SOROR IMPERATORE: A IDEALIZAÇÃO DE MARCIANA NO

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SOROR IMPERATORE: A IDEALIZAÇÃO DE MARCIANA NO
PANEGÍRICO DE TRAJANO
Alex Aparecido da Costa
Resumo: Este artigo pretende apontar aspectos da idealização de Marciana, irmã do
imperador romano Trajano, feita por Plínio, o Jovem em sua obra intitulada Panegírico
de Trajano. Durante o Alto Império o regime do Principado, cuja característica principal
era a concentração de poder nas mãos do imperador, convivia ainda com as instituições
republicanas. Essa situação ambígua demandava uma constante busca de equilíbrio
entre a nova realidade política e as tradições caras à ordem senatorial que governara
Roma durante a República. A imagem feminina ilustrada por Plínio respondia tanto à
orientação ditada pela filosofia estoica, que preconizava o controle das paixões e a
elevação moral, quanto às ideias de virtus e mos maiorum, que concentravam as
virtudes exigidas do homem político e o apego aos valores ancestrais que
fundamentavam a grandeza de Roma. A representação de Marciana no Panegírico de
Trajano emerge dos moldes conservadores tradicionais que ditavam o comportamento
feminino em harmonia com a realidade contemporânea. Dessa forma, agregava à figura
do príncipe a imagem do pater familias ideal e transferia sua capacidade ao universo
político, onde estava habilitado a governar segundo os mesmos valores que eram
exigidos pelas camadas sociais que o apoiavam.
Palavras-chave: Estoicismo, virtus, mos maiorum.
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SOROR IMPERATORE: A IDEALIZAÇÃO DE MARCIANA NO
PANEGÍRICO DE TRAJANO
Alex Aparecido da Costa
Introdução
Durante o Alto Império Roma viveu sob a égide dos imperadores, cujo caráter
absoluto de seu poder era ocultado sob o conceito de princeps. O príncipe era em tese o
primeiro cidadão, o mais apto para governar o império, mas como na realidade seu
poder e autoridade originavam-se muitas vezes de sua preeminência militar, de sua
fortuna e prestígio pessoal o regime utilizou-se em certos períodos de intensa
propaganda para ilustrar a figura do príncipe como dotado das capacidades físicas éticas
e morais necessárias à função. Durante o governo de Trajano, Plínio, o Jovem atuou
como conciliador entre o Senado e o príncipe, isto era necessário, pois o primeiro era
composto de membros ciosos dos valores que o aproximava das tradições da antiga
República enquanto o segundo controlava o novo regime do Principado que despojara
os senadores das prerrogativas que outrora detinham. Também senador, amigo pessoal
do príncipe e funcionário da administração imperial Plínio, em seu Panegírico de
Trajano ilustrou a ótica do imperador, sobretudo a ideologia de um grupo senatorial de
conciliação permanente entre a cúria e o príncipe, buscando legitimar a política do
César e orientar os interesses senatoriais. Na obra em questão a imagem de Trajano é
apresentada como de um imperador cioso das tradições ancestrais, clemente, moderado,
virtuoso e de uma grande elevação moral, correspondentes aos conceitos de mos
maiorum, virtus e na filosofia estoica. E ao lado disso, como a aristocracia romana
valorizava o casamento e a família, ambos de caráter sagrado onde predominava o poder
paterno (GRIMAL, 1986) como forma de prover as famílias de herdeiros legítimos a
família essa instituição tinha também uma importância muito grande na propaganda
imperial, pois ao homem a boa condução de sua casa era primordial para o bom
desempenho dos serviços prestados ao estado. Por isso Plínio, no Panegírico oferece na
imagem de Marciana como uma figura que reforça a de Trajano como homem virtuoso.
Como já dissemos, a propaganda imperial buscava oferecer modelos exemplares, por
isso nos propomos, com uma leitura embasada na bibliografia especializada sobre o
tema, analisar o discurso de Plínio para compreender como ele construiu a imagem da
irmão do imperador e entender em que medida ela é tributária da época, das instituições
e das ideias em que o autor e a obra estavam inseridos.
A condição da mulher romana
Os estudos sobre o tema apontam que, tradicionalmente, a mulher romana quando
solteira vivia sob a tutela do pai, e na falta deste um parente do sexo masculino é que
tinha autoridade sobre ela, quando se casava ela deixava esta para trás apenas para
sujeitar-se à do marido. Um texto escrito no final da República oferece uma ideia do
poder do marido sobre a esposa:
Rômulo manteve as mulheres em grande e sábia modéstia, graças ao
estabelecimento de uma única lei, (que a todas as outras superava como
mostraram os fatos), a qual estipulava que uma mulher casada, conforme a
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união sagrada do matrimônio, devia participar de todos os bens do marido e
de todas as coisas santas (DIONÍSIO DE HALICARNASSO, Antiguidades
romanas, apud PINSKY, p. 113, 2009).
