7 1 INTRODUÇÃO A criança quando brinca, remete uma das linguagens mais significativas no desenvolvimento infantil. A brincadeira em si, representa um dos meios mais acessíveis da criança aprender. É brincando que se aprende é fazendo que se aprende a fazer, são dizeres populares que tem grande valor neste momento. No brincar, a criança se envolve inteiramente se expressando por meio de ações, sentimentos e emoções, entendendo assim o mundo a sua volta. Neste sentido, tem-se como Tema deste estudo, A Educação Infantil e o brincar nas aulas de Educação Física. Este tema justifica-se pelo fato de a pesquisadora obter um interesse maior sobre o seu Trabalho de Conclusão de Curso aprofundando mais o brincar na vida da criança em sua monografia, tendo como Problema: Quais os benefícios do brincar na Educação Infantil nas aulas de Educação Física? O Objetivo Geral é constatar os benefícios do brincar na Educação Infantil nas aulas de Educação Física. O tipo de pesquisa caracterizou-se como bibliográfica, que de acordo com Cervo e Bervian: A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referencias teóricas publicadas em documentos, buscando conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. (CERVO, BERVIAN, 2002 p.65) Este trabalho teve como intuito conhecer a importância que as crianças dão ao ato de brincar, sendo consagrada assim como atividade essencial ao desenvolvimento infantil. Historicamente, o brincar sempre esteve presente na educação infantil, porem, nem sempre foram considerados fator de extrema relevância no desenvolvimento infantil. Tendo em vista, as diferentes concepções sobre o brincar e sua importância no desenvolvimento da criança, procurou-se por meio deste trabalho refletir um pouco a respeito do papel do brinquedo e do brincar. Como referencial teórico, buscou-se a contribuição de alguns autores que foram fundamentais para melhor compreender-se o estudo realizado neste trabalho. Áries (1981) historiador francês foi importante, pois nas teorias se direcionam às mudanças de atitudes ao longo dos séculos e relatam a transformação dos sentimentos da infância família numa perspectiva histórica sobre a concepção de 8 infância; Volpato (2002) buscou um entendimento sobre os usos e significados do brinquedo mais direcionados aos jogos de faz-de-conta que foi o enfoque deste estudo; Antunes (2004) com sua maneira de ver a criança, a sensibilidade e os valores dela, atribuindo significado ao brincar relacionando com a realidade vivida; Em Piaget, Wallon e Vygotsky, pode-se analisar e diferenciar o pensamento dos autores em relação ao desenvolvimento infantil. Este trabalho para efeitos e apresentação está dividido em 5 (cinco) capítulos. No primeiro, apresentou-se uma reflexão sobre a concepção de criança onde se percebe que as mudanças ocorridas em relação à concepção são provenientes das mudanças nas formas de organização da sociedade. No segundo capítulo, menciona-se a importância das leis para reger a educação infantil. No terceiro capítulo, apresentou-se o conceito de brincar, ludicidade e jogo, procurando entender o significado que cada um atribui na vida da criança. O quarto capítulo aborda a importância do brinquedo no desenvolvimento da criança. A criança usa o brinquedo para entender a realidade, explorando o mundo e construindo saberes. No ultimo capítulo, menciona-se as tendências que ao longo do tempo acompanha a pratica pedagógica dos profissionais de educação física. Trazendo então posteriormente, uma proposta de trabalho relacionada à brinquedoteca que deveriam ser inseridas no ambiente escolar. Este trabalho constitui-se pela conclusão e também para conhecimentos as referencias citadas, fechando assim provisoriamente este estudo, pois sabe-se que muito ainda há para pesquisar a respeito desta temática. 9 2 CONTEXTO HISTÓRICO SOBRE A INFÂNCIA Quando se fala de concepção de infância referem-se à facilidade de perceber os diferentes conceitos, atitudes e sentimentos atribuídos às crianças pela sociedade em diferentes tempos históricos, tempos em que sempre permearam e permeiam desigualdades, injustiças e desvalorização do homem como ser humano. O estudo sobre a concepção de infância fará perceber e refletir sobre as influencias sociais e suas relações com a criança, que sempre foi vítima do processo de transformação ocorrente nos diversos grupos sociais. Ao se voltar o olhar aos séculos anteriores pode-se verificar as constantes mudanças sobre o conceito de infância na sociedade, que vem se modificando ate os dias atuais. Esses conceitos nem sempre existiram, são resultados de uma sociedade capitalista, urbanoindustrial que vem sofrendo transformações no decorrer da história dependente das formas de organização social. 3.1 O HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA Ao considerar a infância como condição das crianças, cabe perguntar como elas vivem ou viveram este período, em diferentes tempos e lugares. Áries (1981) estuda como a consciência das particularidades da infância desenvolveu-se a partir da Idade Média, época em que se alterou significativamente a organização da estrutura social e as formas de produção, principalmente no contexto europeu. Por volta do século XII, a infância era desconhecida pela arte medieval, ou não tentavam representá-la. Não havia lugar para a infância neste mundo. Já no século XIII, surgiram alguns tipos de crianças um pouco mais próximos do sentimento moderno. Em representações apareciam: anjos, redução de adultos e a criança nua. No século XV e XVI, havia um alto índice de mortalidade infantil, mas, como a infância era uma fase sem importância, não caberia guardar lembranças de ma criança que morreria se existiam tantas outras com uma sobrevivência tão problemática. 10 Apenas no século XVI começou a aparecer na iconografia efígies funerárias das crianças, sendo que no início do século, não apareciam em seus túmulos ou de seus pais, mas sim no de seus professores. Assim, no final do século XVI, Áries (1981) relata que com as grandes mudanças nas formas de organização da estrutura social e econômica que marcaram o período de transição entre o feudalismo e capitalismo veio a nascer o sentimento da infância. A partir do século XVIII, nota-se uma grande evolução da infância, em que as crianças eram pintadas em retratos sozinhas e também faziam parte das fotos juntamente com sua família. Percebe-se então que a descoberta da infância começou no século XIII, e sua evolução através da arte e da iconografia nos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVIII. Contrapondo-se a esses sentimentos da infância, Áries (1981) relata que surgiu, no mesmo período, entre os eclesiásticos, homens da lei e moralistas da época, um outro sentimento, caracterizado por uma concepção moral da infância, associando fraqueza e inocência como se a criança fosse um reflexo da pureza divina. Nesse sentido, na busca da moralização a educação surgia como obrigação humana. 2.2 OS DOIS SENTIMENTOS DA INFÂNCIA: “MORALIZAÇÃO” E “PAPARICAÇÃO” Para Áries (1981), a criança, que antes era vista com indiferença, passou a ser reconhecida como alguém que possuía necessidades diferentes das do adulto. Desenvolveram-se então, dois sentimentos de infância: a “paparicação” e a “moralização”. Assim: Um novo sentimento da infância havia surgido, em que a criança, por sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração e de relaxamento para o adulto, um sentimento que poderíamos chamar de “paparicação”. (ARIÉS, 1981, p.158) 11 Este sentimento demonstra-se basicamente por mulheres encarregadas de cuidar de crianças, como as mães e as amas. Mostram certa afeição, ficando feliz quando a criança sorri, triste quando está doente, limpa quando está suja, levanta quando cai. Mas este sentimento da infância provocou muitas criticas no fim do século XVI, em que algumas pessoas ficavam irritadas e não suportavam a forma com que estas crianças eram tratadas. Mas, nem todos nesta época admitiam este tipo de sentimento pelas crianças, pois era um tempo perdido, exigiam minutos de atenção, sendo assim citado por Montaigne (apud ÁRIES, p. 159), Não posso conceber essa paixão, que faz com que beijem as crianças recém-nascidas, que não tem ainda movimento na alma, nem forma reconhecíveis no corpo pela qual se possam tornar amáveis, e nunca permiti de boa vontade que elas fossem alimentadas na minha frente. Não sendo admitido então a dedicação e a ocupação com as crianças. Com a influência dos moralistas, passou-se a abandonar o sentimento de “paparicação” da infância, surgindo então, outro sentimento denominado de “moralização”, sendo que a criança era vista como um ser incompleto que precisava ser preparado e educado pelo adulto. (ARIÈS, 1981) Áries (1981, p.162) diz que, “o apego à infância e à sua particularidade não se exprimia mais através da distração e da brincadeira, mas através do interesse psicológico e da preocupação moral”. Com estes dois sentimentos, a simples presença e existência da criança torna-se digna de preocupação, assumindo um lugar central dentro da família. (ARIÈS, 1981). Partindo destes pressupostos, questionar-se-á a seguir a realidade da criança de seus jogos na antiguidade sabendo que houve uma grande evolução dos mesmos na atualidade. 