Por amor, com esperança

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Por amor, com
esperança
E
nfrentar uma dor que parece nunca ter fim não
é uma tarefa fácil. Viver sem o problema beira o
impossível, e muitas pessoas acabam desistindo
de seguir em frente e cometem o suicídio. Mas essa,
definitivamente, não é a única, muito menos a melhor, alternativa. Além disso, é a única que não tem
volta e que acaba com qualquer outra nova chance.
Por mais que pareça não haver saída, há chaves que
abrem a porta do quarto escuro da tristeza. E elas estão em diferentes lugares, todos eles bem ao alcance
das nossas mãos.
– A pessoa precisa recuperar os sentidos de vida.
Ela precisa de amor, de esperança. Com apoio, ela
vai seguir em frente – diz o psiquiatra Ricardo Nogueira, coordenador do Centro de Promoção da Vida
e Prevenção ao Suicídio do Centro de Saúde Mãe de
Deus, em Porto Alegre
Paulo Barbosa, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), acredita que muitas pessoas desistem de pedir ajuda porque têm vergonha ou medo
de falar sobre o que sentem. Mas a saída, ele diz, está
justamente aí: desabafar com alguém no momento
de maior dor.
– É muito difícil falar sobre dúvidas, medos e inseguranças. A gente se fecha com medo de ser julgado e cobrado. Mas somos humanos. Ninguém é
superherói. A pessoa pode pensar: como eu passo
por essa noite de dor sem poder falar com os meus
amigos? Ela não precisa passar por isso sozinha, ela
pode contar com o outro. Estamos aqui para isso,
para abraçar ouvindo – explica Barbosa.
O coordenador do posto do CVV em Santa Maria, Jorge Brandão, acredita que, além de falar sobre
a dor, o indivíduo tem de encontrar novos motivos
para seguir vivendo:
– A pessoa precisa ter objetivos de vida, sejam eles
quais forem. Pode ser um trabalho voluntário ou
qualquer outra coisa que a faça se sentir útil.
Tratamento e rede de apoio
O tratamento também é indispensável, acredita
a psiquiatra Martha Helena Oliveira Noal, uma das
responsáveis pelo Projeto Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio e integrante do Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e da Associação
de Familiares, Amigos e Bipolares:
– Se 98% dos casos de suicídio estão vinculados
a uma patologia, isso significa que, se essas pessoas
tivessem recebido ajuda terapêutica poderiam ter sobrevivido. Mas, para isso, é preciso que a pessoa não
tenha vergonha de pedir ajuda. Se é um estado patológico, não há motivos para constrangimento.
Além disso, Martha acredita que é importante que
a pessoa se insira em um espaço terapêutico como os
Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
– É muito melhor para uma mulher que sofre de
depressão ir tomar chimarrão com outras mulheres que têm depressão, em vez de ficar em casa, por
exemplo. O afeto circulante e os vínculos interpessoais que se formam são importantes. A pessoa se
sente pertencente ao grupo e consegue se reinserir
socialmente. Oficinas também podem ajudar e fazer
a pessoa se reorganizar. Em uma oficina de culinária
ou de jardinagem, a pessoa produz algo. A farinha
vira bolo, a semente vira flor. Ela se sente útil.
Outro aspecto importante, acredita a psiquiatra, é
que se forme uma rede de apoio em torno de quem
sofre de dores emocionais:
– A pessoa mesmo pode formar sua rede. Os nós
são o psiquiatra, o psicólogo, um amigo que a entende, um cachorro ou um gato, um grupo de atividades, um trabalho, o CVV. O fato é que todo mundo
precisa de outras pessoas para se sentir protegido.
MIX
De onde vem a luz no fim do túnel?
Quem sofre de dores emocionais, tem ideações suicidas ou mesmo atenta
contra a própria vida pode encontrar a esperança necessária para seguir
em frente em diferentes coisas. Uma ou mais delas, garantem os especialistas, podem fazer toda a diferença na superação e na retomada da alegria.
z TRATAMENTO – Toda pessoa com transtorno mental deve procurar ajuda
especializada. Psiquiatras podem diagnosticar com precisão a doença emocional e prescrever, se necessário, a medicação que vai ajudar a equilibrar
o sistema neuroquímico. A psicoterapia, aliada ou não ao medicamento,
ajuda a pessoa a organizar as ideias e as emoções
No site, os
depoimentos de
especialistas e de
quem sobreviveu
z PROJETO DE VIDA – É fundamental que um indivíduo que sofre com
transtornos emocionais tenha um projeto de vida para que se sinta útil.
