universidade salvador – unifacs as principais mudanças - BVS-Psi

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UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PSICOLOGIA
LOUIZE RACHEL RODRIGUES DE OLIVEIRA
MILLA CAVALCANTE RODRIGUES
AS PRINCIPAIS MUDANÇAS OCORRIDAS NA VIDA DE
SUJEITOS QUE SE SUBMETERAM À CIRUGIA BARIÁTRICA:
RELATOS DE PACIENTES E PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS.
Salvador
2006
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LOUIZE RACHEL RODRIGUES DE OLIVEIRA
MILLA CAVALCANTE RODRIGUES
AS PRINCIPAIS MUDANÇAS OCORRIDAS NA VIDA DE
SUJEITOS QUE SE SUBMETERAM À CIRUGIA BARIÁTRICA:
RELATOS DE PACIENTES E PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS.
Monografia apresentada ao Curso de
graduação em Psicologia, Universidade
Salvador - UNIFACS, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Psicologia.
Orientadora: Profa. Ms. Helen Copque
Salvador
2006
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TERMO DE APROVAÇÃO
LOUIZE RACHEL RODRIGUES DE OLIVEIRA
MILLA CAVALCANTE RODRIGUES
AS PRINCIPAIS MUDANÇAS OCORRIDAS NA VIDA DE
SUJEITOS QUE SE SUBMETERAM À CIRUGIA BARIÁTRICA:
RELATOS DE PACIENTES E PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS.
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia,
Universidade Salvador – UNIFACS, pela seguinte banca examinadora:
Anderson César Veloso Viana _____________________________________________________
Mestre em Administração, Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Faculdade Ruy Barbosa (FRB), Ba; Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências
(FBDC) e Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), Ba
Helen Lúcia Freitas Copque – Orientadora ___________________________________________
Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC), Universidade Federal da Bahia
(UFBA)
Faculdade Jorge Amado (FJA), Ba; Universidade Salvador (UNIFACS), Ba
Jeane Saskya Campos Tavares _____________________________________________________
Mestre em Saúde Comunitária pelo Instituto de Saúde Coletiva (ISC), Universidade Federal da
Bahia (UFBA)
Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências (FBDC) e Escola Bahiana de Medicina e
Saúde Pública (EBMSP), Ba; Universidade Salvador (UNIFACS), Ba
Salvador, 29 de novembro de 2006.
4
Dedicamos este trabalho aos nossos pais, a nossa amiga e orientadora Helen Copque
aos participantes da pesquisa que nos possibilitaram trabalhar com esse tema e a
todos que de forma direta ou indireta contribuíram para construção e finalização
deste.
5
AGRADECIMENTOS
É difícil listar aqui as pessoas que contribuíram de alguma forma na construção deste trabalho,
são tantas e tão especiais, que me falta espaço e palavras para falar de cada uma dessas pessoas.
Por isso resolvi escolher algumas que representarão com glamour todas as pessoas que se
fizeram, se fazem e se farão presentes em toda minha caminhada. Agradeço:
A Deus, por estar presente em todos os momentos da minha vida e neste não poderia ser
diferente.
Aos meus pais João e Marilurdes que são os responsáveis pela minha existência. Por terem me
ajudado a crescer e aprender a viver, fazendo tornar-me quem sou. Deram-me muito carinho e
amor. Obrigada por tudo! Amo vocês! Aos meus irmãos Júlio e Paulo que são meus pontos de
apoio em todos os momentos e que sempre me acompanharam em dias de tristezas e alegrias.
As minhas cunhadas Sílvia e Valéria, as minhas sobrinhas Camila e Bianca e ao meu sobrinho
Caio pelo carinho e momentos de alegria. E também a todos os parentes e familiares pelo apoio.
A minha amiga e irmã Milla Rodrigues por ter estado ao meu lado na construção deste trabalho e
que, juntas, aos trancos e barrancos, conseguimos construir este lindo produto final. Sem você
Milla não teria forças para continuar. Obrigada por confiar em mim e por me fazer acreditar que
sou capaz! A minha família emprestada, tia Haromalha, tio Samuel e irmã Ludmilla por me
acolherem e cuidarem de mim como filha, me dando apoio e força nesta caminhada.
Ao curso de psicologia, ao professor e coordenador Wilson Sampaio que sempre me ajudou nas
horas em que precisei e sempre me apoiou, fazendo acreditar mais em mim, ao corpo de
professores (Hosannah, Cláudio Embirussu, Ana Emília, Rita Gonzáles, Rodrigo Guimarães, Rita
Leite, Ana Maria Garcia, Olívia, Marisa Marques e outros) que contribuíram e contribuem a cada
dia com minha formação como profissional e como pessoa e a UNIFACS por ter me apresentado
o mundo acadêmico.
A Helen Copque que acreditou no meu potencial e que com sua inteligência e sensibilidade me
fez crescer e me dedicar o melhor que pude para que as coisas saíssem na mais perfeita ordem.
Deu-me carinho, amizade, atenção e esteve comigo em todos os momentos.
Em especial a Jeane Tavares que foi a minha primeira referência na Psicologia. Mostrou-me
caminhos e possibilidades para que eu me tornasse melhor a cada dia. Agradeço pela amizade e
carinho e por todos esses anos de ensinamentos. Você é especial para mim!
Aos meus amigos (Levi, Tchelo, Ivanderson, Rafa, Léo, Luisinho, Marcinho, Ti e outros) e
amigas (Tan, Liu, Tati, Pritty, Paulinha e outras) que estiveram direta ou indiretamente comigo,
me dando apoio, carinho e me fazendo ser cada dia mais feliz. E com carinho a Aurin, pessoa
muito especial, que contribuiu para o sucesso deste trabalho.
Louize Rachel Rodrigues de Oliveira.
6
AGRADECIMENTOS
Em todo o processo de construção desta monografia pude contar com o carinho, a atenção e
colaboração de diversas pessoas (amigos, conhecidos, colegas) e certamente se eu fosse
agradecer a todos, estes não caberiam nesta folha de papel.
A minha amiga e parceira neste trabalho, Louize Rachel, acho que não teria feito escolha melhor
de pessoa para dividir este trabalho. As suas contribuições, pensamentos, idéias para este estudo
fazem parte deste nosso produto que tem a nossa “cara”. Aos meus tios emprestados que me
trataram sempre com muito carinho e atenção, Tio João e Tia Marilurdes, agradeço de coração.
A minha grande orientadora e amiga, Helen Copque, que acreditou neste trabalho e sempre
passou muita força, garra, ânimo quando estes faltavam. Com certeza sem as suas diretrizes, sem
a sua amizade, sem o seu olhar atento e crítico a monografia não teria ficado “redondinha”.
A minha irmã, Ludmilla, e ao meu pai, Samuel, por também terem participado de alguma forma
deste processo e me ajudado a chegar nesta etapa da minha vida.
Ao meu namorado, Murilo, presente em todo momento sempre me disponibilizando todo o amor,
carinho, compreensão e palavras de conforto. Com certeza um dos meus pilares.
A Leiliane e Adailton, amigos, que contribuíram para este trabalho, estendendo um ombro amigo
em alguns momentos difíceis da elaboração do mesmo.
A minha amiga e mestre, Virgínia, grande responsável pela minha paixão pela Análise do
Comportamento, que apesar da distância, esteve muito presente na construção de todo trabalho.
Alguém que eu tenho muito carinho, admiração e que me espelho.
A todas as minhas amigas (Alice e Tansir) que também desprenderam apoio e palavras de
incentivo durante o desenvolvimento do trabalho. Agradeço, em especial, a minha amiga-irmã,
Paula, que me acompanhou na construção do trabalho, dando-me o apoio, a atenção e a amizade
indispensáveis para este momento.
A todos os meus professores da UNIFACS, pelos ensinamentos, pelas reflexões e por ajudaremme a construir um olhar diferenciado e cauteloso sobre o ser humano. Com destaque, a amiga e
professora, Jeane Tavares, pelo incentivo, atenção, carinho, força e amizade sempre.
Agradeço a Deus pela força necessária para o êxito deste trabalho.
Agradeço especialmente a minha mãe, Haromalha, minha grande companheira nesta caminhada
sempre me disponibilizando todo apoio, incentivo, amor, força e atenção. Acreditando em mim e
compreendendo a minha ausência em alguns momentos. Muito do que sou, devo a esta pessoa
maravilhosa que nunca mediu esforços para me ajudar a chegar onde estou hoje.
Milla Cavalcante Rodrigues.
7
“Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais em salvar nossas almas,
mas em salvar nossos corpos da desgraça da rejeição social. Nosso tormento não é o
fogo do inferno, mas a balança e o espelho” (PRIORE, 2000, p. 11).
8
RESUMO
A cirurgia bariátrica tem sido considerada atualmente como a estratégia mais eficaz para perda e
manutenção de peso em longo prazo. Este estudo buscou, através de relatos de pacientes e
profissionais envolvidos no tratamento, identificar as principais mudanças ocorridas na vida de
sujeitos que se submeteram à cirurgia bariátrica. A partir destes relatos, buscou-se compreender
as mudanças ocorridas no processo de adaptação pós-operatória e identificar possíveis fatores
que dificultaram e/ou facilitaram este processo. Por ser este tema pouco estudado, foi adotado
como método de estudo uma pesquisa exploratória com intuito de trazer um maior
esclarecimento, possibilitando desenvolver novos conceitos e modificar os que já existem.
Participaram deste estudo vinte e oito pacientes de ambos os sexos, pós-operados há no mínimo
um ano através da técnica de Fobi-Capella, com idade entre vinte e cinqüenta anos, bem como
uma equipe de sete profissionais (cirurgiões, cirurgião plástico, nutricionista e psicólogo)
atuantes em uma Instituição que presta serviços para tratamento da obesidade em Salvador. Na
análise dos resultados, foram percebidas mudanças na saúde, na alimentação, no corpo, na vida
social, no trabalho e no desempenho sexual, trazendo, de forma geral, uma melhor qualidade de
vida para os pacientes. Dentre os resultados apresentados pelos pacientes, os mais relevantes
trazem que grande parte dos sujeitos do estudo apresentam história de sobrepeso desde a
infância, o que chama a atenção para a necessidade de políticas ou estratégias para lidar
preventivamente com o problema e ainda foi percebido que os sujeitos atribuem aos sentimentos
e emoções a causa dos comportamentos alimentares inadequados e a ausência de autocontrole.
No que se refere aos profissionais, percebeu-se como resultado mais relevante à baixa adesão dos
pacientes ao acompanhamento pós-cirúrgico, queixa relatada por toda equipe. A Psicologia,
através da Análise do Comportamento, auxiliou na identificação de possíveis comportamentos
em geral e do alimentar em particular, relatados pelos sujeitos participantes da pesquisa e
percebeu-se neste estudo que, a Análise do Comportamento é de fundamental importância para
entendimento de repertórios comportamentais estabelecidos no decurso da vida destes sujeitos.
Palavras-chave: Obesidade; Cirurgia Bariátrica; Comportamento Alimentar; Análise do
Comportamento.
9
ABSTRACT
The bariatric surgery has been considered the most efficient strategy in the process of losing and
maintaining weight in long-term period. This project intended to identify, through the reports
sent by patients and professionals involved in the treatment, the most important changes observed
in the lives of people who went to the bariatric surgery. The reports served as basis for the
comprehension of the changes occurred during the post-surgical adaptation process and
identification of the possible factors that facilitate or make the process more difficult.
