Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Adaptação e Desregulação Metabólicas Jejum Prioridade no jejum: manutenção da glicémia para utilização de glicose pelos tecidos insulino-independentes fornecimento de substratos energéticos alternativos aos tecidos insulinodependentes; manutenção da homeostasia energética do sistema nervoso central. Principais reservas energéticas do organismo glicogénio hepático (utilização como glicose após glicogenólise hepática); triacilglicerol do tecido adiposo (utilização como ácidos gordos livres, ou após β-oxidação e síntese de corpos cetónicos no fígado); proteínas (principalmente musculares; utilização dos aminoácidos como substrato da gliconeogénese hepática). Jejum imediato (3-10h) Manutenção da normoglicémia e aumento da glicagina pelos efeitos da diminuiçao da insulina Activação da glicogenólise e gliconeogénese hepáticas, devido à baixa relação insulina/glicagina. Diminuição do consumo de glicose pelos tecido insulino-dependentes A glioconeogénese ocorre a partir do piruvato, lactato e aminoácidos, até então utilizados na lipogénese que é interrompida. Há um baixo balanço proteico, inicialmente, devido à diminuição de insulina. Alguns aminoácidos livres libertados, especialmente de cadeia ramificada são oxidados no músculo e os seus grupos amina transferidos para o piruvato que resulta da glicogenólise formando alanina que é levada para o fígado como substracto. A libertação de NEFA pelo tecido adiposo é elevada devido à não supressão da Lipase hormono-dependente pela insulina. O ciclo de cori e da alanina tornam-se importantes. Página 1 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Fome precoce (10-24h) Substituição progressiva da glicogenólise pela gliconeogénese, enquanto principal fonte de glicose para a manutenção da normoglicémia. Os ciclos de Cori e da Alanina têm papéis importantes, mas não fornecem carbonos para a sintese de glicose. O lactato e a alanina, que atingem o figado, limitam-se a fornecer Carbonos para aformação de glicose, que substitui aquela que foi convertida aos mesmos pelos tecidos periféricos. Na verdade, estes ciclos funcionam como um mecanismo de transferência de energia, obtida através da -Oxidação hepática, para os tecidos que não têm capacidade para oxidar ácidos gordos. Mas, a síntese de glicose é inevitável no jejum, já que há tecidos, como o cérebro, que oxidam completamente a glicose a CO2 e H2O, não havendo possibilidade de recuperação do composto utilizado. O glicerol e os aminoácidos gerados a partir da lipólise (no tecido adiposo) e proteólise (no músculo), respectivamente, constituem as principais fontes de carbono para a síntese de glicose. As proteínas são hidrolisadas no interior das células musculares. Dos aa resultantes, apenas 2 – alanina e glutamina – são libertados na corrente sanguínea em grandes quantidades, a partir da qual atingem o fígado. Os restantes são metabolizados a piruvato ou a -cetoglutarato, a partir dos quais se forma alanina e glutamanto, respectivamente. Os -cetoácidos derivados de aminoácidos de cadeia ramificada, por transaminação, são, também, libertados no sangue, para captação do fígado, que sintetiza glicose a partir de valina, corpos cetónicos a partir de leucina e ambos a partir da isoleucina. Grande parte da glutamina libertada pelo músculo é parcialmente oxidada nos enterócitos para produção de energia e percursores para biossíntese de pirimidinas e purinas, que essas células de divisão rápida executam. Grupos de carbono e amina remanescentes são libertados, de volta, na corrente sanguínea, sob a forma de alanina e NH4. Essa via é chamada de glutaminólise A gliconeogénese hepática durante o jejum está intimamente ligada à sintese da ureia Devido aos baixos níves de insulina, a lipólise é activada no tecido adiposo, proporcionando o aumento do nível sanguíneo de ácidos gordos, que passam a ser utilizados por muitos tecidos enquanto combustivel alternativo à glicose. Nesses tecidos a -oxidação inibe a glicólise e a descarboxilação oxidativa do piruvato a acetil-coA. No fígado, esta via metabólica, é ainda, responsável pelo fornecimento da maior parte do ATP