ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Geriatria & Gerontologia Brazilian Geriatrics & Gerontology Órgão Oficial de publicação científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Editorial Os Editores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 artigos originais Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios: desempenho de idosos saudáveis e com doença de Alzheimer na fase inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Genaina Cristina Alexandre Couto, Mauricéa Tabósa Ferreira Santos, João Carlos Alchieri, Carlos Antonio Gadelha de Araújo Júnior Uso de simbiótico em idosos politraumatizados com obstipação crônica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Silvia Haruka Tsutsumi, Rita de Cássia Bahia Viana, Viviane dos Santos Viana, Rejane Maria Sales Cavalcante Desnutrição associada à depressão em idosos hospitalizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Juliana Monteiro Valença, Kátia Lima Andrade Avaliação nutricional e capacidade funcional de idosos institucionalizados em Botucatu/SP . . . . . . . . . . . . . . . 19 Priscila Lucélia Moreira, Paulo José Fortes Villas Boas A terminalidade da vida e o médico: as implicações bioéticas da relação médico-paciente terminal . . . . . . . . 24 Liliane Cristina da Silva, Adriana Rodrigues dos Anjos Mendonça relato de caso Amnésia global transitória: relato de caso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Francisca Magalhães Scoralick, Wladimir Kummer de Paula RELATO DE EXPERIênCIA Atendimento de pacientes com doença de Alzheimer na clínica odontológica: desafios e diretrizes. . . . . . . . . . 34 Mirtes Helena Mangueira da Silva Dias, Suzana Carielo da Fonseca ARTIGOs de revisÃO Teste ergométrico em idosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Betty Janny Maia Siqueira, Brivaldo Markman Filho, Odwaldo Barbosa e Silva Disposições para um novo envelhecimento: reflexões sobre ser velho na contemporaneidade. . . . . . . . . . . . . . . 46 Paula Fabrícia Brandão Aguiar Mesquita AGENDA DE EVENTOS INSTRUÇÕES AOS AUTORES VOLUME 5 • NÚMERO 1 • jan/fev/mar 2011 ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Geriatrics & Gerontology Brazilian Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology Editorial The editors. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 ORIGINAL ARTICLES Screening Test for Alzheimer’s Disease with Proverbs: performance of healthy elderly with Alzheimer’s disease at an early stage. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Genaina Cristina Alexandre Couto, Mauricéa Tabósa Ferreira Santos, João Carlos Alchieri, Carlos Antonio Gadelha de Araújo Júnior The use of symbiotic in multiple trauma elderly with chronic constipation. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Silvia Haruka Tsutsumi, Rita de Cássia Bahia Viana, Viviane dos Santos Viana, Rejane Maria Sales Cavalcante Malnutrition associated to depression in elderly inpatients. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Juliana Monteiro Valença, Kátia Lima Andrade Nutritional status and functional capacity of institutionalized elderly in Botucatu/SP. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Priscila Lucélia Moreira, Paulo José Fortes Villas Boas The end-of-life and the doctor: the bioethic’s implications of the doctor-terminal patient relationship . . . . . . . . 24 Liliane Cristina da Silva, Adriana Rodrigues dos Anjos Mendonça Case report Transient global amnesia: case report. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Francisca Magalhães Scoralick, Wladimir Kummer de Paula EXPERIENCE REPORT The challenges and guidelines in caring patients with Alzheimer’s disease in clinical dentistry. . . . . . . . . . . . . 34 Mirtes Helena Mangueira da Silva Dias, Suzana Carielo da Fonseca Reviews Exercise test in elderly . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 Betty Janny Maia Siqueira, Brivaldo Markman Filho, Odwaldo Barbosa e Silva Arrangements for a new aging: reflections on being old in modernity . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Paula Fabrícia Brandão Aguiar Mesquita meetings instructions for authors VOLUME 5 • NUMBER 1 • JAN/FEB/MAR 2011 Geriatria & Gerontologia Editor-Chefe João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil Editores Associados Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo, Brasil Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina, Brasil Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil Myrian Spínola Najas – São Paulo, Brasil Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil Editores Executivos João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Karla Cristina Giacomin – Belo Horizonte, Brasil Maria do Carmo Lencastre Lins – Recife, Brasil Mônica Rodrigues Perracini – São Paulo, Brasil Conselho Editorial Nacional Adriana de Melo Gomes Recife, Brasil Belo Horizonte, Brasil João Carlos Barbosa Machado Newton Luiz Terra Adriano Cézar Balthazar da Silveira Gordilho João Marcos Domingues Dias Paulo Rogério Wasserstein Hekman Porto Alegre, Brasil Salvador, Brasil Belo Horizonte, Brasil Ana Amélia Camarano João Toniolo Neto Anita Liberalesso Néri Johannes Doll Carlos Montes Paixão Júnior José Elias Soares Pinheiro Cláudia Burlá Júlio César Moriguti Clineu Mello Almada Kátia Magdala Lima Barreto Edgar Nunes de Moraes Laura Mello Machado Salvador, Brasil Eduardo Ferriolli Leani Souza Máximo Pereira São Paulo, Brasil Eliane Jost Blessmann Ligia Py Florianópolis, Brasil Elisa Franco de Assis Costa Luiz Roberto Ramos Elizabete Viana de Freitas Maira Tonidandel Barbosa Emílio Hideyuki Moriguchi Marcella Guimarães Assis Tirado Emílio Jeckel Neto Maria Fernanda Furtado de Lima e Costa Flávio Chaimowicz Maurício Gomes Pereira Guita Grib Debert Maurício Wajngarten Vânia Beatriz Merlotti Herédia São Paulo, Brasil Porto Alegre, Brasil Ivete Berkenbrock Milton Luiz Gorzoni Wilson Jacob Filho Rio de Janeiro, Brasil São Paulo, Brasil Campinas, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Ribeirão Preto, Brasil Belo Horizonte, Brasil Porto Alegre, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Goiânia, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Porto Alegre, Brasil Belo Horizonte, Brasil Campinas, Brasil Curitiba, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Recife, Brasil Belo Horizonte, Brasil Porto Alegre, Brasil Renato Moraes Fabbri Ribeirão Preto, Brasil São Paulo, Brasil Renato Maia Guimarães Brasília, Brasil Porto Alegre, Brasil Rio de Janeiro, Brasil Porto Alegre, Brasil São Paulo, Brasil Belo Horizonte, Brasil Belo Horizonte, Brasil Belo Horizonte, Brasil Brasília, Brasil São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil Ricardo Komatsu Marília, Brasil Roberto Dischinger Miranda São Paulo, Brasil Rômulo Luiz de Castro Meira Sérgio Márcio Pacheco Paschoal Silvia Maria Azevedo dos Santos Sônia Lima Medeiros São Paulo, Brasil Tereza Loffredo Bilton São Paulo, Brasil Toshio Chiba São Paulo, Brasil Túlia Fernanda Meira Garcia Fortaleza, Brasil Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha Belo Horizonte, Brasil São Paulo, Brasil Conselho Editorial internacional 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Diretoria Nacional da SBGG Presidente Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) 1a Vice-Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 2 Vice-Presidente Eliane Jost Blessmann (SC) a Secretária Geral Márcia Helena Pereira Morgado (RJ) Secretária Adjunto Leonor Campos Mauad (SP) Tesoureira Débora Ávila Carvalho (MG) Diretor Científico Sabri Lakhdari (DF) Diretor de Defesa Profissional Adriano Gordilho (BA) Conselho Consultivo André Junqueira Xavier (SC) Paulo Renato Canineu (SP) Ligia Auxiliadora Oliveira Py (RJ) Membros Natos do Conselho Consultivo Adriano César Gordilho (BA) Antônio Jordão Neto (SP) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG) Laura Mello Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Aulixiadora Cursino Ferrari (SP) Paulo César Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Sônia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Myrian Spínola Najas (SP) Claudia Burlá (RJ) Comissão dos Associados Maria do Carmo Lencastre Lins (PE) Comissão de Educação Continuada Elisa Franco de Assis Costa (GO) Comissão de Ética e Normas Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria – Carlos Paixão Montes Junior (RJ) Gerontologia – Eloisa Adler (RJ) Comissão de Informática Daniel Lima Azevedo (RJ) Comissão de Publicações Editor-chefe – Revista G&G: João Macêdo (CE) Editor-chefe – Boletim Eletrônico: Sabri Lakhdari (DF) Comissão de Título de Especialista Geriatria – Siulmara Cristina Galera (CE) Gerontologia – Tereza Bilton (SP) DIRETORIAS REGIONAIS DA SBGG BAHIA (2008/2010) Presidente: Christiane Machado Diretor Científico: Adriano Gordilho MATO GROSSO DO SUL (2008/2010) Presidente: Eustáquio Marques Ferreira 2a Vice-Presidente: Leiner Maura Vieira de Mello Diretor Científico: José Roberto Pelegrino CEARÁ (2010/2012) Presidente: João Bastos Freire Neto MINAS GERAIS (2009/2011) 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Presidente: Claudia Pacheco C. Vieira Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho 2a Vice-Presidente: Rita de Cássia Guedes Diretora Científica: Ana Cristina N. B. Faria DISTRITO FEDERAL (2010/2012) PARÁ (2007/2010) Presidente: Marcelo de Faveri Presidente: João Sérgio F. do Nascimento 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros 2a Vice-Presidente: Maria Isabel P. de O. Santos Diretora Científica: Luciana Louzada Diretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues ESPÍRITO SANTO (2009/2011) PARAÍBA (2008/2010) Presidente: Regina Ângela V. Mesquita Presidente: João Borges Virgolino a 2 Vice-Presidente: Elaine R. da Mata Baptista a Diretora Científica: Daniela Souza G. Barbieri 2 Vice-Presidente: Benedita Edina Cabral Diretor Científico: João Marcos Moura GOIÁS (2008/2010) Presidente: Graziela C. M. de Moura 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Diretora Científica: Juliana Junqueira PARANÁ (2010/2012) Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão 2a Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. Farias Diretora Científica: Débora Christina de A. Lopes MATO GROSSO (2010/2012) Presidente: Luis Gustavo Castro Marques 2a Vice-Presidente: Leila Auxiliadora Sant’Anna Diretora Científica: Rosangela A. P. Carapeba PERNAMBUCO (2008/2010) Presidente: Alexandre de Mattos Gomes 2a Vice-Presidente: Etiene Fittipaldi Diretora Científica: Adriana de Melo Gomes RIO DE JANEIRO (2010/2012) Presidente: José Elias Soares Pinheiro 2a Vice-Presidente: Maria Angélica Sanches Diretor Científico: Rodrigo Serafim RIO GRANDE DO SUL (2010/2012) Presidente: Marianela Flores de Hekman 2a Vice-Presidente: Jussara Rauth Diretor Científico: João Senger SANTA CATARINA (2008/2010) Presidente: André Junqueira Xavier 2a Vice-Presidente: Jordelina Schier Diretor Científico: Saada Ávila Chidiac SÃO PAULO (2009/2011) Presidente: Omar Jaluul 2a Vice-Presidente: Claudia Marina Fló Diretor Científico: Renato Moraes Alves Fabbri Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia m e r a c i l b u p e u q r Po & geriatria gerontologia É a revista de maior circulação na área de Geriatria e Gerontologia, com distribuição para cerca de 2.000 associados da SBGG Circula nas principais bibliotecas de ciências da saúde do País Segue os padrões internacionais para indexação Caráter interdisciplinar, o que caracteriza o campo de Geriatria e Gerontologia www.sbgg.org.br editorial Geriatria & Gerontologia inicia este volume com uma nova capa. Embora mantendo as cores originais, apresenta-se com letras diferentes e com um melhor contraste visual no nome da revista. Essa mudança insere-se no projeto editorial de aprimoramento constante do periódico, que espera neste ano avançar também em termos da indexação em bases de dados importantes. Quanto ao conteúdo, um artigo por Couto et al. abre a edição destacando a importância do diagnóstico precoce em quadros demenciais, focalizando a aplicação para essa tarefa do Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios. Os distúrbios mentais constituem um dos principais problemas da prática geriátrica e gerontológica, dada a sua alta prevalência em idosos e o impacto que determinam sobre os pacientes e cuidadores. A atenção multidimensional aos portadores de demência constitui um grande desafio. Cite-se o caso da assistência odontológica, fundamental para pacientes com déficit cognitivo, que tendem a apresentar mais problemas orais do que indivíduos saudáveis. Dias e Fonseca discutem aqui as peculiaridades do manejo clínico-odontológico em pacientes portadores de doença de Alzheimer. A depressão mostra-se igualmente relevante na população idosa, determinando ou sendo consequência de problemas clínicos com impacto na morbimortalidade do idoso. Valença e Andrade chamam atenção para a associação entre desnutrição e depressão a partir de estudo conduzido entre idosos hospitalizados. Por sua vez, Moreira e Villas Boas encontraram associação importante entre baixo peso e comprometimento funcional em idosos de instituição de longa permanência. Artigos focalizando uma variedade de temas importantes na prática com idosos estão também nesta edição, incluindo intervenções para redução de condições clínicas comuns, como a obstipação, e a aplicabilidade e segurança no idoso de testes correntes na clínica, aqui abordado o teste ergométrico. A atitude do médico diante da terminalidade da vida e do paciente terminal encontra-se oportunamente discutida no artigo por da Silva e Mendonça. Por último, Mesquita faz reflexões acerca da velhice e do ato de ser idoso na contemporaneidade, com destaque para aspectos da sexualidade. Os Editores ARTIGO ORIGINAL Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios: desempenho de idosos saudáveis e com doença de Alzheimer na fase inicial Screening Test for Alzheimer’s Disease with Proverbs: performance of healthy elderly with Alzheimer’s disease at an early stage Genaina Cristina Alexandre Couto1, Mauricéa Tabósa Ferreira Santos2, João Carlos Alchieri3, Carlos Antonio Gadelha de Araújo Júnior4 RESUMO Introdução: Quadros de demência são cada vez mais prevalentes entre a população. Uma das causas mais frequentes de demência é a doença de Alzheimer (DA). Testes de rastreio têm sido utilizados visando ao diagnóstico precoce da DA, especificamente aqueles relativos às funções executivas e de linguagem, comprometidas na fase inicial. Existem poucos instrumentos padronizados e validados para o nosso meio. Objetivo: Analisar o impacto do tamanho das sentenças na abstração dos provérbios, no Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios (TRDAP), em idosos saudáveis e com DA em fase inicial. Método: Levantamento documental (banco de dados), analisando-se as respostas dos idosos (interpretação abstrata ou concreta dos provérbios), relacionando o tamanho das sentenças (provérbios) da etapa “B” do TRDAP com o diagnóstico da DA e a interferência das variáveis idade e escolaridade. Resultados: Idosos saudáveis apresentaram maior capacidade de abstração do que os com DA. Houve diferença significativa nos provérbios 1 (p = 0,033) e 2 (p = 0,001), correspondendo às menores sentenças, o que não ocorreu com o provérbio 3 (p = 0,090), com sentença maior. Quanto à idade, não se verificou diferença significativa entre os saudáveis e entre os DA, ocorrendo apenas com o provérbio 3; já a escolaridade só diferenciou os saudáveis. Conclusão: Idosos com DA, na fase inicial, apresentam desempenho inferior na compreensão de sentenças ambíguas, interpretação e abstração de provérbios, corroborando a literatura. O tamanho dessas sentenças mostra-se inversamente proporcional ao acerto da interpretação, em idosos com e sem DA. Quanto menor a sentença, melhor a capacidade de abstração. Recebido em 2/11/10 Aceito em 19/3/11 Palavras-chave: Funções executivas, linguagem, abstração, doença de Alzheimer, terapia ocupacional. ABSTRACT Introduction: Dementia are increasingly prevalent in population. The most common causes of dementia is Alzheimer’s disease (AD). Screening tests have been used for the premature diagnosis of Alzheimer disease (AD), specifically in the executive functions and language, which are compromised at an initial stage. However, the necessity standardized means and validated for our middle, to show oneself a pressing subject. Objective: To analyze the impact of the length of sentences in the abstraction of proverbs in the Screening Test for Alzheimer’s Disease with Proverbs (TRDAP), healthy elderly and with Alzheimer’s disease at early stage. Method: Survey document in the database, analyzing the responses of the elderly (abstract or concrete interpretation of proverbs), relating the length of sentences (sayings) of stage B of TRDAP with the diagnosis of Alzheimer’s disease and the interference of age and schooling. Results: Healthy older people showed greater capacity for abstraction than those with AD. There was significant differences, in the sayings 1 (p = 0.033) and 2 (p = 0.001), corresponding to lower sentences, which did not occur with the proverb 3 (p = 0.090), with the biggest sentence. As for age no verified significant di- Endereço para correspondência: Genaina Cristina Alexandre Couto • Rua José Carneiro de Barros Campelo, 38, Padre Roma – 54100-005 – Jaboatão dos Guararapes, PE • Telefone: (81) 9431-2675 • E-mails: [email protected] e [email protected] Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Faculdade Redentor do Rio de Janeiro. 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 3 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 4 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 1 Funções executivas e linguagem em idosos 3 fference among the healthy and only saying 3 in AD patients, however schooling differenced the healthy. Conclusion: Elderly people with Alzheimer’s disease at an initial stage have lower performance in the comprehension of ambiguous sentences, interpretation and abstraction of proverbs, corroborating with the data of the literature. The size of these sentences appears to be inversely proportional to the correctness of interpretation in elderly patients with and without AD. As lesser sentence, the better the capacity for abstraction. Keywords: Executive functions, language, abstraction, Alzheimer’s disease, occupational therapy. INTRODUÇÃO Os quadros de demência são cada vez mais prevalentes entre a população idosa1, sendo a doença de Alzheimer (DA) a causa mais frequente de demência, responsável por mais de 50% dos casos na faixa etária igual ou superior a 65 anos2. Caracterizam-se por distúrbios nas funções intelectuais, com dificuldades de memória, linguagem, funções executivas, funções visuoespaciais e controle emocional3. Nas demências, as alterações nas funções executivas estão presentes de forma precoce e quantitativamente mais intensa, servindo como um dos marcadores no diagnóstico diferencial entre demências e o envelhecimento normal, tornando relevante a sua investigação4. Funções executivas são processos cognitivos que orientam e regulam todas as funções cognitivas5, entre os quais estão incluídas a formação de estratégias, a antecipação, a escolha e a aplicação de um planejamento de ações adequadas a determinadas metas6. Com o envelhecimento, as funções executivas tendem a declinar. Dessa maneira, as primeiras habilidades em que os idosos podem apresentar prejuízo são planejamento, flexibilidade mental, tomada de decisão e organização4-7. de mais de 60 anos, por no mínimo um ano de escolaridade. O instrumento, constituído por seis pares de peças do Jogo de Memória de Provérbios13, está dividido em três etapas: “A” (avalia memória de curto prazo), “B” (avalia funções executivas e linguagem) e “C” (avalia memória episódica). Os achados da etapa “B”12,13, que avalia a capacidade de abstração dos provérbios, serão apresentados e analisados neste estudo. Os estudos até então publicados sobre o TRDAP apresentaram correlações, com significância estatística, da etapa “B” do TRDAP com testes padronizados que avaliam funções executivas, como o Teste do Desenho do Relógio (TDR; r = 0,50) e o teste de linguagem e funções executivas, a Fluência Verbal semântica (FV; r = 0,56), em uma amostra de 60 idosos (46 controles e 14 DA)13. Verificou-se interferência da idade em todos os testes e da escolaridade, especificamente, em funções executivas e linguagem do TRDAP (etapa “B”). O desempenho médio em funções executivas e linguagem só apresentou tendência à significância na distinção dos grupos com e sem DA (p = 0,073). A escolaridade interferiu de forma marcante (r = 0,46) nessa etapa, o que não ocorreu com a idade13. Testes de rastreio têm sido utilizados visando ao diagnóstico precoce da DA, especialmente aqueles relativos às funções executivas e à linguagem, áreas que estão comprometidas inicialmente10. Segundo Santos et al.11, com a continuidade do estudo e o aumento da amostra para 91 idosos (62 controles e 29 DA), as correlações permaneceram significativas com TDR, FV e com os demais testes utilizados na tese. Quanto à escolaridade, foi observada interferência na etapa “B” do TRDAP, quando se analisaram grupos distintos (com e sem DA). Enquanto a idade diferenciou o desempenho de idosos saudáveis, o oposto ocorreu entre os idosos com DA, que apresentaram melhor abstração dos provérbios (etapa “B”) quando mais velhos, levando a questionamentos sobre o maior impacto da DA na linguagem de indivíduos mais jovens12. O Teste de Rastreio da Doença de Alzheimer com Provérbios (TRDAP) foi elaborado para idosos, por Santos et al.11,12, na cidade de Recife, e atualmente se encontra em processo de validação, fruto da tese de doutoramento, defendida em setembro de 2009. Foi administrado em uma amostra de 91 indiví­duos, O presente estudo tem como finalidade analisar as respostas dos idosos na tarefa de abstração (interpretação abstrata dos provérbios) da etapa “B” do TRDAP. Será observada a interferência da variável tamanho das sentenças (provérbios) no tipo de interpretação (concreta ou abstrata) e os fatores idade e escolaridade. A linguagem é uma função mental constituída por um sistema complexo e dinâmico, que permite a comunicação humana, por meio de uma sequência altamente estruturada de sons, gestos e sinais8. O desempenho da linguagem é afetado desde a fase inicial da DA. E a compreensão de leitura textual é uma das primeiras tarefas de linguagem que se encontra prejudicada9. 4 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):2-7 MÉTODOS (provérbios). Posteriormente, foram analisadas as interferências da idade (60-69 e ≥ 70) e da escolaridade (1-7 anos e ≥ 8 anos) na abstração de cada provérbio. A coleta no banco de dados ocorreu no período de julho a setembro de 2009, com frequência de duas vezes por semana, perfazendo 14 semanas. Todas as observações foram transcritas em um diário de campo e, logo após, analisadas qualitativamente em quadros, caracterizando as informações relatadas. Este projeto foi anexado a um projeto anterior que recebeu a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da UFPE, sob o número 072/07. Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo, descritivo com variáveis quantitativas e qualitativas, de uma das etapas do TRDAP. Foram analisados os protocolos de um banco de dados, com 91 idosos, de 60 anos e mais e com escolaridade mínima de um ano, de ambos os sexos, provenientes de serviços de referência e da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) da UFPE, do Programa de Atenção ao Idoso do Hospital Geral de Areias e atendidos em consultórios particulares. Todos os participantes foram avaliados por especialistas médicos, que os dividiram em dois grupos: idosos com DA em fase inicial e idosos saudáveis. Os dados foram analisados de forma descritiva, com auxílio do pacote estatístico SPSS 15.0, utilizando o teste qui-quadrado com valor de a = 0,05. Coletaram-se as informações contidas nos protocolos, sobre funções executivas e linguagem do TRDAP, dos idosos que participaram do processo de validação do instrumento e possuíam ou não DA em fase inicial, triados pelo médico neurologista. Os critérios de inclusão foram: possuir Clinical Dementia Rating (CDR1) (fase leve da DA) ou 0 (idoso saudável), obedecendo aos critérios do Manual Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-IV), com escolaridade mínima de um ano, além de não apresentar comprometimento visual e auditivo ou patologias que com­prometessem o desempenho nos testes e com­ preensão das instruções. E os critérios de exclusão foram: possuir quadro de depressão moderada (Escala de Depressão Geriátrica > 10), os idosos não aceitarem dar continuidade ou informações incompletas no banco de dados (protocolos), juntamente com as informações das demais etapas do TRDAP (etapas “A” e “C”). RESULTADOS Observando-se o tamanho (quantidade de palavras) das sentenças de provérbios, no TRDAP, verificou-se que no provérbio 1 havia cinco palavras, no 2, seis palavras e no 3, dez palavras. O grupo de idosos sem DA teve maior capacidade de abstração, obtendo melhor escore do que o grupo com DA, observando-se o percentual de acertos quanto aos três provérbios. Contudo, a diferença, estatisticamente significativa, ocorreu com os provérbios 1 (p = 0,033) e 2 (p = 0,001), pois o provérbio 3 não distinguiu os grupos (p = 0,090), sendo relatado como o mais difícil de resolução por ambos os grupos, com e sem DA (Tabela 1). Constatou-se que o tamanho da sentença foi inversamente proporcional ao número de acertos da interpretação: quanto menor a sentença, melhor à abstração. Esse fato ocorreu tanto em relação a idosos com DA quanto aos sem DA (o percentual diminuiu à proporção que aumentou o tamanho dos provérbios – sentença). Inicialmente, no levantamento documental, analisou-se o desempenho dos idosos com DA e dos saudáveis, em funções executivas e linguagem (etapa “B” do TRDAP), relacionando-o ao tamanho das sentenças Tabela 1. Interpretação abstrata dos provérbios comparada ao tamanho das sentenças em idosos com e sem doença de Alzheimer Provérbio 1 (cinco palavras) Provérbio 2 (seis palavras) Provérbio 3 (dez palavras) DA Controle DA Controle DA Controle Conseguiram abstrair 46,4% 69,8% 28,6% 65,1% 21,4% 39,7% Não conseguiram abstrair 53,6% 30,2% 71,4% 34,9% 78,6% 60,3% Teste quiquadrado (p-valor) 0,033* 0,001* 0,090 Provérbio 1: Quem semeia vento colhe tempestade. Provérbio 2: Cão que muito ladra não morde. 3: Em terra de cego quem tem um olho é rei. *Houve associação significativa ao nível de 0,05. 5 Funções executivas e linguagem em idosos Com relação ao nível de escolaridade (1-7 anos e ≥ 8 anos) e à capacidade de abstração dos provérbios entre os idosos com DA, não houve diferença significativa no desempenho quanto ao tamanho das sentenças. Quanto maior o provérbio, pior foi o desempenho, independentemente do nível de escolaridade, no entanto o provérbio com menor sentença foi mais bem abstraí­ do pelos idosos com menor escolaridade (Tabela 2), o que nos remete a novas conjecturas e sequência dos estudos. Pode-se inferir sobre da inexistência de associação significativa entre o grau de abstração dos provérbios e o nível de escolaridade na presença da DA. Já entre os idosos sem DA, verificou-se interferência significativa da escolaridade na abstração dos provérbios (Tabela 3). O provérbio 3 foi o que melhor diferenciou os grupos por escolaridade, em idosos sem DA, demonstrando que, provavelmente, o tamanho da sentença interfere no desempenho. Com relação à faixa etária, foi utilizada (< 80 e ≥ 80 anos) nos idosos com DA, porque não havia, na amostra, idade inferior a 65 anos, inviabilizando a comparação. Identificou-se que quanto maior a idade, menor foi a capacidade de abstração dos provérbios, mas apenas o provérbio 3 foi significativo (Tabela 4). Tabela 2. Interferência do nível de escolaridade na interpretação abstrata dos provérbios comparada ao tamanho das sentenças em idosos com doença de Alzheimer Provérbio 1 (cinco palavras) Provérbio 2 (seis palavras) Provérbio 3 (dez palavras) 1-7 ≥8 1-7 ≥8 1-7 ≥8 Conseguiram abstrair 60,0% 30,8% 33,3% 23,1% 26,7% 15,4% Não conseguiram abstrair 40,0% 69,2% 66,7% 76,9% 73,3% 84,6% Teste qui-quadrado (p-valor) 0,122 0,549 0,468 Provérbio 1: Quem semeia vento colhe tempestade. Provérbio 2: Cão que muito ladra não morde. 