Artrodese 360° pela técnica TLIF

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240
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
Artrodese 360° pela técnica TLIF
Lombosacral and lombar arthrodesis 360° by Transforaminal
Lumbar Interbody Fusion (TLIF) technique
Maurício Pagy de Calais Oliveira1
Luiz Cláudio de Moura França1
Roberto Sakamoto Falcon2
Manuel de Araújo Porto Filho1
Marcelo Gonçalves Rugani3
Marcos Antônio Ferreira Junior4
RESUMO
ABSTRACT
Tipo de estudo: estudo prospectivo aleatório da artrodese 360°
pela técnica TLIF para tratamento de doenças degenerativas da
coluna lombar e lombosacra. Objetivo: avaliar os resultados subjetivos e objetivos de uma nova técnica de fusão de segmentos
vertebrais, com alcance circunferencial, com a descrição dessa
técnica. Resumo dos dados: várias técnicas de fixação com artrodese
da coluna têm sido apresentadas desde o advento da
instrumentação pedicular. Entretanto, os índices de falha alcançam níveis, considerado por muitos, inaceitáveis. O TLIF tem a
proposta de melhorar a taxa de fusão das artrodeses da coluna
lombar. Métodos: foi realizado estudo prospectivo de 23 pacientes
submetidos a fusão intersomática lombar transforaminal nos níveis L4-L5 e L5-S1 no período de agosto de 2000 a dezembro de
2001. O seguimento foi de quinze meses (p<0,05) com avaliações
sucessivas ambulatoriais, com complementação por tomografia
computadorizada associado a reconstrução sagital dos níveis
artrodesados da coluna lombar. Resultados: do total de pacientes,
21 deles apresentaram fusão posterior e 17, fusão anterior após
três meses da cirurgia. Em análise realizada, considerando-se o
retorno às atividades diárias de forma satisfatória em um período
de cinco meses, 17 pacientes apresentaram bons resultados, quatro resultados regulares e um insuficiente. Conclusão: a fusão
intersomática lombar transforaminal alcança elevados índices de
consolidação tanto anterior quanto posterior, com tempo cirúrgico limitado e curto período de internação. É procedimento seguro,
com baixos níveis de complicação. Os resultados obtidos mostram que é mais uma arma no arsenal terapêutico para o tratamento
de doenças degenerativas da coluna lombar.
Study Design: a prospective study of 360° arthrodesis by
TLIF technique for the treatment of degenerative diseases
of lumbar and lumbosacral spine. Objectives: to evaluate
the results, subjective and objective, of a new technique for
fusion of vertebral segments, with circumferential range,
and the description of this technique. Summary of
background data: many techniques of arthrodesis with
fixation have been presented since the pedicular screws
devices. But the frequency of failure is unacceptable by
many authors. The TLIF has the proposal to improve the
results of fusion in lumbar spine. Methods: a prospective
analysis of 23 cases of transforaminal lumbar interbody
fusion at the L4-L5 and L5-S1 levels, between August 2000
and December 2001 was performed. The follow-up were
fifteen months (p<0.05) with successive ambulatory
evaluations, completed by CT and sagital reconstruction.
Results: 21 patients had solid posterior fusion
radiographically, and 17 had anterior fusion after three
months. 17 patients had excellent or good clinical
outcomes, four had regular results. Conclusion: the
transforaminal lumbar interbody fusion reaches high levels
of fusion, both anterior and posterior. It has short stay in
and length of operation, as well. It is a safe procedure,
with low frequency of complications. The results show that
this is one more way for the treatment of the degenerative
discs diseases of the lumbar spine.
DESCRITORES: Artrodese; Fusão espinhal/métodos;
Espondilolistese; Deslocamento do disco
intervertebral; Doenças da coluna
vertebral
KEYWORDS: Arthrodesis; Spinal fusion/methods;
Spondylolisthesis; Intervertebral disk
displacement; Spinal diseases
Trabalho realizado através do Centro Mineiro de Cirurgia da Coluna, nos Hospitais Belo Horizonte, Ortopédico e Vera Cruz - Belo Horizonte (MG), Brasil.
1
Ortopedista Cirurgião de Coluna do Centro Mineiro de Cirurgia da Coluna - Belo Horizonte (MG), Brasil.