necessário para a gliconeogénese. Página 2 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Fome intermédia (1-24 dias) Nesta fase, a lipólise periférica encontra-se fortemente activada, com os ácidos gordos libertados a constituirem a principal fonte energética para muitos tecidos. Contudo, no fígado, muito pouco acetil-CoA gerado pela -oxidação é oxidado completamente. Ao invés disso, é convertido em corpos cetónicos, que são libertados para a corrente sanguínea e distribuidos pelos tecidos periféricos. Contando que constituem uma fonte de energia para a generalidade dos tecidos, inclusivé o cérebro (uma vez que consegue atravessar a barreira hemato-encefálica), os corpos cetónicos diminuem a necessidade de glicose corporal, promovendo a inibição da gliconeogénese e supressão da proteólise e a oxidação de aa de cadeia ramificada no músculo, por diminuição de substratos gliconeogénicos, com redução da perda muscular. No entanto, é preciso ter em conta que, os corpos cetónicos são incapazes de substituir completamente a necessidade de glicose corporal, pelo que a gliconeogénese continua a ocorrer. Fome prolongada (mais de 24 dias) Os corpos cetónicos adquirem uma maior importância enquanto metabolito energético Verifica-se a inibição do ciclo da ureia, com a excreção de azoto a ocorrer sob a forma de NH4, formado directamente no rim, a partir da glutamina. O carbono remanescente é utilizado no processo de gliconeogénese renal Página 3 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Regulação hormonal na situação de jejum Diminuição da insulina Diminuição de T3 (triiodotironina) redução do metabolismo basal Aumento da glicagina Aumento da epinefrina (por activação do SNS) Aumento da somatotrofina Aumento de cortisol Efeitos metabólicos da epinefrina: no fígado (receptores β2): activação da glicogenólise e da gliconeogénese; nos ilhéus de Langerhans: diminuição da libertação de insulina (células β, receptores α2) aumento de glicagina (células α, receptores β); no músculo (receptores β2) diminuição da captação de glicose aumento da libertação de alanina e lactato (substratos gliconeogénicos); no tecido adiposo (receptores β1 e β2) activação da lipólise, com aumento dos ácidos gordos livres e do glicerol. Sintomas de hipoglicémia: sintomas neuroglicopénicos (resultantes de diminuição do fornecimento de glicose ao sistema nervoso central) versus sintomas neurogénicos (resultantes da activação do sistema nervoso simpático e da libertação de catecolaminas) Resposta metabólica à realimentação Jejum nocturno: Refeição promove a libertação de insulina, com activação da glicogénese e inibição da glicogenólise e da gliconeogénese; Melhor adequação de refeição rica em glícidos, para promover a utilização da glicose e evitar hipoglicémia. Jejum prolongado: situação associada a degradação acentuada de proteínas corporais, incluindo vias enzimáticas de degradação de aminoácidos, com utilização dos aminoácidos preferencialmente por desaminação, e sem destoxificação do NH3 pelo ciclo da ureia; realimentação rica em proteínas origina hiperamoniémia (tóxica para o sistema nervoso central). Página 4 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Exercicio Físico Exercício físico anaeróbio (intenso e curta duração) Pouca coorperação inter-orgãos A contracção leva a compressão dos vasos sanguíneos do músculo, levando ao isolamento das células do resto do organismo Obtenção de energia através da creatina-fosfato, numa primeira fase, e depois através do glicogénio muscular. A creatina fosfato serve como fonte de Pi para a síntese de ATP, enquanto a glicogenólise e a glicólise não são estimuladas. Ocorre glicólise anaeróbia, produzindo lactato É possivel ocorrer glicólise aeróbia, dependendo da oximioglobina Exercicio fisico aeróbio (intensidade média e longa duração) Obtenção de energia através do glicogénio muscular e dos ácidos gordos. As reservas de glicogénio podem ser aumentadas por exercicio exaustivo que esgota o glicogénio seguido de dieta rica em hidratos de carbono O aumento da entrada de glicose na célula é aumentada como consequência da translocação do GLUT 4 para a membrana plasmática O