BENNY DIO A MULHER DE JÓ Saga de uma Princesa BENNY DIO Autor BENNY DIO A emocionante historia de Jó e de sua mulher Tamira; Contada de maneira jamais imaginada. 2 A MULHER DE JÓ ADVERTÊNCIA Escrevi este livro com base nos relatos bíblicos. É uma versão romanceada, recheada de flagrantes da vida real. Usei a imaginação para recriar situações de tal modo como se os fatos assim tivessem realmente acontecido. Construí essa história em tom artístico, em forma poética, e não como historiador ou teólogo. Precisei imaginar as falas na sua forma mais naturais possíveis na boca dos personagens que figuram a história bíblica. Foi necessário também que se desse um nome à „mulher de Jó‟ e a seus filhos; isso, para identificar cada um deles na estória. Todos os cuidados foram tomados a fim de não transgredir nenhum teor canônico. Quis nesses traços imaginativos apenas realçar a beleza e o valor que o texto sagrado na sua forma original já nos tem proporcionado. 3 BENNY DIO PREFÁCIO Por toda a história da humanidade sempre existiram mulheres importantes que, por seus feitos, merecem ser lembradas: Cleópatra, Rainha de Sabá, Helena de Tróia, Rainha Ester, Maria mãe de Jesus, Maria Madalena, entre outras. Também a mulher de Jó. Cleópatra – Impressionou o mundo pelo seu poder de sedução e por sua habilidade de governar. Rainha de Sabá – Tornou-se mundialmente conhecida pela visita que fez ao rei Salomão. O texto bíblico relata aquela visita: “Ouvindo a rainha de Sabá a fama de Salomão, veio a Jerusalém experimenta-lo com enigmas, com uma mui grande caravana de camelos carregados de especiarias, e ouro em abundancia e pedras preciosas”. Ela teria ficado impressionada com a riqueza e a sabedoria de Salomão. E exclamou: “... não me contaram nem metade da grandeza da tua sabedoria”. Helena de Tróia – Personagem da mitologia grega. Ela simboliza a força carismática da beleza feminina. Devido a sua formosura foi raptada por Páris, príncipe de Tróia, fato que, segundo a lenda, provocou a famosa guerra dos dez anos. 4 A MULHER DE JÓ Débora – Dona de casa que se tornou Juíza. Foi profeta e líder militar. Era chamada „mãe de Israel‟ devido ao cuidado que tinha para com o seu povo. Estrategista fez Israel vencer muitas batalhas na sua época. Rainha Ester – Escrava judia que por sua integridade tornou-se rainha da Pérsia no reinado de Assuero. E, por sua coragem salvou o seu povo duma conspiração arquitetada por Hamã, o príncipe regente na época, que planejava um genocídio contra o povo judeu. Maria mãe de Jesus – A escolhida de Deus que dispensa comentários. Seu valor consiste exatamente no que ela representa: A Mãe do Salvador. Maria Madalena – Conhecida pelo nobre gesto de derramar aquele precioso perfume sobre a cabeça de Jesus. O próprio Jesus enalteceu aquele ato. Ele assegurou que o nome dela seria lembrado em todo lugar “onde o evangelho for anunciado”. Nota: Alguns estudiosos exegetas acham que a “Maria” que ungiu a Jesus seja outra. Este autor entende ser Madalena. Seja como for, o que realmente importa foi o valor do ato. E a mulher de Jó? Qual a sua fama? Como é lembrada? Ao se mencionar a mulher de Jó logo vem à nossa mente a imagem daquela mulher inconveniente... – Uma mulher blasfema! Rebelde! Herege! 5 BENNY DIO Mas, afinal, teria sido tão grave o seu pecado? – Um desabafo, apenas?! Um ato insano de extremo desespero?! Ou falou “como louca” na tentativa de aplacar sua dor?! Atordoada pela perda de tudo quanto possuía; traumatizada pela morte de todos os seus filhos e ao ver Jó, sua última referencia, naquele estado deplorável, em chagas; num impulso de extremo desatino, sugeriu a Jó: “amaldiçoa a Deus e morre”. Esse episódio a estigmatizaria para sempre. Mas, será que desse único ato dependeu toda a sua vida? Deus a desprezou? Jó a abandonou? Não teria ela eventuais virtudes que pudessem atenuar seu fracasso? Este livro não pretende modificar o sentido original do texto