CARGA TRIBUTÁRIA Senhor Presidente, senhoras e senhores Deputados: Antes de encerrarmos o primeiro ano da atual legislatura não posso deixar de consignar a minha indignação ante a falta de criatividade da atual administração federal. E sinto que essa indignação é compartilhada por milhões e milhões de brasileiros que, frustrados, observam a incoerência entre o discurso político que venceu uma eleição e a prática administrativa de um governo que, ao se instalar, era símbolo de esperança para toda uma Nação. O discurso político era o da geração de oportunidades de trabalho e renda; da promoção da Justiça social; do crescimento econômico com a justa participação de toda a sociedade; da redução das desigualdades interregionais e, mais que tudo, da gradual eliminação da vergonha nacional que é a distribuição de renda neste País. Ninguém, em sã consciência, esperava milagres neste primeiro ano de administração do PT. Mas todos esperavam, no mínimo, sinalizações evidentes de que a nova administração caminharia para a conquista destes objetivos tanto estratégicos, do ponto de vista econômico, quanto humanos, do ponto de vista social. Sinto que a grande frustração popular não é apenas pela inércia da atual administração. Ela é muito mais profunda pela falta de perspectivas concretas para que a economia volte a crescer, para que o País volte a prosperar e para que a população, especialmente a mais humilde, volte a ter esperança de fazer o mínimo que o ser humano deseja: poder trabalhar. A rigor, o que este governo trouxe de novo para o País? O que todos constatamos, do mais rico dentre todos os brasileiros ao mais humilde deles, é que este governo trouxe apenas uma elevação da carga tributária como jamais se viu em toda a história do Brasil. E faço uma segunda pergunta: Essa brutal elevação da carga tributária serviu para que? Serviu para melhorar a educação? Serviu para ampliar o atendimento na Saúde? Serviu para melhorar a infra-estrutura? Serviu para ampliar os níveis de segurança pública? Não, não serviu para nada disso. Ela serviu apenas para dizer aos banqueiros nacionais e internacionais que somos um País bem comportado e que eles podem continuar nos explorando sem o menor risco de perderem os seus preciosos capitais. 1 Em 2002 o brasileiro votou por mudanças convencido de que o modelo econômico que originara o real, malgrado a sua importância histórica, não mais atendia aos anseios da população. Mas o novo governo optou por um disfarçado continuísmo que, se teve o mérito de assegurar razoáveis indicadores econômicos, teve o demérito de impor uma acefalia administrativa e uma generalizada frustração pela mais absoluta falta de criatividade. Garantir a estabilidade econômica pela via da ortodoxia gerada em Washington pelas estrelas do FMI não é realização que se possa creditar a um governo. É antes de tudo uma demonstração de falta de criatividade; de falta de ousadia para perseguir outros modelos capazes de assegurar o alcance de iguais metas sem impor sacrifícios a quem já não tem mais o que sacrificar. Por que o juro pago pelo governo ao investidor precisa ser mantido à conta do emprego do trabalhador? Por que é preciso paralisar a economia, eliminando milhares e milhares de postos de trabalho apenas para satisfazer a volúpia dos banqueiros? Matéria publicada pela revista Veja, edição de 10 de dezembro, apresenta uma lúcida análise do atual momento econômico. Ao salientar que todo o esforço feito neste ano foi suficiente apenas para “que o Brasil não quebrasse e nem perdesse a credibilidade internacional”, a matéria deixa claro que “preparar o terreno para o crescimento sustentado e duradouro exige outra sorte de medidas, de disposição do governo e de profundas mudanças culturais”. E dentre as principais medidas, duas são destacadas: a redução do tamanho do Estado e a redução da carga tributária. Esse governo fez exatamente o contrário. Aumentou o tamanho do Estado através da criação de um sem número de Ministérios e de Secretarias que, até hoje, a população não sabe sequer o nome e muito menos os objetivos, porque até o momento, não sentiu qualquer resultado concreto. E elevou a carga tributária a níveis que os especialistas reconhecem como incompatíveis à uma economia que tem o crescimento como primeiro objetivo. Para o próximo ano a carga tributária está estimada entre 40 e 43% do PIB. Ainda de acordo com informações da revista Veja, pesquisas promovidas pelo economista Vito Tanzi classificado como “lendário economista e ex-diretor geral de política tributária do FMI, a carga tributária média para países em desenvolvimento não pode passar de 20% 2 do PIB”. A recente história econômica dá razão ao economista: Países que nas décadas dos oitenta e noventa cresceram a taxas médias de 5% ao ano tinham carga tributária ao redor de 25% do PIB. O aumento da carga tributária patrocinado pelo atual governo não é maléfico apenas para os contribuintes. Ele é maléfico para o País porque reduz alternativas de crescimento sustentado e, mais que isso, inibe a elevação da poupança interna, elemento essencial para o crescimento econômico. A reforma tributária que era a esperança para uma justa distribuição da receita entre os três níveis de Governo; que deveria, no dizer do nosso companheiro Deputado Delfim Neto, “atrair para dentro do PIB toda a atividade informal que está fora”; que deveria ser um fator para a dinamização da economia e para a elevação da prosperidade nacional, transformou-se num arremedo com uma única conseqüência: mais uma elevação da carga tributária. Os especialistas estimam que as recentes mudanças tributárias (obviamente, todas a favor do governo), tais como, a prorrogação da alíquota da CPMF, a manutenção da alíquota de 27,5% do imposto de renda para a pessoa física, a não revisão da tabela do Imposto de Renda, a elevação da alíquota da COFINS de 3% para 7,6% e outras alquimias tributárias deixarão, em 2004, a sociedade brasileira mais pobre em 25 bilhões de reais. E, conseqüentemente, o governo mais rico em igual valor. A pergunta que todos nos fazemos é: aonde serão aplicados esses 25 bilhões de reais? Se for para melhorar a Educação, a Saúde, a infraestrutura, a previdência social dos idosos, menos mal. Nosso receio é que essa verdadeira montanha de dinheiro tenha mesmo destino que foi dado à receita da CIDE de 2002 e 2003: a elevação do superavit primário. Que Deus ilumine os novos neoliberais do Lula para que, em 2004, eles não trilhem os mesmos caminhos dos velhos neoliberais do FHC. Muito obrigado. 3