CARLOS C ARVALHEIRO H AMLET A PARTIR DE WILLIAM S HAKESPEARE E HEINER M ÜLLER não resistir nem a uma ideia nova nem a um vinho velho 2 H AMLET • 2009 • FdC W ILLIAM SHAKESPEARE Nasceu H EINER M ÜLLER Nasceu C ARLOS CARVALHEIRO Nasceu em 1955, em Tomar, Portugal. Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica e em Teatro. Em 1979 ajuda a criar o Fatias de Cá e, assume, desde 1982, quando a Companhia de Teatro é legalizada, a sua direcção artística. No seu currículo constam 60 encenações, muitas das quais contaram com o seu contributo na versão e com a sua participação como actor. Vive em Tomar. É professor de Teatro. G RAÇA AFONSO Nasceu H AMLET C ARLOS C ARVALHEIRO MÁQUINA-H AMLET C ARVALHEIRO E DE A PARTIR DE H EINER M ÜLLER , H AMLET DE W ILLIAM S HAKESPEARE SUCEDÂNEO DA VERSÃO DE G RAÇA A FONSO . edição: 2009 FATIAS DE C Á Apartado 140 • 2304-909 Tomar • Portugal tlm 960 303 991 • [email protected] • www.fatiasdeca.net 1987 DE E DE C ARLOS H AMLET • 2009 • FdC “I do not know why yet I live to say ‘this things to do’, sith I have cause, and will, and strength, and means to do’t” (H AMLET , act 4, scene 4) “Não sei porque continuo a dizer que ‘isto tem de ser feito’, quando tenho motivo e vontade e força e meios para o fazer.” (H AMLET , IV acto, cena 4) HAMLET a partir de HAMLET de William Shakespeare e M ÁQUINA -H AMLET de Heiner Müller TRADUÇÃO H AMLET : Graça Afonso MÁQUINA -HAMLET: Anabela Mendes VERSÃO Carlos Carvalheiro estreada no Convento de Cristo, Tomar, Portugal, em Março de 2009 sucedânea da versão estreada no Convento de Cristo, Tomar, Portugal, em Julho de 2006 e da versão de Carlos Carvalheiro e Graça Afonso, estreada no Olympiad’87, Detroit, USA, em Junho de 1987 3 4 H AMLET • 2009 • FdC PERSONAGNS H AMLET , príncipe C LÁUDIO, rei da Dinamarca e tio de Hamlet POLÓNIO, conselheiro L AERTES, filho de Polónio G ERTRUDES, rainha da Dinamarca e mãe de Hamlet OFÉLIA, filha de Polónio HORÁCIO, amigo de Hamlet CORNÉLIO, cortesão COMEDIANTE T ELMAH C OMEDIANTE CLÁUDIO C OMEDIANTE POLÓNIO COMEDIANTE GERTRUDES C OMEDIANTE OFÉLIA H AMLET • 2009 • FdC CENA 1 CLÁUDIO · COMEDIANTES • GERTRUDES • HAMLET • L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO OS COMEDIANTES APRESENTAM UMA REPRESENTAÇÃO DE CRÍTICA À POLÍTICA BELICISTA DA [ SOAM D INAMARCA . BADALADAS . COMEDIANTE TELMAH ENTRA ] C OMEDIANTE TELMAH : Quem vem lá? C OMEDIANTE POLÓNIO : [ ENTRA ] Quem está aí? C OMEDIANTE TELMAH : Ná, não vou nisso. Responde tu primeiro. Pára e descobre-te. C OMEDIANTE POLÓNIO : Viva o rei! C OMEDIANTE TELMAH : Tu? C OMEDIANTE POLÓNIO : Eu próprio. C OMEDIANTE TELMAH : Foste muito pontual. C OMEDIANTE P OLÓNIO : Deram agora as badaladas. Podes ir embora. C OMEDIANTE TELMAH : É um alívio. Obrigado. C OMEDIANTE POLÓNIO : Tiveste uma vigia calma? C OMEDIANTE TELMAH : Nem um rato se ouviu. 5 6 H AMLET • 2009 • FdC C OMEDIANTE P OLÓNIO : Bom, adeus. Se encontrares os meus companheiros de vigia, diz-lhes que se apressem. C OMEDIANTE T ELMAH : Parece-me que já os ouço. Alto. Quem vem lá? C OMEDIANTE GERTRUDES: Amigos do reino. C OMEDIANTE OFÉLIA: E súbditos do rei dinamarquês. C OMEDIANTE GERTRUDES: Quem te rendeu? C OMEDIANTE TELMAH : Aquele que ali está. [ SAI ] C OMEDIANTE OFÉLIA: Viva. C OMEDIANTE POLÓNIO : Bem vindos. C OMEDIANTE G ERTRUDES : Alguém sabe porque estamos de prevenção? Porquê esta fundição diária de canhões e de engenhos de guerra que nem faz distinção do domingo? Qual a finalidade desta canseira que junta os dias às noites? Quem me pode informar? C OMEDIANTE CLÁUDIO : [ ENTRA ] Eu! Passámos por tempos de excessiva paz e prosperidade, cancros que minam o homem desde o interior e o levam à morte. Pois que é o homem quando gasta o seu tempo apenas a dormir e a comer? Um animal, nada mais. Certamente Aquele que nos criou não nos deu a inteligência para que ela amoleça por falta de uso. H AMLET • 2009 • FdC Pensando pois na saúde espiritual do nosso reino, pusémos cobro a esta situação. É por isso com o maior contentamento que nos despedimos hoje deste exército numeroso e forte. Haverá visão mais gloriosa do que a de dois mil homens que correm para a sepultura por uma questiúncula e lutam por um pedaço de terra onde mal caberão os cadáveres dos contendores? Haverá? [ PAUSA ] Ser grande não consiste em comovermo-nos por uma razão forte mas em desencadear uma luta por dá cá aquela palha. C OMEDIANTE GERTRUDES : Pois então! Durante muitos anos hão-de cantar a nossa coragem. Não vai ficar nem uma taça por atacar, nem um jarro por despejar, nem uma migalha por tragar. Vai ser uma visão atroz. Os corpos a tombar. As taças a tinir. O vinho a escorrer, enquanto os timbales e as trombetas relincham pela vitória. C OMEDIANTE P OLÓNIO aos céus. [ ENTRAM E COMEDIANTE OFÉLIA: Graças CLÁUDIO GERTRUDES , POLÓNIO , LAERTES , OFÉLIA E , POR FIM , HAMLET , COM UM LIVRO ] C OMEDIANTE TELMAH : [ PARA CLÁUDIO ] Apraz a vossa Alteza ouvir o epílogo? C LÁUDIO : Nada de epílogos, por favor. A vossa encenação não carece de moralidade. [ OS AGRADECEM E RETIRAM - SE ] COMEDIANTES 7 8 H AMLET • 2009 • FdC CENA 2 CLÁUDIO · COMEDIANTES • GERTRUDES • HAMLET • L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO C LÁUDIO EXPLICA O SEU CASAMENTO COM G ERTRUDES , DEFENDE A SUA POLÍTICA EXTERNA E TENTA DEMOVER H AMLET A ACEITAR A NOVA SITUAÇÃO . C LÁUDIO : Embora ainda esteja próxima a morte do nosso querido irmão Hamlet e em luto o nosso coração e todo o reino, a razão venceu a natureza e é agora uma mágoa mais sábia que nos permite pensar nele, lembrando-nos também da Dinamarca. Foi por isso que, misturando alegria e dor, tomámos por esposa aquela que foi outrora a nossa irmã e é hoje a nossa rainha, no que, aliás, não contrariámos o vosso sábio conselho. A todos vós agradecemos. Passemos agora a um assunto que já conheceis: o jovem Fortimbrás da Noruega chegou a tais extremos que teremos de o pôr na ordem. Enquanto as suas actividades se limitaram a missivas importunas, nem nos demos ao trabalho de lhe responder. Nenhuma lei da honra nos obriga a atendê-lo —os territórios que reclama foram legalmente ganhos pelo nosso valoroso irmão Hamlet. Mas, desde que se tornou mais buliçoso —decerto que não foi por mera encenação que reuniu um exército de dois mil homens—, obrigou-nos a um esforço defensivo do qual se ressente toda a Dinamarca. É preciso acalmar o povo que, oprimido pela pesada empresa do rearmamento, justamente se interroga sobre o futuro. Decidimos portanto escrever ao rei da Noruega que, doente e preso ao leito, conhece mal os projectos do jovem H AMLET • 2009 • FdC Fortimbrás, seu sobrinho, para que ponha termo a esta questão. E encarregámos Laertes de entregar ao velho monarca a nossa missiva. Meu bom Laertes, que a tua diligência esteja à altura da tua lealdade. L AERTES : Nisso, como em tudo o mais, farei o meu dever. C LÁUDIO : Não duvidamos. Desejamos-te boa viagem. E agora tu, Hamlet, meu sobrinho e meu filho… H AMLET : Um pouco mais sobrinho do que filho. C LÁUDIO : Porque te manténs envolto em nuvens? H AMLET : Não é verdade, senhor; de mais ando eu ao sol. G ERTUDES : Querido Hamlet, alivia esse luto e deixa os teus olhos verem um amigo no rei da Dinamarca. Não continues de pálpebras caídas procurando no pó o teu nobre pai. Tu sabes que é assim mesmo: tudo o que vive tem de morrer –a vida é uma passagem para a eternidade. H AMLET : Na verdade, senhora, assim é. G ERTUDES : Pois assim sendo, porque pareces agora achá-lo tão estranho? H AMLET : Pareço achá-lo, senhora? Eu não pareço: acho. Talvez seja fácil parecer, mas não para mim. Eu 9 10 H AMLET • 2009 • FdC mostro o que me vai por dentro. C LÁUDIO : Só te enobrece, Hamlet, prestares os deveres de luto ao teu pai. Mas preserverar num desgosto obstinado é uma atitude de teimosia ímpia; é uma dor efeminada que revela um espírito imaturo e uma inteligência limitada e inculta. Suplicamos-te que abandones as lamentações inúteis e que penses em nós como um pai; pois —que o mundo inteiro o saiba—, és tu quem mais próximo está do nosso trono. G ERTUDES : Não deixes que as súplicas da tua mãe sejam em vão, Hamlet. H AMLET : Senhora, farei o meu melhor para vos obedecer. C LÁUDIO : Eis uma resposta amável e justa. Vamos, senhora. [ TODOS SAEM À EXCEPÇÃO DE HAMLET ] H AMLET • 2009 • FdC CENA 3 C OMEDIANTES • HAMLET H AMLET SUSPEITA QUE C LÁUDIO É O ASSASSINO DO PAI E DECIDE USAR O TEATRO PARA O CONFIRMAR H AMLET : [ LÊ ] “Os sinos anunciaram o funeral de Estado. Assassino e viúva formaram um par. Atrás da urna do eminente cadáver, os conselheiros choravam num luto mal remunerado. O luto transformou-se em júbilo, o júbilo em voracidade, o assassino atirou-se à viúva. Queres que te ajude a trepar, tio? Abre as pernas, mamã.” [ TRANSIÇÃO ] Os meus pensamentos são chagas no meu cérebro. Preciso de bases mais sólidas do que suspeições. Vou fazer teatro com os comediantes. Quando o rei assistir à minha encenação, logo veremos a reacção dele. [ CHAMA ] Comediantes! C OMEDIANTE GERTRUDES : [ DE está a chamar. [ OS DENTRO ] COMEDIANTES ENTRAM ] O príncipe Senhor?