3: Em terra de cego quem tem um olho é rei. Tabela 3. Interferência do nível de escolaridade na interpretação abstrata dos provérbios comparada ao tamanho das sentenças, em idosos sem doença de Alzheimer Provérbio 1 (cinco palavras) Conseguiram abstrair Não conseguiram abstrair Provérbio 2 (seis palavras) Provérbio 3 (dez palavras) 1-7 ≥8 1-7 ≥8 1-7 ≥8 48,1% 86,1% 48,1% 77,8% 14,8% 58,3% 51,9% 13,9% 51,9% 22,2% 85,2% 41,7% Teste qui-quadrado (p-valor) 0,001* 0,015* 0,000* Provérbio 1: Quem semeia vento colhe tempestade. Provérbio 2: Cão que muito ladra não morde. 3: Em terra de cego quem tem um olho é rei. * Houve associação significativa ao nível de 0,05. Tabela 4. Interferência da faixa etária na interpretação abstrata dos provérbios comparada ao tamanho das sentenças, em idosos com doença de Alzheimer Provérbio 1 (cinco palavras) Provérbio 2 (seis palavras) Provérbio 3 (dez palavras) < 80 ≥ 80 < 80 ≥ 80 < 80 ≥ 80 Conseguiram abstrair 47,1% 45,5% 41,2% 9,1% 35,3% 0,0% Não conseguiram abstrair 52,9% 54,5% 58,8% 90,1% 64,7% 100,0% Teste qui-quadrado (p-valor) 0,934 0,099 0,055 Provérbio 1: Quem semeia vento colhe tempestade. Provérbio 2: Cão que muito ladra não morde. 3: Em terra de cego quem tem um olho é rei. 6 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):2-7 Não foi identificada, entre os idosos sem DA, na faixa etária (60-69 e ≥ 70 anos), associação estatisticamente significativa entre idade e abstração dos provérbios (Tabela 5). do WAIS-R e observou que quanto maior a idade, melhor o desempenho dos indivíduos. Já analisando os idosos com DA, a idade interferiu no desempenho, contudo só foi significativa com o provérbio 3 (Tabela 4). DISCUSSÃO Em relação ao tamanho de sentenças, pode-se afirmar que foi inversamente proporcional ao acerto da interpretação, tanto entre os idosos com DA como os sem DA. Quanto menor a sentença, melhor foi a capacidade de abstração. Os resultados estão de acordo com a literatura, que evidencia dificuldades em indivíduos com DA quanto à compreensão de sentenças complexas, como as não canônicas, com voz passiva e sentenças extensas, especialmente as últimas19. Isso também foi evidenciado nos três provérbios utilizados no TRDAP, mas a distinção significativa dos grupos ocorreu apenas com os provérbios 1 (p = 0,033) e 2 (p = 0,01), já o de maior sentença (provérbio 3) não distinguiu os grupos (p = 0,090), necessitando maiores estudos. Os resultados encontrados na interpretação de provérbios do TRDAP corroboram a literatura internacional quanto à importância de avaliar a linguagem e funções executivas utilizando sentenças ambíguas como os provérbios, demonstrando que idosos sem DA conseguem abstrair melhor do que idosos com DA14. Entende-se que, para ocorrer a interpretação abstrata, faz-se necessária a compreensão dos provérbios15, observado neste estudo com a etapa “B” do TRDAP, mostrando que a maior dificuldade de compreensão ocorreu entre os idosos com DA (Tabela 1). A literatura demonstra que, para que haja compreen­ são do provérbio, é preciso desprender-se do significado direto e realizar uma análise metafórica15,16. Segundo Siviero17, “quando pedimos ao sujeito que nos diga o que o provérbio significa, não pedimos apenas a compreensão, mas que ele tenha se abstraído da compreensão concreta e nos conte a moral, metaforizando o conteúdo concreto”, o que coincide com o comando empregado na etapa “B” do TRDAP, ao ser solicitado que interprete os três provérbios. Os achados deste estudo sobre a interferência da idade na etapa “B” do TRDAP, com idosos saudáveis (Tabela 5), discordam dos resultados de Siviero17, que estudou o desempenho de indivíduos no teste de provérbios adaptado para a realidade brasileira. Ele identificou que quanto maior a idade, menor a capacidade do idoso na abstração dos provérbios. No entanto, concordou com o estudo de Penn et al.18, que comparou o teste de provérbios de Gorham com um teste Tais resultados são concordantes com outro estudo sobre metalinguagem, com a demonstração de que indivíduos com DA apresentaram desempenho inferior na compreensão de sentenças ambíguas, interpretação e abstração de provérbios, quando comparados com idosos saudáveis20. Pode-se afirmar que houve diferença significativa no desempenho dos idosos com e sem DA nas funções executivas e linguagem. Considerando-se a escolaridade, o tamanho da sentença não interferiu na presença da DA, no entanto foi bastante significativa para os idosos saudáveis. Quanto à variável idade, há necessidade de estudos com maior amostra de idosos (com DA) abaixo de 65 anos, o que não foi possível neste estudo, e a análise da complexidade do provérbio 3, pois foi menor o desempenho dos idosos com DA. Além dos estudos citados11 não levarem em consideração o tamanho da Tabela 5. Interferência da faixa etária na interpretação abstrata dos provérbios comparada ao tamanho das sentenças, em idosos sem doença de Alzheimer Provérbio 1 (cinco palavras) 60-69 ≥ 70 Provérbio 2 (seis palavras) 60-69 ≥ 70 Provérbio 3 (dez palavras) 60-69 ≥ 70 Conseguiram abstrair 67,6% 72,4% 70,6% 58,6% 44,1% 34,5% Não conseguiram abstrair 32,4% 27,6% 29,4% 41,4% 55,9% 65,5% Teste qui-quadrado (p-valor) 0,681 0,321 0,436 Provérbio 1: Quem semeia vento colhe tempestade. Provérbio 2: Cão que muito ladra não morde. 3: Em terra de cego quem tem um olho é rei. Funções executivas e linguagem em idosos sentença, os resultados mostram melhor desempenho da abstração em idosos (com DA) do que os mais velhos, quando comparados aos idosos mais jovens. Analisando-se os idosos saudáveis, a idade não interferiu na abstração dos três provérbios, concordando com estudos anteriores quanto aos idosos mais velhos poderem conhecer mais os provérbios (fator cultural). Os dados desse estudo apontam para a necessidade do pareamento da amostra nos dois fatores: idade e escolaridade, e investigação da cointerferência das variáveis na etapa “B” do TRDAP. É importante ressaltar que foi pertinente a utilização das tarefas metalinguísticas, destacando-se a compreensão de sentenças e interpretação dos provérbios populares, obtendo-se, assim, maior compreensão das alterações apresentadas, corroborando a literatura21. A utilização dessas tarefas parece uma opção válida na avaliação clínica de idosos, quanto ao rastreio de DA, para investigar déficits de linguagem e de funções executivas, principalmente se tomadas às limitações da escolaridade e idade. Novos estudos são necessários para maior aprofundamento dos resultados aqui encontrados. AGRADECIMENTOS À discente do curso de Terapia Ocupacional da Unicap, Mariana Cavalcanti Amanda Galvão (tradução do resumo para língua inglesa), e à professora Ana Dark (correção ortográfica), pelo suporte na redação deste artigo. REFERÊNCIAS 1. Scazufca M, Cerqueira ATAR, Menezes PR, Prince M, Vallada HP, Miyazaki MCOS, et al. Investigações epidemiológicas sobre demência nos países em desenvolvimento. Rev Saúde Pública [periódico na Internet]. 2002 [acesso em 20 out 2009];36(6). Disponível em: <http://www.scielo.br/rsp>. 2. Caramelli P, Barbosa MT. Como diagnosticar as quatro causas mais frequentes de demência? Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(Supl. 1). 3. Brandão L, Wagner PG, Goulart CTM. Disfunções cognitivas na demência do tipo Alzheimer (DTA). In: Parente MAMP, organizador. Cognição e envelhecimento. Porto Alegre: Artmed; 2006; p. 249-51. 4. Banhato CFE, Nascimento E. Funções executivas em idosos: um estudo utilizando subtestes da escala WAIS- III. Rev Psico-USF. 2007;12(1):2007. 5. Grieve J. Funções executivas. In: Grieve J. Neuropsicologia em terapia ocupacional: exame da percepção e cognição. São Paulo: Editora Santos; 2006, p. 80-5. 7 6. Ortiz KZ, Mendonça LIZ, Foz A, Santos CB, Fuentes D, Azambuja DA, organizadores. Avaliação neuropsicológica: panorama interdisciplinar dos estudos na normatização de instrumentos no Brasil. São Paulo: Vetor Editora; 2008. 7. Kristensen CH. Funções executivas e envelhecimento. In: Parente MAMP, organizador. Cognição e envelhecimento. Porto Alegre: Artmed; 2006, p. 97-111. 8. Alvarez A. Os processamentos sensoriais da linguagem. In: Jornada de Reabilitação Cognitiva; Brasil. São Paulo: Lemos Editorial; 1998, p. 18-23. 9. Rinaldi J, Silveira M, Kochhann R, Parente MAMP. A compreensão de leitura textual como um instrumento de diagnóstico de pacientes com demência de Alzheimer leve e moderada. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento. 2008;13(1):117-32. 10. Alchieri JC. 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Dementia Neuropsychol. 2008;2(4):333-8. 15. Campanha AC, Lira JO, Ortiz KZ, Bertollucci PF, Minett T. Uso de tarefas metalinguísticas para avaliação de linguagem e cognição em portadores de doença de Alzheimer e idosos saudáveis. Em: Anais do XVI Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia; Campos de Jordão, São Paulo. Setembro, 2008: 962. Acesso em 10 de maio de 2010]. Disponível em:<http://www.sbfa.org.br/portal/ anais2008/resumos/R0962-1.pdf> 16. Luria AR. A compreensão do sentido da comunicação complexa: texto e subtexto. In: Luria AR. Pensamento e linguagem: as últimas conferências. Porto Alegre: Artmed; 2001, p. 188-200. 17. Siviero MO. Capacidade de abstração e o teste de provérbios [dissertação]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina; 1997, p. 81. 18. Penn NE, Jacob TC, Brown M. Comparison between Gorham’s Proverbs Test and the revised Shipley Institute of Living Scale for black population. Percept Mot Skills. 1988;(66):839-45. 19. Mansur LL, Carthery MT, Caramelli P, Nitrine R. Linguagem e cognição na doença de Alzheimer. Psicol Reflex Crit. 2005;18(3):300-7. 20. Campanha AC. Desempenho de idosos saudáveis e com doença de Alzheimer em tarefas metalinguísticas [dissertação]. São Paulo: Escola Paulista de Medicina; 2008. 21. Ortiz KZ, Campanha AC, Minett T. O uso de tarefas metalinguísticas para avaliação da linguagem e cognição. In: Avaliação neuropsicológica. Panorama interdisciplinar dos estudos na normatização de instrumentos no Brasil. São Paulo: Vetor Editora; 2008, p. 290-5. ARTIGO ORIGINAL Uso de simbiótico em idosos politraumatizados com obstipação crônica The use of symbiotic in multiple trauma elderly with chronic constipation Silvia Haruka Tsutsumi¹, Rita de Cássia Bahia Viana², Viviane dos Santos Viana², Rejane Maria Sales Cavalcante¹ RESUMO Objetivo: O objetivo do estudo foi identificar a resposta fisiológica de idosos politraumatizados com obstipação crônica ao uso de composto simbiótico. Métodos: Caracterizou-se como um estudo experimental não controlado, que incluiu 12 pacientes idosos, portadores de politraumatismo e obstipação crônica como patologia secundária, internados em um hospital público de referência em trauma de Belém, Pará, Brasil. Resultados: Na avaliação inicial, obteve-se média de 5,5 dias de período de ausência de evacuação. No final da intervenção com o simbiótico, realizada durante oito dias, 100% dos pacientes apresentavam episódios de evacuação, com destaque para o tipo de fezes 4 (fezes moldadas, lisas e macias – tipo ideal), de acordo com a escala de Bristol, presente em 75% da amostra. A média de dias para a primeira evacuação após o uso do simbiótico foi de 2,58 ± 1,72. Conclusão: O uso do simbiótico mostrou ser capaz de causar uma resposta fisiológica positiva em idosos politraumatizados, com a melhora do quadro de obstipação. Recebido em 20/03/10 Aceito em 05/04/11 Palavras-chave: Constipação intestinal, idoso, traumatismo múltiplo, probióticos. ABSTRACT Objective: The objective of this study was to identify the physiological response of multiple trauma elderly with chronic constipation to the use of a symbiotic compost. Methods: It was characterized as a non-controlled experimental study, which included 12 elderly patients, with multiple trauma and chronic constipation as a secondary disease and that were hospitalized in a public trauma referral hospital in Pará, Brasil. Results: At the initial evaluation there was an average of 5.5 days of time off defecation. At the end of the intervention with the symbiotic held for eight days, 100% of patients had experienced episodes of defecation, especially for the type 4 stool (shaped, smooth and soft faeces – ideal type), according to the Bristol Stool Scale, present in 75% o the sample. The average of days to the first bowel movement after the use of symbiotic was 2.58 ± 1.72. Conclusion: The use of symbiotic was shown to cause a positive physiological response in the multiple trauma elderly, through the improvement of the constipation. Keywords: Constipation, aged, multiple trauma, probiotics. Endereço para correspondência: Rita de Cássia Bahia Viana • Rua João Balbi, 370, Nazaré – 66055-280 – Belém, PA • Telefones: (91) 3223-5898/(091) 8249-0811 • E-mail: [email protected] ¹ Centro Universitário do Pará (Cesupa), Universidade Federal do Pará (UFPA). ² Cesupa. Simbiótico para idosos politraumatizados 9 INTRODUÇÃO MÉTODOS A obstipação é considerada um distúrbio comum que ocorre no aparelho digestivo, em que a condição do ritmo intestinal se torna irregular, afetando a frequência defecatória, na forma, volume e eliminação normal das fezes e no esforço maior para eva­cuar. Constitui motivo frequente de consultas clínicas, principalmente entre a população da terceira idade, prevalecendo a obstipação crônica, que tem maior ocorrência por causa de diversos fatores aos quais indivíduos nesse estágio da vida estão suscetíveis, como obstrução anatômica, redução do