Aos 40 anos da Faculdade de Filosofia da Bahia

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Jornal A Tarde, sexta-feira, 19/06/1981
Assunto:
AOS 40 ANOS DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA BAHIA
A estrutura, as funções, os objetivos das faculdades de filosofia não foram até hoje
definitivamente fixados no Brasil. Uma série de dificuldades tem determinado essa imprecisão,
umas de natureza teórica, outras de ordem histórica. As primeiras têm a ver com a concepção
desse instituto nas universidades; as últimas com a própria história da universidade brasileira.
Quando esta foi organizada na maioria dos estados, já existiam algumas daquelas faculdades,
criadas e concebidas principalmente como órgãos destinados à formação do professorado
secundário, numa altura em que as escolas normais, ao invés de se consolidarem e firmarem
como núcleos superiores de formação dos corpos docentes e investigadores em educação e
mesmo em filosofia, entravam em lastimável decadência entre nós. Esse é, aliás, um problema
ainda desprezado em nosso meio e a necessitar de ser retomado pelo menos no que se refere
ao preparo do professorado. Poucas faculdades de filosofia foram estabelecidas no Brasil,
segundo o modelo alemão, inglês e norte-americano de escolas de “artes liberais” de nível
realmente superior; tiveram esse caráter a da Universidade de São Paulo, os cursos dessa
natureza na universidade fundada e iniciada no Rio por Anísio Teixeira e uma ou outra. O
maior número obedeceu ao modelo francês, de escolas para o treinamento do magistério
secundário.
A Bahia teve a sorte de que Isaias Alves, o grande educador e homem público, tivesse
conceituado a sua - era bem dele como obra de criação intelectual - a sua Faculdade de
Filosofia com as duas funções, repito, de prover o país de professorado secundário competente
e de organismo dedicado à alta investigação nas ciências sociais e humanas. Essas
atribuições foram preocupação do insigne mestre em todos os pronunciamentos através dos
quais traçou as finalidades e estimulou o corpo docente do estabelecimento que em tão boa
hora instituiu na Bahia. Foi uma combinação que não excluía a ênfase na principal atribuição, a
de inaugurar os estudos avançados de filosofia, de história, de lingüística, de psicologia, de
geografia humana, de sociologia e antropologia e saberes afins como substratos
indispensáveis a todos os outros saberes e técnicas e como campos de exploração científica,
geral e aplicada, sobre a variedade dos fenômenos e problemas humanos. Estes dias
comemoraram-se os primeiros quarenta anos das providências que o fundador adotou, com a
compreensão e ajuda da sociedade baiana, particularmente das classes conservadoras ainda
representadas por Arnold Wildberger; para dar condições de funcionamento à faculdade. A
semana comemorativa, muito bem programada pela direção e professorado do órgão,
encerrou-se com uma conferência do seu atual decano, Jorge Calmon, um dos componentes
da congregação fundadora, em que esses temas foram levantados e analisados diante da crise
institucional da universidade e da decadência alarmante do ensino nos níveis fundamentais.
Essa conferência constituiu-se num levantamento lúcido, e oportuno dos fatores de
desvirtuação da universidade e dos que concorrem para que as faculdades de filosofia se
vejam tolhidas no cumprimento de seus objetivos maiores de investigação, de reflexão, de
exploração das questões que afetam o homem, a sociedade, a nação. Como acentuou na
ocasião o reitor Macêdo Costa, tal documento deve representar em cada um dos seus tópicos,
uma primeira referência para o indispensável debate - pelo professorado, pelos estudantes e
pelos estudiosos outros - da conjuntura pela qual passam a educação e o ensino no Brasil.
Felicito-me de ver, assim, novamente focalizada uma problemática que foi dominante no
espírito de Isaias Alves: entre as valiosas peças do acervo intelectual que deixou, a par de seu
exemplo admirável de coragem e de fortaleza moral e psicológica, estão idéias e proposições
que, por certo, serão consideradas nessa revisão dos fins e do sentido da Faculdade de
Filosofia como foco central da verdadeira universidade. Já está, felizmente, programado um
primeiro seminário, ainda este ano, sobre o desempenho da universidade no referente à
pesquisa e aos cursos de pós-graduação em Ciências Humanas. Será, esta, ocasião muito
propícia para rever o realizado e projetar realisticamente, tendo em conta a precariedade de
recursos disponíveis em termos humanos e didáticos e noutras condições, a ação daqui por
diante, sempre em busca de melhores resultados.
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