Tradicionalmente os romanos justificavam esta condição da mulher porque sua
concepção do sexo feminino supunha a ideia de imbecilitas mentes e infirmitas sexus,
esses conceitos respectivamente atribuíam uma leviandade mental e uma enfermidade
característica da mulher em oposição ao homem (THOMAS, 1990). Ao encontro disso a
historiografia moderna afirma que
No interior da casa familiar, a mulher, que a lei considera, ao longo de toda
sua existência, como um ser inferior, passando da autoridade paterna à
autoridade do marido e, depois, se enviuvar, à do seu filho mais velho,
espera-se que viva uma vida de devoção, de obediência e de trabalho
(GRIMAL, 1986, p. 33).
Essa diferenciação tradicionalmente fazia com que a sociedade romana assentada
em bases compostas por famílias gravitasse em torno do pater (FUNARI, 1993) dele
dependia as relações jurídicas e políticas da família no fórum (GRIMAL, 1991) e era ele
quem presidia o culto doméstico (COULANGES, 1998) sua virtus e sua pietas o
capacitavam para essas funções enquanto na mulher eram valorizados apenas as
qualidades inerentes ao âmbito doméstico (FUNARI, 1993), dentre as quais era
importante que a esposa sempre agradasse o marido, pois o contrário seria uma grave
subversão à ordem natural que governava a sociedade (ROULAND, 1997). Nesse
sentido é interessante a lembrança da história de Coriolano retirada de Tito Lívio por
Grimal (1991) que a considera meio legendária. Seja como for, Coriolano, um romano
dos primeiros tempos da República, a despeito de ter sido vitorioso foi exilado e como
vingança organizou um exército e sitiou Roma, delegações senatoriais e sacerdotais
enviadas a ele em vão não o demoveram, o que somente veio a ocorrer sob os protestos
de sua mãe e principalmente de sua esposa. Grimal (1991) acrescenta uma passagem de
Tito Lívio onde este afirma que os romanos não invejaram essa proeza feminina, pois
naquele tempo este sentimento não atingia as glórias alcançadas, o que nos leva a uma
interpretação segundo a qual “Tito Lívio sente confusamente que o procedimento das
mulheres e mais ainda seu sucesso eram “indecentes”, contrários à ordem moral, e
apresentavam um caráter quase monstruoso” (GRIMAL, 1991, p. 204). Assim como
Tito Lívio sente um deslocamento da ordem natural quando a história romana aponta
sucessos femininos onde os homens falharam Catão, o Velho, por sua vez deplora a
tolerância dos homens para com suas esposas e era severo quando, investidos de alguma
magistratura, os homens usavam o poder delegado pelo povo romano em suas
conquistas amorosas (GRIMAL, 1991).
Portanto, a mulher romana desde a fundação da cidade vivia sob um estatuto
moral e jurídico que a sujeitava completamente ao homem. Era considerada parte dos
bens do marido e de intelecto e físico inferior, sua vida deveria ser dedicada
completamente a casa e à felicidade do marido, e quando atuava fora desse âmbito,
superando os homens ou desviando-os de seus deveres eram fontes de constrangimento
da ordem patriarcal. Mas ainda que as ideias permanecessem ao longo dos tempos os
comportamentos inexoravelmente transformaram-se conforme Roma ultrapassava suas
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fronteiras municipais conquistando a Itália e após todo o Mediterrâneo. Alföldy (1989)
afirma que após as vitoriosas guerras contra Cartago as estruturas sociais e econômicas
romanas se tornaram mais complexas, o enriquecimento e os hábitos orientais
introduzidos na cidade criaram um gosto pelo luxo que escandalizava a rusticidade
tradicional, pois
As vitórias alcançadas pelos romanos sobre os reinos da Grécia, no século
II antes de nossa era, transformaram, de forma profunda e inevitável, o seu
tipo de vida; contudo essa transformação não deixou, por sua vez, de se
reflectir no sistema de todo o Estado: as antigas crenças, os princípios
directores dos homes no poder, todo o ideal de cidade foram postos em
causa, e talvez não seja exagerado afirmar que a história do mundo se
modificou no dia em que os gregos ensinaram aos seus conquistadores a arte
de jantar melhor (GRIMAL, 1986, p. 12-13).
