Mai/Jun/Jul 2015 Edição na íntegra 22/07/2015 Clique

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Gastos sem fim
Mesmo com plano de saúde,
usuários estão pagando
psicólogos e terapeutas do
próprio bolso
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Histórias da loucura
Desenhos do Juquery
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Congresso de Psiquiatria
Canadá sediou evento
Impresso e On-line - Boletim nº 28 - Mai-Jun-Jul 2015
8
Crítica de cinema
Pixar inova em filme infantil
CANAL ABERTO
O BARATO
I
A
CARO
A Lei 10.216 está em vigor há
14 anos, e nasceu para propor
uma mudança que se desvirtuou.
Se por um lado ela promoveu a
desinstitucionalização de muitos
pacientes psiquiátricos, por outro
não houve contrapartida suficiente
das políticas públicas para que se
formasse uma rede, de fato, no
atendimento em saúde mental da
população. Muitos Centros de Atenção Psicossocial foram inaugurados,
inúmeros hospitais psiquiátricos foram sendo sufocados para que fechassem
as portas – e a população ficou sem a retaguarda de leitos, e sem efetivas
medidas de detecção de problemas mentais na rede básica de saúde.
Embora haja uma garantia em lei, na prática a
população acaba não tendo acesso a tratamentos
que envolvem a saúde mental. Ora porque as
consultas são limitadas por ano, ora porque não
encontram profissionais em locais acessíveis, ou
disponíveis.
Essa defasagem, embora seja mais visível no âmbito público do atendimento,
é detectável também no sistema privado. Via plano de saúde, segundo prevê
a lei, é possível recorrer a psiquiatras e psicólogos para tratamento de transtornos. Mas há limites no número de consultas para psicólogos e terapeutas
ocupacionais, e há ainda uma tímida rede de profissionais dispostos a se
submeter a trabalhar mediante valores aviltantes, como os que apuramos em
reportagem de capa desta edição. É difícil acreditar, mas há planos de saúde
que pagam R$ 8 por 45 minutos de uma sessão de psicoterapia.
O que acaba acontecendo é, de novo, um apartheid. Quem tem recursos financeiros, mesmo
pagando por um plano de saúde, procura um
profissional particular e arca com as consultas.
Quem não tem como pagar duas vezes desiste do
tratamento. Até o momento em que o transtorno
ou doença mental incapacita o indivíduo. Aí a
conta fica muito mais cara.
É preciso um olhar especial para a saúde mental
no Brasil. A anamnese de um psiquiatra não pode
durar dez minutos. Um tratamento psicológico
não pode se limitar a 12 sessões por ano, ou limitar
a extensão deste limite a determinadas patologias
consideradas graves. Não em um ambiente em
que a doença mental é cada vez mais prevalente.
Por Ricardo Mendes
Coordenador do Comitê de Saúde Mental
da FEHOESP
EXPEDIENTE
EDITORA:
Ana Paula Barbulho (MTB 22170)
Editora interina:
Aline Moura (MTB 42946)
REDAÇÃO E REVISÃO:
Fabiane de Sá, Rebeca Salgado e Ricardo
Balego
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA:
Carlos Eduardo e Felipe da Fonseca
COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:
Ricardo Mendes, coordenador do Comitê
de Saúde Mental da FEHOESP
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TIRAGEM:
2.000 exemplares
CIRCULAÇÃO:
Entre diretores e administradores
de hospitais psiquiátricos e clínicas
FOTOS:
Thinkstock e divulgação
CORRESPONDÊNCIAS:
Redação
R. 24 de Maio, 208 - 14º andar
CEP: 01041-000 - São Paulo - SP
Tel. (11) 3224-7171
[email protected]
Saúde Mental em Foco
é uma publicação:
DEU NA IMPRENSA
CONFUSÃO MENTAL DOS PACIENTES NA UTI PODE AUMENTAR O TEMPO
DE INTERNAÇÃO E LEVAR A COMPROMETIMENTO CEREBRAL
Pacientes internados em Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI) frequentemente sofrem de delirium, uma síndrome clínica caracterizada por
confusão mental, falta de atenção,
alucinações e, às vezes, agitação.
Essa condição tem sido associada a um mal prognóstico, mas a
magnitude do delirium não era
conhecida. Pesquisadores do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino
(IDOR) e da Universidade John
Hopkins apresentam, agora, a
maior revisão de literatura já feita
sobre o tema e concluem que a
síndrome está fortemente associada às altas taxas de mortalidade,
maiores períodos de internação e comprometimento cerebral após a alta hospitalar.
