hamlet - Fatias de Cá

Propaganda
CARLOS C ARVALHEIRO
H AMLET
A PARTIR DE
WILLIAM S HAKESPEARE E HEINER M ÜLLER
não resistir nem a uma ideia nova nem a um vinho velho
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H AMLET • 2009 • FdC
W ILLIAM SHAKESPEARE
Nasceu
H EINER M ÜLLER
Nasceu
C ARLOS CARVALHEIRO
Nasceu em 1955, em Tomar, Portugal. Licenciou-se em Engenharia
Electrotécnica e em Teatro. Em 1979 ajuda a criar o Fatias de Cá e,
assume, desde 1982, quando a Companhia de Teatro é legalizada,
a sua direcção artística. No seu currículo constam 60 encenações,
muitas das quais contaram com o seu contributo na versão e com
a sua participação como actor. Vive em Tomar. É professor de
Teatro.
G RAÇA AFONSO
Nasceu
H AMLET
C ARLOS C ARVALHEIRO
MÁQUINA-H AMLET
C ARVALHEIRO
E
DE
A PARTIR DE
H EINER M ÜLLER ,
H AMLET
DE
W ILLIAM S HAKESPEARE
SUCEDÂNEO DA VERSÃO DE
G RAÇA A FONSO .
edição: 2009
FATIAS DE C Á
Apartado 140 • 2304-909 Tomar • Portugal
tlm 960 303 991 • [email protected] • www.fatiasdeca.net
1987
DE
E DE
C ARLOS
H AMLET • 2009 • FdC
“I do not know why yet I live to say ‘this things to
do’, sith I have cause, and will, and strength, and
means to do’t”
(H AMLET , act 4, scene 4)
“Não sei porque continuo a dizer que ‘isto tem de ser feito’, quando tenho
motivo e vontade e força e meios para o fazer.”
(H AMLET , IV acto, cena 4)
HAMLET
a partir de HAMLET de William Shakespeare e
M ÁQUINA -H AMLET de Heiner Müller
TRADUÇÃO
H AMLET : Graça Afonso
MÁQUINA -HAMLET: Anabela Mendes
VERSÃO
Carlos Carvalheiro
estreada no Convento de Cristo, Tomar, Portugal, em Março de 2009
sucedânea da versão estreada no Convento de Cristo, Tomar, Portugal, em
Julho de 2006 e da versão de Carlos Carvalheiro e Graça Afonso, estreada no
Olympiad’87, Detroit, USA, em Junho de 1987
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H AMLET • 2009 • FdC
PERSONAGNS
H AMLET , príncipe
C LÁUDIO, rei da Dinamarca e tio de Hamlet
POLÓNIO, conselheiro
L AERTES, filho de Polónio
G ERTRUDES, rainha da Dinamarca e mãe de Hamlet
OFÉLIA, filha de Polónio
HORÁCIO, amigo de Hamlet
CORNÉLIO, cortesão
COMEDIANTE T ELMAH
C OMEDIANTE CLÁUDIO
C OMEDIANTE POLÓNIO
COMEDIANTE GERTRUDES
C OMEDIANTE OFÉLIA
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 1
CLÁUDIO · COMEDIANTES • GERTRUDES • HAMLET •
L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO
OS
COMEDIANTES APRESENTAM UMA REPRESENTAÇÃO
DE CRÍTICA À POLÍTICA BELICISTA DA
[ SOAM
D INAMARCA .
BADALADAS . COMEDIANTE TELMAH ENTRA ]
C OMEDIANTE TELMAH : Quem vem lá?
C OMEDIANTE POLÓNIO : [ ENTRA ] Quem está aí?
C OMEDIANTE TELMAH : Ná, não vou nisso. Responde tu
primeiro. Pára e descobre-te.
C OMEDIANTE POLÓNIO : Viva o rei!
C OMEDIANTE TELMAH : Tu?
C OMEDIANTE POLÓNIO : Eu próprio.
C OMEDIANTE TELMAH : Foste muito pontual.
C OMEDIANTE P OLÓNIO : Deram agora as badaladas.
Podes ir embora.
C OMEDIANTE TELMAH : É um alívio. Obrigado.
C OMEDIANTE POLÓNIO : Tiveste uma vigia calma?
C OMEDIANTE TELMAH : Nem um rato se ouviu.
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H AMLET • 2009 • FdC
C OMEDIANTE P OLÓNIO : Bom, adeus. Se encontrares
os meus companheiros de vigia, diz-lhes que se
apressem.
C OMEDIANTE T ELMAH : Parece-me que já os ouço.
Alto. Quem vem lá?
C OMEDIANTE GERTRUDES: Amigos do reino.
C OMEDIANTE OFÉLIA: E súbditos do rei dinamarquês.
C OMEDIANTE GERTRUDES: Quem te rendeu?
C OMEDIANTE TELMAH : Aquele que ali está. [ SAI ]
C OMEDIANTE OFÉLIA: Viva.
C OMEDIANTE POLÓNIO : Bem vindos.
C OMEDIANTE G ERTRUDES : Alguém sabe porque estamos de prevenção? Porquê esta fundição diária de
canhões e de engenhos de guerra que nem faz distinção do domingo? Qual a finalidade desta canseira
que junta os dias às noites? Quem me pode informar?
C OMEDIANTE CLÁUDIO : [ ENTRA ] Eu! Passámos por
tempos de excessiva paz e prosperidade, cancros
que minam o homem desde o interior e o levam à
morte. Pois que é o homem quando gasta o seu tempo
apenas a dormir e a comer? Um animal, nada mais.
Certamente Aquele que nos criou não nos deu a inteligência para que ela amoleça por falta de uso.
H AMLET • 2009 • FdC
Pensando pois na saúde espiritual do nosso reino,
pusémos cobro a esta situação. É por isso com o
maior contentamento que nos despedimos hoje deste
exército numeroso e forte. Haverá visão mais gloriosa
do que a de dois mil homens que correm para a sepultura por uma questiúncula e lutam por um pedaço de
terra onde mal caberão os cadáveres dos contendores? Haverá? [ PAUSA ] Ser grande não consiste em
comovermo-nos por uma razão forte mas em desencadear uma luta por dá cá aquela palha.
C OMEDIANTE GERTRUDES : Pois então! Durante muitos
anos hão-de cantar a nossa coragem. Não vai ficar
nem uma taça por atacar, nem um jarro por despejar,
nem uma migalha por tragar. Vai ser uma visão atroz.
Os corpos a tombar. As taças a tinir. O vinho a
escorrer, enquanto os timbales e as trombetas relincham pela vitória.
C OMEDIANTE P OLÓNIO
aos céus. [ ENTRAM
E
COMEDIANTE OFÉLIA: Graças
CLÁUDIO GERTRUDES , POLÓNIO ,
LAERTES , OFÉLIA E , POR FIM , HAMLET , COM UM LIVRO ]
C OMEDIANTE TELMAH : [ PARA
CLÁUDIO ]
Apraz a vossa
Alteza ouvir o epílogo?
C LÁUDIO : Nada de epílogos, por favor. A vossa encenação não carece de moralidade. [ OS
AGRADECEM E RETIRAM - SE ]
COMEDIANTES
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CENA 2
CLÁUDIO · COMEDIANTES • GERTRUDES • HAMLET •
L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO
C LÁUDIO
EXPLICA O SEU CASAMENTO COM
G ERTRUDES ,
DEFENDE A SUA POLÍTICA EXTERNA E TENTA DEMOVER
H AMLET
A ACEITAR A NOVA SITUAÇÃO .
C LÁUDIO : Embora ainda esteja próxima a morte do
nosso querido irmão Hamlet e em luto o nosso coração e todo o reino, a razão venceu a natureza e é
agora uma mágoa mais sábia que nos permite pensar
nele, lembrando-nos também da Dinamarca. Foi por
isso que, misturando alegria e dor, tomámos por
esposa aquela que foi outrora a nossa irmã e é hoje a
nossa rainha, no que, aliás, não contrariámos o vosso
sábio conselho. A todos vós agradecemos. Passemos
agora a um assunto que já conheceis: o jovem
Fortimbrás da Noruega chegou a tais extremos que
teremos de o pôr na ordem. Enquanto as suas actividades se limitaram a missivas importunas, nem nos
demos ao trabalho de lhe responder. Nenhuma lei da
honra nos obriga a atendê-lo —os territórios que
reclama foram legalmente ganhos pelo nosso valoroso irmão Hamlet. Mas, desde que se tornou mais
buliçoso —decerto que não foi por mera encenação
que reuniu um exército de dois mil homens—, obrigou-nos a um esforço defensivo do qual se ressente
toda a Dinamarca. É preciso acalmar o povo que,
oprimido pela pesada empresa do rearmamento, justamente se interroga sobre o futuro. Decidimos portanto escrever ao rei da Noruega que, doente e preso
ao leito, conhece mal os projectos do jovem
H AMLET • 2009 • FdC
Fortimbrás, seu sobrinho, para que ponha termo a
esta questão. E encarregámos Laertes de entregar
ao velho monarca a nossa missiva. Meu bom Laertes,
que a tua diligência esteja à altura da tua lealdade.
L AERTES : Nisso, como em tudo o mais, farei o meu
dever.
C LÁUDIO : Não duvidamos. Desejamos-te boa viagem.
E agora tu, Hamlet, meu sobrinho e meu filho…
H AMLET : Um pouco mais sobrinho do que filho.
C LÁUDIO : Porque te manténs envolto em nuvens?
H AMLET : Não é verdade, senhor; de mais ando eu ao
sol.
G ERTUDES : Querido Hamlet, alivia esse luto e deixa
os teus olhos verem um amigo no rei da Dinamarca.
Não continues de pálpebras caídas procurando no
pó o teu nobre pai. Tu sabes que é assim mesmo:
tudo o que vive tem de morrer –a vida é uma passagem para a eternidade.
H AMLET : Na verdade, senhora, assim é.
G ERTUDES : Pois assim sendo, porque pareces agora
achá-lo tão estranho?
H AMLET : Pareço achá-lo, senhora? Eu não pareço:
acho. Talvez seja fácil parecer, mas não para mim. Eu
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mostro o que me vai por dentro.
C LÁUDIO : Só te enobrece, Hamlet, prestares os
deveres de luto ao teu pai. Mas preserverar num desgosto obstinado é uma atitude de teimosia ímpia; é
uma dor efeminada que revela um espírito imaturo e
uma inteligência limitada e inculta. Suplicamos-te que
abandones as lamentações inúteis e que penses em
nós como um pai; pois —que o mundo inteiro o
saiba—, és tu quem mais próximo está do nosso
trono.
G ERTUDES : Não deixes que as súplicas da tua mãe
sejam em vão, Hamlet.
H AMLET : Senhora, farei o meu melhor para vos obedecer.
C LÁUDIO : Eis uma resposta amável e justa. Vamos,
senhora. [ TODOS
SAEM À EXCEPÇÃO DE HAMLET ]
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CENA 3
C OMEDIANTES • HAMLET
H AMLET
SUSPEITA QUE
C LÁUDIO
É O ASSASSINO DO PAI
E DECIDE USAR O TEATRO PARA O CONFIRMAR
H AMLET : [ LÊ ] “Os sinos anunciaram o funeral de
Estado. Assassino e viúva formaram um par. Atrás da
urna do eminente cadáver, os conselheiros choravam
num luto mal remunerado. O luto transformou-se em
júbilo, o júbilo em voracidade, o assassino atirou-se à
viúva. Queres que te ajude a trepar, tio? Abre as pernas, mamã.” [ TRANSIÇÃO ] Os meus pensamentos são
chagas no meu cérebro. Preciso de bases mais sólidas do que suspeições. Vou fazer teatro com os
comediantes. Quando o rei assistir à minha encenação, logo veremos a reacção dele. [ CHAMA ]
Comediantes!
