A vida de Harriet Tubman

Chamavam-lhe “Moisés”, porque libertou muitos escravos, conduzindo-os à
liberdade. As autoridades ofereciam uma recompensa enorme pela sua captura,
mas nunca foi apanhada. Em 1858, Harriet conheceu John Brown, um líder do
A vida de Harriet Tubman
movimento para acabar com a escravatura. Brown considerava-a uma das
melhores e mais corajosas pessoas da América. Chamava-lhe “General Tubman”.
Em Novembro de 1860, Abraham Lincoln foi eleito presidente, e onze estados
do Sul retiraram-se da União, porque não queriam um homem que abominava a
escravatura como seu chefe. A Guerra entre o Norte e o Sul, a Guerra Civil,
começou a 12 de Abril de 1861. Durante a guerra, Harriet Tubman trabalhou como
enfermeira e espia para o exército nortista. Fazia incursões em território inimigo, a
fim de libertar centenas de escravos. Também ajudou aqueles que fugiram durante
a Guerra, rumo aos estados do Norte.
Em Dezembro de 1865, pouco depois do fim da Guerra, foi aprovada uma
emenda à Constituição dos Estados Unidos, segundo a qual a escravatura passou
Harriet Tubman (esquerda) guiando um grupo do sul ao norte dos EUA.
a ser proibida. Depois da Guerra, Harriet Tubman regressou a casa, em Auburn,
Nova Iorque. John Tubman morreu em 1867 e, em 1869, Harriet casou com um
antigo escravo e soldado, chamado Nelson Davis.
Em Auburn, Harriet ia de casa em casa a vender legumes. Onde quer que
fosse, pediam-lhe para contar as suas aventuras no Caminho-de-Ferro
Clandestino. Ajudou a criar um lar para negros doentes, pobres e sem-abrigo.
Quando ela mesma entrou nessa casa em 1911, estava já velha e fraca. “Já
consigo ouvir campainhas a tocar. Já consigo ouvir anjos a cantar”, dizia por vezes.
Pouco depois, a 10 de Março de 1923, morreu, com mais de noventa anos de
idade.
Harriet Tubman era uma mulher muito corajosa. Todos quantos a conheciam a
admiravam e amavam. Foi uma condutora do Caminho-de-Ferro Clandestino, um
Moisés para o seu povo.
Harriet Tubman nasceu em 1820 ou 1821, numa enorme plantação em
Dorchester County, Maryland. Embora a plantação tivesse uma grande casa, com
muitos quartos e mobílias ricas, Harriet nasceu numa cabana de um só quarto,
longe da casa grande. Era uma cabana de chão sujo, e não tinha janelas nem
mobília. Harriet foi a sexta de onze irmãos. O pai, Benjamin Ross, e a mãe, Harriet
Green, eram ambos escravos. O patrão deles chamava-se Edward Brods. Edward
Brods também era dono de Harriet Tubman.
Os escravos trabalhavam arduamente o dia todo, mas não eram pagos. Harriet
detestava a escravatura. Era muito independente e isso valia-lhe várias sovas. Não
lhe agradava cumprir ordens. Uma vez, quando Harriet foi “alugada” para trabalhar
para outra pessoa, viu nessa casa uma taça cheia de torrões de açúcar. Mais
tarde, diria, em jeito de explicação: “Como nunca tinha visto nada tão bom e tão
doce – nunca vira açúcar sequer – achei que aquilo tinha um aspecto maravilhoso”.
David A. Adler
The Picture Book of Harriet Tubman
New York, Holiday House, 1992
(Tradução e adaptação)
Pegou, então, num dos torrões. A patroa, Miss Susan, viu-a pegar no pedaço
de açúcar e foi atrás dela com um chicote. Harriet fugiu e escondeu-se na pocilga.
Comeu cascas de batata e restos, até que ficou com tanta fome que teve de
Para Harriet Tubman, a Terra Prometida era o Norte, onde seria considerada
regressar. Quando o fez, foi de novo açoitada repetidas vezes. Edward Brods
livre. Harriet fugiu de noite, com três dos seus irmãos. Não tinham comida nem
vendia madeira, maçã, trigo e milho, que cultivava na sua plantação. Às vezes, até
dinheiro, nem sabiam para onde ir. Pouco depois de partirem, os irmãos decidiram
vendia escravos seus para trabalharem em plantações a sul da sua. Harriet viu
voltar para trás. E obrigaram-na a voltar para trás também. Duas noites depois,
duas das suas irmãs serem levadas com correntes e tinha medo de que um dia
Harriet fugiu sozinha. “Tinha direito à liberdade ou à morte”, disse, depois de fugir.
também viesse a ser vendida.