Ortopedista Cirurgião de Coluna Coordenador do Centro Mineiro de Cirurgia da Coluna - Belo Horizonte (MG), Brasil.
3
Neurocirurgião Cirurgião de Coluna do Centro Mineiro de Cirurgia da Coluna - Belo Horizonte (MG), Brasil.
4
Ortopedista Cirurgião de Coluna do Centro do Centro Mineiro de Cirurgia da Coluna - Belo Horizonte (MG), Brasil.
2
Recebido: 12/04/2005 - Aprovado: 16/08/2006
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18
2006;5(4):240-246
Artrodese 360° pela técnica TLIF
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INTRODUÇÃO
A fusão intervertebral circunferencial (360°) vem se tornando
uma abordagem amplamente aceita em várias condições
degenerativas da coluna lombar. As vantagens desta artrodese
sobre o tradicional procedimento póstero-lateral incluem elevado índice de fusão, além do tratamento da dor de origem
discogênica1-2. Em 1981, Blume3 descreveu uma abordagem
unilateral para fusão intersomática lombar posterior com o
objetivo de minimizar potenciais complicações do mesmo. A
técnica cirúrgica da fusão intersomática lombar transforaminal,
desenvolvida e popularizada por Harms 4, permite a
visualização completa do espaço discal, com menor retração
das estruturas neurais do que a fusão intersomática lombar
posterior. O procedimento pode ser realizado por meio de
abordagem unilateral, com remoção de uma articulação
facetaria, sendo necessária instrumentação posterior associada à artrodese póstero-lateral para estabilização do segmento intervertebral. O objetivo deste trabalho é avaliar o resultado do procedimento, assim como, o índice de satisfação dos
pacientes no acompanhamento pós-operatório de fusão
intersomática transforaminal da coluna lombar, baseada em
uma avaliação subjetiva final conforme a escala de Prolo et
al.5 e questionário de pesquisa de saúde SF36 da New England
Medical Center Hospitals, Inc.6.
MÉTODOS
De agosto de 2000 a dezembro de 2001, 23 pacientes foram
submetidos à fusão intersomática lombar transforaminal, nos
níveis L4-L5 e L5-S1, com avaliação prospectiva. Nesta análise, o protocolo incluía, após o período de internação, uma
avaliação radiográfica aos 30 dias de pós-operatório e outra
após três meses, também acompanhada de tomografia
computadorizada com reconstrução sagital, além de cortes
axiais, em janelas ósseas, com cortes paralelos ao istmo, para
avaliar também a massa de fusão póstero-lateral. Aos 12 meses
de pós-operatório os pacientes foram solicitados a retornar ao
ambulatório para nova avaliação radiográfica. Foi realizada uma
avaliação final aos 15 meses após o procedimento cirúrgico.
A população era composta por 10 pacientes (43,5%) do
sexo masculino, com idade entre 27 e 62 anos, e média de 41,1
anos; e 13 pacientes (56,5%) do sexo feminino, com idade entre
32 e 64 anos e média de 51,6 anos. A variação total de idade foi
de 27 a 64 anos com média de 47 anos. Destes pacientes, 16
(69,5%) eram faiodermas, cinco (21,7%) eram leucodermas e
dois (8,8%) eram melanodermas. O período de sintomas préoperatórios variou de dois a oito anos (Tabela 1).
TABELA 1 - Período de sintomas pré-operatórios
Tempo de sintomas
Número de pacientes Percentagem
2 anos a
5
21,7%
3 anos e 11 meses
4anos a
12
5 anos e 11 meses
6 a 8 anos
6
26,1%
Quadro de dor: 13 pacientes (56,5%) relacionavam o quadro de dor à atividade física intensa; seis pacientes (26,1%)
à atividade de trabalho normal e quatro (17,4%) a fatores
não específicos.
Diagnóstico: foi feito por avaliação clínica e por imagens (radiografia, tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética).