… H AMLET : Não vos agradaria fazer teatro comigo? C OMEDIANTE G ERTRUDES : A nós agradaria concerteza. À corte talvez não. H AMLET : E quem se importa com a opinião da corte, não é? O propósito do teatro sempre foi segurar um espelho onde a virtude e o vício se vissem reflectidos. C OMEDIANTE GERTRUDES : E que espelho tinheis em 11 12 H AMLET • 2009 • FdC mente, senhor? H AMLET : Vinde comigo. [ SAEM PARA TRÁS DA CORTINA ] H AMLET • 2009 • FdC C ENA 4 C OMEDIANTES • HAMLET H AMLET CONVERSA COM O ESPECTRO C OMEDIANTE TELMAH: [ COMO [ HORÁCIO ESPECTRO ] Ouve-me… ENTRA ] H AMLET : [ POR TRÁS DA CORTINA ] Estou a ouvir. C OMEDIANTE TELMAH : Ouve-me… H AMLET : Quem és tu? C OMEDIANTE T ELMAH: Eu sou o fantasma de quem te gerou. Contou-se que, estando eu a dormir, uma serpente me mordeu. Fica sabendo, nobre jovem, que a serpente que de facto me mordeu usa agora a coroa. Sim, aproveitando-se do meu sono, aproximou-se de mim e verteu-me no ouvido o terrível veneno do meimendro, roubando-me, assim e ao mesmo tempo, a vida e a coroa. H AMLET : Algo está podre no reino de Acramanid. C OMEDIANTE TELMAH : Vinga-me! Vinga-me! Vinga-me! H AMLET : Vingar-te? Por Deus o juro! 13 14 H AMLET • 2009 • FdC CENA 5 HAMLET • HORÁCIO H AMLET CONFIA A H ORÁCIO O SEU PLANO DE USAR OS COMEDIANTES PARA ARMAR UMA RATOEIRA A H ORÁCIO : [ PARA HAMLET , QUE ENTRA ] C LÁUDIO Deus vos salve, senhor. H AMLET : Viva Horácio. A festa já acabou. H ORÁCIO : Eu não vim para a festa, senhor. H AMLET : Então o que estás a fazer em Elsinor? H ORÁCIO : Vim assistir ao funeral do vosso pai. H AMLET : E aproveitaste para assistir ao casamento da minha mãe. H ORÁCIO : Na realidade foi quase logo a seguir. H AMLET : Economia, Horácio, economia! Os assados do funeral forneceram de carnes frias as mesas do casamento. H ORÁCIO : Algo está podre no reino de Acramanid? H AMLET : O mundo mergulha na desordem. Ah, maldita fatalidade, ter eu nascido para o ordenar. H ORÁCIO : Que fantasma é este? H AMLET • 2009 • FdC H AMLET : Vou fazer teatro com os comediantes. H ORÁCIO : Fazer teatro, vós? H AMLET : Sim… H ORÁCIO : Mas todos dirão que estais louco. H AMLET : Horácio, há mais coisas no céu e na terra do que sonha a tua imaginação. [ SAEM ] 15 16 H AMLET • 2009 • FdC CENA 6 L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO L AERTES , ENVIADO POR N ORUEGA , C LÁUDIO COMO EMBAIXADOR À DESPEDE - SE DA IRMÃ , O FÈLIA , SELHA - A A RECUSAR O CORTEJAR DE [ OFÉLIA E ACON - H AMLET ENTRA ] L AERTES : [ ENTRANDO ] Ofélia! A minha bagagem já está a bordo. Adeus querida irmã. O FÉLIA : Faz boa viagem. L AERTES : Quanto a Hamlet e aos seus favores de pechisbeque, considera-os um capricho, uma perturbação circulatória, doce mas não duradoura. Nada mais do que isso. O FÉLIA : Nada mais? L AERTES : Pensa que não é mais. Talvez agora te ame; mas tens que reconhecer que, dado o peso da sua condição, o seu amor não lhe pertence: ele próprio é súbdito do seu nascimento. Não pode decidir sozinho: tem de submeter-se à voz da Dinamarca. Por isso, reflecte bem na perda que a tua honra sofrerá se deres ouvidos às suas canções. Pensa nisto, Ofélia, pensa nisto, querida irmã. O FÉLIA : Os teus bons conselhos serão os guardas do meu coração. Mas, meu bom Laertes, não sejas como certos pregadores que nos indicam o caminho H AMLET • 2009 • FdC íngreme e espinhoso do céu enquanto eles trilham o atalho aliciante dos prazeres. L AERTES : Oh, não receies por mim. Adeus, estou atrasado. P OLÓNIO : [ ENTRA ] Ainda aqui, Laertes? Para bordo, para bordo! Que vergonha! O vento de feição e tu a fazê-lo esperar… Pronto, a minha benção. L AERTES : Humildemente me despeço, senhor. P OLÓNIO : Já é tempo disso. Vai, os criados esperamte. L AERTES : Adeus, Ofélia, e lembra-te do que te disse: O FÉLIA : Ficou trancado na minha memória e és tu quem vai levar a chave!! L AERTES : Adeus. [ SAI ] 17 18 H AMLET • 2009 • FdC CENA 7 O FÉLIA • P OLÓNIO P OLÓNIO , O PAI DE O FÉLIA , PROIBE - A DE RECEBER AS ATENÇÕES DE H AMLET P OLÓNIO : Ofélia! O que foi que ele te disse? O FÉLIA : Com a vossa licença, senhor, uma coisa relacionada com o príncipe Hamlet. P OLÓNIO : Óptimo, fez muito bem! Disseram-me que, ultimamente, ele tem gasto o seu tempo contigo; e que tu tens sido pródiga na atenção que lhe dás; se assim é, devo dizer-te que não tens de ti a noção clara que compete a uma filha minha e à tua honra. O que há entre os dois? Diz a verdade! O FÉLIA : Ultimamente, meu senhor, ele tem-me dado sinais da sua afeição. P OLÓNIO : Afeição! Bah! Falas como uma criança mal preparada para circunstâncias tão perigosas. Acreditas nos seus sinais, como lhe chamas? O FÉLIA : Senhor, não sei o que pensar. P OLÓNIO : Óptimo, eu ensino-te: pensa que és um bebé que aceitou como pagamento sinais que, ainda por cima, eram moeda falsa. O FÉLIA : Senhor, ele tem-me mostrado o seu amor da H AMLET • 2009 • FdC forma mais honesta. P OLÓNIO : Ah, sim! A forma… Bem podes dizê-lo! Continua, continua. O FÉLIA : Senhor, tenho também os seus juramentos. P OLÓNIO : Redes para apanhar galinholas! Eu sei que, quando o sangue arde, a alma não se faz rogada a emprestar juras à lingua. Essas brasas, filha, dão mais luz do que calor e apagam-se logo, ainda mal brilharam –não as tomes por fogo. De agora em diante sê mais avara da tua presença e dá às tuas conversas um preço mais alto. Em resumo, Ofélia, proibo-te que percas um só momento de ócio em conversas com o príncipe Hamlet. Fixa bem o que te disse. O FÉLIA : Obedecer-vos-ei senhor. [ POLÓNIO SAI ] 19 20 H AMLET • 2009 • FdC CENA 8 HAMLET • O FÉLIA O FÉLIA DEVOLVE AS CARTAS DE AMOR DE H AMLET . O FÉLIA : [ CHAMA ] Hamlet! [ EMENDA ] Príncipe Hamlet! H AMLET : Aqui me tendes, formosa Ofélia. O FÉLIA : Senhor, não… H AMLET : Não? O FÉLIA: Senhor, mandaram-me recusar as vossas atenções. H AMLET : Mandaram-vos?! E fazeis tenções de obedecer? O FÉLIA : Senhor, não ouso desobedecer. Não tenho escolha. H AMLET : [ PAUSA ] É tudo quanto tendes para me dizer? O FÉLIA : Não, senhor. Tenho recordações vossas que desejo restituir. H AMLET : Ah, ah! Sois honesta? Beleza e honestidade não andam juntas. Eu não pensava assim, mas o tempo tem-se encarregado de mo provar. Aliás, H AMLET • 2009 • FdC estais enganada: não tendes nada meu. O FÉLIA : Senhor, sabeis muito bem que sim. As vossas cartas… que para mim eram preciosas. H AMLET : Estais a dar-me razão: nada de meu. São fórmulas banais que qualquer homem sabe de cor. Podeis guardá-las. Vai para um convento. Porque havias de ser uma parideira de pecadores? Eu próprio –que sou relativamente honesto-, poderia acusar-me de tais coisas que teria sido melhor a minha mãe não me ter dado à luz: sou muito orgulhoso, vingativo e ambicioso. Somos refinados patifes, todos; não creias em nenhum de nós. Entra para um convento. Se precisares muito de casar, casa com um parvo. Os homens de juízo sabem perfeitamente em que monstros vós os transformais. Para um convento, vai; e depressa também. [ SAI DIANTES ] COM HORÁCIO E COME - 21 22 H AMLET • 2009 • FdC CENA 9 O FÉLIA • P OLÓNIO P OLÓNIO REPARA NA PERTURBAÇÃO DE O FÉLIA . P OLÓNIO : O que foi Ofélia? Que aconteceu? O FÉLIA : Ai, senhor, senhor! P OLÓNIO : O que foi, santo Deus? O FÉLIA : Senhor, o príncipe… P OLÓNIO : Como? Estiveste com ele? O FÉLIA : Em obediência às vossas ordens, senhor. Fui devolver-lhe as cartas que me enviou. P OLÓNIO : [ RETIRANDO AS CARTAS A OFÉLIA ] E então? O FÉLIA : Senhor, o príncipe está muito estranho. P OLÓNIO : Estranho, como? O FÉLIA : Não sei, senhor. Encontrei-o misturado com os comediantes. Depois recusou-se a receber as cartas dizendo que não eram suas e as palavras que me dirigiu foram tão duras que decerto não podiam ser para mim. P OLÓNIO : Terá enlouquecido? H AMLET • 2009 • FdC O FÉLIA : Não sei, senhor. Mas na verdade é isso que eu temo. P OLÓNIO : É o que vamos ver. [O FÉLIA SAI ] 23 24 H AMLET • 2009 • FdC C ENA 10 C OMEDIANTES • HAMLET • POLÓNIO P OLÓNIO TENTA FALAR COM H AMLET , QUE O RIDICULA - RIZA . P OLÓNIO : [ CHAMA ] Meu senhor Hamlet! [ HAMLET ENTRA ACOMPANHADO POR HORÁCIO E COMEDIANTES ] Oh, perdoai! Como estais, meu senhor Hamlet? H AMLET : A náusea quotidiana… [ PARA DIANTES ] OS COME - A este sinal, dizei “náusea.” C OMEDIANTES : Náusea. H AMLET : [ LÊ ] “Pela verborreia preparada, pelo bom humor prescrito… Como se escreve aconchego?” P OLÓNIO : Com cê agá. C OMEDIANTES : Náusea. H AMLET : [ LÊ ] “Pelas mentiras em que acreditam os mentirosos e mais ninguém…” C OMEDIANTES : Náusea. H AMLET : [ LÊ ] “Pelas mentiras em que se acredita…” C OMEDIANTES : Náusea. P OLÓNIO : Por Deus, senhor, bem dito. Com boa dic- H AMLET • 2009 • FdC ção e boa entoação. H AMLET : Não sabia que o teatro vos interessava. P OLÓNIO : Imenso senhor. Eu próprio fui actor quando era estudante. Os actores são crónicas breves e abstractas do tempo. H AMLET : Ah… Temos então entre nós um entendido. E que género preferis? P OLÓNIO : Aprecio todos os géneros: a tragédia, a comédia, o drama histórico, o pastoril, o pastorilcómico, o trágico-histórico, o pastoril-tragi-cómicohistórico… H AMLET : [ LÊ ] “Oh Jefté, juiz de Israel, que tesouro possuías? Apenas uma bela filha que amei e passou bem. Tenho ou não razão, velho Jefté?” P OLÓNIO : Se é a mim que chamais Jefté, meu senhor, é verdade que tenho uma filha que amo e passa bem. H AMLET : Não, não é essa a fala seguinte. P OLÓNIO : Que é então, senhor? H AMLET : Então? Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. E depois, se tendes uma filha, sabeis como é, não a deixeis andar muito ao sol. Pois se até um cão morto ele emprenha de vermes… amigo, tende cuidado. 25 26 H AMLET • 2009 • FdC P OLÓNIO : Que quereis dizer? H AMLET : Palavras, palavras, palavras. P OLÓNIO : Essa é boa, muito boa. H AMLET : Vedes aquela nuvem? Não tem a forma de um camelo? P OLÓNIO : Por Deus, é mesmo um camelo! H AMLET : Não será antes uma doninha? P OLÓNIO : Tem o dorso de uma doninha. H AMLET : Ou será uma baleia? P OLÓNIO : É tal qual uma baleia. H AMLET : Ainda dão comigo em doido. [ SAI COM HORÁ CIO E COMEDIANTES ] H AMLET • 2009 • FdC CENA 11 C LÁUDIO • G ERTRUDES • OFÉLIA • P OLÓNIO P OLÓNIO O FÉLIA INFORMA C LÁUDIO QUE RECEIA QUE SEJA A CAUSA DA PERTURBAÇÃO DE É ENVIADA A H AMLET H AMLET . O FÉLIA PARA CONFIRMAÇÃO . P OLÓNIO : [ CHAMA ] Meu amado soberano! [ CLÁUDIO ENTRA ACOMPANHADO DE GERTRUDES ] Creio ter des- coberto a verdadeira causa do comportamento bizarro do príncipe Hamlet. C LÁUDIO : Fala! P OLÓNIO : Meu senhor, senhora minha, discorrer sobre o que deveria ser a majestade, o que é o dever, porque é que o dia é dia, a noite, noite e o tempo é o tempo, não seria mais do que desperdiçar a noite, o dia e o tempo. Por isso, visto o bom senso ser de poucas palavras, vou ser breve. O vosso nobre filho está doido. Doido, digo eu; pois definir a verdadeira loucura o que é senão doidice? G ERTUDES : Mais factos e menos palavras. P OLÓNIO : Senhora, juro que não estou a rodear o assunto. Ele está doido, essa é que é a verdade e é verdade que é uma pena; e é uma pena que seja verdade. Mas deixemos isto uma vez que não estou com rodeios. Assentemos, pois, em como está doido; resta-nos descobrir a causa desse efeito, ou melhor, a causa desse defeito, pois é um efeito defeituoso o 27 28 H AMLET • 2009 • FdC que resultou da causa. Resta-nos essa, que é, portanto, o que nos resta. Agora atendei e conclui: [ LÊ UMA CARTA ] “A Ofélia, o ídolo da minha alma supina- mente bela” –esta expressão “supinamente” é má e a frase está mal construída… G ERTUDES : Foi Hamlet quem enviou essa carta? P OLÓNIO : Minha boa senhora, tende paciência; eu vou ler tal e qual: “Duvida do brilho das estrelas, duvida do sol, do seu fulgor, duvida até da própria verdade, mas não duvides do meu amor. Ah, querida Ofélia, estes versos sem medida fazemme mal, mas também não têm medida os meus suspiros; amo-te sobre todas as coisas, ah, muito mais, acredita. Vosso para sempre, minha muito querida senhora, Hamlet. Adieu.” G ERTUDES : E como acolheu Ofélia o amor dele? P OLÓNIO : Que ideia faríeis vós de mim, vós e aqui a minha querida majestade, se eu me tivesse apercebido desse amor exaltado a ganhar asas e, mudo e quedo, tivesse feito vista grossa? Que ideia faríeis? Não. Meti-me logo na questão e disse-lhe: “Isto não pode continuar!” E depois dei-lhe ordem de se manter afastada dele, de não consentir recados nem lembranças. E ela obedeceu-me. E, para encurtar a história, ele, ao ver-se rejeitado, caiu na melancholia, depois no tédio, depois na ansiedade, depois na fra- H AMLET • 2009 • FdC queza, depois na futilidade e, depois de tanta queda, caiu na loucura com que agora se debate e que todos deploramos. C LÁUDIO : Achais que é essa a razão? G ERTUDES : Pode ser. Parece ser. P OLÓNIO : Mandai cortar-me a cabeça se for outra a causa. E se vos aprouver, podereis confirmá-lo. Eu deixo a minha filha ir ter com ele, de modo a que nós, vendo sem sermos vistos, possamos julgar livremente e perceber pelo comportamento dele se é ou não um mal de amor o que o faz sofrer assim. C LÁUDIO : Podemos experimentar. P OLÓNIO : Ofélia, vai ter com o príncipe Hamlet. O FÉLIA : Senhor— G ERTUDES : Ofélia, desejo sinceramente que consigas arrancar Hamlet da sua melancolia. Assim, poderiamos esperar que as tuas virtudes o tragam de novo ao bom caminho, para vosso mútuo proveito. O FÉLIA : Senhora, gostaria que assim fosse. [ CLÁU DIO , GERTRUDES E POLÓNIO ESCONDEM - SE ] 29 30 H AMLET • 2009 • FdC CENA 12 HAMLET • O FÉLIA O FÉLIA FALHA A SUA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO A H AMLET . O FÉLIA : [ CHAMA ] Príncipe Hamlet! [ HAMLET ENTRA ] Meu bom senhor, como tem passado Vossa Alteza? H AMLET : Agradeço-vos humildemente; bem, bem, bem. O FÉLIA : Estais muito bem disposto, meu senhor. H AMLET : Quem, eu? O FÉLIA : Sim, meu senhor. H AMLET : Oh, meu Deus. Eu sou o vosso bobo privativo. Vede como eu faria de Ofélia: [ LÊ ] “Estou só com os meus peitos, as minhas coxas, o meu ventre. Dou cabo dos instrumentos do meu cativeiro. Destruo o campo de batalha que foi o meu lar. Rebento as portas para que o vento entre, e o grito do mundo. Despedaço a janela. Com as minhas mãos ensanguentadas rasgo os retratos dos homens a quem devia amor e que de mim se serviram. Pego fogo à minha prisão. Abaixo a felicidade da submissão.” O FÉLIA : Onde quereis chegar? H AMLET : Onde vós quiserdes ir, se não tiverdes ver- H AMLET • 2009 • FdC gonha. O FÉLIA : Isso é maldade, senhor. H AMLET : Em tempos amei-vos. O FÉLIA : De facto, senhor, assim mo fizeste crer. H AMLET : Não devíeis ter acreditado. Não vos amei. O FÉLIA : Ainda mais enganada fui. H AMLET : Onde está o vosso pai? Digo-vos que não haverá mais casamentos. Dos que estão casados viverão todos menos um. Os outros ficarão como estão. Vai para um convento. [ SAI ] 31 32 H AMLET • 2009 • FdC CENA 13 C LÁUDIO • GERTRUDES • L AERTES • OFÉLIA • P OLÓNIO L AERTES PAZ . CHEGA DA C LÁUDIO N ORUEGA COM UMA PROPOSTA DE PEDE - LHE QUE ELE TENTE DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE C LÁUDIO : [ ENTRANDO H AMLET . COM GERTRUDES E POLÓNIO ] O amor? Ele não pende para esse lado! Algo na sua alma gera aquela melancolia e receio que esse algo, ao revelar-se, cause graves danos. [ PARA QUE ENTRA ] LAERTES , Bem vindo, meu bom Laertes. Já de regresso da Noruega? Que novas trazes? L AERTES : O rei da Noruega, quando tomou conhecimento da missiva de Vossa Alteza, chamou imediatamente à corte o príncipe Fortimbrás e fez-lhe a seguinte proposta: se ele utilizasse o seu exército para conquistar, na Polónia, um território dez vezes maior do que aquele que a Dinamarca detém actualmente na Noruega, fariam a troca o que permitiria à Dinamarca estender muito para leste as suas fronteiras e à Noruega a reposição da sua integridade territorial. Fortimbrás acedeu e o rei da Noruega encarregou-me de vir junto de Vossa Alteza para vos pôr ao corrente desta proposta, solicitando a vossa anuência. C LÁUDIO : A proposta parece interessante. Laertes, regozijamo-nos com os frutos da tua diligência. Oportunamente responderemos ao nosso par da Noruega. Infelizmente temos ainda necessidade dos teus serviços. O