Considering this issue is yet not properly worldwide discussed, to the development of this project
an explorative research was mandatory, so old concepts could be repaired and new ones
formulated. This initiative counted on twenty-eight post-surgical patients from both sexes that
went to surgery through the Fobi-Capella technique, ages between twenty and fifty years old, and
a staff composed by seven professionals (surgeons, plastic surgeon, nutritionist and psychologist)
who work in a institution in Salvador which offers treatment to obesity. As the results gathered
during the research were analyzed, changes in health, eating, body, social life, work and sexual
performance of the patients were observed as they somehow improved quality of life. The results
also supplied very critical data such as: overweight since childhood, which calls attention to need
of politics or strategies to prevent the happening of this issue. Patients relate to feelings and
emotions the cause of inadequate eating habits and the lack of self-control and it is also
fundamental to highlight the fact that some people don’t go under post-surgical treatment.
Professionals often conclude the final results of the surgery are obtained, however they complain
about the minimal number of patients joining the post-surgical accompaniment. The studies of
Psychology, through the Behavior Analysis, helped to identify the possible behaviors, in general,
and eating habits, in particular, reported by the patients interviewed. This project comes to an end
pointing out the importance of Behavior Analysis to the understanding of the behavior repertoire
established throughout the lives of these subjects.
Keywords: Obesity; Surgery Bariatric; Eating Habits; Behavior Analysis.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Gráfico de distribuição dos pacientes pós-operados por faixa etária
34
Figura 2 – Gráfico da idade de início da história do sobrepeso
35
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Classificação das diferentes categorias da obesidade
21
Tabela 2 – Principais estratégias utilizadas pelos pacientes ao longo da vida
para perda de peso
36
Tabela 3 – Variáveis que influenciam o comportamento alimentar na percepção dos sujeitos
37
Tabela 4 – Principais fatores que, na percepção dos sujeitos, os levaram realizar a cirurgia
38
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
14
1.2 História e significados do corpo e da beleza
1.3 Desenvolvimento de padrões e hábitos alimentares
1.4 Obesidade
1.5 Estratégias utilizadas para perda de peso
1.6 Obesidade mórbida e seus agravos
1.7 Cirurgia bariátrica como tentativa de tratamento
1.8 Acompanhamento pós-cirurgia
1.9 O papel da psicologia e a análise do comportamento
14
16
17
18
19
19
21
22
2 OBJETIVOS
27
2.1 Geral
2.2 Específicos
27
27
3 METODOLOGIA
28
3.1 Desenho de estudo
3.2 Contexto de pesquisa
3.3 Participantes
3.4 Procedimento de coleta de dados
3.5 Instrumentos
3.6 Procedimento de análise de dados
3.7 Procedimentos éticos
28
28
29
29
30
31
33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
34
4.1 Perfil dos pacientes que realizaram a cirurgia bariátrica
4.1.1 Fatores que na percepção dos pacientes os levaram a realizar a cirurgia bariátrica
4.1.2 Dificuldades de adaptação pós-cirúrgica
4.1.3 Mudanças positivas e negativas nos comportamento e nas emoções
4.1.4 Relação dos pacientes com a saúde, alimentação, corpo, trabalho e desempenho
sexual
4.1.5 Relação dos pacientes com a saúde, alimentação, corpo, trabalho e desempenho
sexual
4.2 Perfil dos profissionais envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade
4.2.1 Resultados esperados com o tratamento cirúrgico relatados pelos profissionais
4.2.2 Percepção dos profissionais sobre a população de obesos que procura o
tratamento cirúrgico
4.2.3 Mudanças percebidas pelos profissionais e pacientes pós-operados
34
37
38
39
40
41
43
43
44
44
13
4.2.4 Dificuldades percebidas pelos profissionais como mais freqüentes no
acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes
4.2.5 Procedimentos, técnicas e serviços sugeridos pelos profissionais no
processo de adaptação pós-operatória dos pacientes
44
45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
46
REFERÊNCIAS
51
APÊNDICE A - Termo de consentimento assinado pelos pacientes
55
APÊNDICE B - Questionário semi-estruturado aplicado em pacientes
56
APÊNDICE C - Questionário semi-estruturado aplicado em profissionais
61
14
1 INTRODUÇÃO
1.2 História e significados do corpo e da beleza
O modelo de beleza é construído pelas sociedades através da arte, das vestimentas, da
mídia, de comportamentos, dentre outras coisas. As sociedades postulam ou impõem
características que acabam determinando o que se compreende como ideal de corpo ou corpo
perfeito. Segundo Pereira (2002) cada sociedade, cada cultura age sobre o corpo determinando-o
surgindo então, padrões de beleza, de sensualidade, de saúde, de postura que dão estabilidade às
pessoas para que elas tenham o contorno para se construírem como homens e mulheres. Ao longo
do tempo esses modelos produziram a história corporal.
Para conhecer os sentidos construídos para o corpo humano no presente é preciso
passar pela História e ver os diferentes modelos que determinaram o corpo. As idealizações a
respeito deste foram se modificando décadas após décadas. A história do corpo consiste em
observar como este tem sido vivenciado e expressado em diferentes sistemas culturais, mostrando
que o mesmo varia não apenas culturalmente, mas também temporalmente (PRIORE, 2000).
Segundo as idéias de Daolio (2005) no corpo estão expressas todas as regras, todas as
normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser inicialmente o corpo o meio de
contato do indivíduo com o ambiente ao seu redor. Para se compreender as buscas de um corpo
perfeito, faz-se necessário um estudo e análise de eventos históricos, os quais trazem
significações de beleza que podem ser de grande relevância para o entendimento mais
aprofundado desta temática.
Na Grécia o corpo era valorizado pela saúde e pela capacidade atlética, o cuidado
com o corpo apenas estabelecia algumas normas para evitar os excessos. Em se tratando de
beleza romana, pode-se verificar que se baseavam nos conceitos dos gregos que valorizavam os
corpos magros e esculpidos (PEREIRA, 2002).
Ainda segundo Pereira (2002), na Idade Média, o ideal de beleza ressaltou a pureza
da mulher e não suas formas físicas. Os representantes da Igreja Católica pregavam que a
15
representação de corpos nus era um pecado e uma infâmia. As pessoas eram compelidas pela
religião católica a cuidar e zelar somente da sua alma, portanto, a preocupação com o corpo era
relegada ao segundo plano. Sobre esta época, Elias (1994) traz deixou-nos diversas informações
sobre o que era considerado comportamento socialmente aceitável e adequado. Neste particular,
preceitos sobre a conduta às refeições também tinham grande relevância. Comer e beber nessa
época ocupavam uma posição muito mais central na vida social do que hoje, pois eram, com
freqüência, meios para introdução às conversas e ao convívio.
Na Europa nos séculos XV e XVI, época do Renascimento, destacavam-se os corpos
adiposos. Nesta época, as mulheres nobres que apresentavam sobrepeso tornaram-se referenciais
de beleza. Um bom exemplo deste período é a “Vênus de Botticelli”, na qual se pode verificar
que as mulheres “rechonchudas” eram valorizadas.
Pereira (2002) traz que em meados do século XVIII há uma fusão dos conceitos de
estética e beleza. Ainda de acordo com este autor no século XIX, época do Romantismo, as
mulheres buscavam uma aparência magra e delicada que denotasse certa fragilidade e melancolia.
O século XX foi marcado pela presença da mulher mais incisivamente no mercado de
trabalho e evidenciaram-se, com isso, as mudanças nos hábitos. Assim, esse novo papel
desempenhado pela mulher não é limitado à função materna ou de dona de casa, mas ampliado
para o campo profissional na busca de sua independência e valorização. De acordo com Faux
(2000) iniciava-se então a busca da beleza e do corpo perfeito, predominando assim o corpo
magro, perdurando até os dias atuais. Segundo Priore (2000), este século, sobretudo na Europa, é
marcado pela presença da mulher no mundo de exercícios físicos, exercícios sobre bicicletas, nas
quadras de tênis, nas piscinas e praias.
De acordo com Pereira (2002) as mudanças nos padrões do corpo vão emergir da
recusa aos desígnios do destino, hoje se pode pagar para ser belo, e sendo também a beleza como
um sinônimo de magreza é possível investir na aparência. Priore (2000) traz ainda que nos dias
atuais, como conseqüência destas mudanças, homens e principalmente mulheres vivem numa
busca incessante de padrões socialmente aceitos.
16
Um dos principais fatores que pode levar a mulher a ser a principal vítima da
“ditadura da beleza”, do culto ao corpo e de certo modo a beleza inatingível, está diretamente
relacionado à cultura das dietas e o conceito de que as magras são belas e bem sucedidas, um
padrão proposto pela mídia e imposto pela sociedade (PEREIRA, 2002). Isso faz com que as
mulheres se tornem mais vulneráveis às doenças tais como: depressão, ansiedade, estresse entre
outras. Entretanto, as mulheres não são as únicas vítimas desta “ditadura”, os homens também
estão incluídos nesse sistema por vezes adoecedor.
O ser gordo ou magro na sociedade atual é veiculado pela mídia, na maior parte das
vezes, sem relação com a saúde. O ideal é o corpo magro, sem que se levem em conta
diferenças genéticas. O ser gordo pode também significar falta de controle de impulsos,
preguiça, ser relaxado. Com a transmissão desses conceitos é evidente que a obesidade
pode ser um fator de sofrimento para aqueles que não alcançaram um corpo perfeito
(ADES & KERBAUY , 2002, p.2).
O sujeito e a sua história, juntos, constroem o corpo. O sujeito passa a ter a
capacidade e o poder de se expressar e reinventar sua aparência, tendo o dever moral de ser belo
como um adicional aos padrões estéticos de beleza. Estes padrões, por vezes, estigmatizam os
obesos tornando-os alvo de preconceito e discriminação que podem ser percebidos por meio de
filmes, programas de televisão e revistas.
1.3 Desenvolvimento de padrões e hábitos alimentares
Desde a infância o sujeito é exposto a modelos de comportamento, dentre estes, o
comportamento alimentar. Os padrões de alimentação são construídos desde tenra idade, os
hábitos alimentares adequados ou inadequados1 tendem a se fortalecer e, por diversas vezes,
modificações destes se tornam difíceis ao longo da vida. A família é, inicialmente, uma das
principais influências neste comportamento, pois cada família apresenta uma relação própria com
a forma de se alimentar e os tipos de alimentos (saudáveis ou não saudáveis) a serem
consumidos.
Heller (2006) traz que o ganho de peso na infância acontece, na maior parte das
vezes, em função de uma combinação de fatores que incluem os fatores comportamentais (os
1
Hábitos alimentares inadequados ou adequados podem ser compreendidos como hábitos que possam acarretar
alguns danos para a própria saúde do indivíduo ou benefício desta.
17
hábitos alimentares inadequados e o estilo de vida familiar), a carga genética, o nível sócioeconômico, fatores psíquicos e étnicos.
Uma boa educação alimentar seria um dos principais meios de prevenção do
sobrepeso e obesidade, fazendo com que o sujeito construa ao longo de sua vida um padrão de
comportamento alimentar mais saudável.
Segundo Leitis e Baechtold (2005) a saúde e a qualidade de vida são muito mais
conseqüências das nossas atitudes e/ou comportamentos, não sendo, portanto aleatórios. A saúde
e a qualidade de vida dependem de posicionamento e determinação, responsabilidade pelo estilo
de vida escolhido e construído pelo sujeito. Os cuidados com a saúde, a alimentação, o repouso, o
lazer e fazer exercícios físicos são atribuições indelegáveis de cada indivíduo.