Tratamento: conservador inicial em 17 pacientes (73,9%),
com antiinflamatórios não esteróides, fisioterapia e uso de
colete tipo Putti com suporte lombo-sacro, antes de ser dada
a indicação de tratamento cirúrgico. Em dez pacientes
(43,5%) foi indicado tratamento cirúrgico até o segundo mês
com avaliações ambulatoriais sucessivas. Dez pacientes
(43,5%) apresentavam espondilolistese espondilolítica, dois
pacientes (8,7%) tinham espondilolistese degenerativa,
nove (39,1%) eram portadores de hérnia discal recidivada e
em dois pacientes observamos doença discal degenerativa
primária. Foi realizada média do tempo de procedimento cirúrgico e dias de internação. Todos os 23 pacientes foram
admitidos em CTI/UTI em um período mínimo de 24 horas
no pós-operatório imediato e apenas um deles permaneceu por mais de 24 horas devido a complicações cirúrgicas
(tromboembolismo pulmonar) evoluindo para o óbito. Em
17 pacientes (73,9%) foi realizada hemotransfusão (concentrado de hemácias) com 48 horas de pós-operatório,
conforme avaliação clínica e laboratorial (hemograma completo); e em seis pacientes (26,1%) não foi necessário tal
procedimento.
Em relação à técnica cirúrgica, todos os 23 pacientes
foram submetidos à fixação posterior com hastes de titânio
e parafusos pediculares da marca Baumer®, sendo que 21
pacientes (91,3%) com duas hastes e quatro parafusos em
um nível (L4-L5 ou L5-S1) (Figuras 1 e 2), e dois pacientes
(8,7%) com duas hastes e seis parafusos em dois níveis (L4L5-S1). Em todos os pacientes foram usados dois cages
tipo “mesh” (Figura 3) por nível artrodesado.
Em 20 casos de artrodese em um só nível foi feita
apenas fixação do nível artrodesado. Em um caso houve
necessidade de fixação em um nível extra devido à fratura do pedículo, e em dois casos foram realizados dois
níveis de artrodese com seis parafusos e quatro cages
(Figuras 4 e 5).
As avaliações foram realizadas em nível ambulatorial com
seguimento médio de quinze meses, período este dentro de
um intervalo de confiança (I.C.) de 95%, [16,4 meses; 13,4
meses] e p<0,05.
A avaliação pós-operatória final foi feita por meio de um
questionário respondido em avaliação ambulatorial (Quadro 1) e pesquisa subjetiva de saúde SF36, com análise cruzada dos dois métodos para obtenção do resultado final. Os
dados gerais referentes aos pacientes, o nível de fusão realizada na coluna lombar, o tempo de cirurgia, o tempo de
internação, a presença de consolidação, as complicações e
o grau de satisfação do paciente com o resultado final estão
dispostos no Quadro 2.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(1):13-18
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(4):240-246
Oliveira, MPC, França LCM, Falcon RS, Porto F° MA, Rugani MG, Ferreira Jr MA
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QUADRO 1 - Diagrama do protocolo de avaliação dos pacientes submetidos
à artrodese intersomática lombar por abordagem transforaminal (360°)
Identificação
Diagnóstico
Nível de lesão
Cirurgia - detalhes técnicos
Avaliação
Pós-operatório
T.C
Resultado final
QUADRO 2 - Resumo das avaliações dos pacientes submetidos à artrodese intersomática lombar por
abordagem transforaminal (360°)
Nome Sexo Idade Diag.
Nível
Tempo
Sangue Cages
Fix
DTT Compl.
post.
Dias
Colete
int.
Cons
Cons.
Compl.
Prolo/
Post.
Ant.
Pos op
SF36
J.C.R.
M
43
E.E
L5S1
4h30min
SIM
2
2B/4P NÃO PAREST. 5DIAS 3MESES
SIM
SIM
Meralg.Parest. Satisfatório
G.M.R.
M
27
H.D.R.
L4L5
4h15min
NÂO
2
2B/4P NÂO NÂO
4DIAS
NÂO
SIM
SIM
Infec. Ferida Satisfatório
H.H.O.
M
37
E.E.
L5S1
6h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
3DIAS
NÃO
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
N.G.G.
F
53
E.D.
L4L5/L5S1 6h30min
SIM
4
2B/6P NÃO NÃO
4DIAS 3MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
L4L5/L5S1 6h30min
2DIAS
A.A.N.
F
55
E.E.
SIM
4
2B/6P NÃO
T.E.P.