C OMEDIANTE GERTRUDES : [ DE
está a chamar. [ OS
DENTRO ]
COMEDIANTES ENTRAM ]
O príncipe
Senhor?…
H AMLET : Não vos agradaria fazer teatro comigo?
C OMEDIANTE G ERTRUDES : A nós agradaria concerteza. À corte talvez não.
H AMLET : E quem se importa com a opinião da corte,
não é? O propósito do teatro sempre foi segurar um
espelho onde a virtude e o vício se vissem reflectidos.
C OMEDIANTE GERTRUDES : E que espelho tinheis em
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mente, senhor?
H AMLET : Vinde comigo. [ SAEM
PARA TRÁS DA CORTINA ]
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C ENA 4
C OMEDIANTES • HAMLET
H AMLET
CONVERSA COM O ESPECTRO
C OMEDIANTE TELMAH: [ COMO
[ HORÁCIO
ESPECTRO ]
Ouve-me…
ENTRA ]
H AMLET : [ POR
TRÁS DA CORTINA ]
Estou a ouvir.
C OMEDIANTE TELMAH : Ouve-me…
H AMLET : Quem és tu?
C OMEDIANTE T ELMAH: Eu sou o fantasma de quem te
gerou. Contou-se que, estando eu a dormir, uma serpente me mordeu. Fica sabendo, nobre jovem, que a
serpente que de facto me mordeu usa agora a coroa.
Sim, aproveitando-se do meu sono, aproximou-se de
mim e verteu-me no ouvido o terrível veneno do meimendro, roubando-me, assim e ao mesmo tempo, a
vida e a coroa.
H AMLET : Algo está podre no reino de Acramanid.
C OMEDIANTE TELMAH : Vinga-me! Vinga-me! Vinga-me!
H AMLET : Vingar-te? Por Deus o juro!
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CENA 5
HAMLET • HORÁCIO
H AMLET
CONFIA A
H ORÁCIO
O SEU PLANO DE USAR OS
COMEDIANTES PARA ARMAR UMA RATOEIRA A
H ORÁCIO : [ PARA
HAMLET , QUE ENTRA ]
C LÁUDIO
Deus vos salve,
senhor.
H AMLET : Viva Horácio. A festa já acabou.
H ORÁCIO : Eu não vim para a festa, senhor.
H AMLET : Então o que estás a fazer em Elsinor?
H ORÁCIO : Vim assistir ao funeral do vosso pai.
H AMLET : E aproveitaste para assistir ao casamento
da minha mãe.
H ORÁCIO : Na realidade foi quase logo a seguir.
H AMLET : Economia, Horácio, economia! Os assados
do funeral forneceram de carnes frias as mesas do
casamento.
H ORÁCIO : Algo está podre no reino de Acramanid?
H AMLET : O mundo mergulha na desordem. Ah, maldita fatalidade, ter eu nascido para o ordenar.
H ORÁCIO : Que fantasma é este?
H AMLET • 2009 • FdC
H AMLET : Vou fazer teatro com os comediantes.
H ORÁCIO : Fazer teatro, vós?
H AMLET : Sim…
H ORÁCIO : Mas todos dirão que estais louco.
H AMLET : Horácio, há mais coisas no céu e na terra do
que sonha a tua imaginação. [ SAEM ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 6
L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO
L AERTES ,
ENVIADO POR
N ORUEGA ,
C LÁUDIO
COMO EMBAIXADOR À
DESPEDE - SE DA IRMÃ ,
O FÈLIA ,
SELHA - A A RECUSAR O CORTEJAR DE
[ OFÉLIA
E ACON -
H AMLET
ENTRA ]
L AERTES : [ ENTRANDO ] Ofélia! A minha bagagem já
está a bordo. Adeus querida irmã.
O FÉLIA : Faz boa viagem.
L AERTES : Quanto a Hamlet e aos seus favores de
pechisbeque, considera-os um capricho, uma perturbação circulatória, doce mas não duradoura. Nada
mais do que isso.
O FÉLIA : Nada mais?
L AERTES : Pensa que não é mais. Talvez agora te ame;
mas tens que reconhecer que, dado o peso da sua
condição, o seu amor não lhe pertence: ele próprio é
súbdito do seu nascimento. Não pode decidir
sozinho: tem de submeter-se à voz da Dinamarca.
Por isso, reflecte bem na perda que a tua honra
sofrerá se deres ouvidos às suas canções. Pensa
nisto, Ofélia, pensa nisto, querida irmã.
O FÉLIA : Os teus bons conselhos serão os guardas do
meu coração. Mas, meu bom Laertes, não sejas como
certos pregadores que nos indicam o caminho
H AMLET • 2009 • FdC
íngreme e espinhoso do céu enquanto eles trilham o
atalho aliciante dos prazeres.
L AERTES : Oh, não receies por mim. Adeus, estou
atrasado.
P OLÓNIO : [ ENTRA ] Ainda aqui, Laertes? Para bordo,
para bordo! Que vergonha! O vento de feição e tu a
fazê-lo esperar… Pronto, a minha benção.
L AERTES : Humildemente me despeço, senhor.
P OLÓNIO : Já é tempo disso. Vai, os criados esperamte.
L AERTES : Adeus, Ofélia, e lembra-te do que te disse:
O FÉLIA : Ficou trancado na minha memória e és tu
quem vai levar a chave!!
L AERTES : Adeus. [ SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 7
O FÉLIA • P OLÓNIO
P OLÓNIO ,
O PAI DE
O FÉLIA ,
PROIBE - A DE RECEBER AS
ATENÇÕES DE
H AMLET
P OLÓNIO : Ofélia! O que foi que ele te disse?
O FÉLIA : Com a vossa licença, senhor, uma coisa relacionada com o príncipe Hamlet.
P OLÓNIO : Óptimo, fez muito bem! Disseram-me que,
ultimamente, ele tem gasto o seu tempo contigo; e
que tu tens sido pródiga na atenção que lhe dás; se
assim é, devo dizer-te que não tens de ti a noção
clara que compete a uma filha minha e à tua honra. O
que há entre os dois? Diz a verdade!
O FÉLIA : Ultimamente, meu senhor, ele tem-me dado
sinais da sua afeição.
P OLÓNIO : Afeição! Bah! Falas como uma criança mal
preparada para circunstâncias tão perigosas.
Acreditas nos seus sinais, como lhe chamas?
O FÉLIA : Senhor, não sei o que pensar.
P OLÓNIO : Óptimo, eu ensino-te: pensa que és um
bebé que aceitou como pagamento sinais que, ainda
por cima, eram moeda falsa.
O FÉLIA : Senhor, ele tem-me mostrado o seu amor da
H AMLET • 2009 • FdC
forma mais honesta.
P OLÓNIO : Ah, sim! A forma… Bem podes dizê-lo!
Continua, continua.
O FÉLIA : Senhor, tenho também os seus juramentos.
P OLÓNIO : Redes para apanhar galinholas! Eu sei que,
quando o sangue arde, a alma não se faz rogada a
emprestar juras à lingua. Essas brasas, filha, dão
mais luz do que calor e apagam-se logo, ainda mal
brilharam –não as tomes por fogo. De agora em
diante sê mais avara da tua presença e dá às tuas
conversas um preço mais alto. Em resumo, Ofélia,
proibo-te que percas um só momento de ócio em
conversas com o príncipe Hamlet. Fixa bem o que te
disse.
O FÉLIA : Obedecer-vos-ei senhor. [ POLÓNIO
SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 8
HAMLET • O FÉLIA
O FÉLIA
DEVOLVE AS CARTAS DE AMOR DE
H AMLET .
O FÉLIA : [ CHAMA ] Hamlet! [ EMENDA ] Príncipe Hamlet!
H AMLET : Aqui me tendes, formosa Ofélia.
O FÉLIA : Senhor, não…
H AMLET : Não?
O FÉLIA: Senhor, mandaram-me recusar as vossas
atenções.
H AMLET : Mandaram-vos?! E fazeis tenções de obedecer?
O FÉLIA : Senhor, não ouso desobedecer. Não tenho
escolha.
H AMLET : [ PAUSA ] É tudo quanto tendes para me
dizer?
O FÉLIA : Não, senhor. Tenho recordações vossas que
desejo restituir.
H AMLET : Ah, ah! Sois honesta? Beleza e honestidade
não andam juntas. Eu não pensava assim, mas o
tempo tem-se encarregado de mo provar. Aliás,
H AMLET • 2009 • FdC
estais enganada: não tendes nada meu.
O FÉLIA : Senhor, sabeis muito bem que sim. As vossas
cartas… que para mim eram preciosas.
H AMLET : Estais a dar-me razão: nada de meu. São
fórmulas banais que qualquer homem sabe de cor.
Podeis guardá-las. Vai para um convento. Porque
havias de ser uma parideira de pecadores? Eu próprio –que sou relativamente honesto-, poderia acusar-me de tais coisas que teria sido melhor a minha
mãe não me ter dado à luz: sou muito orgulhoso, vingativo e ambicioso. Somos refinados patifes, todos;
não creias em nenhum de nós. Entra para um
convento. Se precisares muito de casar, casa com um
parvo. Os homens de juízo sabem perfeitamente em
que monstros vós os transformais. Para um convento,
vai; e depressa também. [ SAI
DIANTES ]
COM HORÁCIO E COME -
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 9
O FÉLIA • P OLÓNIO
P OLÓNIO
REPARA NA PERTURBAÇÃO DE
O FÉLIA .
P OLÓNIO : O que foi Ofélia? Que aconteceu?
O FÉLIA : Ai, senhor, senhor!
P OLÓNIO : O que foi, santo Deus?
O FÉLIA : Senhor, o príncipe…
P OLÓNIO : Como? Estiveste com ele?
O FÉLIA : Em obediência às vossas ordens, senhor. Fui
devolver-lhe as cartas que me enviou.
P OLÓNIO : [ RETIRANDO
AS CARTAS A OFÉLIA ]
E então?
O FÉLIA : Senhor, o príncipe está muito estranho.
P OLÓNIO : Estranho, como?
O FÉLIA : Não sei, senhor. Encontrei-o misturado com
os comediantes. Depois recusou-se a receber as
cartas dizendo que não eram suas e as palavras que
me dirigiu foram tão duras que decerto não podiam
ser para mim.
P OLÓNIO : Terá enlouquecido?
H AMLET • 2009 • FdC
O FÉLIA : Não sei, senhor. Mas na verdade é isso que
eu temo.
P OLÓNIO : É o que vamos ver. [O FÉLIA
SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 10
C OMEDIANTES • HAMLET • POLÓNIO
P OLÓNIO
TENTA FALAR COM
H AMLET ,
QUE O RIDICULA -
RIZA .