3.3 JOGOS E BRINCADEIRAS NA ANTIGUIDADE Até o início do século XVIII, jogos brincadeiras que hoje fazem parte do cotidiano infantil, como os brinquedos cantados e jogos diversos, eram comum entre crianças e adultos. Nesse contexto, jogos, brincadeiras e festas eram vivenciados 12 juntamente por crianças e adultos e constituíam um meio importante no processo de inserção das pessoas no contexto social (Áries, 1981). Assim, não havia uma separação tão rigorosa entre os jogos destinados ás crianças e aos adultos, nem mesmo uma separação por idade, pois a criança ainda não era reconhecida como alguém que possuísse necessidades diferentes das dos adultos, mas sim, como um adulto de dimensões reduzidas, ou seja, um adulto em miniatura (Áries, 1981). As brincadeiras relatadas por Áries (1981) mostram a realidade, desde a primeira infância, em que até um ano de vida as crianças brincavam com cavalo de pau, cata vento ou peão, levando a imitação dos adultos, mas, a partir desta idade era utilizado o violino como brinquedo, sendo que a criança se preparava para tocar e cantar. De toda forma, percebe-se a importância do canto e da musica nessa época. A criança com 3 (três) anos, tinha que aprender a ler e escrever, sabendo também as regras de etiqueta para poder se comportar, apanhando muitas vezes por não saber fazer certo. Suas brincadeiras então são relatadas como: brincar de bonecas, ( esta não sendo apenas brincadeiras de meninas, pois nesta época não havia muita distinção entre ambos, usando até os mesmos trajes), recortar papel, contar e escutar suas amas contando histórias. Aos 4 (quatro) anos, as crianças praticavam o arco, jogavam cartas, xadrez e participavam de jogos de adultos, como o jogo de raquetes e inúmeros jogos de salão. Aos 7 (sete) anos, as coisas mudam: Abandona o traje de infância e sua educação é entregue então aos cuidados dos homens; ele deixa “mamangas” [...] tenta se então fazê-lo abandonar os brinquedos da primeira infância, essencialmente as brincadeiras de boneca [...] começa a aprender montar cavalo, a atirar e caçar. (Áries, 1981 p.87) Em cada caso, Áries (1981) remete que a mesma evolução se repete monotonamente. Partindo-se de um estado social em que os mesmos jogos e brincadeiras eram comuns a todas as idades e a todas as classes. Essa coincidência permite entrever a relação entre o sentimento da infância e o sentimento de classe. Cabe então estar remetendo a importância de, partindo da antiguidade e sua relação com a criança anteriormente, estar mencionando neste trabalho a legislação 13 que rege a Educação Infantil hoje em dia, e observar os direitos que são citados, adquiridos com o passar dos tempos. 14 3 EDUCAÇÃO INFANTIL E DEFINIÇÕES DA LEGISLAÇÃO Vive-se hoje um momento de muitas discussões, interrogações e temores em vista das novas definições legais sobre a Educação Infantil. Craidy e Kaercher (2001) relatam que, as leis são propostas que podem vir a ser originárias do próprio governo. São sempre votadas no poder legislativo, quando são leis federais, na Assembléia legislativa, quando são leis estaduais e nas câmaras de vereadores quando são leis municipais. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é uma lei federal, portanto, valida para todo pais. Os sistemas de Ensino, como se menciona anteriormente está subordinado aos governos, tendo completa responsabilidade pela educação. Essas responsabilidades são definidas pela lei, e não são iguais para todos. No caso da Educação Infantil, a principal responsabilidade é do Município quando ele tiver o Sistema de Ensino, sendo do Estado quando este não possuir. (Craidy e Kaercher, 2001) Relativamente à Educação Infantil afirma-se que: Ela é um direito da criança de 0 a 6 anos e um dever do Estado que se efetiva mediante atendimento em creches e pré-escolas (Art. 4º, IV); não é obrigatória, o que significa que não há responsabilidade do Estado em prover vagas para todas as crianças de 0 a 6 anos nem tão pouco todo o universo populacional de 0 a 6 tem obrigatoriamente que freqüentar a educação infantil; o atendimento, sempre que oferecido pelo Estado, é gratuito independentemente da condição social daquele que o procura; a Educação Infantil está submetida a “padrões mínimos de qualidade de ensino” que se operacionalizam, “por variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis para o desenvolvimento do ensinoaprendizagem”, o poder público contemplará o acesso à Educação Infantil conforme as prioridades legais e constitucionais. (Faria e Palhares, 2000 p.100) A LDB, assim como as outras leis a respeito da infância definiu a criança como sujeito de direitos. (Craidy e Kaercher, 2001) A Educação infantil integra a Educação Básica juntamente com o Ensino Fundamental e Médio. Sendo assim, ela é considerada como um componente de um sistema de ensino; e ainda, que o processo educativo que lhe é próprio em instituição regular, de caráter escolar. ( Faria e Palhares, 2000) A Educação Infantil define-se como primeira etapa da educação-básica (art. 21/I) e que, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança 15 até seis anos de idade em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social. (LDB apud Craidy e Kaercher, 2001 p.24) O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei federal 8.069/90, conhecido como ECA, determinou a criação dos Conselhos das Crianças e dos Adolescentes, o qual deve traçar as diretrizes políticas, e dos Conselhos Tutelares devendo zelar pelo respeito aos direitos das crianças e dos adolescentes, entre os quais o direito a educação, sendo incluído para as crianças pequenas o direito a creches e préescolas. De certa forma, observa-se uma constante mudança em relação as leis e a educação, mas, pressupõe-se a urgência de uma atenção bastante acurada sobre as implicações do assentamento da pré-escola como parte integrante dos sistemas educacionais. Sabe-se que para entender os direitos atribuídos a criança em relação à legislação, caber-se-á saber que o maior prazer encontrado em uma criança é quando está brincando, portanto no capítulo seguinte estar-se-á ressaltando a importância do brincar em suas vidas. 16 4 CONCEITO DE BRINCAR, LUDICIDADE E JOGO Neste quarto capítulo, intencionalmente estar-se-á conceituando os termos e encontrando as semelhanças e diferenças que estão imbuídos nesses conceitos. 4.1 BRINCAR Maluf (2003) conceitua o verbo brincar como sendo uma atividade espontânea e muito prazerosa, que é acessível para todo o ser humano, de qualquer faixa etária, classe social ou condição econômica. O autor acima citado expressa o significado ao brincar como sendo: Comunicação e expressão, associando pensamento e ação; um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória; ajuda às crianças no seu desenvolvimento físico, mental emocional e social; um meio de aprender a viver e não um mero passatempo. Maluf (2002) cita alguns autores que conceituam o ato de brincar. Johan Huizinga (1980) descreve que as crianças e os animais se sentem livres quando estão brincando. Já Winnicott (1965) vê o brincar como uma atividade de experimentação que contribui com a realidade interna e externa, dando possibilidade para que a criança se perceba um ser no mundo. Maria Alice Setúbal (1987) divide o brincar em dois momentos: no primeiro, diz que com as brincadeiras tradicionais, o individuo pode dar sentido ao seu mundo, ao seu existir. No segundo, diz que na história da vida própria do individuo ele recorre as suas experiências no momento de brincar. Rosa (1993, p.23), define o termo brincar: [...] não possui equivalente nas principais línguas européias: os verbos spielen (alemão), to play (inglês), jouer (francês) e jugar (espanhol) significam tanto brincar quanto jogar [...] O termo Brincar, do português – oriundo do latim vinculum, que significa laço, união-, possui uma especificidades que as palavras de outras línguas que o recobrem não apresentam [...] O termo que possui maior abrangência é sem dúvida o ludus do latim. Ele remete às brincadeiras, aos jogos de regras, a competições, recreação, representações teatrais e lingüísticas. Dele deriva o nosso termo lúdico, significando aquilo que se refere ao brincar como ao jogo. 17 Com isso, pode-se dizer segundo Maluf (2003) que brincar é uma necessidade interior tanto da criança quanto do adulto sendo inerente ao desenvolvimento. 4.2 LUDICIDADE Santos (2000) relata a dificuldade encontrada pela sociedade diante da realidade. Precisam-se buscar novos caminhos para enfrentar estes desafios. Entretanto, é inevitável a busca pelo prazer no trabalho, na educação e na vida. Isto se consegue através da ludicidade. A palavra lúdico significa brincar. Nesse brincar estão incluídos s jogos, brinquedos e brincadeiras, e é relativo também à conduta daquele que joga que brinca e que se diverte. (SANTOS, 2002 p. 57) Convive-se com atividades lúdicas desde o inicio da humanidade. Portanto, essas atividades, por muitos séculos, foram vistas como sendo sem importância e tendo conotação pejorativa. Antigamente, as pessoas eram culturalmente programadas para não serem lúdicos. Como exemplo: “Chega de brincar, agora é hora de estudar”, “brincadeira tem hora”. Somente a partir dos anos 50 é que o brinquedo e o jogo começaram a ser valorizados. Isso se deu pelo avanço da psicologia que, colocou as atividades lúdicas em destaque, por ser o brinquedo a essência da infância. (Santos, 2002) Atualmente o lúdico tem uma conotação que vai alem da infância, o homem, sem perder sua condição de adulto sério e responsável, passa a dar um sentido mais alegre à sua vida por meio da ludicidade, buscando na infância a gênese do prazer, resgatando a alegria, felicidade, afetividade, entusiasmo, recuperando a sensibilidade estética que alimenta e impulsiona o lúdico. (Santos, 2002). O jogo e o brinquedo exercem fascínio, emoção, magia, prazer não só nas crianças, mas também nos adultos que com eles se envolvem, pois não deve ser confundido com uma mera repetição, para que a aprendizagem não seja afetada e sim sendo instrumento para garantir o aprendizado. 