PARADIGMAS: visão do mundo e suas influências na empresa

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PARADIGMAS:
visão do mundo e suas influências na empresa
Nicole Faria de Campos*
RESUMO
Este artigo debate o atual paradigma mecanicista predominante nas relações humanas,
apresentando suas falhas e influências dentro das empresas, e analisa também a nova
concepção holística que, por ser mais coerente com as reais necessidades das
organizações atuais, vem sendo adotada por vários setores da sociedade.
A idéia central do artigo é demonstrar esta visão antiparadigmática adotada por
algumas entidades, informando como a mesma constitui elemento base para alcançar a
qualidade e a produtividade, levando sempre em consideração as necessidades sociais
e ambientais.
PALAVRAS CHAVE: Paradigmas. Mudanças. Necessidades. Motivação
INTRODUÇÃO
Algumas concepções, idéias de mundo que nos acompanham, estão tão
incorporadas ao nosso dia-a-dia que muitas vezes nem nos damos conta de que
existem e que são determinantes em nossa forma de perceber o mundo. Essas
referências que continuamente balizam nossas decisões são chamadas de paradigmas,
são “lentes” que condicionam a nossa “visão do mundo”.
Estes paradigmas são, num certo sentido, altamente positivos, pois tratam-se de
um referencial que nos ajuda e apóia. Por outro lado, ao definirem uma forma rígida de
ver e perceber, podem nos causar uma “cegueira”, nos impedindo de enxergar aquilo
que não se ajusta aos pressupostos básicos.
*
Graduanda do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental das Faculdades Integradas Vianna
Junior.
Os paradigmas podem ser divididos em dois: o Mecanicista, apresentado por
Descartes, e que, segundo Capra (2005), é falho ao tentar explicar e ver o mundo e os
elementos que o constituem como máquinas. De acordo com o referido autor, até a
própria natureza, na visão mecanicista, deixou de ser considerada como um organismo
e passou a ser vista como um objeto a ser explorado e dominado pelo homem.
Esta visão mecanicista de Descartes, apoiada por outros físicos como Newton,
acredita que mente e corpo são duas coisas distintas e que tem que ser estudadas
separadamente.
O outro paradigma que começou a surgir no século XX, mais coerente com as
necessidades das organizações, é o Holístico, que possuem uma visão mais ampla e
moderna, sabendo valorizar o todo ao invés das partes, aceitando que as pessoas não
são iguais e exatamente por isso precisam interagir entre si.
O futuro mora exatamente aí, nesta posição antiparadigmática, e muitas
empresas estão se dando conta disso. No modelo mecanicista, por exemplo, a
competição é a mola que move a organização, já no paradigma holístico não, quem
move a organização é a cooperação. Na nova concepção não são mais os melhores
que vencem, mas o grupo, a motivação não vem mais do dinheiro, mas do atendimento
as necessidades do funcionário.
O objetivo da pesquisa é entender que as leis que regem o mundo são muito
mais do que expressões analíticas e reducionistas, as pessoas estão perdendo a
capacidade de dialogar e de se interagir com seu próximo, a natureza está perdendo
sua capacidade de autoreconstituição, isso porque no paradigma mecanicista à parte
do lucro é priorizado a qualquer custo, sem avaliar os impactos que esta ação
acarretará para o todo.
1 EMPRESAS QUE OUSARAM
Várias empresas já estão mudando de paradigma, dando lugar ao novo e
descartando aquelas velhas regras e padrões que não lhes servem mais. O passado
deixa de ser protegido e elas buscam agora o futuro, inovador e promissor. Enquanto a
humanidade tiver de supri suas necessidades as fábricas continuaram a existir, mas
sairá na frente àquelas que se adaptarem as mudanças ocorridas na forma de ser e de
pensar da sociedade.
A fábrica da Natura, uma das maiores produtoras de cosméticos do Brasil,
resolveu adotar esta posição antiparadigmática, a começar pela arquitetura de sua nova
fábrica em Cajamar, São Paulo. Ao invés de adotar o modelo padrão de muros e
cercas, o Novo Espaço Natura, segundo Cláudia Vassallo, colunista da revista Exame,
rompeu com o a velha instalação de “campo de concentração” e construiu toda fachada
da empresa com vidros, onde seus funcionários trabalham em meio a uma paisagem
formada por um pedaço preservado da Mata Atlântica.
Mas não é somente na fachada que a Natura tenta mostrar seus valores de
transparência, qualidade e equilíbrio. Ao abandonar o modelo mecanicista de ver as
pessoas como peças da fábrica, e passar e entender que suas idéias, necessidades e
sentimentos constituem o pacote completo de um empregado, a empresa de
cosméticos transformou a nova instalação em uma minicidade, ali, seus funcionários
podem deixar a roupa para lavar ou ir a biblioteca, e a liderança ali é exercida por uma
prefeita, Marisa Caldas, de 44 anos.
O fato de a Natura ter uma prefeita rompe com os padrões de hierarquia e a
empresa passa a ser mais do que uma empresa: passa ser uma comunidade, onde as
barreiras entre pessoas, tarefas e lugares, são quebradas, ali não existe a idéia de que
se um ganha o outro perde, todos ganham.
Outra empresa que resolveu adotar o novo paradigma holístico é a General
Eletric, fabrica de turbinas em Durham (EUA). Não há mais a padronização dos
horários, o famoso ponto se extinguiu, não há horários fixos, cada um faz o seu, a única
orientação é fazer a melhor turbina possível, com a melhor qualidade e menores custos.