M.C.D.S.
F
54
E.E.
L4L5
5h30min
SIM
2
2B/4P NÃO
F.P.
X
X
ÓBITO
X
3DIAS 8MESES
C.L.
M
29
E.E.
L4L5
3h40min
SIM
2
M.T.F.F.
F
47
E.E.
L5S1
4h00min
NÃO
X
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 6MESES
SIM
NÃO
NÃO
Satisfatório
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 4MESES
SIM
NÃO
NÃO
Regular
I.F.P.
F
39
E.E.
L5S1
5h00min
NÃO
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 3MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
M.T.G.
F
64
H.D.R.
L4L5
5h30min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 4MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
G.M.D.
M
59
H.D.R.
L4L5
5h00min
SIM
2
2B/4P NÃO SANG. 5DIAS 3MESES
SIM
NÃO
NÃO
Satisfatório
A.P.S.
F
64
H.D.R.
L5S1
4h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 4MESES
SIM
SIM
NÃO
Regular
L.I.N.P.
F
53
E.E.
L5S1
5h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 3MESES NÃO
Quebra
Insatisfatório
NÃO
Paraf.S1
A.S.
M
32
E.E.
L5S1
4h30min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS
M.R.P.S.
F
59
E.D.
L5S1
3h50min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
NÃO
SIM
SIM
4DIAS 4MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
Infec. ferida Satisfatório
M.D.S.
M
47
D.P.
L5S1
4h00min
NÃO
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 6MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
V.C.S.S.
F
53
H.D.R.
L5S1
4h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
3DIAS 3MESES
SIM
SIM
NÃO
Regular
E.G.M.
M
48
H.D.R.
L5S1
3h40min
NÃO
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 3MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
J.R.M.
F
46
H.D.R.
L5S1
3h50min
NÃO
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 3MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
R.C.F.
M
27
E.E.
L5S1
5h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 5MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
C.N.L.
F
52
H.D.R.
L4L5
4h30min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 4MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
S.N.D.M.
M
62
H.D.R.
L4L5
5h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
5DIAS 4MESES
SIM
NÃO
NÃO
Satisfatório
A.M.G.D.
F
32
D.P.
L5S1
5h00min
SIM
2
2B/4P NÃO NÃO
4DIAS 5MESES
SIM
SIM
NÃO
Satisfatório
MÉDIA
47,04
4h53min
4,17D
4,10M
E.E.= Espondilolistese espondilolítica; H.D.R.= Hérnia discal recidivada; E.D.= Espondilolistese degenerativa; D.P.= Discartrose primária
*Compl.= Complicações per-operatórias (PAREST.= parestesia mmii; T.E.P.= tromboembolismo pulmonar; F.P.= fratura de pedículo L5 por
compressão; SANG.= sangramento)
**Compl. Pós op.= Complicações no pós operatório (MERALG. PAREST.= meralgia parestésica; INFEC. FERIDA= infecção de ferida
cirúrgica; QUEBRA PARAF. S1= quebra de dois parafusos de S1)
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Artrodese 360° pela técnica TLIF
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TABELA 2 - Escala dos resultados econômicos e funcionais de Prolo et al.
Padrão econômico
Padrão funcional
E1: completamente inválido
F1: incapacidade total, ou pior que antes da cirurgia
E2: inválido para atividades remuneradas, inclusive atividades
F2: leve a moderado nível de lombalgia e/ou ciatalgia (ou
domésticas
E3: capacitado ao trabalho, mas não na ocupação prévia
E4: capacitado ao trabalho original, mas com limitações
E5: capacitado ao trabalho original, sem restrições
semelhante a antes da cirurgia, mas realizando todas atividades
da vida diária)
F3: baixo nível de dor e apto a realizar todos os tipos de
atividades, exceto esportivas
F4: dor ausente, mas presença de uma ou mais recidivas do
quadro de lombalgia e/ou ciatalgia
F5: restabelecimento completo, sem episódios álgicos
recidivantes, e capacitado a todas atividades esportivas
anteriores
Fonte: Prolo DJ, et al.5
Técnica cirúrgica
A descrição a seguir refere-se ao procedimento em L5-S1.