Esses novos comportamentos eram estigmatizados principalmente em relação às
mulheres. Nesse sentido trazemos novamente a figura de Catão, o Velho, com seus
protestos “contra aquilo que ele considerava uma decadência, proibindo uma ou outra
prática que se estava a instalar, restringindo a quantidade de joias que as mulheres
usavam, regulamentando a ementa dos banquetes ou o preço dos escravos” (GRIMAL,
1986, p. 13). Essas reações revelam o apego às tradições, que aos romanos pareciam
muito mais violadas, devido principalmente à velocidade com que as transformações
advindas da expansão e os consequentes processos de aculturação se operavam
modificando os hábitos. Assim as inovações entravam em choque com a memória dos
tempos em que Roma era uma cidade fechada em si (GRIMAL, 1986). Dessa forma,
conforme encaminhamo-nos para os últimos séculos da República o tecido moral que
cobria os comportamentos romanos começa a se esgarçar. De acordo com Grimal
(1991), durante o século II a. C. as obras de Plauto e Terêncio já refletiam a diminuição
do poder do marido, nessa época o casamento tradicional cai em desuso e passa a ter
lugar o casamento sine manu, (CARCOPINO, 1990) no qual a mulher permanecia sob a
tutela paterna, tinha controle de bens, poderia receber heranças e com o divorcio o dote
não ficaria retido com seu ex-marido.
Outra afirmação de Alföldy (1989) diz que após as guerras contra Cartago
algumas famílias aristocráticas de Roma ganharam preeminência excepcional e
passaram a compor a chamada nobilitas, um grupo exíguo que concentrava o poder.
Nesse cenário Grimal (1991) aponta a participação política de Cornélia, a mãe dos
tribunos Tibério e Caio Graco, segundo o autor a viúva de Tibério Semprônio Graco
formou em torno de si um círculo de conciliação entre os semprônios e os cornélios.
Nesse sentido o afrouxamento da tradição abriu espaço para a atuação feminina nos
assuntos políticos de Roma, e se nos exemplos citados por Grimal (1991) poucas
mulheres são exemplares aos romanos como o foi Cornélia e a maioria influenciou na
política por meio de envenenamentos e agindo como amantes de líderes facciosos, não
devemos esquecer que os homens a muito usavam da violência para defender interesses
pessoais, e para isso não precisamos ir longe, pois o assassinato de Tibério e Caio,
filhos de Cornélia é um claro exemplo. Mas prevalecia, juntamente com as demais
mudanças, o juízo de que a liberdade gozada pelas mulheres era um dos sintomas da
decadência moral em que mergulhavam, é que os romanos faziam analogias segundo as
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quais ao declínio da República correspondia os desvios dos costumes ao passo que à
glória das primeiras conquistas eram creditadas aos hábitos austeros de outrora
(GRIMAL, 1986).
Plínio, o Jovem: instituições e ideias de sua época
Para compreendermos as intenções da obra de Plínio, o Jovem, precisamos
conhecê-lo, assim teremos uma ideia das condições em que ela foi produzida, pois
“antes de extrairmos um significado substancial dos documentos literários, é preciso
especificar as características que envolvem sua constituição” (VENTIRUNI, 2011, p.
175). O autor do Panegírico de Trajano, mais famoso, porém pelas suas Cartas, um
conjunto epistolar privado endereçado “a indivíduos que fazem parte do círculo social
de Plínio, como senadores, governadores de províncias, equestres, funcionários
municipais, ou ainda, seus familiares” (VENTURINI, 2011, p. 176). Como se vê Plínio
fazia parte da parcela privilegiada de Roma e sua circulação nos meios senatoriais é um
indicativo importante de que suas ideias faziam parte dos valores apreciados por essa
ordem muito ciosa dos costumes ancestrais da República da qual ela fora retora.
Sua trajetória política vincula-se de forma estreita com a organização política e
social do Principado. Nascido na Itália setentrional em 62 d. C. Plínio era de origem
equestre, uma das ordens superiores da sociedade romana (ALFÖLDY, 1989)
imediatamente inferior à ordem senatorial. Era composta por indivíduos enriquecidos
originariamente em atividades comerciais que posteriormente asseguravam sua posição
adquirindo terras. Chastagnol (1992) chama a atenção para essa característica da ordem
equestre lembrando que Plínio era oriundo da “burguesia” municipal de Como, sua
cidade natal. A fortuna de Plínio, o Jovem era constituída de propriedades rurais
espalhadas pela Itália, às quais eram muito bem administradas por ele (HARVEY,
1987). Foi advogado, profissão na qual demonstrou talento oratório, em relação a sua
carreira política foi tribuno militar, questor, cargo que significou sua ascensão à ordem
senatorial, mas para essa elevação ao ordo senatorius concorreu também a sua adoção
por parte de seu tio, Plínio, o Velho, adoção que lhe rendeu terras além das herdadas de
seu pai e irmão mais velho. Seu patrimônio foi aumentado também por seus três
casamentos (CHASTAGNOL, 1992). Plínio foi também pretor, tribuno da plebe
(SOUZA, 2010) prefeito do tesouro, curador do Tibre, augur e governador da Bitínia
entre 111 d. C e 113 d, C., provável data de sua morte. A vida política de Plínio guarda
um episódio que ilustra a relação de apoio imperial para com os cavaleiros. Por
recomendação do imperador Domiciano, de quem era secretário, ele se torna seuir dos
cavaleiros com 27 anos, antes de exercer a questura (CHASTAGNOL, 1992). O apoio
imperial recebido por Plínio lhe permitiu pular etapas obrigatórias do cursus honorum e
galgar as magistraturas mais altas.