1.4 Obesidade
De acordo com Matos e Bahia (1998, p. 207), “a obesidade é uma doença crônica, de
suscetibilidade genética, com influência ambiental, onde vários mecanismos estariam alterados,
favorecendo um balanço energético positivo e o ganho de peso”. A obesidade é uma doença que
acarreta riscos para desenvolvimento de patologias graves como a diabetes mellitus, hipertensão
arterial, dislipidemias, problemas reprodutivos em mulheres, doença coronariana, acidente
vascular cerebral, apnéia do sono e outras disfunções ortopédicas, colecistopatia, gota e alguns
tipos de câncer. O excesso de peso, portanto, seria visto como um grande risco de adoecimento,
incapacitações e morte. A despeito dos inúmeros tratamentos que existem, o excesso de peso vem
crescendo nas últimas décadas, chegando a ser considerado uma epidemia.
Segundo Pinheiro, Freitas e Corso (2004), dados do Ministério da Saúde (MS)
informam que a população adulta vem apresentando aumento de peso. De acordo com o inquérito
nacional mais recente (Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989), 32% dos adultos
brasileiros apresentam algum grau de excesso de peso. Destes, 6,8 milhões de indivíduos (8%)
são obesos, com predomínio entre as mulheres (70%). A prevalência do excesso de peso se
agrava com a idade, podendo atingir valores maiores na faixa etária de 45-54 anos (37% entre
homens e 55% entre mulheres).
18
Ainda de acordo com estes autores a obesidade é relativamente atípica nos países da
África e da Ásia, sendo que sua manifestação nestas regiões tem maior incidência na população
urbana do que na população rural. Dados da World Health Organization (WHO) trazem que nas
Américas, estudos demonstram que a obesidade em ambos os sexos vem crescendo, tanto em
países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento. Na Europa, verificou-se em 10
anos um aumento entre 10% e 40% da obesidade na maioria dos países, onde destaca-se a
Inglaterra, com um aumento superior ao dobro, entre os anos 80 e 90. A Região Oeste do
Pacífico, compreendendo a Austrália, o Japão, Samoa e China, também apresentou aumento da
prevalência da obesidade; porém, é importante destacar que a China e no Japão, apesar do
aumento da obesidade em comparação a outros países desenvolvidos, apresentam as mais baixas
prevalências: na China, 0,36% para mulheres e 0,86% para homens de 20-45 anos em 1991; no
Japão, 1,8% para homens e 2,6% para mulheres maiores de 20 anos, em 1993.
Estas estatísticas só vêm a confirmar que os estilos de vida da contemporaneidade se
tornam um dos principais fatores desencadeantes do excesso de peso, refletidos no sedentarismo,
avanços tecnológicos, mundo industrializado, fast-food, dentre outros. Os sujeitos que
apresentam hábitos alimentares inadequados ou irregulares, muitas vezes têm como conseqüência
um aumento de peso e agravo na saúde, fazendo-se necessário, diante disso, buscar alternativas
de tratamento para perda de peso e melhora da qualidade de vida.
1.5 Estratégias utilizadas para perda de peso
Muitas técnicas para emagrecimento são utilizadas com a finalidade de perder peso e
atingir uma qualidade de vida melhor. Pessoas com excesso de peso procuram por diferentes
tratamentos, tais como: clínicas de emagrecimento, uso de medicações anti-obesidade prescritas
ou não por médicos, além de fazerem uso de dietas comerciais.
Knittle e Ginsberg-Fellner (1977) citam que tem sido mostrado um insucesso na
manutenção em longo prazo da perda de peso tanto nos adultos com excesso de peso, quanto para
os que possuem obesidade mórbida, e normalmente os pacientes consultam um médico após o
outro, tentam uma dieta em seguida da outra, sem qualquer sucesso. O paciente perde peso por
um curto intervalo de tempo, mas rapidamente volta ao peso anterior ou até mesmo
ultrapassando-o, em alguns casos, levando a um quadro de obesidade mórbida.
19
1.6 Obesidade mórbida e seus agravos
A obesidade mórbida é uma doença que na contemporaneidade tem se apresentado
como um preocupante problema para a Saúde Pública, devido a sua crescente manifestação, ao
aumento no risco de surgimento de outras patologias, e também, segundo Garrido (2002 apud
Santos 2005) pela taxa de mortalidade, que é 12 vezes maior entre indivíduos com idade entre 25
e 40 anos do que para pessoas de peso normal.
Quando as pessoas com excesso de peso associado à comorbidades ou com obesidade
mórbida esgotam todas as possibilidades de tratamento, a alternativa mais procurada atualmente
são as técnicas cirúrgicas de redução de estômago, tecnicamente denominada de cirurgia
bariátrica. Com a adoção da cirurgia bariátrica, muitos dos males associados à obesidade
(comorbidades) podem ser reduzidos ou não mais se manifestarem, possibilitando uma melhora
na qualidade de vida e decrescendo os índices de mortalidade.
1.7 Cirurgia bariátrica como tentativa de tratamento
A cirurgia bariátrica pode ser dividida em três técnicas cirúrgicas: restritivas,
disabsortivas e mistas. A primeira técnica, diz respeito à diminuição da quantidade de ingestão de
alimento obrigando o paciente ingerir menos alimentos sólidos e conseqüentemente levando o
mesmo a perder peso, a citar cirurgia de Banda Gástrica (prótese de plástico com um balão
inflável) e cirurgia de Mason (grampeamento do estômago); a segunda técnica refere-se ao
grampeamento que o estômago sofre reduzindo cerca de 50% a 70% do seu volume, exemplo,
cirurgia de Scopinaro e derivação bíleo-pancreática; já a terceira técnica reúne elementos tanto de
restrição quanto de absorção, a citar cirurgia de Fobi-Capella.
De acordo com a Federação Internacional para Cirurgia da Obesidade - IFSO e a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica – SBCB (1998) citados por Arruda (2003) os critérios
para a indicação da cirurgia bariátrica como tratamento são:
•
O cliente tem que ter obesidade mórbida, ou seja, ter um IMC acima de 40kg/m², ou IMC
entre 35 a 40 kg/m² desde que haja alguma comorbidade;
•
Insucesso de tratamento clínico por 3 anos;
20
•
Risco cirúrgico aceitável, isto é, ausência de patologias que aumentem o risco cirúrgico
como enfisema pulmonar, nefropatia, cirrose;
•
Comportamento com ajuste social, isto é ausência de comportamento de alcoolismo ou
utilização de drogas e psicopatias não controladas;
•
Capacidade cognitiva para poder entender as implicações da cirurgia, os riscos,
desconfortos e os muitos exames pré-operatórios e aceitar o procedimento cirúrgico;
•
Idade não superior a 60 anos.
Para Ades e Kerbauy (2002) os hábitos alimentares, em geral, e a relação que a
pessoa estabelece com o alimento, em particular, não são alterados apenas com a realização da
cirurgia. Os pacientes obesos que seguem qualquer espécie de tratamento para perda ou
diminuição de peso necessitam de acompanhamento em longo prazo. A explicação para o
comportamento de comer em excesso é multifatorial, deve-se levar em consideração a história
pessoal de cada indivíduo em relação ao alimento.
De acordo com Knittle e Ginsberg-Fellner (1977), os programas de redução de peso
devem ser instituídos quando as pessoas apresentarem um excesso de peso, onde o número total
de células gordurosas esteja acima dos valores normais para adultos. Caso seja necessário alterar
os padrões de alimentação – e podem de fato ser alterados – então a intervenção precoce em
indivíduos com sobrepeso tende a se mostrar mais proveitosa em longo prazo, impossibilitando o
alcance da obesidade em seu maior grau.
Para se ter uma classificação de peso ideal, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
utiliza como referencial o Índice de Massa Corpórea (IMC)2. Segue na tabela a classificação das
diferentes categorias da obesidade.
2
O Índice de Massa Corpórea (IMC) consiste na equação: peso (em quilos) dividido pelo quadrado da altura (em
metros).
21
Tabela 1 - Classificação das diferentes categorias da obesidade.
IMC
Resultado
20 - 25
Normal / Saudável: pessoas sem problemas de obesidade.
26 - 30
Sobrepeso: pessoas com risco pequeno de adquirir doenças associadas.
31 - 35
Obesidade leve: o risco de adquirir doenças ligadas à obesidade começa a
aumentar.
36 - 40
Obesidade moderada: os riscos de doenças associadas são bem maiores.
Acima de 40
Obesidade mórbida: implica sérios riscos de doenças associadas à obesidade e
pessoas classificadas como obesos mórbidos devem considerar a intervenção
cirúrgica como opção válida para seu tratamento.
Fonte: Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade (NTCO).
Para que as técnicas de redução de peso, aqui incluindo a cirurgia de redução do
estômago, sejam eficazes é necessário um compromisso dos indivíduos que buscam estes
tratamentos para emagrecer e que os mesmos apresentem comportamentos facilitadores na
manutenção do peso perdido, trazendo como conseqüência uma melhora na qualidade de vida.
Estes indivíduos que adotam tratamentos para combate à obesidade, em especial a cirurgia
bariátrica devem adotar os critérios (dieta balanceada, exercícios físicos, acompanhamento
terapêutico etc.) estabelecidos pela equipe envolvida no tratamento, para que tenham bons
resultados e uma perda de peso considerável para a melhora na saúde e bem estar.
1.8 Acompanhamento pós-cirurgia
Asher (1977) traz que para obter sucesso no tratamento cirúrgico o paciente deve
seguir as orientações propostas pela equipe de profissionais envolvidos neste processo para que o
desconforto associado com a pouca ingestão alimentar seja mais que compensada pelos
benefícios sociais, físicos e psicológicos promovidos com a redução de peso. Alguns indivíduos
não seguem estas orientações e, desta forma, nunca se tornam candidatos ao tratamento bem
sucedido.
Ades & Kerbauy (2002) dissem que é comum encontrar pessoas que precisam de
acompanhamento após a cirurgia, devido a algumas destas apresentarem dificuldades em adaptar-
22
se aos novos hábitos alimentares. Pacientes relatam reações emocionais tais como: ansiedade e
angústia por não poderem exceder a quantidade de alimentos. Assim há pacientes que ingerem
mais alimentos que o permitido, regurgitando ou vomitando após as refeições.
1.9 O papel da Psicologia e a Análise do Comportamento
De acordo com Stenzel (2005), a Psicologia tem trabalhado nos seus mais variados
enfoques para a construção de um espaço de entendimento e tratamento da obesidade. Não
obstante, o autor ainda destaca três áreas do conhecimento acerca da obesidade que são: a
Medicina, durante muito tempo contribuindo com a área; a Nutrição, mais recente incorporada
neste campo, mas muito marcante nos dias atuais; e a Psicologia que aborda a obesidade através
de questões relacionadas à cultura, a genética e aos fenômenos psicossociais.
Dentro da Psicologia, uma das áreas que tem contribuído para o entendimento de
diversos distúrbios de comportamento, incluindo o comportamento alimentar (ADES, 2002;
KERBAUY, 2002) é a Análise do Comportamento (AC). A Análise do Comportamento é uma
área que, segundo Micheletto (1999) permite estudar o comportamento a partir de uma
observação da interação organismo-ambiente, possibilitando desta forma uma melhor previsão e
controle do comportamento. Master et al. (1987) citados por Ribeiro (2001, p. 99) citam que:
Diversas são as abordagens ou linhas terapêuticas dentro da psicologia. Dentre essas
linhas, está a Terapia Comportamental ou, mais especificamente, a Terapia AnalíticoComportamental, que tem como base a Análise do Comportamento e como filosofia o
Behaviorismo Radical. Tal linha terapêutica está comprometida com os princípios da
aprendizagem, que são instrumentos que podem produzir mudanças no comportamento
humano, no sentido de tornar o comportamento do indivíduo mais funcional.
