FILOSOFIA: CONTRIBUIÇÕES DE MATTHEW LIPMAN PARA A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS PHILOSOPHY: CONTRIBUTIONS OF DE MATTHEW LIPMAN TO THE EDUCATION OF THE CHILDREN Rosangela de Freitas da Silva – [email protected] Graduando do UNISALESIANO Prof. Dra. – Elaine Cristina Moreira da Silva- [email protected] Prof. Me. Marcos José Ardenghi – [email protected] RESUMO Com o objetivo de analisar a importância do ensino de Filosofia para crianças, como forma de contribuir para que os alunos reflitam sobre seu cotidiano com maior profundidade, buscou-se entender qual a relevância dessa disciplina em ambiente escolar. Para tanto, estabeleceu-se o seguinte problema de pesquisa: quais as orientações para o ensino de Filosofia para as crianças no Brasil? Como hipótese, estabeleceu-se que as orientações sobre esta temática decorrem de pensamentos do filósofo norte americano Matthew Lipmam (1923-2010). Matthew Lipman, nasceu em Vineland, estado de Nova Jersey, Estados Unidos, em 1969. Leciona na Universidade de Columbia e, preocupado com as dificuldades de seus alunos em raciocinar e acreditando que o raciocínio deve ser aprendido na Educação Básica, escreve um texto com linguagem familiar que visava dar às crianças a possibilidade de discutir, investigar em comunidade problemas filosóficos, iniciando assim o Programa de Filosofia para Crianças, constituído por “Novelas Filosóficas” e manuais para os professores no qual havia questões e sugestões para serem exploradas referentes às “novelas”. Para tal, elaborou um currículo para a Filosofia para Crianças a partir de estratégias que visavam o aperfeiçoamento da habilidade de pensar, a proficiência lógica, a logicidade, a estimulação à reflexão e à investigação, a utilização de crianças modelos pensantes em suas novelas filosóficas, manuais para professores que ajudassem a promover o diálogo, o raciocínio e o pensamento autocorretivo, transformando a sala de aula em uma comunidade de investigação. Por meio de pesquisa bibliográfica, concluiu-se que é possível auxiliar a criança a desenvolver a capacidade do “pensar bem”, compreendido como um pensar crítico, ético e político. Palavras-chave: Educação. Criança. Filosofia. ABSTRACT Aiming to analyze the importance of teaching philosophy to children as a way to help students to reflect on their daily lives more deeply, it was sought to understand the relevance of this discipline inside the school environment. To this end, it was established the following research problem: what are the guidances for teaching philosophy to children in Brazil? As a hypothesis, it was established that the Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 guidance on this issue stem from thoughts of the North American philosopher Matthew Lipmam (1923-2010). Matthew Lipman was born in Vineland, State of New Jersey, USA, in 1969. He teaches at Columbia University and, concerned by the difficulties of their students in believing that reason and the reasoning should be learned in basic education, writes a text with language family aimed at giving children an opportunity to discuss, investigate philosophical problems in the community, thereby initiating the Philosophy for Children Program, consisting of "philosophical novels" and manuals for teachers in which there were issues to be explored and suggestions concerning "novels ". To this end, he devised a curriculum for Philosophy for Children from strategies aimed at improving the skills of thinking, logic proficiency, the logicality, stimulating reflection and investigation, the use of child models in their thinking philosophical novels, manuals for teachers that would help to promote dialogue, reasoning and self-corrective thinking, transforming the classroom into a community of inquiry. Through literature review, it was concluded that it is possible to help the child to develop the ability of to "think about it", understood as a critical, ethical and political thinking. Keywords: Education; Child; Philosophy. INTRODUÇÃO Este trabalho originou-se a partir da preocupação em torno de uma educação de qualidade, buscando formas para que a sala de aula possa se transformar em um ambiente significativo, privilegiando o desenvolvimento cognitivo das crianças, no qual a função do professor seria a mediação para a construção do conhecimento. Foi a partir da convicção de que se faz necessária uma Educação pautada na construção de conhecimentos e