Um grupo de pesquisadores, do Brasil e dos EUA,
se debruçou sobre 42 estudos previamente publicados sobre o assunto, totalizando 16.559 pacientes.
O delirium foi identificado em 5.280 (32%) dos
casos graves analisados nesses trabalhos. Em comparação aos que não desenvolveram delirium, os
pacientes com essa síndrome mostraram duas vezes
mais chance de morrer durante a hospitalização.
Os pesquisadores também observaram que os
pacientes com esta condição ficaram em média
1,38 dias a mais na UTI que os demais doentes e
precisaram receber ajuda de aparelhos para respirar
(ventilação mecânica) por 1,79 dias a mais que os
pacientes que não a apresentaram.
O delirium tem sido descrito como um dos tipos
mais comuns de falência nas UTIS. Ele é uma forma de comprometimento cerebral que pode ocorrer
em resposta a vários fatores, como em decorrência de uma inflamação causada
pela doença que levou à internação ou pelo uso de certos medicamentos.
"A preocupação é relativamente recente. Os primeiros estudos sobre o assunto foram publicados
em 2011 e desde então o delirium tem mostrado
ser um importante e grande desafio da medicina",
diz Jorge Salluh, pesquisador do IDOR e um dos
autores do estudo, publicado no British Medical
Journal (BMJ). "O delirium pode ocorrer por
múltiplas causas, mesmo que a doença que levou
o paciente ao hospital não seja neurológica. Se
você tem pneumonia, por exemplo, e é internado
na UTI, pode vir a desenvolver."
A síndrome é mais comum entre idosos, pessoas
com alterações cognitivas e pacientes com doenças terminais. Embora seja
uma condição comum, tem sido subestimada e subdiagnosticada pelos profissionais da UTI. "Uma das razões para isso é que muitos pacientes ficam
sedados durante longos períodos da internação, de modo que os sinais não
são percebidos", explica Salluh. Além disso, há casos em que o delirium é
"hipoativo" e o paciente só mostra indicações muito sutis de confusão mental.
Os resultados do estudo lançam luz sobre o real alcance e impacto a doença
e os autores esperam que isso chame a atenção de médicos, pesquisadores e
gestores de saúde para a importância de reduzir a morbidade e a mortalidade
decorrente da síndrome. "Nosso estudo é um forte sinal de que pacientes
críticos devem ser monitorados e acompanhados para verificar a aparição do
delirium", ressalta um dos autores, o médico Robert D. Stevens, da Universidade John Hopkins. "Agora esperamos ver esforços para reduzir a incidência
do mesmo por meio de prevenção de intervenções terapêuticas."
O delirium pode ser prevenido através de medidas como o uso racional de
sedativos e anestesia, a redução do uso de medicamentos benzodiazepínicos,
a promoção adequada do sono e a movimentação nas terapias ocupacionais.
"O delirium é um fator de risco modificável, só precisamos dar a ele a atenção
que merece", conclui Salluh.
O ATLAS DE SAÚDE MENTAL DA OMS
Quase uma em cada dez pessoas, em todos os
países, apresenta transtornos da saúde mental,
segundo a Organização Mundial da Saúde. Entretanto, somente 1% dos profissionais da saúde
atua na atenção a este delicado tema.
Essa difícil situação é explicitada no "Atlas de
Saúde Mental da OMS 2014", lançado em julho
último, em Genebra, pela Organização Mundial
da Saúde.
Na média global, assinala o Atlas, existe um
psiquiatra ou psicólogo para cada 10 mil pessoas.
Nos países em desenvolvimento, essa relação diminui mais ainda, passando
a taxa de um especialista em saúde mental para 100 mil pessoas; nos países
ricos, a taxa é de um médico para 2 mil pessoas. Essa situação, segundo a
OMS, decorre do pouco investimento, em todos os países, na atenção à saúde
mental da população: de US$ 2 por pessoa por ano em países de baixa renda
aos US$ 50 anuais por pessoa nos países ricos.
Com base nos dados da atenção especializada de 171 países, a OMS elaborou um plano de ação aos seus países-membros, para ser desenvolvido
nos próximos cinco anos. Entre as propostas, uma delas seria aumentar em
20% a cobertura dos serviços especializados em desordens mentais severas,
incentivar a promoção e prevenção da saúde mental e reduzir em 10% a taxa
de suicídio, atualmente na média de 11,4 para cada 100 mil pessoas.