De acordo com Matos (1999, p.8) “a análise do comportamento é basicamente uma
análise do valor adaptativo dos comportamentos em relação a seu meio ambiente”. Os analistas
do comportamento acreditam que as ações do indivíduo promovem mudanças no ambiente e estas
retroagem nos seus comportamentos. Portanto, segundo Asher (1977) para obter êxito é preciso
mudar o ambiente ou aprender a enfrentá-lo. Michelleto (1999) traz ainda que, a preocupação
básica da Análise do Comportamento, é o estudo do comportamento compreendido a partir da
relação organsimo-ambiente, sem que estruturas mediadoras interfiram na investigação destes
23
eventos. O comportamento será então analisado não só como produto do ambiente, mas também
como produto do ambiente social.
Utilizar explicações mentalistas ou estruturas mediadoras como explicação do
comportamento é visto pela Análise do Comportamento como um tipo de explicação fictícia.
Skinner (2003, p.33) ratifica em uma de suas citações que “o hábito de buscar dentro do
organismo uma explicação do comportamento tende a obscurecer as variáveis que estão ao
alcance de uma análise científica”.
Skinner (1969, p.10) diz que “nenhuma descrição do intercâmbio entre organismo e
meio ambiente estará completa enquanto não incluir a ação do ambiente sobre o organismo
depois da emissão da resposta”. Visando uma maior compreensão da relação organismoambiente, faz-se necessário uma análise funcional das contingências que produzem os
comportamentos. Matos (1999) relata também que para o analista do comportamento não há um
agente iniciador, já que o analista comportamental estuda relações, relações funcionais.
O analista comportamental explica a origem dos comportamentos a partir dos três
níveis de seleção por conseqüências propostos por Skinner que são: histórias genéticas
(filogênese), história de vida de cada sujeito (ontogênese) e a história da cultura ou ambiente
social mais amplo no qual o sujeito está inserido.
De acordo com Ribeiro (2001, p. 101) “a terapia comportamental busca trabalhar com
objetivos bem claros, dando oportunidade ao cliente de participar ativamente no seu tratamento.”
Ribeiro (2001, p.100) diz ainda que:
O terapeuta, enquanto um cientista, tem que compreender como o comportamento
problema ou disfuncional se instalou no repertório do indivíduo, quais são as variáveis
atuais mantenedoras desse comportamento e definir qual a forma de diminuir ou cessar
a ocorrência desse comportamento ou de aumentar a ocorrência de comportamentos
opostos. Ao realizar esse trabalho, o terapeuta deve fazer análises funcionais, isto quer
dizer que ele vai avaliar as variáveis de controle, levantar hipóteses acerca da
manutenção de tal padrão comportamental, testar tais hipóteses, reavaliar essas
hipóteses, manipular (na medida do possível) as variáveis independentes e observar o
efeito nas variáveis dependentes, sugerir planos de controle de variáveis ao cliente,
entre outras áreas.
24
Skinner (2003, p. 33) destaca que “as variáveis de controle do comportamento estão
fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história ambiental”.
Os aspectos comportamentais da alimentação, bem como os sentimentos envolvidos
são de grande importância, haja vista que para a Análise do Comportamento o modo como as
pessoas sentem é também um comportamento. Segundo Skinner (2005, p.22) “os sentimentos são
mais facilmente mutáveis através de alterações nos ambientes responsáveis pelo que é sentido”.
Cameschi e Abreu-Rodrigues (2005) citam que as condições corporais sentidas, as observações
introspectivas, fisiológicas e o comportamento alteram-se devido não aos sentimentos, mas às
contingências reforçadoras ou punitivas que são causas comuns do que é sentido, das mudanças
no sentimento e no comportamento. Para Guilhardi (2004) os sentimentos não são considerados
causa de comportamento, mas sim comportamentos, produzidos por contingências de
reforçamento.
Quando olhamos para as contingências de reforçamento, observamos que uma
resposta aumenta a probabilidade de ser emitida novamente na presença de um estímulo, por
conta das suas conseqüências (reforçadoras). Os estímulos reforçadores aumentam esta
probabilidade de emissão da resposta futura e isto pode ocorrer por dois tipos de processos:
reforçamento positivo ou negativo.
No reforçamento positivo a resposta emitida pelo sujeito aumenta em freqüência, pois
há apresentação de um estímulo reforçador. Já no reforçamento negativo a probabilidade de
aumento da resposta ocorre devido à retirada de uma estimulação aversiva do ambiente, podendo
ocorrer comportamento de fuga3 ou de esquiva4. O reforçamento negativo permeia, muitas vezes,
um ambiente coercitivo.
De acordo com Skinner (2003) alguns reforços consistem na apresentação de
estímulos, no acréscimo de alguma coisa à situação e estes são denominados reforços positivos.
Outros consistem na remoção de alguma coisa da situação e estes se denominam reforços
negativos. Em ambos o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada.
3
A fuga se caracteriza por uma reposta emitida pelo sujeito que remove uma estimulação aversiva presente no
ambiente (CATANIA, 1999).
4
A esquiva se caracteriza por uma resposta emitida pelo sujeito que evita ou atrasa uma estimulação aversiva
(CATANIA, 1999).
25
Catania (1999, p.92) pontua que “a terminologia do reforço requer que uma resposta
tenha uma conseqüência, que o responder aumente e que o aumento ocorra porque o responder
tem conseqüências e não por outras razões”.
No caso da obesidade, a comida, muitas vezes, funciona como um reforçador
negativo por retirar ou remover do ambiente uma estimulação aversiva (ansiedade, estresse,
tristeza, angústia etc.), sendo a comida um estímulo atenuante em contingências aversivas. É
importante mencionar que para a Análise do Comportamento, estímulo é tudo aquilo que afeta o
organismo, podendo ser estímulos públicos (observáveis por dois ou mais observadores) ou
estímulos privados (acessíveis e observáveis apenas pelo organismo que se comporta).
No que se refere à alimentação podemos supor que sujeitos com sobrepeso ou
obesidade são mais sensíveis ao reforço imediato e a satisfação que a ingestão do alimento
promove, do que às conseqüências aversivas de médio e longo prazos (sobrepeso, obesidade,
agravos na saúde). Esta contingência em atuação é nomeada por Baum (1999) de contingência
armadilha. O mesmo autor a classifica como conseqüências aversivas que ocorrem tardiamente,
não sendo, em alguns momentos, discriminadas pelo sujeito. As contingências geradoras ou
mantenedoras de tais comportamentos levam a pequenos ganhos num período curto de tempo,
prejudicando a qualidade de vida em longo prazo.
Tendo como finalidade diminuir ou até mesmo eliminar possíveis fatores
influenciados pela contingência armadilha, é fundamental adotar estratégias de autocontrole.
Porém, a grande questão do autocontrole, no caso o alimentar, de acordo com Duchesne (1998) é
que os comportamentos inadequados (comer em excesso, ingestão de alimentos hipercalóricos
etc) são de fácil emissão, sendo as conseqüências imediatas destes, muito reforçadoras.
Sugere-se aqui que o autocontrole ou a falta dele interferem no comportamento
alimentar e no comer em excesso. Ribeiro e Hanna (2003) dizem que o autocontrole ocorrerá
quando um indivíduo conseguir realizar arranjos em seu ambiente de forma a controlar melhor
seu comportamento no futuro próximo ou distante.
26
Provavelmente, para se desenvolver autocontrole sobre o comportamento alimentar
será fundamental entender de técnicas de controle de estímulos. Na medida em que o contexto
onde o comportamento alimentar ocorre (estímulos antecedentes) torna o comer mais provável,
qualquer modificação no antecedente que mantenha o comer em excesso pode aumentar a chance
de êxito.
De acordo com Baum (1999) o controle de estímulos, ou seja, o controle destas
variáveis age diretamente no comportamento dentro de determinado contexto. No caso de pessoas
com obesidade, seus comportamentos, muitas vezes, são afetados diretamente por estímulos.
Estas pessoas emitem respostas que foram reforçadas na presença de um estímulo discriminativo
(Sd) e isto ocorre por conta de uma história prévia de reforçamento.
Abreu-Rodrigues e Beckert (2004) relatam que o autocontrole não é uma
característica generalizada, ou seja, o indivíduo pode apresentar autocontrole em situações
profissionais, afetivas, sociais, mas não apresentar este no que se refere a sua alimentação. Isto
por conta de que um comportamento, para ser classificado como autocontrole ou impulsividade
dependerá do contexto em que o mesmo ocorrer.
Diante das informações trazidas acerca da obesidade, é notado que esta merece uma
maior atenção, já que sua incidência vem aumentando de forma significativa. Assim, deve-se
analisá-la de forma integral, considerando o desenvolvimento do sobrepeso a partir da história de
vida de cada sujeito.
Devido a escassez de estudos sobre os efeitos da cirurgia bariátrica na vida dos
sujeitos, percebe-se uma necessidade vigente de compreender o paciente pós-operado, bem como
identificar as principais mudanças que ocorreram nas áreas mais significativas da vida deste.
27
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Compreender as principais mudanças relatadas pelos sujeitos que se submeteram à cirurgia
bariátrica pela técnica de Fobi-Capella e a adaptação dos mesmos a um novo ambiente
estabelecido neste processo, bem como entender os relatos de profissionais que estejam
envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade.
2.2 Específicos
•
Caracterizar o paciente pós-operado;
•
Descrever as principais mudanças relatadas pelos sujeitos pós-operados;
•
Descrever as principais mudanças relatadas pelos profissionais que estejam envolvidos no
tratamento e cirurgia da obesidade;
•
Identificar em sujeitos pós-operados possíveis fatores que dificultam e/ou facilitam no
processo de adaptação.
28
3 METODOLOGIA
3.1 DESENHO DE ESTUDO
Inicialmente foi pensado para a pesquisa um grupo focal, partindo de um estudo de
caso, mas algumas foram apresentadas, tais como: local para realização do grupo, horários
compatíveis com os participantes, tempo para coleta e análise dos dados. Assim resolveu-se
utilizar uma pesquisa exploratória.
Esta é uma pesquisa qualitativa que, segundo Oliveira (2002) não emprega dados
estatísticos como foco para a análise de hipóteses. Este tipo de pesquisa possibilita uma maior
facilidade para descrever hipóteses ou problemas complexos, analisa interações entre as
variáveis, sugere outras opiniões e, por fim, permite a interpretação das individualidades
(motivações, valores, opiniões e atitudes) dos sujeitos.
Por ser um tema pouco explorado, com escassos trabalhos publicados, optou-se
utilizar a pesquisa exploratória que é considerada por Gil (2006) como pertinente para temas
pouco explorados e difíceis na formulação de hipóteses precisas e operacionalizáveis. A pesquisa
exploratória segundo Gil (2006) tem como intuito desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e
idéias, vislumbrando futuras formulações de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis
para outros estudos. Esta é considerada como a pesquisa de menor rigidez no planejamento.
Ainda segundo este autor as pesquisas exploratórias objetivam proporcionar uma visão geral, do
tipo aproximativo acerca de determinado acontecimento.