De fato Plínio era um indivíduo a serviço do império e como sob o governo de
Trajano ele alcança o cargo máximo de cônsul ele encontra o ensejo adequado no dia de
sua posse para agradecer o príncipe que o indicara para o cargo, faz isso por meio do
Panegírico de Trajano que é também um discurso de propaganda imperial no qual
Trajano é apresentado com príncipe ideal. A obra em questão trata-se originalmente de
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uma gratiarum actio, espécie de discurso pronunciado ao senado habitualmente por um
romano na ocasião de sua ascensão ao consulado. No ano 100 d. C. Plínio, o Jovem
alcançou essa posição, e em primeiro de setembro pronunciou a gratiarum actio diante
do senado endereçando-a também ao Imperador Trajano (DURRY, 1972). O texto do
Panegírico que temos em mãos para nosso estudo é na verdade uma edição revista de
sua alocução ao Senado (HARVEY, 1987), nela Plínio acrescentou várias partes,
tornando o texto original três ou quatro vezes mais extenso (DURRY, 1972). Ao
Panegírico devemos o conhecimento dos primeiros anos do governo de Trajano e
muitos detalhes das instituições que o cercavam. O Panegírico de Trajano assinala na
história do Alto Império as relações entre a cúria e o Principado, oferece-nos o
conhecimento dos primeiros anos do governo de Trajano e muitos detalhes das
instituições que o cercava (DURRY, 1972). Coloca Plínio diante de Trajano: o senador
que após desempenhar várias funções administrativas é recompensado com a mais alta
magistratura romana e o príncipe que reconhece o apoio recebido pela ordem senatorial e
eleva um de seus elementos ao mais distinto cargo da extinta República. Mais que mero
agradecimento, o Panegírico apresenta momentos de aconselhamento e de elogios
sinceros de Plínio a Trajano que, assumindo o poder após um período conturbado, foi
por seu governo tido como um novo Augusto.
No interior do Panegírico de Trajano, assim como nas Cartas Plínio, o Jovem
“exalta a virtude encontrando respaldo no mos maiorum (tradição), e na moderação
estoica e demonstra as afinidades entre a aristocracia e o estoicismo” (VENTUIRNI,
2011, p. 180). Vejamos então o que são essas ideias filosóficas morais e políticas que
orientavam a aristocracia senatorial durante o Alto império.
Presente na mentalidade romana desde os tempos da República o estoicismo se
infiltrou na cultura e no pensamento dos romanos. Assim como muitas outras
influências helênicas absorvidas por Roma a filosofia estoica teve origem grega. Tal
corrente filosófica
Aconselha o homem a viver de acordo com a natureza obedecendo à ordem
dos acontecimentos que exprimem a vontade de Deus e, desse modo, o
estoicismo desenvolve-se como um materialismo e como um racionalismo
ético (BRUN, 1986, p. 32).
Colhida de Zenão esta definição importa por ser retirada do fundador da escola estoica,
mas tal filosofia ainda viajará no espaço, no tempo e na mentalidade de seus
propagadores antes que a encontremos atuando na formulação da figura do príncipe
ideal durante o período do Alto Império. Sintetizando o texto de Brun (1986), voltemos
um rápido olhar para essa jornada.
No século III a. C. Atenas ainda guarda seu brilho intelectual característico, mas
está abalada pela perda de sua primazia política ocasionada pela conquista de
Alexandre, o Grande, cujo império, após sua morte, é disputado por seus generais. O
período helenístico não é apenas um tempo de difusão cultural, é também uma época de
conturbação política e mental. Nesse cenário surgiu o estoicismo como opção filosófica
para ordenar a vida dos homens e reconciliá-los com a natureza. O estoicismo antigo
restringiu-se à Grécia da terceira centúria antes de nossa era, teve como fundador Zenão
de Cício que chega à Atenas em 314 a. C. vindo do Chipre, ao lado do fundador
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despontam nesse período os nomes de Cleanto e Crisipo. Com o estoicismo médio do
século II a. C. a escola estende-se a Roma por intermédio de Panécio que a adapta ao
gosto latino. Nessa época
Roma impunha-se por todo o lado graças às suas legiões e aos seus juristas
que faziam reinar a Pax Romana; as consciências que tinham necessidade de
uma moral pessoal encontraram no humanismo universalista dos estoicos
uma doutrina capaz de responder às suas aspirações. [...] Com ele [Panécio]
o estoicismo inflectiu para um humanismo da razão, óptimo para seduzir os
romanos, homens de acção; a doutrina estoica perde seu rigor e Panécio faz
prova de um ecletismo que o leva a utilizar ao mesmo tempo obras de
discípulos de Aristóteles e da Nova Academia (BRUN, 1986, p. 21).
