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FILOSOFIA: CONTRIBUIÇÕES DE MATTHEW LIPMAN
PARA A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS
PHILOSOPHY: CONTRIBUTIONS OF DE MATTHEW LIPMAN
TO THE EDUCATION OF THE CHILDREN
Rosangela de Freitas da Silva – [email protected]
Graduando do UNISALESIANO
Prof. Dra. – Elaine Cristina Moreira da Silva- [email protected]
Prof. Me. Marcos José Ardenghi –
[email protected]
RESUMO
Com o objetivo de analisar a importância do ensino de Filosofia para crianças,
como forma de contribuir para que os alunos reflitam sobre seu cotidiano com maior
profundidade, buscou-se entender qual a relevância dessa disciplina em ambiente
escolar. Para tanto, estabeleceu-se o seguinte problema de pesquisa: quais as
orientações para o ensino de Filosofia para as crianças no Brasil? Como hipótese,
estabeleceu-se que as orientações sobre esta temática decorrem de pensamentos
do filósofo norte americano Matthew Lipmam (1923-2010). Matthew Lipman, nasceu
em Vineland, estado de Nova Jersey, Estados Unidos, em 1969. Leciona na
Universidade de Columbia e, preocupado com as dificuldades de seus alunos em
raciocinar e acreditando que o raciocínio deve ser aprendido na Educação Básica,
escreve um texto com linguagem familiar que visava dar às crianças a possibilidade
de discutir, investigar em comunidade problemas filosóficos, iniciando assim o
Programa de Filosofia para Crianças, constituído por “Novelas Filosóficas” e
manuais para os professores no qual havia questões e sugestões para serem
exploradas referentes às “novelas”. Para tal, elaborou um currículo para a Filosofia
para Crianças a partir de estratégias que visavam o aperfeiçoamento da habilidade
de pensar, a proficiência lógica, a logicidade, a estimulação à reflexão e à
investigação, a utilização de crianças modelos pensantes em suas novelas
filosóficas, manuais para professores que ajudassem a promover o diálogo, o
raciocínio e o pensamento autocorretivo, transformando a sala de aula em uma
comunidade de investigação. Por meio de pesquisa bibliográfica, concluiu-se que é
possível auxiliar a criança a desenvolver a capacidade do “pensar bem”,
compreendido como um pensar crítico, ético e político.
Palavras-chave: Educação. Criança. Filosofia.
ABSTRACT
Aiming to analyze the importance of teaching philosophy to children as a way
to help students to reflect on their daily lives more deeply, it was sought to
understand the relevance of this discipline inside the school environment. To this
end, it was established the following research problem: what are the guidances for
teaching philosophy to children in Brazil? As a hypothesis, it was established that the
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guidance on this issue stem from thoughts of the North American philosopher
Matthew Lipmam (1923-2010). Matthew Lipman was born in Vineland, State of New
Jersey, USA, in 1969. He teaches at Columbia University and, concerned by the
difficulties of their students in believing that reason and the reasoning should be
learned in basic education, writes a text with language family aimed at giving children
an opportunity to discuss, investigate philosophical problems in the community,
thereby initiating the Philosophy for Children Program, consisting of "philosophical
novels" and manuals for teachers in which there were issues to be explored and
suggestions concerning "novels ". To this end, he devised a curriculum for
Philosophy for Children from strategies aimed at improving the skills of thinking, logic
proficiency, the logicality, stimulating reflection and investigation, the use of child
models in their thinking philosophical novels, manuals for teachers that would help to
promote dialogue, reasoning and self-corrective thinking, transforming the classroom
into a community of inquiry. Through literature review, it was concluded that it is
possible to help the child to develop the ability of to "think about it", understood as a
critical, ethical and political thinking.
Keywords: Education; Child; Philosophy.
INTRODUÇÃO
Este trabalho originou-se a partir da preocupação em torno de uma educação
de qualidade, buscando formas para que a sala de aula possa se transformar em um
ambiente significativo, privilegiando o desenvolvimento cognitivo das crianças, no
qual a função do professor seria a mediação para a construção do conhecimento.
Foi a partir da convicção de que se faz necessária uma Educação pautada na
construção de conhecimentos e não na simples assimilação de conteúdos, que
surgiu o interesse na Filosofia e mais especificamente na Filosofia para Crianças.
