XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A TEORIA DE ESTRUTURAÇÃO DE GIDDENS COMO COMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO DE DIFUSÃO DE TECNOLOGIA ANA PAULA WENDLING GOMES; ADRIANO PROVEZANO GOMES. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA, MG, BRASIL. [email protected] POSTER CIÊNCIA, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E PESQUISA. A Teoria de Estruturação de Giddens como complementação do Processo de Difusão de Tecnologia Grupo de Pesquisa: Ciência, Inovação Tecnológica e Pesquisa Resumo: A difusão de inovações tecnológicas implica num conjunto de conhecimentos, desde sua geração, assimilação e utilização, devendo ser um processo de aprendizagem e de transferência desses conhecimentos. A inovação deve ser problematizada e não considerada como dada, envolvendo todos os atores sociais, uma vez que, estes são sujeitos ativos, que criam e recriam as estruturas de legitimação, dominação e de significados nas práticas sociais. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma complementação na concepção de estrutura do sistema social do modelo de difusão de inovação utilizado pelo autor Everett Rogers em sua obra Diffusion of Innovation. Palavras-chaves: Tecnologia; Difusão; Teoria de Estruturação Abstract: The diffusion of technological innovations implicates in a group of knowledge, from your generation, assimilation and use, should be a learning process and of transfer of those knowledge. The innovation should be problematized and not considered as having given, involving all the social actors, once, these are subject active, that create and they create again the legitimation structures, dominance and of meanings in the social practices. The present work has as objective presents a complementation in the conception of structure of the social system of the model of innovation diffusion used by author Everett Rogers in your work Diffusion of Innovation. Key Words: Technology; Diffusion; Structuration theory Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 1 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 1. INTRODUÇÃO A tecnologia tem sido o centro dinâmico das mudanças sociais e econômicas. Ao longo de toda a existência da humanidade ela tem configurado formas de apropriação da natureza e do comportamento humano, por isso tem sido a essência de mudanças socioeconômicas. Estamos diante de uma mudança estrutural da economia mundial, desencadeada pela avassaladora revolução tecnológica. Os avanços da ciência e tecnologia, como as profundas transformações que se produzem em toda a sociedade, obrigam à renovação contínua de processos tecnológicos para manter a competitividade. Novos modelos interativos de difusão de inovações e paradigmas tecnológicos aparecem, tornando indispensável um estreito relacionamento entre pesquisadores, tecnólogos, instituições e produtores. Segundo SANCHEZ & PAULA (2001), a difusão de inovação tecnológica deve ser ao mesmo tempo um processo cumulativo e interativo. Cumulativo, porque incorpora conhecimentos prévios, historicamente adquiridos, que servem de base à introdução da nova tecnologia. Interativo pela participação sistêmica de múltiplos atores e instituições com funções diferenciadas. Essas características da inovação indicam que os arranjos institucionais influenciam de forma importante o processo de difusão de inovação. Esses arranjos são elementos de primordial importância para facilitar os processos interativos de aprendizagem de conhecimentos entre os diferentes atores. Assim, para que o processo de difusão de inovação se realize, são necessários arranjos específicos envolvendo um conjunto de instituições, ao que se pode considerar como um sistema institucional, para adequar os arranjos às necessidades e para permitir o processo cumulativo. O processo de inovação tecnológica implica num conjunto de conhecimentos, desde sua geração, assimilação e utilização, devendo ser um processo de aprendizagem e de transferência desses conhecimentos entre os diferentes atores. Portanto, a devida qualificação dos recursos humanos, tanto os tecnólogos e instituições, como os usuários de determinada tecnologia, é um requisito imprescindível na abordagem e na transferência de uma tecnologia. De acordo com ROGERS (1995), a tecnologia faz parte de um plano de ação instrumental que reduz a incerteza a respeito das relações causa-efeito envolvidas na tentativa