Com o paciente em posição prona, sob anestesia geral, fazse uma incisão mediana da região a ser abordada. A seguir,
faz-se uma dissecção subperiosteal da musculatura a partir
dos processos espinhosos até a visualização dos processos transversos do nível a ser operado é realizada. No próximo passo deve-se localizar os portais dos pedículos e a
fazer a marcação por meio de controle fluoroscópico. A exata posição dos parafusos no pedículo é muito importante
nesta técnica. Na descrição original é feita a instalação de
parafusos poliaxiais nos pedículos de L4, L5 e S1, podendo
também ser feita a instalação de parafusos de cabeça rígida.
Aplica-se a distração nestes parafusos e em seguida um
bloqueio final. A seguir pode-se fazer uma distração adicional entre L5 e S1, com um bloqueio temporário. O acesso ao
neuro forame pode ser feito pela remoção de uma faceta
articular ou pela ressecção das porções cranial e caudal das
articulações facetarias superior e inferior (Figura 1). A
palpação cuidadosa dos elementos neurais é então feita
com o reconhecimento destas estruturas e afastamento apropriado. A raiz nervosa tem seu trajeto logo abaixo do pedículo
da vértebra superior e cobre levemente uma porção súperolateral do disco a ser excisado. O cautério bipolar deve ser
utilizado com muito cuidado, para uma melhor visualização
e controle do sangramento epidural. Esta coagulação deve
ser meticulosa na região do pedículo da vértebra caudal,
pois sangramentos de difícil controle podem ocorrer neste
local. É feito o afastamento medial do saco dural, com exposição completa da parte dorsal do anel fibroso e ligamento
longitudinal posterior. É então incisado o anel fibroso do
disco, preservando a porção medial de forma a se fazer um
“flap” que funciona como um protetor e afastador natural
sobre o saco dural. Resseca-se o núcleo pulposo, tomandose o cuidado de curetar o espaço discal até a placa óssea
terminal. Um passo importante é a osteotomia das bordas
inferior e superior, que produzem um formato côncavo para
o platô vertebral (Figura 2).
Figura 1
Neste caso foram marcados os pedículos de L4-L5-S1, com
abertura do canal para descompressão central
Fonte: http://www.spine-surgery.com/362_366.htm
Figura 2
A remoção cuidadosa do disco deve ser feita com abordagem
do lado oposto ao portal
Fonte: http://www.spine-surgery.com/362_366.htm
Figura 3
Cages preparados
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(4):240-246
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Oliveira, MPC, França LCM, Falcon RS, Porto F° MA, Rugani MG, Ferreira Jr MA
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O passo a seguir deve ser feito com muito cuidado e por meio
de controle do intensificador de imagens. Trata-se da osteotomia
oblíqua da porção anterior do corpo, com o intuito de se obter
uma superfície cruenta para observação da consolidação. O enxerto de osso esponjoso retirado da crista ilíaca é colocado livremente nesta região. A seguir, os cages tipo cesta preenchidos
com osso esponjoso são cuidadosamente posicionados na porção média ou posterior do espaço intervertebral (Figura 3). Cobre-se o espaço com o “flap” deixado. A seguir é feita a manobra
de compressão dos parafusos de L5 e S1, de forma a fixar os
cages intervertebrais. Neste momento, novo controle
fluoroscópico deve ser feito. O próximo passo é a decorticação
dos processos transversos do segmento a ser fundido com a
colocação de enxerto entre eles e a remoção de todo tecido
cartilaginoso da faceta articular do lado contralateral, com
interposição de enxerto (Figura 4). Na maioria das vezes, os parafusos de L4 podem ser removidos imediatamente. Em outra situações podem se removidos após a observação da fusão. Dreno
de sucção é colocado, seguido de sutura cuidadosa dos planos.
Figura 4
Uma manobra de compressão
nos parafusos deverá ser feita
antes do aperto final dos
bloqueadores, para obtenção
de compressão nos cages e
lordose no segmento
Fonte: http://www.spine-surgery.com/
362_366.htm
RESULTADOS
O tempo cirúrgico variou de 3h40min a 6h30min, com média de
4h53min e o tempo de internação de três a cinco dias, com média
de 4,7 dias. Como complicações imediatas, um paciente (4,4%)
apresentou alterações parestésicas em membros inferiores ao
fim do procedimento; um paciente apresentou tromboembolismo
pulmonar, evoluindo para óbito em 48 horas; um paciente apresentou fratura do pedículo no momento da tração longitudinal;
e um paciente apresentou sangramento significativo, havendo
necessidade de hemotransfusão durante o ato operatório.