3.2 CONTEXTO DE PESQUISA
A pesquisa foi realizada em um hospital particular de grande porte, localizado na
cidade de Salvador que oferece serviços de tratamento à obesidade há mais de quatro anos. O
serviço conta com uma equipe interdisciplinar constituída por médicos (cirurgiões e cirurgiã
plástica), nutricionista e psicóloga. O serviço organiza reuniões quinzenais para grupos de
sujeitos candidatos à cirurgia que desejem maiores esclarecimentos sobre a mesma e grupos pósoperatórios no intuito de fazer um melhor acompanhamento destes. As reuniões abertas a
29
pacientes e familiares são importantes na medida em que fornecem informações sobre o
tratamento cirúrgico da obesidade e os riscos e benefícios da mesma (REPETTO E RIZZOLLI,
2006).
3.3 PARTICIPANTES
Participaram do estudo vinte e oito pacientes de ambos os sexos, com idade entre 20 a
29 anos, 30 a 39 anos e 40 a 50 anos, que se submeteram à cirurgia bariátrica pela técnica de
Fobi-Capella, há no mínimo um ano. Também participaram do estudo sete profissionais (04
cirurgiões, 01 cirurgião plástico, 01 nutricionista e 01 psicóloga) envolvidos no tratamento e
cirurgia da obesidade. Os participantes responderam aos questionários semiestruturados que
foram elaborados e aplicados pelas pesquisadoras.
Foram utilizados os seguintes critérios para seleção de pacientes:
•
Ter feito cirurgia bariátrica através da técnica Fobi-Capella.
•
Ter no mínimo um ano de pós-operatório.
•
Ter idade entre 20-50 anos.
3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
1ª Etapa
As pesquisadoras contactaram a Instituição para informações gerais desta e a
disponibilidade da mesma para realização da pesquisa. Em seguida ao contato inicial, as
pesquisadoras participaram de algumas reuniões promovidas pela Instituição, nas quais tiveram
acesso a equipe de profissionais envolvida no tratamento da obesidade. A partir destas reuniões,
foram aplicados os questionários dos profissionais, sendo que alguns destes só deram retorno dois
meses depois. Houve, ainda nesta etapa, a tentativa de conseguir alguns pacientes que
freqüentavam as reuniões para que estes respondessem aos questionários, mas não foi obtido
sucesso. Esta primeira etapa foi realizada nos meses de julho e agosto de 2006.
30
2ª Etapa
Foram buscadas algumas alternativas de contato com os pacientes para pesquisa. Tais
alternativas foram: idas à Instituição para aquisição de lista de contatos dos pacientes, contatos
através da internet e indicação de pacientes através de outras pessoas. O acesso mais eficiente a
esses sujeitos voluntários foi por meio da internet, onde possibilitou as pesquisadoras adquirirem
contatos telefônicos para marcação das aplicações dos questionários. Os questionários foram
respondidos em diversos lugares, mediante escolhas do próprio participante da pesquisa, tais
como: em suas residências, locais de trabalho dos mesmos, shoppings, academias, dentre outros.
Antes da aplicação dos questionários, as pesquisadoras esclareceram os objetivos do
estudo e os pacientes só responderam os questionários mediante assinatura prévia do termo de
consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A), autorizando assim a utilização dos dados
coletados para a pesquisa. Esta etapa foi realizada nos meses de agosto e setembro de 2006.
3.5 INSTRUMENTOS
No início da pesquisa pensou-se em utilizar entrevistas para coleta dos dados,
entretanto, a utilização deste instrumento tornou-se inviável por conta do tempo e da
disponibilidade dos participantes da pesquisa.
Diante disto o instrumento utilizado para obtenção de dados foram questionários
semiestruturados para pacientes e profissionais. Define-se questionário, segundo Gil (2006) como
a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças,
sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.
Descrição dos questionários:
a) Questionários semiestruturados desenvolvidos pelas pesquisadoras para aplicação
em pacientes pós-operados de cirurgia bariátrica (APÊNDICE B). Tal questionário consta de 12
questões que abordam temas como: fatores de influência no comportamento alimentar, fatores
que levaram à realização da cirurgia, dificuldades no pós-operatório, mudanças nos
31
comportamentos e nas emoções pós-cirurgia e a relação no pré e pós-operatório do sujeito com a
saúde, a alimentação, o corpo, a vida social, o trabalho e o desempenho sexual.
b) Questionários semiestruturados desenvolvidos pelas pesquisadoras para aplicação
em profissionais da equipe envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade (APÊNDICE C).
Tal questionário consta de 10 questões que abordam temas como: participação no tratamento da
obesidade, resultados esperados com o tratamento, percepção sobre a população de obesos que
procuram este serviço, mudanças notadas nos pacientes operados há no mínimo 01 ano,
dificuldades percebidas nesta população pós-operada e sugestões de procedimentos, técnicas e
serviços que poderiam ser oferecidos aos pacientes no processo de adaptação pós-operatório.
A utilização dos questionários semiestruturados possibilitou atingir um grande
número de pessoas envolvidas no fenômeno estudado, permitindo que as mesmas o respondessem
no momento em que julgassem mais conveniente.
3.6 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS
Os dados foram analisados qualitativamente e agrupados em seis categorias: perfil
dos pacientes que realizaram a cirurgia bariátrica; fatores que na percepção dos pacientes os
levaram realizar a cirurgia bariátrica; dificuldades de adaptação pós-cirúrgica; mudanças
positivas e negativas nos comportamentos e nas emoções; relação dos pacientes com a saúde,
alimentação, corpo, vida social, trabalho e desempenho sexual antes da cirurgia; e a relação dos
pacientes com a saúde, alimentação, corpo, vida social, trabalho e desempenho sexual após a
cirurgia.
•
A primeira categoria possibilitou identificar alguns dados que traçaram o perfil dos
pacientes que realizaram a cirurgia, tais como: sexo, idade, idade de início do sobrepeso,
tempo de pós-operatório, tipo de acesso cirúrgico, média de peso eliminado pós-cirurgia,
principais estratégias utilizadas pelos pacientes ao longo da vida para perda ou diminuição
de peso e variáveis que dificultaram o controle do comportamento alimentar.
32
•
A partir de perguntas sobre os principais fatores que levaram este sujeito a realizar a
cirurgia, a segunda categoria identificou alguns destes que, de acordo com os pacientes
motivaram os mesmos realizarem a cirurgia.
•
Através de perguntas sobre as possíveis dificuldades de adaptação pós-cirúrgica
vivenciadas pelos pacientes, a terceira categoria identificou algumas, tais como: restrição
alimentar, reações orgânicas e alterações emocionais.
•
Utilizando perguntas sobre possíveis mudanças nos comportamentos e nas emoções após
cirurgia, a quarta categoria pontuou algumas como positivas e outras como negativas.
•
Já na quinta categoria foram expostas as relações dos pacientes antes do processo
cirúrgico com: sua saúde, seu corpo, sua alimentação, sua vida social, seu trabalho e seu
desempenho sexual.
•
E por fim, na sexta categoria foram expostas as relações dos pacientes após a cirurgia nos
aspectos presentes na categoria anterior.
Para análise dos dados dos profissionais também foram utilizadas seis categorias: perfil
dos profissionais envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade; resultados esperados com o
tratamento cirúrgico relatados pelos profissionais; percepção dos profissionais sobre a população
de obesos que procura o tratamento cirúrgico; mudanças percebidas pelos profissionais em
pacientes operados há no mínimo um ano; dificuldades percebidas pelos profissionais como mais
freqüentes no acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes; e procedimento, técnicas e serviços
sugeridos pelos profissionais no processo de adaptação pós-operatória dos pacientes.
•
A primeira categoria possibilitou elaborar o perfil dos profissionais envolvidos no
tratamento da obesidade, identificando alguns dados tais como: sexo, idade,
especialidades, tempo de trabalho atendendo pacientes obesos e sua participação no
tratamento da obesidade.
•
A segunda categoria trouxe relatos acerca dos resultados que são esperados pelos
profissionais envolvidos com o tratamento cirúrgico.
33
•
Na terceira foram expostas percepções dos profissionais acerca da população de obesos
que recorrem ao tratamento cirúrgico.
•
Na quarta identificaram-se algumas mudanças que são percebidas pelos profissionais em
pacientes operados há no mínimo um ano.
•
Já na quinta categoria identificaram-se algumas dificuldades ditas como mais freqüentes
pelos profissionais no acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes.
•
Na sexta e última categoria foram listadas sugestões trazidas pelos profissionais acerca de
possíveis procedimentos, técnicas e serviços para um melhor acompanhamento do
processo de adaptação pós-operatória dos pacientes.
3.7 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
Para a realização deste estudo, alguns cuidados éticos foram adotados. A pesquisa
seguiu as diretrizes éticas que norteiam os estudos que envolvem seres humanos (resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde e resolução 016/2000 do Conselho Federal de
Psicologia). Assim foi elaborada uma autorização, onde os pacientes participantes deveriam
assiná-la antes da aplicação dos questionários. Diante disto, foi possibilitado aos mesmos,
esclarecimentos sobre o objetivo da pesquisa, bem como o sigilo de todas as informações
(APÊNDICE A).
34
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Utilizou-se para análise dos dados seis categorias, visando caracterizar pacientes que
realizaram a cirurgia bariátrica, os fatores que na percepção dos mesmos os levaram realizar a
cirurgia, as dificuldades de adaptação pós-cirúrgicas citadas por estes, as mudanças positivas e
negativas nos comportamentos e nas emoções, e ainda a relação destes pacientes pré e póscirurgia com a saúde, alimentação, corpo, vida social, trabalho e desempenho sexual. É
importante esclarecer que em alguns itens os pacientes puderam trazer mais de uma resposta.
4.1 Perfil dos pacientes que realizam a cirurgia bariátrica
Participaram da pesquisa 28 pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica
(técnica fobi-capella) há pelo menos 01 ano. Destes 28 pacientes, 23 (82%) são do sexo feminino
e 05 (18%) do sexo masculino, dentre estes, a maioria se encontra na faixa etária compreendida
entre 30 a 39 anos (FIGURA 1).
Figura 1 – Distribuição dos pacientes pós-operados por faixa etária.
18
17
Número de pacientes pós-operados
15
12
9
6
6
5
3
0
20 a 29
30 a 39
40 a 50
Faixa etária
A idade de início da história do sobrepeso, na sua grande maioria, está compreendida
na faixa etária que vai do 0 aos 11 anos, cerca de 15 (54%) dos pacientes (FIGURA 2). O início
35
precoce do sobrepeso faz pensar nos padrões alimentares construídos através de modelos
familiares (relação com os alimentos e tipos de alimentos) ainda nos primeiros anos de vida.
Segundo Heller (2006) os pais, os familiares, os educadores são considerados os
principais
modelos
de
comportamento
na
infância
assumindo
responsabilidade
no
desenvolvimento infantil. Estes modelos quando apresentam uma dieta equilibrada, ensinam
padrões de comportamentos alimentares adequados para as crianças, estabelecendo uma boa
relação destas com o alimento, passando este alimento apenas a ter o papel de nutrir e auxiliar no
desenvolvimento da criança. Assim, mudanças dos hábitos alimentares, com o passar do tempo,
tornam-se mais difíceis. “A análise das circunstâncias de vida, dos fatores biológicos e culturais
para cada uma das pessoas determinará porque cada indivíduo ganha ou não peso” (ADES E
KERBAUY, 2002, p.5).
Figura 2 – Idade de início da história do sobrepeso.