Por meio de estudos realizados, percebemos que a Filosofia para Crianças tem
em sua essência a aquisição de habilidades para “Pensar Bem”, cada vez melhor e
por si só, tendo como base o diálogo e a comunidade de investigação, que busca
transformar os indivíduos em pessoas criticas e reflexivas.
Percorrendo a História, buscamos entender como surgiu, bem como a trajetória
deste programa voltado para crianças.
O pioneiro deste projeto, Matthew Lipman, acreditava que as crianças podiam e
mereciam esse encontro com a Filosofia, e assim criou o método e materiais,
tornando realidade seu projeto.
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Nessa busca pelo desenvolvimento do “Pensar Bem”, Lipman utilizou as
chamadas Novelas Filosóficas.
O método de descoberta de todas as crianças nas novelas é o diálogo
combinado com a reflexão. Esse diálogo com os colegas, professores, pais,
avós e outras pessoas, alternado com reflexões sobre o que foi dito, é o
veículo básico por meio dos quais os personagens nas histórias aprendem.
E é assim também que os estudantes reais aprendem: falando e pensando
nas coisas. (LIPMAN, SHARP, OSCANYAN, 1994, p.118)
Lipman (1990) também afirma que para o desenvolvimento deste pensar bem
é necessário desenvolver as habilidades de pensamento.
Para o desenvolvimento dessas habilidades, ressalta-se a importância do
diálogo e da comunidade de investigação.
Por meio desses argumentos, Lipman afirma de forma veemente a
importância da Filosofia e de sua iniciação o mais cedo possível.
[...] a filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos, tais
como o de verdade, que existem em todas as outras disciplinas [...] a
filosofia oferece um fórum no qual as crianças podem descobrir por si
mesmas a relevância, para suas vidas, dos ideais que norteiam a vida de
todas as pessoas. (LIPMAN, 1990, p.13)
Sendo assim, a partir da análise desses pressupostos teóricos, buscamos
analisar a importância do ensino de Filosofia para Crianças como forma de contribuir
para que os alunos reflitam sobre seu cotidiano com maior profundidade buscou-se
entender qual a relevância dessa disciplina em ambiente escolar. Para tanto,
estabeleceu-se o seguinte problema de pesquisa: quais as orientações para o
ensino de Filosofia para as crianças no Brasil? Como hipótese estabeleceu-se que
as orientações sobre esta temática decorrem dos pensamentos do filosofo norte
americano Matthew Lipman, por meio de pesquisa bibliográfica concluiu-se que é
possível auxiliar a criança a desenvolver a capacidade do “pensar bem”,
compreendido como um pensar crítico, criativo, ético e político.
1
A FILOSOFIA E SUA HISTÓRIA
1.1
BREVE HISTÓRICO DA FILOSOFIA
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O entendimento da relevância do ensino da Filosofia para Crianças, perpassa
pelo conhecimento do resgate histórico.
Segundo Lipman (1990), sabendo-se que a filosofia surgiu na Grécia a mais
de dois mil anos, e esteve no início encorpada com aforismo, poesia, diálogo e
drama, rapidamente tornou-se o que permaneceu de modo geral: uma disciplina
acadêmica e de acesso limitado, em que os estudantes aprendem a filosofia ao
invés de fazê-la. Percebe-se a Filosofia como uma sobrevivente, mantendo-se
mesmo que de forma moderada, sendo uma disciplina notável de riqueza e
diversidade.
Para Sócrates, Filosofia é um modo de vida, é algo a que qualquer um de nós
pode dedicar-se. Entretanto, para muitos filósofos, a racionalidade só é encontrada
nos adultos e as crianças são raramente consideradas capazes de ser racionais ou
lógicas. (Lipman, 1990). Gramsci, 1978 afirma que “não se pode pensar em nenhum
homem que não seja filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio
do homem como tal”.
Porém a Filosofia já fez parte essencial da Educação de príncipes e
princesas, mas com a ascendência da ideologia dos negócios, a filosofia foi retirada
de cena em respeito à educação das crianças.
Percebe-se a importância da Filosofia no contexto educacional desde a época
de Platão, porém vamos nos aprofundar no ensino da Filosofia no Brasil e
particularmente no ensino de Filosofia para Crianças, projeto que está em processo
de aceitação e adequação dentro da realidade brasileira.