trânsito intestinal, alterações no pavimento pélvico, efeitos medicamentosos e alterações na microbiota intestinal, com redução no número de bifidobactérias¹-³. A pesquisa se caracterizou como um estudo experimental não controlado, cuja amostra incluiu portadores de politraumatismo e obstipação crônica como patologia secundária, com 60 anos de idade ou mais, classificados como idosos de acordo com o IBGE7, que estivessem internados nas clínicas traumatológicas II, III e IV de um hospital público de referência em trauma de Belém do Pará, Brasil. Essa condição também é muito prevalente em idosos com traumas, com evolução considerável nos últimos anos, principalmente nos grandes centros urbanos. Esses indivíduos encontram-se normalmente acamados e, consequentemente, impossibilitados de estimular seus movimentos físicos, afetando diretamente o peristaltismo e/ou trânsito intestinal4. As evidências científicas sobre a relação entre alimentação e saúde têm contribuído para o aparecimento de um novo segmento de rápida expansão nos últimos anos: o mercado dos alimentos funcionais. Dentre esses produtos, destacam-se os prebióticos e os probióticos. Os prebióticos podem ser definidos como ingredientes alimentares fermentáveis, porém não digeríveis, cujos efeitos beneficiam o hospedeiro por estimular o crescimento seletivo e ativar o metabolismo de bactérias promotoras da saúde no trato intestinal, principalmente as bifidobactérias5. Já os probióticos são microrganismos vivos que, se administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro, decorrentes da modulação da microbiota intestinal6. Como os prebióticos atuam favorecendo esses microrganismos, a associação entre prebióticos e probióticos é indicada, sendo simbiótico – Duo Microbiotic – o nome dado aos produtos que agregam os dois tipos de compostos5. Nesse sentido, acredita-se que um acompanhamento terapêutico que inclua esses elementos funcionais possa resultar na melhora do quadro clínico do paciente, pela reconstituição do equilíbrio da microbiota do trato intestinal, regularizando os movimentos peristálticos e normalizando a consistência do material fecal, o que justifica a realização deste estudo. O objetivo do trabalho foi identificar a resposta fisiológica de idosos politraumatizados com obstipação crônica ao uso de composto simbiótico. Para serem considerados obstipados crônicos, os indivíduos deveriam estar sem evacuar por um perío­ do contínuo mínimo de três dias ou apresentando episódios de evacuação, mas com fezes ressecadas – dos tipos 1, 2 ou 3, segundo a escala de Bristol, que permite a classificação visual das fezes em sete tipos distintos, segundo sua consistência e formato8. Foi utilizado um protocolo de controle padronizado para obtenção dos dados: número do registro do paciente, leito, enfermaria, sexo, idade, diagnóstico da internação, patologias associadas, ingestão hídrica/ dia (identificada por meio do número de copos de água ingeridos ao dia), presença/ausência de evacuação após uso de simbiótico e tipo de fezes. A pesquisa foi realizada por um período de 45 dias, de setembro a outubro/2008, com administração de um sachê de 6 g ao dia de produto simbiótico (Lactofos, cedido pela empresa SKL Functional Nutrition), composto de quatro cepas probióticas e frutooligossacarídeo (fibra solúvel prebiótica), por oito dias consecutivos, em idosos que atendessem aos critérios de inclusão. Foi realizada análise estatística descritiva, com apresentação dos dados em gráficos e tabelas, utilizando, para tanto, o programa Microsoft Excel, versão 2003. A significância estatística das diferenças entre proporções foi avaliada por meio do método do qui-quadrado e partição do qui-quadrado e as diferenças entre médias foram analisadas por meio do teste t-student. Foi considerado como nível de significância estatística o valor de p ≤ 0,02. O software estatístico utilizado foi o Epi Info versão 6.0. O Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa) aprovou o presente estudo, estando os procedimentos de acordo com a Declaração de Helsinki de 1964, reformulada em 2000, e com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi assinado pelos idosos, após concordância em participar da pesquisa. 10 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):8-13 RESULTADOS ção. As fezes do tipo 4 (moldadas, lisas e macias) são representativas do tempo de trânsito normal9. A amostra do estudo constituiu-se de 12 pacientes. A idade mínima foi de 60 anos e a máxima foi de 96 anos, com idade média de 77,08 anos e DP ± 12,54. A média de período de ausência de evacuação, antes do uso do simbiótico, foi de 5,5 ± 8,12 dias, de acordo com a análise estatística realizada por meio do t-student de amostras pareadas. Detectou-se participação predominante de pacientes do sexo feminino (n = 9), principalmente na faixa etária de 70 a 79 e 80 a 89, que representaram 33,33% da amostra. Houve maior número de internações de pacientes com diagnóstico de fratura de fêmur (68%), seguida das demais fraturas de bacia (8%), antebraço (8%), ísquio (8%) e tornozelo (8%). Foi identificada na amostra prevalência de doenças associadas comuns em idosos: hipertensão (25% de prevalência; n = 3); hipertensão + cardiopatia (17% de prevalência; n = 2); gastrite (8,33% de prevalência; n = 1); gastrite + diabetes (8,33% de prevalência; n = 1); hipertensão + diabetes (8,33% de prevalência; n = 1); nenhuma doença (33%; n = 4). O ponto de partida para acompanhamento dos pacientes do presente estudo se manifestou no conhecimento da ausência de evacuação ou presença, mas em qualidade não desejada (escala inferior a 4), pois a definição mais ampla de obstipação crônica é também relacionada à aparência ressecada das fezes. O tipo de fezes é consequência direta de seu tempo de permanência em contato com a mucosa do intestino grosso, pois quanto maior o tempo, mais as fezes se assemelham às do tipo 1, são mais duras e de difícil elimina- Um hábito de vida errôneo muito frequente, observado entre os pacientes, foi o baixo consumo de água, com uma média de 490 ± 0,52 ml/dia. A ingestão hídrica é referida como um fator diretamente relacionado e agravante da obstipação. Pereira e Martin10 afirmam que há relação da desidratação com o atraso do trânsito intestinal. A partir da introdução do simbiótico, a média de dias para a primeira evacuação foi de 2,58 ± 1,72. O segundo dia de intervenção destacou-se como o dia em que o primeiro episódio de evacuação ocorreu para 41% dos pacientes, seguido do primeiro e terceiro dias de intervenção, para 25% e 17% dos idosos, respectivamente. Logo, o simbiótico mostrou agir em um curto período de tempo a partir da introdução. Esse resultado só não foi observado para dois pacientes (17%), que evacuaram apenas no sexto dia de acompanhamento contínuo após o uso do simbiótico. O caso de maior período de ausência de evacua­ ção observado no estudo, antes da administração do simbiótico, foi de 30 dias. Esse paciente apresentou episódio de evacuação no segundo dia de uso do produto. Presença de evacuação no grupo amostral (%) 120 100,0 100 83,3 80 75,0 Sim 60 Não 40 25,0 16,7 20 0 0,0 Avaliação inicial 4º dia de intervenção 8º dia de intervenção Dias avaliados Figura 1. Distribuição da presença de evacuação no grupo amostral, em três dias avaliados. 11 Simbiótico para idosos politraumatizados Conforme demonstrado na figura 1, no primeiro dia da pesquisa havia 75% de ausência de evacuação contra 25% de presença. Essa proporção sofreu alteração significativa até o quarto dia de intervenção, em que foram verificados 16,7% de ausência de evacuação (p = 0,0019) contra 83,3% de presença. No oitavo dia, último dia da intervenção, observou-se a presença de evacuação em 100% dos participantes. A aplicação do teste de partição do qui-quadrado mostrou significância estatística, com p = 0,0002. A reversão do quadro de ausência de evacuação, a redução da ocorrência de fezes ressecadas e a maior frequência do tipo de fezes 4, todos resultados significativos, mostram a melhora da obstipação crônica com o uso do simbiótico. DISCUSSÃO As possíveis causas para explicar a elevada frequência de traumas em mulheres nessa faixa etária ainda são pouco esclarecidas. Perracini e Ramos11, em estudo, sugerem que se deve ao fato da maior predisposição às doenças crônicas. Muniz et al.12 suspeitam da maior exposição às atividades domésticas e presença de reduzida massa magra e força muscular, quando comparadas aos homens, pois atingem antes o pico de potência muscular, sofrendo o declínio mais precocemente. O tipo de fezes apresentado pelo grupo amostral durante o acompanhamento pode ser visto na figura 2. Nota-se que no início da pesquisa nenhum dos pacientes apresentava fezes do tipo 4, considerado ideal, prevalecendo o tipo 2, ou seja, fezes de consistência e formato indicativos de obstipação. Porém, no quarto dia de intervenção pôde-se constatar evolução na qualidade das fezes, com predomínio do tipo de fezes 3 (41,7%) e aumento da frequência do tipo 4 para 16,7%. No oitavo dia de intervenção, observou-se uma porcentagem de 75% para o tipo 4. De acordo com Muniz et al.12, a fratura do fêmur é causada geralmente por traumas pequenos e não intencionais, como as quedas. Ocorre muito pela debilidade do próprio envelhecimento fisiológico e por fatores extrínsecos, como o uso de medicamento e ambientes não adaptados. Há diferença significativa entre o primeiro e o oitavo dia, mostrando a considerável mudança na qualidade das fezes a partir da intervenção. Percebe-se também que na metade do período de intervenção ainda não havia uma mudança significante. A presença do tipo de fezes 4 no oitavo dia foi a mais significativa, com o p < 0,0001, conforme mostrou o teste qui-quadrado de partição. Estudos realizados anteriormente13-16 sugerem que doenças preexistentes relacionam-se em um estágio avançado da vida, devidas a fatores do próprio envelhecimento e a hábitos de vida errôneos, tornando a recuperação do politraumatismo ainda mais lenta, com tempo de internação mais prolongado. 80 75,0 Frequência do tipo de fezes apresentado (%) 70 60 50 Tipo 1 41,7 Tipo 2 40 Tipo 3 Tipo 4 30 Tipo 5 20 16,7 8,3 10 0 0,0 8,3 0,0 Avaliação inicial 0,0 6,7 0,0 4º dia de intervenção 8,3 6,7 8,3 8,3 0,0 8º dia de intervenção Dias avaliados Figura 2. Frequência do tipo de fezes apresentado pela população, segundo escala de Bristol, em três dias avaliados. 12 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):8-13 Surpreendentemente, são poucos os estudos que avaliam o efeito dos prebióticos, probióticos e simbió­ ticos na melhora da obstipação. Entretanto, os poucos que foram realizados até o momento encontraram resultados positivos, evidenciando a eficácia desses compostos na modulação do ecossistema microbiano intestinal. Um estudo prospectivo, aleatório, que avaliou o efeito do consumo de leite fermentado contendo probióticos na constipação funcional de mulheres, segundo critério de Roma II, apresentou resultados semelhantes aos do presente estudo. Duzentas e sessenta e seis mulheres, com idade entre 18 e 55 anos, foram randomizadas em dois grupos, por duas semanas. O consumo do leite fermentado foi associado a um aumento da taxa de evacuações (6,1 ± 2,7 evacua­ ções por semana no grupo estudo versus 5,0 ± 2,6 evacuações por semana no grupo controle, p < 0,01). Além disso, houve melhora significativa na qualidade das fezes, segundo a escala de Bristol, e diminuição na dor no momento da evacuação17. Da mesma forma, mulheres obstipadas, com idade entre 18 e 57 anos, que receberam leite fermentado com Lactobacillus GG por três semanas apresentaram melhora dos sintomas gastrintestinais, tais como aumento da frequência das evacuações e diminuição do tempo de trânsito intestinal18. Um ensaio clínico com 274 mulheres francesas mostrou que, ao longo do estudo, ambos os grupos, intervenção e placebo, apresentaram melhora da qualidade de vida em relação ao início do estudo. No subgrupo de mulheres com menos de três evacuações por semana na admissão, constatou-se efeito positivo do probiótico, no sentido de aumentar a frequência defecatória19. No que diz respeito aos idosos, em específico, um estudo que avaliou o efeito do consumo de leite fermentado contendo probióticos em indivíduos com idade entre 50 e 75 anos mostrou melhoras no tempo de trânsito intestinal. Todos os indivíduos apresentavam trânsito intestinal médio ou lento e, após a administração diária de produto contendo probióticos, durante duas semanas, observou-se redução significativa (p < 0,0001) no tempo de trânsito intestinal, indicando a tendência dos probióticos a restabelecer o funcionamento fisiológico do intestino e reduzir a suscetibilidade às condições associadas ao trânsito intestinal lento, em indivíduos obstipados20. Um estudo realizado com idosos do sexo masculino que apresentavam história de obstipação crônica mostrou que a suplementação de FOS, na quantidade de 3 a 10 g, durante 30 dias, foi capaz de aliviar a constipação e aumentar o peso das fezes, pelo aumento na produção de ácidos graxos de cadeia curta, produtos da fermentação do FOS21. Resultados positivos seriam esperados, portanto, com a utilização de um composto simbiótico, que, segundo Dughera et al.22, pode promover alterações na microbiota intestinal e melhorar os sintomas relacionados à obstipação de forma potencializada, em comparação aos probióticos ou prebióticos isoladamente. Conclui-se que o uso do simbiótico pode oferecer uma resposta fisiológica positiva aos idosos politraumatizados, por meio da melhora do quadro de obstipação. Novos estudos, que incluam maior número de participantes e tratem de questões de segurança de utilização, se fazem necessários, especialmente no que se refere à população idosa, para que os prebióticos, probióticos e simbióticos possam, enfim, fazer parte da rotina de prescrição dos profissionais da saúde, sem que haja dúvidas ou receios. AGRADECIMENTOS Agradecemos à empresa SKL Functional Nutrition, pelo fornecimento gratuito do produto necessário para a realização deste estudo, e à nutricionista Jéssica Kuwer Torquato Landim, responsável pela revisão final do manuscrito. REFERÊNCIAS 1. Oliveira DJE, Marchini SJ. Ciências nutricionais. São Paulo: Sarvier; 2003. 