príncipe Hamlet revela uma melanco- H AMLET • 2009 • FdC lia que nos preocupa. Estarias disposto, meu bom Laertes, a tentar descobrir as causas dela? L AERTES : Nisso, como em tudo o mais, farei o meu dever. C LÁUDIO : Não duvidamos. [ SAI COM GERTRUDES ] P OLÓNIO : Então, Ofélia? Não precisas de nos contar nada. Ouvimos tudo. [ SAI COM OFÉLIA ] 33 34 H AMLET • 2009 • FdC C ENA 14 H AMLET • L AERTES L AERTES TENTA , SEM SUCESSO , DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE H AMLET . L AERTES : [ CHAMA ] Príncipe Hamlet! [ HAMLET ENTRA ] Senhor! H AMLET : Como estás? L AERTES : Não sou propriamente o favorito da sorte. H AMLET : Ninguém o é, fechado numa prisão. L AERTES : Numa prisão? H AMLET : A Dinamarca é uma prisão. L AERTES : Não penso assim, senhor. H AMLET : Então é porque para ti não o é. Para mim é uma prisão. L AERTES : Como pode isso ser, quando tendes a palavra do rei em como sois vós quem ele indicará como seu sucessor? H AMLET : Eu já teria sido indicado por um rei se a morte lhe tivesse dado tempo. E, no entanto, não me elegeram: os conselheiros de Estado não gostam de mim. É o mal dos sapatos de defunto. H AMLET • 2009 • FdC L AERTES : Meu bom senhor, qual é a causa do vosso desvario? H AMLET : Porque te interessa tanto a minha saúde? L AERTES : Oh, senhor, dantes eramos amigos. H AMLET : Então diz-me, como amigo, o que te trouxe aqui. L AERTES : Vim visitar-vos, senhor. Apenas isso. H AMLET : Tão pobre sou que até em gratidão sou pobre. Não te mandaram cá vir? Vieste só porque te apeteceu? É pois uma visita de livre vontade? Vamos, vamos, sê franco comigo. Vamos, vamos, então? Fala. L AERTES : E que devo eu dizer, senhor? H AMLET : Ora, qualquer coisa. Mas que venha a propósito. Mandaram-te ter comigo. L AERTES : Com que fim me teriam mandado, senhor? H AMLET : Isso é o que tu me vais dizer. Conjuro-te, em nome da nossa camaradagem, a que sejas directo e franco: não te mandaram vir falar comigo? L AERTES : Mandaram. H AMLET : E sou eu que te digo porquê. Assim evitarei 35 36 H AMLET • 2009 • FdC que fales e o segredo que deves ao rei e à rainha não sofrerá uma beliscadura. Recentemente —quando, exactamente não sei— perdi todo o prazer, abandonei todos os actos a que me entregava e, na realidade, é tão soturna a minha disposição que a terra, esta moldura divina, me parece um promontório estéril e este firmamento majestoso, uma mera conjugação de vapores, pestilenta e malévola. E não é o homem uma obra de arte? A maior maravilha do mundo? A maior perfeição do universo? E o que é para mim esta quintessência do pó? O homem não me dá prazer. Não, a mulher também não, apesar de esse teu sorriso querer insinuar o contrário. Tocas-me uma música na flauta? L AERTES : Não sei tocar, senhor. H AMLET : Toca, peço-te. L AERTES : Crede que não sei. H AMLET : É tão simples como mentir: metes a flauta na boca, sopras e pronto. L AERTES : Senhor, eu não saberia tirar dela a sombra de uma melodia. Não tenho habilidade nenhuma. H AMLET : Vê que fraca ideia fazias de mim! Julgas que sou mais fácil de tocar do que uma flauta? [ LAERTES SAI . PARA HORÁCIO E COMEDIANTES comer? ( E PÚBLICO )] Vamos H AMLET • 2009 • FdC C ENA 15 C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES • HAMLET • H ORÁCIO • LAERTES • O FÉLIA • POLÓNIO A CORTE INSTALA - SE PARA ASSISTIR A UMA REPRESEN TAÇÃO TEATRAL . P OLÓNIO : Queiram preparar-se para a chegada de suas Serenas Majestades. O rei Cláudio da Dinamarca e a rainha. [ ENTRAM CLÁUDIO , GERTRUDES , POLÓNIO , LAERTES E OFÉLIA , HAMLET E HORÁCIO , QUE SE INSTALAM ] G ERTUDES : Vinde, meu querido Hamlet, vinde sentarvos ao pé de mim. H AMLET : Não posso, minha boa mãe. C LÁUDIO : Então Hamlet, agora dedicas-te ao teatro? H AMLET : Que quereis, senhor? Não arranjei melhor modo de vida. [ PARA OS COMEDIANTES ] Os actores estão prontos? C OMEDIANTE G ERTRUDES : Sim, meu senhor. Aguardam as vossas ordens. P OLÓNIO : Que nova bizarria é esta? G ERTUDES : Pode ser que este contacto com os cómicos o distraia. H AMLET : Senhor, não dissestes que tinhas sido 37 38 H AMLET • 2009 • FdC actor? P OLÓNIO : Exactamente, senhor. Foi só uma vez, mas disseram que ia muito bem. H AMLET : E que papel fizestes? P OLÓNIO : O de Júlio César: morria no Capitólio. Era Brutus que me matava. H AMLET : E bem bruto! Matar um tal bizarro. C LÁUDIO : [ PARA POLÓNIO ] Conheceis a história? Não é ofensiva? H AMLET : Não, não. É toda para sorrir… Nada de ofensivo. C LÁUDIO : Como se chama a peça? H AMLET : “A mui trágica farsa histórico-cómico-pastoril de algo está podre no reino de Acramanid”, também conhecida por “A ratoeira”. Engraçado, não é? Exótico… H AMLET • 2009 • FdC CENA 16 C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES • HAMLET • H ORÁCIO • LAERTES • O FÉLIA • POLÓNIO OS COMEDIANTES FAZEM , COM A PARTICIPAÇÃO DE H AMLET , UMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL . C LÁUDIO SAI DA SALA . [ COMEDIANTE OFÉLIA ENTRA . HAMLET , DA VARANDA , DEIXA CAIR UMA CARTA QUE O COMEDIANTE OFÉLIA LÊ E QUE O FAZ SUSPIRAR ] C OMEDIANTE P OLÓNIO : [ ENTRA COMEDIANTE OFÉLIA ] cia! [ COMEDIANTE E , RISPIDAMENTE , PARA Devolve essa carta à procedên- OFÉLIA OBEDECE ] H AMLET : Oh Jefté, juiz de Israel, que tesouro possuías? C OMEDIANTE P OLÓNIO : Apenas uma bela filha que amei e passou bem. [ ANUNCIA ] Queiram preparar-se para a chegada de suas Serenas Majestades! [ ENTRAM COMEDIANTE TELMAH , TRUDES E COMEDIANTE CLÁUDIO ] COMEDIANTE GER - O Rei Telmah de Acramanid! [ O COMEDIANTE GERTRUDES DÁ A ENTENDER QUE TAMBÉM EXISTE ] E a Rainha! C OMEDIANTE TELMAH: [ SENTANDO - SE ] Estou a sentir chegar uma certa indisposição para o sono! [ ADOR MECE ] C OMEDIANTE GERTRUDES : Tu, depois de comeres… 39 40 H AMLET • 2009 • FdC C OMEDIANTE C LÁUDIO : Vamos todos deixar a nossa Serena Majestade sossegada. [ COMEDIANTE FICA SÓ . TELMAH o COMEDIANTE CLÁUDIO RE - ENTRA E , DEPOIS DE “ VENENO DESPEJAR DE MEIMENDRO ” NO OUVIDO DO ADORMECIDO COMEDIANTE TELMAH , QUE MORRE INCHA DINHO , SAI ] C OMEDIANTE GERTRUDES : [ ENTRA ] Dormindo, minha flor? Ou morto, meu amor? Ó Telmah, de pé! Estás surdo ou qué? Morto, morto é que é! Tão inchado de repente, foi decerto uma serpente. Vem espada e enterra-te no peito no lado canhoto onde a trote bate o coração. Morro sem mais não. Adieu. C OMEDIANTE C LÁUDIO : Há-des tu o quê, mulher? Oh infeliz, pára. Tem juízo. Só se vive uma vez. Que isso te baste. C OMEDIANTE G ERTRUDES : Bem podem falar, bem podem gozar. Se o vosso coração ardesse como o meu arde… C OMEDIANTE CLÁUDIO : Se arde é chama. Chama por ele! C OMEDIANTE GERTRUDES: Ó rei de Acramanid! C OMEDIANTE CLÁUDIO : [ TIRA A COROA AO COMEDIANTE TELMAH , EMPURRA - O PARA DEBAIXO DA MESA E COLOCA A COROA ] Chamaste? C OMEDIANTE G ERTRUDES : Ai agora és tu? [ ESCORRE - H AMLET • 2009 • FdC GAM PARA DEBAIXO DA MESA . OUVEM - SE RESPIRAÇÕES FUNDAS ] C OMEDIANTE TELMAH: [ COMO ESPECTRO ] Ouve-me… Ouve-me… Ouve-me… H AMLET : Quem és tu? C OMEDIANTE T ELMAH: Eu sou o fantasma de quem te gerou. Contou-se que, estando eu a dormir, uma serpente me mordeu. Fica sabendo, nobre jovem, que a serpente que de facto me mordeu usa agora a coroa. [ CLÁUDIO LEVANTA - SE E SAI , NO QUE É SEGUIDO POR GERTRUDES , POLÓNIO , LAERTES E OFÉLIA ] Sim, aprovei- tando-se do meu sono, aproximou-se de mim e verteu-me no ouvido o terrível veneno do meimendro, roubando-me, assim e ao mesmo tempo, a vida e a coroa. H AMLET : Algo está podre no reino de Acramanid. C OMEDIANTE TELMAH : Vinga-me! Vinga-me! Vinga-me! H AMLET : Vingar-te? Por Deus o juro! H ORÁCIO : [ VIRA A BANDEIRA DE ACRAMANID , MARCA ”, NO VERSO ] “ DINA - Algo está podre no reino da Dinamarca. C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor, a Rainha deseja falar-vos imediatamente. [ SAI . COM GERTRUDES ] HAMLET SAI PARA SE ENCONTRAR 41 42 H AMLET • 2009 • FdC CENA 17 GERTRUDES • HAMLET • P OLÓNIO G ERTRUDES CENSURA H AMLET , ESCONDIDO ATRÁS DA CORTINA . QUE MATA H AMLET P OLÓNIO , ACUSA A MÃE DE TER CASADO COM O ASSASSINO DO MARIDO . P OLÓNIO : Ei-lo que chega, senhora. [ ESCONDE - SE ATRÁS DA CORTINA ] G ERTUDES : [ PARA HAMLET QUE ENTRA ] Hamlet, ofen- deste gravemente o teu pai. H AMLET : Mãe, ofendeste gravemente o meu pai. G ERTUDES : Vamos, Hamlet. H AMLET : Não vou não, mãe! G ERTUDES : Estás a responder levianamente. H AMLET : Estais a interpelar-me maldosamente. G ERTUDES : Esqueces-te de quem sou? H