Segundo Mazai e Ribas (2001), o ensino de Filosofia adentrou no Brasil em
1553 (XVI), influenciado pelos jesuítas, responsáveis pela Educação dos povos das
colônias e que visavam propagar e fortalecer a fé cristã, monopolizando o
pensamento e afastando o pensamento científico da época que vinha de Descartes,
Bacon, Galileu e outros. A cultura filosófica passa a ser “mero comentário teológico,
baseado principalmente na renovação escolástica aristotélica”. (CARTOLANO, 1985
apud MAZAI, 2001).
A filosofia era assim considerada uma disciplina livresca. Da Europa ela já
vinha feita. Era sinal de grande cultura o simples fato de saber reproduzir as
ideias mais recentemente chegadas. A novidade supria o espírito de
análise, a curiosidade supria a crítica. (COSTA, 1967, apud MAZAI, p.3)
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O primeiro ministro português, Marquês de Pombal, em 1759 expulsou os
jesuítas do Brasil e com isso os estudantes universitários começaram a ter contato
com as ideias de Locke, Rousseau, Voltaire. (ARANHA; MARTINS 2003)
No decorrer da História, o ensino de Filosofia no Brasil passou por diversos
processos e influências.
1.1.1 Surgimento da Filosofia para Crianças
Conforme Kohan (1998), no ano de 1969, Matthew Lipman, leciona na
Universidade de Columbia as disciplinas de introdução à lógica e introdução à
indagação filosófica e preocupou-se em perceber que seus alunos apenas
memorizavam, isto é, conheciam as regras, mas tinham dificuldades para
reconhecê-las e utilizá-las na vida cotidiana. Acreditava que na universidade seria
difícil aprender a raciocinar bem e que esse conceito deveria fazer parte da
Educação Básica.
Incomodava-lhe o modo como os filósofos tinham sistematicamente fechado
suas portas para as crianças. Considerou este impedimento insensível e
injusto. Lançou a ideia de que as crianças podem e merecem ter acesso a
filosofia. E não apenas lançou uma ideia, mas criou uma instituição e
desenvolveu matérias e metodologia para que essa ideia fosse uma
realidade. (KOHAN 1998, p.9)
Sendo assim, Kohan (1998) afirma que Lipman passa a pensar em como
fazer para dar às crianças a possibilidade de discutir, de investigar em comunidade
alguns problemas filosóficos, e assim escreve um texto de linguagem familiar que
em sala de aula pudesse levar as crianças a sentir que seus pensamentos a respeito
do texto eram levados em consideração, surgindo assim a história “A Descoberta de
Ari de Telles”, tendo início o Programa Filosofia para Crianças.
1.1.2 A Filosofia para Crianças no Brasil
Segundo Lorieri (2002), o Programa Filosofia para Crianças (PFC) ficou
conhecido no Brasil a partir do ano de 1984, por iniciativa da professora Catherine
Yong Silva que era graduada em Filosofia pela USP e PUC/SP.
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Seu primeiro contato com o Programa Filosofia para Crianças foi casual, por
meio da leitura de uma matéria jornalística sobre o assunto em uma revista norteamericana, “Ladies Home Journal”. (PERIN, 1988 apud SILVEIRA, 1998)
Ainda no ano de 1984, realizou uma palestra na PUC/SP com Ann Margareth
Sharp, na qual algumas pessoas que participaram começaram a estudar a proposta
e assim, juntamente com Catherine Young Silva, fundaram o Centro Brasileiro de
Filosofia para Crianças, afirma Lorieri.
Segundo Lorieri (2002), diversas escolas públicas e particulares aderiram a
este programa, sendo que em 1985 desencadearam-se grandes esforços para a
iniciação filosófica para crianças e jovens no Brasil.
Essa instituição traduziu e adaptou os materiais do PFC de Lipman, obteve
direitos de editoração e passou a organizar cursos de formação de
professores para o trabalho com o referido Programa. (LORIERI, 2002,
p.213)
Em decorrência da pesquisa realiza em 2003 a pedido da Unesco, desde
1995, alguns poucos municípios estabelecem a obrigatoriedade do ensino de
Filosofia no Ensino Fundamental , sendo na Bahia e no Mato Grosso, bem como em
algumas universidades e escolas estão desenvolvendo metodologias e pesquisas
próprias para o Ensino de Filosofia nos níveis Infantis e Fundamental.