18 4.2.1 O lúdico com instrumento pedagógico As atividades lúdicas e as brincadeiras têm uma forte influência no desenvolvimento do educando. Desde a mais tenra idade a criança começa a perceber formas, cores e significados, por meio dos objetos que lhe servem de brinquedo, a criança vai elaborando, reestruturando sua percepção acerca do mundo. Piaget (1975, p.112) afirma que “o jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança”. O lúdico e as brincadeiras fazem parte das atividades essenciais da dinâmica humana, pois se caracterizam por ser espontâneo funcional e satisfatório. Segundo Luckesi (2000) lúdico são aquelas atividades que proporcionam uma experiência de plenitude, em que nos envolvemos por inteiro, estando flexíveis e saudáveis. São ações vividas e sentidas, ao definível por palavras, mas compreendidas pela fruição, povoadas pela fantasia, pela imaginação e pelos sonhos que se articulam com teias e com materiais simbólicos. Assim elas não são encontradas nos prazeres estereotipados, no que é dado pronto, pois, estes não possuem a marca da singularidade do sujeito que as vivências. As atividades lúdicas são fundamentais no desenvolvimento humano, pois essas experiências possibilitam a aquisição de experiências cognitivas relevantes e atende as necessidades físicas e sociais do educando. O brincar é importante no desenvolvimento da linguagem, funciona como instrumento de pensamento e ação, e mais, libera a criança de qualquer pressão e quando mediada por um adulto, transforma a intuição em conteúdos científicos. Característicos do processo educativo. “O jogo livre oferece ao educando a oportunidade inicial e o mais importante, para atrever-se a pensar, a falar e ser ela mesma”. (KISHIMOTO, 1994 p.149) Portanto é importante que o educador descubra e trabalhe a dimensão lúdica que existe em sua essência, no seu trajeto cultural, de forma que venha aperfeiçoar a sua prática pedagógica. Campos (1986) afirma que a ludicidade poderia ser a ponte facilitadora da aprendizagem se o educador pudesse pensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, relacionando a utilização do lúdico como fator motivante de qualquer tipo de aula. 19 É importante explicar que as brincadeiras e os jogos nascem de um princípio essencial que não pode ser comparada ao que se imagina, pois a criança é um artista, ela quer produzir beleza surpreendente, e isto é demonstrado por meio das brincadeiras e os jogos por isso, são fundamentais ao desenvolvimento físico, mental e emocional, pois as crianças aprendem muito enquanto brincam, e essa atividade é, além de muito prazerosa, muito séria também. Os brinquedos e os jogos são as expressões da alma infantil, pelo modo de brincar, a criança revela ingenuamente seus sentimentos, tendências e predileções, são ferramentas que preparam para o futuro. Segundo Feijó (1992, p.76) “O lúdico é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana” (p. 76). O objetivo básico das brincadeiras e jogos é que o educando desenvolva sua personalidade em termo de comportamento, inibição, falta de limite, hiperatividade, baixa tolerância à frustração; na aprendizagem despertar o seu desejo de aprender, elevar o seu rendimento escolar, minimizar suas dificuldades de expressão motora verbal ou gráfica e desenvolver o potencial criativo e outros; em relação à socialização, elevar sua capacidade para enfrentar situações novas, facilitar a interação em grupo. É muito importante a ludicidade na vida do indivíduo. Desempenha um importante papel no desenvolvimento fisiológico e psicológico da criança como instrumento de aprendizagem e como exercício preparatório para a vida adulta. Conforme Vygotsky (1993), a promoção de atividades que favoreça o desenvolvimento da criança em brincadeiras é muito importante, especialmente aquelas que promovam o educando de situações imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola como espaço do conhecimento não pode desperdiçar o interesse que as crianças têm por atividades lúdicas, pois é no brinquedo, nos jogos e nas brincadeiras que elas se comportam de forma mais avançada que na vida real e também aprende a separar objeto e significado. As atividades lúdicas possibilitam a criação. Por isso, a escola deve se utilizar deliberadamente de situações lúdicas para atuar no processo de desenvolvimento de seus educandos. Na atividade lúdica, o que importa não é apenas o produto da atividade, o que dela resulta, mas a própria ação, o momento vivido. Possibilita a quem a vivência, momento de encontro consegue e com o outro, momentos de fantasia e de 20 realidade, de ressignificação e percepção, momentos de autoconceito e conhecimento do outro. De cuidar de si e olhar para o outro, momentos de vida. O jogo em seu sentido integral é o mais eficiente meio estimulador das inteligências. O espaço do jogo permite que a criança (e até mesmo o adulto) realize tudo quanto deseja. Quando entretido em um jogo, o indivíduo e quem quer que seja, ordena o que quer ordenar, decide sem restrições. Graças a ele, pode obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio de ser livre (ANTUNES, 2002 p.17) As brincadeiras e o lúdico nascem de um principio essencial que não pode ser comparada ao que se imagina, pois a criança é um artista, ela quer produzir beleza surpreendente, e isto é demonstrado por meio das brincadeiras e dos jogos. Por isso, os jogos e as brincadeiras são fundamentais ao desenvolvimento físico, mental e emocional, pois os educandos aprendem muito mais enquanto brincam. E, essa atividade é, além de muito prazerosa, muito séria também. Os brinquedos e os jogos são a expressão da alma infantil pelo modo de brincar, a criança revela ingenuamente seus sentimentos, tendências e predileções, que são ferramentas que preparam para o futuro. A ludicidade é muito importante na vida do indivíduo. Desempenha um importante papel no desenvolvimento fisiológico e psicológico do educando como instrumento de aprendizagem e como exercício preparatório para a vida adulta. E na escola que olhar do educador tem que estar voltado para essa temática, pois o lúdico e fundamental na formação da criança. Sabe-se que é indescritível a presença do brincar, da ludicidade no ambiente escolar, principalmente as crianças da educação infantil, portanto a educação das mesmas se completará valorizando a atividade lúdica neste processo de ensinoaprendizagem. 4.2.2 Educação com ludicidade Este subtítulo vem mostrar a importância da educação lúdica no processo de ensino-aprendizagem, onde a escola por ser um espaço privilegiado para a construção de novos horizontes, é também um espaço de conhecimento e realizações que necessita ser construído com todos que fazem parte do contexto escolar. 21 A ludicidade é um assunto que deve ser discutido em todo espaço educativo no âmbito escolar. Por ser um trabalho pedagógico que possibilita a produção de conhecimento e uma necessidade do ser humano, deve contemplar todas as idades, e não deve ser vista como diversão, e sim como um aspecto que facilita a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal, social e cultural. Para Santos: Educar não se limita a repassar informações ou mostrar apenas um caminho, aquele caminho que o professor considera o mais correto, mas é ajudar a pessoa a tomar consciência de si mesma, dos outros e da sociedade [...] Educar é preparar para a vida. (2002, p.11-12) A educação tem a principio, como finalidade, promover mudanças desejáveis e relativamente permanentes nos indivíduos e que estas venham favorecer o desenvolvimento integral do homem e da sociedade. Qualquer que seja o ângulo pelo qual observemos a educação, ela nos apresenta características fundamentais para o desenvolvimento do ser humano como um todo. Partindo do pressuposto de que a verdadeira educação é aquela que cria na criança o melhor comportamento para satisfazer suas múltiplas necessidades, necessidades do saber, de explorar, de observar, de trabalhar, de jogar, de viver, não tem outro caminho a não ser organizar seus conhecimentos, partindo das necessidades e interesse das crianças. Educar ludicamente tem um significado muito profundo e está presente em todos os segmentos da vida. Existem inúmeras possibilidades de incorporar a ludicidade na aprendizagem, mas para que uma atividade pedagógica seja lúdica é importante que permita a fruição, a decisão, a escolha, as descobertas, as perguntas e as soluções por parte das crianças e dos adolescentes, do contrário, será compreendida apenas como mais um exercício. (BRASIL, 2006 p.43) A atividade lúdica é a essência da infância, para os alunos é um dos meios principais de expressão que possibilita a investigação e a aprendizagem sobre as pessoas e as coisas do mundo. É também, por meio da atividade lúdica que a criança pode ir expressando a fantasia e seus desejos, elaborar os seus conflitos e viver o faz-de-conta como suporte para a realidade. Sendo assim, a atividade lúdica é identificada como espaço privilegiado de novas formas de entendimento do real, que, por sua vez, instaura possibilidades para o desenvolvimento em vários sentidos. 22 Valorizar o lúdico nos processos de aprendizagem significa entre outras coisas considerá-lo na perspectiva das crianças. Para elas apenas o que é lúdico faz sentido. Essa dimensão lúdica é fundamental, pois marca uma nova forma de se relacionar com o mundo que a cerca, pela via do conceito, da imaginação, do sonho, da representação, do jogo simbólico. Afinal, é com o lúdico que o aluno abandona o seu mundo de necessidade e constrangimentos e se desenvolve, criando e adaptando uma nova realidade a sua personalidade. É riquíssima a utilização do lúdico na escola como recurso pedagógico. Nessa perspectiva, os educadores e auxiliares cumprem um papel fundamental nas instituições quando interagem com as crianças por meio de ações lúdicas ou se comunicam por meio de uma linguagem simbólica, estando disponíveis para brincar. Resgatar as brincadeiras antigas, as brincadeiras com brinquedos simples, como os de sucatas, as brincadeiras de roda, é um dever da educação atual, mas nem sempre estão presentes. Brincadeira é a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que o lúdico em ação. Conforme Rubens Alves: “Professor e pais, bons são aqueles que transformam a matéria em brincadeira e seduzem os seus filhos e o aluno a brincarem”, (apud MATTOS 2004, p.10) Um professor que não sabe ou não gosta de brincar, dificilmente desenvolverá a capacidade lúdica dos seus alunos. Assim, antes de lidar com a ludicidade do aluno, é preciso que o professor desenvolva a sua. Formar professores para uma plena introdução do lúdico na escola, sem dúvida é uma meta fundamental. Santos ressalta que: A formação lúdica deve possibilitar ao futuro educador conhecer-se como pessoa, saber de suas possibilidades e limitações, desbloquear suas resistências e ter uma visão clara sobre a importância do jogo e do brinquedo para a vida da criança, [...]. (2002, p.14) O educador precisa estar preparado para trabalhar o lúdico com as crianças, tendo condições suficientes para socializar o conhecimento e levar a diante. 