Pode ser um emprego, um trabalho voluntário ou mesmo a participação em
uma oficina terapêutica, onde ele encontre outras pessoas que sofrem com
o mesmo mal ou com uma dor semelhante, possa conviver com um grupo
e produzir algo, seja material ou imaterial. Por exemplo: uma oficina de leitura produz idéias, reflexões e amplia a visão de mundo, fazendo a pessoa
se sentir mais produtiva. Isso diminui a ansiedade e resgata do pessimismo
z AGENDA – Uma agenda de obrigações e atividades a cumprir pode tirar a
pessoa do estado de letargia. Os compromissos estimulam a pessoa a sair
de casa e ao convívio social
z ESPERANÇA – Por mais difícil que pareça, quem está sofrendo não deve
perder de vista a esperança de que os problemas vão passar, de que as coisas vão mudar e de que a vida vai melhorar
z AMOR – Um familiar, um companheiro, um amigo ou mesmo um colega
de estudos ou de trabalho podem ser fontes de afeto e de compreensão
valiosas para quem sofre de transtornos emocionais. É preciso que quem
sente dor consiga falar sobre seus problemas e que quem escuta seja acolhedor e compreensivo. Na ausência de uma pessoa próxima, também é
possível encontrar apoio no Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188 (a ligação é gratuita). Voluntários estão a postos 24 horas para
atender telefonemas e ouvir com afeto e respeito a quem quer que seja
z FÉ – Pessoas religiosas, dizem pesquisas, consideram-se mais felizes e
equilibradas do que aquelas que não têm fé. Essas pessoas também costumam sofrer menos de transtornos como a depressão e, entre elas, os índices de suicídio são bem menores. As pessoas que acreditam em Deus ou
em qualquer outra coisa, geralmente, têm mais esperanças de que a vida
vai melhorar e de que, no fim, tudo vai ficar bem. Além disso, no cristianismo, o suicídio é tido como um grave pecado contra Deus. Segundo a Bíblia,
o suicídio é assassinato e, por isso, é sempre errado
z ANIMAL DE ESTIMAÇÃO – Um bicho de estimação pode trazer inúmeros benefícios à saúde mental. Um cão, por exemplo, além de proporcionar
companhia e diminuir a sensação de solidão, precisa de passeios e, por isso,
estimula o dono a frequentar parques ou ambientes que favorecem a interação social. Além disso, há, nessa relação, troca de carinho, compreensão,
apoio e segurança, o que pode estabelecer hábitos positivos e fazer com a
que a pessoa se sinta mais importante e confiante
z VOLUNTARIADO – O trabalho voluntário proporciona, entre outras coisas, que o indivíduo se foque em outras pessoas e não em seus próprios
problemas. Além disso, ser altruísta e generoso aumenta a sensação de felicidade, diminui o estresse e traz sensação de paz
z ATIVIDADE FÍSICA – Fazer algum tipo de atividade física pode ser benéfico em diferentes aspectos. Além de fazer com que a pessoa saia da cama
e se movimente, uma simples caminhada pode aumentar os níveis de serotonina no organismo e diminuir a ansiedade
z DANÇA – Estudos apontam que a dança é um forte aliado no combate
à depressão. Além de regular níveis de serotonina e dopamina no corpo, é
uma atividade social, que pode ajudar a evitar sentimentos de isolamento
característicos de pessoas que sofrem de depressão
z MÚSICA – Ouvir música pode ser benéfico à saúde mental. Isso porque a
música tem potencial terapêutico e, dizem pesquisadores, reduz a ansiedade, ajuda as pessoas a se acalmarem, estimula a criatividade e aumenta o
poder de concentração
Procure ajuda
z O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento gratuito, 24 horas por
dia, pelo telefone 188
z De segunda a sábado, das 7h às 23h, há voluntários no posto, que fica na rodoviária
z O centro também oferece apoio por meio de um chat que pode ser acessado no
site da instituição (cvv.org.br)
Santa Maria, sábado e domingo, 26 e 27 de setembro de 2015 – 7
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