quociente respiratório (CO2 expirado/O2 inspirado) desce durante o exercício, logo vai haver uma troca entre glicogenólise para lipólise Aumenta a importância dos ácidos gordos após 2h de exercicio Aumenta a -oxidação, devido à menor [malonil-CoA] que vai aumentar a actividade da Carnitina Palmitoil Transferase I. Aumenta o AMP, devido ao aumento da hidrólise de ATP, aumentando assim a actividade das cinases activadas por AMP. Existe um pequeno aumento dos corpos cetónicos no sangue. Página 5 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Efeito do treino de endurance: melhor capacidade cardiovascular; aumento da massa muscular; diminuição do tecido adiposo; aumento da resistência óssea; alterações musculares estruturais o maior densidade capilar, o número e tamanho das mitocôndrias aumentado o maior concentração de mioglobina alterações musculares metabólicas o maior sensibilidade à insulina o maior expressão do transportador da glicose GLUT4 o aumento da actividade das enzimas lipoproteína lipase, enzimas oxidativas mitocondriais – ciclo de Krebs e βoxidação glicogénio sintase. Efeito da dieta no exercício físico Dieta rica em hidratos de carbono após exercício físico promove o armazenamento muscular de glicogénio (devido ao aumento da expressão do transportador GLUT4 e à activação da glicogénio sintase). Cafeína (inibidor da fosfodiesterase) como activador da lipólise periférica e da β-oxidação muscular, acelerando a capacidade muscular de utilizar ácidos gordos livres como principal metabolito energético e poupando o glicogénio muscular. Página 6 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Transporte lipidico A energia disponível nos ácidos gordos necessita de ser distribuída através do organismo, a partir do local de absorção, biossíntese ou armazenamento para os tecidos funcionais que a utilizem. Formas de transporte de lipidos no sangue 1. Lipoproteinas plasmáticas, nas quais os triacilgliceróis e outros lípidos são transportados como gotículas de lípidos recobertas por proteínas; 2. Ácidos Gordos Livres ligados à Albumina sérica; (tecido adiposo fígado) 3. Corpos Cetónicos: Ácido Acetoacético e β-Hidroxibutírico (fígado músculos, coração, cérebro) Lipoproteínas plasmáticas Estrutura Um "core" (núcleo central) contendo lípidos neutros ou apolares (ésteres do colesterol e triacilgliceróis). Ao redor há uma camada de proteínas e lípidos antipáticos (formando uma mono camada lipídica que fazem a interface entre as fases aquosa e lipidica) composta de colesterol livre (não esterificado) e fosfolípidos, sobretudo Lecitina (fosfatidilcolina). Nessa camada superficial encontram-se as proteínas – apoproteínas. Quanto menor a partícula, maior a densidade proteica no envoltório externo e menor o teor lipidico no núcleo. Classificação Lipoproteína Conteúdo Apoproteína Origem Quilomicra Triacilgliceróis da dieta (exógenos) Colesterol da dieta Tracilglicerois endógenos AI, AII, AIV, B48, C, E Intestino Quilomicra remanescente VLDL (very low density lipoproteins) IDL (intermediate DL) LDL (low DL) HDL (high DL) Colesterol endógeno B48, E B100, C, E Fígado e intestino B100, E VLDL B100 IDL AI, AII, C e E Fígado e intestino Mecanismo de libertação do conteúdo Hidrólise pela lipoproteina lipase Endocitose mediada por receptores (fígado) Hdróliese pela lipoproteina lipase Endocitose mediada por receptores (fígado) Endocitose mediada por repectores (fígado e outros tecidos) Transferência dos ésteres de colesterol para outras lipoproteínas (LDL/IDL) Página 7 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Apolipoproteinas − − − − Conferem estabilidade estrutural às lipoproteinas Determinam o destino metabólico das partículas que as contém São co-factores enzimáticos; Servem de ligação para interacção com os receptores de lipoproteinas nos tecidos. Tipos AI AII AIV B-48 B-100 CI CII CIII E Funções Cofacto (LCAT); estrutura (LDL) Actividade (lipase hepática); estrutural (HDL) Controlo da saciedade ? Estrutural (quilomicra) Estrutural (VLDL e LDL); ligação ao receptor celular Cofactor (LCAT) ? Activador (Lipoproteina Lipase) Inibidor (Lipoproteinas Lipase) ? Ligação ao receptor celular Enzimas