23 Neste sentido, quando o adulto volta a brincar, não significa que vai se tornar criança novamente, apenas convive, revive e resgata com prazer e alegria de brincar, tudo aquilo que um dia aprendeu. Por isso, é importante trabalhar com a ludicidade, a fim de que possa transportar sua experiência para o campo da educação, com a presença das brincadeiras e atividades lúdicas. Sabe-se também que quando os alunos gostam do professor, acabam gostando daquilo que ele ensina e se esforçam cada vez mais para aprender e não decepcionar. De acordo com Almeida: “Quando o aluno descobre que a maior e melhor escola é aquela que existe dentro dele mesmo, ninguém mais o segura. [...] Isso tudo se resume numa questão: saber, despertar, conscientizar e confiar.” (2000, p.64) Transformar as aulas em brincadeiras, com certeza é mais significativo e interessante para os alunos e por isso terão mais facilidade para aprender brincando. “É importante ressaltar que a brincadeira não é algo já dado na vida do ser humano, ou seja, aprende-se a brincar, desde cedo, nas relações que os sujeitos estabelecem com os outros e com a cultura. O brincar envolve múltiplas aprendizagens” (BRASIL, 2006 p. 36) Cabe ao educador, criar um ambiente organizador de tal forma que o aluno possa explorar e desenvolver ao máximo as características que lhe são próximas. Todo o aprendizado de uma brincadeira que um jogo permite, é fundamental para a formação das crianças em todas as etapas de sua vida, pois é por meio das brincadeiras que as crianças, conhecem melhor a si próprias. Além disso, quando se relacionam com os outros, ela experimenta situações da vida: competição, cooperação, coragem, medo, alegria, tristeza, etc. Isso quer dizer, ela se socializa, compreende o que é ser ela mesma e fazer parte do grupo. Sem dúvida é mais importante que os adultos consigam recuperar o lúdico no universo adulto. “Saber jogar” é mais do que mostrar algumas brincadeiras e jogos às crianças, é sentir prazer no jogo. No pensar do autor fica evidente o quanto o prazer, a alegria estão presentes na vivência da ludicidade e para tanto não se poderia deixar de falar sobre o jogo, pois ele faz parte na história da humanidade. 24 4.3 JOGO Pesquisadores do Laboratoire de Recherche sur lê Jeu et lê Jouet, da Université Paris-nord apud Kishimoto (1997), atribuem significados ao termo jogo ao apontar três níveis de diferenciação. O jogo pode ser visto como: O resultado de um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social; Um sistema de regras; e um objeto. No primeiro caso, segundo Kishimoto (1997 p. 17) “o jogo assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que mostra por que, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas.” Se o arco e a flecha hoje aparecem como brinquedos, em certas culturas indígenas representavam instrumentos para a arte da caça e da pesca. Antigamente, os jogos eram vistos como inútil coisa não-séria, hoje aparece destinada a educar a criança. Enfim, cada contexto social constrói uma imagem do jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem. No segundo, as regras em um jogo permitem identificar a estrutura seqüencial que especifica sua modalidade. Sendo assim, quando alguém joga está executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica. Huizinga (1980) no diz que as regras são um fator muito importante para estar conceituando o jogo. Todo jogo em suas regras e são elas que determinam aquilo que “vale” no mundo temporário por ele circunscrito. O terceiro sentido refere-se ao jogo enquanto objeto em que, o xadrez é composto por um tabuleiro e por peças, que pode ser confeccionados de diferentes materiais, como: plástico, madeira, pedras, metais, diversificando assim cada jogo. Os três aspectos citados permitem uma compreensão do jogo, diferenciando significados atribuídos por culturas diferentes, pelas regras e objetos que o caracterizam. Com o intuito de estar conceituando estes três termos, sendo que, no entanto pode-se observar que ambos possuem o mesmo significado na visão dos autores citados, procurar-se-á enfatizar no próximo capítulo o brincar como entendendo ser a principal atividade inserida no mundo da criança. 25 5 O PAPEL DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL O ato de brincar na educação infantil é de suma importância para o desenvolvimento da criança e na aprendizagem. Antigamente diferenciavam “a hora de aprender” e “a hora de brincar”, não sendo concebido, portanto que se aprendesse quando se estivesse brincando. Ou então, que a brincadeira apenas tinha a finalidade de animar, alegrar, e distrair, sendo que poderia desenvolver algumas habilidades e ensinar alguns conceitos. A maior parte das pessoas adultas, que não possuem conhecimentos novos sobre a mente humana, ainda entende desta maneira, em que, o brincar sempre se distancia do aprender, ou mesmo, diferenciando o brincar e o aprender com brinquedos que divertem e outros que educam. (ANTUNES, 2004) Volpato (2002) contradiz a estas concepções e busca valorizar o brincar evitando distinção entre as “tarefas sérias”. Nesse caso, os jogos e brincadeiras das crianças podem e devem ser introduzidos como recursos didáticos importantes, pois, “brincando a criança aprende”. Segundo Antunes (2004), esses conceitos quanto à mente infantil foram superados: [...] é no ato de aprender que toda criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado. Jamais se brinca sem aprender. [...] Organizar o que se busca ensinar, escolhendo brincadeiras adequadas para que melhor se aprenda. (p. 31) Para Antunes (2004), brincando a criança desenvolve a imaginação, fundamenta afetos, explora habilidades, e assumindo outros papéis na brincadeira, fecunda competências cognitivas e interativas. A criança quando brinca, estimula a memória, desenvolve a linguagem, utiliza da criatividade, atenção e sensações emocionais. Na brincadeira, as crianças constroem seus próprios mundos e fazem vínculos com o mundo dos adultos. Volpato (2002) faz algumas considerações em torno dos jogos, das brincadeiras e dos brinquedos, como recursos didático-pedagógicos. Conforme Volpato (2002),o brincar na escola, não deve ser o mesmo que brincar nas ruas ou em casa, pois a escola tem características e funções que a definem como instituição formadora, responsável pelo conhecimento produzido pelo 26 aluno. Desta forma, muitas vezes o jogo e a brincadeira são utilizados no ambiente escolar como atividade cognitiva, sendo deixado de lado seu caráter lúdico. Nesse caso, Volpato (2002), diz que, o jogo e a brincadeira são utilizados para ensinar matemática, fixar regras ortográficas ou de conteúdos a serem memorizados. Para esse fim, são realizados jogos de memória, bingos, dados e dentre outros. O risco para esta execução é de que muitas vezes estas atividades não têm o real significado do jogo e da brincadeira na aprendizagem da criança. Segundo Volpato (2002), quando se perde a dimensão lúdica, a criança, em vez de aprender brincando, é levada a usar o brinquedo para aprender. A brincadeira utilizada como um recurso didático de forma controlada e dirigida deixa de ser brincadeira espontânea, natural e acaba virando atividade didática. O ato de brincar não é apenas para o desenvolvimento escolar da criança pedagogicamente, mas sim para que possam adquirir experiências de elaboração das vivencias da realidade na construção do ser. Portanto, Volpato (2002), utiliza o brincar de faz-de-conta como sendo a principal forma de interação com o mundo. Quando brinca, a criança cria situações imaginárias e se comporta como se estivesse no mundo dos adultos. Seu conhecimento se amplia ao brincar, pois pode fazer de conta que é “gente grande”. 5.1 O SURGIMENTO DO FAZ-DE-CONTA Buscando analisar o meio em que a criança vive, e a sua relação com o brincar, Volpato (2002), relata que, a criança não nasce em um mundo “natural” e sim humano. Começa sua vida em meio a objetos, a língua e a tudo que é criado e recriado por gerações antecedentes. Sendo assim, neste processo, ela vai se apropriando conforme se relaciona na sociedade e participando de práticas culturais. O nascimento do faz-de-conta se relaciona diretamente com as condições sociais em que a criança está inserida. Em séculos passados, o principal fator de desenvolvimento da criança era justamente a sua participação direta na vida dos adultos, mesmo que isso implicasse a incorporação precoce de crianças ao trabalho produtivo, por não haver fronteiras delimitativa entre adultos e crianças. (Elkonin 2002 apud Volpato p.39) 27 Ao longo do desenvolvimento do ser humano e de suas relações sociais, Volpato (2002), diz que, as atividades realizadas pelas crianças são a de acompanhar os pais, a comunidade, nos trabalhos, sacras ou jogos. As crianças eram divididas. Os meninos ficavam com os pais manuseando as ferramentas de trabalho como o arco, flecha, laços, arados. E as meninas, auxiliavam suas mães nos afazeres domésticos. Volpato (2002) relata que, com o desenvolvimento da indústria, surgiu a necessidade de divisão de sexo no trabalho, e com isso houve a mudança de lugar da criança no sistema de relações sociais. Mesmo com a evolução no sistema de produção, o autor constata que, apesar de as crianças não compartilharem mais com os trabalhos dos pais, passavam a maior parte do tempo realizando atividades com características muito próximas deles. “Quanto maior os avanços tecnológicos na fabricação de instrumentos de trabalho, exigindo maior conhecimento e domínio técnico, maior a distância entre a vida de trabalho dos adultos e a vida das crianças.” (Volpato,2002 p.43) Assim, por meio do brincar de faz-de-conta a criança sente a necessidade de criar situações imaginárias para vivenciar as atividades feitas pelos pais. 5.2 O BRINCAR DE FAZ-DE-CONTA Em relação aos jogos de faz-de-conta, veja-se algumas opiniões de autores para sua compreensão. Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo a sua maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende na natureza do objeto mas da função que a criança lhe atribui. Na visão deste autor, o jogo de faz-de-conta constitui na representação de papéis, como brincar de médico, de casinha, entre outros. De acordo com Singer (1973), a maior parte dos jogos de faz-de-conta também tem qualidade social no sentido simbólico. Este jogo imaginativo acontece com crianças que introduzem objetos inanimados, pessoas ou animais que não estão presentes no momento. 