AMLET : Não, justos céus, não me esqueço. Sois a rainha, a mulher do irmão do vosso marido e também –quem dera que não o fosseis– minha mãe. G ERTUDES : Então se assim é… [ VAI H AMLET : [ AVANÇA PARA SAIR ] COM O FLORETE EM RISTE ] Vamos, vamos. Não saireis daqui. Não sem que eu vos tenha H AMLET • 2009 • FdC mostrado essas entranhas. G ERTUDES : O que vais fazer? Não serias capaz de me matar!? H AMLET : Um rato! Um rato! [ TRESPASSA A CORTINA COM O FLORETE E MATA POLÓNIO ] G ERTUDES : Ai! H AMLET : Um ducado em como está morto. G ERTUDES : O que fizeste? H AMLET : Não sei. Era o rei? G ERTUDES : Oh que acção precipitada e sangrenta! H AMLET : Acção sangrenta! Quase tão má, querida mãe, como matar um rei e casar com o irmão. G ERTUDES : Como matar um rei?! H AMLET : Sim, senhora, foram essas as minhas palavras. [ AFASTA A CORTINA ] E tu, miserável e desastrado intrometido, adeus! Tomei-te por alguém acima de ti. Era a tua sina. Descobriste que ser demasiado serviçal envolve um certo risco. [ PARA GERTRUDES ] Parai de torcer as mãos. Calma. Deixai-me torcer-vos o coração. G ERTUDES : Que mal fiz eu para ousares falar-me de 43 44 H AMLET • 2009 • FdC modo tão brutal? H AMLET : Ainda vos lembrais do meu pai? Como pudesteis abandonar o cimo da montanha para irdes chapinhar num pântano? Ai, tereis vós olhos? Não podeis chamar a isso amor, pois na vossa idade o sangue já não arde e é humilde e atende à razão. E decerto que alguma deveis ter, pois a própria loucura não erraria tanto. Ainda que vos faltasse um dos cinco sentidos, ou dois, ou mesmo os quatro, não poderíeis ter-vos enganado desse modo. Ó poderes do inferno que assim conseguem agitar as entranhas duma matrona… G ERTUDES : Ó Hamlet, não digas mais nada! H AMLET : Viver no suor rançoso de um leito infecto, num caldo de podridão, para fazer amor em doçuras de mel numa pocilga nojenta! G ERTUDES : Não digas mais nada! Mais não, meu doce Hamlet. H AMLET : Uma caricatura de rei, um ladrãozeco que roubou a coroa da prateleira e a meteu no bolso! Um miserável assassino! G ERTUDES : Ó Hamlet, cortas-me o coração. H AMLET : Então deitai fora a metade que está podre. Vivereis mais pura. Boa noite –mas não na cama do meu tio. Dominai-vos esta noite; isso já vos tornará H AMLET • 2009 • FdC mais fácil a próxima abstinência e essa a seguinte. Uma vez mais, boa noite; e quando sentirdes o desejo de serdes abençoada, pedir-vos-ei a benção. Quanto a este senhor, deveras me arrependo. Responderei pela morte que lhe dei. Portanto, mais uma vez, boa noite. [ TRANSIÇÃO ] Tenho de ser cruel, se quero ser bom. G ERTUDES : [ PARA SI ] Que devo fazer? H AMLET : Nada, evidentemente, do que vos pedi, querida senhora. Deixai-o levar-vos para a cama, darvos palmadinhas na cara e chamar-vos gatinha; e ele arrancar-vos-á gemidos em troca de beijos lascivos e de carícias dos seus dedos malditos. [ GERTRUDES ESBOFETEIA HAMLET ] Mãe, boa noite. Na verdade este conselheiro está agora muito sereno, discreto e grave, quando em vida foi um bisbilhoteiro tagarela e tonto. Vamos, senhor. Boa noite, mãe. [ SAI ] 45 46 H AMLET • 2009 • FdC CENA 18 C LÁUDIO • GERTRUDES G ERTRUDES CONTA A C LÁUDIO A MORTE DE P OLÓNIO . C LÁUDIO : [ ENTRA ] Gertrudes? G ERTUDES : Ai meu senhor! C LÁUDIO : Onde está o teu filho? G ERTUDES : Ele está doido como o vento e o mar quando se enfrentam. Num acesso de loucura, ao ouvir mexer por detrás da cortina, gritou “um rato! um rato!” e, desvairado, matou Polónio que ali se escondia. C LÁUDIO : Para onde foi ele? G ERTUDES : Não sei. C LÁUDIO : Estivesse eu lá e era a mim que isso teria acontecido. [ CHAMA ] Cornélio! [ PARA GERTRUDES ] A sua liberdade é uma ameaça para todos –para ti própria, para mim, para cada um de nós. Irão culpar-nos disto, pois nos cumpria ter vigiado, prendido mesmo, o jovem louco. Mas tão grande era o nosso amor que nos recusámos a ver o que se impunha. G ERTUDES : A sua loucura não encobriu o metal precioso de que é feito: saiu lamentando o seu acto. H AMLET • 2009 • FdC C LÁUDIO : Vamos, Gertrudes! É um perigo deixá-lo em liberdade! Precisamos de todo o poder e habilidade de que dispomos para o desculpar e evitar que o seu crime cause maiores danos. [ GERTRUDES SAI ] 47 48 H AMLET • 2009 • FdC CENA 19 C LÁUDIO • CORNÉLIO • HAMLET C LÁUDIO FORÇA H AMLET ESTÁ O CADÁVER DE A REVELAR O LOCAL ONDE P OLÓNIO E INFORMA - O DE QUE VAI SER ENVIADO PARA I NGLATERRA . C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor… C LÁUDIO : Cornélio, Hamlet no seu delírio matou Polónio e encobriu o cadáver. Ide procurá-lo. C ORNÉLIO : [ CHAMANDO ] Hamlet! Príncipe Hamlet! [ HAMLET ENTRA ] Senhor, que fizesteis do cadáver? H AMLET : Misturei-o com o pó de onde veio. C ORNÉLIO : Senhor, dizei-me onde ele está. H AMLET : Não creio. C ORNÉLIO : Não credes em quê? H AMLET : Em que eu vos diga o meu segredo. Ainda por cima, interrogado por uma esponja, que outra resposta poderia dar o filho de um rei? C ORNÉLIO : Não vos entendo, senhor. H AMLET : Muito me alegro com isso. Palavras subtis não acham guarida em ouvidos tolos. C ORNÉLIO : Senhor, deveis dizer-me onde está o H AMLET • 2009 • FdC corpo. C LÁUDIO : Hamlet, onde está Polónio? H AMLET : Na última ceia— C LÁUDIO : Onde está Polónio? H AMLET : … onde não come, mas onde é comido. Uma assembleia de vermes politicos está a comê-lo. O verme é o único imperador das dietas; engordamos os outros animais para que nos engordem a nós e nós engordamo-nos a nós para os vermes: o rei gordo e o mendigo magro não passam de uma ementa –dois pratos para a mesma mesa. Fim. C LÁUDIO : Pois é… H AMLET : Um homem pode pescar usando como isco o verme que comeu um rei e depois comer o peixe que comeu o verme. C LÁUDIO : Que queres dizer com isso? H AMLET : Apenas demontrar que um rei pode fazer uma viagem pelas tripas de um mendigo. C LÁUDIO : Hamlet, onde está o corpo? H AMLET : O corpo está com o rei, mas o rei não está com o corpo. O rei é uma coisa… 49 50 H AMLET • 2009 • FdC C LÁUDIO : Uma coisa? H AMLET : Que não vale nada. C LÁUDIO : Onde está Polónio? H AMLET : No céu; Mandai alguém lá ver. Se o vosso mensageiro não o encontrar, ide vós procurá-lo pessoalmente ao outro sítio. E se daqui a um mês ainda não o tiverdes encontrado, o vosso nariz há-de dar com ele quando subirdes a escada do átrio. C LÁUDIO : Ide lá ver. [ CORNÉLIO SAI ] H AMLET : Ele não tem pressa. C LÁUDIO : Hamlet, depois desta acção, a tua segurança —que prezamos tanto quanto lamentamos o que fizeste— exige que partas imediatamente. Por isso, prepara-te; o navio está pronto, o vento é favorável, arranjar-te-emos companhia; está tudo preparado para ires para Inglaterra. H AMLET : Para Inglaterra? C LÁUDIO : Sim, Hamlet. H AMLET : Está bem. C LÁUDIO : E está. H AMLET : Embora para Inglaterra. Adeus. Inglaterra, H AMLET • 2009 • FdC aqui vou eu. [ SAI ] C ORNÉLIO : [ ENTRA ] Senhor… C LÁUDIO : Segui-o de perto. Partireis com ele para Inglaterra. Entregai esta carta ao rei Richard. Esta noite mesmo quero-o longe daqui. [ CORNÉLIO SAI ] 51 52 H AMLET • 2009 • FdC C ENA 20 C LÁUDIO • HAMLET • H ORÁCIO H AMLET TOMA CONSCIÊNCIA QUE C LÁUDIO O QUER VER MORTO . C LÁUDIO : Não gosto dele. Nem é seguro para nós deixar que dê largas à sua loucura. A Dinamarca não pode sujeitar-se aos riscos que, de hora a hora, ele engendra. Inglaterra, é a tua vez de me prestares um serviço. Se dás algum valor à minha estima, não podes ignorar o que te peço: a morte imediata de Hamlet. Enquanto isso não acontecer, não terei um momento de alegria. [ TRANSIÇÃO ] Pode ser que tudo ainda acabe em bem. [ SAI ] H AMLET : Não sei porque continuo a dizer “isto tem de ser feito” quando tenho motivo e vontade e força e meios para o fazer. Que, a partir de agora, todos os meus pensamentos sejam sangrentos. H ORÁCIO : [ ENTRA ] Senhor… H AMLET : Horácio, o mundo mergulhou na desordem. H ORÁCIO : Senhor, vamos embora. [ SAEM ] H AMLET • 2009 • FdC CENA 21 GERTRUDES • OFÉLIA O FÉLIA DEMONSTRA EVIDENTES SINAIS DE PERTURBA ÇÃO . O FÉLIA : [ ENTRA ] Onde está a formosa rainha da Dinamarca? [ GERTRUDES ENTRA ] Estes são amores- perfeitos; e isto é rosmaninho, a planta que cura o esquecimento. Peço-te, amor, não esqueças. G ERTUDES : Ai, minha pobre amiga! O FÉLIA : [ CANTA “ TERRA DE MEL ” DE EUGÉNIA MELO E CASTRO E KLEDIR RAMIL ] Dás-me os olhos para ver O que está na minha mão Ela está entre o que eu sei E antes do ainda não Dás-me a