Enraizamento de estacas de alfazema MOTA JH; ARAÚJO C. 2009. Enraizamento de estacas de alfazema. Horticultura Brasileira 27: S726-S729. ENRAIZAMENTO DE ESTACAS DE ALFAZEMA 1 1 José Hortêncio Mota ; Charles de Araújo 1 IF MT – Campus São Vicente, BR 364 Km 329, Santo Antônio do Leverger - MT; e-mail: [email protected] RESUMO ABSTRACT Este estudo avaliou a influência de diferentes tamanhos de estaca no enraizamento de alfazema. Foram retiradas estacas com 5, 10, 15, 20 e 25 cm de comprimento as quais foram colocadas para enraizar em tubetes de polipropileno com 3 capacidade de 195 cm contendo substrato Plantmax HT®. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com as estacas de diferentes tamanhos constituindo cinco tratamentos e quatro repetições. As estacas foram mantidas em casa-de-vegetaçao e irrigadas diariamente e, 62 dias após as estacas terem sido colocadas para enraizar, foram avaliadas as características: número e comprimento de ramos, massa fresca e seca da parte aérea e de raiz. Verificou-se que os tamanhos de estacas iguais ou superiores a 10 cm são os mais indicados para a obtenção de mudas de alfazema. Rooting of Brazilian-lavender cuttings PALAVRAS-CHAVE: Aloysia gratissima (Gillies & Hook.) Tronc., estaquia, plantas medicinais. The objective of this study was to evaluate the influence of three lengths of cutting on the rooting of Brazilian-lavender. Cuttings with 5, 10, 15, 20 and 25 cm of length were used. For the rooting tubes of polypropylene 3 with capacity of 195 cm and containing Plantmax HT® substrate were used. The experimental design was randomized blocks with the cuttings of different sizes constituted five treatments and four repetitions. The cuttings were kept in greenhouse and irrigated daily, and 62 days after the cuttings were placed to root, were evaluated the characteristics: number and length of branches, fresh and dry mass of aerial part and root. The sizes of cuttings same or superior to 10 cm are the most indicated for obtaining Brazilian-lavender seedling. KEYWORDS: Aloysia gratissima (Gillies & Hook.) Tronc., cutting, medicinal plants. INTRODUÇÃO A alfazema (Aloysia gratissima (Gillies & Hook.) Tronc.), muito difundida na medicina popular sul-americana, é uma planta aromática, rica em óleos essenciais, nativa da América do Sul, pertencente à família Verbenaceae (Souza et al., 2007). Popularmente conhecida como alfazema-do-Brasil, erva-de-nossa-senhora, erva santa e garupá, é amplamente distribuída nas Américas, ocorrendo desde os Estados Unidos até a Patagônia (Ricciardi et al., 2000). É um arbusto que pode alcançar 3 m de altura, com crescimento desordenado. Suas flores são brancas, fragrantes, em agrupamentos axilares solitários ou geminados ou, ainda, em inflorescências paniculadas e terminais. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 726 Enraizamento de estacas de alfazema Devido à floração intensa e ao aroma agradável dessas flores, é considerada também uma planta melífera e ornamental, além de ser uma planta medicinal (Ricciardi et al., 2000). Seus ramos e folhas podem ser usados no preparo de expectorantes e digestivos, no combate a doenças relacionadas à bexiga, contra resfriados febris e como antiespamódicos (Alice et al., 1995) e para o tratamento de provocadas por cólicas e cefaléias (Souza et al., 2007). Apesar da existência de alguns estudos químicos e farmacológicos, poucas são as informações agronômicas relativas à espécie, na literatura. Considerando as atuais discussões a cerca do estabelecimento de diretrizes que visem, por exemplo, regulamentar o cultivo, o manejo sustentado, a produção, a distribuição e o uso das plantas com este potencial, a produção de mudas é uma etapa fundamental para esse processo (Jorge et al., 2006). Este interesse na fitoterapia tem demandado informações a respeito das formas de propagação e cultivo de tais plantas. Informações agronômicas a respeito de plantas medicinais são essenciais para o estabelecimento de qualquer programa de fitoterapia sustentável (França, 2000). Neste contexto, este estudo teve por objetivo avaliar a influência de cinco comprimentos de estacas no enraizamento de alfazema. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação no Instituto Federal de Mato Grosso – campus São Vicente, localizado nas coordenadas 15º40’de latitude sul e 55º25’ de longitude o oeste e altitude de 780 m. A região possui temperatura média de 22,0 C, com máxima anual o o de 31,5 C e mínima anual de 14,5 C. A precipitação anual é de 1860 mm com duas estações distintas e bem definidas: chuvosa, de outubro a março, e seca, de abril a setembro (Oliveira, 2000). Os ramos da alfazema, para a estaquia, foram coletados no Setor de Plantas Medicinais do Campus São Vicente do Instituto Federal de Mato Grosso, no município de Santo Antônio do Leverger-MT. A coleta foi realizada às 8 horas e o material coletado foi transportado em sacos plásticos para evitar o ressecamento das estacas. As estacas de cada ramo foram retiradas com 5, 10, 15, 20 e 25 cm de comprimento (medidos da base para o ápice). As estacas foram cortadas de ramos do terço médio da planta onde posteriormente foram retiradas as folhas e as mesmas foram enterradas na profundidade de 5 cm no tubete com substrato. Para o plantio foram 3 utilizados tubetes de polipropileno com capacidade de 195 cm , contendo substrato Plantmax HT®. As estacas foram mantidas em casa-de-vegetação e irrigadas diariamente. A irrigação foi realizada manualmente. Durante a condução do experimento, não houve a necessidade de controle de pragas e doenças. Após 62 dias do enraizamento das estacas foi realizada a coleta e avaliadas as seguintes características: número e comprimento de ramos, massa fresca e seca de folhas e raízes. O comprimento dos ramos foi mensurado com auxílio de paquímetro digital e as massas avaliadas utilizando-se uma balança Sartorius TE-3102S de precisão de 0,01 g. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com cinco tratamentos (estacas de diferentes comprimentos) e cinco repetições contendo 10 estacas por unidade experimental. Os dados foram submetidos à análise de variância e regressão, ambos ao nível de 5% de probabilidade de erro. Todas as análises foram processadas com o auxílio do software Sisvar (Ferreira, 2003). Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 727 Enraizamento de estacas de alfazema RESULTADOS E DISCUSSÃO Pela análise de variância (Tabela 1) verificou-se a influência do tamanho das estacas sobre o comprimento dos ramos e massas fresca e seca de folhas e raízes de alfazema. Não houve diferença para número médio de raízes por estaca (Figura 1a). Resultados semelhantes foram encontrados por Oliveira et al. (2008) estudando a influência de três comprimentos de estacas caulinares no enraizamento de Melaleuca alternifolia. Entretanto, há de se considerar que o efeito do comprimento da no enraizamento da muda pode ser muito variável de acordo com a espécie (Costa et al., 2007; Oliveira et al., 2008). Houve efeito significativo para comprimento dos ramos, massa fresca e seca de folhas e de raízes (Figuras 1b, 1c e 1d). Para um bom enraizamento é importante observar a posição de onde são retiradas as estacas, pois posições inferiores do ramo são menos favoráveis à diferenciação radicial (Signor et al, 2007). A proximidade da região apical possibilita a retirada de estacas com menor grau de lignificação e com maior conteúdo de auxinas, já que o ápice caulinar é um conhecido local de