2
INFÂNCIA, EDUCAÇÃO E FILOSOFIA PARA CRIANÇAS
2.1
Infância
Para compreendermos o programa de Filosofia para Crianças, devemos
remeter nosso olhar primeiramente à construção histórica da Infância, tendo em
vista que o programa lipmaniano tem em sua essência esse período.
Kohan (2003), em seu artigo Infância e Educação em Platão, afirma que
Platão não é alheio à infância, mas que a associa à primeira etapa da vida humana,
sabendo de seus efeitos na posterioridade.
Sendo assim, percebe-se que a Educação da Infância é pensada para a
política, sendo que uma boa Educação produzirá um cidadão prudente, acreditando
que ao proporcionar uma boa Educação poderá se corrigir uma natureza má e, ao
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contrário, ao promover uma Educação inadequada fará estragos nas melhores
naturezas.
Neste contexto, percebe-se que a visão sobre a criança é de seres
manipuláveis que podem ser transformados no que quisermos. Por isso, a
importância de uma boa Educação para garantir que o infante se torne um cidadão
prudente.
Na idade média, segundo Franco Cambi (1999), as crianças eram
conceituadas igualmente aos animais, principalmente pela grande mortalidade
infantil que impedia grandes investimentos afetivos. Eram considerados pequenos
homens e participavam da vida social igualmente aos adultos.
Sua Educação era destinada a oficinas, ao aprendizado ou à igreja e suas
práticas religiosas.
A primeira ensina uma técnica e um ofício, a segunda, uma visão do mundo
e um código moral. A imagem da infância da idade media é a cristã: a meio
caminho entre “pecado” (idade pecaminosa, amoral, segundo Santo
Agostinho) e “inocência” (idade de graça, privilegiada e exemplar, como
dizem os Evangelhos); as condições da vida da infância são sempre
duríssimas, marcadas pela escassez de bens, violência e marginalização.
(CAMBI, 1999, p.177)
Ainda sobre essa concepção, Kennedy relata que segundo Phillipe Áries
(1973), em seu livro a História Social da Infância e da Família, a infância que
conhecemos foi uma invenção cultural. Ariés (1973) sustenta suas afirmações
baseadas nas formas como as crianças eram representadas como “pequenos
adultos”, tanto nas vestimentas como na ausência de diferenciação nas divisões
entre crianças e adultos.
A maneira que a infância é concebida hoje é consequência de diversas
transformações. “Este percurso (esta história), por outro lado, só foi possível porque
também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser criança
e a importância que foi dada ao momento específico da infância”. (BUJES,
2001apud CALDEIRA, 2010)
2.2
Educação
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Partindo das analises históricas sobre a infância, percebemos a importância
que se foi construindo sobre essa etapa, bem como a relevância de se educar os
infantes buscando um aprimoramento para viver-se bem.
Existem diversos conceitos para Educação, buscaremos exemplificar a partir
do fundamento de alguns estudiosos, na tentativa de clarificar o seu significado.
Para Lorieri (2002), as relações humanas e também com os seres não
humanos são modificadoras e assim educadoras. Sendo assim afirma que:
Educação, em sentido estrito, é o conjunto de modificações
intencionalmente provocadas, ao menos por um dos lados, para que
ocorram nas relações de pessoas entre si. Ocorre educação se as
modificações (intencionais ou não) forem produzidas de fato.(LORIERI,
2002, p.27)
Libâneo (2005) apresenta um conceito ampliado de Educação.
as praticas educativas não se restringe à escola ou à família. Elas
acontecem em todos os contextos e ambitos da existência individual e
social humana, de modo institucionalizado ou não, sob varias modalidades.
(LIBÂNEO, 2005)
Para Brandão (2007) a Educação é inevitável, não havendo um modelo a se
seguir ou uma única forma de acontecer.
Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo. Ela existe em
cada povo ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que
submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso
a mais de sua dominância. Da família à comunidade, a educação existe
difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis praticas dos
mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem livros e sem
professores especialistas; mãos adiante com escolas, salas, professores e
métodos pedagógicos. (BRANDÃO, 2007, p.9/10)
2.3
Finalidade e objetivos a serem alcançados com a iniciação filosófica com
crianças
Segundo
Teles
(1999),
crianças,
adolescentes e
filósofos possuem
características comuns entre eles a partir da curiosidade, o espanto e o
deslumbramento diante do mundo.