envolvidas Lipoproteína Lipase (LPL) Plasmática − Está presente na superfície capilar de todo o organismo. − Hidrolisa os triacilgliceróis presentes na VLDL e nos quilomícrons, gerando ácidos gordos livres e glicerol a nível tecidual. − Os ácidos livres difundem para os tecidos subjacentes, mas uma pequena parte regressa à circulação onde se liga à proteína albumina. − A insulina estimula a síntese e a actividade da LPL. − Na diabetes mellitus, a diminuição ou ausência do efeito da insulina, prejudica a depuração de triacilgliceróis, o que agrava a hipertriacilgliceridémia. − Os estrógenios criam uma distribuição diferenciada da Lipoproteína lipase plasmática, definindo o padrão corporal feminino. − A sua actividade é dependente da Apo C-II e da insulina. Triacilglicerol 2 ácidos gordos + 2-Monoacilglicerol Lipoproteina lipase Lipase Sinusoidal hepática − Hidrolisa triacilgliceróis e fosfolipidos da IDL nos sinusóides hepáticos, convertendo-a em LDL. − Converte a HDL em HDL3 Lipase Ácida Lisossómica − Hidrolisa os remanescentes dos quilomícrons, VLDL (IDL) e a HDL 2 captada pelo fígado. Página 8 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica LCAT (Lecitina Colesterol Acil Transferase) − Catalisa a transferência do acil (em geral ácido linoleico, ácido araquidónico) da lecitina para o colesterol livre – ambos componentes da monocamada lipidica externa, gerando éster de colesterol e lisolecitina. − A reacção transforma a molécula polar do colesterol (externo) num éster apolar. − Os ésteres de colesterol têm dois destinos: 1. Migram para a região apolar central da HDL ou; 2. São transferidos para VLDL e LDL. − A Apo A-I é cofactor para a acção da LCAT. Lecitina + Colesterol Lisolecitina + Éster de colesterol LCAT ACAT (Acil-CoA Colesterol Acil Transferase) − Tem como função a formação de ésteres de colesterol Colesterol + Oleil-CoA Oleato de colesterol + CoASH ACAT Proteínas de Transferência CETP (proteína de transferência de ésteres de colesterol) − É produzida no fígado e circula em associação com LCAT na HDL. − Actua na transferência de ésteres de colesterol das HDL por troca dos triacilgliceróis das VLDL, LDL e em menor escala para os quilomícrons. − É um activador indirecto da LCAT, uma vez que remove o seu produto de inibição. − É de salientar que esta troca só se realiza se existirem triacilgliceróis. − Se a quantidade de triacilgliceróis ingerida for elevada vão existir triacilgliceróis suficientes para a troca entre as lipoproteinas e consequentemente o colesterol vai passar das HDL para as outras lipoproteinas. Ora tal processo não é benéfico uma vez que o colesterol transportado pelas HDL destina-se à sua eliminação no figado. − Por outro lado existe o aumento de partículas LDL densas e pequenas. − Deficits nesta proteína levam ao aumento da HDL. PLTP (proteínas de transferência de fosfolipidos): participam na troca de fosfolípidos e triacilgliceróis dos quilomícrons e das VLDL por ésteres de colesterol da HDL3. Página 9 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica 1. Transporte de Lípidos Exógenos - Quilomícrons Após a digestão, o colesterol e os triacilgliceróis são absorvidos e incorporados no core dos quilomícrons nascentes. A Apo B-48, Apo A-I e Apo A-IV são geradas no retículo endoplasmático rugoso do enterócito e combinam-se com o colesterol, fosfolípidos e triacilgliceróis (gorduras) absorvidos. Os quilomícrons formados vão para vesículas secretórias, são lançados no líquido extracelular e captadas pelo sistema linfático (devido ao seu tamanho). Somente os compostos hídrossolúveis são absorvidos pelos capilares sanguíneos mesentéricos e levados ao fígado pelo sistema porta, os compostos lipossolúveis são absorvidos pelo sistema linfático. Os quilomicras interagem com a HDL, de quem recebem Apo E (necessária para que os quilomícrons remanescentes possam ser captados pelo fígado) e a Apo C-II (essencial para a hidrólise dos triacilgliceróis). As apo C são devolvidas à HDL. A Apo C-II activa a LPL, que hidrolisa os triacilgliceróis, os quilomicra perdem 90% dos triacilgliceróis formando-se os "quilomicras remanescentes". Os ácidos gordos são captados e