MATÉRIA DE CAPA
Gastos sem fim
Mesmo com plano de saúde, usuários estão
pagando psicólogos e terapeutas do próprio bolso
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
determina um rol de procedimentos obrigatórios
que devem ser cobertos pelos planos de saúde.
Dentre eles estão sessões de terapia, psicoterapia,
tratamentos com psicólogos e outros serviços.
Mas muitos usuários de convênios médicos estão
arcando com os custos de atendimentos que são
cobertos pelos planos, pagando pela saúde em
dose dupla.
Psicólogos e terapeutas ocupacionais, além de
nutricionista e fonoaudiólogos, estão incluídos na
cobertura obrigatória dos convênios – o chamado Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da
ANS –, porém, o desconhecimento das regras por
parte dos beneficiários e,
muitas vezes, a dificuldade
em encontrar um profissional de confiança têm levado os usuários dos planos
de saúde para os consultórios particulares. Somado
a esses problemas, ainda
há a regulamentação da
agência que prevê que as
sessões não devem ser uma
demanda espontânea, mas
um pedido médico. Enquanto que o atendimento
particular pode partir da
livre demanda, ou mesmo
de encaminhamento escolar, como as psicoterapias.
A legislação em vigor desde 7 de junho de 2008,
quando passou a valer a
resolução normativa (RN)
nº 167 da ANS, de 9 de janeiro do mesmo ano,
estabelece a obrigatoriedade legal aos tratamentos
de transtornos psiquiátricos e até ressalta a importância da adoção de medidas que evitem a estigmatização e a institucionalização dos portadores
de transtornos psiquiátricos; atendimento às emergências, consideradas as situações que impliquem
risco à vida ou de danos físicos para o próprio ou
para terceiros (incluídas as ameaças e tentativas de
suicídio e autoagressão) e/ou em risco de danos
morais e patrimoniais importantes; até 12 sessões,
por ano de contrato, de psicoterapia de crise, logo
após atendimento de emergência; para alguns
transtornos mentais, até 40 consultas ou sessões
com psicólogo ou terapeuta ocupacional; consultas médicas (psiquiátricas) em número ilimitado;
e serviços de apoio diagnóstico, como laboratório,
4
Por Fabiane de Sá
imagem, eletroneurofisiologia etc.
Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o limite para as
sessões fere o Código de Defesa do Consumidor (CDC), já que é considerado
uma restrição à cobertura. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vê as
determinações quanto à quantidade de consultas autorizadas e o tempo para
o tratamento como preocupante. “Temos informação que alguns planos determinam o prazo de tratamento e adotam critérios para o paciente ter direito
a consultas psicológicas. O controle feito pelas operadoras sobre a atuação
profissional do psicólogo que, em alguns casos, exige grande quantidade de
trabalho burocrático, é outro aspecto que chama a atenção”, afirma a representante do CFP na ANS, Anice Holanda.
De acordo com uma pesquisa online realizada pelo Conselho Regional de
Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-RS), entre outubro e novembro de
2014, junto à categoria sobre a atuação dos psicólogos
vinculados a planos de saúde que atuam naquele Estado
e em São Paulo, a necessidade do encaminhamento ao
psicólogo ser feito por um médico é uma das principais
dificuldades relatada por 52% dos pesquisados, por tirar
a autonomia do paciente em buscar o atendimento, e do
profissional, o que remete ao Ato Médico (art. 4º, § 2º:
“Não são privativos do médico os diagnósticos funcional,
cinésio-funcional, psicológico, nutricional e ambiental, e
as avaliações comportamental e das capacidades mental,
sensorial e perceptocognitiva”).
Questões referentes à remuneração e condições de trabalho inadequadas também foram relatadas pelos respondentes à pesquisa. Em média, o valor repassado pelos
planos por consulta foi de R$ 32,65, por uma sessão de
45 minutos. Mas os valores pagos citados vão desde R$ 8
a R$ 80, por consulta, o que, segundo as entidades representativas, são um obstáculo para o credenciamento aos
convênios. “A inserção da psicologia no plano de saúde
é muito importante para potencializar o acesso da população ao tratamento, mas ainda há uma longa estrada a ser
trilhada. Por enquanto, o custo-benefício não compensa
para o profissional. A remuneração compatível está relacionada à qualidade
do atendimento oferecido ao consumidor. Com uma melhor remuneração,
profissionais têm condições de atender com mais tempo e em menor volume,
o que traz uma melhora na qualidade”, informa o CRP de São Paulo, em nota
à reportagem do Saúde Mental em Foco.