bíblico. Nem criar uma história paralela épica. Trata-se apenas de uma ficção. Mas bem que poderia ser real. Apresenta a outra face da vida da „mulher de Jó‟ que ainda não foi contada. Esta versão romanceada vai surpreender você! 6 A MULHER DE JÓ APRESENTAÇÃO O narrador Antes de iniciar a história, propriamente dita, deixa primeiro me apresentar: Meu nome é Eliú. Sou o quarto amigo de Jó. Se você observar notará que no inicio do livro dele o meu nome não foi mencionado; foram citados apenas os outros três amigos dele: Elifaz, Bildade e Sofar. O livro bíblico de Jó se preocupou apenas de relatar os fatos mais relevantes para aquele momento. No caso, se sita os seus três amigos que vieram de lugares distantes para condoer-se com ele. Por isso não fui mencionado: Eu sempre estive próximo dele! Testemunhei aqueles áureos anos de sucesso e prosperidade que Jó teve. Também presenciei a desventura e a tragédia dele. Como profissão, gostaria de ter sido um profícuo romancista, um contador de histórias. Escritor capaz de transformar acontecimentos comuns em contos delirantes, que arrebatasse os leitores, dando-lhes satisfação e entretenimento. No entanto, passei quase a vida inteira dedicando-me à escrituração e aos negócios de Jó. Era o guarda-livros dele. Este é, portanto o meu único romance. Aceitei contar a história de a mulher de Jó por entender tratar-se de uma das mais belas histórias já vivida por um casal de tamanha força, coragem, persistência e obstinação. Alguém que, mesmo frente àquela enorme 7 BENNY DIO adversidade, nunca se deixou fraquejar. Com exceção de Tamira, é claro, que abalada pela dor da perda simultânea de todos os seus filhos se deixou temporariamente abaterse sob forte depressão. E, naquele estado de total inlucidez, quase insano, ela se deixou pronunciar aquela infeliz frase – „amaldiçoa a Deus e morre‟ – que a estigmatizou para sempre. Jó ao contrario de sua mulher, mesmo sofrendo as mesmas perdas, sentindo a mesma dor, apenas exclamou resignado: “O Senhor o deu e o Senhor o tomou”. Do mesmo modo, também, quando os seus últimos amigos se voltaram para acusá-lo, não os praguejou; pelo contrário: Quando necessitaram, lá estava Jó, intercedendo por eles. Por isso, até mesmo o seu lamento e as suas reclamações, naqueles momentos de intenso sofrimento, ao invés de desmerecê-lo: dignificou-o! Revelou o seu caráter. Ele estava apenas sendo sincero. Sua dor era de tal proporção que transformou gemidos em palavras. Quando num lapso de delírio, ao pronunciar aquela expressão “melhor seria não ter nascido”, o que na verdade ele sentia era o desejo de fugir daquele momento insuportável. – Foi apenas um grito de dor! Boa leitura! 8 A MULHER DE JÓ COMO TUDO ACONTECEU verão. Passa um pouco do meio dia. O sol brilha forte e o calor é sufocante. Sob uma espaçosa tenda, acomodam-se os dez filhos de Jó. Através das aberturas laterais daquela habitação, uma brisa, vindo das planícies de Acaba, os deixa refrescar. O ambiente é festivo e a comunhão entre eles é de intensa satisfação. É Como de costume, a certo período de dias, alternadamente, eles se reúnem para banquetearem-se cada vez na casa de um dos irmãos. Não se trata de nenhum ritual religioso ou qualquer outra comemoração festiva; o evento é uma celebração familiar, uma espécie de ação de graça pela prosperidade que Deus confere ao clã. Além dos familiares, também estão presentes os empregados de confiança da família, devidamente treinados, além de dar suporte na organização da festa atuam também como seguranças vigias. Enquanto as mulheres cuidam dos afazeres da cozinha, os varões se ocupam no preparo dos assados. Uma grelha é montada debaixo de uma frondosa árvore. Dois troncos, em forma de “V” são colocados a certa distância um do outro, de tal modo a se adequar ao tamanho do assado. Embaixo das forquilhas, o solo é 9 BENNY DIO cavado a uma profundidade de uns vinte centímetros. Ao redor desse chão rebaixado