P OLÓNIO : [ CHAMA ] Meu senhor Hamlet! [ HAMLET
ENTRA ACOMPANHADO POR HORÁCIO E COMEDIANTES ]
Oh, perdoai! Como estais, meu senhor Hamlet?
H AMLET : A náusea quotidiana… [ PARA
DIANTES ]
OS COME -
A este sinal, dizei “náusea.”
C OMEDIANTES : Náusea.
H AMLET : [ LÊ ] “Pela verborreia preparada, pelo bom
humor prescrito… Como se escreve aconchego?”
P OLÓNIO : Com cê agá.
C OMEDIANTES : Náusea.
H AMLET : [ LÊ ] “Pelas mentiras em que acreditam os
mentirosos e mais ninguém…”
C OMEDIANTES : Náusea.
H AMLET : [ LÊ ] “Pelas mentiras em que se acredita…”
C OMEDIANTES : Náusea.
P OLÓNIO : Por Deus, senhor, bem dito. Com boa dic-
H AMLET • 2009 • FdC
ção e boa entoação.
H AMLET : Não sabia que o teatro vos interessava.
P OLÓNIO : Imenso senhor. Eu próprio fui actor
quando era estudante. Os actores são crónicas
breves e abstractas do tempo.
H AMLET : Ah… Temos então entre nós um entendido.
E que género preferis?
P OLÓNIO : Aprecio todos os géneros: a tragédia, a
comédia, o drama histórico, o pastoril, o pastorilcómico, o trágico-histórico, o pastoril-tragi-cómicohistórico…
H AMLET : [ LÊ ] “Oh Jefté, juiz de Israel, que tesouro
possuías? Apenas uma bela filha que amei e passou
bem. Tenho ou não razão, velho Jefté?”
P OLÓNIO : Se é a mim que chamais Jefté, meu senhor,
é verdade que tenho uma filha que amo e passa bem.
H AMLET : Não, não é essa a fala seguinte.
P OLÓNIO : Que é então, senhor?
H AMLET : Então? Uma mão lava a outra e as duas
lavam a cara. E depois, se tendes uma filha, sabeis
como é, não a deixeis andar muito ao sol. Pois se até
um cão morto ele emprenha de vermes… amigo, tende
cuidado.
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H AMLET • 2009 • FdC
P OLÓNIO : Que quereis dizer?
H AMLET : Palavras, palavras, palavras.
P OLÓNIO : Essa é boa, muito boa.
H AMLET : Vedes aquela nuvem? Não tem a forma de um
camelo?
P OLÓNIO : Por Deus, é mesmo um camelo!
H AMLET : Não será antes uma doninha?
P OLÓNIO : Tem o dorso de uma doninha.
H AMLET : Ou será uma baleia?
P OLÓNIO : É tal qual uma baleia.
H AMLET : Ainda dão comigo em doido. [ SAI COM HORÁ CIO E COMEDIANTES ]
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 11
C LÁUDIO • G ERTRUDES • OFÉLIA • P OLÓNIO
P OLÓNIO
O FÉLIA
INFORMA
C LÁUDIO
QUE RECEIA QUE SEJA
A CAUSA DA PERTURBAÇÃO DE
É ENVIADA A
H AMLET
H AMLET . O FÉLIA
PARA CONFIRMAÇÃO .
P OLÓNIO : [ CHAMA ] Meu amado soberano! [ CLÁUDIO
ENTRA ACOMPANHADO DE GERTRUDES ]
Creio ter des-
coberto a verdadeira causa do comportamento
bizarro do príncipe Hamlet.
C LÁUDIO : Fala!
P OLÓNIO : Meu senhor, senhora minha, discorrer
sobre o que deveria ser a majestade, o que é o dever,
porque é que o dia é dia, a noite, noite e o tempo é o
tempo, não seria mais do que desperdiçar a noite, o
dia e o tempo. Por isso, visto o bom senso ser de
poucas palavras, vou ser breve. O vosso nobre filho
está doido. Doido, digo eu; pois definir a verdadeira
loucura o que é senão doidice?
G ERTUDES : Mais factos e menos palavras.
P OLÓNIO : Senhora, juro que não estou a rodear o
assunto. Ele está doido, essa é que é a verdade e é
verdade que é uma pena; e é uma pena que seja verdade. Mas deixemos isto uma vez que não estou com
rodeios. Assentemos, pois, em como está doido;
resta-nos descobrir a causa desse efeito, ou melhor,
a causa desse defeito, pois é um efeito defeituoso o
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H AMLET • 2009 • FdC
que resultou da causa. Resta-nos essa, que é, portanto, o que nos resta. Agora atendei e conclui: [ LÊ
UMA CARTA ]
“A Ofélia, o ídolo da minha alma supina-
mente bela” –esta expressão “supinamente” é má e a
frase está mal construída…
G ERTUDES : Foi Hamlet quem enviou essa carta?
P OLÓNIO : Minha boa senhora, tende paciência; eu
vou ler tal e qual:
“Duvida do brilho das estrelas,
duvida do sol, do seu fulgor,
duvida até da própria verdade,
mas não duvides do meu amor.
Ah, querida Ofélia, estes versos sem medida fazemme mal, mas também não têm medida os meus suspiros; amo-te sobre todas as coisas, ah, muito mais,
acredita. Vosso para sempre, minha muito querida
senhora, Hamlet. Adieu.”
G ERTUDES : E como acolheu Ofélia o amor dele?
P OLÓNIO : Que ideia faríeis vós de mim, vós e aqui a
minha querida majestade, se eu me tivesse apercebido desse amor exaltado a ganhar asas e, mudo e
quedo, tivesse feito vista grossa? Que ideia faríeis?
Não. Meti-me logo na questão e disse-lhe: “Isto não
pode continuar!” E depois dei-lhe ordem de se manter afastada dele, de não consentir recados nem lembranças. E ela obedeceu-me. E, para encurtar a história, ele, ao ver-se rejeitado, caiu na melancholia,
depois no tédio, depois na ansiedade, depois na fra-
H AMLET • 2009 • FdC
queza, depois na futilidade e, depois de tanta queda,
caiu na loucura com que agora se debate e que todos
deploramos.
C LÁUDIO : Achais que é essa a razão?
G ERTUDES : Pode ser. Parece ser.
P OLÓNIO : Mandai cortar-me a cabeça se for outra a
causa. E se vos aprouver, podereis confirmá-lo. Eu
deixo a minha filha ir ter com ele, de modo a que nós,
vendo sem sermos vistos, possamos julgar livremente
e perceber pelo comportamento dele se é ou não um
mal de amor o que o faz sofrer assim.
C LÁUDIO : Podemos experimentar.
P OLÓNIO : Ofélia, vai ter com o príncipe Hamlet.
O FÉLIA : Senhor—
G ERTUDES : Ofélia, desejo sinceramente que consigas
arrancar Hamlet da sua melancolia. Assim, poderiamos esperar que as tuas virtudes o tragam de novo
ao bom caminho, para vosso mútuo proveito.
O FÉLIA : Senhora, gostaria que assim fosse. [ CLÁU DIO , GERTRUDES E POLÓNIO ESCONDEM - SE ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 12
HAMLET • O FÉLIA
O FÉLIA
FALHA A SUA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO A
H AMLET .
O FÉLIA : [ CHAMA ] Príncipe Hamlet! [ HAMLET
ENTRA ]
Meu bom senhor, como tem passado Vossa Alteza?
H AMLET : Agradeço-vos humildemente; bem, bem,
bem.
O FÉLIA : Estais muito bem disposto, meu senhor.
H AMLET : Quem, eu?
O FÉLIA : Sim, meu senhor.
H AMLET : Oh, meu Deus. Eu sou o vosso bobo privativo. Vede como eu faria de Ofélia: [ LÊ ] “Estou só
com os meus peitos, as minhas coxas, o meu ventre.
Dou cabo dos instrumentos do meu cativeiro.
Destruo o campo de batalha que foi o meu lar.
Rebento as portas para que o vento entre, e o grito
do mundo. Despedaço a janela. Com as minhas mãos
ensanguentadas rasgo os retratos dos homens a
quem devia amor e que de mim se serviram. Pego fogo
à minha prisão. Abaixo a felicidade da submissão.”
O FÉLIA : Onde quereis chegar?
H AMLET : Onde vós quiserdes ir, se não tiverdes ver-
H AMLET • 2009 • FdC
gonha.
O FÉLIA : Isso é maldade, senhor.
H AMLET : Em tempos amei-vos.
O FÉLIA : De facto, senhor, assim mo fizeste crer.
H AMLET : Não devíeis ter acreditado. Não vos amei.
O FÉLIA : Ainda mais enganada fui.
H AMLET : Onde está o vosso pai? Digo-vos que não
haverá mais casamentos. Dos que estão casados
viverão todos menos um. Os outros ficarão como
estão. Vai para um convento. [ SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 13
C LÁUDIO • GERTRUDES • L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO
L AERTES
PAZ .
CHEGA DA
C LÁUDIO
N ORUEGA
COM UMA PROPOSTA DE
PEDE - LHE QUE ELE TENTE DESCOBRIR AS
CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE
C LÁUDIO : [ ENTRANDO
H AMLET .
COM GERTRUDES E POLÓNIO ]
O
amor? Ele não pende para esse lado! Algo na sua
alma gera aquela melancolia e receio que esse algo,
ao revelar-se, cause graves danos. [ PARA
QUE ENTRA ]
LAERTES ,
Bem vindo, meu bom Laertes. Já de
regresso da Noruega? Que novas trazes?
L AERTES : O rei da Noruega, quando tomou conhecimento da missiva de Vossa Alteza, chamou imediatamente à corte o príncipe Fortimbrás e fez-lhe a
seguinte proposta: se ele utilizasse o seu exército
para conquistar, na Polónia, um território dez vezes
maior do que aquele que a Dinamarca detém actualmente na Noruega, fariam a troca o que permitiria à
Dinamarca estender muito para leste as suas fronteiras e à Noruega a reposição da sua integridade territorial. Fortimbrás acedeu e o rei da Noruega encarregou-me de vir junto de Vossa Alteza para vos pôr ao
corrente desta proposta, solicitando a vossa anuência.
C LÁUDIO : A proposta parece interessante. Laertes,
regozijamo-nos com os frutos da tua diligência.
Oportunamente responderemos ao nosso par da
Noruega. Infelizmente temos ainda necessidade dos
teus serviços. O príncipe Hamlet revela uma melanco-
H AMLET • 2009 • FdC
lia que nos preocupa. Estarias disposto, meu bom
Laertes, a tentar descobrir as causas dela?
L AERTES : Nisso, como em tudo o mais, farei o meu
dever.
C LÁUDIO : Não duvidamos. [ SAI
COM GERTRUDES ]
P OLÓNIO : Então, Ofélia? Não precisas de nos contar
nada. Ouvimos tudo. [ SAI
COM OFÉLIA ]
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H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 14
H AMLET • L AERTES
L AERTES
TENTA , SEM SUCESSO , DESCOBRIR AS CAUSAS
DA PERTURBAÇÃO DE
H AMLET .
L AERTES : [ CHAMA ] Príncipe Hamlet! [ HAMLET
ENTRA ]
Senhor!
H AMLET : Como estás?
L AERTES : Não sou propriamente o favorito da sorte.
H AMLET : Ninguém o é, fechado numa prisão.
L AERTES : Numa prisão?