28 Para Vygotsky (1984), o que define o brincar é a situação imaginária. As crianças querem satisfazer alguns desejos que não podem ser alcançados imediatamente. Por exemplo, querer ocupar o lugar da mãe, certamente não conseguirá alcançar imediatamente. Como a criança não tem paciência para esperar, cria um mundo ilusório, onde seus desejos podem ser realizados. Na brincadeira de faz-de-conta, pode-se observar que as crianças trocam objetos por outros. A criança ao brincar, não realiza a transformação de saber diferenciar o significado em questão e o objeto concreto, ou seja, ao brincar com um pedaço de madeira como se fosse seu cavalinho, ela não estará diferenciando o significado dos objetos. (Volpato, 2002) Mesmo no universo do “faz-de-conta”, há regras que devem ser seguidas. Vygotsky, Leontiev e Elkonin (apud ROCHA, 1997) mostram que o mundo dos jogos de faz-de-conta tem leis precisas, reflexos das relações reais que as pessoas estabelecem com os objetos e com outras pessoas e dos papéis que elas desempenham no seu cotidiano. As crianças, ao brincarem, criam regras que estimulam o desenvolvimento do faz-de-conta, como por exemplo: quando observa-se uma criança brincando de faz-de-conta, analisamos a capacidade de representações que ela desenvolve. A menina torna-se mãe, professora, médica, e o menino, pai, policial, índio, sendo que os papéis são todos improvisados. (Kishimoto, 1997) É na brincadeira de faz-de-conta que a criança começa a vivenciar regras de comportamento. Quando se imagina mãe e tendo a boneca com filha, mesmo sem ter consciência, ou sem pensar sobre isso, a criança comporta-se como uma mãe em relação à filha e, dessa forma, está criando regras de comportamento, pois, o que passa despercebido na vida real torna-se uma regra de comportamento no brinquedo. (VOLPATO, 2002) Dessa forma, criando novas relações entre situações no pensamento e situações reais, o brinquedo tem grande importância no desenvolvimento das crianças. No subcapítulo seguinte, procurar-se-á abordar algumas contribuições para o brincar no desenvolvimento infantil, descritas por Vygotsky, Piaget e Wallon. 29 5.3 A TEORIA DE PIAGET, WALLON E VYGOTSKY EM RELAÇÃO AO BRINCAR Partindo de que estes autores são representantes importante da psicologia histórico-cultural, pretende-se ver o significado que o brincar ocupa em suas visões. Conforme Adriana Friedmann (1996), Piaget elaborou uma classificação baseada na evolução das estruturas mentais. Existem três formas básicas de atividades lúdicas que caracterizam a evolução do brincar na criança, que são paralelas aos três estágios do desenvolvimento intelectual identificados por ele, os quais são chamados de pensamentos sensório-motor, pré-operacional e operacional. Jogos de exercício sensório-motor Esses jogos caracterizam a etapa que vai do nascimento ate o aparecimento da linguagem, apesar de reaparecerem durante toda a infância. O jogo surge primeiro sob a forma de exercícios simples, cuja finalidade é o próprio prazer do funcionamento. Esses exercícios caracterizam-se pela repetição de gestos e de momentos em que as crianças começam a caminhar. Dentro dessa categoria, podese destacar os seguintes jogos: sonoro, visual, tátil, gustativo, motor e de manipulação. Jogo Simbólico (Estágio pré-operacional) Entre os dois e os seis anos de idade a tendência lúdica predominante se manifesta sob uma forma de jogo simbólico, o qual surge ao mesmo tempo com a linguagem, mas se desenvolve independente dela. Nessa forma de atividade lúdica, o jogo pode ser de ficção ou de imitação, tanto no que diz respeito a transformação de objetos quanto ao desempenho de papeis. A função do jogo simbólico consiste em assimilar a realidade, sendo que a criança vai assimilar a realidade externa ao seu eu, fazendo distorções ou transposições. É por meio do faz-de-conta que a criança realiza sonhos e fantasias, revela conflitos interiores, medos e angustias, aliviando tensões e frustrações. O jogo simbólico é também um meio de auto-expressão ao reproduzir os diferentes papeis (pai, mãe, professor, aluno) a criança imita situações da vida real. Neste tipo de jogo, aquela que brinca dá novos significados aos objetos, às pessoas, às ações, aos fatos, inspirando-se em semelhanças mais ou menos fieis às representadas. 30 Jogo de Regras ( Estágio das Operações Concretas) Os jogos de regras começam a se manifestar entre os quatro e sete anos e se desenvolvem entre os sete e doze anos. A criança já possui uma organização mental integra, capaz de ver a totalidade de diferentes ângulos. São jogos de combinações sensório-motoras (corridas, jogos de bola) ou intelectuais (cartas, xadrez) com competições dos indivíduos e regulamentados por um código transmitidos de geração, ou por acordos momentâneos. Esta classificação enfatiza a importância por Piaget ao papel da ação e a idéias de que a ação mental e física estão muito relacionadas. Ao analisar as contribuições de Piaget, Kishimoto (2000, p.32) registra que; Na teoria piagetiana, a brincadeira não recebe uma conceituação especifica. Entendida como ação assimiladora, a brincadeira aparece como forma de expressão da conduta, dotada de características metafóricas como espontânea, prazerosa, semelhante às do Romantismo e da biologia. Ao colocar a brincadeira dentro do conteúdo da inteligência e não na estrutura cognitiva, Piaget distinguiu a construção de estrutura mentais da aquisição de conhecimento. A brincadeira, enquanto processo assimilativo participa do conteúdo da inteligência, à semelhança da aprendizagem. Embora dotada de grande consistência, a teoria piagetiana não discute a brincadeira em si. Em síntese, Piaget adota o uso da metafórica vigente na época, da brincadeira como conduta livre, espontânea, que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá. Para o autor, ao manifestar a conduta lúdica, a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos. Galvão (1995) descreve que Wallon reconstruiu o seu modelo de analise ao pensar no desenvolvimento humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o desenvolvimento da criança aparece descontinuo marcado por contradições e conflitos, resultado da maturação a das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu comportamento em geral. O autor acima citado realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem às etapas do desenvolvimento é descontinuo, marcado por rupturas, retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores. Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995) sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva: 31 Impulsivo-emocional Ocorre no primeiro ano de vida. A predominância de afetividade orienta as primeiras reações do bebe às pessoas, as quais intermedeiam sua relação com o mundo físico. Sensório-motor e projetivo É um período que vai ate os três anos. A criança tem maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Também neste estagio, ocorre o desenvolvimento da função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Personalismo – ocorre dos três aos seis anos. Neste estagio, desenvolve-se a construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o interesse das crianças pelas pessoas; Categorial – os processos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior; Predominância funcional – ocorre nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Para Vygotsky (1998), o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades que possuem características humanas, sendo mediadas por ferramentas técnicas e semióticas. Nesta perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito; rompendo com a visão tradicional de que ela é a atividade natural de satisfação dos instintos infantis, o autor apresenta o brincar como uma atividade em que, tanto os significados sociais e historicamente produzidos são construídos, quanto novos podem ali emergir. A brincadeira e o jogo de faz-de-conta seriam considerados como espaço de conhecimento pelas crianças, na medida em que os significados que ali transitam são apropriados por elas de forma especifica. Vygotsky (1998) destaca que o processo da significação e elaborado por meio da atividade em contextos sociais específicos; o que é interiorizado não é a “realidade em si mesma”, mas o que esta significa para o sujeito em relação, quanto para cada um em particular. O autor acima afirma que, a criança nasce em um meio cultural repleto de significados social e historicamente produzidos, definidas e codificadas, que são 32 constantemente apropriadas pelo sujeito em relação. Neste sentido, o desenvolvimento humano para ele se distancia de outras teorias psicológicas, por ser visto como um processo cultural que ocorre mediado por um outro social. Assim, o homem enquanto sujeito é capaz de transformar sua própria historia e a da humanidade, uma vez que por seu intermédio muda o contexto social em que insere ao mesmo tempo em que é modificado. Desta maneira, os objetos com os quais a criança se relaciona são significados em sua cultura e a relação estabelecida com eles se modifica à medida em que ela se desenvolve. Em primeiro momento esta relação é marcada pela predominância de sentidos convencionais, característicos da cultura em que esta inserida; o objeto de certa forma diz para a criança como deve agir. Com o passar do tempo, a relação entre objeto significado e ação se altera, tendo a brincadeira um lugar de destaque nesta mudança. A importância do brincar para o desenvolvimento infantil reside no fato de esta atividade contribuir para a mudança na relação da criança com os objetos, pois estes perdem sua força determinadora na brincadeira. ”A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo que vê” (VYGOTSKY, 1998, p.127). A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. A criação de situações imaginárias na brincadeira surge da tensão entre o individuo e a sociedade, liberando a criança das amarras da realidade imediata, dando-lhe oportunidade para controlar uma situação existente. As crianças usam os objetos para representar coisas diferentes do que realmente são: pedrinhas podem transformar-se em comidinhas na brincadeira de casinha, pedaços de madeira podem ser carrinhos. Na brincadeira, os objetos e seus respectivos significados podem ser modificados (VYGOTSKY, 1998). O desenvolvimento do ser humano, para Vygotsky (1998), é dependente do aprendizado que este realiza em certo grupo cultural por meio de sua interação com outras pessoas, este aprendizado permitira e acionará o processo de desenvolvimento, sendo um fator necessário e universal para que as características psicológicas, típicas do ser humano e culturalmente organizadas, se desenvolvam. 