16
15
Número de pacientes pós-operados
14
12
10
8
6
6
6
4
2
1
0
0 a 11
12 a 19
20 a 29
Acima de 30 anos
Faixa etária de sobrepeso
Dos 28 pacientes, 22 (79%) relataram ter entre 01 a 02 anos de pós-operatório e seis
(21%) entre dois anos e 01 mês a três anos e 03 meses. Com relação ao acesso cirúrgico, 27
(96%) dos pacientes relataram a utilização do videolaparoscópico (cirurgia por vídeo) e apenas
01 (4%) acesso convencional (cirurgia aberta).
36
No que se referem as principais estratégias utilizadas pelos pacientes ao longo da vida
para perda ou diminuição do peso destacam-se as dietas com endocrinologista (relatadas por
todos), “vigilantes do peso” relatados por 25 (89%) pacientes, uso de medicamentos relatados por
23 (82%) pacientes e dietas com nutricionista relatadas por 19 (68%) pacientes. Outras
estratégias também foram mencionadas, como: clínicas de emagrecimento (Spa) e dietas da moda
(TABELA 2).
Tabela 2 – Principais estratégias utilizadas pelos pacientes ao longo da vida
para perda de peso.
Estratégias utilizadas
Números de pacientes
%
Dietas com endocrinologista
28
100
Vigilantes do peso
25
89
Uso de medicamentos
23
82
Dietas com nutricionistas
19
68
É trazido por Elias (2005) que dentre os recursos destinados à perda de peso buscados
pelos indivíduos, existe uma variedade de dietas restritivas, medicamentos direcionados ao
controle do apetite, tratamentos nutricionais e comportamentais, internação em clinicas de
emagrecimento (spas), chegando até a utilização de cirurgias em casos de obesidade mórbida. De
acordo com Heller (2006, p.111) “o tratamento da obesidade na vida adulta é notadamente
frustrante já que esta patologia é recidiva e poucos são os pacientes que obtém sucesso a longo
prazo (30% em média)”.
As principais variáveis que influenciaram no comportamento alimentar, segundo
relato dos pacientes foram: falta de comportamento de autocontrole – 23 (82%) dos pacientes; e
sentimentos/emoções – 20 (71%) dos pacientes. As outras variáveis relatadas foram: aspectos
genéticos/biológicos – 07 (25%) dos pacientes; modelo familiar – 05 (18%) dos pacientes;
sedentarismo – 05 (18%) dos pacientes; dietas inadequadas – 03 (11%) dos pacientes; e uso de
medicações – 03 (11%) dos pacientes (TABELA 3).
De um modo geral é comum as pessoas atribuírem aos seus sentimentos/emoções as
causas para alguns de seus comportamentos. Silva (2001) ratifica este fato quando diz que os
37
pacientes obesos, quando chegam ao consultório, querem aprender a controlar ou livrar-se dos
seus sentimentos/emoções, pois acreditam que só desta forma conseguirão também controlar o
comportamento alimentar. Ainda para a mesma autora, a relação da pessoa obesa com a comida é
fortalecida devido ao prazer que o alimento proporciona quando ingerido, reduzindo os níveis de
sentimentos/emoções, servindo este alimento como reforçador negativo, ou seja, a retirada de
estimulações aversivas (alguns sentimentos/emoções desagradáveis) que, de acordo com a pessoa
obesa causam o comer em excesso.
Tabela 3 – Variáveis que influenciam o comportamento alimentar na
percepção dos sujeitos.
Variáveis que influenciam o comportamento alimentar
Números de pacientes
%
Falta de comportamento de autocontrole
23
82
Sentimentos e emoções
20
71
Aspectos genético/biológicos
07
25
Modelo familiar
05
18
Sedentarismo
05
18
Dietas inadequadas
03
11
Uso de medicações
03
11
4.1.1 Fatores que na percepção dos pacientes os levaram realizar a cirurgia bariátrica
Os pacientes relataram que os principais fatores que os levaram a realizar a cirurgia
foram: os problemas de saúde (86%) dos pacientes, a baixa auto-estima (75%), emagrecer e
melhorar a aparência (46%); ter conhecido pessoas que obtiveram sucesso com a cirurgia (39%) e
isolamento social e/ou familiar (18%) (TABELA 4). Tais dados sugerem que a busca de uma
melhora na saúde seria uma das conseqüências pós-cirúrgicas mais reforçadoras, levando a maior
parte destes buscar a cirurgia bariátrica como tratamento da obesidade.
Um dos fatores que chamou atenção foi “melhorar a auto-estima”. Guilhardi (2002, p.
12) define a auto-estima como “um sentimento aprendido e desenvolvido durante a vida da
pessoa”. Segundo o mesmo autor esta “é produzida por uma história de reforçamento positivo
social, em que a pessoa tem seus comportamentos reforçados pelo outro”. A auto-estima se
desenvolve a partir de relações interpessoais, onde a pessoa, e não somente seus comportamentos
38
é reforçadora para o outro. Ainda para o mesmo autor a “auto-estima só se desenvolve a partir da
inserção da pessoa num contexto social e esse desenvolvimento é proporcional à capacidade do
meio social (dos pais, família etc.) de prover reforçadores positivos para seus membros (filhos
por ex.)”.
Tabela 4 – Principais fatores que, na percepção dos sujeitos, os levaram a realizar a
cirurgia.
Principais Fatores
Número de pacientes
%
Problemas de saúde
24
86
Melhorar a auto-estima
21
75
Emagrecer e melhorar a aparência
13
46
Conhecer pessoas que obtiveram sucesso com a cirurgia
11
39
Isolamento social e/ou familiar
05
18
Entretanto, no caso das pessoas obesas, a auto-estima recebe pouca contribuição para
o seu desenvolvimento, devido a esses sujeitos estarem expostos a contingências coercitivas nos
mais diversos contextos da vida. Estas pessoas são constantemente criticadas pelo meio social em
relação ao seu corpo, a falta de controle alimentar etc, e sentem-se, desta forma, rejeitadas,
discriminadas e incapazes. As conseqüências das críticas trazidas pela sociedade interferem,
muitas vezes, na auto-estima e auto-imagem das pessoas com sobrepeso (HELLER, 2006).
Tais resultados estão em acordo com a literatura quando Hayes (1987) apud Silva
(2001, p. 266) diz que:
É comum ou freqüente a pessoa obesa ter sua auto-estima e auto-imagem rebaixadas.
Isso não só tem a ver com a sua história passada, na qual seu ambiente foi pouco
generoso quanto à valorização e bastante farto quanto as críticas negativas, mas também
com a sua história atual (dada a sua condição). Costuma-se criticar a pessoa e não o seu
comportamento. Dessa forma, ela pode adquirir uma reação de auto-anulação e autorejeição, acreditando que não tem valor, “não faz diferença, é inferior, não consegui, é
errada”.
4.1.2 Dificuldades de adaptação pós-cirúrgica
Dentre os 28 pacientes participantes da pesquisa, 21 (75%) relataram não ter tido
dificuldades de adaptação pós-cirurgia, enquanto 07 (25%) relataram ter apresentado algumas
dificuldades. Os 25% dos pacientes que relataram dificuldades pós-cirurgia estariam propensos
39
ao insucesso cirúrgico. Para que haja um bom resultado no processo de adaptação pós-cirúrgico é
necessário que os pacientes estejam engajados, seguindo as instruções e orientações passadas pela
equipe de profissionais envolvida.
Dos 07 pacientes que relataram dificuldades na adaptação pós-cirurgia, todos fazem
referência a restrição alimentar como a principal delas, já 06 (86%) destes relataram reações
orgânicas (enjôos, entalos e vômitos) como dificuldades e 05 (71%) destes atribuem a dificuldade
às alterações emocionais.
Estes dados são confirmados por Ades e Kerbauy (2002) que relatam existirem
pacientes que ingerem mais alimentos que o permitido (restrição alimentar) e regurgitam ou
vomitam após as refeições (reações orgânicas) e estes ainda relatam muita ansiedade e até
angústia por não poderem comer a quantidade que desejam (reações emocionais).
4.1.3 Mudanças positivas e negativas nos comportamentos e nas emoções
Uma grande parte dos sujeitos (89%) relataram ter ocorrido mudanças em seus
comportamentos e emoções, enquanto 03 (11%) destes relataram não ter ocorrido tais mudanças.
As principais mudanças relatadas pelos sujeitos pós-operados foram: mudanças emocionais,
físicas, na saúde, sociais e no desempenho sexual. Cada uma dessas mudanças foi analisada no
aspecto positivo e no aspecto negativo.
Foram relatados 54 tipos de mudanças emocionais. Deste total, 36 (67%) foram
descritas como positivas e 18 (33%) como negativas (medo, depressão, euforia, impaciência,
intolerância, ansiedade). Em relação às mudanças físicas e na saúde, todas foram relatadas como
positivas. Já mudanças sociais, foram citadas 09 (82%) mudanças positivas e 02 (18%) negativas
(isolamento social e falta de relacionamento amoroso). Por fim, 01 (50%) mudança positiva no
desempenho sexual (sentir-se mais sexy) foi relatada e 01 (50%) negativa (falta da libido).
Dos pacientes que relataram mudanças nos comportamentos e nas emoções após a
cirurgia, estes relataram mais tipos de mudanças positivas do que negativas em relação a todos os
aspectos citados anteriormente.
40
Apesar de terem sido relatadas algumas mudanças negativas, a maior parte dos relatos
diz respeito a mudanças positivas, o que sugere satisfação dos sujeitos com os resultados
esperados pela cirurgia.
4.1.4 Relação dos pacientes com a saúde, alimentação, corpo, vida social, trabalho e
desempenho sexual antes da cirurgia
No que diz respeito à saúde dos pacientes antes da cirurgia, 18 (64%) relataram
presença de comorbidades tais como: hipertensão, diabetes, esteatose hepática, apnéia do sono,
dentre outras. Matos e Bahia (1998) confirmam que “a obesidade é uma doença crônica que
acarreta outras doenças graves como diabetes mellitus, hipertensão arterial, apnéia do sono dentre
outras ratificando também que o excesso de peso é visto como grande risco a saúde, trazendo
adoecimento, incapacitação e em alguns casos a morte, justamente em decorrência das
comorbidades.
Em relação à alimentação dos pacientes antes da cirurgia 27 (96%) destes relataram
falta de autocontrole no comportamento alimentar. A falta de autocontrole parece ser uma
variável importante na compreensão do comportamento alimentar dos obesos.
Já no que se refere ao corpo dos pacientes antes da cirurgia, 23 (82%) destes relatam
insatisfação com o corpo caracterizada por vergonha, sentir-se velha, uso de roupas grandes para
esconder o corpo, dificuldade em comprar roupas, fora do padrão social. Estes dados estão de
acordo com Silva (2001) quando esta ressalta que a pessoa obesa ignora o seu corpo e este tornase, na maioria dos casos, aversivo, diante dos padrões de beleza impostos pela sociedade, pois de
acordo com Heller (2006) a beleza está associada à magreza e isto é perceptível através das
pressões sócio-culturais sofridas por estas. Assim, a pessoa obesa esconde o corpo através de
vestimentas grandes, isolamento social dentre outras, dificultando o seu contato com o ambiente.
Na vida social dos pacientes antes da cirurgia, 13 (46%) relataram retraimento social
(evitar sair de casa), já 10 (36%) destes afirmaram ter boas relações sociais (facilidade de fazer
amigos, gostar de sair, dentre outras) e 05 (18%) destes relataram outros fatores da vida social
tais como: amizade virtual, relação obrigatória com o público por conta do trabalho dentre outros.
Tais dados sugerem que as pessoas com obesidade, devido a insatisfação com o corpo e por
41
receio de uma possível discriminação social, acabam se isolando ou evitando se expor. De acordo
com Elias (2005) ao considerar fatores culturais, é percebida uma pressão social para que o
sujeito se apresente magro, atribuindo um significado excessivo acerca do peso e forma do corpo,
gerando, muitas vezes uma estereotipia em relação aos obesos.