H AMLET : A Dinamarca é uma prisão.
L AERTES : Não penso assim, senhor.
H AMLET : Então é porque para ti não o é. Para mim é
uma prisão.
L AERTES : Como pode isso ser, quando tendes a palavra do rei em como sois vós quem ele indicará como
seu sucessor?
H AMLET : Eu já teria sido indicado por um rei se a
morte lhe tivesse dado tempo. E, no entanto, não me
elegeram: os conselheiros de Estado não gostam de
mim. É o mal dos sapatos de defunto.
H AMLET • 2009 • FdC
L AERTES : Meu bom senhor, qual é a causa do vosso
desvario?
H AMLET : Porque te interessa tanto a minha saúde?
L AERTES : Oh, senhor, dantes eramos amigos.
H AMLET : Então diz-me, como amigo, o que te trouxe
aqui.
L AERTES : Vim visitar-vos, senhor. Apenas isso.
H AMLET : Tão pobre sou que até em gratidão sou
pobre. Não te mandaram cá vir? Vieste só porque te
apeteceu? É pois uma visita de livre vontade? Vamos,
vamos, sê franco comigo. Vamos, vamos, então? Fala.
L AERTES : E que devo eu dizer, senhor?
H AMLET : Ora, qualquer coisa. Mas que venha a propósito. Mandaram-te ter comigo.
L AERTES : Com que fim me teriam mandado, senhor?
H AMLET : Isso é o que tu me vais dizer. Conjuro-te, em
nome da nossa camaradagem, a que sejas directo e
franco: não te mandaram vir falar comigo?
L AERTES : Mandaram.
H AMLET : E sou eu que te digo porquê. Assim evitarei
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H AMLET • 2009 • FdC
que fales e o segredo que deves ao rei e à rainha não
sofrerá uma beliscadura. Recentemente —quando,
exactamente não sei— perdi todo o prazer, abandonei todos os actos a que me entregava e, na realidade, é tão soturna a minha disposição que a terra,
esta moldura divina, me parece um promontório estéril e este firmamento majestoso, uma mera conjugação de vapores, pestilenta e malévola. E não é o
homem uma obra de arte? A maior maravilha do
mundo? A maior perfeição do universo? E o que é
para mim esta quintessência do pó? O homem não me
dá prazer. Não, a mulher também não, apesar de esse
teu sorriso querer insinuar o contrário. Tocas-me
uma música na flauta?
L AERTES : Não sei tocar, senhor.
H AMLET : Toca, peço-te.
L AERTES : Crede que não sei.
H AMLET : É tão simples como mentir: metes a flauta na
boca, sopras e pronto.
L AERTES : Senhor, eu não saberia tirar dela a sombra
de uma melodia. Não tenho habilidade nenhuma.
H AMLET : Vê que fraca ideia fazias de mim! Julgas que
sou mais fácil de tocar do que uma flauta? [ LAERTES
SAI . PARA HORÁCIO E COMEDIANTES
comer?
( E PÚBLICO )] Vamos
H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 15
C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES •
HAMLET • H ORÁCIO • LAERTES • O FÉLIA • POLÓNIO
A
CORTE INSTALA - SE PARA ASSISTIR A UMA REPRESEN TAÇÃO TEATRAL .
P OLÓNIO : Queiram preparar-se para a chegada de
suas Serenas Majestades. O rei Cláudio da
Dinamarca e a rainha. [ ENTRAM
CLÁUDIO , GERTRUDES ,
POLÓNIO , LAERTES E OFÉLIA , HAMLET E HORÁCIO , QUE
SE INSTALAM ]
G ERTUDES : Vinde, meu querido Hamlet, vinde sentarvos ao pé de mim.
H AMLET : Não posso, minha boa mãe.
C LÁUDIO : Então Hamlet, agora dedicas-te ao teatro?
H AMLET : Que quereis, senhor? Não arranjei melhor
modo de vida. [ PARA
OS COMEDIANTES ]
Os actores
estão prontos?
C OMEDIANTE G ERTRUDES : Sim, meu senhor. Aguardam
as vossas ordens.
P OLÓNIO : Que nova bizarria é esta?
G ERTUDES : Pode ser que este contacto com os cómicos o distraia.
H AMLET : Senhor, não dissestes que tinhas sido
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H AMLET • 2009 • FdC
actor?
P OLÓNIO : Exactamente, senhor. Foi só uma vez, mas
disseram que ia muito bem.
H AMLET : E que papel fizestes?
P OLÓNIO : O de Júlio César: morria no Capitólio. Era
Brutus que me matava.
H AMLET : E bem bruto! Matar um tal bizarro.
C LÁUDIO : [ PARA
POLÓNIO ]
Conheceis a história? Não
é ofensiva?
H AMLET : Não, não. É toda para sorrir… Nada de
ofensivo.
C LÁUDIO : Como se chama a peça?
H AMLET : “A mui trágica farsa histórico-cómico-pastoril de algo está podre no reino de Acramanid”, também conhecida por “A ratoeira”. Engraçado, não é?
Exótico…
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 16
C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES •
HAMLET • H ORÁCIO • LAERTES • O FÉLIA • POLÓNIO
OS
COMEDIANTES FAZEM , COM A PARTICIPAÇÃO DE
H AMLET ,
UMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL .
C LÁUDIO
SAI
DA SALA .
[ COMEDIANTE
OFÉLIA ENTRA . HAMLET , DA VARANDA ,
DEIXA CAIR UMA CARTA QUE O COMEDIANTE OFÉLIA LÊ E
QUE O FAZ SUSPIRAR ]
C OMEDIANTE P OLÓNIO : [ ENTRA
COMEDIANTE OFÉLIA ]
cia! [ COMEDIANTE
E , RISPIDAMENTE , PARA
Devolve essa carta à procedên-
OFÉLIA OBEDECE ]
H AMLET : Oh Jefté, juiz de Israel, que tesouro possuías?
C OMEDIANTE P OLÓNIO : Apenas uma bela filha que
amei e passou bem. [ ANUNCIA ] Queiram preparar-se
para a chegada de suas Serenas Majestades!
[ ENTRAM
COMEDIANTE
TELMAH ,
TRUDES E COMEDIANTE CLÁUDIO ]
COMEDIANTE
GER -
O Rei Telmah de
Acramanid! [ O COMEDIANTE GERTRUDES DÁ A ENTENDER
QUE TAMBÉM EXISTE ]
E a Rainha!
C OMEDIANTE TELMAH: [ SENTANDO - SE ] Estou a sentir
chegar uma certa indisposição para o sono! [ ADOR MECE ]
C OMEDIANTE GERTRUDES : Tu, depois de comeres…
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H AMLET • 2009 • FdC
C OMEDIANTE C LÁUDIO : Vamos todos deixar a nossa
Serena Majestade sossegada. [ COMEDIANTE
FICA SÓ .
TELMAH
o COMEDIANTE CLÁUDIO RE - ENTRA E , DEPOIS DE
“ VENENO
DESPEJAR
DE MEIMENDRO ” NO OUVIDO DO
ADORMECIDO COMEDIANTE TELMAH , QUE MORRE INCHA DINHO , SAI ]
C OMEDIANTE GERTRUDES : [ ENTRA ] Dormindo, minha
flor? Ou morto, meu amor? Ó Telmah, de pé! Estás
surdo ou qué? Morto, morto é que é! Tão inchado de
repente, foi decerto uma serpente. Vem espada e
enterra-te no peito no lado canhoto onde a trote
bate o coração. Morro sem mais não. Adieu.
C OMEDIANTE C LÁUDIO : Há-des tu o quê, mulher? Oh
infeliz, pára. Tem juízo. Só se vive uma vez. Que isso
te baste.
C OMEDIANTE G ERTRUDES : Bem podem falar, bem
podem gozar. Se o vosso coração ardesse como o
meu arde…
C OMEDIANTE CLÁUDIO : Se arde é chama. Chama por
ele!
C OMEDIANTE GERTRUDES: Ó rei de Acramanid!
C OMEDIANTE CLÁUDIO : [ TIRA
A COROA AO COMEDIANTE
TELMAH , EMPURRA - O PARA DEBAIXO DA MESA E COLOCA
A COROA ]
Chamaste?
C OMEDIANTE G ERTRUDES : Ai agora és tu? [ ESCORRE -
H AMLET • 2009 • FdC
GAM PARA DEBAIXO DA MESA . OUVEM - SE RESPIRAÇÕES
FUNDAS ]
C OMEDIANTE TELMAH: [ COMO
ESPECTRO ]
Ouve-me…
Ouve-me… Ouve-me…
H AMLET : Quem és tu?
C OMEDIANTE T ELMAH: Eu sou o fantasma de quem te
gerou. Contou-se que, estando eu a dormir, uma serpente me mordeu. Fica sabendo, nobre jovem, que a
serpente que de facto me mordeu usa agora a coroa.
[ CLÁUDIO
LEVANTA - SE E SAI , NO QUE É SEGUIDO POR
GERTRUDES , POLÓNIO , LAERTES E OFÉLIA ]
Sim, aprovei-
tando-se do meu sono, aproximou-se de mim e verteu-me no ouvido o terrível veneno do meimendro,
roubando-me, assim e ao mesmo tempo, a vida e a
coroa.
H AMLET : Algo está podre no reino de Acramanid.
C OMEDIANTE TELMAH : Vinga-me! Vinga-me! Vinga-me!
H AMLET : Vingar-te? Por Deus o juro!
H ORÁCIO : [ VIRA
A BANDEIRA DE ACRAMANID ,
MARCA ”, NO VERSO ]
“ DINA -
Algo está podre no reino da
Dinamarca.
C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor, a Rainha deseja falar-vos
imediatamente. [ SAI .
COM GERTRUDES ]
HAMLET SAI PARA SE ENCONTRAR
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 17
GERTRUDES • HAMLET • P OLÓNIO
G ERTRUDES
CENSURA
H AMLET ,
ESCONDIDO ATRÁS DA CORTINA .
QUE MATA
H AMLET
P OLÓNIO ,
ACUSA A MÃE
DE TER CASADO COM O ASSASSINO DO MARIDO .
P OLÓNIO : Ei-lo que chega, senhora. [ ESCONDE - SE
ATRÁS DA CORTINA ]
G ERTUDES : [ PARA
HAMLET QUE ENTRA ]
Hamlet, ofen-
deste gravemente o teu pai.
H AMLET : Mãe, ofendeste gravemente o meu pai.
G ERTUDES : Vamos, Hamlet.
H AMLET : Não vou não, mãe!
G ERTUDES : Estás a responder levianamente.
H AMLET : Estais a interpelar-me maldosamente.
G ERTUDES : Esqueces-te de quem sou?
H AMLET : Não, justos céus, não me esqueço. Sois a
rainha, a mulher do irmão do vosso marido e também
–quem dera que não o fosseis– minha mãe.
G ERTUDES : Então se assim é… [ VAI
H AMLET : [ AVANÇA
PARA SAIR ]
COM O FLORETE EM RISTE ]
Vamos,
vamos. Não saireis daqui. Não sem que eu vos tenha
H AMLET • 2009 • FdC
mostrado essas entranhas.
G ERTUDES : O que vais fazer? Não serias capaz de me
matar!?
H AMLET : Um rato! Um rato! [ TRESPASSA
A CORTINA
COM O FLORETE E MATA POLÓNIO ]
G ERTUDES : Ai!
