ENTRE LIVROS, LEITURAS E LEITORES: A HISTÓRIA DA LEITURA NO SÉCULO XIX DAIANE SILVEIRA ROSSI ([email protected]) / História/UNIFRA, Santa Maria - Rio Grande do Sul NIKELEN ACOSTA WITTER ([email protected]) / História/UNIFRA, Santa Maria - RS Palavras-Chave: HISTÓRIA DA LEITURA, SÉCULO XIX, LIVROS, LEITORES O objetivo deste trabalho é apresentar alguns resultados parciais do Projeto de Iniciação Científica (PROBIC), intitulado “Uma biblioteca no pampa: livros, leitura e leitores no Rio Grande do Sul do século XIX”, orientado pela Prof.ª Dr.ª Nikelen Acosta Witter, do curso de História, do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). O projeto tem como escopo geral analisar, através do estudo de uma biblioteca particular do século XIX, os processos que vão da escolha e aquisição de obras, passando por sua leitura, até a compreensão do papel desempenhado por estes possuidores/leitores de livros em meio a um mundo majoritariamente analfabeto, bem como os usos que estes faziam da cultura escrita. Para atingir esta proposta, conforme o cronograma de trabalho do projeto, primeiramente foi realizada a leitura e o fichamento de obras historiográficas no sentido de compreender o universo histórico-social da pesquisa. Inicialmente, trabalhou-se com o quarto volume da coleção História da Vida Privada (PERROT, 2009), que possibilitou elaborar um conhecimento sobre a estrutura da vida privada no século XIX. Destacaram-se aí, como temas importantes aos objetivos da pesquisa: a conjugalidade, a vida e a educação femininas e o papel da leitura na sociedade dos oitocentos. A partir disto, fez-se um levantamento da evolução das maneiras de ler, que variaram ao longo do século, indo desde a mudança comportamental, até as modificações na rede de distribuição dos livros pela Europa e pelo mundo europeizado. O hábito da leitura em voz alta declina, dando espaço à prática da leitura solitária, fato que é estimulado pelos modelos de educação burguesa. Segundo Alain Corbin, essa nova ação implica um recolhimento, uma forma de abstrairse do ambiente, o que gera um vasto conjunto de atitudes privadas. (CORBIN, 2009, p. 458). Passa, então, a ser permitido ler no salão, no quarto, no trem, no banco, no jardim ou em plena natureza. A leitura torna-se um passatempo elitista que se difunde com o progresso da alfabetização. Cabe ainda ressaltar que, no caso das mulheres, as jovens leitoras eram fiscalizadas pela família, devido aos efeitos que os romances poderiam produzir. Já as mulheres casadas tinham mais liberdade e viam no matrimônio a possibilidade de ampliação do seu horizonte de leituras, pois haveria menos restrições. (CORBIN, 2009). No prosseguimento do cronograma de trabalho, iniciou-se a leitura e fichamento de obras referentes à história da leitura e do livro. Fisher (2006) constrói um panorama sobre os diferentes tipos de leituras que foram elaborados pelas sociedades através do tempo. Para o autor, o processo de amadurecimento da leitura confunde-se com o próprio amadurecimento das civilizações humanas. À medida que a leitura se difunde, em especial no século XIX, diversos fatores passam a contribuir para formar os leitores. Entre eles, pode-se citar as condições econômicas do leitor, sua posição social e seu gosto pessoal. A investigação feita durante o processo de fichamento também permitiu inventariar quais os tipos de livros escritos no período estudado e como estes eram editados e distribuídos. Além de ser analisada qual sua finalidade para os tipos de leitores que os consumiam, num período que se estende desde o século XVI até o século XIX. (FISHER, 2006; ABREU, 1999). Ainda sobre o papel da leitura no século XIX, Fischer (2006) nota que, para a maioria das pessoas, ler era algo pessoal em essência, até íntimo, dotado de profunda fascinação, a qual, em séculos anteriores, havia seduzido apenas os sábios e os religiosos. (p. 265). Por outro lado, é no século XIX que surge a literatura infantil como um mercado comercial novo e independente. Isto, de acordo com Fisher (2006, p. 264), proporcionou que as experiências mais íntimas e inesquecíveis de muitas crianças não fossem somente fruto de determinados acontecimentos, mas também de livros. Isto posto, conclui o autor, a leitura passa a constituir uma parte fundamental daquilo que significava crescer na sociedade ocidental. (FISHER, 2006, p. 264). De outra parte, o surgimento de um mercado mais forte para os livros, bem como de uma sociedade mais urbana faz com que os próprios leitores se tornem os maiores divulgadores da leitura. (FISHER, 2006, p. 265). Trata-se de um projeto em andamento, logo, há muito que se pesquisar a respeito do assunto. Objetiva-se, ao seu fim, a construção de um amplo quadro da história do livro e da leitura no sul do Brasil e, com isso, poder compreender, de forma mais acurada, o papel representado pela biblioteca que está sendo pesquisada, bem como aquele exercido pelos seus possuidores/leitores. REFERÊNCIAS: ABREU, Márcia. (org); Leitura, história e história da leitura; Campinas, SP; Mercado das Letras; 1999. CORBIN, Alain. ; Bastidores; In: PERROT, Michelle (org.); História da Vida Privada. Vol. 4. Da Revolução Francesa à Primeira Guerra; São Paulo; Companhia das Letras; pp. 387-568; 2009. FISCHER, Steven Roger.; História da Leitura; São Paulo; UNESP; 2006.