Após esse sucesso de adaptação à realidade romana chegamos ao estoicismo da época
imperial que se deterá apenas nos seus aspectos relativos à moral que “ensinar-nos-á
como se devem praticar nossos actos” (BRUN, 1986, p. 75). Esta última etapa da escola
estoica tem lugar a partir do início de segundo século da era cristã, vindo no bojo de um
clima favorável ao desenvolvimento filosófico proporcionado pelos Antoninos após as
perseguições dos Julio-Claudios e dos Flávios que sucederam o século de ouro de
Augusto (ENGEL, 1978).
O estoicismo imperial atua em ligação com a evolução da noção de Estado e das
estruturas sociais, que colocam em questão a atitude do indivíduo. Para os estoicos o
dever se liga à aceitação do destino, à liberdade e à resignação. Neste caso, o acento é
colocado no aspecto humanista desta tendência filosófica. A influência estoica nos
meios dirigentes desde o último século da República fez considerar os filósofos como
defensores da liberdade diante da escalada do poder pessoal. Todavia, a oposição dos
filósofos aos imperadores teve um caráter mais moral do que político, e a resignação os
conduzia mais à abstenção do que à resistência política. As ideias morais estoicas
penetraram em espaços variados: entre as classes populares, intelectuais e aristocráticas,
sobretudo no Senado, que era a imagem concreta, o lugar de afirmação para a ordem
social que seus membros representavam com suas famílias. Os senadores eram grandes
proprietários formando o estrato social privilegiado devido ao nascimento, a formação
intelectual e a riqueza fundiária.
Em sinergia com o estoicismo na mentalidade romana atuavam as noções de virtus
e mos maiorum. A primeira é tratada por Pereira (1987), como um valor
fundamentalmente romano, remete-nos ao homem direito que elenca em ordem de
importância a res publica, a família, posicionando em último lugar a si mesmo, tratavase de um “conjunto de qualidades que o homem político poderia e deveria reunir no
exercício da vida pública” (VENTURINI, 2011). Nesse sentido a virtus exprimia-se no
modo de atuação a serviço do Estado e também
Como uma forma elementar e difusa do pensamento político, expressão de
uma classe, mas fundada sobre um sentimento muito preciso de seus deveres
e de seus direitos. Sociedade rural, militar, religiosa, onde as estruturas
familiares são essenciais. Sociedade para qual a política pode se reduzir a
prática de certas virtudes, e essencialmente daquilo que será chamado
precisamente, em Roma, de virtus (NICOLET, 1964, pp. 22-23).
A segunda, ainda de acordo com a mesma autora, refere-se à observância dos
costumes dos antepassados como base da grandeza do Estado romano. Na época
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imperial o apelo ao mos maiorum estará representado em tendências republicanas dos
senadores, que diante da impossibilidade da restauração da República reclamarão ao
menos os seus valores, pois segundo Alföldy (1989) desde os primeiros séculos da
República o respeito ao mos maiorum era entendido pelos aristocratas romanos como a
forma de dar continuidade à grandeza de Roma fazendo a manutenção das instituições
políticas, sociais e religiosas, e quando Roma, a partir do século II a. C., passou a sofrer
transformações estruturais após as guerras contra Cartago foi ainda o mos maiorum que
forneceu coesão à sociedade diante do crescente antagonismo das diferentes camadas
sociais.
Como nossas leituras do Panegírico de Trajano apontam para uma importante
presença da filosofia estoica e das noções de virtus e mos maiorum na idealização da
figura do príncipe ideal, seguiremos essa orientação para analisarmos a parte da obra
que Plínio, o Jovem dedica à imperatriz Plotina.
A idealização de Marciana na visão pliniana
Antes de buscarmos as resposta para a questão que propomos convém apresentarmos a
situação em relação ao matrimônio e à mulher durante o Alto Império, pois apesar do
apelo ao mos maiorum é durante este período e não sob a República que Plínio escreveu
sua obra, e se ele evocava os costumes ancestrais o fazia em reação àqueles
contemporâneos seus.