não na simples assimilação de conteúdos, que surgiu o interesse na Filosofia e mais especificamente na Filosofia para Crianças. Por meio de estudos realizados, percebemos que a Filosofia para Crianças tem em sua essência a aquisição de habilidades para “Pensar Bem”, cada vez melhor e por si só, tendo como base o diálogo e a comunidade de investigação, que busca transformar os indivíduos em pessoas criticas e reflexivas. Percorrendo a História, buscamos entender como surgiu, bem como a trajetória deste programa voltado para crianças. O pioneiro deste projeto, Matthew Lipman, acreditava que as crianças podiam e mereciam esse encontro com a Filosofia, e assim criou o método e materiais, tornando realidade seu projeto. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 Nessa busca pelo desenvolvimento do “Pensar Bem”, Lipman utilizou as chamadas Novelas Filosóficas. O método de descoberta de todas as crianças nas novelas é o diálogo combinado com a reflexão. Esse diálogo com os colegas, professores, pais, avós e outras pessoas, alternado com reflexões sobre o que foi dito, é o veículo básico por meio dos quais os personagens nas histórias aprendem. E é assim também que os estudantes reais aprendem: falando e pensando nas coisas. (LIPMAN, SHARP, OSCANYAN, 1994, p.118) Lipman (1990) também afirma que para o desenvolvimento deste pensar bem é necessário desenvolver as habilidades de pensamento. Para o desenvolvimento dessas habilidades, ressalta-se a importância do diálogo e da comunidade de investigação. Por meio desses argumentos, Lipman afirma de forma veemente a importância da Filosofia e de sua iniciação o mais cedo possível. [...] a filosofia oferece às crianças a oportunidade de discutir conceitos, tais como o de verdade, que existem em todas as outras disciplinas [...] a filosofia oferece um fórum no qual as crianças podem descobrir por si mesmas a relevância, para suas vidas, dos ideais que norteiam a vida de todas as pessoas. (LIPMAN, 1990, p.13) Sendo assim, a partir da análise desses pressupostos teóricos, buscamos analisar a importância do ensino de Filosofia para Crianças como forma de contribuir para que os alunos reflitam sobre seu cotidiano com maior profundidade buscou-se entender qual a relevância dessa disciplina em ambiente escolar. Para tanto, estabeleceu-se o seguinte problema de pesquisa: quais as orientações para o ensino de Filosofia para as crianças no Brasil? Como hipótese estabeleceu-se que as orientações sobre esta temática decorrem dos pensamentos do filosofo norte americano Matthew Lipman, por meio de pesquisa bibliográfica concluiu-se que é possível auxiliar a criança a desenvolver a capacidade do “pensar bem”, compreendido como um pensar crítico, criativo, ético e político. 1 A FILOSOFIA E SUA HISTÓRIA 1.1 BREVE HISTÓRICO DA FILOSOFIA Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 O entendimento da relevância do ensino da Filosofia para Crianças, perpassa pelo conhecimento do resgate histórico. Segundo Lipman (1990), sabendo-se que a filosofia surgiu na Grécia a mais de dois mil anos, e esteve no início encorpada com aforismo, poesia, diálogo e drama, rapidamente tornou-se o que permaneceu de modo geral: uma disciplina acadêmica e de acesso limitado, em que os estudantes aprendem a filosofia ao invés de fazê-la. Percebe-se a Filosofia como uma sobrevivente, mantendo-se mesmo que de forma moderada, sendo uma disciplina notável de riqueza e diversidade. Para Sócrates, Filosofia é um modo de vida, é algo a que qualquer um de nós pode dedicar-se. Entretanto, para muitos filósofos, a racionalidade só é encontrada nos adultos e as crianças são raramente consideradas capazes de ser racionais ou lógicas. (Lipman, 1990). Gramsci, 1978 afirma que “não se pode pensar em nenhum homem que não seja filósofo, que não pense, precisamente porque pensar é próprio do homem como tal”. Porém a Filosofia já fez parte essencial da Educação de príncipes e princesas, mas com a ascendência da ideologia dos negócios, a filosofia foi retirada de cena em respeito à educação das crianças. Percebe-se a importância da Filosofia no contexto educacional desde a época de Platão, porém vamos nos aprofundar no ensino da Filosofia no Brasil e particularmente no ensino de Filosofia para Crianças, projeto que está em processo de aceitação e adequação dentro da realidade brasileira. Segundo Mazai e Ribas (2001), o ensino de Filosofia adentrou no Brasil em 1553 (XVI), influenciado pelos jesuítas, responsáveis pela Educação dos povos das colônias e que visavam propagar e fortalecer a fé cristã, monopolizando o pensamento e afastando o pensamento científico da época que vinha de Descartes, Bacon, Galileu e outros. A cultura filosófica passa a ser “mero comentário teológico, baseado principalmente na renovação escolástica aristotélica”. (CARTOLANO, 1985 apud MAZAI, 2001). A filosofia era assim considerada uma disciplina livresca. Da Europa ela já vinha feita. Era sinal de grande cultura o simples fato de saber reproduzir as ideias mais recentemente chegadas. A novidade supria o espírito de análise, a curiosidade supria a crítica. (COSTA, 1967, apud MAZAI, p.3) Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 O primeiro ministro português, Marquês de Pombal, em 1759 expulsou os jesuítas do Brasil e com isso os estudantes universitários começaram a ter contato com as ideias de Locke, Rousseau, Voltaire. (ARANHA; MARTINS 2003) No decorrer da História, o ensino de Filosofia no Brasil passou por diversos processos e influências. 1.1.1 Surgimento da Filosofia para Crianças Conforme Kohan (1998), no ano de 1969, Matthew Lipman, leciona na Universidade de Columbia as disciplinas de introdução à lógica e introdução à indagação filosófica e preocupou-se em perceber que seus alunos apenas memorizavam, isto é, conheciam as regras, mas tinham dificuldades para reconhecê-las e utilizá-las na vida cotidiana. Acreditava que na universidade seria difícil aprender a raciocinar bem e que esse conceito deveria fazer parte da Educação Básica. Incomodava-lhe o modo como os filósofos tinham sistematicamente fechado suas portas para as crianças. Considerou este impedimento insensível e injusto. Lançou a ideia de que as crianças podem e merecem ter acesso a filosofia. E não apenas lançou uma ideia, mas criou uma instituição e desenvolveu matérias e metodologia para que essa ideia fosse uma realidade. (KOHAN 1998, p.9) Sendo assim, Kohan (1998) afirma que Lipman passa a pensar em como fazer para dar às crianças a possibilidade de discutir, de investigar em comunidade alguns problemas filosóficos, e assim escreve um texto de linguagem familiar que em sala de aula pudesse levar as crianças a sentir que seus pensamentos a respeito do texto eram levados em consideração, surgindo assim a história “A Descoberta de Ari de Telles”, tendo início o Programa Filosofia para Crianças. 1.1.2 A Filosofia para Crianças no Brasil Segundo Lorieri (2002), o Programa Filosofia para Crianças (PFC) ficou conhecido no Brasil a partir do ano de 1984, por iniciativa da professora Catherine Yong Silva que era graduada em Filosofia pela USP e PUC/SP. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 Seu primeiro contato com o Programa Filosofia para Crianças foi casual, por meio da leitura de uma matéria jornalística sobre o assunto em uma revista norteamericana, “Ladies Home Journal”. (PERIN, 1988 apud SILVEIRA, 1998) Ainda no ano de 1984, realizou uma palestra na PUC/SP com Ann Margareth Sharp, na qual algumas pessoas que participaram começaram a estudar a proposta e assim, juntamente com Catherine Young Silva, fundaram o Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, afirma Lorieri. Segundo Lorieri (2002), diversas escolas públicas e particulares aderiram a este programa, sendo que em 1985 desencadearam-se grandes esforços para a iniciação filosófica para crianças e jovens no Brasil. Essa instituição traduziu e adaptou os materiais do PFC de Lipman, obteve direitos de editoração e passou a organizar cursos de formação de professores para o trabalho com o referido Programa. (LORIERI, 2002, p.213) Em decorrência da pesquisa realiza em 2003 a pedido da Unesco, desde 1995, alguns poucos municípios estabelecem a obrigatoriedade do ensino de Filosofia no Ensino Fundamental , sendo na Bahia e no Mato Grosso, bem como em algumas universidades e escolas estão desenvolvendo metodologias e pesquisas próprias para o Ensino de Filosofia nos níveis Infantis e Fundamental. 