SELEÇÃO DE PLANTAS MATRIZES E OBTENÇÃO DE CLONES POR MEIO DE ESTACAS HERBÁCEAS DE GOIABEIRA 1 2 3 Lillian Lúcia Costa ; Nei Peixoto ; Joseliana Aparecida Vaz Fernandes 1 Bolsista de Iniciação Científica PBIC/UEG, curso de Agronomia da UEG-Ipameri; 2 3 Orientador, professor do curso de Agronomia da UEG-Ipameri [email protected]; Colaboradora Voluntária, curso seqüencial de Gestão do Agronegócio da UEG-Ipameri. 1. RESUMO Originária da América Tropical, a goiabeira adapta-se a diferentes condições climáticas e de solo, fornecendo frutos que são aproveitados desde a forma artesanal até a industrial. Pode ser propagada através de semente, alporquia (mergulhia), estaquia, enxertia e cultura de tecido, sendo que a principal forma de produção de mudas, a nível comercial, é realizada por meio da estaquia herbácea. Com o objetivo de avaliar a aplicação da técnica da clonagem de plantas matrizes existentes no município de Ipameri, foi conduzido um experimento em câmara de nebulização. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com 12 tratamentos e três repetições, sendo cada parcela constituída por uma caixa plástica, contendo 20 estacas. Cada estaca com cerca de 12 cm de comprimento com 3 nós, 2 internódios e um par de folhas. Foram selecionadas doze plantas matrizes, considerando-se o seu vigor e as características dos frutos. Não foi executada poda prévia das plantas para uniformizar o estádio fisiológico das estacas, mas estas foram selecionadas entre os galhos mais novos, cujas extremidades foram retiradas para obtenção de estacas apicais e sub-apicais com três nós e um par de folhas. Os ramos foram imediatamente transportados para o local onde foram preparadas e tratadas as estacas com AIB (ácido indol butírico), na concentração de 1000 mg.l-1 para indução do enraizamento. Aos 30 e 60 dias na câmara de nebulização, foram registrados os dados de porcentagem de sobrevivência e os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de probabilidade estatística. Após o enraizamento as estacas foram transplantadas para uma embalagem individual e passaram por um processo de aclimatação e posteriormente levadas ao campo. Palavras-chave: Pisidium guajava; estaquia; produção de mudas. 2. INTRODUÇÃO A fruticultura apresenta inúmeras vantagens econômicas e sociais, como elevação do nível de emprego, fixação do homem no campo, a melhor distribuição da renda regional, a geração de produtos de alto valor comercial e importantes receitas e impostos, além de excelentes expectativas de mercado interno e externo gerando divisas. Entre as novas alternativas, encontra-se a cultura da goiaba, atividade de alta rentabilidade e com grande possibilidade de expansão no país. Originária da América Tropical, a goiabeira adapta-se a diferentes condições climáticas e de solo, fornecendo frutos que são aproveitados deste a forma artesanal até a industrial. É cultivada no Brasil e em outros países sul americanos, bem como nas Antilhas e nas partes mais quentes dos Estados Unidos, como a Flórida e a Califórnia. 2 O Brasil é um dos maiores produtores mundiais juntamente com a Índia, Paquistão, México, Egito e Venezuela. É cultivada desde o Acre até o Rio Grande do Sul, embora de forma ainda extrativa em várias regiões (MEDINA, 1988). Na região sudeste, destacam-se os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; Bahia, Pernambuco e Paraíba, na região nordeste; Goiás, no centro-oeste e Rio Grande do Sul e Paraná na região sul (Souza, et al., 2005). O Estado de São Paulo é o maior produtor e o Rio Grande do Sul é o quarto do país, com uma produção de 4 a 6 mil toneladas de frutas, praticamente toda para indústria (ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL, 1991). Em área colhida, o Estado de São Paulo liderava no Brasil em todo o período de 1988 a 1995 com cerca de 46% da área total do país. Apareciam em seguida o estado de Pernambuco em segundo lugar, Rio Grande do Sul em terceiro, Paraíba em quarto lugar