utilizados pelos tecidos. Os "quilomicras remanescentes" pesam cerca de metade relativamente ao quilomicra, sendo a sua fracção em colesterol e ésteres de colesterol maior devido à perda dos triacilgliceróis. Os quilomicras remanescentes são captados pelo fígado (sendo degradados pela lipase lisossómica hepática). Somente deste modo o colesterol (e os demais lipídos ingeridos na dieta) atinge o fígado. O colesterol captado pelo fígado, podendo seguir por três caminhos: 1. Excretado na bílis como colesterol livre; 2. Convertido a ácidos biliares e lançado na bílis; 3. Secretados para o sangue dentro das VLDL. Página 10 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica 2. Transporte de lípidos endógenos – VLDL e LDL Excedentes calóricos, consumo de álcool e diabetes mellitus levam à lipogénese, com a conversão de glicose em ácidos gordos, fosfolípidos e colesterol e destes em triacilgliceróis (gorduras) e ésteres de colesterol. Estes lípidos são reunidos com apo B-100, C-II, C-III e E, gerando a VLDL, que é libertada pelo fígado com destino ao tecido adiposo. As VLDL interagem com as HDL recebendo mais apo E e apo C-II. Esta activa a LPL, que hidrolisa triacilglicerois, reduzindo a VLDL de tamanho e tornando-se mais densa à medida que vai perdendo triacilglicerois. No final desse processo, restam VLDL remanescentes ou IDL Parte das IDL são captados pelo fígado e degradados, o restante é convertido em LDL. No processo, IDL perde triacilgliceróis, Apo E e Apo C-II, o que representa um aumento na concentração de colesterol. A apo B-100 é a única apoproteína que permanece na LDL. A LDL contém a maior parte do colesterol circulante, 75 % do qual na forma de ésteres de colesterol. A LDL é captada virtualmente por todas as células do organismo, mas os seus principais órgãos-alvo são as glândulas supra-renais (com maior concentração de receptores), as gónadas e o fígado, através do receptor para as LDL. O receptor para a LDL é uma glicoproteína omnipresente no nosso organismo que reconhece a Apo B-100. Captação da LDL: − Receptores de LDL dispostos na região membranar revestida por clatrina − Endocitose dos receptores de LDL – vesícula revestida − Vesículas revestidas perdem o revestimento – despolimerização da clatrina − Receptores desligam as LDL − Fusão das vesículas desrevestidas com lisossomas − Receptores das LDL são recicladas para as membranas − Degradação das proteínas LDL; hidrólise dos ésteres de colesterol. Regulação da endocitose do complexo receptor-LDL Colesterol intracelular suprime a actividade de hidroximetilglutarilCoA redutase (feedback negativo) Colesterol intracelular estimula a actividade do acilo-CoAcolesterol aciltransferase. Colesterol inibe a síntese dos receptores das LDL. A meia vida plasmática da LDL é determinada pela actividade do receptor de LDL. Níveis elevados de LDL implicam baixa actividade do seu receptor e aterosclerose. A captação de colesterol mediada por receptores de LDL não gera foam células (precursoras da aterosclerose). Somente a LDL oxidada (lipoperoxidação e oxidação da apo B-100) é aterogénica. Níveis elevados de LDL-colesterol aumentam a hipótese da LDL oxidada esta é a relação entre hipercolesterolémia e aterogénese. Página 11 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica 3. Transporte de lípidos endógenos – HDL Funções da HDL: Fornece Apo CII e E às VLDL e quilomicra Remove colesterol em excesso das células para ser eliminado no figado. A HDL nasce no fígado de fosfolípidos com apo A-I (sintetizada no fígado e intestino), apo A-II, apo A-IV e apo C. HDL “nascente” ou “discoide” (HDL1) são heterogéneas em tamanho, não contém colesterol Quando HDL1 passa a conter estes lípidos, o seu interior arredonda a HDL, dando-lhe um aspecto esférico, formando HDL3. A HDL3 é rica em ésteres de colesterol graças à LCAT, que retira colesterol livre da superfície da HDL – libertando espaço para a captação de mais moléculas de colesterol dos tecidos. A HDL3 torna-se maior e menos densa formando HDL2 Esta é captada pelo fígado, podendo libertar os esteres de colesterol, tornando-se menos densa, reformando HDL3 de novo As HDL3 podem trocar ésteres de