No início do novo regime, Augusto, seu fundador, imbuído em seu projeto
restaurador que fazia parte da ficção da permanência da República sob o Principado,
pretendeu estabelecer uma revalorização da instituição do matrimônio entre a
aristocracia romana. De acordo com Rouland (1997), as medidas de Augusto buscavam
recompor as famílias senatoriais dizimadas pelas guerras civis, por isso instituiu
penalidades fiscais aos casais inférteis e aos celibatários enquanto premiava as mulheres
que dessem à luz ao menos três filhos. Essa revalorização do casamento tem raízes nos
estatutos antigos. Como dissemos acima o casamento era o lugar onde deveriam nascer
os filhos legítimos que herdariam as honras das famílias senatoriais, o amor livre
deveria ser reprimido, pois as crianças dele nascido não tinham a condição legal
exigida. Por isso as uniões onde era rígida a moral conjugal traduziam-se em virtude
(ROULAND, 1997), pois a renovação da elite era um serviço que deveria ser prestado à
sociedade pelos cidadãos que após as desordens das guerras civis deviam fazer um
exame de consciência e retornarem aos hábitos virtuosos de outrora (GRIMAL, 1986).
E nesse sentido é significativo a conservação da estátua de Cornélia por parte de
Augusto (GRIMAL, 1991) Podemos entender o seu exemplo se pensarmos que ela
vivera sob o início das convulsões republicanas e mesmo assim conservou-se uma
esposa virtuosa que orgulhosamente recusou o pedido de casamento do rei Ptolomeu
VIII (BOWDER, 1980), o que não convinha a uma orgulhosa aristocrata de Roma cujos
valores execravam a monarquia.
Mas essa política de Augusto não teve êxito e suas leis não tiveram influência
suficiente para reavivar a moral conjugal, ele próprio não seguia os preceitos que
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pregava, era infiel e casou mais de uma vez em busca de alianças políticas e mesmo
Lívia que foi sua esposa por até sua morte foi por ele tomado do marido (GRIMAL,
1991). E após Augusto os exemplos dos príncipes mostram o fracasso de seu projeto, os
interesses privados de esposas, filhos e dos próprios governantes faziam da casa
imperial um exemplo que os cidadãos não deveriam seguir (ENGEL, 1978), mesmo
porque a fusão da vida particular com o cargo máximo exercido por eles colocava por
terra a noção de virtus que pressupunha o serviço do estado em primeiro plano. Durante
os governos que antecederam a dinastia Antonina os romanos parecem viver sob o que
Engel (1978), chamou de mal do século, que demandou uma busca de equilíbrio entre o
gozo das conquistas e decadência dos costumes que vinham em seu bojo.
Mas se na época de Plínio a ordem senatorial ainda reclama os valores da
República ela já reconhece a muito que no plano político não retornará. Resignados no
estoicismo os senadores esperam que o príncipe não se deixe seduzir pelo poder e não
façam seus governos declinarem em tiranias, mas como isso não deixa de ocorrer eles
conspiram e por vezes assassinam os imperadores que segundo seus critérios abusam do
poder. É o que ocorre com Domiciano, perseguidor de elementos da cúria e dos
estoicos. Em seu lugar o Senado coloca Nerva, que idoso, nomeia Trajano como seu
sucessor (GRIMAL, 1993). Oriundo da Hispânia Trajano é o primeiro provincial a
alcançar a posição de imperador. Em um período de restauração senatorial (HOMO,
1950) essa singularidade era um sinal positivo, pois diante da decadência de Roma a
integridade moral de homens oriundos das famílias provinciais era bem vinda para
comandar o império (GRIMAL, 1986).
Em suma exigia-se um príncipe de moral elevado para governar o império e a
despeito das reais qualidades de Trajano, as quais não podemos recuperar, seu valor
como governante será idealizado por Plínio, o Jovem no Panegírico de Trajano, e como
nas sociedades patriarcais a dignidade masculina é atestada pelo comportamento
principalmente pelo comportamento das mulheres de sua família ele não deixou
idealizar também a figura de Marciana.