H AMLET : Um ducado em como está morto.
G ERTUDES : O que fizeste?
H AMLET : Não sei. Era o rei?
G ERTUDES : Oh que acção precipitada e sangrenta!
H AMLET : Acção sangrenta! Quase tão má, querida
mãe, como matar um rei e casar com o irmão.
G ERTUDES : Como matar um rei?!
H AMLET : Sim, senhora, foram essas as minhas palavras. [ AFASTA A CORTINA ] E tu, miserável e desastrado
intrometido, adeus! Tomei-te por alguém acima de ti.
Era a tua sina. Descobriste que ser demasiado serviçal envolve um certo risco. [ PARA
GERTRUDES ]
Parai
de torcer as mãos. Calma. Deixai-me torcer-vos o
coração.
G ERTUDES : Que mal fiz eu para ousares falar-me de
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H AMLET • 2009 • FdC
modo tão brutal?
H AMLET : Ainda vos lembrais do meu pai? Como
pudesteis abandonar o cimo da montanha para irdes
chapinhar num pântano? Ai, tereis vós olhos? Não
podeis chamar a isso amor, pois na vossa idade o
sangue já não arde e é humilde e atende à razão. E
decerto que alguma deveis ter, pois a própria loucura
não erraria tanto. Ainda que vos faltasse um dos
cinco sentidos, ou dois, ou mesmo os quatro, não
poderíeis ter-vos enganado desse modo. Ó poderes
do inferno que assim conseguem agitar as entranhas
duma matrona…
G ERTUDES : Ó Hamlet, não digas mais nada!
H AMLET : Viver no suor rançoso de um leito infecto,
num caldo de podridão, para fazer amor em doçuras
de mel numa pocilga nojenta!
G ERTUDES : Não digas mais nada! Mais não, meu doce
Hamlet.
H AMLET : Uma caricatura de rei, um ladrãozeco que
roubou a coroa da prateleira e a meteu no bolso! Um
miserável assassino!
G ERTUDES : Ó Hamlet, cortas-me o coração.
H AMLET : Então deitai fora a metade que está podre.
Vivereis mais pura. Boa noite –mas não na cama do
meu tio. Dominai-vos esta noite; isso já vos tornará
H AMLET • 2009 • FdC
mais fácil a próxima abstinência e essa a seguinte.
Uma vez mais, boa noite; e quando sentirdes o desejo
de serdes abençoada, pedir-vos-ei a benção.
Quanto a este senhor, deveras me arrependo.
Responderei pela morte que lhe dei. Portanto, mais
uma vez, boa noite. [ TRANSIÇÃO ] Tenho de ser cruel,
se quero ser bom.
G ERTUDES : [ PARA
SI ]
Que devo fazer?
H AMLET : Nada, evidentemente, do que vos pedi, querida senhora. Deixai-o levar-vos para a cama, darvos palmadinhas na cara e chamar-vos gatinha; e ele
arrancar-vos-á gemidos em troca de beijos lascivos e
de carícias dos seus dedos malditos. [ GERTRUDES
ESBOFETEIA HAMLET ]
Mãe, boa noite. Na verdade este
conselheiro está agora muito sereno, discreto e
grave, quando em vida foi um bisbilhoteiro tagarela e
tonto. Vamos, senhor. Boa noite, mãe. [ SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 18
C LÁUDIO • GERTRUDES
G ERTRUDES
CONTA A
C LÁUDIO
A MORTE DE
P OLÓNIO .
C LÁUDIO : [ ENTRA ] Gertrudes?
G ERTUDES : Ai meu senhor!
C LÁUDIO : Onde está o teu filho?
G ERTUDES : Ele está doido como o vento e o mar
quando se enfrentam. Num acesso de loucura, ao
ouvir mexer por detrás da cortina, gritou “um rato!
um rato!” e, desvairado, matou Polónio que ali se
escondia.
C LÁUDIO : Para onde foi ele?
G ERTUDES : Não sei.
C LÁUDIO : Estivesse eu lá e era a mim que isso teria
acontecido. [ CHAMA ] Cornélio! [ PARA
GERTRUDES ]
A
sua liberdade é uma ameaça para todos –para ti própria, para mim, para cada um de nós. Irão culpar-nos
disto, pois nos cumpria ter vigiado, prendido mesmo,
o jovem louco. Mas tão grande era o nosso amor que
nos recusámos a ver o que se impunha.
G ERTUDES : A sua loucura não encobriu o metal precioso de que é feito: saiu lamentando o seu acto.
H AMLET • 2009 • FdC
C LÁUDIO : Vamos, Gertrudes! É um perigo deixá-lo em
liberdade! Precisamos de todo o poder e habilidade
de que dispomos para o desculpar e evitar que o seu
crime cause maiores danos. [ GERTRUDES
SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 19
C LÁUDIO • CORNÉLIO • HAMLET
C LÁUDIO
FORÇA
H AMLET
ESTÁ O CADÁVER DE
A REVELAR O LOCAL ONDE
P OLÓNIO
E INFORMA - O DE QUE VAI
SER ENVIADO PARA I NGLATERRA .
C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor…
C LÁUDIO : Cornélio, Hamlet no seu delírio matou
Polónio e encobriu o cadáver. Ide procurá-lo.
C ORNÉLIO : [ CHAMANDO ] Hamlet! Príncipe Hamlet!
[ HAMLET
ENTRA ]
Senhor, que fizesteis do cadáver?
H AMLET : Misturei-o com o pó de onde veio.
C ORNÉLIO : Senhor, dizei-me onde ele está.
H AMLET : Não creio.
C ORNÉLIO : Não credes em quê?
H AMLET : Em que eu vos diga o meu segredo. Ainda
por cima, interrogado por uma esponja, que outra
resposta poderia dar o filho de um rei?
C ORNÉLIO : Não vos entendo, senhor.
H AMLET : Muito me alegro com isso. Palavras subtis
não acham guarida em ouvidos tolos.
C ORNÉLIO : Senhor, deveis dizer-me onde está o
H AMLET • 2009 • FdC
corpo.
C LÁUDIO : Hamlet, onde está Polónio?
H AMLET : Na última ceia—
C LÁUDIO : Onde está Polónio?
H AMLET : … onde não come, mas onde é comido. Uma
assembleia de vermes politicos está a comê-lo. O
verme é o único imperador das dietas; engordamos
os outros animais para que nos engordem a nós e nós
engordamo-nos a nós para os vermes: o rei gordo e o
mendigo magro não passam de uma ementa –dois
pratos para a mesma mesa. Fim.
C LÁUDIO : Pois é…
H AMLET : Um homem pode pescar usando como isco o
verme que comeu um rei e depois comer o peixe que
comeu o verme.
C LÁUDIO : Que queres dizer com isso?
H AMLET : Apenas demontrar que um rei pode fazer
uma viagem pelas tripas de um mendigo.
C LÁUDIO : Hamlet, onde está o corpo?
H AMLET : O corpo está com o rei, mas o rei não está
com o corpo. O rei é uma coisa…
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H AMLET • 2009 • FdC
C LÁUDIO : Uma coisa?
H AMLET : Que não vale nada.
C LÁUDIO : Onde está Polónio?
H AMLET : No céu; Mandai alguém lá ver. Se o vosso
mensageiro não o encontrar, ide vós procurá-lo pessoalmente ao outro sítio. E se daqui a um mês ainda
não o tiverdes encontrado, o vosso nariz há-de dar
com ele quando subirdes a escada do átrio.
C LÁUDIO : Ide lá ver. [ CORNÉLIO
SAI ]
H AMLET : Ele não tem pressa.
C LÁUDIO : Hamlet, depois desta acção, a tua segurança —que prezamos tanto quanto lamentamos o
que fizeste— exige que partas imediatamente. Por
isso, prepara-te; o navio está pronto, o vento é favorável, arranjar-te-emos companhia; está tudo preparado para ires para Inglaterra.
H AMLET : Para Inglaterra?
C LÁUDIO : Sim, Hamlet.
H AMLET : Está bem.
C LÁUDIO : E está.
H AMLET : Embora para Inglaterra. Adeus. Inglaterra,
H AMLET • 2009 • FdC
aqui vou eu. [ SAI ]
C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor…
C LÁUDIO : Segui-o de perto. Partireis com ele para
Inglaterra. Entregai esta carta ao rei Richard. Esta
noite mesmo quero-o longe daqui. [ CORNÉLIO
SAI ]
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H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 20
C LÁUDIO • HAMLET • H ORÁCIO
H AMLET
TOMA CONSCIÊNCIA QUE
C LÁUDIO
O QUER VER
MORTO .
C LÁUDIO : Não gosto dele. Nem é seguro para nós
deixar que dê largas à sua loucura. A Dinamarca não
pode sujeitar-se aos riscos que, de hora a hora, ele
engendra. Inglaterra, é a tua vez de me prestares um
serviço. Se dás algum valor à minha estima, não
podes ignorar o que te peço: a morte imediata de
Hamlet. Enquanto isso não acontecer, não terei um
momento de alegria. [ TRANSIÇÃO ] Pode ser que tudo
ainda acabe em bem. [ SAI ]
H AMLET : Não sei porque continuo a dizer “isto tem de
ser feito” quando tenho motivo e vontade e força e
meios para o fazer. Que, a partir de agora, todos os
meus pensamentos sejam sangrentos.
H ORÁCIO : [ ENTRA ] Senhor…
H AMLET : Horácio, o mundo mergulhou na desordem.
H ORÁCIO : Senhor, vamos embora. [ SAEM ]
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 21
GERTRUDES • OFÉLIA
O FÉLIA
DEMONSTRA EVIDENTES SINAIS DE PERTURBA ÇÃO .
O FÉLIA : [ ENTRA ] Onde está a formosa rainha da
Dinamarca? [ GERTRUDES
ENTRA ]
Estes são amores-
perfeitos; e isto é rosmaninho, a planta que cura o
esquecimento. Peço-te, amor, não esqueças.
G ERTUDES : Ai, minha pobre amiga!
O FÉLIA : [ CANTA “ TERRA
DE MEL ” DE EUGÉNIA MELO E
CASTRO E KLEDIR RAMIL ]
Dás-me os olhos para ver
O que está na minha mão
Ela está entre o que eu sei
E antes do ainda não
Dás-me a boca para saber
O que está na minha pele
Ela está dentro de mim
Sabe a terra de mel
Dás-me o corpo para sentir
O que está no meu olhar
Ele está depois de mim
E antes de aí chegar
Dou-te os olhos para ver
O que ainda não chegou
Que aqui perto eu penso em nós
Ao lado do que passou
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H AMLET • 2009 • FdC
[ ENTRA
NA ÁGUA . GERTRUDES SAI ]
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 22
CLÁUDIO • C ORNÉLIO • L AERTES
L AERTES
EXIGE VINGANÇA PELA MORTE DO PAI .
PROPÕE - LHE ARMAREM UMA CILADA A
C LÁUDIO
H AMLET .
L AERTES : [ ENTRA ] Onde está o rei?
C LÁUDIO : [ ENTRANDO ] Acalma-te, Laertes.
L AERTES : Uma só gota do meu sangue que se acalmasse faria de mim bastardo e chamaria corno ao meu
pai.