Sobre a dificuldade dos beneficiários de planos conseguirem consulta/sessões
com psicólogo, a representante do CFP diz que a entidade tem conhecimento
de um panorama geral, e tem tratado desse assunto com a ANS, mas é importante que os psicólogos usem continuamente os canais de comunicação com
os conselhos regionais para formalizar situações sobre obstáculos de acesso e
que esses dados subsidiem a gestão desse tema pelo Conselho Federal e pelas
regionais dos Estados. “Há um cenário diverso no país, que reflete o próprio
referenciamento geográfico da saúde suplementar nas regiões do Brasil. Existem situações de precarização do serviço, em relação à proporção psicólogos/
número de usuários, o que tem causado problemas técnicos e éticos com o
tempo e a qualidade do atendimento - ponto este reivindicado pelos psicólo-
MATÉRIA DE CAPA
gos para ações por parte do Sistema Conselhos de
Psicologia (CFP e CRPs)”, explica.
Mais problemas
O limite no número de sessões e o valor pago aos
psicólogos também estão fazendo surgir outro
problema aos beneficiários de planos de saúde:
para continuar com o tratamento, muitas vezes os
usuários precisam ou são induzidos a pagar pelas sessões por fora dos planos. “Muitos buscam
o profissional por indicação e preferem o atendimento particular devido ao número reduzido de
sessões estabelecido pelas operadoras, o que pode
criar uma expectativa frustrada no paciente por
não continuar o tratamento. Também temos conhecimento que ainda há um grande de número de
pacientes que desconhece a inclusão do profissional na cobertura dos planos de saúde. O importante sempre é o usuário exigir a cobertura”, orienta
o CRP-SP.
Para Anice Holanda, do CFP, a indução ao pagamento particular configura “postura antiética do psicólogo”. Segundo o órgão,
cabe reclamação ao CRP onde o fato
ocorreu para a devida verificação e
registro de queixa junto à operadora e à agência reguladora. “No
âmbito da relação ética psicólogo-cliente, é importante toda a clareza
das regras de prestação de serviço. A
limitação do número de sessões pela
operadora é um fato preocupante,
Anice Holanda
porém não pode ser tomado como
falta ética do profissional, visto
que o mesmo tem um contrato com o
plano de saúde e a não autorização de ativação do
serviço de atendimento psicológico é responsabilidade da operadora. A questão central é a clareza
de todos os pontos desde o início da prestação de
serviços.”
Holanda esclarece ainda que a entidade participa e
vem fazendo a gestão, assim como outras entidades de classe, defesa do consumidor e representantes de outros segmentos, do complexo sistema de
regulação da saúde suplementar por meio do qual
a cobertura mínima dos planos de saúde é estabelecida. “Sabe-se que essa cobertura não atende a
real demanda por assistência psicológica e, a cada
revisão de cobertura, um novo enfrentamento é
estabelecido em prol da ampliação do acesso. Nos
últimos anos, apesar de haver reconhecidamente
grande limitação, a série histórica mostra um aumento gradativo do acesso.”
A gerente-geral de Regulação Assistencial da
ANS, Raquel Lisbôa, informa que operadoras têm
obrigação de disponibilizar prestadores de serviços para garantir o atendimento aos beneficiários
no tempo oportuno. Os prazos para atendimento
na rede credenciada são fixados pelo órgão regula-
dor (RN nº 259, de 17 de junho de 2011). Caso haja necessidade de
locomoção para outro município, a operadora deve se responsabilizar diretamente pelo custeio das despesas com transporte. Se o beneficiário do plano de saúde for obrigado a pagar
pelo transporte, a operadora deverá reembolsá-lo integralmente. “Qualquer dificuldade de acesso às coberturas garantidas pelo rol de procedimentos deve ser denunciada à
ANS. É pelas informações recebidas dos consumidores que
a agência fiscaliza e aplica as sanções e punições previstas
na legislação, obrigando as operadoras a qualificarem o atendimento aos beneficiários de planos de saúde”, garante Lisbôa.
