A vida de Harriet Tubman

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A vida de Harriet Tubman
Harriet Tubman (esquerda) guiando um grupo do sul ao norte dos EUA.
Harriet Tubman nasceu em 1820 ou 1821, numa enorme plantação em Dorchester County,
Maryland. Embora a plantação tivesse uma grande casa, com muitos quartos e mobílias ricas, Harriet
nasceu numa cabana de um só quarto, longe da casa grande. Era uma cabana de chão sujo, e não
tinha janelas nem mobília. Harriet foi a sexta de onze irmãos. O pai, Benjamin Ross, e a mãe, Harriet
Green, eram ambos escravos. O patrão deles chamava-se Edward Brods. Edward Brods também era
dono de Harriet Tubman.
Os escravos trabalhavam arduamente o dia todo, mas não eram pagos. Harriet detestava a
escravatura. Era muito independente e isso valia-lhe várias sovas. Não lhe agradava cumprir ordens.
Uma vez, quando Harriet foi “alugada” para trabalhar para outra pessoa, viu nessa casa uma taça
cheia de torrões de açúcar. Mais tarde, diria, em jeito de explicação: “Como nunca tinha visto nada
tão bom e tão doce – nunca vira açúcar sequer – achei que aquilo tinha um aspecto maravilhoso”.
Pegou, então, num dos torrões. A patroa, Miss Susan, viu-a pegar no pedaço de açúcar e foi
atrás dela com um chicote. Harriet fugiu e escondeu-se na pocilga. Comeu cascas de batata e restos,
até que ficou com tanta fome que teve de regressar. Quando o fez, foi de novo açoitada repetidas
vezes. Edward Brods vendia madeira, maçã, trigo e milho, que cultivava na sua plantação. Às vezes,
até vendia escravos seus para trabalharem em plantações a sul da sua. Harriet viu duas das suas
irmãs serem levadas com correntes e tinha medo de que um dia também viesse a ser vendida.
Quando ela era jovem, os abolicionistas, começaram a fazer-se ouvir e publicaram-se jornais
abolicionistas. Nat Turner, um jovem escravo, sabia que Moisés tinha conduzido os Israelitas para
fora do Egipto, onde viviam como escravos. Também ele esperava, um dia, libertar o seu povo da
escravidão. Em 1831, liderou uma rebelião, durante a qual donos de escravos, suas mulheres e filhos
foram mortos. Nat Turner foi apanhado e enforcado, juntamente com outros apoiantes da sua causa.
Harriet sonhava frequentemente com o verdadeiro Moisés que a libertaria.
Em 1835, foi apanhada numa luta entre um esclavagista e um escravo que ia a fugir. O dono
atirou um peso de metal ao foragido, mas o peso atingiu Harriet e quase a matou. Ficou com um
golpe profundo na testa, golpe esse que nunca sarou verdadeiramente. Nos oito anos que se
seguiram, Harriet sofreu constantemente de dores de cabeça e adormecia com frequência. Contudo,
sobreviveu e agradeceu a Deus tê-la salvo. Depois deste acidente, começou a rezar mais.
Em 1844, casou com John Tubman, um homem livre, e foram viver para a cabana dele, que
ficava perto da plantação de Brods. Harriet estava a pensar fugir. Queria que John fosse com ela, mas
ele recusava e ameaçava contar ao patrão, que mandaria os cães e os vigilantes atrás dela. Mas
Harriet tinha já decidido fugir e começou a planear a fuga. Os escravos costumavam cantar nos
campos enquanto trabalhavam. Na tarde antes de fugir, Harriet também cantou, e as palavras da sua
canção eram uma mensagem para os outros escravos.
Quando o carro chegar
vou-me embora.
Vou em busca da Terra Prometida.
Para Harriet Tubman, a Terra Prometida era o Norte, onde seria considerada livre. Harriet
fugiu de noite, com três dos seus irmãos. Não tinham comida nem dinheiro, nem sabiam para onde
ir. Pouco depois de partirem, os irmãos decidiram voltar para trás. E obrigaram-na a voltar para trás
também. Duas noites depois, Harriet fugiu sozinha. “Tinha direito à liberdade ou à morte”, disse,
depois de fugir. “Se não pudesse ter uma, teria a outra.”