C LÁUDIO : Meu bom Laertes, é justo que queiras vingar a morte do teu querido pai, mas não o é que
confundas os amigos com os inimigos.
L AERTES : Entregai-me então o assassino.
C LÁUDIO : O assassino vai a caminho de Inglaterra
onde a tua vingança se cumprirá.
C ORNÉLIO : [ ENTRANDO ] Senhor, o príncipe desapareceu
C LÁUDIO : Como?
C ORNÉLIO : Não sei, senhor. Desapareceu. Nem chegou a entrar no barco…
C LÁUDIO : Retirai-vos.
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H AMLET • 2009 • FdC
C ORNÉLIO : Às vossas ordens, senhor. [ SAI ]
C LÁUDIO : Alguma coisa o fez desconfiar. Nesse caso,
mais cedo ou mais tarde voltará para a corte.
L AERTES : Ele que venha. Com ele virá a minha vingança.
C LÁUDIO : Vamos armar-lhe uma cilada à qual ele não
poderá esquivar-se e que levará todos, até a própria
mãe, a pensar tratar-se de um acidente. Quando ele
regressar, desculpá-lo-emos por nos ter desobedecido e, para selar a reconciliação, organizaremos um
duelo amigável… contigo. No calor da refrega,
bastará que retires a ponteira do teu florete e lhe
faças uma simples arranhadela com a ponta aguçada.
L AERTES : E com que fim?
C LÁUDIO : [ ESTENDE - LHE
UMA PÉROLA ]
A arranhadela
será fatal se embeberes a ponta do florete em suco
de meimendro.
L AERTES : Mas todos perceberão que foi envenenado.
C LÁUDIO : Não. Este veneno mata sem dar mostras
exteriores e assim a sua morte será atribuída a qualquer outra causa.
L AERTES : [ RECEBE
A PÉROLA ]
mais, farei o meu dever.
Nisso, como em tudo o
H AMLET • 2009 • FdC
C LÁUDIO : Não duvidamos.
L AERTES : E se eu não conseguir feri-lo?
C LÁUDIO : [ MOSTRA
pérola… [ SAEM ,
OUTRA PÉROLA ]
Haverá outra
CADA UM PARA SEU LADO ]
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58
H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 23
C OMEDIANTES • C ORNÉLIO • G ERTRUDES • OFÉLIA
O FÉLIA
G ERTUDES : [ ENTRA
MORRE AFOGADA .
E CHAMA ]
CORPO AFOGADO DE OFÉLIA ]
Ofélia! [ DEPARA
COM O
Uma desgraça nunca vem
só; acarreta sempre outra consigo. [ CHAMA ]
Cornélio! [ CORNÉLIO
ENTRA ]
Vai informar o rei que
Ofélia se afogou. [ CORNÉLIO
SAI E OS COMEDIANTES
ENTRAM , RETIRAM DA ÁGUA O CORPO DE OFÉLIA E FAZEM
A PROCISSÃO FÚNEBRE ]
C OMEDIANTE OFÉLIO : [ CANTA “ O
PASTOR DE BENZA -
FRIM ” DE JOSÉ AFONSO ]
Ó ventos do monte, ó brisas do mar
A história que vou contar
Dum pastor Florival, meu irmão
De Benzafrim natural, rezava assim:
Passava ele os dias no seu labutar
E os anos no seu folgar
Serras vai, serras vem, seu cantar não tinha fim
O pastor cantava assim:
Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor
Ó bosques perdidos, trajados de negra cor
Voa andorinha, voa minha irmã
Não te vás embora, vem, volta amanhã.
Dizei amigos
Dizei só a mim
H AMLET • 2009 • FdC
Todos só dum lado
Quem vos fez assim?
Dizei-me mil prados, campinas dizei
A história que não contei
Serras vai, serras vem, o seu mal não tinha fim
O pastor cantava assim:
Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor
Ó bosques perdidos, trajados de negra cor
Voa andorinha, voa minha irmã
Não te vás embora, vem, volta amanhã.
Dizei amigos
Dizei só a mim
Todos só dum lado
Quem vos fez assim?
Sei bem que ele vira num rio a banhar
Ao vê-lo vir espreitar
Nunca mais apareceu
Ao pastor de Benzafrim
Sua dor chorava assim:
Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor
Ó bosques perdidos, trajados de negra cor
Voa andorinha, voa minha irmã
Não te vás embora, vem, volta amanhã.
Dizei amigos
Dizei só a mim
Todos só dum lado
Quem vos fez assim?
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H AMLET • 2009 • FdC
C ENA 24
C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES •
HAMLET • H ORÁCIO • L AERTES
H AMLET
E
L AERTES
CONFRONTAM - SE NO ENTERRO DE
O FÉLIA .
G ERTUDES : Flores para uma flor. Adeus minha querida. Sempre esperei que viesses a ser a esposa de
Hamlet e sonhava enfeitar o teu leito nupcial, doce
Ofélia, nunca a tua campa.
L AERTES : [ ENTRA
COM CLÁUDIO E CORNÉLIO E ATIRA - SE
AO CORPO DE OFÉLIA ]
Juro-te que comerei o coração
do celerado que te levou à loucura.
H AMLET : [ ENTRA
COM HORÁCIO ]
Quem exprime a sua
dor com tanta ênfase? Eu sou Hamlet, príncipe da
Dinamarca.
L AERTES : Vais arder no inferno!
H AMLET : Larga-me o pescoço! Tira as mãos!
C LÁUDIO : Separai-os!
G ERTUDES : Hamlet! Hamlet!
H AMLET : Sou suficientemente perigoso para que me
temas!
C ORNÉLIO : Senhores!
H AMLET • 2009 • FdC
H ORÁCIO : Então, meu senhor, sossegai.
H AMLET : Eu amava Ofélia! O amor de mil irmãos não
pode perfazer o meu amor.
C LÁUDIO : Oh, ele está doido, Laertes. Fortalece a
tua paciência com a nossa conversa.
G ERTUDES : Pelo amor de Deus não lhe façam mal.
H AMLET : O que estás disposto a fazer por ela?
G ERTUDES : Peço-vos, meu bom Horácio, não o
deixeis só.
C LÁUDIO : Gertrudes, isto não pode continuar. Ele é
teu filho, exerce a tua autoridade. Hoje mesmo quero
ver sanado este incidente.
G ERTUDES : E como, senhor?
C LÁUDIO : Mandai dizer a Hamlet que deve reconciliar-se com Laertes. [ SAEM ]
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 25
HAMLET • HORÁCIO
H AMLET
DESCOBRE A CAVEIRA DE
BOBO DA
Y ORICK ,
O ANTIGO
C ORTE .
H AMLET : Sabes de quem era esta caveira?
H ORÁCIO : Não, senhor.
H AMLET : Esta caveira, Horácio, esta caveira que aqui
vês, pertencia a Yorick, o bobo do rei.
H ORÁCIO : Era?
H AMLET : Era. Pobre Yorick! Lembro-me dele,
Horácio. Uma vez despejou-me um jarro de vinho
pela cabeça abaixo. Andava comigo às cavalitas
vezes sem conta. Que saudade das suas piadas que
nos faziam rebentar à gargalhada…
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 26
C ORNÉLIO • H AMLET • H ORÁCIO
C ORNÉLIO ,
ENVIADO POR
G ERTRUDES ,
A FAZER AS PAZES COM
H AMLET : [ PARA
CONVIDA
H AMLET
L AERTES .
CORNÉLIO , QUE ENTRA ]
Sim?…
C ORNÉLIO : Meu nobre senhor, se Vossa Senhoria
tiver um momento disponível, tenho algo a comunicarvos da parte da rainha.
H AMLET : Dizei, senhor.
C ORNÉLIO : Sua Majestade pediu-me que vos fizesse
sentir o quanto aprecia—
H AMLET : Dizei, dizei.
C ORNÉLIO : Senhor, parece-me que tereis de reconhecer que, apesar de tudo, Laertes é um autêntico
compêndio de fidalguia.
H AMLET : Senhor, decerto nunca se poderá dizer que
o subestimais.
C ORNÉLIO : Senhor, atrevo-me a dizer que não ignorais as qualidades de Laertes.
H AMLET : Ah, sim! Até vos posso dizer que ele só
encontra igual quando se vê ao espelho.
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H AMLET • 2009 • FdC
C ORNÉLIO : Vossa senhoria fala de um modo infalível.
Pois, na verdade, Laertes é um fidalgo delicadíssimo,
do mais fino trato e presença primorosa.
H AMLET : Bom, então Laertes é do mais fino trato,
presença primorosa e delicadíssimo. Mas a que propósito estamos a embrulhar tão nobre fidalgo nas
nossas palavras?
C ORNÉLIO : A rainha, senhor, deseja, senhor, que
Vossa Alteza trave um duelo amigável com Laertes.
Se estiverdes de acordo, senhor.
H AMLET : Se é do agrado de Sua Majestade, será do
meu agrado, senhor.
C ORNÉLIO : É essa a resposta exacta que devo transmitir à rainha, senhor?
H AMLET : É esse o sentido. Acrescentai os floreados
que quiserdes.
C ORNÉLIO : Recomendo-me a Vossa Senhoria, senhor.
[ SAI ]
H AMLET • 2009 • FdC
CENA 27
HAMLET • H ORÁCIO
H AMLET
REFLETE SOBRE A MORTE .
H AMLET : E aqui jaz Ofélia com quem o rio não quis
ficar. Achas que ela resolveu a questão, Horácio?
H ORÁCIO : Que questão, senhor?
H AMLET : A da existência. A de ser ou não ser. É essa
a questão. Será mais nobre suportar os ataques da
fortuna adversa, ou contra um mar de problemas
pegar numa arma e pôr-lhes fim? Morrer, dormir, mais
nada; com o sono pôr cobro ao sofrimento de que a
carne é herdeira. Talvez seja essa a resposta: morrer,
dormir. Dormir… sonhar! Não. Esta é que é a questão: que sonhos nos trará a morte? É esse temor que
nos leva à desgraça de uma vida longa. Quem suportaria o jugo extenuante desta vida se não fosse o
pavor do que existe para além da morte, esse país
por descobrir de onde nenhum viajante regressa?
[ TRANSIÇÃO ] Vamos lá então ao duelo amigável com
Laertes. Horácio, não podes imaginar como me pesa
o coração. É apenas uma tolice; mas é o género de
pressentimento que perturbaria uma mulher.
H ORÁCIO : Se há qualquer coisa que desagrada ao
vosso espírito, obedecei-lhe, senhor. Eu direi que
não estais bem disposto.
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H AMLET • 2009 • FdC
H AMLET : Nem pensar em tal; desafio os presságios. A
providência vigia até a queda de um pardal. Se for
agora, não será mais tarde; se não for agora, virá de
qualquer forma. O que conta é estar pronto para o
que vier. Se nenhum homem é senhor do que há-de
abandonar, que importa que parta cedo? Deixa.
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H AMLET • 2009 • FdC
CENA 28
CLÁUDIO • C ORNÉLIO • GERTRUDES • H AMLET •
H ORÁCIO • L AERTES
H AMLET
FAZ UM DUELO AMIGÁVEL COM
L AERTES .