Raquel Lisbôa
As operadoras que não disponibilizarem prestadores de serviços para garantir
o atendimento dentro dos prazos estipulados pela ANS podem ser multadas (o
valor varia de R$ 80 mil a R$ 100 mil), terem a comercialização dos planos
suspensa ou até sofrerem o cancelamento do registro.
Para o CFP, a discussão tem de ir além, com um diálogo amplo com a ANS
para oferecer minimamente o que está na Constituição e na Lei de Reforma Psiquiátrica, que é o direito à saúde integral. “A discussão que queremos
ampliar e levar para as operadoras e para o órgão regulador é que a ação do
psicólogo na promoção e prevenção da saúde diminui custos, já que melhora
a adesão do paciente aos tratamentos, diminui o uso de remédios, previne
agravos e pode reduzir a necessidade de consultas e o tempo de internação",
ressalva Anice Holanda.
Já a gerente da ANS afirma que a agência vem buscando alinhar a assistência
em saúde mental na saúde suplementar às políticas estabelecidas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), respeitando as
particularidades existentes no setor. “Nesse sentido, além do que é estabelecido como cobertura obrigatória pelos planos, o órgão estimula as operadoras
a desenvolver programas de promoção e prevenção na linha de cuidado em
saúde mental; desde 2005, há a inclusão de indicadores de saúde mental no
Sistema de Informações de Produtos; e fóruns de discussão com os vários
segmentos envolvidos são realizados”, justifica Raquel Lisbôa.
Prazos máximos de atendimento, segundo a RN 259
Serviços
Consulta básica - pediatria, clínica médica,
cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia
Consulta nas demais especialidades
Consulta/ sessão com fonoaudiólogo
Consulta/ sessão com nutricionista
Consulta/ sessão com psicólogo
Consulta/ sessão com terapeuta ocupacional
Consulta/ sessão com fisioterapeuta
Consulta e procedimentos realizados em
consultório/ clínica com cirurgião-dentista
Serviços de diagnóstico por laboratório de
análises clínicas em regime ambulatorial
Demais serviços de diagnóstico e terapia
em regime ambulatorial
Procedimentos de alta complexidade (PAC)
Atendimento em regimento hospital-dia
Atendimento em regime de internação
eletiva
Urgência e emergência
Consulta de retorno
Prazo máximo de atendimento
(em dias úteis)
7
14
10
10
10
10
10
7
3
10
21
10
21
Imediato
A critério do profissional
responsável pelo atendimento
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EXPOSIÇÃO
Novo espaço expositivo
O projeto expositivo ocupa um novo espaço no primeiro subsolo do MASP,
dividido em duas salas. Uma delas é inteiramente dedicada aos 42 desenhos
de Albino Braz, artista cujas obras foram exibidas na sessão "Imagens do
inconsciente", da mostra Brasil 500 anos - artes visuais, em 2000, em São
Paulo. A outra sala recebe mais de 50 desenhos dos artistas Pedro Cornas
(o estudioso), J. Q., Claudinha D’Onofrio, Pedro dos Reis, Sebastião Faria,
A. Donato de Souza, Marianinha Guimarães, Armando Natale, Augustinho,
H. Novais.
Até 11 de outubro, o MASP apresenta a exposição
“Histórias da loucura: desenhos do Juquery”,
inaugurando um novo espaço expositivo no primeiro subsolo do museu. A mostra reúne cerca
de 100 desenhos feitos por internos do Hospital
Psiquiátrico do Juquery, localizado em Franco
da Rocha, São Paulo. As obras eram parte da
coleção de Osório César (1895-1979), fundador
e diretor da Escola Livre de Artes Plásticas, que
funcionou no hospital entre 1956 e meados da
década de 1970.
Médico psiquiatra do Juquery por mais de quatro
décadas, Osório foi um dos pioneiros no Brasil
a pesquisar e a aplicar o uso da arte como recurso terapêutico em pacientes psiquiátricos. Por
acreditar tanto na potência artística dos internos
quanto nas qualidades estéticas de seus trabalhos,
o médico, que foi casado com a artista Tarsila
do Amaral, promoveu exposições de desenhos
e pinturas criados no Juquery. O MASP sediou
duas delas: em 1948, um ano após a inauguração
do museu, e em 1954. Em 1974, Osório doou sua
coleção particular ao MASP, fato que atestava seu
desejo de salvaguardá-la como um acervo de arte,
ao invés de arquivá-la como parte de seus estudos. “Histórias da loucura: desenhos do Juquery”
retoma o interesse do museu por essa inestimável
coleção, possibilitando a recuperação de histórias
plurais, que tratam tanto de sua própria história,
quanto da produção desses autores que passaram
a integrar um importante acervo de arte na condição de artistas.