Nas avaliações ambulatoriais, no período de duas semanas a
seis meses de pós-operatório, um paciente apresentou meralgia
parestésica e dois pacientes (9,0%) apresentaram infecção de
ferida cirúrgica em plano superficial (pele e subcutâneo). O paciente com meralgia parestésica evoluiu com resolução espontânea após três meses de cirurgia. Os dois pacientes com infecção
da ferida foram tratados com antibioticoterapia oral e troca de
curativos diariamente, tendo boa evolução.
O uso do colete tipo TLSO de polipropileno foi opcional,
variando de três a oito meses, com média de 4,1 meses, nos 19
pacientes que fizeram a escolha (86,4%). Três pacientes optaram
por não usá-lo (13,6%). Não houve alteração do resultado final
entre estes pacientes.
Do total dos pacientes, 17 deles (77,3%) apresentaram consolidação posterior e anterior após três meses da cirurgia, comprovada por radiografia e tomografia computadorizada. Quatro
pacientes (18,2%) não mostraram a consolidação definitiva após
este período. Um paciente (4,5%) não teve consolidação anterior ou posterior após este seguimento e conseqüentemente houve quebra dos parafusos de S1, sendo indicado revisão. O tempo de volta às atividades normais satisfatoriamente foi de três a
oito meses, com média de 5,5 meses (Figuras 5-9). Quinze paciente (68,2%) retornaram no período de três a cinco meses. Seis
pacientes voltaram após seis a oito meses (4,5%). Um paciente
não retornou satisfatoriamente às atividades após oito meses
do procedimento cirúrgico (Tabela 3).
COLUNA/COLUMNA. 2006;5(1):13-18
2006;5(4):240-246
Figura 5
Reconstrução sagital tomográfica mostrando incorporação do
enxerto no interior do cage
Figura 6
Corte axial mostrando o
correto posicionamento dos
cages e a artrodese facetária
direita
Figura 7
Imagem radiográfica de caso de hérnia de disco recidivada
Figura 8
Imagem em pós-operatório
imediato, mostrando o enxerto
“satélite” na porção anterior do
corpo
Artrodese 360° pela técnica TLIF
245
Na avaliação subjetiva baseada no critério de notas, tabela
econômica e funcional de Prolo et al.5 e tabela de pesquisa SF 36
da New England Medical Center Hospitals, Inc.6, 17 pacientes
(77,3%) apresentaram resultados satisfatórios (notas entre 8 e
10), quatro pacientes (18,2%) apresentaram resultados regulares
(notas entre 6 e 7) e um paciente (4,5%) resultado insatisfatório
(notas de 5 a 0) (Tabela 4).
DISCUSSÃO
As artrodeses da coluna lombar têm sido utilizadas para tratamento de várias condições patológicas. Com o advento da
instrumentação pedicular a taxa de fusão se tornou mais elevada, mas não atingindo ainda níveis aceitáveis como apresentado
por Harms7 e Whitecloud8. Glazer2 relata que 80% da carga transmitida para o segmento lombar passa pela coluna anterior, enquanto 20% pela coluna posterior. Devido a este fato, as
artrodeses anteriores e as reconstruções anteriores têm sido
cada vez mais populares. Elas podem ser feitas por via anterior
ou posterior. Em nossa casuística todos os pacientes foram abordados pela via posterior, conforme a técnica descrita por Harms7.
Segundo este autor, a técnica cirúrgica da fusão intersomática
lombar por abordagem transforaminal (360°) permite um amplo
acesso ao espaço intervertebral através da abertura de um
neuroforame. Após uma apropriada liberação do espaço discal é
possível a obtenção de aumento da visão deste espaço através
da distração posterior transpedicular ou intersomática. Um suporte definitivo para a coluna anterior é feito com a colocação
dos elementos introduzidos transforaminalmente. Após a introdução destes elementos funcionais, a estabilidade segmentar é
restaurada convertendo as forças de distração em forças de
compressão. Ainda em nossa amostragem, utilizamos cages tipo
cesta como contenção do enxerto esponjoso intersomático. Na
descrição original é utilizado o anel femural homólogo. Harms
cita ainda a importância da osteotomia da porção anterior dos
platôs vertebrais para a obtenção da consolidação definitiva, e
esta osteotomia deve ser de um quarto da porção anterior das
placas terminais.