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A criança, o adolescente e o jovem têm, pois, a natureza do filósofo e esta
natureza, ao longo do tempo tem sido sufocada exatamente pelas
instituições educativas que já lhes entregam “respostas”, “verdades prontas,
“leis”, “normas”, ”regulamentos”, caminhos que necessitam apenas ser
decorados e introjetados. Assim a natureza do filosofar , que se manifesta
na criança pequena com os seus por quês ? è mutilada já na infância.
(TELES,1999, p.11)
Neste contexto, Teles (1999) assevera que as instituições educativas
principalmente as escolas devem ensinar ao educando a pensar, a refletir
oferecendo situações para o desenvolvimento da consciência autônoma, perante a
si próprio, aos outros e ao mundo em que vive e neste contexto percebe-se a
importância da Filosofia.
[...] a filosofia propicia um instrumental critico de aprendizagens cognitivas:
em lugar de receber passivamente os fatos e os saberes , a criança que
participa de uma troca filosófica analisa, critica, e questiona os saberes
transmitidos. Assim em lugar de cair seja numa frouxidão passiva, seja
numa fé ingênua, face aos discursos do professor , a criança que pratica a
filosofia considera todo o conhecimento como uma hipótese a verificar
.Fazendo isso, conclui Lipman , a escola se torna o lugar de reconstrução
positiva da experiência da criança , o lugar onde ela aprende a ser e tornarse. (DANIEL, 2000, p. 23)
Considerando a escola um ambiente de construção de conhecimentos, Lorieri
(2002) ressalta alguns objetivos almejados por meio da iniciação filosófica,
considerando seu papel interdisciplinar, pois desenvolve papel importante em todas
as áreas, pois ativa o pensamento reflexivo, critico, rigorosos, profundo e
abrangente. Os objetivos ressaltados por Lorieri são:
1) Oferecer um espaço curricular especifico no qual crianças, jovens
possam dialogar investigativamente, com base nas questões relativas a
certas “temáticas de fundo”, de tal forma que possam por sob exame,
progressivamente, as referencias ou as ideias reguladoras que
encontram em seu cultural.
2) Oferecer, em tal espaço curricular possibilidades de desenvolvimento do
pensamento reflexivo, critico, rigorosos, abrangente e criativo, bem
como as atitudes que favoreçam o dialogo investigativo.
3) Possibilitar investigação dialógica, reflexiva, critica, rigorosa, profunda,
abrangente e criativa, a respeito de temáticas concernentes aos ideais
reguladores, ou valores, implicados no exercício da cidadania.
4) Oferecer subsídios para o esclarecimento de conceitos básicos,
próprios do âmbito da investigação filosófica, que entrelaçam em todos
os demais domínios do conhecimento e os permeiam.
5) Oferecer subsídios para o desenvolvimento, nas crianças e jovens, do
“pensar por si próprios”, isto é, do pensamento autônomo, bem como
para o desenvolvimento das capacidades que possibilitam escolhas
autônomas no âmbito de condutas. (LORIERI, 2002, p. 47)
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Segundo Lipman, Oscanyan e Sharp (1994), o objetivo primordial de um
programa de Filosofia para Crianças é ajuda-las a aprenderem a pensar por si
mesmas.
Tudo que as crianças necessitam é que as deixemos criar. .Impor-lhes
nossas criações e ainda nosso modo de criar é impor-lhes uma experiência
alheia do mundo e impedir-lhes de desenvolve-la de maneira própria.Gerar
as condições para que as crianças possam pintar sua própria aquarela da
filosofia e do mundo é , talvez um dos maiores desafios para nos que
compartilhamos esta ideia de reunir crianças e filosofia. (KOHAN;
KENNEDY, 1999, p. 72)
2.4
Habilidades de pensamento
Segundo Lipman, Oscanyan e Sharp (1994) pensar é um processo natural ,
tal como respirar , sendo passível de aperfeiçoamento , em que existem critérios
para distinguir pensamento habilidoso de pensamento inábil.
Percebemos que o problema pedagógico é fazer com que a criança pensante
possa pensar bem.
O objetivo de um programa de habilidades de pensamento não é
transformar as crianças em filósofos, em tomadoras de decisões, mas
ajuda-las a pensar mais, ajuda-las a serem indivíduos mais reflexivos,
ajuda-las a terem mais consideração e serem mais razoáveis. As crianças
que forem ajudadas a serem mais criteriosas não só tem um senso melhor
de quando devem agir, mas também de quando não devem fazê-lo.