2 INFÂNCIA, EDUCAÇÃO E FILOSOFIA PARA CRIANÇAS 2.1 Infância Para compreendermos o programa de Filosofia para Crianças, devemos remeter nosso olhar primeiramente à construção histórica da Infância, tendo em vista que o programa lipmaniano tem em sua essência esse período. Kohan (2003), em seu artigo Infância e Educação em Platão, afirma que Platão não é alheio à infância, mas que a associa à primeira etapa da vida humana, sabendo de seus efeitos na posterioridade. Sendo assim, percebe-se que a Educação da Infância é pensada para a política, sendo que uma boa Educação produzirá um cidadão prudente, acreditando que ao proporcionar uma boa Educação poderá se corrigir uma natureza má e, ao Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 contrário, ao promover uma Educação inadequada fará estragos nas melhores naturezas. Neste contexto, percebe-se que a visão sobre a criança é de seres manipuláveis que podem ser transformados no que quisermos. Por isso, a importância de uma boa Educação para garantir que o infante se torne um cidadão prudente. Na idade média, segundo Franco Cambi (1999), as crianças eram conceituadas igualmente aos animais, principalmente pela grande mortalidade infantil que impedia grandes investimentos afetivos. Eram considerados pequenos homens e participavam da vida social igualmente aos adultos. Sua Educação era destinada a oficinas, ao aprendizado ou à igreja e suas práticas religiosas. A primeira ensina uma técnica e um ofício, a segunda, uma visão do mundo e um código moral. A imagem da infância da idade media é a cristã: a meio caminho entre “pecado” (idade pecaminosa, amoral, segundo Santo Agostinho) e “inocência” (idade de graça, privilegiada e exemplar, como dizem os Evangelhos); as condições da vida da infância são sempre duríssimas, marcadas pela escassez de bens, violência e marginalização. (CAMBI, 1999, p.177) Ainda sobre essa concepção, Kennedy relata que segundo Phillipe Áries (1973), em seu livro a História Social da Infância e da Família, a infância que conhecemos foi uma invenção cultural. Ariés (1973) sustenta suas afirmações baseadas nas formas como as crianças eram representadas como “pequenos adultos”, tanto nas vestimentas como na ausência de diferenciação nas divisões entre crianças e adultos. A maneira que a infância é concebida hoje é consequência de diversas transformações. “Este percurso (esta história), por outro lado, só foi possível porque também se modificaram na sociedade as maneiras de se pensar o que é ser criança e a importância que foi dada ao momento específico da infância”. (BUJES, 2001apud CALDEIRA, 2010) 2.2 Educação Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 Partindo das analises históricas sobre a infância, percebemos a importância que se foi construindo sobre essa etapa, bem como a relevância de se educar os infantes buscando um aprimoramento para viver-se bem. Existem diversos conceitos para Educação, buscaremos exemplificar a partir do fundamento de alguns estudiosos, na tentativa de clarificar o seu significado. Para Lorieri (2002), as relações humanas e também com os seres não humanos são modificadoras e assim educadoras. Sendo assim afirma que: Educação, em sentido estrito, é o conjunto de modificações intencionalmente provocadas, ao menos por um dos lados, para que ocorram nas relações de pessoas entre si. Ocorre educação se as modificações (intencionais ou não) forem produzidas de fato.(LORIERI, 2002, p.27) Libâneo (2005) apresenta um conceito ampliado de Educação. as praticas educativas não se restringe à escola ou à família. Elas acontecem em todos os contextos e ambitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não, sob varias modalidades. (LIBÂNEO, 2005) Para Brandão (2007) a Educação é inevitável, não havendo um modelo a se seguir ou uma única forma de acontecer. Existe a educação de cada categoria de sujeitos de um povo. Ela existe em cada povo ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educação como um recurso a mais de sua dominância. Da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis praticas dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mãos adiante com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos. (BRANDÃO, 2007, p.9/10) 2.3 Finalidade e objetivos a serem alcançados com a iniciação filosófica com crianças Segundo Teles (1999), crianças, adolescentes e filósofos possuem características comuns entre eles a partir da curiosidade, o espanto e o deslumbramento diante do mundo. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 A criança, o adolescente e o jovem têm, pois, a natureza do filósofo e esta natureza, ao longo do tempo tem sido sufocada exatamente pelas instituições educativas que já lhes entregam “respostas”, “verdades prontas, “leis”, “normas”, ”regulamentos”, caminhos que necessitam apenas ser decorados e introjetados. Assim a natureza do filosofar , que se manifesta na criança pequena com os seus por quês ? è mutilada já na infância. (TELES,1999, p.11) Neste contexto, Teles (1999) assevera que as instituições educativas principalmente as escolas devem ensinar ao educando a pensar, a refletir oferecendo situações para o desenvolvimento da consciência autônoma, perante a si próprio, aos outros e ao mundo em que vive e neste contexto percebe-se a importância da Filosofia. [...] a filosofia propicia um instrumental critico de aprendizagens cognitivas: em lugar de receber passivamente os fatos e os saberes , a criança que participa de uma troca filosófica analisa, critica, e questiona os saberes transmitidos. Assim em lugar de cair seja numa frouxidão passiva, seja numa fé ingênua, face aos discursos do professor , a criança que pratica a filosofia considera todo o conhecimento como uma hipótese a verificar .Fazendo isso, conclui Lipman , a escola se torna o lugar de reconstrução positiva da experiência da criança , o lugar onde ela aprende a ser e tornarse. (DANIEL, 2000, p. 23) Considerando a escola um ambiente de construção de conhecimentos, Lorieri (2002) ressalta alguns objetivos almejados por meio da iniciação filosófica, considerando seu papel interdisciplinar, pois desenvolve papel importante em todas as áreas, pois ativa o pensamento reflexivo, critico, rigorosos, profundo e abrangente. Os objetivos ressaltados por Lorieri são: 1) Oferecer um espaço curricular especifico no qual crianças, jovens possam dialogar investigativamente, com base nas questões relativas a certas “temáticas de fundo”, de tal forma que possam por sob exame, progressivamente, as referencias ou as ideias reguladoras que encontram em seu cultural. 2) Oferecer, em tal espaço curricular possibilidades de desenvolvimento do pensamento reflexivo, critico, rigorosos, abrangente e criativo, bem como as atitudes que favoreçam o dialogo investigativo. 3) Possibilitar investigação dialógica, reflexiva, critica, rigorosa, profunda, abrangente e criativa, a respeito de temáticas concernentes aos ideais reguladores, ou valores, implicados no exercício da cidadania. 4) Oferecer subsídios para o esclarecimento de conceitos básicos, próprios do âmbito da investigação filosófica, que entrelaçam em todos os demais domínios do conhecimento e os permeiam. 5) Oferecer subsídios para o desenvolvimento, nas crianças e jovens, do “pensar por si próprios”, isto é, do pensamento autônomo, bem como para o desenvolvimento das capacidades que possibilitam escolhas autônomas no âmbito de condutas. (LORIERI, 2002, p. 47) Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 Segundo Lipman, Oscanyan e Sharp (1994), o objetivo primordial de um programa de Filosofia para Crianças é ajuda-las a aprenderem a pensar por si mesmas. Tudo que as crianças necessitam é que as deixemos criar. .Impor-lhes nossas criações e ainda nosso modo de criar é impor-lhes uma experiência alheia do mundo e impedir-lhes de desenvolve-la de maneira própria.Gerar as condições para que as crianças possam pintar sua própria aquarela da filosofia e do mundo é , talvez um dos maiores desafios para nos que compartilhamos esta ideia de reunir crianças e filosofia. (KOHAN; KENNEDY, 1999, p. 72) 2.4 Habilidades de pensamento Segundo Lipman, Oscanyan e Sharp (1994) pensar é um processo natural , tal como respirar , sendo passível de aperfeiçoamento , em que existem critérios para distinguir pensamento habilidoso de pensamento inábil. Percebemos que o problema pedagógico é fazer com que a criança pensante possa pensar bem. O objetivo de um programa de habilidades de pensamento não é transformar as crianças em filósofos, em tomadoras de decisões, mas ajuda-las a pensar mais, ajuda-las a serem indivíduos mais reflexivos, ajuda-las a terem mais consideração e serem mais razoáveis. As crianças que forem ajudadas a serem mais criteriosas não só tem um senso melhor de quando devem agir, mas também de quando não devem fazê-lo. (LIPMAN, OSCANYAN, SHARP, 1994, p. 35) Afirmam ainda que; Do ponto de vista educacional, o desenvolvimento das habilidades de pensar é de importância crucial e fundamental. A criança que adquiriu proficiência nas habilidades de pensar não é simples-mente uma criança que cresceu, mas uma criança cuja verdadeira capacidade de crescer foi ampliada. (LIPMAN; OSCANYAN; SHARP; 1994. p.36) Para Lorieri (2002), os professores em especial os de Filosofia, devem propiciar estímulos para que os alunos possam “pensar bem” desenvolvendo habilidades de pensamento, oferecendo atividades que cultivem o pensar bem. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 Pensar é um processo onde se cria e imagina novas relações, sabendo que as relações são dinâmicas e que podemos ressignificá-las transformando-as por meio de reflexões e novas formas de agir. Efetivamente, segundo Lipman, a filosofia desenvolve, mais exatamente, reforça um grande numero de habilidades de pensamento. Ele se concentra principalmente em quatro dessas habilidades – o raciocínio, a tradução, a formação de conceitos e a investigação - porque as julga fundamentais [...] Ora, a filosofia por sua própria natureza, estimula a classificar, a definir, a fazer inferências e a formular questões pertinentes, ela estimula a apresentar razões e habilita a construir analogias, comparações, contrastes e conclusões validas. Em outras palavras a filosofia representa um modelo lógico para o pensamento da criança que esta em devenir. (DANIEL, 2000, p.115) 2.5 Comunidade de Investigação Segundo Daniel (2000), o coração e a essência da concepção Lipmaniana da filosofia é a comunidade de investigação. O fazer filosofia exige conversação, dialogo e comunidade, que não são compatíveis com o que se requer na sala de aula tradicional. A filosofia impõe que a classe se converta em uma comunidade de investigação, onde estudantes e professores possam conversar com as pessoas e como membros da mesma comunidade; onde possam ler juntos, apossar-se de ideias conjuntamente, construir sobre as ideias dos outros, onde possam pensar independentemente, procurar razões para seus pontos de vista, explorar suas pressuposições; e possam trazer para suas vidas uma nova percepção de o que é descobrir, inventar, interpretar e criticar. (LIPMAN, 1990, p. 61) Sendo assim, afirma Daniel (2000) que as crianças precisam ter confiança e sentirem– se respeitadas em sala de aula para poderem se expressar livremente sendo valorizadas suas ideias. Outro ponto fundamental apontado é a importância do diálogo na investigação filosófica. É o próprio diálogo que torna a criança capaz de fazer-se pessoa , e a leitura em voz alta de uma novela , que em si mesma é um modelo de diálogo, prepara a criança para essa participação dialógica que se seguira.Falar e escutar comportam uma reciprocidade , uma lição a dar e a receber , uma tolerância e um respeito a cada um dos participantes , assim como uma compreensão do sentido das palavras do outro. (SHARP, 1985 apud DANIEL, 2000, p.131) Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 3 MATERIAL DIDÁTICO LIPMANIANO 3.1 Novelas Filosóficas A grande preocupação de Lipmam (1990) baseava- se no desenvolvimento das habilidades dos alunos, em fazê-los refletir a pensar bem. . Contudo, permanece o problema de como envolver os alunos no processo de investigação, como introduzi-los tanto nos aspectos demonstravelmente problemáticos do assunto sob investigação como aos aspectos pretensamente estabelecidos. Como os alunos aprenderão a engajar-se na investigação e a trabalhar dentro das disciplinas acadêmicas tradicionais se eles necessitam de habilidades cognitivas – as habilidades de raciocínio, investigação, formação de conceitos e tradução. (LIPMAN, 1990, p.164) Buscando aumentar as capacidades cognitivas das crianças, Lipman criou o programa denominado Novelas Filosóficas para o currículo de Filosofia para Crianças propondo [...] uma grande quantidade de problemas filosóficos para as crianças refletirem –frequentemente epistemológicos em natureza, quanto lógicos, éticos ou metafísicos.(LIPMAN, 1990, p.167). Sendo assim, afirma Daniel (2000) que as novelas escritas por Matthew Lipman proporcionavam segurança para as crianças buscarem significados. [...] Intrinsecamente curiosas, as personagens de lipmanianas partem, em cada uma das novelas, para uma nova aventura em busca de uma qualidade de vida cada vez mais adaptada a suas necessidades especificas, em busca de uma experiência cada vez mais rica de significados [...] as personagens de suas novelas são modelos [...] à medida que servem de exemplo a seguir ou imitar. Os heróis são crianças que pensam ou, mais exatamente, que gostam de pensar e que se divertem no ato de refletir. (DANIEL, 2000, p.19) 3.1.1 O papel do professor Segundo Lorieri (2002), existem conteúdos próprios para serem trabalhados nas aulas de Filosofia, são