boca para saber O que está na minha pele Ela está dentro de mim Sabe a terra de mel Dás-me o corpo para sentir O que está no meu olhar Ele está depois de mim E antes de aí chegar Dou-te os olhos para ver O que ainda não chegou Que aqui perto eu penso em nós Ao lado do que passou 53 54 H AMLET • 2009 • FdC [ ENTRA NA ÁGUA . GERTRUDES SAI ] H AMLET • 2009 • FdC CENA 22 CLÁUDIO • C ORNÉLIO • L AERTES L AERTES EXIGE VINGANÇA PELA MORTE DO PAI . PROPÕE - LHE ARMAREM UMA CILADA A C LÁUDIO H AMLET . L AERTES : [ ENTRA ] Onde está o rei? C LÁUDIO : [ ENTRANDO ] Acalma-te, Laertes. L AERTES : Uma só gota do meu sangue que se acalmasse faria de mim bastardo e chamaria corno ao meu pai. C LÁUDIO : Meu bom Laertes, é justo que queiras vingar a morte do teu querido pai, mas não o é que confundas os amigos com os inimigos. L AERTES : Entregai-me então o assassino. C LÁUDIO : O assassino vai a caminho de Inglaterra onde a tua vingança se cumprirá. C ORNÉLIO : [ ENTRANDO ] Senhor, o príncipe desapareceu C LÁUDIO : Como? C ORNÉLIO : Não sei, senhor. Desapareceu. Nem chegou a entrar no barco… C LÁUDIO : Retirai-vos. 55 56 H AMLET • 2009 • FdC C ORNÉLIO : Às vossas ordens, senhor. [ SAI ] C LÁUDIO : Alguma coisa o fez desconfiar. Nesse caso, mais cedo ou mais tarde voltará para a corte. L AERTES : Ele que venha. Com ele virá a minha vingança. C LÁUDIO : Vamos armar-lhe uma cilada à qual ele não poderá esquivar-se e que levará todos, até a própria mãe, a pensar tratar-se de um acidente. Quando ele regressar, desculpá-lo-emos por nos ter desobedecido e, para selar a reconciliação, organizaremos um duelo amigável… contigo. No calor da refrega, bastará que retires a ponteira do teu florete e lhe faças uma simples arranhadela com a ponta aguçada. L AERTES : E com que fim? C LÁUDIO : [ ESTENDE - LHE UMA PÉROLA ] A arranhadela será fatal se embeberes a ponta do florete em suco de meimendro. L AERTES : Mas todos perceberão que foi envenenado. C LÁUDIO : Não. Este veneno mata sem dar mostras exteriores e assim a sua morte será atribuída a qualquer outra causa. L AERTES : [ RECEBE A PÉROLA ] mais, farei o meu dever. Nisso, como em tudo o H AMLET • 2009 • FdC C LÁUDIO : Não duvidamos. L AERTES : E se eu não conseguir feri-lo? C LÁUDIO : [ MOSTRA pérola… [ SAEM , OUTRA PÉROLA ] Haverá outra CADA UM PARA SEU LADO ] 57 58 H AMLET • 2009 • FdC C ENA 23 C OMEDIANTES • C ORNÉLIO • G ERTRUDES • OFÉLIA O FÉLIA G ERTUDES : [ ENTRA MORRE AFOGADA . E CHAMA ] CORPO AFOGADO DE OFÉLIA ] Ofélia! [ DEPARA COM O Uma desgraça nunca vem só; acarreta sempre outra consigo. [ CHAMA ] Cornélio! [ CORNÉLIO ENTRA ] Vai informar o rei que Ofélia se afogou. [ CORNÉLIO SAI E OS COMEDIANTES ENTRAM , RETIRAM DA ÁGUA O CORPO DE OFÉLIA E FAZEM A PROCISSÃO FÚNEBRE ] C OMEDIANTE OFÉLIO : [ CANTA “ O PASTOR DE BENZA - FRIM ” DE JOSÉ AFONSO ] Ó ventos do monte, ó brisas do mar A história que vou contar Dum pastor Florival, meu irmão De Benzafrim natural, rezava assim: Passava ele os dias no seu labutar E os anos no seu folgar Serras vai, serras vem, seu cantar não tinha fim O pastor cantava assim: Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor Ó bosques perdidos, trajados de negra cor Voa andorinha, voa minha irmã Não te vás embora, vem, volta amanhã. Dizei amigos Dizei só a mim H AMLET • 2009 • FdC Todos só dum lado Quem vos fez assim? Dizei-me mil prados, campinas dizei A história que não contei Serras vai, serras vem, o seu mal não tinha fim O pastor cantava assim: Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor Ó bosques perdidos, trajados de negra cor Voa andorinha, voa minha irmã Não te vás embora, vem, volta amanhã. Dizei amigos Dizei só a mim Todos só dum lado Quem vos fez assim? Sei bem que ele vira num rio a banhar Ao vê-lo vir espreitar Nunca mais apareceu Ao pastor de Benzafrim Sua dor chorava assim: Ó montes erguidos, ó prados do mar em flor Ó bosques perdidos, trajados de negra cor Voa andorinha, voa minha irmã Não te vás embora, vem, volta amanhã. Dizei amigos Dizei só a mim Todos só dum lado Quem vos fez assim? 59 60 H AMLET • 2009 • FdC C ENA 24 C LÁUDIO • COMEDIANTES • CORNÉLIO • GERTRUDES • HAMLET • H ORÁCIO • L AERTES H AMLET E L AERTES CONFRONTAM - SE NO ENTERRO DE O FÉLIA . G ERTUDES : Flores para uma flor. Adeus minha querida. Sempre esperei que viesses a ser a esposa de Hamlet e sonhava enfeitar o teu leito nupcial, doce Ofélia, nunca a tua campa. L AERTES : [ ENTRA COM CLÁUDIO E CORNÉLIO E ATIRA - SE AO CORPO DE OFÉLIA ] Juro-te que comerei o coração do celerado que te levou à loucura. H AMLET : [ ENTRA COM HORÁCIO ] Quem exprime a sua dor com tanta ênfase? Eu sou Hamlet, príncipe da Dinamarca. L AERTES : Vais arder no inferno! H AMLET : Larga-me o pescoço! Tira as mãos! C LÁUDIO : Separai-os! G ERTUDES : Hamlet! Hamlet! H AMLET : Sou suficientemente perigoso para que me temas! C ORNÉLIO : Senhores! H AMLET • 2009 • FdC H ORÁCIO : Então, meu senhor, sossegai. H AMLET : Eu amava Ofélia! O amor de mil irmãos não pode perfazer o meu amor. C LÁUDIO : Oh, ele está doido, Laertes. Fortalece a tua paciência com a nossa conversa. G ERTUDES : Pelo amor de Deus não lhe façam mal. H AMLET : O que estás disposto a fazer por ela? G ERTUDES : Peço-vos, meu bom Horácio, não o deixeis só. C LÁUDIO : Gertrudes, isto não pode continuar. Ele é teu filho, exerce a tua autoridade. Hoje mesmo quero ver sanado este incidente. G ERTUDES : E como, senhor? C LÁUDIO : Mandai dizer a Hamlet que deve reconciliar-se com Laertes. [ SAEM ] 61 62 H AMLET • 2009 • FdC CENA 25 HAMLET • HORÁCIO H AMLET DESCOBRE A CAVEIRA DE BOBO DA Y ORICK , O ANTIGO C ORTE . H AMLET : Sabes de quem era esta caveira? H ORÁCIO : Não, senhor. H AMLET : Esta caveira, Horácio, esta caveira que aqui vês, pertencia a Yorick, o bobo do rei. H ORÁCIO : Era? H AMLET : Era. Pobre Yorick! Lembro-me dele, Horácio. Uma vez despejou-me um jarro de vinho pela cabeça abaixo. Andava comigo às cavalitas vezes sem conta. Que saudade das suas piadas que nos faziam rebentar à gargalhada… H AMLET • 2009 • FdC CENA 26 C ORNÉLIO • H AMLET • H ORÁCIO C ORNÉLIO , ENVIADO POR G ERTRUDES , A FAZER AS PAZES COM H AMLET : [ PARA CONVIDA H AMLET L AERTES . CORNÉLIO , QUE ENTRA ] Sim?… C ORNÉLIO : Meu nobre senhor, se Vossa Senhoria tiver um momento disponível, tenho algo a comunicarvos da parte da rainha. H AMLET : Dizei, senhor. C ORNÉLIO : Sua Majestade pediu-me que vos fizesse sentir o quanto aprecia— H AMLET : Dizei, dizei. C ORNÉLIO : Senhor, parece-me que tereis de reconhecer que, apesar de tudo, Laertes é um autêntico compêndio de fidalguia. H AMLET : Senhor, decerto nunca se poderá dizer que o subestimais. C ORNÉLIO : Senhor, atrevo-me a dizer que não ignorais as qualidades de Laertes. H AMLET : Ah, sim! Até vos posso dizer que ele só encontra igual quando se vê ao espelho. 63 64 H AMLET • 2009 • FdC C ORNÉLIO : Vossa senhoria fala de um modo infalível. Pois, na verdade, Laertes é um fidalgo delicadíssimo, do mais fino trato e presença primorosa. H AMLET : Bom, então Laertes é do mais fino trato, presença primorosa e delicadíssimo. Mas a que propósito estamos a embrulhar tão nobre fidalgo nas nossas palavras? C ORNÉLIO : A rainha, senhor, deseja, senhor, que Vossa Alteza trave um duelo amigável com Laertes. Se estiverdes de acordo, senhor. H AMLET : Se é do agrado de Sua Majestade, será do meu agrado, senhor. C ORNÉLIO : É essa a resposta exacta que devo transmitir à rainha, senhor? H AMLET : É esse o sentido. Acrescentai os floreados que quiserdes. C ORNÉLIO : Recomendo-me a Vossa Senhoria, senhor. [ SAI ] H AMLET • 2009 • FdC CENA 27 HAMLET • H ORÁCIO H AMLET REFLETE SOBRE A MORTE . H AMLET : E aqui jaz Ofélia com quem o rio não quis ficar. Achas que ela resolveu a questão, Horácio? H ORÁCIO : Que questão, senhor? H AMLET : A da existência. A de ser ou não ser. É essa a questão. Será mais nobre suportar os ataques da fortuna adversa, ou contra um mar de problemas pegar numa arma e pôr-lhes fim? Morrer, dormir, mais nada; com o sono pôr cobro ao sofrimento de que a carne é herdeira. Talvez seja essa a resposta: morrer, dormir. Dormir… sonhar! Não. Esta é que é a questão: que sonhos nos trará a morte? É esse temor que nos leva à desgraça de uma vida longa. Quem suportaria o jugo extenuante desta vida se não fosse o pavor do que existe para além da morte, esse país por descobrir de onde nenhum viajante regressa? [ TRANSIÇÃO ] Vamos lá então ao duelo amigável com Laertes. Horácio, não podes imaginar como me pesa o coração. É apenas uma tolice; mas é o género de pressentimento que perturbaria uma mulher. H ORÁCIO : Se há qualquer coisa que desagrada ao vosso espírito, obedecei-lhe, senhor. Eu direi que não estais bem disposto. 