(LIPMAN, OSCANYAN, SHARP, 1994, p. 35)
Afirmam ainda que;
Do ponto de vista educacional, o desenvolvimento das habilidades de
pensar é de importância crucial e fundamental. A criança que adquiriu
proficiência nas habilidades de pensar não é simples-mente uma criança
que cresceu, mas uma criança cuja verdadeira capacidade de crescer foi
ampliada. (LIPMAN; OSCANYAN; SHARP; 1994. p.36)
Para Lorieri (2002), os professores em especial os de Filosofia, devem
propiciar estímulos para que os alunos possam “pensar bem” desenvolvendo
habilidades de pensamento, oferecendo atividades que cultivem o pensar bem.
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Pensar é um processo onde se cria e imagina novas relações, sabendo que
as relações são dinâmicas e que podemos ressignificá-las transformando-as por
meio de reflexões e novas formas de agir.
Efetivamente, segundo Lipman, a filosofia desenvolve, mais exatamente,
reforça um grande numero de habilidades de pensamento. Ele se concentra
principalmente em quatro dessas habilidades – o raciocínio, a tradução, a
formação de conceitos e a investigação - porque as julga fundamentais [...]
Ora, a filosofia por sua própria natureza, estimula a classificar, a definir, a
fazer inferências e a formular questões pertinentes, ela estimula a
apresentar razões e habilita a construir analogias, comparações, contrastes
e conclusões validas. Em outras palavras a filosofia representa um modelo
lógico para o pensamento da criança que esta em devenir. (DANIEL, 2000,
p.115)
2.5
Comunidade de Investigação
Segundo Daniel (2000), o coração e a essência da concepção Lipmaniana da
filosofia é a comunidade de investigação.
O fazer filosofia exige conversação, dialogo e comunidade, que não são
compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional. A filosofia
impõe que a classe se converta em uma comunidade de investigação, onde
estudantes e professores possam conversar com as pessoas e como
membros da mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se de
ideias conjuntamente, construir sobre as ideias dos outros, onde possam
pensar independentemente, procurar razões para seus pontos de vista,
explorar suas pressuposições; e possam trazer para suas vidas uma nova
percepção de o que é descobrir, inventar, interpretar e criticar. (LIPMAN,
1990, p. 61)
Sendo assim, afirma Daniel (2000) que as crianças precisam ter confiança e
sentirem– se respeitadas em sala de aula para poderem se expressar livremente
sendo valorizadas suas ideias.
Outro ponto fundamental apontado é a importância do diálogo na investigação
filosófica.
É o próprio diálogo que torna a criança capaz de fazer-se pessoa , e a
leitura em voz alta de uma novela , que em si mesma é um modelo de
diálogo, prepara a criança para essa participação dialógica que se
seguira.Falar e escutar comportam uma reciprocidade , uma lição a dar e a
receber , uma tolerância e um respeito a cada um dos participantes , assim
como uma compreensão do sentido das palavras do outro. (SHARP, 1985
apud DANIEL, 2000, p.131)
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3
MATERIAL DIDÁTICO LIPMANIANO
3.1
Novelas Filosóficas
A grande preocupação de Lipmam (1990) baseava- se no desenvolvimento
das habilidades dos alunos, em fazê-los refletir a pensar bem. .
Contudo, permanece o problema de como envolver os alunos no processo
de investigação, como introduzi-los tanto nos aspectos demonstravelmente
problemáticos do assunto sob investigação como aos aspectos
pretensamente estabelecidos. Como os alunos aprenderão a engajar-se na
investigação e a trabalhar dentro das disciplinas acadêmicas tradicionais se
eles necessitam de habilidades cognitivas – as habilidades de raciocínio,
investigação, formação de conceitos e tradução. (LIPMAN, 1990, p.164)
Buscando aumentar as capacidades cognitivas das crianças, Lipman criou o
programa denominado Novelas Filosóficas para o
currículo de Filosofia para
Crianças propondo [...] uma grande quantidade de problemas filosóficos para as
crianças refletirem –frequentemente epistemológicos em natureza, quanto lógicos,
éticos ou metafísicos.(LIPMAN, 1990, p.167).
Sendo assim, afirma Daniel (2000) que as novelas escritas por Matthew
Lipman proporcionavam segurança para as crianças buscarem significados.