Além disso, o título da exposição alude diretamente ao livro “História da loucura”, do filósofo
francês Michel Foucault, originalmente publicado
em 1961. Nele, Foucault desenvolveu uma genealogia das ideias e práticas referentes à construção
e manutenção da noção de loucura na história do
Ocidente. Dessa forma, as histórias a que o título
da mostra se refere sugerem não apenas aquelas
dos artistas da mostra, mas relatos mais amplos,
que tratem também de acontecimentos, ideias,
formas de arte e narrativas pessoais e ficcionais.
São temas que o MASP pretende desenvolver em
um projeto maior, denominado “Histórias da loucura”, do qual os desenhos de Juquery serviriam
de capítulo inicial.
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Desenvolvido pela METRO Arquitetos, o projeto prevê a divisão do espaço, cujas paredes são de vidro, em dois ambientes separados, configurados
por um sistema flexível de painéis em estrutura metálica, soltos do chão, o
que permitirá outras configurações futuras. No interior dessas salas serão
expostas as obras de arte, protegidas da incidência de luz direta. O objetivo
é manter a transparência dos espaços do museu, sem comprometer a conservação dos desenhos, naturalmente frágeis, por serem, em sua maioria,
de lápis sobre papel.
Complementando a exposição, o MASP lança um catálogo integral, com a reprodução de todos os desenhos
apresentados na mostra. Dois ensaios introduzem a publicação: um de autoria de Kaira M. Cabañas, professora
visitante do Departamento de Letras da PUC-RJ, e outro
concebido pela direção artística do MASP, que assina a
curadoria da exposição.
Sobre o Juquery
O Hospital Psiquiátrico do Juquery, ora denominado Asilo
de Alienados do Juquery, foi inaugurado em 1898. O
projeto arquitetônico foi concebido por Ramos de
Azevedo e a administração das primeiras décadas do
Pedro dos Reis, Sem título
complexo ficou a cargo do médico psiquiatra Fran(cabeça masculina)
cisco Franco da Rocha, que dá nome à cidade-sede
do hospital. Atualmente, o Complexo Hospitalar
Juquery desenvolve uma política antimanicomial, com atividades ligadas à
saúde e ao bem estar da população paulistana.
"Histórias da loucura: desenhos do Juquery"
Até 11 de outubro de 2015
Local: primeiro subsolo do MASP
Endereço: Avenida Paulista, 1578, São Paulo, SP
Telefone: (11) 3149-5959
Horários: Terça a domingo: 10h às 18h (bilheteria aberta
até às 17h30); Quinta-feira: 10h às 20h (bilheteria até 19h30)
Ingressos: R$25,00 (entrada); R$12,00 (meia-entrada)
O MASP tem entrada gratuita às terças-feiras, durante
o dia todo, e às quintas-feiras, a partir das 17h.
CONGRESSO
Psiquiatria ganha novos contornos com descobertas
sobre ciência, mente e espírito
O Congresso de Psiquiatria mais importante do
mundo, da Associação Americana de Psiquiatria
(APA), realizou-se entre 16 e 20 de maio, em
Toronto, no Canadá. O tema desta 168ª edição foi
“Psiquiatria: Integrando corpo e mente, coração e
alma”. O evento é conhecido por apresentar inúmeras pesquisas em seus mais diferentes espectros.
Uma delas procurou mostrar que a prática da
espiritualidade e a religião está ligada a melhor
qualidade de vida para pacientes que passaram
por doenças como o câncer. Comandado pelo
pesquisador Anthony Cannon, da Northwestern
University, o estudo trabalhou com 551 pacientes
sobreviventes de câncer, chegando à conclusão de
que a religião ou qualquer tipo de prática ligada
à espiritualidade ajuda as pessoas a lidarem com
sentimentos de desesperança, depressão, pânico
e ansiedade num contexto de incerteza do futuro.
Moshe Szyf, do Instituto de Epigenética e Psicobiologia da McGill University, falou sobre a epigenética e os últimos estudos que
demonstram como o ambiente
social tem impacto sobre a
biologia do ser humano.
“Um dos grandes mistérios
é como coisas efêmeras,
como o comportamento
social, podem mudar coisas
físicas, como o ser humano.