2. Sizer F, Whitney E. Nutrição: conceitos e controvérsias. 8. ed. Barueri: Manole; 2003. 3. Hamilton-Miller JMT. Probiotics and prebiotics in the elderly. Postgrad Med. 2004;80:447-51. 4. Torres AC, Diccini S. Constipação intestinal em pacientes com tumores intracranianos. Rev Latino-Am Enfermagem. 2006;14(3):397-404. 5. Renhe IRT, Volp ACP, Barbosa KFB, Stringheta PC. Prebióticos e os benefícios de seu consumo na saúde. Rev Bras Nutr Clin. 2008;23 (2):119-26. 6. Saad SMI. Probióticos e prebióticos: o estado da arte. Rev Bras Cienc Farm. 2006;42(1):1-16. 7. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 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Effects of symbiotic preparations on constipated irritable bowel syndrome symptoms. Acta Biomed. 2007;78:111-6. ARTIGO ORIGINAL Desnutrição associada à depressão em idosos hospitalizados Malnutrition associated to depression in elderly inpatients Juliana Monteiro Valença1, Kátia Lima Andrade2 RESUMO Objetivo: Determinar a prevalência de desnutrição em idosos internados em hospital público da Região Nordeste (São Luís/MA) e sua associação com depressão. Métodos: Em 2009, um estudo transversal prospectivo avaliou pacientes idosos internados por meio da aplicação de questionário contendo variáveis socioeconômicas, sexo, grupo racial e estado civil. O estado nutricional foi estabelecido pela Miniavaliação Nutricional (MAN) aplicada com menos de 72 horas de internação. A Escala Geriátrica de Depressão (EGD) avaliou sintomas sugestivos de depressão. Para análise estatística, foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences). As diferenças foram consideradas significantes quando p < 0,05. Resultados: Foram avaliados 92 idosos internados, 53,3% homens, 43,5% mulatos, 52,2% casados, 88,0% aposentados, 55,4% analfabetos; 85,9% referiram renda pessoal de um salário-mínimo. O escore total da MAN médio foi de 17,6 ± 5,8 pontos. A prevalência de risco de desnutrição e desnutrição foi, respectivamente, de: 37,8% e 43,3%. O escore da EGD médio foi de 6,9 ± 3,0 pontos. A prevalência de depressão foi de 56,3%. Houve associação entre desnutrição e sexo feminino, viuvez e pontuação na EGD sugestiva de depressão. Conclusão: Observou-se alta prevalência de desnutrição e de sua associação com depressão em idosos hospitalizados na Região Nordeste (São Luís/MA). Recebido em 29/8/10 Aceito em 20/2/11 Palavras-chave: Idoso, desnutrição, depressão, hospital. ABSTRACT Objective: To determine the prevalence of malnutrition in elderly inpatients in a public hospital of the Northeastern region (São Luís/MA) and its association to depression. Methods: In 2009, a prospective cross-sectional study evaluated elderly patients admitted through the application of a questionnaire containing variables for socioeconomic aspects, gender, race and marital status. Nutritional status was established by the Mini Nutritional Assessment (MNA) applied with less than 72 hours after admission. The Geriatric Depression Scale (GDS) was used to assess symptoms suggestive of depression. Statistical analysis was performed using SPSS (Statistical Package for Social Sciences). Differences were considered significant when p < 0.05. Results: 92 elderly inpatients have been evaluated, 53.3% were men, 43.5% were mulatto, 52.2% were married, 88.0% retired, 55.4% were illiterate and 85.9% reported personal income of one minimum salary. The total score of the average MNA was 17.6 ± 5.8 points. The prevalence of risk of malnutrition and malnutrition was respectively of: 37.8% and 43.3%. The average GDS score was 6.9 ± 3.0 points. The prevalence of depression was of 56.3%. There was a significant association between malnutrition and female sex, widowhood and depression. Conclusion: The prevalence of malnutrition and depression were high with a significant association in elderly inpatients in the Northeastern region (São Luís/MA). Keywords: Elderly, malnutrition, depression, hospital. Endereço para correspondência: Juliana Monteiro Valença • Av. Professor Vital Barbosa, 618, ap. 703, Ponta Verde – 57035-400 – Maceió, AL • Telefone: (82) 9672-7808 • E-mail: [email protected]. Centro Universitário do Maranhão (UniCeuma). 2 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Internato Médico do UniCeuma. 1 Desnutrição e depressão em idosos hospitalizados INTRODUÇÃO O Brasil, país marcado pela disparidade socioeconômica, ocupando o terceiro lugar em maior desigualdade de renda no mundo1, passa por um processo de envelhecimento populacional rápido. Segundo o IBGE, no ano de 2025 o Brasil terá a sexta população idosa do mundo em números absolutos. Acompanhando a transição demográfica, ocorre a transição epidemiológica e nutricional, em que a desnutrição coexiste com a obesidade2. As questões econômicas, sociais, biológicas, psíquicas e alimentares determinarão o estado nutricional dos idosos. A desnutrição proteico-calórica, definida como um estado mórbido secundário a uma deficiên­ cia, relativa ou absoluta, de um ou mais nutrientes essenciais3, contribui para o aumento da morbimortalidade4, do tempo e do custo com a hospitalização e para a piora na qualidade de vida dos idosos5. A identificação do risco para desnutrição no idoso é uma atividade complexa6, por causa das peculiaridades apresentadas pelo idoso (60 anos ou mais)7 decorrentes do processo de envelhecimento como: a) redução progressiva da altura; b) ganho progressivo de peso até 65 a 70 anos, diminuindo a partir de então; c) alterações da composição corporal, com redistribuição de gordura, que diminui perifericamente e aumenta no interior do abdome, e redução de massa magra e da força muscular8. Ocorrem ainda alterações no funcionamento digestivo e na percepção sensorial e diminuição da sensibilidade à sede9. Vários autores enfatizam a ausência de padrão-ouro para diagnóstico de desnutrição, o que requer a análise conjunta de diversas medidas (antropométricas, dietéticas e bioquímicas) para alcançar um diagnóstico. Métodos não invasivos, fidedignos e de baixo custo para a avaliação de risco nutricional no idoso, como o inquérito Miniavaliação Nutricional (MAN), vêm sendo validados10. A MAN engloba antropometria, avaliação dietética, avaliação clínica global e autopercepção de saúde e estado nutricional. Desde sua validação em 1994, a MAN vem sendo usada em centenas de estudos e foi traduzida em mais de 20 idiomas11. A prevalência de desnutrição e risco de desnutrição obtida por meio da MAN em idosos hospitalizados foi de 23% e 46%, respectivamente, de acordo com análise realizada12 de 36 estudos de diversos países, entre os anos de 1996 e 2006. Esses dados demonstram a importância do tema mundialmente. Convém lembrar que a desnutrição em idosos encontra-se relacionada com grande número de 15 complicações como: tendência à infecção, deficiência de cicatrização de feridas, falência respiratória, insuficiên­cia cardíaca, diminuição da síntese de proteína no nível hepático com produção de metabólitos anormais, diminuição da filtração glomerular e da produção do suco gástrico8. A avaliação dos idosos desnutridos deve com­ preender investigação sobre depressão, pois é a maior causa de perda de peso em idosos institucionalizados13, sendo associada ao aumento da mortalidade. Dentre as pessoas com 60 anos ou mais no Brasil, 48% sofrem de alguma forma de depressão14. A Escala Geriátrica de Depressão (EGD) é um dos instrumentos mais utilizados para sua detecção15. Este trabalho tem como objetivo determinar a prevalência de desnutrição em idosos internados em hospital público da Região Nordeste (São Luís, Maranhão) e sua associação com depressão. MÉTODOS Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário do Maranhão (UniCeuma), por meio do parecer consubstanciado nº 00427/09, foi realizado um estudo transversal prospectivo no setor de internação das clínicas médica e cirúrgica do Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho (HGTLF), no período de outubro a dezembro de 2009. Foram incluídos pacientes com idade igual ou maior que 60 anos, após assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido pelo paciente ou seu representante legal. Os pacientes incluídos no estudo foram avaliados mediante a aplicação da MAN e da EGD com menos de 72 horas de internação. Foi aplicado questionário de coleta de dados, incluindo sexo, grupo racial, estado civil e variáveis socioeconômicas. O diagnóstico de desnutrição foi efetuado considerando o escore obtido na MAN; a pontuação maior que 23,5 indica pacientes com bom estado nutricional (MAN 1); o escore entre 17 e 23,5 indica risco de desnutrição (MAN 2) e menor que 17 faz diagnóstico de desnutrição (MAN 3)11. O diagnóstico de depressão foi efetuado baseado no escore obtido pela EGD; pontuação maior ou igual a 6 é sugestiva de depressão15. Na análise dos dados, foi utilizado o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 14.0. A análise descritiva sumarizou as variá- 16 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):14-8 RESULTADOS veis em frequências, médias, desvios-padrão e percentuais. Foram aplicados testes paramétricos: teste t de Student, para avaliar as diferenças das médias entre os grupos, e a análise de correlação de Pearson (r), para determinar a correlação entre as variáveis numéricas. O teste do qui-quadrado avaliou as diferenças entre as proporções, sendo utilizada a correção de Yates quando necessária. Foi adotado intervalo de confiança de 95%, com nível de significância de p < 0,05. Foram avaliados 92 idosos internados, sendo a maioria do sexo masculino (53,3%), mulatos (43,5%), casados (52,2%), aposentados (88,0%) e analfabetos (55,4%), conforme apresentado na tabela 1. A renda familiar variou de 1 a 10, com média de 1,8 (± 1,4) salários-mínimos – 85,9% dos idosos referiam Tabela 1. Características clínico-epidemiológicas de 92 pacientes idosos internados em Hospital Geral, no período de outubro a dezembro de 2009 Variáveis Sexo Grupo racial Estado civil Ocupação Escolaridade Moradia Estado nutricional Depressão Masculino n % 49 53,3 Feminino 43 46,7 Total 92 100 Branco 30 32,6 Mulato 40 43,5 Negro 22 23,9 Total 92 100 Solteiro 9 9,8 Casado 48 52,2 Divorciado 2 2,2 Viúvo 33 35,9 Total 92 100 Desempregado 4 4,3 Biscate 1 1,1 Técnico 6 6,5 Aposentado 81 88 Total 92 100 Analfabeto 51 55,4 Até 1° grau completo 32 34,8 Até 2° grau completo 7 7,6 Superior 2 2,2 Total 92 100 Própria 81 88,0 Alugada 3 3,3 Familiares 8 8,7 Total 92 100 Nutrido 17 18,9 Risco de desnutrição 34 37,8 Desnutrido 39 43,3 Total 92 100 Ausente 38 43,7 Sugestiva 49 56,3 Total 92 100 17 Desnutrição e depressão em idosos hospitalizados renda pessoal de um salário-mínimo. O escore total da MAN variou de 5,5 a 28, com média de 17,6 ± 5,8 pontos. A prevalência de risco de desnutrição e desnutrição foi, respectivamente, de: 37,8% e 43,3%. O escore da EGD variou de 2 a 13, tendo média de 6,9 ± 3,0 pontos. A prevalência de sintomas sugestivos de depressão foi de 56,3%. retratados pela literatura. A prevalência é semelhante àquela descrita por Van Nes et al.16, em estudo realizado na Suíça com 1.145 idosos internados, em que 79% apresentavam risco de desnutrição ou desnutrição, assim como pelo estudo realizado em hospitais secundários por Ashmen et al.13, em que se encontrou uma prevalência de 91%. Observou-se associação significativa entre desnutrição e depressão mediante a análise de correlação de Pearson (r = -0, 526; p < 0,05), ou seja, quanto maior a pontuação na MAN e consequentemente melhor estado nutricional, mais baixa a pontuação da EGD, sugerindo menor prevalência de depressão. A média do escore da MAN na avaliação dos idosos depressivos foi de 15,7 ± 5,6 pontos, enquanto nos idosos com ausência de depressão a média foi de 20,0 ± 5,4 pontos (p < 0,05). A MAN pode ser utilizada na triagem pré-operatória para detecção de risco de desnutrição12, sendo necessária intervenção multidisciplinar geriátrica para avaliação da causa da alimentação inadequada11. Os fatores associados ao estado nutricional foram apresentados na tabela 2. Observou-se prevalência de desnutrição associada ao sexo feminino (p < 0,05), entre viúvos (p < 0,05) e nos idosos com pontuação na EGD sugestiva de depressão. DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou elevada prevalência de risco de desnutrição (37,8%) e desnutrição (43,3%) em pacientes idosos internados em hospital público do estado do Maranhão, de acordo com os relatos O escore da MAN é também preditivo de complicações clínicas. As doenças agudas impõem a limitação de nutrientes ingeridos durante a hospitalização, contribuindo para o alto risco de mortalidade17. Desnutrição em idosos encontra-se relacionada com grande número de complicações como: risco aumentado de desenvolver úlceras por pressão, aumento de complicações pós-operatórias, aumento na incidência de sepsis e pneumonia, alta prevalência de infecções, redução da capacidade mental, aumento da taxa de readmissões e aumento do tempo de internação8. O estado nutricional se correlacionou de forma significativa com as seguintes variáveis estudadas: sexo, estado civil e sintomas sugestivos de depressão. A desnutrição foi mais prevalente entre as mulheres. Almeida et al.18 observaram maior frequência de desnutrição ou risco de desnutrição entre as mulheres no Hospital Geral na cidade de Blumenau/SC, ape- Tabela 2. Fatores associados ao estado nutricional segundo sexo, estado civil e sintomas sugestivos de depressão em 92 pacientes idosos internados no Hospital Geral, no período de outubro a dezembro de 2009 Estado nutricional Variáveis Sexo Estado civil Depressão MAN** 1 MAN** 2 MAN** 3 Total p* N % n % n % n % Masculino 14 15,6 20 22,2 14 15,6 48 53,3 Feminino 3 3,3 14 15,6 25 27,8 42 46,7 Total 17 18,9 34 37,8 39 43,3 90 100 Solteiro 2 2,2 6 6,7 1 1,1 9 10 Casado 13 14,4 19 21,1 15 16,7 47 52,2 Divorciado 0 0 1 1,1 1 1,1 2 2,2 Viúvo 2 2,2 8 8,9 22 24,4 32 35,6 Total 17 18,9 34 37,8 39 43,3 90 100 Ausente 12 13,8 14 16,1 12 13,8 38 43,7 Sugestiva 4 4,6 20 23 25 28,7 49 56,3 Total 16 18,4 34 39,1 37 42,5 87 100 0,001 0,000 0,008 *Teste do qui-quadrado (correção de Yates); **Miniavaliação Nutricional: MAN 1 – bom estado nutricional; MAN 2 – risco de desnutrição; MAN 3 – desnutrição. 