de se obter um resultado desejado. O conceito envolve dois aspectos: um aspecto “hardware”, que apresenta a tecnologia sob a forma de objetos físicos ou materiais, e um aspecto “software”, que consiste na informação básica necessária para usar esses objetos, sendo este o principal elemento da redução da incerteza quanto às conseqüências do uso da tecnologia. Uma vez que, o uso da tecnologia pode provocar transformações nos hábitos das pessoas, interferindo nos conhecimentos a priori dos usuários, a qualificação dos recursos humanos é um requisito indispensável para enfrentar estas transformações. Enfrentar as novas questões e os problemas decorrentes dessas transformações constitui-se o grande desafio para as instituições envolvidas nesse sistema, implicando uma profunda mudança de concepção e de orientação das suas práticas e instrumentos no processo de adoção da inovação tecnológica. O modelo dominante ou convencional de difusão de tecnologia de Rogers é aplicado na maioria dos estudos e agências de difusão de inovações, e tem como pressuposição que a adoção das novas idéias tem características de uma mercadoria, ou Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 2 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" seja, podem ser distribuídas aos clientes e não transformadas e adaptadas no processo de adoção de difusão. Pelo contrário, é o sistema que irá adaptá-la. A investigação produz tecnologia, assumindo que as condições para seu uso existem ou podem ser criadas. Os indivíduos são vistos como receptores passivos ao adotarem a tecnologia. O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma complementação na concepção de estrutura do sistema social do modelo de difusão de inovação utilizado pelo autor Everett Rogers em sua obra Diffusion of Innovation. A teoria da estruturação de Giddens pode ser um caminho complementar ao modelo, visto que devemos buscar em nossa pesquisa, por conhecimentos interativos de caráter interdisciplinar. 2. O MODELO DOMINANTE DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA O modelo dominante de transferência de tecnologia tem como a principal pressuposição a “idéia de inovação” como fator determinante para que ocorra o desenvolvimento, ou seja, o seu enfoque está na adoção e difusão de inovações tecnológicas, vistas como elementos organizadores e indispensáveis no processo de modernização. De acordo com esse modelo difusionista, o processo de modernização tem como conseqüência a mudança social, que é direcionada do tradicional para o moderno. O objetivo central na difusão da inovação é passar a informação ao produtor, e se o cliente irá adotá-la ou não. Para que esse objetivo seja alcançado, utiliza-se de estratégias, procurando atingir o público alvo, tendo como intermediário os agentes de mudanças (difusores). A obra de Diffusion of Innovation, apresentada e discutida por Everett Rogers, teve grande impacto sobre as políticas de desenvolvimento e de comunicação, e se encaixa perfeitamente ao modelo dominante de transferência de tecnologia. De acordo com o modelo difusionista proposto por ROGERS (1995), a difusão de inovações é o processo onde as inovações são comunicadas aos membros de um sistema social. O objetivo da difusão é aumentar a eficiência da adoção de inovações que se baseiam em “novas idéias”, de maior produtividade. O processo de mudança tecnológica compreende as seguintes etapas: conhecimento, convicção, decisão, implementação e confirmação. O conhecimento se dá quando o indivíduo fica sabendo da existência da tecnologia (portanto, uma nova tecnologia, do seu ponto de vista) e obtém informações preliminares a respeito do seu funcionamento; a convicção ocorre quando, baseado em informações mais precisas, o indivíduo forma opinião favorável ou contrária à inovação; a conseqüente escolha entre adotar ou rejeitar a nova técnica caracteriza a fase de decisão, seguida da implementação, que ocorre quando a decisão é posta em prática. Finalmente, a confirmação envolve a avaliação dos resultados, para reforçar a decisão tomada ou para reverter essa decisão (ROGERS, 1995). Para o autor, a introdução de uma alternativa é melhor do que aquela que existe, e ocorrerá num dado sistema social, que é definido como um grupo de unidades. Devendo levar em consideração como a estrutura de um sistema social afeta a difusão. O processo de adoção de inovações é um processo individual de decisão. Portanto, a difusão depende da decisão de adotar uma inovação por parte de cada um dos membros de um dado sistema social, sendo que a intensidade dos esforços promovidos para difundir uma inovação no sistema é proporcional a maior ou menor expectativa percebida pelo adotante. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 3 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Esse processo consiste numa série de ações e escolhas de idéias e de decisões para incorporação da inovação e o progresso da mesma. O maior problema a ser superado nesse processo de inovação, é questão do tempo de adoção. Para tanto, o modelo sugere usar estratégias para reduzir o tempo de adoção e aumentar o número de adotantes por meio da difusão que nada mais é um tipo particular de comunicação, onde a mensagem principal é a nova idéia. ROGERS (1995), aponta que existem algumas variáveis que afetam o processo de difusão referentes à taxa de adoção de uma inovação que estão relacionadas a percepção que os diversos atores envolvidos no processo possam ter da inovação, o que ajuda a explicar as diferentes taxas de adoção, a qual está diretamente relacionada à velocidade com que uma inovação é adotada pelos membros de um sistema social. A variação da taxa de adoção envolve os seguintes atributos: Vantagem relativa: É o grau com que uma inovação é percebida como melhor que a idéia que está sendo substituída. O grau de vantagem relativa pode ser medido em função da rentabilidade econômica, prestígio social, baixo custo inicial, etc. Compatibilidade: É o grau com que uma inovação é percebida como compatível com valores existentes, experiências passadas, e necessidade de potenciais clientes adotarem. Complexidade: É o grau de dificuldade de entendimento e de utilização percebido pelo potencial usuário. Quanto mais fácil de entender e utilizar, mais fácil será adotada. Experimentação: É o grau com que um potencial usuário pode experimentar a inovação antes de adquira-la. Observação: É o grau com que os resultados de uma inovação são visíveis para os outros. A partir da devida identificação das variáveis no processo de inovação e os seus respectivos inter-relacionamentos e interdependências torna-se necessário conceber a forma e os mecanismos para decidir qual o momento mais adequado para iniciar o processo de inovação. As falhas do processo de difusão, de acordo com Rogers, são na maioria das vezes atribuídas mais aos adotantes das inovações, do que propriamente ao sistema em que eles foram submetidos. Ou seja, o resultado obtido por uma pesquisa é muito mais baseado na responsabilidade individual, do que na responsabilidade do sistema. O autor ainda expõe que os inovadores tardios ou retardatários são quase sempre a maior parte dos que cometem falhas individuais por não adotarem inovações, ou por começarem muito tarde na adoção, comparados a outros membros pertencentes ao sistema. Portanto, os não adotantes acabam sendo estereotipados como retardatários, personificando a própria imagem do atraso e do fracasso, dentro dos padrões de modernização A questão da modernização vem sendo inserida no pacote tecnológico, vinda desde a revolução verde que apresentava o discurso “difusionista - desenvolvimentista”, ou seja, com as novas técnicas adotadas, a produção melhoraria, tornando os agricultores modernos, caminhando junto com o progresso tecnológico. A modernização através de novas idéias é reconhecidamente necessária, pois mais rapidamente os indivíduos passam a se integrarem do conhecimento e de novas técnicas. O que se tem Colocado em dúvida, entretanto, e o modo como se tem processado essa incorporação da modernização, ou seja, o problema está na concepção do processo de difusão que se baseia apenas em difundir uma inovação. Para isto, procura romper qualquer obstáculo que possa impedir a adoção. Não há uma preocupação nos efeitos que essa inovação possa trazer para o sistema social, mas sim quais empecilhos esse sistema pode ter para prejudicar a adoção. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 4 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Rogers interessa em saber como a difusão acontece dentro de um sistema social, pois a estrutura social do sistema afeta (facilitando ou impedindo) a difusão da inovação. Daí a necessidade de conhecer as estruturas sociais nas quais estão localizados os adotantes da inovação que se resume basicamente em apropriar desse conhecimento local, ou seja, conhecer as práticas existentes, as potencialidades a dificuldades, e a necessidade de inovação para saber quais medidas de persuasão em prol das inovações. O papel do agente de mudanças no modelo de transferência de tecnologia convencional utilizado por Rogers O agente de mudança é o indivíduo que irá influenciar a decisão de inovação dos clientes. O seu papel é de fazer com que as inovações sejam adotadas, mostrando a necessidade da mudança. Dentro do processo de decisão do adotante, o agente de mudança faz o planejamento individual atuando no conhecimento e persuasão. Ele precisa conhecer as práticas existentes e a necessidade de inovação para saber quais medidas de persuasão, identificando as potencialidades e dificuldades do indivíduo. Os agentes de mudança devem compreender e ficarem atentos ao significado social das inovações difundidas por eles. O que deve ser primordial, segundo o autor, como estratégia de ação difusionista, é que os agentes de mudança estabeleçam uma empatia plena com os membros da cultura receptora, evitando desta forma o fracasso dos resultados esperados. As pressuposições tiradas do modelo difusionista proposto por Rogers se resumem abaixo: − a introdução de uma alternativa é melhor do que aquela que existe; − considera o sistema homogêneo, não diferenciando que quem irá adotar a inovação tecnológica; − tem como principal objetivo que um maior número de pessoas adotem a inovação; − pressupõe que todos adotarão a tecnologia em determinado período de tempo; − a inovação é dada como uma solução do problema de quem adota; − o aumento da produção agrícola é suficiente para o desenvolvimento rural; − as inovações incorporadas pelos indivíduos irão se espalhar entre os demais em contato direto ou indireto; − o crescimento de um indivíduo estimula o crescimento dos demais, e todos se moverão para a modernização; Síntese de algumas críticas às pressuposições levantadas ao modelo dominante de difusão de inovações: − o aumento da produtividade é condição necessária, embora não suficiente para o desenvolvimento rural; − o sistema o qual será implantada às inovações é heterogêneo; − a inovação em si não é problematizada e sim considerada como dada e sem participação ou intervenção dos usuários; Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 5 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" − a difusão de tecnologia convencional privilegia as questões de persuasão e recepção e não são problematizadas as condições de criação e de uso das técnicas apropriadas e adequadas ao produtor; − as falhas do processo de difusão são de mais responsabilidades individuais de quem adotou do que do sistema; − o papel do difusionista se concentra apenas em buscar o melhor meio para difundir a tecnologia; e − a geração e difusão de tecnologia não visa o produtor, se volta apenas para o mercado 3. A TEORIA DE ESTRUTURAÇÃO DE GIDDENS COMO UM CAMINHO ALTERNATIVO AO MODELO DOMINANTE Nos modelos alternativos de desenvolvimento, as inovações tecnológicas também devem desempenhar um papel importante para o desenvolvimento. Entretanto, devem ser considerados os contextos estruturais e culturais em que se processa a difusão, não em prol da tecnologia. Esta não deve ser a referência principal, mais sim o usuário ou os adotantes da inovação, dentro de um sistema. A teoria de estruturação de Giddens com seu enfoque na dualidade de estrutura a nas práticas sociais com os seus elementos estruturais dentro de um sistema social, pode ser um caminho complementar nos estudos de intervenção de difusão, pois nos ajuda a entender as diferenças no uso e ou adoção de tecnologias, quando aplicadas em diferentes contextos estruturais de ação e interação humana, considerando que tais intervenções acontecem em estruturas sociais complexas e diferenciadas. Considera no contexto estrutural do sistema, o conhecimento a priori das práticas sociais na adoção de uma tecnologia, como os atores envolvidos nas práticas sociais podem reagir às inovações. A teoria de estruturação diz respeito à reprodução de sistemas sociais. Estes, em que a estrutura está recursivamente implicada, compreendem as atividades e relações entre atores, organizadas como práticas sociais reproduzidas através do tempo e do espaço (GIDDENS, 2003). Quer dizer então que, essas práticas envolvidas entre os atores sociais são recursivas, ou seja, elas não são