G ERTUDES : Meu filho, vamos pôr termo a esta questão. Recebe esta mão que te apresento. [ HAMLET
E
LAERTES APERTAM AS MÃOS ]
C LÁUDIO : Muito bem. Proponho então que celebremos condignamente. E haverá melhor celebração do
que ver baterem-se amigavelmente os dois antagonistas de há pouco? O vencedor será o primeiro a
ganhar três assaltos. E eu brindarei no final de cada
um deles. E vós, Cornélio, estai atento. Começai.
C ORNÉLIO : Senhores, aos vossos lugares. [ HAMLET
LAERTES PREPARAM - SE ]
[ AMBOS
ANUEM ]
E
Estão preparados, senhores?
Saudação.
H AMLET : En garde, senhor.
L AERTES : En garde, meu senhor. [ LUTAM ]
H AMLET : Um!
L AERTES : Não!
H AMLET : Juíz?
C ORNÉLIO : Touché, indiscutivelmente touché!
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H AMLET • 2009 • FdC
L AERTES : Bem, continuemos.
C LÁUDIO : Esperai, quero brindar. Trazei uma taça.
[ HORÁCIO
LEVA - LHE UMA TAÇA ]
tua. [ DEITA - A
NA TAÇA ]
Hamlet, esta pérola é
Dai-lhe a taça. À tua saúde.
H AMLET : Prefiro brindar no final. [ PARA
HORÁCIO ]
Põe-na aí de parte. [ PARA LAERTES ] Vamos. En garde.
L AERTES : En garde. [ LUTAM ]
H AMLET : Outro! Que dizeis?
C ORNÉLIO : Touché.
L AERTES : Tocado, tocado, confesso.
G ERTUDES : [ PEGA
PÉROLA ]
NA TAÇA DE HAMLET , QUE CONTÉM A
A rainha brinda pela tua vitória, Hamlet.
C LÁUDIO : Gertrudes, não bebas.
G ERTUDES : Bebo, senhor. Peço-vos que me perdoeis.
C LÁUDIO : [ APARTE ] Tarde demais.
G ERTUDES : Vamos, deixa-me limpar-te o rosto. [ LIMPA
O ROSTO A HAMLET ]
H AMLET : Vamos ao terceiro assalto, Laertes.
H AMLET • 2009 • FdC
L AERTES : En garde.
H AMLET : En garde. [ LUTAM . LAERTES FERE HAMLET NUM
BRAÇO ]
C ORNÉLIO : O príncipe foi tocado no braço. Toque
irregular. Nada em ambos os lados.
H AMLET : [ TIRA
O FLORETE A LAERTES ]
não tem ponteira, Laertes.
O teu florete
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H AMLET • 2009 • FdC
L AERTES : Deve ter caído, senhor.
H AMLET : [ ATIRA
O SEU FLORETE A LAERTES ]
En garde.
[ LUTAM ]
C LÁUDIO : Separai-os. Estão enfurecidos.
H AMLET : Continuemos. [ HAMLET
FERE LAERTES ]
C ORNÉLIO : Touché.
H AMLET : Ganhei o duelo.
L AERTES : Não cantes vitória, Hamlet. Eu vou morrer
mas tu vais comigo. [ EM
QUEDA ]
Bastou um toque,
uma leve arranhadela… E não há remédio que te
possa salvar. [ MORRE ]
C ORNÉLIO : Olhai. A rainha.
C LÁUDIO : Desmaiou ao ver-vos sangrar.
G ERTUDES : Não, não, a bebida, a bebida! Ó meu querido Hamlet! A bebida… envenenada! [ MORRE ]
H AMLET : É aqui que está a tua pérola? [ APONTA
TAÇA ]
Bebe até ao fim. [ CLÁUDIO
O resto é silêncio. [ AO
A
BEBE E CAI E MORRE ]
CAIR , ARRASTA CONSIGO A COR -
TINA A QUE SE AGARRA . MORRE . SILÊNCIO . FIM ]
cena final de HAMLET: Carlos Carvalheiro (Hamlet), Isabel Passarito e Augusto
Portela (Comediantes) • fotografia: António Alves
Convento de Cristo, Tomar, 1988
H AMLET • 2009 • FdC
DA ENCENAÇÃO
Não sei muito bem porquê mas, desde que ando metido neste interesse pelo teatro, sempre achei que o Hamlet era a coisa mais difícil de pôr em cena. E por isso
o queria fazer. Como o culminar de um processo de aprendizagem.
Esta teimosia de montar o Hamlet não tinha muitos motivos para se concretizar.
A bem dizer, faltava tudo. E eis que a conjuntura se organiza de forma a fornecer os meios. Faltariam portanto as unhas. Que, ou se tinham, ou não se tinham.
E era preciso começar por algum lado.
Começou-se pelas pessoas.
E estou a falar em pessoas e não em actores. Se tinham problemas de dicção,
com calma tentaríamos que eles fossem remediados. Se tinham pouca habilidade, logo se haveria de ver. Tudo o que se pedia era que fingissem que eram
outras pessoas (coisa substancialmente diferente de representarem o personagem como o faria um “actor”). Tudo passava pela forma como se olhava. E por
perceber tudo bem.
Depois foi a vez de nos embrulharmos no texto.
Aquilo era muito chato. Já sei que é arriscado escrever isto mas pronto. Aquilo
lido dava aí para umas 4 ou 5 horas. E sempre na esgalha que, se se parasse
para beber alguma coisa, nem amanhã. É verdade!… A primeira vez que nos juntámos para ler a peça, ficámos com dores no rabo e uma sensação de por amor
de deus! Depois começámos a partir tudo. E afinal basta-nos uma hora e meia
para dizer tudo o que queremos e ainda lá enfiámos pelo meio bocados de “A
Máquina-Hamlet” de Heiner Müller.
Até que chegou a altura da encenação propriamente dita.
Avancemos pois com ligeireza que deve ser a única forma de ter acesso aos
diversos aspectos do que é sério (foi o Brecht que disse isto). Depois de andar
com o Hamlet tanto tempo na cabeça, mergulho no trabalho sem ter nada planeado no papel. Por questão de método de trabalho: Só havia uma opção de
base: a da sobriedade. E a da alegoria. E a da ironia. Por isso não haveria elementos decorativos. Nada seria exclusivamente forma. Poder-se-ia fingir por um
momento que o era, mas apareceria mais tarde a inevitável função. Por isso o
espectáculo se moveria em espaço nú. Onde o silêncio fosse simplesmente
silêncio. E o resto simplesmente resto.
Chegou finalmente a altura de mostrar esta coisa.
Pronto. O Hamlet já cá canta.
Carlos Carvalheiro
1987
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H AMLET • 2009 • FdC
DA TRADUÇÃO
Traduzir qualquer texto de qualquer autor é um risco: avançamos, servindo-nos
da traição que uma lingual diferente sempre é, na esperança de atingir a maxima
fidelidade na recriação. Porém, quando se traduz um TEXTO de um AUTOR, a
consciência do perigo torna o avanço tímido e penoso.
Há, então, alguém que diz: “A única forma de fidelidade é deixar que isto seja só
um texto. Ou então é uma dupla traição. Convenci-te?” Convenceu-me.
Seguiu-se um processo muito pouco pacífico: “as coisas simples”, dizia um, “a
métrica”, dizia o outro; “esta imagem”, gritava um, “a dramaturgia”, gritava o
outro; “o teatro”, berrava um, “a sonoridade”, berrava o outro.
Esta versão é o tratado de paz. Parece-me que, depois de tantas voltas, se
limita a ser aquilo a que covencionalmente se chama uma tradução: uma forma de
comunicar a quem nos rodeia o que se descobriu e amou num texto de alguém
que falava outra língua.
Graça Afonso
1987
H AMLET • 2009 • FdC
ESTRUTURA DRAMATURGICA
VERSÃO
1: O S
2009
COMEDIANTES APRESENTAM UMA REPRESENTAÇÃO DE CRÍTICA À POLÍTICA BELI -
CISTA DA
D INAMARCA .
2: C LÁUDIO
EXPLICA O SEU CASAMENTO COM
EXTERNA E TENTA DEMOVER
3: H AMLET
H AMLET
C LÁUDIO
SUSPEITA QUE
G ERTRUDES ,
DEFENDE A SUA POLÍTICA
A ACEITAR A NOVA SITUAÇÃO .
É O ASSASSINO DO PAI E DECIDE USAR O TEATRO
PARA O CONFIRMAR
4: H AMLET
CONVERSA COM O ESPECTRO
5: H AMLET
CONFIA A
UMA RATOEIRA A
H ORÁCIO
O SEU PLANO DE USAR OS COMEDIANTES PARA ARMAR
C LÁUDIO
6: L AERTES , ENVIADO POR C LÁUDIO COMO EMBAIXADOR À N ORUEGA , DESPEDE - SE DA
IRMÃ ,
O FÈLIA ,
7: P OLÓNIO ,
8: O FÉLIA
E ACONSELHA - A A RECUSAR O CORTEJAR DE
O PAI DE
O FÉLIA ,
DEVOLVE AS CARTAS DE AMOR DE
9: P OLÓNIO
REPARA NA PERTURBAÇÃO DE
10: P OLÓNIO
H AMLET
PROIBE - A DE RECEBER AS ATENÇÕES DE
TENTA FALAR COM
H AMLET ,
H AMLET
H AMLET .
O FÉLIA .
QUE O RIDICULARIZA .
11: P OLÓNIO INFORMA C LÁUDIO QUE RECEIA QUE SEJA O FÉLIA A CAUSA DA PERTURBA ÇÃO DE
H AMLET . O FÉLIA
12: O FÉLIA
H AMLET
É ENVIADA A
PARA CONFIRMAÇÃO .
FALHA A SUA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO A
13: L AERTES
CHEGA DA
N ORUEGA
H AMLET .
COM UMA PROPOSTA DE PAZ .
QUE ELE TENTE DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE
14: L AERTES
C LÁUDIO
PEDE - LHE
H AMLET .
TENTA , SEM SUCESSO , DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE
H AMLET .
15: A
CORTE INSTALA - SE PARA ASSISTIR A UMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL .
16: O S COMEDIANTES FAZEM , COM A PARTICIPAÇÃO DE H AMLET , UMA REPRESENTAÇÃO
TEATRAL .
C LÁUDIO
17: G ERTRUDES
TINA .
H AMLET
H AMLET ,
QUE MATA
P OLÓNIO ,
ESCONDIDO ATRÁS DA COR -
ACUSA A MÃE DE TER CASADO COM O ASSASSINO DO MARIDO .
18: G ERTRUDES
19: C ORNÉLIO
SAI DA SALA .
CENSURA
CONTA A
C LÁUDIO
PRIMEIRO , E
A MORTE DE
C LÁUDIO
P OLÓNIO .
DEPOIS , FORÇAM
H AMLET
P OLÓNIO . C LÁUDIO
ONDE ESTE ESCONDEU O CADÁVER DE
A REVELAR O LOCAL
INFORMA
H AMLET
QUE VAI
SER ENVIADO PARA I NGLATERRA .
20: H AMLET
21: O FÉLIA
TOMA CONSCIÊNCIA QUE
22: L AERTES
O QUER VER MORTO .
EXIGE VINGANÇA PELA MORTE DO PAI .
UMA CILADA A
23: O FÉLIA
C LÁUDIO
DEMONSTRA EVIDENTES SINAIS DE PERTURBAÇÃO .
C LÁUDIO
PROPÕE - LHE ARMAREM
H AMLET .
