SEMINÁRIO A vida e a obra de R.A. Fisher Dr. Millor Fernandes do Rosário Laboratório de Biotecnologia Animal, Departamento de Zootecnia, ESALQ/USP [email protected] Resumo Ronald Ayelmer Fisher nasceu em 17/02/1890, Londres. Era o quarto filho dentre sete do casal George, um famoso leiloeiro de Londres, e Katie Fisher. Também chamado de Ron ou Ronnie, passou a sofrer de hipermetropia já na infância, desenvolvendo grande habilidade no raciocínio através de imagens. Sempre se destacou na escola, terminando seu curso preparatório, em 1903, em primeiro lugar em matemática, latim e ciências, dentre 11 alunos. Em 1904, aos 14 anos, sofreu sua primeira grande perda na vida: a morte da mãe. Neste mesmo ano ingressa no Harrow College, conquistando, em 1906, sua primeira medalha numa competição de matemática. Em 1909, graças a uma bolsa de estudos de 80 libras mensais, ingressou no Caius & Goinville College, Cambridge, para estudar matemática e astronomia, porém já naquela época, demonstrava grande interesse pela biologia, chegando a comentar quando escolhia seus livros de estudo: “já sei matemática; biologia eu quero aprender.”. Graduou-se em 1913 com louvor e distinção. Os anos de 1914 a 1919 foram difíceis para ele, dependendo de auxílio financeiro de alguns amigos próximos, dentre eles Leonardo Darwin, seu incentivador profissional e Geraldine Heath “Gruduna”, a qual apresentou sua irmã Ruthie Eileen, pela qual Fisher apaixonou-se perdidamente, casando-se em 26/04/1917. O casal Fisher teve dois filhos e seis filhas. O ano de 1919 foi o divisor de águas na vida profissional dele, no qual recebeu duas propostas para atuar como estatístico: uma de K Pearson, no Galton Laboratory e outra de EJ Russel, no Rothamsted Experimental Station. Fisher aceitou a segunda, já que em Rothamsted existiam condições ideais para ele desenvolver suas idéias ligadas à eugenia e à experimentação. Em 1933, Fisher assumiu o posto de Galton Professor of Eugencis, na University College of London no lugar de K Pearson, que havia se aposentado. Em 1943, assumiu a cadeira de Arthur Balfour Professor of Genetics, na Cambridge University e em 1959, foi convidado a assumir um posto de pesquisador na Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation, junto à University of Adelaide, na Austrália. A contribuição de Fisher à ciência é muito mais ampla do que se pode supor: Fisher reinventou a disciplina estatística introduzindo idéias e conceitos contidos em seus livros Statistical Methods for Research Workers (1925) e The Design of Experiments (1935) sobre pequenas amostras, delineamentos experimentais (blocos, fatorial), casualização, análise de variância, estudos relacionados às distribuições t, χ2, N, z e F, máxima verossimilhança, teste de significância, análise multivariada, regressões múltiplas, dentre outros. Ele soube como ninguém unir a matemática com a biologia, o que o destaca até hoje no meio científico. Em “The correlation between relatives on the supposition of Mendelian inheritance” (1918), forneceu as bases da genética biométrica, definindo variâncias aditiva, de dominância e epistasia, concluindo que a variação contínua entre caracteres poderia ser o resultado da herança Mendeliana. Em dois livros, The Genetical Theory of Natural Selection (1930) e The Theory of Inbreeding (1949), abordou a teoria evolucionária, análise de ligação, tipos sangüíneos, genética quantitativa e melhoramento genético, expansão da matemática na genética de população em conjunto com S Wright, análise de caracteres complexos em genética epidemiológica, mapeamento de genes em humanos em conjunto com JBS Haldane, teoria das junções, dentre outras. Fisher não se via como estatístico, mas sim como um cientista. Sua devoção à verdade científica fazia dele um apaixonado àquilo que dedicava, chegando a afirmar: “... se um estatístico fosse consultado apenas ao final de um experimento, ele só seria capaz de atestar sua causa mortis.”. Era um inimigo implacável daqueles que o julgavam culpado da propagação de erros. Teve um papel social polêmico e controverso já que defendia arduamente a eugenia e incentivava o consumo de tabaco, afirmando: “...o câncer de pulmão tem apenas origem genética.”. Foi membro de diversas sociedades científicas e agraciado com várias honrarias e prêmios. Ronald Ayelmer Fisher, buscando incessantemente a certeza na presença da incerteza, morreu em 29/07/19762, Adelaide, Austrália. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOX, J.F. R.A. Fisher: The life of a Scientist. John Wiley & Sons, New York, 1978. FISHER, R.A. Statistical methods for research workers. Edinburgh: Oliver & Boyd, 1925. FISHER, R.A. The correlation between relatives on the supposition of Mendelian inheritance. Transactions of the Royal Society of Edinburgh, v.52, p.399-433, 1918. FISHER, R.A. The design of experiments. Edinburgh: Oliver & Boyd, 1935. FISHER, R.A. The genetical theory of natural selection. Oxford: Clarendon Press, 1930. FISHER, R.A. The theory of inbreeding. Edinburgh: Oliver & Boyd, 1949. HOTELLING, H. The impact of R.A. Fisher on statistics. Journal of the American Statistical Association, v.46, p.35-46, 1951. THOMPSON, E.A. R.A. Fisher’s contributions to genetical statistics. Biometrics, v.46, p.905-914, 1990.