18 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):14-8 sar de não referirem uma associação significativa entre sexo e estado nutricional. O risco de desnutrição também foi maior para as mulheres em estudo feito por Albuquerque et al.19 no hospital de urgências de Goiânia. A população idosa é particularmente propensa a problemas nutricionais devidos a fatores relacionados com as alterações fisiológicas e sociais, ocorrência de doença crônica, uso de várias medicações, problemas na alimentação (comprometendo a mastigação e deglutição), depressão e alterações da mobilidade com dependência funcional8. A deterioração da função cognitiva com inabilidade para obter alimento, esquecimento ou incapacidade pode causar desnutrição no idoso20. A associação entre viuvez e desnutrição pode ser devida ao fato de que os laços sociais como o casamento são importantes, pois a integração social fortalece o acesso a fontes de ajuda14. Cozinhar sozinho foi negativamente associado com o estado nutricional, podendo significar comer se sentindo sozinho e, assim, levar à diminuição da qualidade de vida21. Apesar de a depressão ser uma condição clínica frequente entre os idosos, a presença de sintomas depressivos é apenas ocasionalmente reconhecida pelos profissionais de saúde como causa de agravamento de outras enfermidades. Segundo Ramos14, é a maior causa de perda de peso em idosos institucionalizados. A associação significante entre desnutrição e depressão é semelhante à encontrada em outros estudos12,22. REFERÊNCIAS 1. Florêncio TMMT, Martins PA, Sawaya AL, Solymos GMB. Os dois Brasis: quem são, onde estão e como vivem os pobres brasileiros. Estudos Avançados. 2003;17(48):21-45. 2. Simões FC. Renda per capita e distúrbios nutricionais da população idosa, não institucionalizada, do município de São Paulo: um estudo baseado na pesquisa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento – SABE [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2007. 5. Beghetto MG, Candal A, Manna B, Mello ED, Polanczyk CA. Triagem nutricional em adultos hospitalizados. Rev Nutr Campinas. 2008;21(5):589-601. 6. 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Risco nutricional em cirurgia avaliado pelo índice de massa corporal ajustado ou não para pacientes idosos. Arq Gastroenterol. 2006;43(3):219-23. 22. Alves ER, Avelar GN, Yamamoto FW, Neto VSD, Scattolin MAA, Toledo JCF. Avaliação nutricional de idosos internados e correlação com escala de depressão e minimental. Rev Fac Ciên Med Sorocaba. 2005;7(1):15-20. ARTIGO ORIGINAL Avaliação nutricional e capacidade funcional de idosos institucionalizados em Botucatu/SP Nutritional status and functional capacity of institutionalized elderly in Botucatu/SP Priscila Lucélia Moreira1, Paulo José Fortes Villas Boas1 Recebido em 16/10/10 Aceito em 23/3/11 RESUMO Introdução: A capacidade funcional é um importante componente da qualidade de vida e marcador de saúde, refletindo a condição geral do idoso. Juntamente com a avaliação da capacidade funcional, as avaliações nutricional e antropométrica também estimam a saúde dessa população. Observa-se associação entre esses parâmetros. Objetivo: Estudar a associação do estado nutricional com a capacidade funcional em idosos de instituição de longa permanência (ILP) da cidade de Botucatu/SP, analisando a relação entre os dados antropométricos e a capacidade funcional no indivíduo idoso. Materiais e métodos: Tipo de estudo: transversal. Foram avaliados 54 indivíduos, sendo mensurados dados antropométricos com cálculo do índice de massa corporal (IMC). Avaliou-se a capacidade funcional pelas Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) e Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD). Foi analisada a associação entre dependência e as variáveis antropométricas obtidas. Resultados: Dos institucionalizados (19 do gênero masculino e 35 do feminino, com idade média de 76,1 ± 9,9 anos), 46,3% apresentaram IMC abaixo de 22 kg/m2. A dependência para as ABVD, em 33,3% dos casos, esteve diretamente relacionada ao baixo peso (IMC ≤ 22 kg/m2; p < 0,05). Conclusão: A maioria dos idosos da ILP apresentou baixo peso associado à capacidade funcional diminuída para as ABVD. Palavras-chave: Idoso, antropometria, atividades cotidianas. ABSTRACT Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). 1 Introduction: Functional capacity is an important component of quality of life and health marker that reflects the overall condition of the elderly. Together with functional capacity assessment, nutritional and anthropometric evaluations are also used to estimate health in this population. Observed association between these parameters. Objective: To study the relationship among anthropometric and nutritional data and functional capacity in the senior population of a long permanence institution (LPI) located in Botucatu – SP, Brazil, analyzed the relationship between anthropometric data and the functional capacity in elderly. Materials and methods: Design: Cross-sectional. We evaluated 54 individuals, and measured anthropometric data with calculation of body mass index (BMI). We evaluated the functional capacity by the Basic Activities of Daily Living (ADL) and Instrumental Activities of Daily Living (IADL). We analyzed the association between dependence and anthropometric variables obtained. Results: Of the institutionalized individuals assessed (19 males and 35 females with mean age of 76.1 ± 9.9 years), 46.3% showed BMI < 22 kg/m2. Dependence for ADL was directly associated with low weight (BMI ≤ 22 kg/m2) in 33.3% of the cases (p < 0.05). Conclusion: Most LPI elderly residents showed low weight associated with reduced functional capacity for ADL. Keywords: Elderly, anthropometry, activities of daily life. Endereço para correspondência: Paulo José Fortes Villas Boas • Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB). Distrito de Rubião Jr., s/n – 18618-970 – Botucatu, SP • Telefax: (14) 3882-6213/(14) 3882-2969 • E-mail: [email protected] 20 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):19-23 INTRODUÇÃO mostraram que um IMC com percentis ≤ 15 e ≥ 85 apresenta maior risco de perda funcional. O envelhecimento é o período da vida em que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) apresentam alta prevalência, juntamente com limitações físicas, sintomas depressivos, declínio sensorial, acidentes e isolamento social1. Raso10 verificou que a adiposidade corporal e a idade cronológica são fatores independentes que influenciam negativamente nas ABVD. A saúde dos indivíduos idosos pode ser medida pelo grau de preservação da capacidade funcional, um importante componente da qualidade de vida e marcador de saúde que reflete a condição geral do idoso. Muitos idosos levam uma vida perfeitamente normal mesmo quando são portadores de alguma enfermidade crônica, quando controlada1,2. Assim, alguns estudiosos têm comparado a funcionalidade do organismo com as atividades práticas do dia a dia. Para isso, podem ser utilizadas como referência as atividades básicas da vida diária (ABVD) e as atividades instrumentais da vida diária (AIVD)2. As ABVD referem-se aos cuidados pessoais básicos e as AIVD, a atividades mais complexas3. Estudo longitudinal com idosos no Brasil (Projeto Epidoso) constatou que um dos fatores de risco para mortalidade foi a dependência no dia a dia, ressaltando que a boa manutenção das ABVD e das AIVD é essencial para uma melhor qualidade de vida1. Em virtude da alta prevalência de desnutrição em pessoas idosas, a avaliação nutricional deve fazer parte da prática clínica de rotina, principalmente nos indivíduos frágeis, doentes, institucionalizados e hospitalizados4. Jingu et al.5 concluíram que o balanço nutricional é importante na manutenção da capacidade funcional. Assim, a avaliação preventiva precoce é necessária para combater declínio da capacidade funcional, particularmente em relação às AIVD. Estudo mostrou que idosos institucionalizados apresentaram maior taxa de baixo peso e sobrepeso quando comparados com os da comunidade. Foi concluído que residir com os familiares favorece um adequado estado nutricional6. O estado nutricional pode ser associado à capacidade funcional. Alguns estudos têm verificado essa correlação. Kikafunda e Lukwago7observaram taxa de desnutrição de 68% em mulheres e 32,4% em homens, com influência nas ABVD. Launer et al.8 concluíram que o IMC e a perda de peso elevados podem ser usados como indicadores a longo prazo de risco de incapacidade em mulheres de meia-idade e em mulheres mais velhas, assim como Galanos et al.9, que Dada a importância do assunto em questão, o objetivo deste trabalho foi estudar a associação do estado nutricional com a capacidade funcional em idosos de instituição de longa permanência (ILP) da cidade de Botucatu/SP. CASUÍSTICA E MÉTODOS Estudo transversal, com abordagem quantitativa, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu (of. 264/2006). Os dados foram coletados de residentes do Asilo Padre Euclides de Botucatu/SP, no período de novembro de 2006 a junho de 2007. Participaram do estudo 54 idosos com idade igual ou superior a 60 anos completos (critério de inclusão no estudo). Todos os dados foram coletados e tabulados pela mesma pesquisadora. Avaliação nutricional O peso e a estatura foram mensurados com técnica padronizada por Frisancho11. Em idosos acamados, a estimativa do peso e da estatura foi realizada utilizando as fórmulas de Chumlea et al.12,13. Foi realizado o cálculo do índice de massa corpórea (IMC), de acordo com a fórmula: peso (kg)/estatura2 (m). Posteriormente, o IMC de cada indivíduo foi classificado em baixo peso, eutrófico ou sobrepeso/obeso < 22 kg/m2, 22-27 kg/m2 e > 27 kg/m2, respectivamente14. Avaliação da capacidade funcional A avaliação da capacidade funcional foi realizada com a aplicação das escalas de ABVD15 e AIVD16. Para as ABVD, foram avaliadas tarefas como tomar banho, vestir-se, ir ao toalete, transferência, continência e alimentação. Cada item corresponde a um ponto na classificação17, sendo considerados dependentes para ABVD aqueles que obtiveram dependência para dois ou mais domínios. Para as AIVD, avaliou-se capacidade para usar o telefone, ir a lugares distantes, fazer compras no supermercado, preparar refeições, fazer trabalhos domésticos, realizar trabalhos manuais, lavar roupas e controlar os horários de medicamentos. Para cada domínio do questionário era inferida uma pontuação: 21 Avaliação nutricional e funcional em idosos 1 quando completamente incapaz de realizar a atividade, 2 quando era realizada com ajuda e 3 quando realizada sem ajuda. O idoso que obteve 17 pontos ou menos foi classificado como dependente16. Análise estatística Os dados obtidos foram inicialmente descritos em termos de variáveis quantitativas discretas ou contínuas e transcritos em instrumento desenvolvido para o armazenamento. O programa utilizado para a análise dos dados foi o SPSS for Windows, versão 12.0 (Chicago, USA). Dados com distribuição normal foram apresentados em média e desvio-padrão. Para comparação estatística entre os grupos, foi utilizado o teste T-Student. O valor de p foi considerado estatisticamente significante quando o nível Alfa (p) foi < 0,05. RESULTADOS Foram avaliados 54 idosos, sendo 35 do gênero feminino (64,8%) e 19 do gênero masculino (35,2%). A idade média foi de 76,1 ± 9,9 anos. Os resultados da comparação quanto ao gênero, idade e os dados antropométricos coletados estão descritos na tabela 1. A tabela 2 apresenta os dados referentes ao IMC conforme o gênero, em que se observa que 46,3% dos institucionalizados apresentaram baixo peso (IMC ≤ 22 kg/m2). Dos grupos masculino e feminino, 15,7% e 31,4% estiveram na faixa de sobrepeso, respectivamente. A tabela 3 apresenta os resultados quanto ao grau de dependência dos idosos da ILP. Foram considerados dependentes para ABVD 33,3% do total. Para AIVD, 59,2% do total de avaliados classificaram-se como dependentes, sendo 68,5% no grupo das mulheres. Tabela 1. Resultados dos dados antropométricos coletados de 54 institucionalizados em instituição de longa permanência (ILP) – Botucatu/SP, novembro 2006-junho 2007 Variável antropométrica Gênero masculino (n = 19) média (± DP) Gênero feminino (n = 35) média (± DP) Valor de p Idade (anos) 74,4 (7,9) 77,0 (10,9) 0,35 Peso (kg) 63,8 (12,7) 55,1 (13,5) 0,02 Altura (metros) 1,64 (0,06) 1,50 (0,06) 0,00 IMC (kg/m ) 23,5 (3,9) 24,3 (5,9) 0,59 CB (cm) 28,2 (2,8) 28,3 (5,0) 0,89 PCT (mm) 8,9 (2,7) 15,5 (7,2) 0,00 PCSE (mm) 12,1 (4,1) 13,7 (6,7) 0,34 CC (cm) 90,7 (11,9) 89,7 (16,7) 0,82 CQ (cm) 97,6 (9,4) 99,7 (14,0) 0,56 RCQ 0,92 (0,07) 0,89 (0,07) 0,15 CMB (cm) 25,4 (2,3) 23,4 (3,7) 0,04 AMB (cm ) 35,6 (3,3) 32,9 (5,2) 0,04 2 2 n: média; DP: desvio-padrão; IMC: índice de massa corpórea; CB: circunferência do braço; PCT: prega cutânea tricipital; PCSE: prega cutânea subescapular; CC: circunferência da cintura; CQ: circunferência do quadril; RCQ: relação cintura quadril; CMB: circunferência muscular do braço; AMB: área muscular do braço; Tabela 2. Distribuição da população da instituição de longa permanência (ILP) segundo índice de massa corpórea (IMC) – Botucatu/SP, novembro 2006-junho 2007 IMC (kg/m2) Total Gênero masculino n (%)* Gênero feminino n (%)* < 22 25 (46,3) 9 (47,3) 16 (45,7) 22-27 15 (27,7) 7 (36,8) 8 (22,8) > 27 14 (25,9) 3 (15,7) 11 (31,4) 54 (100) 19 (100) 35 (100) * Percentual de acordo com o total dos grupos masculino e feminino. 