“Se não pudesse ter uma, teria a outra.”
Quando ela era jovem, os abolicionistas, começaram a fazer-se ouvir e
Harriet foi para casa de uma mulher branca, que uma vez se oferecera para a
publicaram-se jornais abolicionistas. Nat Turner, um jovem escravo, sabia que
ajudar. A mulher disse-lhe para que casa deveria ir em seguida. Os habitantes
Moisés tinha conduzido os Israelitas para fora do Egipto, onde viviam como
desta casa, por sua vez, mandaram-na para outra, mais a norte. Harriet viajava no
escravos. Também ele esperava, um dia, libertar o seu povo da escravidão. Em
trilho que era conhecido como o Caminho-de-Ferro Clandestino. Cada paragem era
1831, liderou uma rebelião, durante a qual donos de escravos, suas mulheres e
a casa de alguém que acreditava que a escravatura estava errada e que estava
filhos foram mortos. Nat Turner foi apanhado e enforcado, juntamente com outros
disposto a ajudar os escravos em fuga a conseguirem a sua liberdade.
apoiantes da sua causa. Harriet sonhava frequentemente com o verdadeiro Moisés
que a libertaria.
Durante o dia, Harriet escondia-se. Viajava durante a noite, em direcção ao seu
destino, a Pensilvânia. Havia neste estado uma lei que proibia a escravatura.
Em 1835, foi apanhada numa luta entre um esclavagista e um escravo que ia a
Quando lá chegou, tornou-se uma mulher livre. Sentia-se uma pessoa nova. Mais
fugir. O dono atirou um peso de metal ao foragido, mas o peso atingiu Harriet e
tarde, afirmaria: “O sol vinha até mim como se fosse ouro, através das árvores e
quase a matou. Ficou com um golpe profundo na testa, golpe esse que nunca
dos campos. Sentia-me no céu.”
sarou verdadeiramente. Nos oito anos que se seguiram, Harriet sofreu
Entre a década de 50 e 60, Harriet trabalhou como cozinheira, lavadora de
constantemente de dores de cabeça e adormecia com frequência. Contudo,
pratos e mulher de limpezas. Gastou muito do que ganhou em dezanove viagens
sobreviveu e agradeceu a Deus tê-la salvo. Depois deste acidente, começou a
que fez para conduzir cerca de trezentos escravos até à liberdade. Muitos deles
rezar mais.
eram seus familiares. Harriet levava-os de uma casa segura para outra. Às vezes,
Em 1844, casou com John Tubman, um homem livre, e foram viver para a
cabana dele, que ficava perto da plantação de Brods. Harriet estava a pensar fugir.
chegavam mesmo ao Canadá. Era uma condutora do Caminho-de-Ferro
Clandestino.
Queria que John fosse com ela, mas ele recusava e ameaçava contar ao patrão,
Ora se disfarçava de velhinha frágil ou de homem. Usava as canções como se
que mandaria os cães e os vigilantes atrás dela. Mas Harriet tinha já decidido fugir
fossem um código secreto. Quando era seguro sair dos esconderijos, cantava uma
e começou a planear a fuga. Os escravos costumavam cantar nos campos
canção alegre; os foragidos reconheciam sempre a sua voz profunda e rouca. Uma
enquanto trabalhavam. Na tarde antes de fugir, Harriet também cantou, e as
vez iniciada a jornada em direcção ao Norte, Harriet nunca deixava que os
palavras da sua canção eram uma mensagem para os outros escravos.
escravos voltassem atrás. Se estavam demasiado assustados para continuarem,
Quando o carro chegar
vou-me embora.
Vou em busca da Terra Prometida.
apontava-lhes uma arma à cabeça e dizia-lhes: “Ou continuas a andar ou morres.”
Anos mais tarde, diria com orgulho: “O meu comboio nunca descarrilou. Nunca
perdi um passageiro.”