65 66 H AMLET • 2009 • FdC H AMLET : Nem pensar em tal; desafio os presságios. A providência vigia até a queda de um pardal. Se for agora, não será mais tarde; se não for agora, virá de qualquer forma. O que conta é estar pronto para o que vier. Se nenhum homem é senhor do que há-de abandonar, que importa que parta cedo? Deixa. 67 H AMLET • 2009 • FdC CENA 28 CLÁUDIO • C ORNÉLIO • GERTRUDES • H AMLET • H ORÁCIO • L AERTES H AMLET FAZ UM DUELO AMIGÁVEL COM L AERTES . G ERTUDES : Meu filho, vamos pôr termo a esta questão. Recebe esta mão que te apresento. [ HAMLET E LAERTES APERTAM AS MÃOS ] C LÁUDIO : Muito bem. Proponho então que celebremos condignamente. E haverá melhor celebração do que ver baterem-se amigavelmente os dois antagonistas de há pouco? O vencedor será o primeiro a ganhar três assaltos. E eu brindarei no final de cada um deles. E vós, Cornélio, estai atento. Começai. C ORNÉLIO : Senhores, aos vossos lugares. [ HAMLET LAERTES PREPARAM - SE ] [ AMBOS ANUEM ] E Estão preparados, senhores? Saudação. H AMLET : En garde, senhor. L AERTES : En garde, meu senhor. [ LUTAM ] H AMLET : Um! L AERTES : Não! H AMLET : Juíz? C ORNÉLIO : Touché, indiscutivelmente touché! 68 H AMLET • 2009 • FdC L AERTES : Bem, continuemos. C LÁUDIO : Esperai, quero brindar. Trazei uma taça. [ HORÁCIO LEVA - LHE UMA TAÇA ] tua. [ DEITA - A NA TAÇA ] Hamlet, esta pérola é Dai-lhe a taça. À tua saúde. H AMLET : Prefiro brindar no final. [ PARA HORÁCIO ] Põe-na aí de parte. [ PARA LAERTES ] Vamos. En garde. L AERTES : En garde. [ LUTAM ] H AMLET : Outro! Que dizeis? C ORNÉLIO : Touché. L AERTES : Tocado, tocado, confesso. G ERTUDES : [ PEGA PÉROLA ] NA TAÇA DE HAMLET , QUE CONTÉM A A rainha brinda pela tua vitória, Hamlet. C LÁUDIO : Gertrudes, não bebas. G ERTUDES : Bebo, senhor. Peço-vos que me perdoeis. C LÁUDIO : [ APARTE ] Tarde demais. G ERTUDES : Vamos, deixa-me limpar-te o rosto. [ LIMPA O ROSTO A HAMLET ] H AMLET : Vamos ao terceiro assalto, Laertes. H AMLET • 2009 • FdC L AERTES : En garde. H AMLET : En garde. [ LUTAM . LAERTES FERE HAMLET NUM BRAÇO ] C ORNÉLIO : O príncipe foi tocado no braço. Toque irregular. Nada em ambos os lados. H AMLET : [ TIRA O FLORETE A LAERTES ] não tem ponteira, Laertes. O teu florete 69 70 H AMLET • 2009 • FdC L AERTES : Deve ter caído, senhor. H AMLET : [ ATIRA O SEU FLORETE A LAERTES ] En garde. [ LUTAM ] C LÁUDIO : Separai-os. Estão enfurecidos. H AMLET : Continuemos. [ HAMLET FERE LAERTES ] C ORNÉLIO : Touché. H AMLET : Ganhei o duelo. L AERTES : Não cantes vitória, Hamlet. Eu vou morrer mas tu vais comigo. [ EM QUEDA ] Bastou um toque, uma leve arranhadela… E não há remédio que te possa salvar. [ MORRE ] C ORNÉLIO : Olhai. A rainha. C LÁUDIO : Desmaiou ao ver-vos sangrar. G ERTUDES : Não, não, a bebida, a bebida! Ó meu querido Hamlet! A bebida… envenenada! [ MORRE ] H AMLET : É aqui que está a tua pérola? [ APONTA TAÇA ] Bebe até ao fim. [ CLÁUDIO O resto é silêncio. [ AO A BEBE E CAI E MORRE ] CAIR , ARRASTA CONSIGO A COR - TINA A QUE SE AGARRA . MORRE . SILÊNCIO . FIM ] cena final de HAMLET: Carlos Carvalheiro (Hamlet), Isabel Passarito e Augusto Portela (Comediantes) • fotografia: António Alves Convento de Cristo, Tomar, 1988 H AMLET • 2009 • FdC DA ENCENAÇÃO Não sei muito bem porquê mas, desde que ando metido neste interesse pelo teatro, sempre achei que o Hamlet era a coisa mais difícil de pôr em cena. E por isso o queria fazer. Como o culminar de um processo de aprendizagem. Esta teimosia de montar o Hamlet não tinha muitos motivos para se concretizar. A bem dizer, faltava tudo. E eis que a conjuntura se organiza de forma a fornecer os meios. Faltariam portanto as unhas. Que, ou se tinham, ou não se tinham. E era preciso começar por algum lado. Começou-se pelas pessoas. E estou a falar em pessoas e não em actores. Se tinham problemas de dicção, com calma tentaríamos que eles fossem remediados. Se tinham pouca habilidade, logo se haveria de ver. Tudo o que se pedia era que fingissem que eram outras pessoas (coisa substancialmente diferente de representarem o personagem como o faria um “actor”). Tudo passava pela forma como se olhava. E por perceber tudo bem. Depois foi a vez de nos embrulharmos no texto. Aquilo era muito chato. Já sei que é arriscado escrever isto mas pronto. Aquilo lido dava aí para umas 4 ou 5 horas. E sempre na esgalha que, se se parasse para beber alguma coisa, nem amanhã. É verdade!… A primeira vez que nos juntámos para ler a peça, ficámos com dores no rabo e uma sensação de por amor de deus! Depois começámos a partir tudo. E afinal basta-nos uma hora e meia para dizer tudo o que queremos e ainda lá enfiámos pelo meio bocados de “A Máquina-Hamlet” de Heiner Müller. Até que chegou a altura da encenação propriamente dita. Avancemos pois com ligeireza que deve ser a única forma de ter acesso aos diversos aspectos do que é sério (foi o Brecht que disse isto). Depois de andar com o Hamlet tanto tempo na cabeça, mergulho no trabalho sem ter nada planeado no papel. Por questão de método de trabalho: Só havia uma opção de base: a da sobriedade. E a da alegoria. E a da ironia. Por isso não haveria elementos decorativos. Nada seria exclusivamente forma. Poder-se-ia fingir por um momento que o era, mas apareceria mais tarde a inevitável função. Por isso o espectáculo se moveria em espaço nú. Onde o silêncio fosse simplesmente silêncio. E o resto simplesmente resto. Chegou finalmente a altura de mostrar esta coisa. Pronto. O Hamlet já cá canta. Carlos Carvalheiro 1987 71 72 H AMLET • 2009 • FdC DA TRADUÇÃO Traduzir qualquer texto de qualquer autor é um risco: avançamos, servindo-nos da traição que uma lingual diferente sempre é, na esperança de atingir a maxima fidelidade na recriação. Porém, quando se traduz um TEXTO de um AUTOR, a consciência do perigo torna o avanço tímido e penoso. Há, então, alguém que diz: “A única forma de fidelidade é deixar que isto seja só um texto. Ou então é uma dupla traição. Convenci-te?” Convenceu-me. Seguiu-se um processo muito pouco pacífico: “as coisas simples”, dizia um, “a métrica”, dizia o outro; “esta imagem”, gritava um, “a dramaturgia”, gritava o outro; “o teatro”, berrava um, “a sonoridade”, berrava o outro. Esta versão é o tratado de paz. Parece-me que, depois de tantas voltas, se limita a ser aquilo a que covencionalmente se chama uma tradução: uma forma de comunicar a quem nos rodeia o que se descobriu e amou num texto de alguém que falava outra língua. Graça Afonso 1987 H AMLET • 2009 • FdC ESTRUTURA DRAMATURGICA VERSÃO 1: O S 2009 COMEDIANTES APRESENTAM UMA REPRESENTAÇÃO DE CRÍTICA À POLÍTICA BELI - CISTA DA D INAMARCA . 2: C LÁUDIO EXPLICA O SEU CASAMENTO COM EXTERNA E TENTA DEMOVER 3: H AMLET H AMLET C LÁUDIO SUSPEITA QUE G ERTRUDES , DEFENDE A SUA POLÍTICA A ACEITAR A NOVA SITUAÇÃO . É O ASSASSINO DO PAI E DECIDE USAR O TEATRO PARA O CONFIRMAR 4: H AMLET CONVERSA COM O ESPECTRO 5: H AMLET CONFIA A UMA RATOEIRA A H ORÁCIO O SEU PLANO DE USAR OS COMEDIANTES PARA ARMAR C LÁUDIO 6: L AERTES , ENVIADO POR C LÁUDIO COMO EMBAIXADOR À N ORUEGA , DESPEDE - SE DA IRMÃ , O FÈLIA , 7: P OLÓNIO , 8: O FÉLIA E ACONSELHA - A A RECUSAR O CORTEJAR DE O PAI DE O FÉLIA , DEVOLVE AS CARTAS DE AMOR DE 9: P OLÓNIO REPARA NA PERTURBAÇÃO DE 10: P OLÓNIO H AMLET PROIBE - A DE RECEBER AS ATENÇÕES DE TENTA FALAR COM H AMLET , H AMLET H AMLET . O FÉLIA . QUE O RIDICULARIZA . 11: P OLÓNIO INFORMA C LÁUDIO QUE RECEIA QUE SEJA O FÉLIA A CAUSA DA PERTURBA ÇÃO DE H AMLET . O FÉLIA 12: O FÉLIA H AMLET É ENVIADA A PARA CONFIRMAÇÃO . FALHA A SUA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO A 13: L AERTES CHEGA DA N ORUEGA H AMLET . COM UMA PROPOSTA DE PAZ . QUE ELE TENTE DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE 14: L AERTES C LÁUDIO PEDE - LHE H AMLET . TENTA , SEM SUCESSO , DESCOBRIR AS CAUSAS DA PERTURBAÇÃO DE H AMLET . 15: A CORTE INSTALA - SE PARA ASSISTIR A UMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL . 16: O S COMEDIANTES FAZEM , COM A PARTICIPAÇÃO DE H AMLET , UMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL . C LÁUDIO 17: G ERTRUDES TINA . H AMLET H AMLET , QUE MATA P OLÓNIO , ESCONDIDO ATRÁS DA COR - ACUSA A MÃE DE TER CASADO COM O ASSASSINO DO MARIDO . 