internalizadas por eles mais são continuamente criadas e recriadas pelos mesmos. Analisar, portanto a estruturação de sistemas sociais refere-se estudar como são produzidas e reproduzidas as relações das atividades dos atores envolvidos em tais sistemas, que se apóiam em estruturas (regras a recursos) recursivamente implicados na reprodução de sistemas sociais. O uso de recursos pelos atores em práticas sociais resulta na produção e reprodução de estruturas de dominação (política, econômica, intelectual). Da mesma maneira, por meio de implementação de regras, os seres humanos criam e recriam estruturas de legitimação, (instituições legais) e estruturas de significação (discursos institucionalizados). Através da interação entre essas estruturas vão se criando e recriando formas legitimadas de discursos e expectativas sobre o papel dos atores sociais e como eles se relacionam. Para explicar esse comportamento dos atores dentro do sistema, Giddens usa a noção de dualidade de estrutura, procurando reconciliar o dualismo entre estrutura e os agentes envolvidos, reunindo essas duas noções em uma dualidade. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 6 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Nas palavras de Giddens (2003), a constituição de agentes e estruturas não são dois conjuntos de fenômenos independentes, "um dualismo", mas representam uma dualidade. De acordo com a noção de dualidade de estrutura, as propriedades estruturais de sistemas sociais são, ao mesmo tempo, meio e fim das práticas que elas recursivamente organizam. A estrutura não é algo externo, que impõem coerção, sobre a ação humana, mas algo interno que serve como condição e conseqüência da ação humana. Ela não deve ser vista como uma restrição, mas simultaneamente restritiva e facilitadora. Portanto, para Giddens, a ação dos atores e a estrutura, se pressupõem mutuamente. Os indivíduos por meio de suas ações, fazem a história e isto acontece sempre dentro de estruturas já existentes que vão se modificando ou sendo recriadas, através da ação dos atores. Para ROGERS (1995), a estrutura se constitui como arranjos moldados das unidades em um sistema. Esta estrutura dá regularidade e estabilidade ao comportamento humano e possui posições hierárquicas entre as unidades dentro de um sistema social. De acordo com a definição de Rogers, pressupõe se, portanto, que a estrutura seja algo externo, que impõem coerção sobre o individuo. A concepção de Giddens sobre o papel dos indivíduos dentro do sistema social é diferente de Rogers. Este fala de unidades de sistema (o papel de cada individuo) ou experiências individuais. Portanto, para este autor, o processo de adoção de inovações é um processo individual de decisão. Em sua teoria, Giddens não fala de experiências individuais e sim de práticas sociais (coletividade). Pressupõe-se, portanto, que o processo de adoção de inovações para ele, deva ser um processo coletivo de decisões levando em consideração os elementos estruturais que fazem parte da prática social. Um outro aspecto importante que diferencia na concepção destes autores é o papel do indivíduo dentro do sistema social na questão da receptividade. Para Rogers, os usuários são simples receptores passivos de inovações e estão mais ou menos dispostos a aceitá-Las. Na concepção da teoria de Giddens, os atores envolvidos nas práticas sociais são ativos, ou seja, compartilham um conhecimento das condições e conseqüências do que fazem em suas vidas cotidianas. Este conhecimento surge de uma consciência discursiva e prática. Segundo GIDDENS (2003), a consciência discursiva é o que os atores são capazes de expressar verbalmente, acerca das condições sociais e da sua própria ação. Já a consciência prática é o que os atores sabem acerca das condições sociais, incluindo especialmente as condições de sua própria ação, mas não podem expressar discursivamente. Presume-se então que no sistema social de Giddens, os atores envolvidos numa inovação participam na própria geração e na adaptação das inovações, com aproveitamento do próprio conhecimento, e das habilidades e experiências das práticas sociais dos mesmos. As inovações serão adequadas as diferentes condições estruturais e culturais em que estão inseridas, levando-se em consideração as suas conseqüências. Rogers, em seu modelo difusionista, desconsidera a fase de geração da inovação por considerar que a inovação seja boa para os usuários. A difusão de inovações é considerada como um fenômeno natural, e não se enfatiza as questões dos obstáculos atribuídos entre os indivíduos. Estes sim, devem mudar seus hábitos e comportamentos para se adaptarem as novas técnicas. Não se imagina um esforço de criação de técnicas e de mobilização coletiva em torno de práticas adequadas às situações dos usuários. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 7 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" O processo de mudança social não deve ocorrer por meio de imposição de novas regras de interpretação como fazem os agentes de mudança do modelo dominante de difusão de inovações, que tentam persuadir os indivíduos para mudar seus comportamentos em função das inovações. Uma vez que existe esta dependência mútua entre os atores sociais e as estruturas do sistema, como propõe a teoria de Giddens, considerando que existe essa integração de sistema, ou seja, uma reciprocidade entre atores ou coletividades através do tempo espaço, cabe o agente de mudança se enquadrar nesse espaço - tempo, identificando e trabalhando com esses elementos estruturais (significados, legitimação e dominação) do sistema. Assim como as formas de dominação levam a recriação e legitimação de diferentes regras, as estruturas de significação e legitimação afetam as estruturas de dominação tanto no sentido de reproduzi-las como de desafiá-Las, instalando processos de mudanças (GIDDENS, 2003). São essas dualidades de estruturas que possibilitam a formação de um trabalho coletivo dentro de um sistema entre os atores sociais e o intermediário de uma inovação. Um método que se enquadra bem nesse modelo alternativo, é o holismo metodológico proposto por Durkheim, que assume que a ordem social não pode ser reduzida ao comportamento de atores individuais. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não há dúvidas que a difusão de inovações para aumentar a produção agrícola é condição necessária para o desenvolvimento rural. No entanto, a relação comunicacional entre os agentes de mudança e o usuário da informação quanto ao comportamento deste e em função da sua realidade frente à mensagem tecnológica, não deve ser ignorado. A estreita relação entre os diferentes atores envolvidos no sistema institucional, agentes de mudança e usuários é indispensável considerando que, o processo de difusão acontece em contextos sociais diferenciados e complexos, os quais envolvem propriedades estruturais organizadas recursivamente. Para o modelo clássico ou dominante de difusão, os usuários são simples receptores passivos de inovações, considerados como clientes que irão comprar o pacote tecnológico. Privilegia o processo de persuasão para influir nas atitudes e conduta dos adotantes em prol da tecnologia. De acordo com a teoria de estruturação, a estrutura não é algo externo, que impõem coerção sobre a ação humana, mas algo interno que ao mesmo tempo restringe e facilita a ação humana. Cabe aos agentes de mudança procurar meios de fazer participar das inovações, considerando o conhecimento a priori, que surge de uma consciência discursiva e prática, e as habilidades e experiências práticas dos mesmos. A postura do agente de mudança deve ser de um educador, ele deve ter consciência das conseqüências de suas ações de forma crítica, para reconhecer as reais necessidades dos atores no sistema social. A inovação deve ser problematizada e não considerada como dada, envolvendo todos os atores sociais, uma vez que estes são sujeitos ativos, que criam e recriam as estruturas de legitimação, dominação e de significados, nas práticas sociais. Portanto, o processo de difusão deve implicar em arranjos estruturais e institucionais, de caráter horizontal, com a participação sistêmica e coletiva em torno das práticas adequadas as situações do produtor no meio rural. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 8 XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIDDENS, Anthony. A constituição da sociedade. 2ª ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2003. ROGERS, E. M. (1995). Diffusion of Innovations. 4th. Ed. New York: Free Press. SANCHEZ, Tirso W. Saenz, PAULA, Maria Carlota de Souza Desafios institucionais para o setor de ciência e tecnologia: o sistema nacional de ciência e inovação tecnológica. Parcerias Estratégicas. Brasília, nº 13, dez. 2001. Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 9