temáticas que devem ser sempre examinadas, avaliadas e, eventualmente reelaboradas ou mesmo substituídas. Para tal, é necessário em Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 sala de aula perceber o “ensino e o trabalho”. Sobre o ensino ressalta-se que se faz necessário ensinar certos conteúdos, especialmente conceitos e procedimentos como a de algumas respostas construídas historicamente, tais aprendizados são importantes para que ocorra o trabalho com os conteúdos, mas a partir de uma reflexão rigorosa, radical e abrangente utilizando o método de investigação filosófico, no qual permitira a formação filosófica em que os indivíduos sejam capazes de entender melhor as coisas, fazer referências ou significações da realidade de forma critica podendo avaliar , reelaborar e substituir algo quando necessário. Ensinar os estudantes a filosofar é convida-los a pensar por eles mesmos, sugerindo–lhes não esquecer, no momento de fazê-lo, certos dados que os filósofos, os cientistas, os artistas procuraram esclarecer e que dão á questão toda a sua complexidade como toda a sua dimensão Ensinar a filosofar não é, então, apenas a ajudar a tomar consciência das questões fundamentais em sua amplitude, mas, é também sugerir elementos de solução; é elucidar noções ambíguas; é lembrar de modo pertinente o “ démarche” de determinado filósofo no momento em que ele encontra uma questão claramente colocada por todos; mas é sempre ajudar o estudante a ver mais claro em sua própria situação. (LAGUEX, 1980 apud LORIERI, 2002, p.54) Segundo Lorieri (2002), cabe ao professor apresentar aos seus alunos textos filosóficos que possibilitem o entendimento dos alunos, em que o professor traduza de forma didática preservando o significado deixando claro que as posições afirmadas pelos filósofos podem e devem ser analisadas e avaliadas. O estudante que aprende apenas os resultados da investigação não se torna um investigador, mas apenas um estudante instruído. Esta alusão aponta para um dos propósitos educacionais da Filosofia: todo estudante deve tornar-se (ou continuar a ser)um investigador.Para realização desta meta não há melhor preparo que o que é dado pela Filosofia.A Filosofia é a investigação conceitual, que é a investigação mais pura e essencial. (LIPMAN, 1990, p. 58) Sendo assim, percebe-se a importância do planejamento em relação as ações visando o que os professores pretendem alcançar ,buscando as melhores formas de intervenções educativas . O ensino de filosofia requer professores que estejam dispostos a examinar ideias, a comprometer-se com a investigação dialógica e a respeitar as crianças que estão sendo ensinadas [...]. A mudança pode e terá que ocorrer se aqueles que ensinam para memorização forem substituídos por aqueles que privilegiam um pensamento ativo enérgico e excelente. (LIPMAN, 1990, p.173/174) Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 5., n.11, jul/dez de 2014 CONCLUSÃO Neste trabalho buscou-se entender a essência do programa Filosofia para Crianças, criado por Matthew Lipman. A base de todo o programa visava estimular desde tenra idade o pensamento critico, reflexivo denominado por ele como “Pensar Bem”. Por meio das “novelas filosóficas”, em que as histórias abordavam assuntos diversos em que as crianças deviam ler, analisar, refletir, ouvir, respeitar e juntas chegarem a uma conclusão. Este programa vem ao encontro com as mudanças que buscamos na educação. Defendemos uma educação critica reflexiva, inovadora, questionadora para substituir a tradicional pesada e maçante educação “bancária”. Sendo assim a ideia de Lipman de transformar a sala de aula em comunidades de investigação embasadas no diálogo, nos da à chance de repensar os métodos para alcançarmos uma educação de qualidade em que os alunos possam construir seus conhecimentos de forma significativa. REFERÊNCIAS ARANHA, M. L.; MARTINS M. H. Filosofando: introdução a Filosofia. São Paulo: Moderna, 2003. BRANDÃO. R. C. O que é Educação. São Paulo: Brasiliense, 2007. CALDEIRA, B. L. O conceito da Infância no decorrer da História. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigosteses/Pedagogia /oconceito de infância no decorrer da historia.pdf>. Acesso em: 14 set. 2014. CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. DANIEL, M.- F.. A Filosofia e as Crianças. São Paulo: Nova Alexandria, 2000. GRAMSCI, A. Obras Escolhidas. 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