No que tange o trabalho, dos 195 pacientes que trabalhavam antes da cirurgia, 08
(42%) destes relataram indisposição (cansaço físico, preguiça, dentre outras), 06 (32%) destes
relataram disposição e 05 (26%) destes relataram que outros fatores estavam associados ao
trabalho, tais como: estresse, vergonha, incapacidade dentre outro. É provável que a indisposição
para o trabalho esteja relacionada aos limites físicos que os pacientes apresentavam, decorrente
do excesso de peso.
Entre os aspectos relacionados ao desempenho sexual dos pacientes antes da cirurgia
16 (57%) destes relataram desempenho sexual ruim devido a vergonha do corpo, cansaço
excessivo, dificuldade de chegar ao orgasmo dentre outros; já 08 (29%) destes relataram bom
desempenho caracterizado por apetite sexual, motivação para o sexo dentre outras; e 04 (14%)
destes atribuíram outras características tais como o sexo como forma de aceitação, ainda não ter
tido relações sexuais dentre outras. Pode-se pensar que o desempenho sexual tem alguma relação
com a imagem corporal e as limitações físicas dos mesmos, devido ao excesso de peso.
4.1.5 Relação dos pacientes com a saúde, alimentação, corpo, vida social, trabalho e
desempenho sexual após a cirurgia
Referente à saúde dos pacientes, 19 (68%) destes relataram melhora e em alguns
casos desaparecimento das comorbidades associadas à obesidade. Estes dados são confirmados
por Arruda (2003, p. 335-336) quando esta diz que “o tratamento cirúrgico é praticamente o
único método cientificamente comprovado que promove acentuada e duradoura perda de peso,
reduzindo as taxas de mortalidade, resolvendo e às vezes minimizando uma série de doenças
associadas à obesidade mórbida”.
5
Os 9 (32%) dos pacientes restantes da amostra de 28 (100%) não trabalham, não sendo necessário responder a essa
questão.
42
No que se refere à alimentação após a cirurgia, 24 (86%) sujeitos relataram controle
alimentar e 04 (14%) relataram ainda existir falta de controle. Percebe-se, no que diz respeito à
falta de controle alimentar pós-cirurgia, ainda que os dados não sejam representativos, uma
necessidade de destacar que, apenas a cirurgia, não seria capaz de mudar hábitos alimentares.
Porém, os dados confirmam que uma grande parte dos pacientes conseguiu autocontrolar-se
diante da comida, levantando-se assim a hipótese desse autocontrole no comportamento alimentar
estar associado às restrições e determinações de hábitos impostos pelo pós-operatório, modelando
a ingestão de alimentos.
Na relação com o corpo, 24 (86%) destes relataram ter maiores cuidados com o corpo
através de plásticas, uso de cosméticos, atividades físicas, dentre outros e 03 (11%) relataram
ainda estarem insatisfeitos com seu corpo. Levanta-se a hipótese desta satisfação estar atrelada à
inserção destes pacientes nos padrões sociais (corpo magro), ressaltando que é provável que a
busca pelo “corpo perfeito” seria uma das principais variáveis motivacionais para realização da
cirurgia. Esta satisfação com o corpo é referente ao reforço social provido a estas pessoas,
promovendo desta forma melhora na auto-estima.
Na vida social, 27 (96%) destes relataram uma significativa melhora nas relações
sociais e apenas 01 (4%) destes relata ainda ter dificuldades em se relacionar socialmente. Podese imaginar que, diante da melhora na disposição física e na aparência, atendendo aos padrões
sociais, possibilita uma reinserção dos pacientes no meio social após a cirurgia bem sucedida.
No que tange à relação dos 196 pacientes com o seu trabalho após a cirurgia, 16
(84%) destes relataram estarem dispostos a realizarem suas atividades laborais e 03 (16%) destes
relataram indisposição. Os dados mostram que a maior dos pacientes estão dispostos ao trabalho
após a cirurgia, podendo assim fazer referência dessa disposição à melhora do desempenho físico
e melhor inserção social.
No desempenho sexual, 23 (82%) relataram satisfação (dispostos, ágeis, dentre
outros) e 07 (25%) atribuíram o desempenho sexual a outros fatores como: falta da libido e
indisposição. De acordo com os dados, pode-se sugerir que a satisfação está atrelada, como dito
6
Os 9 (32%) dos pacientes restantes da amostra de 28 (100%) não trabalham, não sendo necessário responder a essa
questão.
43
anteriormente, à melhora da disposição física e melhora da aparência, promovendo aumento da
libido e disposição para o sexo, consequentemente trazendo satisfação no desempenho sexual
pós-cirurgia.
Para análise dos dados dos profissionais também foram utilizadas seis categorias,
onde caracterizou-se o perfil dos profissionais envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade,
os resultados esperados com o tratamento cirúrgico, a percepção destes sobre a população de
obesos que procura o tratamento cirúrgico, as mudanças percebidas pelos mesmos em pacientes
operados há no mínimo um ano, as dificuldades percebidas pelos profissionais como mais
freqüentes no acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes e procedimento, técnicas e serviços
sugeridos para o processo de adaptação pós-operatória dos pacientes. Para os profissionais,
também era possível assinalar mais de uma resposta.
4.2 Perfil dos profissionais envolvidos no tratamento e cirurgia da obesidade
Participaram da pesquisa 07 profissionais de ambos os sexos com idades
compreendidas na faixa etária dos 30 aos 50 anos. Estes profissionais fazem parte da Instituição
pesquisada que conta suas especialidades que são: nutricionista (01), psicólogo (01), médicos
cirurgiões (04) e cirurgião plástico (01). A maior parte dos profissionais trabalha há mais de 05
anos com obesidade.
Em relação à participação destes no tratamento da obesidade, os mesmos relataram
realizar tratamento preventivo (dietoterápico), preparação pré-operatória dos pacientes,
entrevistas e psicoterapias individuais no período pré-operatório, realização da cirurgia bariátrica
e acompanhamento pós-cirúrgico. Os serviços oferecidos pela instituição fazem parte do que
classicamente se sugere como padrão para o tratamento da obesidade mórbida (REPETTO E
RIZZOLLI, 2006).
4.2.1 Resultados esperados com o tratamento cirúrgico relatados pelos profissionais
Todos os profissionais relataram esperar melhora na saúde (controle das
comorbidades, perda de peso, dentre outros) e melhora da auto-estima, 05 (71%) relataram
44
esperar mudanças de comportamentos, tais como: controle alimentar, reinserção social, prática
esportiva, dentre outros.
4.2.2 Percepção dos profissionais sobre a população de obesos que procura o tratamento
cirúrgico
No que se refere à população de obesos que procura o tratamento cirúrgico, todos os
profissionais relataram ter percebido nestes problemas emocionais e comportamentais (falta de
controle alimentar), 03 destes relataram problemas sociais/familiares e 02 relataram ter percebido
problemas genéticos.
Tais resultados sinalizam para a questão da obesidade ser uma doença crônica de
causa multifatorial. De acordo com Coutinho e Dualib (2006) alguns fatores conhecidos podem
favorecer o excesso de peso, definindo a obesidades como uma doença multifatorial, pois esta
recebe influência de fatores genéticos, fatores ambientais, fatores psicológicos e culturais.
4.2.3 Mudanças percebidas pelos profissionais em pacientes pós-operados
Quando questionados sobre as mudanças que efetivamente foram observadas após a
cirurgia, todos os 07 relataram perceber melhora na saúde e 06 relataram perceber melhoras
psicossociais. Isso sugere que o esperado do tratamento cirúrgico pelos profissionais é alcançado.
4.2.4
Dificuldades
percebidas
pelos
profissionais
como
mais
freqüentes
no
acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes
Todos os profissionais relataram que a evasão é o principal problema enfrentado pela
equipe após a cirurgia. Segundo Arruda (2003) o sucesso da cirurgia não deve ser baseado apenas
no procedimento cirúrgico, mas também ao fato deste paciente pós-operado não abandonar o
acompanhamento com os profissionais da equipe (cirurgiões, nutricionistas, psicólogos, dentre
outros).
O engajamento dos pacientes pós-operados no acompanhamento do seu tratamento
garantirá uma melhor adaptação dos mesmos aos limites e as mudanças físicas e biológicas
ocorridas neste processo. Quanto maior for o comprometimento dos pacientes no processo de
45
adaptação, maior será o sucesso pós-cirúrgico, obtendo resultados positivos que são esperados
(perda de peso, melhora/desaparecimento das comorbidades, auto-estima, autocontrole etc) pelos
profissionais e pelos próprios pacientes.
4.2.5 Procedimentos, técnicas e serviços sugeridos pelos profissionais no processo de
adaptação pós-operatória dos pacientes
Foram sugeridos acompanhamentos em grupos com a equipe de profissionais
(cirurgiões, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, dentre outros), oferta de uma academia de ginástica, oferta de serviços de
estética, criação de redes de apoio que contassem com terapias de diversas abordagens, criação de
espaços de convivência para os pós-operados, realização de terapias em grupos, disponibilização
de orientação nutricional contínua e criação juntamente com os familiares, de estratégias de
adequação à nova realidade do indivíduo pós-operado.
46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto percebe-se que o sobrepeso desenvolve-se muito precocemente.
Este é, em sua maioria, desencadeado na infância, provavelmente através de modelos de
comportamentos alimentares, fazendo com que a criança aprenda hábitos inadequados que são
mantidos, muitas vezes, até atingirem a idade adulta, tornando-se de difícil modificação, já que
este foi fortalecido durante um longo tempo. Segundo Hammar (1977) a obesidade que se inicia
precocemente é de notável resistência aos tratamentos existentes (dietas com nutricionistas,
endocrinologistas etc), propiciando uma pequena margem de sucesso para redução de peso em
longo prazo. Diante disto, é importante uma maior atenção aos tipos de padrões alimentares que
são ensinados às crianças, a fim de prevenir a probabilidade de uma obesidade futura.
Desta forma, pode-se pensar que o insucesso relatado pelos pacientes obesos, na
utilização de estratégias para perda ou diminuição de peso está relacionado com a dificuldade de
modificação de hábitos alimentares inadequados, o que propicia uma ingestão demasiada de
alimentos, consequenciando, em muitos casos, o excesso de peso em seu mais alto grau, que é
considerado como obesidade mórbida.
Diante da aquisição de tal doença crônica (obesidade), os sujeitos buscam como
última alternativa o tratamento cirúrgico (cirurgia bariátrica), que produz uma rápida perda de
peso em relativamente pouco tempo, trazendo assim uma melhora na qualidade de vida deste
sujeito. Observa-se que o tratamento cirúrgico tem grande eficácia na perda de peso (em média
elimina-se 56 quilos pós-cirurgia)7.
As principais variáveis que determinam o comportamento alimentar excessivo na
percepção dos sujeitos são a falta de autocontrole e sentimentos/emoções. A falta de
comportamento de autocontrole está, muitas vezes, associada a uma dificuldade de
estabelecimento de horários para alimentação, bem como a quantidade e a qualidade dos
alimentos, e a forma como os mesmos são consumidos. No que diz respeito a sentimentos e
emoções, a atribuição a estes como causa de comer em excesso é trazido constantemente nos
relatos dos pacientes desta pesquisa. Na atual cultura é comum explicar dificuldades de
7
Esta média citada é referente à amostra de 28 pacientes participantes da pesquisa.