e Bahia em quinto lugar no ano de 1995 com 394 ha de goiaba colhida (Manica, 2000). Irrigando a lavoura e fazendo podas programadas é possível colher durante todo o ano, permitindo ao produtor a comercialização dos frutos no período de entressafra. Efetuando-se o devido controle de pragas e doenças, é possível obter 800 frutos por planta adulta, com produtividade superior a 40 toneladas por hectare (Souza, et al., 2005). A goiabeira pertence ao gênero Psidium, da família Mirtaceae, que é composta por mais de 70 gêneros e 2.800 espécies, sendo que 110 a 130 espécies são naturais da América Tropical e Subtropical. A planta é um arbusto de árvore de pequeno porte, que pode atingir de 3 a 6 metros de altura. As folhas são opostas, tem formato elíptico-oblongo e caem após a maturação. As flores são brancas, hermafroditas, eclodem em botões isolados ou em grupos de dois ou três, sempre nas axilas das folhas e nas brotações surgidas em ramos maduros. Apresenta fecundação cruzada, que pode variar entre plantas 25,7 a 41,3 %, considerando-se 35,6 como o índice médio. A abelha Apis melífera é o principal polinizador (Souza, et al., 2005). Os frutos da goiabeira são bagas que tem tamanho, forma e coloração de polpa variável em função da cultivar. A frutificação começa no segundo ou terceiro ano após o plantio no local definitivo ou menos dependendo se a cultivar foi oriunda de propagação por estaquia. A floração ocorre entre 71 e 84 dias após a poda. Os botões florais são formados entre 47 a 70 dias após a poda. O pegamento dos frutos ocorre, aproximadamente, 90 dias após a poda (Souza, et al., 2005). A goiaba é um alimento de grande valor nutritivo. Possui quantidade razoável de sais minerais, como cálcio e fósforo. É rica em vitaminas como A, B1 (Tiamina), e B2 (Riboflavina), B6 (Piridoxina). Em matéria de vitamina C, tem poucos rivais. Algumas variedades nacionais acusam em média um teor de ácido ascórbico de 80 miligramas por 100 gramas. A goiaba branca e a amarela são mais ricas que a vermelha. O limão contém cerca de 40 mg por 100g, que corresponde 3 à metade da concentração da goiaba branca. Graças à descoberta do elevado teor de vitamina C da goiaba, esta fruta foi, durante a Segunda Guerra Mundial, utilizada como suplemento na alimentação dos soldados aliados nas regiões frias. Desidratada e reduzida a pó tinha por finalidade aumentar a resistência orgânica contra as afecções do aparelho respiratório. O suco de goiaba, no Brasil, poderá a vir a ser um substituto do suco de laranja e limão na alimentação não só das crianças, mas na do adulto, ajudando-os a ter uma alimentação balanceada, indispensável no equilíbrio da saúde (Souza, et al., 2005). O produtor que optar pelo mercado externo deverá dar preferência às variedades que produzam frutos com polpa branca e para o mercado interno, para consumo in natura ou para fins industriais, as variedades que produzam frutos de polpa avermelhada (Souza, et al. 2005). A goiabeira pode ser propagada pelos processos sexual e assexual. Mas apesar da facilidade e velocidade de obtenção de mudas, a propagação através de sementes, com finalidade de comercialização, não é recomendada devido a alta heterogeneidade desta espécie. Embora tenha uma taxa de autofecundação significativamente maior do que a da fecundação cruzada, sua propagação por sementes resultantes da polinização natural, origina descendentes com grande variação quanto a forma, hábito de crescimento e estatura de plantas, produtividade e características dos frutos. Alguns Estados, já vêm desenvolvendo trabalhos de pesquisa no sentido de introduzir, selecionar, propagar e difundir plantas de comprovada qualidade agronômica (MEDINA, 1988; GONZAGA NETO & SOARES,1994). A propagação assexuada é feita através da alporquia, estaquia, enxertia e cultura de tecido, sendo que a principal forma de produção de mudas, a nível comercial, é realizada por meio da estaquia herbácea. Esse é um processo mais recente, cujas