Dispnéia: Sobre a ICC e a bronquite. Steeven 95 – Panela A A dispnéia é um sintoma muito comum e pode ser definido como um desconforto respiratório, independente da freqüência respiratória. A origem desta dificuldade em respirar pode ser muito diversa, mas focaremos basicamente na diferenciação da dispnéia de origem cardíaca por ICC da dispnéia de origem pulmonar, especificamente a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica, que abrange diversas patologias, dentre elas a bronquite crônica), duas dispnéias de evolução progressiva. Definindo ICC A insuficiência cardíaca é uma síndrome (ou seja: conjunto de sintomas – coisas das quais o paciente se queixa) e sinais (coisas que o médico nota durante o exame do paciente) que ocorre quando o coração não consegue gerar um débito cardíaco suficiente para nutrir as necessidades metabólicas do corpo, ou o faz à custa de um remodelamento. Pode ser traçada uma relação da ICC com o treinamento aeróbico: o individuo sedentário não consegue ter um bom desempenho aeróbico porque, entre outras coisas, seu coração não consegue gerar o débito cardíaco suficiente para a atividade física. No entanto, se essa atividade física é mantida por um longo período, o coração se adapta, se remodela, para a nova situação. Da mesma forma, na ICC o coração se remodela para tentar se adaptar a uma patologia. Até certo ponto, esse remodelamento consegue compensar o defeito original e a pessoa é assintomática. Depois disso, a compensação não é suficiente e há sintomas. Definindo DPOC A DPOC é um estado patológico caracterizado por limitação do fluxo aéreo parcialmente reversível. Ela abrange o enfisema (distúrbio caracterizado pela destruição e dilatação dos alvéolos pulmonares), a bronquite crônica (definida clinicamente por tosse crônica e expectoração purulenta) e algumas doenças das vias respiratórias pequenas. O principal fator de risco para mortalidade comprovado é o tabagismo, havendo uma correlação de dose-resposta (quanta mais fuma, pior o prognóstico). Mas mesmo assim apenas 15% da limitação do fluxo aéreo pode ser explicada somente pela quantidade de maços-ano consumida, o resto se deve a fatores genéticos e ambientais que contribuam para o impacto do fumo. Na anamnese: ICC (Insuficiência Cardíaca Congestiva) – A ICC é uma patologia de anamnese muito rica em sinais e sintomas. É importante diferenciá-la em sistólica ou diastólica, direita ou esquerda. O causa da dispnéia nesta síndrome é o aumento da pressão capilar pulmonar, geralmente devido a algum aumento de pressão no átrio esquerdo, originando-se, portanto, de ICC de coração esquerdo. Esta ICC pode progredir afetando o coração direito em um estágio mais avançado cursando com sinais típicos de retenção venosa, como o estase jugular (veias jugulares ingurgitadas quando paciente está sentado a 45 graus), edema de membros inferiores, hepatomegalia, empachamento (termo técnico para sensação de saciedade após ter comido pouco), mas eles só se manifestarão em um caso já bastante avançado de ICC. Os sinais de ICC de coração esquerdo que você deve investigar são estertores crepitantes (som de velcro abrindo) na ausculta de pulmão, podem ser acompanhados de sibilos expiratórios e macicez à percussão na base dos pulmões. A dispnéia originária de insuficiência cardíaca intensifica-se ao decúbito, pelo aumento da pressão hidrostática no território pulmonar, melhorando na posição sentada ou em pé. Esta intolerância ao decúbito é chamada de ortopnéia, e leva o paciente a usar vários travesseiros para dormir, pois sente alívio deste sintoma em decúbito elevado. Você pode investigar isso quando o paciente se deita para exame abdominal e passa a relatar desconforto. A dispnéia paroxística noturna é a dispnéia que ocorre no meio da noite: o paciente vai dormir bem e, de repente, acorda com falta de ar e precisa se