33 Identifica-se aqui, relatado por Vygotsky (1998), dois níveis de desenvolvimento referentes às conquistas já alcançadas: nível de desenvolvimento real e nível de desenvolvimento potencial. Vygotsky (1998) definiu a zona de desenvolvimento proximal (SPD) como: [...] a distancia entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com os companheiros mais capazes (p.97). O nível de desenvolvimento real é relativo com as conquistas que já estão consolidadas na criança, coisas que ela já consegue fazer sozinha sem o auxilio de outra pessoa. O nível de desenvolvimento potencial também é relativo ao que a criança tem capacidade para fazer, todavia, faz com a ajuda de outra pessoa. Ela realiza suas tarefas e soluciona problemas por meio do dialogo, colaboração, imitação e pistas que lhe são fornecidas. Este espaço entre aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha e aquilo que ela ainda precisa de auxilio é denominado por Vygotsky (1998) de “zona de desenvolvimento potencial ou proximal”. Se for traçado um paralelo entre Piaget, Wallon e Vygotsky, referindo-se as brincadeiras e aos jogos, verifica-se que Piaget concentrou seus estudos nos estágios de desenvolvimento do ser humano, nos seus aspectos adaptativos, considerando o desenvolvimento da inteligência e do pensamento. Já Wallon, estudou a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Vygotsky, por sua vez, considerou as relações sociais e procurou fundamentar sua teoria nas relações do homem com o meio e do homem com o próprio homem. Utilizando, portanto do estudo destes três autores sobre o desenvolvimento infantil, cabe salientar que a criança se apropria de sua realidade para se adaptar a suas condições e vivencias realizadas. 5.4 A REALIDADE E O BRINCAR No brincar de faz-de-conta, as crianças constroem uma ponte entre a fantasia e a realidade. 34 Kishimoto (1997) descreve que Freud observou uma criança que sofria a ansiedade da separação da mãe. A criança brincava com uma colher presa a um barbante. Ela atirava a colher e puxava rapidamente. A criança, neste sentido pode controlar ambos os fenômenos: perda e recuperação. Quando as crianças brincam, podem ter o controle que lhes falta na realidade. As crianças em suas brincadeiras podem lidar com dificuldades psicológicas. Elas incluem em seu brincar, experiências de dor, medo e perda. O bem sobre o mal, os heróis que protegem vítimas, são temas comuns no seu meio. O autor acima citado relata que, o meio em que vivem, torna-se alvo para suas brincadeiras, como por exemplo: se o pai é assassino, consequentemente a brincadeira de seus filhos será a de policias e ladrões. Quando a criança teme algo, ou foi submetida a ele, como, uma injeção, ela passa do papel passivo para o ativo, submetendo pessoas ou bonecas ao que aconteceu com ela. Kishimoto (1997) afirma que, a passagem de um papel passivo para o ativo é o que acontece em muitas atividades lúdicas. Reduz o trauma de uma experiência e deixa a criança melhor preparada para ser submetido ao papel passivo novamente. As crianças em suas brincadeiras representam o ambiente que é próximo, com pessoas que integram sua cultura, no contexto de sua vida diária. O brincar da criança não está somente ancorado no presente, mas também tenta resolver problemas do assado e ao mesmo tempo se projeta para o futuro. A menina brincando de boneca antecipa sua maternidade e enfrenta as pressões emocionais do presente. Ao brincar de boneca, ela tenta seus sentimentos pelo amor a mãe, ou por ciúmes ao irmãozinho. Revela a necessidade que tem de ser consolada e tranqüilizada, diminuindo o medo de abandono, ou de ficar sem a mãe. Garbarino e colab (apud Kishimoto, 1992 p.67) afirma que: É através de seus brinquedos e brincadeiras que a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo dos adultos, onde “ela restabelece seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros” Sendo assim, o autor nos diz que, quando a criança vê um cabo e vassoura como um cavalo, briga com um cãozinho imaginário que fez sujeira no tapete da 35 mamãe, mostra uma mistura de realidade e fantasia, em que o cotidiano toma outra aparência, adquirindo um novo significado. Dando seqüência a pesquisa, o próximo capítulo descreverá que existem direitos também a respeito das tendências utilizadas por professores de Educação Física com o intuito de estar formando crianças aptas para viver socialmente. 5.5 A BRINCADEIRA NO UNIVERSO ESCOLAR As atividades lúdicas para o rendimento escolar de uma criança de acordo com Rosamilha (1979, p.171), “as atividades lúdicas beneficiam as crianças em fase de alfabetização em vários aspectos”. Conforme Rosamilha (1979), nos jogos e brincadeiras as crianças se sentem mais confiantes, mais seguras no ambiente escolar em seus relacionamentos na escola. Conforme a autora acima cotada, o lúdico produz muitos efeitos positivos para o rendimento escolar. Para ela, as brincadeiras, por serem atividades intencionais da infância, facilitam o desenvolvimento de algumas habilidades> neuromusculares, sensório-motoras, perceptíveis motoras e interpessoais, indispensáveis para o desenvolvimento. Para Almeida (1981), os jogos pedagógicos são importantes para o rendimento escolar, pois alem de desenvolverem o intelectual, a memória, atenção, raciocínio, observação também contribui para o fator da desinibição. Lima (1992, p.15), descreve, quando brinca e joga, a criança desenvolve determinadas faculdades: faculdade da cooperação, que favorece o desenvolvimento da linguagem; faculdade de experiências objetivas e criativas; faculdade de concentração, pois o jogo e a brincadeira desenvolvem a atenção voluntária, que ocorre quando ela não tem domínio da vontade; faculdade criativa, que depende das oportunidades oferecidas à criança com materiais e situações adequadas; faculdades mentais, que incluem o desenvolvimento geral de relações, de discriminação, de julgamento, de análise e de crítica. Com isso, se percebe que a educação lúdica contribui para o desenvolvimento á aprendizagem das crianças das séries iniciais, de acordo com Fantin (1996), as crianças encontram nas brincadeiras um enorme campo de expressões: expressão oral, a expressão facial, e a expressão corporal lhe 36 possibilitando o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, concentração, controlar sentimentos e emoções. Podem-se citar várias contribuições do lúdico na aprendizagem e isso pode se resumir na fala de um autor. Para Rosamilha (1979 p.193) “através do jogo a criança elabora sua competência para lidar com o ambiente, aprende sobre si mesma e sua própria cultura, desenvolve sua personalidade e aceita sua cultura”. Sabe-se que a educação lúdica muitas vezes ainda não é realidade em alguns universos escolares. Sabe-se que a escola é uma instituição muito resistente a mudanças, onde muitas delas ainda estimulam pouco o uso do lúdico como instrumento de aprendizagem. Fontana e cruz (1997), afirmam que na escola, mesmo sendo colocada num lugar destinado á apropriação do saber historicamente construído, a brincadeira passa a ser negada, secundarizada ou vinculada os seus objetivos didáticos. Por meio dos jogos e brincadeiras, professores podem trabalhar vários conteúdos, é só criar condições para isso ocorrer. As atividades lúdicas motivam os alunos a gostarem da escola, por sentirem necessidade de aprender regras, de interagir e de participar, e tudo que é necessidade motiva, pois é importante. A escola que assume somente o papel de transmitir conhecimento se torna um lugar maçante sendo freqüentado por ser imposto a ele, porem não se deve deixar de lado o brincar da criança. Conforme Assmann (2001, p.29) que “o ambiente pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade”. Repensar esses conceitos é repensar a pratica educativa. O papel do educador é ensinar. No entanto é necessário tornar a escola um lugar, alegre, e prazeroso de estar, sem massacrar as crianças com exercícios intermináveis e nada criativos; e proporcionar aos educadores uma compreensão do uso do lúdico no cotidiano escolar para melhor desenvolvimento da aprendizagem. O lúdico para Fontana e Cruz (1997), pode proporcionar ao professor um momento de conhecimento e convivência com o aluno, permitindo que ele conheça seus modos de apropriação e elaboração de mundo, para dirigir e repensar sua pratica. 37 5.6 O PAPEL DO MEDIADOR Segundo Huizinga (2000), se a qualidade dos jogos depende diretamente do material disponível, do espaço e sua organização, tal qualidade não resulta somente da criatividade infantil, mas da conduta e das propostas em termos de ambiente, material e postura do professor. A partir disso, pode-se dizer que a mediação da educação e seu tipo de envolvimento na atividade são fundamentais para organizar e intervir nesse espaço e nesse ambiente quando observar e “administrar” esse espaço em questão. Isso implica refletir sobre o papel da qualidade desta mediação que vai refletir sobre as propostas de trabalho na dinâmica do cotidiano pedagógico, bem como no papel do brinquedo no espaço das diversas formas de uso. No que se relaciona a proposta de trabalho a respeito da organização do ambiente do uso do material implica que tais condições possuem importâncias e usos diferentes, segundo objetivos da mediação adulta. Esta intervenção vai variar conforme a importância atribuída ao ambiente e conforme o tipo de atividade valorizado, que vai permitir a ação da criança em algumas direções. O educador, ao elaborar suas propostas de trabalho deve reconhecer que neste meio da fantasia e imaginação que é a brincadeira também é um espaço de investigação e construção de conhecimentos. Volpato (2002), brincando com quantidades, diferentes tipos de linguagem, com elementos da natureza e da cultura as crianças estarão se relacionando de maneira adequada e prazerosa com as muitas áreas do conhecimento. Assim sendo, o jogo envolve o universo que fala o olhar a seu imaginário. E considerando esse universo pluridimensional e com suas múltiplas possibilidades, entende-se que a brincadeira na escola possui o múltiplo aspecto de servir ao desenvolvimento infantil, á construção de conhecimentos e a reconstrução da cultura. Antunes (2000), descreve que, acredita-se que um mediador que tenha uma nova forma de ver a criança que aprendeu, ou seja, uma criança ativa que compara, exclui, ordena, categoriza, reformula hipóteses, reorganiza em pensamentos e em relação afetiva, segundo seu nível de desenvolvimento, terá a oportunidade de investigar o auto estimulo e a superação das dificuldades cognitivas dos alunos das classes especiais para deficientes mentais leves. 