principais vantagens são o curto período necessário para a formação das mudas e a uniformidade genética da planta obtida (Manica, 2000). A propagação de várias espécies frutíferas, pela estaquia, tem sido sugerida por vários autores, porém os resultados são variáveis de acordo com um grande número de fatores internos e externos. Destacam-se, como fatores internos, a condição fisiológica da planta- matriz, a idade da planta, o tipo de estaca, a época do ano para coleta, o potencial genético do enraizamento, a sanidade do material e o balanço hormonal (Fachinello et al., 1995). Tem-se observado que o enraizamento de estacas de espécies de difícil enraizamento pode ser conseguido se forem fornecidos fatores adequados para o enraizamento das mesmas. A busca de técnicas auxiliares, como o uso de reguladores de crescimento, tem sido utilizada com freqüência a fim de proporcionar melhoria do enraizamento (Biasi, 1996). Tem por finalidade aumentar a porcentagem de estacas enraizadas, acelerar a iniciação radicular, aumentar o número e a qualidade das raízes formadas e uniformizar o enraizamento (Fachinello et al., 1995). O grupo de 4 reguladores de crescimento usado com maior freqüência é o das auxinas (Hinojosa, 2000). De acordo com Hartmann et al. (2002), as auxinas são as substâncias mais importantes, que desempenham maiores funções no enraizamento de estacas. Entre as principais funções biológicas das auxinas, pode-se citar o crescimento de órgãos, especialmente as raízes. A auxina de presença natural é sintetizada principalmente em gemas apicais e em folhas jovens e, de maneira geral, move-se através da planta, do ápice para a base. Uma das formas mais comuns de favorecer o balanço hormonal para o enraizamento é a aplicação exógena de reguladores de crescimento, tais como o ácido indolbutírico (AIB) (PASQUAL et al., 2001). O plantio de estacas pode ser realizado em recipiente (sacos plástico, vasos, baldes, caixas, entre outros) em estruturas de propagação ou diretamente no campo. No momento da coleta das estacas, deve-se selecionar como planta matriz aquela que possui identidade conhecida, características peculiares da espécie ou cultivar, além de apresentar um ótimo estado fitossanitário, um vigor moderado e sem danos provocados por secas, geadas ou outras intempéries. Além disso, a planta matriz deve estar numa condição nutricional equilibrada, sendo que, estes requisitos são necessários para a obtenção de bons resultados (Fachinello et al., 1995). Na produção comercial de muda, não é conveniente que se utilizem estacas provenientes de uma área de produção de frutas, devido a possibilidade de contaminação por patógenos, especialmente viroses. Neste caso, é recomendável a obtenção de material propagativo junto a blocos de matrizes ou coleções de cultivares em instituições de pesquisas (Fachinello et al., 1995). O objetivo do presente trabalho foi selecionar ramos para estaquia obtidos de genótipos promissores e aplicar a técnica da clonagem de plantas matrizes existentes no município de Ipameri. 3. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implantado na Unidade Universitária de Ipameri em janeiro de 2007, partindo de 12 plantas matrizes selecionadas na sede do município e em propriedades rurais que produziam frutos para o consumo in natura ou para a industrialização. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com 12 tratamentos e três repetições, sendo cada parcela constituída por 20 estacas. Foi utilizado o processo de propagação por estaquia herbácea coletadas de ramos novos das plantas matrizes selecionadas. Cada estaca com cerca de 12 cm de comprimento com 3 nós, 2 internódios e um par de folhas. Uma vez selecionada a estaca fez-se um corte logo abaixo do nó basal, em bisel, para aumentar a área de resposta. Utilizou-se o regulador de crescimento AIB (ácido indol-butírico), na concentração de 1000 mg.l-1 por imersão da base das estacas por 12 horas, em ambiente escuro