são colocadas algumas pedras enfileiradas para proteger o fogo do vento ao mesmo tempo em que serve para concentrar o calor que dará ao cozimento maior rapidez. A peça de gado ou de outro animal é presa a uma vara resistente que descansa sobre as duas forquilhas. De tempo em tempo o assado é girado por uma manivela, mais conhecida na época como sarilho. Desse modo o churrasco, quando pronto, não tem outra escolha a não ser - o de ser - devorado por aqueles vorazes famintos. Nesse ínterim... – Chamem a mamãe – grita Dinézia, a caçula das irmãs. Diga que o assado esta pronto. Tamira, a matriarca, havia se afastada um pouco, indo à horta, nos fundos da casa, colher tempero para o preparo dos pratos. Enquanto colhe as hortaliças, distraída, ela se deixa envolver em pensamentos: Sua mente se volta ao passado, e se põe a recordar os primeiros dias de casada com Jó. Recorda todo o sacrifício que tiveram para desbravar aquele insólito deserto. Ri, consigo mesma, enquanto compara aquele lugar com o que foi antes e como é hoje. “Quanta diferença há aqui hoje”, pensa. “Só quem esteve aqui antes pode avaliar o quanto esse lugar mudou”, avalia. Recorda o nascimento dos filhos. A infância deles. Hoje os seus filhos são todos adultos e a preocupação dela agora é outra: não se acostumou ainda com a separação deles, que agora crescidos, seguem seus próprios caminhos. 10 A MULHER DE JÓ E é natural que essas emoções se lhe aflorem. Afinal, que poderia ser mais agradável a uma mãe que a existência dos filhos e a presença deles. E ela põe-se a meditar: “Como sou feliz pelos meus filhos!”, balbucia consigo mesma. Envolta nesses pensamentos tão aprazíveis, Tamira nem percebe a presença de Têmia - sua filha do meio - que chega para alardear: – Vamos mamãe, estão esperando por nós! Só faltam a salsa e a pimenta, para o último toque. De um salto, Tamira se volta, toda tremula: – Filha, que susto! Quer matar a mamãe? Por que não avisa antes de chegar! Com o susto Tamira deixou cair parte das hortaliças que segurava em suas mãos. E antes que se abaixe para recolhe-lhas, Têmia adianta-se: – Deixa que eu pego mamãe. Desculpe-me pelo susto. Da próxima vez me anuncio com mais cuidado. E seguem em direção a casa... Tamira é o tipo de mulher forte. Acostumada às duras lidas desde os tempos de menina, do trabalho duro que sempre realizou com seu pai. E não seria um simples susto uma demonstração de fragilidade. Pelo contrário, quem a conhece sabe da sua tenaz coragem, da sua força, da sua garra. 11 BENNY DIO Agora ela leva uma vida bem mais tranqüila, mais confortável. Em tempos passados – como se diz naquelas bandas: „no tempo das vacas magras‟ – o trabalho era duro e a jornada de trabalho bem pesada. A primeira vista, quem a vê, não faz idéia da sua tamanha capacidade. Não tem mais que 1.68m de altura. De um aspecto gentil, cor morena médio, cabelos negros, não muito à mostra, uma vez que devido aos costumes locais, sempre os trás cobertos pelo tradicional “hijab”. Ao chegar a casa vai logo à ordem: – Todos pra mesa! – sentencia. Não vamos atrapalhar o apetite. E você Silabe, pode servir as saladas, enquanto o churrasco não chega! Almoçam e cada um se arranja em um canto qualquer; onde se deixarão dominar pela inevitável madorna - a famosa sesta. Refeitos, e ao cair da tarde antes que a noite chegue, todos se dirigem as suas moradias. Agora é só aguardar as próximas programações. 