38 Conforme Kishimoto (1998), o faz-de-conta tem uma grande importância para as crianças, pois elas vivem no mundo da fantasia, do sonho, na possibilidade de experimentar através do faz-de-conta, do brincar a realidade. Por isso, é importante não cortar momentos de brincar para desenvolver a criança. É ai o momento também da descoberta do si da formação do “eu”, a construção da afetividade. Para Kishimoto (1998), o trabalho do professor midiatizado através dos jogos, brinquedos e brincadeiras desenvolve o afetivo, o cognitivo, as interações sociais, a alegria e o prazer, favorecendo a construção do conhecimento por parte do aluno, em todas as fases do seu desenvolvimento. Conforme Kishimoto (1998), os brinquedos educativos permitem a participação e a inserção da criança na sociedade. O brincar é uma necessidade básica como a nutrição, a saúde e a habitação. É significativo e fundamental na infância. É preciso que o educador possibilite à criança os jogos, e a brincadeira no espaço educativo, estabelecendo o dialogo e fazendo o diagnostico do histórico do aluno para identificar as suas necessidades e, a partir destas necessidades criarem oficinas do brincar. O professor na sua programação pode eleger um dia ou ate mais para as brincadeiras, considerando o brinquedo preferido do aluno. A realização e o sucesso da atividade lúdica ira depender da criatividade do professor de inserir em seu planejamento diário a possibilidade de explorar o real através dos brinquedos mediando para o proximal, o aprender. É preciso ampliar o espaço pedagógico, em ações com jogos e brincadeiras inserindo o lúdico na aprendizagem, para que as crianças se desenvolvem com maior qualidade. “Ensinar é um exercícios de moralidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprendem a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais”, (ALVES, 1994 p.3). Em nossos dias fala-se muito sobre ser educador, seu papel é proporcionar experiências conscientes de percepção de mundo para que a criança possa interagir 39 com o meio social. Visando a melhoria na qualidade do ensino, percebe-se da importância da inserção da brincadeira no universo escolar. 40 6 TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA Segundo Shigunov (2001), a prática escolar tem, por trás de si, condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relação professor-aluno, técnicas pedagógicas, entre outros. A escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se constituída por classes sociais com interesses antagônicos e, dessa forma seu papel não se reduz ao estritamente pedagógico. O modo como os professores e professoras realizam o seu trabalho, selecionam e organizam o conteúdo ou escolhem técnicas de ensino e avaliação tem a ver, implícita ou explicitamente, com os pressupostos teóricos- metodológicos que fundamentam a educação num dado momento sócio-histórico-político. Tendo isso claro, pretende-se, neste capítulo, fazer um breve apanhado sobre as tendências pedagógicas que foram e ainda continuam sendo a prática utilizada por professores nas escolas. Atualmente, vêem se questionando o papel da educação física na educação infantil, assim como dos profissionais que nesta área atuam. Apesar da realização de inúmeros estudos para proporcionar melhorias na metodologia aplicável nas aulas de educação física, ainda há fatos marcantes ocorridos em momentos distintos da história que se manifestam nas aulas de educação física. (SHIGUNOV, 2001 p.42) No contexto apresentado, Shigunov (2001), nos diz que, existem disputas pela hegemonia no pensamento pedagógico e científico na educação física, como também na construção no campo acadêmico, gerando uma diversidade de abordagens da educação física brasileira. O autor acima cita as abordagens que considera de maior expressão nacional e também como referencial de estudo. Abordagem Tecnicista Esta centrada nas modalidades esportivas voltadas para a educação física nas escolas e nos demais âmbitos onde o esporte está inserido. Prioriza os padrões técnicos da aprendizagem na educação física, possibilitando a formação do homem de mentalidade sadia e justa. 41 As ações dos educandos são mais físicas do que mentais, devendo ser ressaltas a criatividade nos lances esportivos, desenvolvendo a eficiência física, orgânica e de habilidades, o controle do corpo e dos segmentos e as atitudes na pratica de atividades esportivas. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem Psicomotricista Utiliza de atividades lúdicas para o desenvolvimento da aprendizagem. Focaliza sua metodologia com grupos de crianças de todas as idades, que possuem dificuldade de adaptação escolar e social. Seus conteúdos são desenvolvidos a partir das condutas motoras: lateralidade, coordenação, equilíbrio, percepção sonoro-tátil-visual, como fator de adoça de estratégias pedagógicas. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem Desenvolvimentista Tem como meio e fim principal da educação física o movimento. Orienta-se especialmente a criança de quatro a quatorze anos. Caracteriza a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social. Na aprendizagem motora, procura privilegiar a aprendizagem o movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens das habilidades motoras. Esta aprendizagem permite ao aluno com a atividade, pensar, tomar decisões, tentar, avaliar. A educação física deve proporcionar condições para que seu comportamento motor esteja desenvolvido pelo aumento da complexidade dos movimentos, sendo adequados para o seu estagio de crescimento e desenvolvimento. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem Atividade Física para promoção de saúde Nesta concepção, busca-se a conscientização da população escolar para os benefícios da atividade física. Considera importante aos professores procurar adotar em suas aulas, não mais uma visão exclusiva a prática esportiva, mas, alcançarem metas em termo de promoção de saúde com experiências que possam propiciar aos educandos, não apenas situações que os tornem crianças e jovens mais ativos fisicamente, mas, sobretudo, que optem por um estilo de vida mais ativo também quando adultos. Considera-se importante a prática prazerosa de atividades que conduzam o aperfeiçoamento das áreas funcionais: resistência orgânica ou cardiovascular; flexibilidade; resistência muscular e a composição corporal como fatores 42 coadjuvantes na busca de uma melhor qualidade de vida por meio da saúde. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem concepção de aulas abertas Esta concepção está vinculada na vida de movimento da criança, na construção esportiva dos estudantes de educação física e na concepção de esporte que a sociedade atribui. As concepções de ensino são abertas quando os alunos participam das decisões no andamento das aulas. Sendo que as decisões dos alunos são determinadas pelas decisões previas do professor. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem humanista Aproxima-se do jogo, do esporte, da dança, da ginástica como meios para cumprir os objetivos educacionais; não os considera como um fim em si mesmos. Nesta concepção, o professor integra-se efetivamente ao ambiente escolar em que atua, sendo um agente educador. Busca contribuir na consciência social e critica dos alunos, tendo participação ativa na prática social. Suas atividades são selecionadas pelos alunos, a partir de seus interesses e necessidades. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem crítico-superadora Faz uma leitura dos dados da realidade à luz da crítica social dos conteúdos, buscando levantar questões de poder, interesse e contestação. Pode ser entendida como uma reflexão pedagógica, pois encaminha proposta de intervenção e possibilita reflexões sobre a realidade dos homens. A educação física é entendida como sendo um conhecimento da cultura corporal do movimento onde seus conteúdos são direcionados aos jogos, ginástica, esporte, capoeira e a dança. Por meio destes conteúdos, visa não somente transferir o conhecimento, mas valorizar a questão de contextualização dos fatos e do resgate histórico. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem crítico-emancipatória Esta centrada no ensino do esporte concebido para a educação física escolar. Busca uma reflexão de ensinar o esporte pela sua transformação didáticopedagógica. E de tornar o ensino escolar uma educação de crianças e jovens para a competência critica e emancipada. Enfatiza que é necessário desconstruir a imagem negativa que o aluno interioriza na sua prática de esportes autoritários e domesticados. 43 Sua orientação de concepção educacional é compreendida como críticoemancipatória onde a emancipação pode ser entendida como um processo de libertação dos alunos em suas condições das capacidades racionais critica e em agir no contexto sociocultural e esportivo. O conceito critico pode ser entendido como a capacidade de questionar e analisar a complexidade de diferentes realidades. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem construtivista-Interacionista Sua intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, explorando as atividades lúdicas na busca de tarefas cada vez mais desafiadoras, com vista na construção do conhecimento. Nesta proposta o jogo é visto com “um instrumento pedagógico”, ou seja, o principal meio de ensinar. Enfatiza ainda que, o fundamental é que todas as situações de ensino sejam interessantes para as crianças e entende que corpo e mente devem ser entendidos como componentes que integram um único organismo, e não de forma separada. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem Educação Física Pluralista Encara o movimento humano como técnica corporal construída culturalmente e definido pelas características de determinado grupo social. Não possui um modelo do “certo” e “errado”, pois considera que as diferenças dos alunos sejam percebidas, seus movimentos, expressões frutos de sua história de corpo. A educação física não deve colocar-se como aquela que escolhe qual a técnica que deve ser ensinada\aprendida. Deve ofertar uma base motora adequada para que o aluno possa praticar de forma eficiente. Defende a visão de que a aula deve ser oferecida para todos, como gordinhos, baixinhos, meninas, mais lentos, mesmo sabendo que há diferença entre os alunos, mas assim, sabendo aceitá-las. (SHIGUNOV, 2001) Abordagem sistêmica É entendida como um sistema aberto que interage influenciado na sociedade. Procura incluir os alunos nos conteúdos oferecidos, oportunizando a experiência da cultura de movimentos. Tem como principio a não exclusão e da diversidade de atividades nas aulas de educação física. 