Harriet foi para casa de uma mulher branca, que uma vez se oferecera para a ajudar. A mulher
disse-lhe para que casa deveria ir em seguida. Os habitantes desta casa, por sua vez, mandaram-na
para outra, mais a norte. Harriet viajava no trilho que era conhecido como o Caminho-de-Ferro
Clandestino. Cada paragem era a casa de alguém que acreditava que a escravatura estava errada e
que estava disposto a ajudar os escravos em fuga a conseguirem a sua liberdade.
Durante o dia, Harriet escondia-se. Viajava durante a noite, em direcção ao seu destino, a
Pensilvânia. Havia neste estado uma lei que proibia a escravatura. Quando lá chegou, tornou-se uma
mulher livre. Sentia-se uma pessoa nova. Mais tarde, afirmaria: “O sol vinha até mim como se fosse
ouro, através das árvores e dos campos. Sentia-me no céu.”
Entre a década de 50 e 60, Harriet trabalhou como cozinheira, lavadora de pratos e mulher de
limpezas. Gastou muito do que ganhou em dezanove viagens que fez para conduzir cerca de
trezentos escravos até à liberdade. Muitos deles eram seus familiares. Harriet levava-os de uma casa
segura para outra. Às vezes, chegavam mesmo ao Canadá. Era uma condutora do Caminho-de-Ferro
Clandestino.
Ora se disfarçava de velhinha frágil ou de homem. Usava as canções como se fossem um
código secreto. Quando era seguro sair dos esconderijos, cantava uma canção alegre; os foragidos
reconheciam sempre a sua voz profunda e rouca. Uma vez iniciada a jornada em direcção ao Norte,
Harriet nunca deixava que os escravos voltassem atrás. Se estavam demasiado assustados para
continuarem, apontava-lhes uma arma à cabeça e dizia-lhes: “Ou continuas a andar ou morres.”
Anos mais tarde, diria com orgulho: “O meu comboio nunca descarrilou. Nunca perdi um
passageiro.”
Chamavam-lhe “Moisés”, porque libertou muitos escravos, conduzindo-os à liberdade. As
autoridades ofereciam uma recompensa enorme pela sua captura, mas nunca foi apanhada. Em
1858, Harriet conheceu John Brown, um líder do movimento para acabar com a escravatura. Brown
considerava-a uma das melhores e mais corajosas pessoas da América. Chamava-lhe “General
Tubman”.
Em Novembro de 1860, Abraham Lincoln foi eleito presidente, e onze estados do Sul
retiraram-se da União, porque não queriam um homem que abominava a escravatura como seu
chefe. A Guerra entre o Norte e o Sul, a Guerra Civil, começou a 12 de Abril de 1861. Durante a
guerra, Harriet Tubman trabalhou como enfermeira e espia para o exército nortista. Fazia incursões
em território inimigo, a fim de libertar centenas de escravos. Também ajudou aqueles que fugiram
durante a Guerra, rumo aos estados do Norte.
Em Dezembro de 1865, pouco depois do fim da Guerra, foi aprovada uma emenda à
Constituição dos Estados Unidos, segundo a qual a escravatura passou a ser proibida. Depois da
Guerra, Harriet Tubman regressou a casa, em Auburn, Nova Iorque. John Tubman morreu em 1867 e,
em 1869, Harriet casou com um antigo escravo e soldado, chamado Nelson Davis.
Em Auburn, Harriet ia de casa em casa a vender legumes. Onde quer que fosse, pediam-lhe
para contar as suas aventuras no Caminho-de-Ferro Clandestino. Ajudou a criar um lar para negros
doentes, pobres e sem-abrigo. Quando ela mesma entrou nessa casa em 1911, estava já velha e
fraca. “Já consigo ouvir campainhas a tocar. Já consigo ouvir anjos a cantar”, dizia por vezes. Pouco
depois, a 10 de Março de 1923, morreu, com mais de noventa anos de idade.
Harriet Tubman era uma mulher muito corajosa. Todos quantos a conheciam a admiravam e
amavam. Foi uma condutora do Caminho-de-Ferro Clandestino, um Moisés para o seu povo.
David A. Adler
The Picture Book of Harriet Tubman
New York, Holiday House, 1992
(Tradução e adaptação)
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