colesterol por triacilgliceróis das VLDL, com o auxílio das "proteínas de transferência". Página 12 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Remoção do Colesterol das Células Mecanismos: 1. Difusão, em que o colesterol difunde da membrana plasmática para a HDL; 2. Transporte mediado por Apoproteínas, em que a HDL interage com receptores de membrana para apoproteínas e retira o colesterol da membrana. A difusão do colesterol da célula para a HDL só ocorre quando existe um gradiente de concentração entre a superfície celular e HDL receptora do colesterol. Quando a HDL está saturada de colesterol, a difusão continua somente se houver LCAT (lecitina colesterol acil-transferase), que modifica as propriedades da HDL, aumentando a sua capacidade de remover o colesterol das células. A LCAT esterifica o colesterol presente na superfície da lipoproteína, sendo o éster deslocado da periferia para o núcleo da HDL. Desse modo, os fosfolípidos (lecitina) ficam livres na periferia para incorporar mais colesterol livre. A retirada de colesterol das células é também dependente da Apo A-I, que se dissocia da HDL e se aproxima da superfície celular, retomando à HDL após a captação do colesterol. A Apo A-I não apenas remove colesterol e fosfolípidos (lecitina) directamente da membrana plasmática, mas também estimula a mobilização do stock de colesterol que está disponível para a esterificação mediada pela ACAT (Acil Colesterol Acil-Transferase), uma enzima localizada no retículo endoplasmático. Isto evita o acúmulo intracelular de colesterol, mesmo nos macrófagos e células espumosas. Assim, a HDL rapidamente depleta os stocks celulares de colesterol. A Apo A-I, A-II, Apo A-IV e Apo E fazem o mesmo efeito, porém têm metade da potência da Apo A-I. A interacção HDL-célula mediada pela Apo A-I mobiliza o colesterol tanto da membrana quanto do stock intracelular. A CEHT (colesteril-ester hidrolase neutra) hidrolisa os ésteres de colesterol mas esse colesterol não fica disponível para re-esterificação pela ACAT, sendo então facilmente removido da célula. O colesterol circula continuamente entre o retículo endoplasmático e a membrana plasmática, passando antes pelo complexo de Golgi. As células acumulam mais (ou menos) colesterol de acordo com a sua necessidade de sintetizar membranas. Quando a membrana fica saturada com colesterol o excesso é dirigido ao retículo endoplasmático, sendo guardado sob a forma de ésteres de colesterol. Página 13 de 14 Bioquimica Fisiológica Adaptação e Desregulação Metabólica Mecânica da captação do colesterol A Apo A-I dissocia-se da superfície da HDL circulante, migrando para o interstício celular, onde se liga ao colesterol livre. A redução na concentração local de colesterol permite que este se difunda da membrana plasmática para o interstício, a favor do seu gradiente de concentração. A Apo A-I recém sintetizada é secretada pelo fígado como apolipoproteína pobre (ou desprovida) em lípidos. Parte desta Apo A-I interage com receptores do próprio fígado, sendo convertida em HDL1, mas algumas moléculas circulam para tecidos extrahepáticos, acumulando-se no líquido intersticial. Através de interacções reversíveis com receptores de membrana, essa Apo A-I remove o colesterol livre e fosfolípidos, convertendo-se primeiramente em Préβ -HDL, e posteriormente em HDL1. A esta altura dos acontecimentos, começam-se a formar as hélices, de modo que a HDL1 vai perdendo a sua capacidade de interagir com os receptores de superfície celular. Estas partículas entram, a seguir, na cascata de amadurecimento. A LCAT passa a esterificar o colesterol livre, construindo o núcleo lipidico dos ésteres do colesterol da HDL3. Alguns destes ésteres são então transferidos para as VLDL e LDL por acção da CETP (proteína de transferência de ésteres do colesterol). Outros são transferidos para o fígado e tecidos que sintetizam hormonas esteróides. A remoção destes núcleos lipídicos deforma a partícula, o que permite a dissociação das Apo A-I localizadas na periferia, gerando novos precursores para a via de remoção do colesterol. Deste modo, a Apo A-I é usada múltiplas vezes para mobilizar lípidos. Página 14 de 14