22 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):19-23 A tabela 4 apresenta a análise da relação de dependência para as ABVD e AIVD com baixo peso e não baixo peso. Observou-se correlação significante para as ABVD e baixo peso [p = 0,00; OR: 2,35 e intervalo de confiança de 95% (IC 95%): 1,37-3,69], o que não ocorreu para AIVD (p = 0,56; OR: 1,66; IC 95%: 0,79-3,47). contraram valores mais elevados para dependência nas ABVD (63%). Esses dados podem ser interpretados pelas diferenças das populações avaliadas. Há instituições onde as condições de dependência podem ser totais ou parciais para que o idoso seja aceito. Portanto, isso está sujeito às características da ILP. Baixo peso foi observado em 46,3%, quando analisado o total de avaliados. Em 25,9%, encontrou-se sobrepeso, sendo 15,7% no sexo masculino e 31,4% no feminino. Resultados semelhantes foram encontrados por Rauen et al.18 em estudo com idosos institucionalizados, em que 45,5% apresentaram baixo peso e 20,9%, sobrepeso. Díaz et al.6 encontraram 15,9% de idosos com baixo peso e 33,3% com sobrepeso, valores diferentes do estudo em questão. A relação de dependência para ABVD e gênero não foi estatisticamente significante (p > 0,05; OR: 1,95; IC 95%: 0,53-7,21), assim como para as AIVD e gênero (p > 0,05; OR: 3; IC 95%: 0,94-9,54). DISCUSSÃO Os indivíduos estudados foram, na maioria, do gênero feminino, como em outros estudos brasileiros com indivíduos institucionalizados18,19. A associação entre baixo peso e as ABVD mostrou-se significante. Alguns achados da literatura7-9,23,24 comprovaram esses dados entre baixo peso e capacidade funcional (ABVD e AIVD) diminuída, justificando, assim, os resultados encontrados neste trabalho. Entretanto, Huang et al.25 não encontraram essa associação. De fato, tanto o baixo peso quanto o excesso de peso podem comprometer a capacidade funcional no indivíduo idoso, conforme demonstrado na literatura, com idosos residentes em comunidade9,26,27. Em indivíduos institucionalizados, além do estado nutricional deficiente, há diversos fatores que influenciam negativamente a capacidade funcional (ABVD e AIVD), como analfabetismo, não ter moradia própria, não receber visita de familiares e amigos e ser portador de doenças crônicas2,21. De acordo com os resultados dos questionários aplicados aos idosos da ILP, observa-se que 33,4% são dependentes para a realização das ABVD. Contudo, esse valor mostra-se elevado quanto às AIVD (59,3%), por essas serem mais complexas. Assim, a habilidade do idoso em desenvolvê-las está reduzida. O grau de dependência para ABVD dos institucionalizados foi semelhante aos encontrados no estudos de Nakatani et al.20, com idosos da comunidade, e de Guedes e Silveira21, com população de ILP (40,9% e 40,3%, respectivamente). Nakatani et al.20 encontraram 58% dos idosos dependentes para as AIVD, semelhante ao presente estudo. Entretanto, Araújo e Ceolim22 en- Tabela 3. Relação de dependência baseada nas ABVD e AIVD de institucionalizados – Botucatu/SP, novembro 2006-junho 2007 Gênero ABVD AIVD Dependente n (%) Independente n (%) Dependente n (%) Independente n (%) Masculino (n = 19) 4 (21) 15 (78,9) 8 (42,1) 11 (57,8) Feminino (n = 35) 14 (40) 21 (60) 24 (68,5) 11 (31,4) 18 (33,3) 36 (66,6) 32 (59,2) 22 (40,7) Total (n = 54) Tabela 4. Relação entre baixo peso e ABVD em institucionalizados de ILP – Botucatu/SP, novembro de 2006-junho de 2007 ABVD1 AIVD2 Dependente Não dependente Dependente Não dependente Baixo peso 13 12 18 7 Não baixo peso 3 26 14 15 : p < 0,05; OR: 2,35 IC 95%: 1,37-3,69; 2: p > 0,05; OR: 1,66; IC 95%: 0,79-3,47. 1 Avaliação nutricional e funcional em idosos 23 De acordo com os resultados encontrados, conclui-se que os internos da ILP em questão apresentam risco nutricional. A dependência para as ABVD esteve diretamente relacionada ao baixo peso nesses idosos. 10. Raso V. A adiposidade corporal e a idade prejudicam a capacidade funcional para realizar as atividades da vida diária de mulheres acima de 47 anos. Rev Bras Med Esporte. 2002;8(6):225-34. A avaliação nutricional nessa população é de extrema importância para identificar possíveis riscos de complicações relacionadas à desnutrição, visto que o processo de envelhecimento por si só acarreta inúmeras modificações fisiológicas que as favorecem. Programas de acompanhamento médico e nutricional com os institucionalizados e orientação aos cuidadores devem ser inseridos em ILPs. 12. Chumlea WC, Guo S, Roche AF, Steinbaugh ML. Prediction of body weight for the nonambulatory elderly from anthropometry. J Am Diet Assoc. 1988;88:564-8. AGRADECIMENTOS Aos idosos e funcionários do Asilo Padre Euclides de Botucatu/SP e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pelo apoio financeiro concedido (Processo n° 06/54425-9). REFERÊNCIAS 1. Ramos LR. Fatores determinantes do envelhecimento saudável em idosos residentes em centro urbano: Projeto Epidoso, São Paulo. Cad Saude Publica. 2003;19(3):793-8. 2. Rosa TEC, Benício MHD, Latorre MRDO, Ramos LR. Fatores determinantes da capacidade funcional entre idosos. Rev Saude Publica. 2003;37(1):40-8. 3. Phillips WT, Haskell WL. “Muscular fitness”: easing the burden of disability for elderly adults. J Aging Phys Activity. 1995;3(3):261-89. 4. 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Nutrition and function: is there a relationship between body mass index and functional capabilities of community-dwelling elderly? J Am Geriatr Soc. 1994;42:368-73. 11. Frisancho AR. New standards of weight and body composition by frame size and height for assessment of nutritional status of adults and the elderly. The Am J Clin Nutr. 1984;40:808-19. 13. Chumlea WC, Guo S. Equations for predicting stature in white and black elderly individuals. J Gerontol. 1992;47(6):197-203. 14. Lipschitz DA. Screening for nutritional status in the elderly. Nutr Old Age. 1994;21(1):55-67. 15. Katz S, Ford AB, Moskowitz RW, Jackson BA, Jaffe MW. Studies of illness in the aged – the index of ADL: a standardized measure of biological and psychosocial function. JAMA. 1963;185:914-2. 16. Lawton MP, Brody E. Assessment of older people: self maintaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist. 1969;9:179-86. 17. The Hartford Institute for Geriatric Nursing. 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Avaliação do grau de independência de idosos residentes em instituições de longa permanência. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(3):378-85. 23. Onem Y, Terekeci H, Kucukardali Y, Sahan B, Solmazgul E, Senol MG, et al. Albumin, hemoglobin, body mass index, cognitive and functional performance in elderly persons living in nursing homes. Arch Gerontol Geriatr. 2010;50:56-9. 24. Ülger Z, Halil M, Kalan I, Yavuz BB, Cankurtaran M, Güngör E, et al. Comprehensive assessment of malnutrition risk and related factors in a large group of community-dwelling older adults. Clin Nutr. 2010;29:507-11. 25. Huang YC, Wueng SL, Cheng CH, Su KH. Nutritional status of functionally dependent and nonfunctionally dependent elderly in Taiwan. Am Coll Nutr. 2001;20(2):135-42. 26. Yan LL, Daviglus ML, Liu K, Pirzada A, Garside D, Schiffer L, et al. BMI and health-related quality of life in adults 65 years and older. Obes Res. 2004;12:69-76. 27. Larrieu S, Pérès K, Letenneur L, Berr C, Dartigues JF, Ritchie K, et al. Relationship between body mass index and different domains of disability in older persons: the 3C study. Int J Obes. 2004;28:1555-60. ARTIGO ORIGINAL A terminalidade da vida e o médico: as implicações bioéticas da relação médico-paciente terminal The end-of-life and the doctor: the bioethic’s implications of the doctor-terminal patient relationship Liliane Cristina da Silva1, Adriana Rodrigues dos Anjos Mendonça1 RESUMO Objetivo: Conhecer as considerações do médico em relação ao paciente terminal e avaliar sua atitude no que diz respeito à terminalidade da vida. Método: Estudo qualitativo-descritivo, com diretriz metodológica do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Foram entrevistados 20 médicos, com idade superior a 25 anos, responsáveis pelo tratamento de pacientes em fase terminal, atuantes em um hospital público e regional da cidade de Pouso Alegre (MG). Resultados: Com o debate sobre as considerações quanto ao paciente terminal e a observação da forma como se desenvolve a relação médico-paciente terminal, os resultados deste estudo reforçaram que o conflito entre a personalidade profissional (seu objetivismo clássico) e a realidade médica (suas limitações) norteia a relação médico-paciente terminal, induzindo o médico a julgar sua presença embaraçosa, e até mesmo inútil, próxima ao leito do paciente. No entanto, os princípios bioéticos na terminalidade da vida não se limitam apenas ao direito do paciente (e familiares) de saber a verdade, pois estabelecem, principalmente, o direito ao diálogo com o seu médico e reforçam a necessidade de uma relação de reciprocidade. Conclusão: A maioria dos médicos entrevistados neste estudo acredita ser sua missão curar, no entanto, de acordo com Hipócrates, a obrigação do médico é tratar quando possível e cuidar sempre. Diante dos princípios bioéticos, esse cuidar sempre, afirmado por Hipócrates, é entendido como sendo a presença do médico junto ao paciente, respeitando o desejo deste de falar, de ser ouvido, de obter respostas para seus anseios, numa fase em que cada evento, cada palavra, cada pensamento, cada propósito, cada decisão e cada atitude assumem um significado novo. Recebido em 08/10/10 Aceito em 21/3/11 Palavras-chave: Relações médico-paciente, doente terminal, bioética. ABSTRACT Objective: This research aims at identifying the physician’s considerations regarding the terminal patient and evaluating his attitude towards the end of life. Method: The method chosen was the qualitative-descriptive type, with methodological frame based upon Collective Subject Discourse. Twenty physicians were interviewed, who were responsible for the terminal patients’ treatment at the regional hospital, Pouso Alegre city, in Brazil. Data was reached through a semi-structured questionnaire, with two questions that were recorded and transcribed in full. Results: The discussion of the considerations about terminal patient and the observation of the development of the physician-terminal patient relationship, allows the results to reinforce that the conflict between the professional personality and the medical reality orientates the physician-terminal patient relationship, inducing the physician to judge his embarrassing presence, and even useless, near the patient’s bedstead. However, the bioethical principles about the end of life do not limit themselves only to the patient’s right of knowing the truth, but also establish the right to the dialogue with his physician and reinforce the necessity of a relationship based on reciprocity. Conclusion: Most of the physicians interviewed believe to be their mission to cure. However, according to Hippocrates, Universidade do Vale do Sapucaí (Univás), Pouso Alegre, MG. 1 Endereço para correspondência: Liliane Cristina da Silva • Rua Prefeito José Soares de Melo, 263, Centro – 37975-000 – Itaú de Minas, MG • E-mail: [email protected] A terminalidade da vida e o médico 25 the physician’s obligation is to treat when that’s possible and always take care. This care is defended on the bioethical principles as the physician’s presence near the patient, respecting his desire to speak, to be heard, to get answers, at a time when every event, word, thought, purpose, decision and action assume a new meaning. Keywords: Physician-patient relations, terminally ill, bioethic. INTRODUÇÃO O paciente terminal é reconhecido como aquele que se encontra em fase terminal de uma doença, sendo o seu óbito o desenlace esperado, independentemente da terapêutica utilizada. No entanto, conceituar o que é paciente terminal torna-se algo menos simples de ser estabelecido, uma vez que para o médico objetivar o momento terminal não é tão fácil quanto reconhecê-lo1. A situação terminal expõe ao médico, ao paciente e a seus familiares a consciência da mortalidade e da finitude da existência humana, ultrapassando o limite biológico da intervenção médica e configurando a relação médico-paciente numa dimensão profunda e delicada dentro da relação terapêutica2. Os médicos são culturalmente treinados para pensar que a morte é algo estranho à vida e que deve ser evitada a todo custo, cuja ocorrência significa um fracasso médico. Além disso, muitos veem o paciente terminal como uma oportunidade terapêutica ou como um desafio clínico a ser solucionado com a aplicação de toda tecnologia existente, e não como uma pessoa com direitos1. A ideia de que os médicos são obrigados a prolongar a vida biológica até quando for possível é recente na história da medicina, ou seja, até os anos 1970, quando a tecnologia médica era mais limitada, esgotados os recursos terapêuticos, o processo vital seguia seu curso natural. A sofisticação e a disseminação da tecnologia médica, a criação de centros de tratamentos intensivos e o uso cada vez maior de tecnologias de ponta permitiram ao médico dar por encerrada sua atuação quando nada mais pode ser feito pela unidade orgânica viva2,3. Oculta-se com isso uma das sentenças hipocráticas, que prescreve ser obrigação do médico tratar quando possível e cuidar sempre2. No estágio terminal da doença, a relação médico-paciente ganha importância maior para a bioética, uma vez que nessa fase a relação se abala diante de questões que levam o médico a concluir que sua atua­ ção em relação ao paciente já não é mais necessária. Se tudo já foi feito, então, o que fazer? O que deve ser mudado2? Baseando-se nos princípios da bioética (autonomia, beneficência e justiça), os direitos do paciente de saber a verdade, de dialogar, de decidir e de não sofrer inutilmente devem ser respeitados, principalmente na fase terminal, e ao médico cabe o cuidado desse paciente, uma vez que já não é possível tratá-lo2. No entanto, muitos médicos sentem-se torturados diante do direito que o paciente tem de saber a verdade sobre sua patologia. Alguns médicos, ao se encontrarem diante da terminalidade da vida do seu paciente, retardam ao máximo a efetivação desse direito, ignorando o fato de que a desordem patológica, ao romper o silêncio que o corpo do enfermo mantém na saúde, grita a este o que está acontecendo. Ou seja, a maioria dos pacientes, raramente, desconhece sua situação. E nessa relação médico-paciente o princípio da beneficência ultrapassa a utilização de toda tecnologia médica e enfatiza que a comunicação e o diálogo tornam-se requisito básico para que a repercussão emocional não se transforme em desordem patológica2. Alguns médicos, após vencerem o desafio de contar ao paciente a verdade sobre sua patologia, tendem, involuntariamente, à adoção de uma atitude contrária ao princípio da não maleficência, pois passam a evitar o paciente. Isso porque o reconhecimento, forçado, de que a terapêutica aplicada não solucionará o desafio clínico induz o médico a crer que sua presença torna-se embaraçosa e desnecessária junto ao leito, cortando-se a possibilidade de diálogo numa situação em que o apoio e a solidariedade tornam-se mais necessários que qualquer forma terapêutica. Além disso, cabe lembrar que o diálogo não só representa respeito à dignidade do paciente, mas também significa o reconhecimento da autonomia, da liberdade do sujeito que se afirma sobre a fragilidade que a doença e a morte testemunham2. A visão do paciente como pessoa é a base ética da relação médico-paciente. A situação terminal evidencia a essência ética dessa relação, ou seja, os fundamentos éticos dessa relação evitam que o objetivismo clínico se transforme em desafio terapêutico. A visão realista da doença e uma clara consciência do valor e da dignidade da vida resultam em apreciação justa de todos os componentes da situação terminal e reforçam que, quando o tratamento clínico atingiu o limite da possibilidade, o sentido ético da relação deve prevalecer2. 