47
comportamento como sendo causadas por emoções e sentimentos. Este é um exemplo do que
Skinner chama de explicações mentalistas para o comportamento.
Diante da obesidade, diversos fatores relatados levaram os pacientes realizarem a
cirurgia bariátrica, tais como: agravos na saúde (comorbidades), busca de uma melhora da autoestima, emagrecer e melhorar a aparência, conhecer pessoas que obtiveram sucesso com o
tratamento cirúrgico e o isolamento social/familiar. Conseguir atingir essas melhoras póscirúrgicas seria para estes pacientes, atingirem o sucesso da cirurgia. Para tanto, faz-se necessário
incentivar a participação ativa do sujeito em seu processo de adaptação pós-cirurgia. De acordo
com Duchesne (1998) um dos principais objetivos do tratamento cirúrgico é tornar o sujeito
“consciente”8 dos seus problemas, facilitando para estes o planejamento antecipado de
comportamentos alternativos que viabilizem a solução de tais problemas.
Entretanto, ainda que muitos dos pacientes apresentem sucesso pós-cirurgia, algumas
dificuldades foram trazidas por estes no processo de adaptação pós-operatória e estas foram:
problemas com a restrição alimentar, reações orgânicas indesejáveis e alterações emocionais
negativas. Alguns sujeitos, mesmo que informados da restrição alimentar imposta pela cirurgia,
tentaram ingerir alimentos além da quantidade suportada, fazendo com que reações orgânicas
(enjôos, entalos, vômitos) surjam como resposta a esta ingestão demasiada, e muitos também
trazem alterações emocionais (ansiedade, angústia) por não poderem comer a quantidade que
desejam.
Diante destas dificuldades, é trazida a importância do seguimento de instruções e
orientações passadas pela equipe envolvida no tratamento cirúrgico para que, a partir desse
engajamento no tratamento possam ocorrer bons resultados. Este é um ponto fundamental que
parte de comportamentos do próprio paciente, sendo este um colaborador e agente de mudanças,
levando a um possível autocontrole, sendo que para isso é importante que o paciente identifique
os fatores que atuam de forma direta no sue comportamento.
8
Sujeito “consciente” será entendido aqui como capaz de discriminar de quais variáveis seus comportamentos são
função.
48
Nesta pesquisa também foram mencionadas mudanças positivas e negativas nos
comportamentos e nas emoções na percepção dos pacientes que passaram pela cirurgia. As
mudanças trazidas foram: emocionais, físicas, saúde, sociais e no desempenho sexual, e dentre
essas mudanças foram destacadas mais mudanças positivas do que negativas, sendo o mais
esperado pela equipe multidisciplinar e pelos próprios pacientes que optaram pela cirurgia.
Buscou-se também nesta pesquisa trazer compreender como se dá a relação dos
pacientes com a saúde, a alimentação, o corpo, a vida social, o trabalho e o desempenho sexual
antes e depois da cirurgia. Na saúde, foram relatados agravos (comorbidades). Na alimentação é
trazida, normalmente, a falta de autocontrole no comportamento alimentar. No corpo é relatada
uma insatisfação e poucos demonstram uma boa relação com o mesmo. Na vida social o
retraimento foi o relato mais evidente. No trabalho é dito existir indisposição para atividades
laborativas. E no desempenho sexual, é trazido com maior ênfase desempenho ruim. Isso
significa dizer que antes da cirurgia existem dificuldades na maioria das áreas da vida dos
sujeitos.
Após a cirurgia, a relação dos sujeitos com a saúde, a alimentação, o corpo, a vida
social, o trabalho e o desempenho sexual apresenta melhoras. Apesar de algumas dificuldades
terem se mantido após a cirurgia, em dados gerais, ocorreram melhoras significativas em tais
aspectos. Tais dados sugerem que a cirurgia bariátrica para pacientes com grau elevado de
obesidade, pode funcionar como uma variável de modificação e melhora de determinados
comportamentos, ainda que isto ocorra por vias impostas pela cirurgia, o objetivo da cirurgia é
alcançado, há uma melhora na qualidade de vida do paciente.
Com relação à equipe multiprofissional que acompanha o paciente na intervenção,
pode-se dizer que os mesmos contribuem ativamente no processo pré e pós-operatório de cirurgia
bariátrica. Diante desse acompanhamento, alguns resultados são esperados por esta equipe de
profissionais com o tratamento cirúrgico, como: melhora na saúde, nos aspectos psicológicos
(melhora da auto-estima) e mudanças de comportamentos (controle alimentar, reinserção social,
dentre outras). Estes dados confirmam o que foi trazido pelos pacientes, como sendo fatores
49
motivacionais na busca do tratamento cirúrgico, posterior a este tratamento, os pacientes, através
dos dados dessa pesquisa, de fato, apresentam os resultados esperados pelos profissionais.
A equipe de profissionais destaca os problemas emocionais (baixa auto-estima), a
falta de controle alimentar, problemas sociais e problemas genéticos/biológicos como os
principais na explicação do fenômeno obesidade.
A equipe relata também ter percebido mudanças nos pacientes que possuem, no
mínimo, um ano de pós-operatório. As principais mudanças percebidas foram: melhora na saúde
e melhora psicossocial, confirmando desta forma, as mudanças trazidas pelos pacientes pósoperados.
Ainda que ocorram mudanças positivas, na maioria das vezes, os profissionais
perceberam uma dificuldade freqüente no acompanhamento pós-cirúrgico dos pacientes,
caracterizada por uma evasão do tratamento. Pontua-se então, que esta evasão tem a
probabilidade de tornar, na maioria dos casos, problemático e/ou ineficaz o tratamento cirúrgico.
É importante destacar que embora seja claro o problema da adesão, não são encontradas
estratégias preventivas eficazes para diminuí-las. Estudos que identifiquem técnicas ou manejos
mais adequados para lidar com a pouca adesão ao tratamento se tornarão extremamente úteis para
equipes de profissionais que atuam com a obesidade.
Nesta amostra pesquisada, os profissionais até sugerem procedimentos, técnicas e
serviços com o propósito de melhorar o tratamento, como criar juntamente com os familiares
estratégias de adequação à nova realidade do indivíduo pós-operado, oferecer serviços de
estética, disponibilizar uma academia de ginástica, dentre outros. Entretanto, não são sinalizadas
estratégias diretas para lidar com a baixa adesão.
A obesidade é uma doença que continua sendo negligenciada, apesar do aumento de
incidência. Ainda que esta pesquisa tenha trazido aspectos relevantes para o entendimento da
obesidade e das principais mudanças ocorridas pós-cirurgia, fazem-se necessários estudos
posteriores que complementem esta pesquisa. Sugerem-se estudos com pacientes que possuam
mais de 2 anos de pós-operatório para verificar a se o índice de satisfação é correspondente ao
tempo de pós-operatório, bem como verificar se a restrição alimentar imposta pela cirurgia seria
50
um fator de influência para o comportamento de autocontrole alimentar. É também importante
verificar se o comportamento de comer em excesso diminuiria num tempo prolongado de
adaptação pós-cirúrgica.
51
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outubro de 2005.
55
APÊNDICE A – Termo de consentimento assinado pelos pacientes
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Esta é uma pesquisa que visa identificar e compreender as principais mudanças relatadas
por sujeitos que se submeteram à cirurgia bariátrica pela técnica de Fobi-Capella há no mínimo
01 ano e a adaptação dos mesmos a um novo ambiente estabelecido neste processo.
Nesta pesquisa você participará da aplicação de um questionário sobre condições clínicas
e comportamentais pós-cirurgia bariátrica.
Sua participação consiste em responder ao questionário, tendo a liberdade de recusar ou
abandonar a sua participação no trabalho.
As pesquisadoras estarão disponíveis para quaisquer esclarecimentos sobre o trabalho
realizado, antes e durante o processo, sempre que considerar necessário.
Este trabalho tem finalidade exclusivamente científica e de pesquisa, portanto não serão
feitos aproveitamentos pessoais. Fica garantido o sigilo das informações, sendo que apenas os
pesquisadores terão acesso ao material coletado.
Estando de acordo com as condições apresentadas acima, aceito participar da pesquisa.
Salvador: ___ / ____ / ____
_________________________________
Assinatura do voluntário
________________________________
________________________________
Assinaturas das pesquisadoras
_________________________________
Assinatura do orientador (a)
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APÊNDICE B – Questionário semi-estruturado aplicado em pacientes
Esta pesquisa tem como objetivo avaliar as principais mudanças na vida do sujeito pósoperado. Sua contribuição é muito importante. Por favor, responda com sinceridade e
clareza o máximo que você puder.
Obrigada pela sua participação!
1) Sexo:  M  F
2) Idade: _______
3) Peso antes da cirurgia: _______Kg
Peso após a cirurgia: _______Kg
4) Com que idade você começou a apresentar sobrepeso?
 0 - 11 anos
 20 - 29 anos
 12 – 19 anos
 Acima de 30 anos
5) Na sua avaliação, quais variáveis influenciaram no seu comportamento alimentar
durante a sua vida? (O que desejamos saber são quais motivos contribuíram para sua
dificuldade no controle alimentar)
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______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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6) Tempo de pós-operatório: ________
7) Tipo de acesso cirúrgico:
 Videolaparoscópico
 Convencional (cirurgia aberta)
8) Quais outras formas de emagrecimento você tentou antes da técnica cirúrgica?
 Dietas com endocrinologistas
 Clínicas de emagrecimento (SPA)
 Dietas com nutricionistas
 Através de medicamentos
 Vigilante do peso
 Outras _______________________
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9) Quais os principais fatores que o levaram a realizar esta cirurgia?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
10) Houve alguma dificuldade em se adaptar às mudanças impostas pela cirurgia?
 Sim
 Não
Caso sim, justifique:
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______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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11) Você observa mudanças no seu comportamento e nas suas emoções após a cirurgia?
 Sim
 Não
Caso sim, cite quais mudanças:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
12) Fale-me da sua relação com:
a) Sua saúde
Antes da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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Depois da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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b) Sua alimentação
Antes da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Depois da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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c) Seu corpo
Antes da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Depois da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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d) Sua vida social (amigos, família etc.)
Antes da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Depois da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
e) Seu trabalho (caso trabalhe)
Antes da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Depois da cirurgia
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
f) Seu desempenho sexual
Antes da cirurgia
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______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
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Depois da cirurgia
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______________________________________________________________________________
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______________________________________________________________________________
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APÊNDICE C - Questionário semi-estruturado aplicado em profissionais
Perfil dos profissionais do Núcleo de Tratamento e Cirurgia da Obesidade (NTCO)
1) Sexo:  M  F
2) Idade: _______
3) Especialidade:
 Cirurgião
 Psicólogo
 Psiquiatra
 Cirurgião plástico
 Cardiologista
 Pneumologista
 Nutricionista
 Endocrinologista
4) Há quanto tempo trabalha com este público?
 1 ano
 2-3 anos
 1- 2 anos
 4-5 anos
 mais de 5 anos
5) Qual a sua participação no tratamento da obesidade oferecido no NTCO?
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6) Quais os resultados esperados com este tratamento?
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7) Qual sua percepção sobre esta população de obesos que procura o serviço de vocês?
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8) Quais mudanças você nota em pacientes pós-operados há no mínimo 01 ano?
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9) Quais as dificuldades que você percebe como mais freqüentes para o acompanhamento
desta população após a cirurgia?
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10) Que outros procedimentos, técnicas e serviços poderiam ser oferecidos para ajudar estes
pacientes no período de adaptação pós-operatória?
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