[...] Intrinsecamente curiosas, as personagens de lipmanianas partem, em
cada uma das novelas, para uma nova aventura em busca de uma
qualidade de vida cada vez mais adaptada a suas necessidades
especificas, em busca de uma experiência cada vez mais rica de
significados [...] as personagens de suas novelas são modelos [...] à medida
que servem de exemplo a seguir ou imitar. Os heróis são crianças que
pensam ou, mais exatamente, que gostam de pensar e que se divertem no
ato de refletir. (DANIEL, 2000, p.19)
3.1.1 O papel do professor
Segundo Lorieri (2002), existem conteúdos próprios para serem trabalhados
nas aulas de Filosofia, são temáticas que devem ser sempre examinadas, avaliadas
e, eventualmente reelaboradas ou mesmo substituídas. Para tal, é necessário em
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sala de aula perceber o “ensino e o trabalho”. Sobre o ensino ressalta-se que se faz
necessário ensinar certos conteúdos, especialmente conceitos e procedimentos
como a de algumas respostas construídas historicamente, tais aprendizados são
importantes para que ocorra o trabalho com os conteúdos, mas a partir de uma
reflexão rigorosa, radical e abrangente utilizando o método de investigação filosófico,
no qual permitira a formação filosófica em que os indivíduos sejam capazes de
entender melhor as coisas, fazer referências ou significações da realidade de forma
critica podendo avaliar , reelaborar e substituir algo quando necessário.
Ensinar os estudantes a filosofar é convida-los a pensar por eles mesmos,
sugerindo–lhes não esquecer, no momento de fazê-lo, certos dados que os
filósofos, os cientistas, os artistas procuraram esclarecer e que dão á
questão toda a sua complexidade como toda a sua dimensão Ensinar a
filosofar não é, então, apenas a ajudar a tomar consciência das questões
fundamentais em sua amplitude, mas, é também sugerir elementos de
solução; é elucidar noções ambíguas; é lembrar de modo pertinente o “
démarche” de determinado filósofo no momento em que ele encontra uma
questão claramente colocada por todos; mas é sempre ajudar o estudante a
ver mais claro em sua própria situação. (LAGUEX, 1980 apud LORIERI,
2002, p.54)
Segundo Lorieri (2002), cabe ao professor apresentar aos seus alunos textos
filosóficos que possibilitem o entendimento dos alunos, em que o professor traduza
de forma didática preservando o significado deixando claro que as posições
afirmadas pelos filósofos podem e devem ser analisadas e avaliadas.
O estudante que aprende apenas os resultados da investigação não se
torna um investigador, mas apenas um estudante instruído. Esta alusão
aponta para um dos propósitos educacionais da Filosofia: todo estudante
deve tornar-se (ou continuar a ser)um investigador.Para realização desta
meta não há melhor preparo que o que é dado pela Filosofia.A Filosofia é a
investigação conceitual, que é a investigação mais pura e essencial.
(LIPMAN, 1990, p. 58)
Sendo assim, percebe-se a importância do planejamento em relação as ações
visando o que os professores pretendem alcançar ,buscando as melhores formas
de intervenções educativas .
O ensino de filosofia requer professores que estejam dispostos a examinar
ideias, a comprometer-se com a investigação dialógica e a respeitar as
crianças que estão sendo ensinadas [...]. A mudança pode e terá que
ocorrer se aqueles que ensinam para memorização forem substituídos por
aqueles que privilegiam um pensamento ativo enérgico e excelente.
(LIPMAN, 1990, p.173/174)
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CONCLUSÃO
Neste trabalho buscou-se entender a essência do programa Filosofia para
Crianças, criado por Matthew Lipman. A base de todo o programa visava estimular
desde tenra idade o pensamento critico, reflexivo denominado por ele como “Pensar
Bem”. Por meio das “novelas filosóficas”, em que as histórias abordavam assuntos
diversos em que as crianças deviam ler, analisar, refletir, ouvir, respeitar e juntas
chegarem a uma conclusão. Este programa vem ao encontro com as mudanças que
buscamos na educação.
Defendemos uma educação critica reflexiva, inovadora, questionadora para
substituir a tradicional pesada e maçante educação “bancária”.
Sendo assim a ideia de Lipman de transformar a sala de aula em
comunidades de investigação embasadas no diálogo, nos da à chance de repensar
os métodos para alcançarmos uma educação de qualidade em que os alunos
possam construir seus conhecimentos de forma significativa.
REFERÊNCIAS
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