Ao falar dela Plínio ressalta a forma reservada com que o imperador a tratava:
“Sem dúvida o que tu mostras ao público é admirável, mas o que tu resguarda em teus
muros não é menos” (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 83, 2), aqui temos
logo de início a exaltação do homem que mantém as mulheres da família no recato e na
segurança do lar. Plínio deixa clara essa necessidade de reserva, pois fala necessidade
de evitar “todo contágio de vícios” (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 8, 2),
isso aponta para uma realidade que não condizia com os valores propostos na obra, dos
quais o príncipe e sua família deveriam manter-se distanciados para servirem de
exemplo. E a ideia de no Panegírico Plínio apresentar um modelo é reforçada pela
necessidade de todos ao redor do príncipe serem também exemplares, o que nas
palavras de Plínio foi feito por Trajano apesar de ser “mais difícil se comportar como
responsável dos outros do que de si mesmo, mas é louvável que, sendo perfeito, tu
tenhas tornado todos ao teu redor semelhantes a ti” (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de
Trajan, 83, 3). A correta postura da irmã de Trajano descrita por Plínio por sua vez ia ao
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encontro da ideia do homem que exibe sua capacidade política também na
administração de sua casa, nesse sentido Plínio afirma que
Quanto a tua irmã, como ela faz lembrar que ela é tua irmã! Como
encontramos nela seu caráter aberto, tua franqueza, tua candura; se a
comparamos a tua esposa, somos levados a perguntar o que vale mais para
viver virtuosamente, uma boa educação ou um nascimento feliz. (PLINE LE
JEUNE, Panégyrique de Trajan, 84, 1).
O trecho aponta que junto com sua família o príncipe deveria servir de modelo,
Engel (1978) lembra que o comportamento do príncipe deveria ser exemplar, e isso
devia ocorrer não apenas enquanto príncipe, mas também enquanto cidadão, pois se o
princeps era o primeiro entre os cidadãos é porque tinha preeminência moral para isso
sem deixar de ser um entre os demais. E os elogios a Marciana ressaltam nela a virtude,
a elevação moral e a moderação e o convívio harmônico com sua cunhada.
Nada favorece mais as querelas que a disputa, entre as mulheres
especialmente: além disso elas nascem sobretudo da vida em comum, é
alimentada pela igualdade, se exaspera pela inveja cujo resultado é o ódio.
(PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 84, 2)
Ela é apresentada como uma mulher virtuosa, e isso concorre para o benefício da
imagem do príncipe, por isso Plínio ressalta a singularidade da relação dentre as
mulheres da casa do imperador: “tanto mais admirável deve parecer que entre duas
mulheres, sob o mesmo teto, e de igual classe não haja nenhuma luta , nenhuma
rivalidade”. (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 84, 3). A atitude diante da
figura do imperador parece querer respaldar um modelo de atitude da mulher romana
frente ao pater famílias, modelo este tão padronizador que suprime a individualidade
das mulheres sob a autoridade de Trajano.
Elas se admiram mutuamente, mutuamente elas se resignam, e como todas as
duas te amam carinhosamente entendem que pouco lhes importa saber qual
das duas tu amas mais. Todas duas têm o mesmo ideal, a mesma regra de
vida e não há nada que te permita ter a impressão que elas sejam duas.
(PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 84, 4).
Vemos nesse trecho a ênfase sobre os valores ancestrais e a ausência de vaidades
pessoais tanto em Marciana quanto em Plotina, mulher de Trajano, essa imagem
corresponde a daquelas mulheres da época do Principado que
Aspiravam a compartilhar plenamente as preocupações do marido, a
mostrar-se dignas de seus ancestrais e, de modo mais geral, do nome
romano. Para elas o amor assumia outra fisionomia. Já não era, como nos
tempos antigos, obediência, respeito, auto anulação, mas tornava-se estima,
dedicação, às vezes companheirismo, até cumplicidade (GRIMAL, 1991, p.
270).
Apesar de o autor apresentar uma transformação do casamento em relação à
época da República permanece a dedicação da mulher ao pater familias e em relação ao
companheirismo ele não afirma ser uma regra, mas na passagem do Panegírico essa
atitude é destacada. Por que Plínio assim procede? Esclarece-nos Veyne (2010).
Segundo ele a conciliação entre os cônjuges é celebrada sem ser colocada como norma,
e os desencontros do casal são menos tolerados. Essa visão do matrimônio, segundo o
autor, é uma busca de aproximação com o estoicismo, no qual a perfeição matrimonial é
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um dever. Segundo ele essa busca não levou senão à ilusão, afirma isso levando em
consideração que nos discursos de Plínio sobre a vida conjugal é exaltada a amizade
entres os esposos e prevalece o tom sentimental, virtuoso e exemplar. De fato é o que
vemos no Panegírico, que segundo os argumentos de Veyne (2010) enquadra-se na
propaganda de uma nova moral conjugal, na qual a amizade entre marido e mulher
ganha importância, no entanto o autor duvida que na prática a condição feminina no
casamento tenha melhorado significativamente. Os argumentos de Veyne (2010)
corroboram a ideia de que o discurso de Plínio era uma idealização em consonância com
a mentalidade senatorial envolvida pela filosofia estoica. Mentalidade esta que não
podia dispor da austeridade ancestral que exalta a humildade da mulher, seja ela esposa
ou irmã como no caso do Panegírico onde são apresentadas por Plínio como um
monólito em homenagem a Trajano.