18: G ERTRUDES 19: C ORNÉLIO SAI DA SALA . CENSURA CONTA A C LÁUDIO PRIMEIRO , E A MORTE DE C LÁUDIO P OLÓNIO . DEPOIS , FORÇAM H AMLET P OLÓNIO . C LÁUDIO ONDE ESTE ESCONDEU O CADÁVER DE A REVELAR O LOCAL INFORMA H AMLET QUE VAI SER ENVIADO PARA I NGLATERRA . 20: H AMLET 21: O FÉLIA TOMA CONSCIÊNCIA QUE 22: L AERTES O QUER VER MORTO . EXIGE VINGANÇA PELA MORTE DO PAI . UMA CILADA A 23: O FÉLIA C LÁUDIO DEMONSTRA EVIDENTES SINAIS DE PERTURBAÇÃO . C LÁUDIO PROPÕE - LHE ARMAREM H AMLET . MORRE AFOGADA . 24: H AMLET E 25: H AMLET DESCOBRE A CAVEIRA DE 26: C ORNÉLIO , L AERTES CONFRONTAM - SE NO ENTERRO DE ENVIADO POR Y ORICK , G ERTRUDES , CONVIDA H AMLET L AERTES . 27: H AMLET REFLETE SOBRE A MORTE . 28: H AMLET FAZ UM DUELO AMIGÁVEL COM O FÉLIA . O ANTIGO BOBO DA L AERTES . C ORTE . A FAZER AS PAZES COM 73 74 H AMLET • 2009 • FdC H AMLET a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de “M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller VERSÃO 1987 Carlos Carvalheiro e Graça Afonso Estreada em Olympiads'87, Detroit, USA. Carreira no Convento de Cristo em Tomar até 1988. Apresentado no Festival Internacional de Teatro APTA (Teatro D. Maria II - Lisboa), no Festival de Teatro Citemor (Castelo de Montemor-o-Velho) e em Abrantes (Convento de S. Francisco). PRODUÇÃO Fatias de Cá - Tomar TRADUÇÃO “H AMLET ”: Graça Afonso “M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes ENCENAÇÃO Carlos Carvalheiro CENOGRAFIA José Rodrigues FIGURINOS Alice Aurélio MÚSICA DAS CANÇÕES H AMLET • 2009 • FdC António de Sousa CARTAZ João Nunes PRODUÇÃO NACIONAL Ana de Carvalho PRODUÇÃO INTERNACIONAL António Calvet INTERPRETAÇÃO HAMLET : Carlos Carvalheiro HORÁCIO : António Aparício CLÁUDIO : João Mourão POLÓNIO e CORNÉLIO : António Calvet LAERTES: Henrique Sapatinha GERTRUDES: Alice Aurélio O FÉLIA: Ana Paula Eusébio COMEDIANTE T ELMAHA: Ana de Carvalho C OMEDIANTE HORÁCIA: Graça Afonso C OMEDIANTE L AERTESA: Isabel Passarito C OMEDIANTE POLÓNIA : Ana Themes, depois Né Barros C OMEDIANTE C LÁUDIA: Paula Alexandra, depois Isabel Barros C OMEDIANTE GERTRUDO : Augusto Portela C OMEDIANTE OFÉLIO : Eusébio Paulino 1º andar, da esq para a dir: Eusébio Paulino, António Aparício, João Mourão, palhaço, Alice Aurélio, Paula Alexandra, Augusto Portela rés-do-chão, da esq para a dir: Isabel Passarito, Ana Paula Eusébio, Graça Afonso, António Calvet, Ana de Carvalho, Henrique Sapatinha, Carlos Carvalheiro, Ana Themes Detroit, USA, 1987 75 76 H AMLET • 2009 • FdC H AMLET a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de “M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller VERSÃO 2006 Carlos Carvalheiro estreada no Convento de Cristo em Tomar, Portugal, em Julho de 2006 PRODUÇÃO Fatias de Cá - Tomar TRADUÇÃO “H AMLET ”: Graça Afonso “M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes ENCENAÇÃO Carlos Carvalheiro CARTAZ CONCEPÇÃO : Sebastião Maurício • EXECUÇÃO : MBV Design TRAJE Bruno Guerra (sucedâneo de “A LCACER K IBIR ” e “A T EMPESTADE ”) INTERPRETAÇÃO HAMLET : Bruno Guerra C LÁUDIO : Carlos Carvalheiro POLÓNIO e C ORNÉLIO : Manuel João Valério L AERTES : Filipe Seixas H ORÁCIO : Luis Costa G ERTRUDES : Manuela Teixeira O FÉLIA: Dora Martinho C OMEDIANTE TELMAH : Inês Cúrdia C OMEDIANTE CLÁUDIA : Ana de Carvalho COMEDIANTE POLÓNIA: Isabel Passarito C OMEDIANTE HORÁCIA: Sabrina Martinho COMEDIANTE L AERTESA: Joana Jacob C OMEDIANTE GERTRUDO : Humberto Machado C OMEDIANTE OFÉLIO : Sebastião Maurício DIRECÇÃO DE CENA Gabriela de Azevedo MONTAGEM Joana Jacob H AMLET • 2009 • FdC Ana de Carvalho, Isabel Passarito, Humberto Machado, Sebastião Maurício TÉCNICA Filipe Seixas Carlos Carvalheiro, Catarina Graça, Luis Costa, Manuel João Valério, Menino Jesus, Miguel Cabaço CAMARINS Sabrina Martinho Bruno Guerra, Dora Martinho, Inês Cúrdia OPERAÇÃO TÉCNICA Catarina Graça PROMOÇÃO Fernando Rodrigues ACOLHIMENTO Gabriela de Azevedo Ângelo Pintado, Augusto Cúrdia, Cidalina Carvalheiro, Francisco Graça, Manuel Carvalheiro, Maria José Jacob ACOMODAÇÃO Manuela Teixeira Carla Cotrim, Fernanda Seixas, Filomena Cúrdia, Frederico Martins, Helena Nunes Cabaço, José Manuel Martins, Julieta Graça, Manuel Almeida, Sérgio Costa CATERING Assim se Fazem as Coisas, catering & bastidores PROTOCOLO MC • IPPAR • Convento de Cristo - Tomar 77 78 H AMLET • 2009 • FdC H AMLET a partir de “H AMLET ” de William Shakespeare e de “M ÁQUINA -H AMLET ” de Heiner Müller VERSÃO 2009 Carlos Carvalheiro reposição no Convento de Cristo em Tomar, Portugal, em 2009 PRODUÇÃO Fatias de Cá - Tomar TRADUÇÃO “H AMLET ”: Graça Afonso “M ÁQUINA -H AMLET ”: Anabela Mendes ENCENAÇÃO Carlos Carvalheiro ASSISTENTE DE ENCENAÇÃO Joana Jacob CARTAZ CONCEPÇÃO : Sebastião Maurício • EXECUÇÃO : MBV Design TRAJE Bruno Guerra (sucedâneo de “A LCACER K IBIR ” e “A T EMPESTADE ”) INTERPRETAÇÃO HAMLET : Joana Jacob C LÁUDIO : Carlos Carvalheiro G ERTRUDES : Manuela Teixeira POLÓNIO : Fernando Rodrigues L AERTES: Ricardo Zeferino OFÉLIA: Inês Fouto HORÁCIO : Sandro Gavazzi COMEDIANTE T ELMAH : José Simões C OMEDIANTE CLÁUDIO : Mariusa Correia ou Xana Pamplona C OMEDIANTE POLÓNIO : Humberto Machado C OMEDIANTE GERTRUDES: Isabel Passarito COMEDIANTE O FÉLIA : Sebastião Maurício C ORNÉLIO : Carlos Medeiros ou Marco António MESTRE DE ARMAS João Maia H AMLET • 2009 • FdC MONTAGEM Inês Cúrdia, Paulo Moura ACOLHIMENTO Filipa Zeferino, Gabriela de Azevedo, Maria José Jacob ACOMODAÇÃO Filomena Cúrdia, Francisco Graça, Helena ?, Inês Cúrdia, Nascimento Costa CATERING Fatias de Cá – Mãe, catering & bastidores PROTOCOLO MC • Igespar • Convento de Cristo - Tomar 79 80 H AMLET • 2009 • FdC REPERTÓRIO 1. FATIAS DE CÁ COM NINI FERREIRA • Autores Vários, 1979 2. FATIAS DE CÁ NO ANIVERSÁRIO DA NABANTINA • Autores Vários, 1979 3. O CON(S)CERTO • Karl Valentim, versão Carlos Carvalheiro, 1981 4. GENTE SÉRIA • Autores Vários, 1981 5. HÃN? • a partir dos monólogos “A HUNGARA” de Mario Frati, “EU, ULRIKE, GRITO!” de Dario Fo e Franca Rame e do conto “PASSAM OS SALTIMBANCOS” de Pitigrilli, 1982 6. A FESTA DA MEMÓRIA QUE É CURTA • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro, 1983 7. O FARMACÊUTICO A CAVALO • a partir de conto de Pitigrilli, versão Carlos Carvalheiro, 1983 8. FATIAS DE CÁ BAR É… • Autores Vários, 1984; Autores Vários, 2009; 9. A MENINA INÊS PEREIRA • a partir de Gil Vicente, versão Carlos Carvalheiro, 1984, 1992, 1996 10. POR TRÁS DAQUELA JANELA • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro, 1985 11. A FUGA DE WANG-FÔ • a partir do conto de Marguerite Yourcenar, versão Carlos Carvalheiro, 1987 12. HAMLET • a partir da peça de William Shakespeare e da peça “A MÁQUINAHAMLET” de Heiner Müller, versão Carlos Carvalheiro e Graça Afonso, 1987; versão Carlos Carvalheiro, 2006, 2009 13. HOMLET • a partir da banda desenhada de Gotlib e Alexis, versão Carlos Carvalheiro, 1988 14. QUEREMOS APRENDER TEATRO (SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO • William Shakespeare), 1988 15. CRÓNICA DOS BONS MALANDROS • a partir do romance de Mário Zambujal, versão Carlos Carvalheiro, 1986 16. A SAPATEIRA PRODIGIOSA • Frederico Garcia Lorca, 1990 17. CARMEN • a partir da ópera de Mérimée e Bizet, versão Ana Paula Eusébio, 1990 18. A FERA AMANSADA • William Shakespeare, 1990 19. A COMÉDIA DA MARMITA • a partir da peça de Plauto, versão Carlos Carvalheiro, 1991 20. A FLAUTA MÁGICA • a partir da ópera de Mozart e Shikaneder e do romance “FILHA DA NOITE” de Marion Z. Bradley, versão Carlos Carvalheiro, 1991 21. TIMOR • Autores Vários, versão Carlos Carvalheiro, 1991 22. A MENINA FEIA • a partir da peça de Manuel Frederico Pressler, versão Carlos Carvalheiro, 1992 23. CONFUSÕES • Alan Ayckbourn, 1994 24. A COMISSÃO DE FESTAS • Alan Ayckbourn, 1995 25. AS LIGAÇÕES PERIGOSAS • a partir do romance de Choderlos de Laclos e da peça “QUARTETO” de Heiner Müller e com os contributos da peça “THE DANGEROUS LIAISONS” de Cristopher Hampton e do filme “VALMONT”de Milos Forman com argumento de Jean Carrière, versão Carlos Carvalheiro, 1996 26. TANEGASHIMA • a partir das narrativas “PEREGRINAÇÃO”de Fernão Mendes Pinto e “TEPPO-KI” de Nampo Bunshi, versão Carlos Carvalheiro e Isabel Passarito, 1997; TANEGASHIMA-HOI! • Autores Vários, 1998; TANEGASHIMA • Carlos Carvalheiro, 2004 27. XANANA GUSMÃO - LIBERDADE, LIBERDADE ! • Autores Vários, versão Carlos