O tempo de procedimento cirúrgico, o período de internação,
e as complicações pós-operatórias em nosso estudo são compatíveis com o trabalho de Hee1, no qual o mesmo compara os
resultados da fusão intersomática lombar transforaminal com a
fusão intersomática anterior / posterior.
Considerando um nível de fusão, nosso estudo é também
compatível com o trabalho de Whitecloud8 onde a fusão
intersomática lombar transforaminal apresenta menor tempo cirúrgico, menor tempo de internação e menor volume sanguíneo
na hemotransfusão pós-operatória.
No caso da abordagem da fusão de dois níveis, nossa
casuística também é semelhante ao estudo de Harms7,
Whitecloud8 e Humphreys9, sendo que o tempo de procedimento cirúrgico, período de internação e volume sanguíneo na
hemotransfusão pós-operatória é menor, comparados à fusão
intersomática lombar anterior / posterior.
O índice de consolidação na fusão da coluna lombar
descrito no trabalho de Gertzbein10 não condiz com nossa
casuística. Este autor encontrou 100% de consolidação in-
Figura 9
Caso ilustrando o TLIF em dois segmentos
TABELA 3 – Retorno às atividades
normais satisfatoriamente
Tempo
Número de pacientes Percentagem
3 a 5 meses
15
68,2%
6 a 8 meses
6
27,3%
> 8 meses
1
4,5%
TABELA 4 – Resultados da avaliação subjetiva
baseados no critétrio de notas, escala de Prolo e
tabela de pesquisa de saúde SF36
Resultado
Número de pacientes Percentagem
Satisfatório
17
77,3%
Regular
4
18,2%
Insatisfatório
1
4,5%
dependente do nível artrodesado. Também entramos em conflito com o trabalho de Slosar11 no qual se vê 99% de consolidação anterior e posterior.
Citamos um caso com meralgia parestésica de evolução
satisfatória espontânea, não sendo encontrado correspondente
na literatura. Acreditamos que o fato se deveu ao posicionamento
do paciente na mesa cirúrgica e não ao procedimento propriamente dito.
Optamos pelo uso opcional do colete TLSO, por fornecer
mais conforto no pós-operatório. Harms contra-indica o uso
desta órtese por considerar a fixação rígida e estável.
Em relação ao índice de satisfação do pós-operatório, nosso
estudo apresenta 77,3% de satisfação, sendo superior ao trabalho de Slosar (62%).
COLUNA/COLUMNA.
COLUNA/COLUMNA.
2006;5(4):240-246
2006;5(1):13-18
Oliveira, MPC, França LCM, Falcon RS, Porto F° MA, Rugani MG, Ferreira Jr MA
246
CONCLUSÕES
A fusão intersomática lombar por abordagem transforaminal
apresenta índice elevado de consolidação anterior e posterior1,4,8, tempo cirúrgico em média limitado e período de internação
curto4,7-9,12. As complicações inerentes ao procedimento são
menores em relação a outras técnicas de fusão intersomáticas
lombar – anterior ou posterior – não fugindo a estudos já realizados. O índice de satisfação dos pacientes baseado na ava-
liação subjetiva por critério de notas da tabela econômica de
Prolo et al5. e tabela de saúde SF36 da New England Clinical
Hospitals Inc6. é significativo, confirmando literatura já
publicada13-14. Consideramos o procedimento seguro, fornecendo bons resultados e como sendo mais uma opção de tratamento para as doenças degenerativas da coluna lombar que
requerem tratamento cirúrgico com artrodese 360°.
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Correspondência
Maurício Pagy de Calais Oliveira
Rua Timbiras 3109, conj. 901
Barro Preto - Belo Horizonte
MG, Brasil
CEP 30140-062
[email protected]
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