Elas pensam somente em te imitar, em seguir teu exemplo. Assim todas duas
têm a mesma moral tendo a mesma que tu. Daí essa simplicidade, daí essa
segurança que nada perturba. Quero dizer que elas jamais correm o risco de
perderem sua classe, elas que nunca a abandonaram. (PLINE LE JEUNE,
Panégyrique de Trajan, 84, 5).
Como negar nesta passagem a presença de uma concepção antiga da família
romana no qual ao marido compete controlar as mulheres como parte de seus bens e
segundo sua vontade que por sua vez alinha-se aos costumes ancestrais elogiados por
Dionísio de Halicarnasso (apud PINSKY, 2009)? É que a mesma simplicidade do
príncipe convém às mulheres de sua família, que agem sempre em consonância com as
atitudes do pater famílias, pois segundo Plínio
O Senado lhes fez a oferta do título de Augustas; elas o recusaram assim
como também tu recusou por muito tempo o título de Pai da Pátria, ou talvez
porque elas valorizem mais serem chamadas tua esposa e tua irmã que
Augustas (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de Trajan, 84, 6).
Nesta última passagem vemos reforçada novamente a concepção ideal da mulher
submissa que em consonância com a moderação estoica então em voga recusa a pompa
dos título, preferindo a austeridade. E isso é o que tornará tanto Marciana quanto sua
cunhada modelos de comportamento para as mulheres romanas contemporâneas.
Mas qualquer que seja a razão que as tenha feito adotar tal reserva, elas são
tanto mais dignas de em nossos corações serem e passarem por Augustas
ainda que não portem o título. Pois o que há de mais honrado para as
mulheres que colocar as verdadeiras honras, não na pompa dos títulos, mas
nos juízos de opinião, e se tornarem iguais aos mais grandes títulos, mesmo
no momento em que elas os recusam? (PLINE LE JEUNE, Panégyrique de
Trajan, 84,7, 8).
Prezando a simplicidade como valor a ser exaltado e admirado, e Plínio a finaliza
ressaltando a importância do respeito às tradições próprias do mos maiorum que lhes
competiam, pois, conforme já citado, da mulher romana “espera-se que viva uma vida
de devoção, de obediência” (GRIMAL, 1986, p. 33), não só ao pater famílias, mas a
todos os valores ancestrais que fizeram a grandeza de Roma.
Considerações finais
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Na época do Alto Império os príncipes governantes construíram sobre si uma
centralização administrativa e militar até então nunca vista em Roma, entretanto essa
inovação guardava traços assentados em bases da antiga República. Ocupando cargos
tradicionais de maneira arbitrária, porém consentida pelo Senado, que era o estrato
social preeminente durante o período republicano, o príncipe ocupava uma posição
ambígua diante das tradições. No passado os romanos haviam derrubado a monarquia e
as famílias mais poderosas constituíram a chamada ordem senatorial. Entre seus
membros ela dividia as magistraturas, que eram os cargos políticos importantes,
colegiados e com duração limitada, formavam um sistema que pretendia evitar o poder
pessoal ao qual a expansão romana inexoravelmente levou. Diante do Senado e do povo
cioso das tradições o príncipe precisava envolver seu poder incondicional com o manto
da virtus e do mos maiorum. Durante o governo de Trajano coube a Plínio, o Jovem,
com seu Panegírico, ilustrar a figura do imperador de forma condizente com essas
ideias morais e políticas, e ao tratar da irmã do imperador apresentou-a nos moldes
exigidos pelos valores ancestrais. Sendo o primeiro cidadão Trajano e Marciana deviam
ser mostrados como exemplares para todos os romanos, essa foi a proposta de Plínio
que não deixou incluir aspectos do estoicismo, que era a filosofia que predominava na
aristocracia, na representação modelar dos cônjuges imperiais.
Ao final deste trabalho cabe a nós refletirmos acerca desse apego dos romanos
aos valores antigos e sua necessidade de principalmente neles encontrar segurança e
justificativas para guiarem sua existência. É que valores há muito tempo estabelecidos
configuram-se em marcos perenes que fundamentam poderes e modos de dominação
que por sua ancestralidade acabam por se justificarem automaticamente, romper com
eles é a mesma coisa que violar um sistema natural que ordena o mundo. Mas é uma
tarefa impossível evitar as transformações e o desafio que se coloca incessantemente
diante a humanidade é adaptar-se ao novo sem deixar de ser aquilo que o passado
ajudou a construir no presente para ser constantemente reformulado e desfeito.
REFERÊNCIAS
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