levantar da cama para que melhore. Ela ocorre porque, no sono, há um aumento da ação do sistema parassimpático, que, entre outras coisas, reduz a força de contração do coração, piorando a ICC. Tanto a ortopnéia como a dispnéia paroxística noturna pela ICC se caracterização pela dificuldade em respirar e pela tosse seca. No exame cardíaco pode-se auscultar a terceira ou a quarta bulha entre a diástole e a sístole, mas isso ocorre raramente e vocês ainda não estão preparados para discernilos. Só atentem para o caso de ouvirem uma batida a mais no ciclo cardíaco. Analise também a dispnéia aos esforços graduando sua gravidade: - Grau I – dispnéia a esforços extremos – subir dois lances de escada sem parar. É a dispnéia que qualquer pessoa sem preparo físico experimenta. - Grau II - dispnéia a médios esforços – andar no plano. È importante quantificar, se possível, o numero de metros que a pessoa anda antes de ter a dispnéia. - Grau III – dispnéia a pequenos esforços – dispnéia nas atividades do dia-a-dia, como lavar louça ou tomar banho. - Grau IV – dispnéia a mínimos esforços – dispnéia em repouso, o paciente não consegue falar sem sentir falta de ar. Se isto tudo ainda não foi o suficiente para ajudá-lo no diagnóstico da ICC, utilize os critérios diagnósticos de Framingham: CRITÉRIOS MAIORES Dispnéia paroxística noturna Ortopnéia Elevação da pressão venosa jugular Estertores crepitantes bilaterais Terceira bulha Cardiomegalia na radiografia de tórax Congestão pulmonar na radiografia de tórax Perda de peso > 4,5 Kg após 5 dias de tratamento para insuficiência cardíaca CRITÉRIOS MENORES Edema bilateral de membros inferiores Tosse noturna Dispnéia aos esforços Hepatomegalia Derrame pleural Freqüência cardíaca > 120 bpm DIAGNÓSTICO 2 ou mais critérios maiores 1 critério maior + 2 ou mais menores E lembre-se sempre de investigar as possíveis causas nos antecedentes: Será que a paciente tem HAS, Diabetes, Febre reumática (repetidas infecções de orofaringe não tratadas na infância), Chagas (veio de que estado?).....? DPOC (bronquite crônica) - Os três sintomas mais comuns da DPOC são tosse, produção de escarro e dispnéia aos esforços (descrito como aumento de força para respirar, sensação de peso, falta de ar ou respiração arquejante). Embora o aparecimento de obstrução do fluxo aéreo seja um processo gradativo, muitos pacientes podem se queixar que o início da doença coincidiu com alguma doença aguda ou exacerbação. Nestas horas, cabe a você tirar uma história cuidadosa e perceber-se-á sintomas antes do quadro agudo. As atividades que envolvem grande esforços com braços elevados ao nível ou acima do ombro impedem a utilização de musculatura acessória e são particularmente difíceis para quem tem DPOC. À medida que a doença avança há agravamento da dispnéia aos esforços. O exame físico pode variar desde o absolutamente normal até o caso de pacientes mais graves com fase expiratória longa e sibilância à expiração, sinal do tórax em barril (alargado no diâmetro ântero-posterior), uso de musculatura acessória (particularmente os do pescoço), com tiragem intercostal, diafragmática ou na fúrcula (região se deprime ao esforço inspiratório) e até cianose. Esses pacientes são geralmente um pouco mais emagrecidos. Na DPOC também ocorre a ortopnéia e a dispnéia paroxística noturna, mas esta decorre do acúmulo e impactação de secreção e melhora logo após expectoração. Para a avaliação da gravidade da doença em leve, moderada, grave e muito grave pode-se utilizar o espirômetro que avalia a capacidade de expiração do paciente. É muito importante também avaliar a freqüência e a duração desses períodos de maior dispnéia. Como dito anteriormente um importante fator de risco é o tabagismo e deve ser investigado. Na ausência deste pode-se investigar outras exposições ocupacionais em que há exposição generalizada à poeira.