Hoje sabemos que o comportamento social tem enorme impacto no fenótipo, especialmente no
Moshe Szyf
início da vida”, disse o especialista,
em entrevista para o canal APA TV,
exclusivo do Congresso. Segundo ele, as ligações
moleculares “conversam” com o DNA e o modificam. “Essas descobertas nos ajudam a entender
porque não temos uma base genética para muitas
doenças mentais, a despeito de inúmeras pesquisas
feitas na última década”. Na opinião de Moshe,
a diferença entre a genética e a epigenética é que
esta pode ser mudada, porque assim como as proteínas colocam suas marcas no DNA, essas marcas
podem ser retiradas – por meio de medicamentos,
por exemplo. A partir desta descoberta, as doenças
mentais podem ser comparadas ao câncer. “É o
mesmo mecanismo que acontece com o câncer,
quando há mudança de DNA. É exatamente o que
acontece com a doença mental em nível de genes.
Então, não há diferença entre a doença física e a
mental, elas estão conectadas.”
Outra novidade foi a apresentação da vareniclina
– farmacoterapia para cessação do tabagismo em
pessoas com dependência da nicotina – como uma
droga supostamente eficaz para o tratamento do alcoolismo. Segundo Daniel
Falk, administrador de Ciência da Saúde para o Instituto Nacional sobre
Consumo de Álcool e Alcoolismo dos EUA, 8% dos americanos possuem
problemas com álcool e 12%, com dependência de nicotina. Ainda, 3%
possuem os dois problemas, o que representa cerca de 6 milhões de pessoas,
apenas nos EUA. Devido ao sucesso nas pesquisas feitas até agora, que desmontraram que a droga age no receptor chamado
acetilcolina, a ideia é partir para um estudo mais amplo,
randomizado, com seres humanos.
Para o psiquiatra brasileiro Sérgio Teixeira Mendes, que
esteve em maio na cidade de Toronto para acompanhar o
encontro anual da APA, o congresso é “pura ciência”. “É
feito por gente muita séria e consistente, e não há espaço
para a indústria farmacêutica ficar fazendo propaganda”,
disse. “O que mais me impressionou foi uma coisa chamada cintilografia cerebral. Antes o que se via nos exames
Daniel Falk
era um notebook de última geração, que é o cérebro. Era
possível olhar para o notebook, mas ele estava desligado.
O médico olhava uma ressonância magnética e dizia: ‘não
tem tela trincada, não está faltando nenhuma tecla, aparentemente está tudo
bem’. Na cintilografia, com essas novas técnicas de PET e SPET, é como se
apertássemos uma tecla no notebook e conseguíssemos enxergar o comando.
Estamos começando a ver o cérebro funcionando. O que é fascinante é que
durante uma vida inteira eu mediquei pessoas e tinha uma leve ideia do que
estava acontecendo. Mas, hoje, com o avanço da neurociência, começamos
a fazer correlações”, conta Mendes.
Assim como foi demonstrado em diversos estudos durante o Congresso da
APA, o comportamento está intimamente ligado à psiquiatria e seus tratamentos. Sérgio Mendes destaca um dos assuntos mais importantes debatidos
no Canadá, e que já gera enorme demanda nos consultórios mundo afora,
inclusive aqui no Brasil. “Não vai ter psiquiatra no futuro suficiente para
atender o que está por vir. Porque os nossos antepassados viveram obedecendo à escuridão e à claridade. Como toda a natureza. E se você pensar
que a luz elétrica tem menos de 200 anos, o que são 200 anos na evolução
da espécie humana? Em muito pouco tempo o ser humano está subvertendo
tudo. Teve um grande avanço, mas, por outro lado, se eu fosse medicar
todo mundo que me procura com problema de insônia e com problema de
memória! Você vê pessoas jovens que estão tendo branco, porque elas não
dormem o suficiente. Ou muito pouco. Existe um estudo, e eu assisti à aula
durante seis horas, sobre o ritmo circadiano. E isso é uma das coisas mais
assustadoras e fascinantes no mundo de hoje”, releva. Segundo Mendes,
os hábitos das pessoas tem contribuído para os distúrbios, como ligar um
smartphone ou um tablet antes de dormir, ou jogar vídeo game, ou ir a uma
festa numa quarta-feira às onze horas da noite quando se tem que acordar
cedo no dia seguinte. “A luz que emana da tela, por exemplo, ativa o tronco
cerebral. Muito do que hoje está fazendo com que as pessoas tenham o funcionamento prejudicado é a falta de esclarecimento e conhecimento. Como
médico a gente tem obrigação de alertar. E isso vai ser uma coisa alarmante.