44 Deixa que o aluno satisfaça a sua vontade para a prática e o prazer do corpo em movimento. (SHIGUNOV, 2001) Observando todas estas tendências, saber-se-á que a educação física está em constantes mudanças, portanto, como uma nova prática pedagógica que está sendo inserida, a corporalidade, tendo suprimir as demais tendências e estar refletindo sobre o real significado da educação física na escola. 6.1 CORPORALIDADE Oliveira (2003) nos remete em seus estudos, que a muitos anos vem defendendo a tese de que a educação física escolar restringiu-se ao tentar organizar-se ao que se convencionou chamar de cultura corporal do movimento, sendo que, significou o rompimento da aptidão física, porem, mesmo com a mudança da nomenclatura permaneceu restrita à dimensão da motricidade humana, onde a motricidade é entendida como o individuo que se move, o faz, sendo obvio corporalmente. Segundo Oliveira (2003), tenta-se discutir a ampliação do escopo da educação física escolar para alem da motricidade. Recentemente, Oliveira (2003) teorizou sobre o conceito de corporalidade, o qual caracterizou como sendo: Ao conjunto de praticas corporais do homem, sua expressão criativa, seu reconhecimento consciente e sua possibilidade de comunicação e interação na busca da humanização das relações dos homens entre si e com a natureza estamos chamando de corporalidade. A corporalidade se consubstancia na pratica social a partir das relações de linguagem, poder e trabalho, estruturantes da sociedade (OLIVEIRA p.157). O conceito de corporalidade exprime com bastante aproximação o entendimento de que a motricidade não pode estar descolada da corporalidade e esta, por sua vez, da dinâmica de produção, circulação e apropriação cultural (OLIVEIRA 2003). Esta é uma nova linha de pensamento que se discute atualmente, buscando identificar as varias praticas corporais realizadas pela humanidade possibilidades de tornar as relações viáveis neste processo de globalização. com 45 A partir das tendências que foram apontadas cabe aos profissionais a identificação viável de em seu ambiente de trabalho fluir aos estudantes, criar e organizar uma brinquedoteca buscando os recursos possíveis, para este espaço que é tão necessário para as crianças. 6.2 BRINQUEDOTECA Hoje em dia, constata-se que a escola é um local de aprendizagem obrigatória, sendo conhecimento, uma onde o concepção brincar esta conteudista ausente e ou instrumentalizada reduzido a do recurso didático.(SANTOS, 2000) Durante muito tempo confundiu-se “ensinar” com “transmitir”. Sendo assim, o aluno era um “receptor” do conhecimento, enquanto o professor o “transmissor”. Atualmente, sabe-se que não existe ensino sem que ocorra a aprendizagem, a qual se fará pela transformação do educando, pela ação facilitadora do professor na construção de conhecimento. (SANTOS, 2000) Sendo assim, o brincar ganha espaço, como a ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estimulo para o aluno, desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social, ajuda-o a construir suas novas descobertas. (SANTOS, 2000) Assim, “brincar significa extrair da via nenhuma outra finalidade que não seja ela mesma. Em síntese, o jogo é o melhor caminho de iniciação ao prazer estético, à descoberta da individualidade e à meditação individual”. (SANTOS P. 38) Sabe-se então, que o brincar faz parte da vida do ser humano e, em especial, da vida das crianças, desde o início da humanidade, sendo portanto, atividades vistas sem importância e tendo conotação pejorativa. Somente a partir dos anos 50 (cinqüenta) é que o brinquedo começou a ser valorizado. Esta mudança ocorreu pelo avanço dos estudos da psicologia sobre a criança pequena, que colocou o brincar em destaque por ser ele a essência da infância. (SANTOS, 2000) 46 Atualmente, o brincar teve uma expansão imensa, e sua utilização foi tão grande que criou-se espaços específicos destinados ao brincar, chamados de brinquedotecas. “Falar sobre a brinquedoteca é, portanto, falar sobre os mais diferentes espaços que se destinam à ludicidade, ao prazer, as emoções, às vivências corporais, ao desenvolvimento da imaginação, da criatividade, da auto-estima, do autoconceito positivo, da resiliência, do desenvolvimento do pensamento, da ação, da sensibilidade, da construção do conhecimento e das habilidades.” (SANTOS, 2000 p. 58) Cunha(2001), cita algumas razões para a criação de brinquedotecas nas escolas. Um espaço onde a criança possa brincar sossegada, sem cobranças; Estimula a concentração e a atenção; Desenvolve a inteligência, a criatividade e a sociabilidade; Proporciona experiências e descobertas; Enriquece o relacionamento entre a criança e a família. Quando as crianças estão na brinquedoteca, elas fazem uma grande associação com seu dia-a-dia. Utilizando assim o faz-de-conta, em que a cozinha com seus utensílios fazem à lembrança da mãe, o supermercado, o hospital, lembra a sociedade em si, os carrinhos, caminhões, recordam a presença do pai e assim por diante, fazendo com que a criança tenha uma forte ligação com o meio social. A criança pode também estar manuseando livros, o cantar histórias, fantoches, sendo que de forma prazerosa e descontraída. Pode ser um lugar onde elas poderão imitar e construir jogos com materiais alternativos. Na brinquedoteca as crianças aprendem a convivência com os demais colegas. Cunha (2001, p 24) descreve que “Ao brincar com outras pessoas, a criança aprende a viver socialmente, respeitando regras, cumprindo normas, esperando a sua vez e interagindo de uma forma mais organizada”. A interação grupal é muito enriquecedora e ajuda as crianças a se conhecerem melhor e a fazerem novas amizades. Os brinquedos são convites ao brincar desde que provoquem vontade de interagir. 47 “Para que os brinquedos realmente representem desafios para a criança, devem estar adequados ao interesse, às necessidades e às capacidades da etapa do desenvolvimento, na qual ela se encontra”. (Cunha, 2001 p.36) Cada criança tem seu ritmo próprio de desenvolvimento e características que o diferencia das demais. Portanto a importância de propor um projeto onde a escola poderá se empenhar na busca de subsídios junto aos profissionais da educação na construção de uma brinquedoteca. Como menciona Kishimoto (2000) “cada brinquedoteca apresenta o perfil da comunidade que lhe dá origem”. Portanto, caberão as escolas interessadas a operacionalização e implantação da mesma. 48 7 CONCLUSÃO O brinquedo é um objeto facilitador do desenvolvimento das atividades lúdicas, que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a imaginação e a criatividade. As crianças gostam de brincar, seja brinquedos de produção artesanal ou industrial. Ao falar-se de brincadeira, grande parte das pessoas remete-se a infância, momentos prazerosos e de muita diversão. Era e é assim que a brincadeira ainda é vista por muitas pessoas, dentre estas, muitos profissionais da educação. As crianças de todas as idades, mas principalmente as que tem a idade de 0 (zero) a 6(seis) anos, necessitam brincar e este estará contribuindo para a interação com outras crianças, e a compreensão de uma realidade que a cerca e que muitas vezes ela ressignifica pelo brincar. Deste modo, o brincar revela a estrutura do mundo da criança, como ela vê o mundo em sua volta. É neste momento que o mundo de faz-de-conta aflora, valendo-se de sua realidade, do seu desejo na maioria das vezes baseado na imitação e na internacionalidade das atitudes das pessoas que a cercam. É por meio da brincadeira que ela exprime suas vontades e medos com naturalidade, que começa a se socializar aprendendo a respeitar o outro, a sua vez, bem como começa a aceitar outras idéias. A brincadeira traz consigo muitas formas de explorar a criança contribuindo para seu desenvolvimento, desde as brincadeiras solitárias, em grupo, as de faz-deconta, as tradicionais, sabendo disso, porque estas brincadeiras não estão sendo inseridas como um recurso que auxilia na aprendizagem das crianças, uma vez que se percebeu por meio deste trabalho a importância do brincar na construção de conhecimento. Será pelo fato de muitos profissionais da educação, ainda desconhecerem o valor educativo do brincar, que proporciona uma aprendizagem significativa. Desta forma, sabe-se que a brincadeira ajuda no desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e emocional da criança, mas observa-se que ainda existe um certo preconceito em relação a brincadeira como um recurso capaz de proporcionar uma aprendizagem mais ampla da criança. 49 Diante disso, como educador pode-se promover e desenvolver no espaço educacional um local que privilegie a infância e o lúdico. Neste sentido, é necessário garantir esse espaço da criança brincar. É muito importante que as pessoas envolvidas com as crianças acreditem nisso. Que os educadores sejam parceiros nessa caminhada de educação, considerando o brinquedo e o brincar não só como coadjuvantes, mas reservando-lhes um papel de destaque, considerando sua importância no desenvolvimento pleno da criança, pois brincar é proporcionar ao educador o estabelecimento de um contato mais próximo com seus alunos, garantindo o sucesso em suas atividades pedagógicas, formando crianças mais felizes e compreensivas, capazes de refletir, criticar e transformar o mundo. Ciente de que este estudo, assim como vários outros relacionados a educação de criança estão sempre em evolução, cabe a todos educadores interessar-se e estar sempre atualizados em relação aos conhecimentos, visto que este trabalho é um pequeno estudo, e que ainda há muito a pesquisar a respeito desta temática. 50 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Paulo Nunes de, Educação lúdica.Técnicas e jogos pedagógicos. SP: Edições Loyola, 10ª Ed.2000. ALVES, Rubem. Alegria de ensinar. 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