MORRE AFOGADA .
24: H AMLET
E
25: H AMLET
DESCOBRE A CAVEIRA DE
26: C ORNÉLIO ,
L AERTES
CONFRONTAM - SE NO ENTERRO DE
ENVIADO POR
Y ORICK ,
G ERTRUDES ,
CONVIDA
H AMLET
L AERTES .
27: H AMLET
REFLETE SOBRE A MORTE .
28: H AMLET
FAZ UM DUELO AMIGÁVEL COM
O FÉLIA .
O ANTIGO BOBO DA
L AERTES .
C ORTE .
A FAZER AS PAZES COM
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H AMLET • 2009 • FdC
H AMLET
a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de
“M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller
VERSÃO
1987
Carlos Carvalheiro e Graça Afonso
Estreada em Olympiads'87, Detroit, USA. Carreira no Convento de Cristo em
Tomar até 1988. Apresentado no Festival Internacional de Teatro APTA
(Teatro D. Maria II - Lisboa), no Festival de Teatro Citemor (Castelo de
Montemor-o-Velho) e em Abrantes (Convento de S. Francisco).
PRODUÇÃO
Fatias de Cá - Tomar
TRADUÇÃO
“H AMLET ”: Graça Afonso
“M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes
ENCENAÇÃO
Carlos Carvalheiro
CENOGRAFIA
José Rodrigues
FIGURINOS
Alice Aurélio
MÚSICA DAS CANÇÕES
H AMLET • 2009 • FdC
António de Sousa
CARTAZ
João Nunes
PRODUÇÃO NACIONAL
Ana de Carvalho
PRODUÇÃO INTERNACIONAL
António Calvet
INTERPRETAÇÃO
HAMLET : Carlos Carvalheiro
HORÁCIO : António Aparício
CLÁUDIO : João Mourão
POLÓNIO e CORNÉLIO : António Calvet
LAERTES: Henrique Sapatinha
GERTRUDES: Alice Aurélio
O FÉLIA: Ana Paula Eusébio
COMEDIANTE T ELMAHA: Ana de Carvalho
C OMEDIANTE HORÁCIA: Graça Afonso
C OMEDIANTE L AERTESA: Isabel Passarito
C OMEDIANTE POLÓNIA : Ana Themes, depois Né Barros
C OMEDIANTE C LÁUDIA: Paula Alexandra, depois Isabel Barros
C OMEDIANTE GERTRUDO : Augusto Portela
C OMEDIANTE OFÉLIO : Eusébio Paulino
1º andar, da esq para a dir: Eusébio Paulino, António Aparício, João Mourão,
palhaço, Alice Aurélio, Paula Alexandra, Augusto Portela
rés-do-chão, da esq para a dir: Isabel Passarito, Ana Paula Eusébio, Graça
Afonso, António Calvet, Ana de Carvalho, Henrique Sapatinha, Carlos
Carvalheiro, Ana Themes
Detroit, USA, 1987
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H AMLET • 2009 • FdC
H AMLET
a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de
“M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller
VERSÃO
2006
Carlos Carvalheiro
estreada no Convento de Cristo em Tomar, Portugal, em Julho de 2006
PRODUÇÃO
Fatias de Cá - Tomar
TRADUÇÃO
“H AMLET ”: Graça Afonso
“M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes
ENCENAÇÃO
Carlos Carvalheiro
CARTAZ
CONCEPÇÃO :
Sebastião Maurício •
EXECUÇÃO :
MBV Design
TRAJE
Bruno Guerra
(sucedâneo de “A LCACER K IBIR ” e “A T EMPESTADE ”)
INTERPRETAÇÃO
HAMLET : Bruno Guerra
C LÁUDIO : Carlos Carvalheiro
POLÓNIO e C ORNÉLIO : Manuel João Valério
L AERTES : Filipe Seixas
H ORÁCIO : Luis Costa
G ERTRUDES : Manuela Teixeira
O FÉLIA: Dora Martinho
C OMEDIANTE TELMAH : Inês Cúrdia
C OMEDIANTE CLÁUDIA : Ana de Carvalho
COMEDIANTE POLÓNIA: Isabel Passarito
C OMEDIANTE HORÁCIA: Sabrina Martinho
COMEDIANTE L AERTESA: Joana Jacob
C OMEDIANTE GERTRUDO : Humberto Machado
C OMEDIANTE OFÉLIO : Sebastião Maurício
DIRECÇÃO DE CENA
Gabriela de Azevedo
MONTAGEM
Joana Jacob
H AMLET • 2009 • FdC
Ana de Carvalho, Isabel Passarito, Humberto Machado, Sebastião Maurício
TÉCNICA
Filipe Seixas
Carlos Carvalheiro, Catarina Graça, Luis Costa, Manuel João Valério, Menino
Jesus, Miguel Cabaço
CAMARINS
Sabrina Martinho
Bruno Guerra, Dora Martinho, Inês Cúrdia
OPERAÇÃO TÉCNICA
Catarina Graça
PROMOÇÃO
Fernando Rodrigues
ACOLHIMENTO
Gabriela de Azevedo
Ângelo Pintado, Augusto Cúrdia, Cidalina Carvalheiro, Francisco Graça,
Manuel Carvalheiro, Maria José Jacob
ACOMODAÇÃO
Manuela Teixeira
Carla Cotrim, Fernanda Seixas, Filomena Cúrdia, Frederico Martins, Helena
Nunes Cabaço, José Manuel Martins, Julieta Graça, Manuel Almeida, Sérgio
Costa
CATERING
Assim se Fazem as Coisas, catering & bastidores
PROTOCOLO
MC • IPPAR • Convento de Cristo - Tomar
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78
H AMLET • 2009 • FdC
H AMLET
a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de
“M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller
VERSÃO
2009
Carlos Carvalheiro
reposição no Convento de Cristo em Tomar, Portugal, em 2009
PRODUÇÃO
Fatias de Cá - Tomar
TRADUÇÃO
“H AMLET ”: Graça Afonso
“M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes
ENCENAÇÃO
Carlos Carvalheiro
ASSISTENTE DE ENCENAÇÃO
Joana Jacob
CARTAZ
CONCEPÇÃO :
Sebastião Maurício •
EXECUÇÃO :
MBV Design
TRAJE
Bruno Guerra
(sucedâneo de “A LCACER K IBIR ” e “A T EMPESTADE ”)
INTERPRETAÇÃO
HAMLET : Joana Jacob
C LÁUDIO : Carlos Carvalheiro
G ERTRUDES : Manuela Teixeira
POLÓNIO : Fernando Rodrigues
L AERTES: Ricardo Zeferino
OFÉLIA: Inês Fouto
HORÁCIO : Sandro Gavazzi
COMEDIANTE T ELMAH : José Simões
C OMEDIANTE CLÁUDIO : Mariusa Correia ou Xana Pamplona
C OMEDIANTE POLÓNIO : Humberto Machado
C OMEDIANTE GERTRUDES: Isabel Passarito
COMEDIANTE O FÉLIA : Sebastião Maurício
C ORNÉLIO : Carlos Medeiros ou Marco António
MESTRE DE ARMAS
João Maia
H AMLET • 2009 • FdC
MONTAGEM
Inês Cúrdia, Paulo Moura
ACOLHIMENTO
Filipa Zeferino, Gabriela de Azevedo, Maria José Jacob
ACOMODAÇÃO
Filomena Cúrdia, Francisco Graça, Helena ?, Inês Cúrdia, Nascimento Costa
CATERING
Fatias de Cá – Mãe, catering & bastidores
PROTOCOLO
MC • Igespar • Convento de Cristo - Tomar
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H AMLET • 2009 • FdC
REPERTÓRIO
 1. FATIAS DE CÁ COM NINI FERREIRA • Autores Vários, 1979
 2. FATIAS DE CÁ NO ANIVERSÁRIO DA NABANTINA • Autores Vários, 1979
 3. O CON(S)CERTO • Karl Valentim, versão Carlos Carvalheiro, 1981
 4. GENTE SÉRIA • Autores Vários, 1981
 5. HÃN? • a partir dos monólogos “A HUNGARA” de Mario Frati, “EU, ULRIKE,
GRITO!”
de Dario Fo e Franca Rame e do conto “PASSAM OS SALTIMBANCOS” de
Pitigrilli, 1982
 6. A FESTA DA MEMÓRIA QUE É CURTA • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro,
1983
 7. O FARMACÊUTICO A CAVALO • a partir de conto de Pitigrilli, versão Carlos
Carvalheiro, 1983
 8. FATIAS DE CÁ BAR É… • Autores Vários, 1984; Autores Vários, 2009;
 9. A MENINA INÊS PEREIRA • a partir de Gil Vicente, versão Carlos Carvalheiro, 1984,
1992, 1996
 10. POR TRÁS DAQUELA JANELA • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro, 1985
 11. A FUGA DE WANG-FÔ • a partir do conto de Marguerite Yourcenar, versão
Carlos Carvalheiro, 1987
 12. HAMLET • a partir da peça de William Shakespeare e da peça “A MÁQUINAHAMLET” de Heiner Müller, versão Carlos Carvalheiro e Graça Afonso, 1987; versão
Carlos Carvalheiro, 2006, 2009
 13. HOMLET • a partir da banda desenhada de Gotlib e Alexis, versão Carlos
Carvalheiro, 1988
 14. QUEREMOS APRENDER TEATRO (SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO • William
Shakespeare), 1988
 15. CRÓNICA DOS BONS MALANDROS • a partir do romance de Mário Zambujal, versão Carlos Carvalheiro, 1986
 16. A SAPATEIRA PRODIGIOSA • Frederico Garcia Lorca, 1990
 17. CARMEN • a partir da ópera de Mérimée e Bizet, versão Ana Paula Eusébio, 1990
 18. A FERA AMANSADA • William Shakespeare, 1990
 19. A COMÉDIA DA MARMITA • a partir da peça de Plauto, versão Carlos
Carvalheiro, 1991
 20. A FLAUTA MÁGICA • a partir da ópera de Mozart e Shikaneder e do romance
“FILHA DA NOITE” de Marion Z. Bradley, versão Carlos Carvalheiro, 1991
 21. TIMOR • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro, 1991
 22. A MENINA FEIA • a partir da peça de Manuel Frederico Pressler, versão Carlos
Carvalheiro, 1992
 23. CONFUSÕES • Alan Ayckbourn, 1994
 24. A COMISSÃO DE FESTAS • Alan Ayckbourn, 1995
 25. AS LIGAÇÕES PERIGOSAS • a partir do romance de Choderlos de Laclos e da
peça “QUARTETO” de Heiner Müller e com os contributos da peça “THE DANGEROUS
LIAISONS” de Cristopher Hampton e do filme “VALMONT”de Milos Forman com argumento de Jean Carrière, versão Carlos Carvalheiro, 1996
 26. TANEGASHIMA • a partir das narrativas “PEREGRINAÇÃO”de Fernão Mendes Pinto
e “TEPPO-KI” de Nampo Bunshi, versão Carlos Carvalheiro e Isabel Passarito, 1997;
TANEGASHIMA-HOI! • Autores Vários, 1998; TANEGASHIMA • Carlos Carvalheiro, 2004
 27. XANANA GUSMÃO - LIBERDADE, LIBERDADE ! • Autores Vários, versão Carlos
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