e temperatura próxima a 23°C. Após a retirada da solução, as estacas herbáceas foram colocadas em caixas plásticas, com 5 boa drenagem, contendo como substrato vermiculita média e mantidas em ambiente com alta umidade, em câmara de nebulização, regulada para operação intermitente, por meio de um temporizador, para um minuto ligada e dez minutos desligada, visando manter as folhas úmidas, evitando, assim a transpiração. Aos 30 e 60 dias na câmara de nebulização, foram registrados os dados de porcentagem de sobrevivência e os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5 % de probabilidade estatística. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Houve diferenças significativas entre os tratamentos, quanto à porcentagem de sobrevivência das estacas, aos 30 e 60 dias após o tratamento com AIB e manutenção em câmara de nebulização intermitente. Aos 60 dias as maiores porcentagens de sobrevivência foram dos clones UEG06, UEG10, UEG11 E UEG12. Aos 60 dias destacaram-se UEG11 e UEG12. A baixa taxa de sobrevivência pode ter sido devido a não realização da poda nas plantas matrizes selecionadas, visto que os genótipos identificados como promissores localizarem em diferentes locais/residências particulares, ficando difícil a realização da mesma. 5. CONCLUSÃO É possível selecionar clones promissores, partindo de plantas obtidas por sementes, cultivadas em pomares domésticos, desde que sejam tomados os cuidados de realização de podas para padronização das estacas herbáceas e se utilize câmara de nebulização com melhor controle fitossanitário, o que não foi possível neste trabalho. 6. LITERATURA CITADA ANUARIO ESTATÍSTICO DO BRASIL-1991, Rio de Janeiro, v 51, p.505, 1991. BIASI, L.A.; CARVALHO, D.C.; WOLF, G.D.; ZANETTE, F. Potencial organogenético de tecidos caulinares e radiculares de caquizeiro. Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 24, n. 1, p. 29-34, 2002. FACHINELLO, J.C.; HOFFMANN, A.; NACHTIGAL, J.C.; KERSTEN, E.; FORTES, G.R. de L. Propagação de plantas frutíferas de clima temperado. 2. ed. Pelotas: UFPEL, 1995. 178p. GONZAGA NETO, L.; SOARES, J.M. Goiaba para expotação: aspectos técnicos da produção. Brasília: EMBRAPA, SPI, 1994. 49 p. HARTMANN, H.T.; KESTER, D.E.; DAVIES JUNIOR, F.T.; GENEVE, R.L. Plant propagation: principles and practices. 7th ed. New Jersey: Prentice Hall, 2002. 880p. HINOJOSA, G.F. Auxinas. In: CID, L. P B. Introdução aos hormônios vegetais. Brasília: EMBRAPA, 2000. p. 15-54. MANICA, I. [org.]. Fruticultura Tropical: 6. Goiaba. Editora Cinco Continentes, 2000. 374 p.: il. 6 MEDINA, J.C. Cultura In: INSTITUTO DE TECNOLOGIA DE ALIMENTOS Goiaba: cultura, matéria-prima, processamento e aspectos económicos. Campinas, 1988. cap. 1, p. 1-120. (ITAL. Frutas Tropicais, 6). PASQUAL, M.; CHALFUN, N.N.J.; RAMOS, J.D.; VALE, M.R. do; SILVA, C.R. de R. e. Fruticultura Comercial: propagação de plantas frutíferas. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001. 137p. PEREIRA, F.M. et al. Efeito do ácido indolbutírico no enraizamento de estacas herbáceas de goiabeira (Psidium guajava L.) das cultivares ‘Rica’ e ‘Paluma’, em câmara de nebulização. Científica, Jaboticabal, v.19, n.2, p.199-206, 1991. SOUZA. O.P.; MANCIN, C.A.; MELO, B. A cultura da Goiabeira. Universidade Federal de Uberlândia-UFU/Instituto de Ciências Agrárias. Disponível em: << http:www.fruticultura.iciag.ufu.br/goiabao.html>> Acesso em 30 de agosto de 2007. Tabela 1. Porcentagem de sobrevivência, em câmara de nebulização, de estacas das plantas matrizes, aos 30 e 60 dias após o tratamento com ácido indolbutírico. Ipameri 2007. Planta matriz Porcentagem Porcentagem (30 dias) (60 dias) UEG12. 77,15 a 62,32 a UEG10. 65,04 ab 22,06 c UEG06. 62,95 abc 35,20 bc UEG11. 58,40 abcd 54,15 ab UEG03. 50,87 bcd 18,67 c UEG09. 49,95 bcd 27,56 c UEG04. 47,93 bcd 21,57 c UEG01. 39,18 bcd 26,49 c UEG02. 39,04 bcd 19,36 c UEG07. 36,93 cd 19,36 c UEG08. 34,96 d 17,52 c UEG05. 32,74 d 18,67 c CV % 17,69 23,25