A psiquiatria vai ter uma demanda explosiva. Não vai ter é psiquiatra bem
formado para atender a todos”, conclui.
O próximo Congresso da Associação Americana de Psiquiatria será de 14 a
20 de maio de 2016, em Atlanta (Georgia, EUA). Saiba mais sobre a edição
de 2015 em www.apa.org.
CRÍTICA DE CINEMA
Nem sempre diversão
Por Aline Moura
Em tempos de uma “ditadura da felicidade”, o estúdio Pixar teve a ousadia
de mergulhar no interior das emoções. Criou uma animação brilhante e
corajosa, que se propõe a debater a importância dos sentimentos para o ser
humano – sejam eles bons ou ruins. No mundo superficial em que vivemos,
no qual os posts das redes sociais estão a escancarar uma alegria frívola, o
filme "Divertida Mente" mostra que a vida nem sempre é diversão. Desta
vez não são brinquedos nem monstros os protagonistas. Os sentimentos,
cinco deles, é que tomam as rédeas do roteiro, e levam adiante uma história
que passeia pelo cérebro de uma menina de 11 anos, chamada Riley.
desmoronarem ao longo do tempo, e teme nunca
mais conseguir voltar. Chega a deixar Tristeza
de lado, em nome do sucesso de sua empreitada.
Ao encontrar o amigo imaginário da primeira
infância da garota, Bing Bong, Alegria consegue
ajuda para retornar. De maneira lúdica, e extremamente poética, consegue transpor o abismo das
emoções perdidas montada num carrinho mágico
que voa – pura fantasia. Neste passeio pela mente
de Riley, que dura quase o filme todo, Alegria se
dá conta de que precisa deixar Tristeza agir ao
invés de contê-la. Percebe que as memórias são
feitas de todos os sentimentos, que não podem
ser ignorados. E que o choro represado precisa
sair quando não mais se contém. Porque chorar
é humano. E estar triste, também.
Há muito de psicanálise em "Divertida Mente".
Muito de melancolia, de vida real. E também
muita crítica à maneira como estamos encarando o
mundo contemporâneo, regado a antidepressivos,
coachs da felicidade e sorrisos forçados.
Nascida no Meio Oeste americano, Riley se vê obrigada a ter de lidar com
a frustração quando seus pais decidem se mudar para São Francisco, na
Califórnia. Até aí, nada de original. O enredo se passa, no entanto, 90%
dentro da cabeça da menina, comandada a princípio pela Alegria. É ela
quem rege a mente da garota, e em alguns momentos força a barra para
que nada saia dos trilhos, e para que as memórias e experiências de Riley
estejam sempre à beira da euforia. Chega a criar um círculo imaginário, e
a determinar que Tristeza não saia dali, para que não toque em nada e não
faça as lembranças tristes florescerem. Ao lado de Medo, Raiva e Nojinho,
Tristeza age como coadjuvante, até a página dois.
O filme, em seu conjunto, é uma grande alegoria emocional. E consegue explicar a mente humana de maneira didática, sem ser sacal. Os
roteiristas se fazem entender até mesmo pelas crianças menores, e
arrancam risadas e compaixão do público. As memórias são retratadas
por pequenos balões de vidro, sensíveis ao toque, e de cores diferentes – cada um representando um sentimento. O inconsciente é um
grande porão imundo, guardado por vigias e uma porta de madeira
imensa e assustadora. Os sonhos, hilários, são produzidos ao vivo,
como em sets de cinema.
A história de fato começa a ficar interessante quando Alegria e Tristeza se perdem da sala de comando. É quando Alegria deixa de liderar
as emoções da menina e, aparentemente, tudo começa a dar errado.
Em busca de retornar ao seu posto de comandante, Alegria realiza um
verdadeiro tour pela mente da garota. Quase vira uma memória esquecida,
passa pelo mundo dos sonhos, pelo inconsciente, vê os alicerces da mente se
8
A recomendação é: reúna filhos e sobrinhos
para ver o filme, assim terá uma desculpa para
assisti-lo. Mas não se trata de uma história para
crianças. E esteja preparado para deixar vir à tona
seus sentimentos. Todos eles. Porque o longa de
Peter Docter (direção) é como a vida: assim...
uma montanha russa.
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