos Costumes). O que tem preço não tem dignidade, pois a dignidade está acima de qualquer preço. DEVERES UIVERSAIS KANTIANOS Preservar a vida acima do amor próprio; Comprometer-se somente com aquilo que intenciona cumprir; Desenvolver o máximo de suas potencialidades e talentos; Promover o bem estar, e o respeito a todos. MÁXIMAS E IMPERATIVOS FRIEDRICH NIETZSCHE (1844 - 1900) E A ÉTICA DA AFIRMAÇÃO DA VIDA APOLÍNEO E DIONISÍACO Impulsos da Criatividade Humana: Apolíneo e Dionisíaco. Apolo: racionalidade, ordem, harmonia, moderação. Dionísio (Dioniso, Baco): inspiração, excesso, festa, vinho, embriaguez. Apolíneo: representa a dimensão racional do ser humano, representa o pensamento; Dionisíaco representa os sentidos, os desejos do corpo, os instintos, os sentimentos. Para Nietzsche, esses princípios (Apolíneo e Dionisíaco) não são rivais, eles se complementam e ambos são importantes, ambos fazem parte da natureza humana. CRÍTICA À TRADIÇÃO FILOSÓFICA Para Nietzsche, esses princípios (Apolíneo e Dionisíaco) não são rivais, eles se complementam e ambos são importantes, ambos fazem parte da natureza humana. A filosofia, a partir de Sócrates, supervalorizou a razão e suprimiu os desejos, rejeitando o impulso natural da vontade humana. GENEALOGIA DAS NOÇÕES DE BEM E MAL E A CRÍTICA AOS VALORES MORAIS Nietzsche: algumas religiões impõem os valores morais como obras da “Vontade de Deus”. Bem e Mal: são criações humanas, feitas para atender a interesses humanos, e que no decorrer da história essas noções sofreram transformações. Valores Morais: não são universais, nem frutos da “Vontade de Deus” (são criações humanas, produtos histórico-culturais). Valores Morais não garantem o exercício da liberdade: reprimem nossos desejos, nossas paixões e vontades. Paixões, desejos e vontade: vida, expansão de nossa força vital (não se referem ao bem e ao mal, pois estes são criações humanas). A moral racionalista foi inventada pelos fracos para controlar e dominar os fortes, cujos desejos, paixões e vontade afirmam a vida. AUTONOMIA E LIBERTAÇÃO Nietzsche: autonomia não podia se resumir à tarefa de seguir determinadas regras: seguir algo sem questioná-lo, sem pô-lo em discussão, sem criticá-lo, não é autonomia, é domesticação, adestramento. Nietzsche afirma que a real autonomia consiste na tarefa de avaliação dos valores antigos e criação ou elaboração dos próprios valores “guias”. Indivíduo plenamente autônomo: libertar-se da influência dos valores morais (Libertação). Libertação corresponde ao rompimento, à negação, ao abandono da influência de alguns valores morais e, assim, o indivíduo passa a pensar por conta própria. SUPREMO CRITÉRIO ÉTICO NIETZSCHIANO: AFIRMAÇÃO DA VIDA Supremo Critério Ético (Nietzsche): afirmação da vida: as ações humanas devem ser realizadas levando em consideração apenas a afirmação da vida. Afirmação das vidas: homens, animais, plantas, planeta. Ética = afirmação da vida (da vontade), desta vida, desta realidade. Não são os valores morais, nem razão, nem só a vontade, mas a afirmação da vida. Nietzsche critica o Cristianismo: o Cristianismo trata a vida como um meio (caminho a ser percorrido para se chegar a um objetivo maior) para outra realidade (salvação espiritual). Os valores morais não podem servir de critério para avaliar a vida. A vida é o valor supremo: ela avalia os valores morais.