Segundo Paula Sims, diretora da fábrica, o resultado foi uma “combinação feliz de
democracia e controle espontâneo”.
A velha concepção de que o poder do líder que gera o compromisso dos
funcionários deu lugar à credibilidade, sintonia e respeito. Isso aconteceu também na
fábrica de antibióticos injetáveis da Eli Lilly, de acordo com José Loureiro Cardoso,
diretor industrial da empresa, o compromisso não é firmado através de uma ordem, mas
a partir do momento que os 300 funcionários tomam conhecimento de que a saúde de
muitas pessoas depende da qualidade do produto feito por eles. È a necessidade que o
ser humano tem de ser útil, de ser valorizado, o desejo de fazer parte de algo maior
sendo suprido.
A competição pregada pelo modelo mecanicista deu lugar ao cooperativismo e
ao companheirismo. Na fábrica da Audi/Volkswagen instalada em São José dos Pinhais
(Paraná), operários e administradores almoçam juntos numa área que mistura o
ambiente de lazer com o de trabalho, ali o soldador Helton Luiz Mello e o executivo
Thomas Schmall (diretor) dividem o mesmo ambiente nas linhas de montagem.
Aquela idéia de que só o topo da empresa deve conhecer as estratégias e metas
está em decadência e não é mais adotado pelas entidades que queiram obter sucesso.
De acordo com o referido diretor da Audi em São José dos Pinhais: “o sucesso
depende da troca de informações e do uso que as pessoas farão delas”.
Ao entender que hoje as empresas precisam ser vistas como organizações que
têm como missão maior satisfazer as necessidades de sobrevivência, não somente dos
clientes, mas também dos seus funcionários e na própria natureza, a Sprinter Carrier
banca, há algum tempo, toda a formação educacional dos 1.400 funcionários da fábrica
de Canoas, de acordo com o Carlos Alberto Renck, presidente da Carrier para América
latina.
A Carrier percebeu que, a regra para ser um bom motivador é esperar e
incentivar o melhor das pessoas que você lidera. Dessa forma os talentos ocultos são
descobertos e as pessoas passam a se autogerenciar, a se auto-organizar, a figura do
velho gerente controlador vai perdendo lugar à medida que a comunicação deixa de
fluir de cima para baixo, mas flui em todos os sentidos.
O complexo Arara Azul, do General Motors, também rompeu com o antigo
modelo Fordista de mecanização e produção em massa, este complexo se alimenta de
informação e treinamento, que uma vez implantado e atendendo a todos de forma
rotineira, se torna a matéria-prima básica para a qualidade e o sucesso.
Este novo elo de comunicação, típico do paradigma holístico, deve ser levado
aos fornecedores e clientes, Jayme Bombo, diretor da consultoria A.T.Kearney,
entendeu isso ao afirmar que “será preciso haver uma ligação direta entre o chão da
fábrica e o mercado”.
Podemos perceber em todos estes exemplos que o modelo de liderança
autoritário, que tem poder absoluto e determina o destino de cada membro da empresa,
onde o líder não aceita opiniões e permanece sempre a distancia, está dando lugar a
um modelo de liderança democrático, onde o líder procura o máximo de envolvimento e
participação de todos, delegando autoridade, dividindo responsabilidades.
Todas estas empresas, ao considerarem o todo ambiente, estão atingindo
também suas metas de desenvolvimento sustentável, nestas entidades as questões
ambientais são discutidas com os funcionários, e na Carrier, por exemplo, sua fábrica
de aparelhos de ar condicionado utiliza luz natural, ela já entendeu que o meio
ambiente também tem suas necessidades e que supri-las também deve constituir uma
das missões das empresas.
CONCLUSÃO:
As organizações do futuro, sejam elas de qualquer natureza, tamanho ou setor,
para atingirem a missão de satisfazerem as necessidades das próprias empresas, dos
seus funcionários, fornecedores, clientes e da natureza, precisam ter a capacidade de
combinar tecnologia e talentos, gestão e disseminação do conhecimento, flexibilidade,
velocidade e desenvolvimento sustentável.
A distinção mecanicista entre quem faz e quem decide, quem pensa e quem
executa, está em processo de extinção, a ênfase agora está na qualidade e na busca
permanente de integração com o mundo exterior, com todo ambiente. Hoje cada vez
mais setores da sociedade estão se dando conta de que, para que a evolução
aconteça, o empregado precisa evoluir, o produto, o consumidor, o meio ambiente
natural, etc.
No novo paradigma holístico o crescimento não é mais atingido as custas de
terceiros, ao contrário, esta nova visão entende que, se uma das partes caem, o todo
será afetado. Se o empregado está insatisfeito a empresa não progride, se a natureza
está saturada e degrada conseqüentemente as pessoas estão vivendo em péssimas
condições, respirando poluição enquanto trabalham.
As pessoas precisam ser motivadas para aderirem a uma causa, seja ela de
natureza empresarial ou ambiental, de acordo com Perez (IBM) “a motivação nada mais
é do que ter consciência dos motivos que você tem para agir”. Hoje, a motivação tem
sido alcançada através da informação e da credibilidade, o reconhecimento fala mais
alto do que o dinheiro.
Algumas organizações já se deram conta dessas mudanças, porém enquanto o
paradigma mecanicista predominar o futuro tanto social quanto ambiental estarão
comprometidos, mas ainda há tempo do homem perceber que as relações que regem o
mundo vão muito além das explicações matemáticas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente.
São Paulo: Cultrix, 2005. p.49-65.
VASSALO, C. O futuro mora aqui. Exame: São Paulo. Ed.734, p.36-54, 21fev 2001.
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