síntese desses hormônios (Taiz & Zeiger, 2004). A alfazema apresenta um bom enraizamento o que pode ser comprovado por Santos (2008) que estudando a propagação assexuada de estacas herbáceas de alfazema em substrato comercial e areia obtiveram resultados de 96 e 95% de enraizamento. Observou-se, para as características avaliadas, que as estacas com comprimento igual ou superior a 10 cm de comprimento apresentaram são as mais indicadas para a obtenção de mudas de alfazema. REFERÊNCIAS ALICE CB; SIQUEIRA NCS; MENTZ IA; SILVA GAAB; JOSÉ KFD. 1995. Plantas medicinais de uso popular: atlas farmacognóstico. Canoas: ULBRA. 205p. COSTA LCB; PINTO JEBP; BERTOLUCCI SKV. 2007. Comprimento da estaca e tipo de substrato na propagação vegetativa de atroveran. Ciência Rural 37: 1157-1160. FERREIRA DF. 2003. SISVAR – Sistemas de análises de variância. Lavras: UFLA. (Software estatístico). FRANÇA SC. 2000. Abordagens biotecnológicas para a obtenção de substâncias ativas. In: SIMÕES CMO; SCHENKEL EP; MELLO JCP; PETROVICK PR. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 2.ed. Porto Alegre/Florianópolis: UFRGS/UFSC. 821p. JORGE MHA; EMERY FS; SILVA AM. 2006. Enraizamento de estacas de alfavaca (Ocimum gratissimum L.). Corumbá: EMBRAPA/CPAP. 3p. (Comunicado Técnico, 56) OLIVEIRA OJ. 2000. Estresse hídrico e características agronômicas de materiais superprecoces de milho (Zea mays L.). Piracicaba: USP ESALQ. 89p. (Tese doutorado) OLIVEIRA Y; SILVA ALL; PINTO F; QUOIRIN M; BIASI LA. 2008. Comprimento das estacas no enraizamento de melaleuca. Scientia Agrária 9: 415-418. RICCIARDI GAL; VEGLIA J; RICCIARDI AIA; BANDONI AL. 2000. Examen de los aceites esenciales de especies de Aloysia (Verbenaceae) del Nordeste. Comunicaciones Científicas y Tecnológicas 8: 100-102. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 728 Enraizamento de estacas de alfazema SANTOS FM. 2008. Aspectos ecofisiológicos de Aloysia gratissima (Gillies et Hook) Troncoso [Verbenaceae] associados à composição do óleo essencial e sua ação antimicrobiana. Lavras: UFLA. 116p. (Tese mestrado) SIGNOR D; KOWALSKI APJ; ALVES MA; LIMA FI; BIASI LA. 2007. Estaquia herbácea de orégano. Scientia Agrária 8: 431-434. SOUZA AA; GIROLOMETTO G; WIEST JM. 2007. Aloysia gratissima (Gill et Hook) Tronc. (garupá, erva santa): uso popular e perspectivas na pecuária ecológica. Revista Brasileira de Agroecologia 2: 725-728. TAIZ L; ZEIGER E. 2004. Fisiologia vegetal. Porto Alegre: Artmed. 820p. Tabela 1. Resumo da análise de variância das características: número de ramos, comprimento dos ramos, massa fresca (MFF) e massa seca (MSF) de folhas, massa fresca de raízes (MFR) e massa seca de raízes (MSR) de alfazema. [Summary of the analysis of variance of the characteristics: number of branches, length of the branches, fresh mass (MFF) and dry mass (MSF) of the leafs, fresh mass of roots (MFR) and dry mass of roots (MSR) of Brazilian-lavender]. IF MT – Campus São Vicente. 2008. Quadrado Médio Fontes de Variação Graus de Liberdade Número de ramos Comprimento dos ramos MSF MFR MSR MFF Bloco Tratamento Erro 3 4 12 0,1833 17,5000ns 21,7000 0,2515 81,0819* 0,3763 0,0013 0,1970* 0,0131 0,0014 0,0127* 0,0008 0,1597 0,7932* 0,1856 0,0197 0,0936* 0,0195 ** = significativo ao nível 5% de probabilidade pelo teste F. ns = não significativo. Figura 1. a) Número de ramos; b) comprimento dos ramos; c) massa fresca (MFF) e seca (MSF) de folhas; d) massa fresca (MFR) e massa seca (MSR) de raízes de alfazema. [a) Number of branches; b) length of the branches; c) fresh mass (MFF) and dry mass (MSF) of leafs; d) fresh mass (MFR) and dry mass (MSR) of roots of Brazilian-lavender]. IF MT – Campus São Vicente. 2008. Hortic. bras., v. 27, n. 2 (Suplemento - CD Rom), agosto 2009 S 729