12 A MULHER DE JÓ UZ – A CAPITAL DO ORIENTE Jó, o patriarca edumeu, quase nunca pode estar presente a essas reuniões. Por ser muito rico, seu tempo é geralmente ocupado com as atividades das suas muitas propriedades. Possui enormes fazendas. A pecuária lista uma variedade de espécies. Suas atividades se intensificam na criação e o comercio de gados, de camelos, de ovelhas, também se dedica à agricultura. Toneladas de grãos são colhidas todos os anos. As propriedades de Jó se localizam no território de Uz, uma vasta região a sudeste do mar morto. Vão desde as terras dos moabitas ao norte, até o golfo Acaba ao sul. Á oeste suas terras se limitam às planícies do golfo, indo fazer fronteira a leste com a Arábia. É uma região privilegiada. Cortada pela “estrada do rei”, assim chamada, por ser ali o caminho comum das grandes caravanas que percorrem os milhares de quilômetros, ligando a África à Ásia e ambas ao Oriente e Arábia. Uz representa para os caravaneiros a exata importância de um oásis no deserto. É parada obrigatória para todos os viajantes; seja para o necessário descanso ou para o abastecimento de alguma necessidade básica. Ali se encontra de tudo. De alimento a vestimentas. Oferece-se: camelos, ovelhas, jumentos, bois, grãos, pães, frutas, 13 BENNY DIO tendas/moveis etc. – Nada deixando a dever aos maiores centros comerciais das “arábias”. Jó não é somente rico. É muito respeitado. Sua fama vai além das fronteiras daquele fim de mundo. Inclusive, foi laureado pela ACC - Associação dos Comerciantes Caravaneiros, com o título benemérito de “O maior que todos do oriente.” Se de um lado, a fama lhe proporciona muita influencia, por outro, sua fortuna assemelha ao ímã, que atrai grande número de ladrões dispostos a roubá-lo. Muitas vezes, ele se viu às voltas com assaltantes. Tais incidentes, porém, nunca chegaram a incomodá-lo, necessariamente. Em geral, os prejuízos causados pelos vários assaltos, nunca ameaçaram enfraquecer seu império. Quem visita a atual Uz (no tempo de Jó) não faz idéia de como ela fora no passado, nem tão pouco imagina o tamanho do sacrifício que o progresso exigiu. Em tempos passados, a região se mostrava muito mais inóspita. De uma vegetação agrestia, rala, o solo era pouco apropriado para a agricultura e o pastoreio. O lugar onde se erguem as inúmeras tendas que abrigam os viajantes, antes, no passado, nada mais era que a continuidade dum imenso vazio. Hoje, tudo é progresso. Tudo é conforto. Para melhor atender aos hospedes, as instalações possuem espaços individualizados – modelo colônia. Um sistema de aqueduto se estende por vários quilômetros trazendo água das distantes nascentes para abastecer a metrópole. Canais muito bem projetados levam água às pequenas pias de argila, cosidas ao fogo, instaladas em todas as tendas. Além das tendas fixas, que hospeda os caravaneiros em viagens regulares, há também os espaços reservados a 14 A MULHER DE JÓ forasteiros: viajantes esporádicos e aventureiros que eventualmente passam pelo lugar. Há umas enormes cisternas, destinadas aos bebedouros dos animais; água suficiente para saciar a sede de inúmeros camelos. Obviamente que o camelo é o animal de carga mais preferido dos viajantes de longas distâncias. Alem da força e resistência o camelo pode caminhar dez dias sem beber água, possui em seu organismo um deposito que comporta em media 100 litros de água. Desenvolveu-se um sistema de irrigação destinado à agricultura, que se estende por centenas de alqueires. O lugar onde antes era conhecido como ermo seco, agora é visto como um novo Éden. Dia após dia, meses após meses, anos após anos; Uz é um verdadeiro fervilhar de gente por todos os lados. É um vai-vem sem fim. Incessante desfile de mercadores, vindo de todas as partes do mundo. Comerciantes de todos os gêneros movimentam-se de um lado para outro a fim de demonstrar suas mercadorias. As transações comerciais são feitas de várias maneiras: uns vem interessados em comprar de nossas variedades agrícolas. O pagamento é feito em ouro ou prata. Outros preferem trocá-las por seus próprios e exóticos produtos, muitíssimos cobiçados, vindo das terras longínquas: Mesopotâmia, Pérsia, Etiópia, Assur, China e outros países estrangeiros. Trazem: óleos, vinhos, peles, tapetes, couros, linho, seda, entre outros tantos produtos. Daqui as caravanas partem abarrotadas com grande variedade de espécies de frutas, legumes, algodão, cana-de-açúcar, azeite, mel, trigo, milho, 15