26 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):24-30 O presente trabalho teve como objetivo estudar as considerações do médico em relação ao paciente terminal e avaliar sua atitude no que diz respeito à terminalidade da vida, tentando, assim, evidenciar a importância e a polêmica suscitadas pelo tema. MÉTODO Considerando a natureza deste estudo, optou-se pela pesquisa qualitativa do tipo descritiva, adotando como referencial metodológico a Teoria das Representações Sociais (TRS) descrita por Moscovici em 19784, que apresenta grande aplicabilidade aos objetos de estudos na área de saúde, por conseguir apreender os aspectos mais subjetivos que permeiam os problemas inerentes a essa área. Para conhecer e descrever os significados sobre as considerações do médico em relação ao paciente terminal e avaliar sua atitude no que diz respeito à terminalidade da vida, sob o referencial das representações sociais, o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) constituiu-se como método escolhido, por permitir a aproximação com o fenômeno em estudo. Para Minayo, a pesquisa qualitativa responde às questões particulares, considerando como sujeito de estudo pessoas pertencentes a um grupo e com determinada condição social, com universo de significados, valores, crenças e atitudes. A pesquisa exploratória é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado, constituindo-se na primeira etapa de uma investigação mais ampla, e é desenvolvida quando o tema é pouco explorado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, podem surgir durante ou ao final da pesquisa5-7. Após aprovação deste estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Sapucaí (Univás) de Pouso Alegre, com protocolo no 796/2007, realizou-se a entrevista individual, com duas questões semiestruturadas, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), obedecendo-se à Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisa envolvendo seres humanos; as questões éticas deste trabalho foram orientadas pelas suas diretrizes e levadas, pelo investigador, ao conhecimento dos sujeitos da pesquisa. O estudo, realizado no período de março de 2008 a fevereiro de 2009, teve como sujeitos os médicos, com idade superior a 25 anos, responsáveis pelo tratamento de pacientes em fase terminal, atuantes no Hospital Público, de caráter regional, da cidade de Pouso Alegre, MG. A amostra foi constituída por 20 médicos. As entrevistas investigaram as percepções apresentadas pelos médicos quanto à relação médico-paciente terminal e seus conflitos bioéticos. Cada entrevista foi gravada em fita e depois transcrita para análise. Para a análise e a apresentação dos resultados, utilizou-se o DSC, redigido na primeira pessoa do singular, composto por expressões-chave (ECH) que tiveram as mesmas ideias centrais (IC) e a mesma ancoragem (AC), obedecendo rigorosamente à ordem das seguintes etapas: – 1ª etapa: as respostas foram ouvidas várias vezes, e só após melhor compreensão da ideia geral e do discurso é que foi transcrita literalmente. – 2ª etapa: leitura total das respostas de cada um dos entrevistados, seguida da leitura separada de todas as respostas para a questão analisada. – 3ª etapa: transcrição das respostas para a questão 1, sendo marcadas as ECH em itálico e indicadas as IC, que representaram a descrição das ECH, e não a sua interpretação. Mesmo procedimento para todas as questões. – 4ª etapa: transcrição individual de cada ideia central com as suas respectivas ECH. – 5ª etapa: extração do tema de cada uma das perguntas, agrupando-se a suas respectivas IC, os sujeitos, representados pelo número de entrevistados, e as frequências de ideias, por meio de quadros. Finalmente, construção dos DSC separadamente de cada ideia central, com as suas respectivas ECH. RESULTADOS Os resultados obtidos com a pesquisa semiestruturada foram colhidos dos relatos dos médicos, agrupados e analisados quanto à resposta dada para as perguntas: “Para você, o que representa o paciente terminal?” e “Para você, o que significa a relação médico-paciente terminal?”. A primeira questão apresentou como resultado cinco ideias centrais: Frustração (4); Desafio (8); Irreversível (6); Alguém que cumpriu sua missão (1); Paciente sensível (1), numa frequência total de ideias igual a 20 (Tabela 1). Dentre as cinco ideias centrais colhidas, a frequên­ cia maior foi para o desafio clínico (40%), seguida por irreversível (30%) e frustração (20%); a menor frequência foi para alguém que cumpriu sua missão e paciente sensível. Os discursos sobre as ideias centrais A terminalidade da vida e o médico mais significativos (frustração, desafio e irreversível, respectivamente) foram: “A primeira sensação que nós temos quando estamos lidando com o paciente terminal é de frustração perante a doença, revolta de não ter meios de impedir aquele final precoce, e ter que aceitar a minha limitação humana é muito difícil, porque a gente está naquele âmbito de tentar ajudar as pessoas e você se conformar com a sua impotência é muito difícil.” “Eu penso que o paciente terminal é um desafio. Nós não o consideramos como terminal, nós não trabalhamos com paciente terminal, porque é um momento de superação do médico, ele é um paciente em que a gente vai continuar investindo.” “Paciente terminal é aquele para cuja doença não exige ou não existe mais tratamento. Trata-se de um paciente muito delicado em que, vamos dizer assim, o investimento nesse paciente é praticamente nulo. Sendo assim, representa um paciente que nós fechamos um diagnóstico que num temos mais condições de tratar, pois passou da terapêutica, ou seja, ele mantém uma proposta terapêutica de maior irreversibilidade do quadro e está internado apenas para suporte clínico porque não tem um tratamento eficiente.” A segunda questão versou sobre a relação médico-paciente terminal e apresentou 11 ideias centrais. A maioria das IC para essa questão compõe o grupo que evidencia a dificuldade de posicionamento do médico ante a terminalidade. São elas: Complicada (2), Sofrida (1), Focaliza o médico (3), Superficial (1), Afastamento (2), Difícil (2). As demais ideias encontradas, não pertencentes ao grupo anterior, foram: Pacientes são iguais entre si (2), Sincera (1), Focaliza a família do paciente (2), Conforto para o paciente (3), Abordagem diferente (1), numa frequência total de ideias centrais igual a 20 (Tabela 2). Comprovando as observações feitas em relação à primeira questão deste estudo, a frustração, proveniente do reconhecimento forçado do limite terapêutico e da ação médica, e a irreversibilidade do quadro levam o médico a assumir uma relação médico-paciente terminal superficial e de afastamento, como se observa nos relatos a seguir: 27 Ainda revelando o conflito entre personalidade profissional e realidade médica, as observações feitas na primeira questão sobre certa da recusa do médico em reconhecer a limitação terapêutica e sua própria limitação profissional, estabelecendo um desafio terapêutico a ser “solucionado”, são reforçadas ao se observar a existência de uma relação médico-paciente terminal exclusivamente focada na ação do médico. Como se verifica a seguir: “Eu acho que a relação médico-paciente é a relação primeiro do médico consigo próprio, da maneira como ele lida com essa situação, como ele coloca essa situação, como ele se comporta perante esse quadro com o qual certamente não é muito fácil você lidar não, e o que se espera do tratamento em termos dessa relação.” “Essa relação médico-paciente terminal exige toda uma preparação do médico para cuidar no momento em que ele sabe que aquela doença não vai ter uma solução em termos de cura ou de manter o paciente no seu ciclo normal de vida. O paciente terminal, ele assume assim, deve receber uma assistência mais pronta.” “A gente não pode fazer nada no que diz respeito a aumentar a sobrevida. A gente tem que fazer ele sentir então que o médico quer aliviar o sofrimento dele.” Um dado extra obtido nesta pesquisa foi que alguns dos entrevistados, que expressaram ser a ação do médico o centro da relação médico-paciente terminal, veem a humanização da relação médico-paciente como sinônimo de ação terapêutica voltada somente para o alívio da dor do paciente. Conforme se observa a seguir: “Na relação médico-paciente, acho que o principal é você trazer um conforto, né? É você fazer analgesia, deixar o paciente o mais confortável possível. É humanizado, né? Sem fazer o paciente sofrer mais, né?” “É fundamental, porque nessa fase terminal a única coisa que o paciente vai ter, o que resta pra ele, é essa relação médica. Então tem que ser de uma forma bem humana, que possa realmente diminuir o sofrimento dele nessa fase.” “A relação se torna na maioria das vezes muito superficial, porque nós nos sentimos muitas vezes impotentes de estar mediante a isso.” “Já que a gente não pode fazer nada no que diz respeito a aumentar a sobrevida. O que a gente tem que fazer é ser solidário. É exatamente fazer ele sentir, então, que o médico quer aliviar o sofrimento dele.” “É uma relação difícil, porque não existe relação, né? E infelizmente não tem mais o que você possa fazer, a não ser tirar a dor daquele paciente.” “Você não pode só chegar e ser mecânico. Você tem que mostrar pra ele que você tá ali do lado dele, pra diminuir o sofrimento dele.” 28 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):24-30 Mediante essas ideias, o conceito de humanização da relação médico-paciente terminal se fez presente em apenas dois discursos obtidos neste estudo, como se verifica nos trechos a seguir: “Pra você lidar com esse tipo de paciente, você tem que ter uma abordagem diferente, você tem que saber lidar com a família. Tem que saber lidar com o paciente de um jeito diferente. Você vai ter uma abordagem mais íntima mesmo com os familiares e com o paciente.” “Então essa relação médico-paciente terminal é uma relação que a gente tem que construir, ser construída no dia a dia. Tem que ser uma relação sincera. É você se colocar diante do seu paciente terminal: ‘Olha eu tô aqui do seu lado, e independente do que acontecer, você não está sozinho, a gente vai usar o que for preciso pra você não sofrer’. Não é tirar a esperança, mas eu acho que a sinceridade tem que ser o pilar da relação.” Por meio dos resultados obtidos com este estudo, diante da terminalidade da vida, o conflito entre a personalidade profissional (seu objetivismo clássico) e a realidade médica (suas limitações) norteia a relação médico-paciente terminal, na qual todos os princípios bioéticos são infringidos pelo médico. DISCUSSÃO A bioética emerge no contexto científico como uma reflexão sobre tudo o que interfira no respeito à qualidade e à dignidade da vida, representando o resgate da ética, da condição plena de cidadania e do respeito às diferenças. O presente estudo constatou que a maioria dos médicos entrevistados, ao insistir nos aspectos objetivos da relação médico-paciente terminal (objetivismo esse resultante da insegurança perante questões éticas que envolvem a terminalidade da vida), infringe todos os princípios bioéticos, uma vez que eles privam os pacientes de uma relação médico-paciente de fato personalizada, na qual se evitam os formalismos terapêuticos; na qual a individualidade do paciente, suas angústias, pensamentos e anseios são respeitados; na qual por meio do diálogo o médico oferece ao paciente conforto, apoio e confiança8. Moreira Filho8 comenta que o contato médico-paciente é uma relação altamente específica, porque a presença ou a possibilidade da doença dota-a de características dificilmente encontráveis em qualquer outra relação humana. A todo instante, são colocadas diante do médico a imprevisibilidade do ser humano, as imperfeições da ciência, as suas próprias limitações, a realidade da dor e os questionamentos sobre a morte. Essa angústia se repete em cada contato com um novo paciente e só não é evidenciada porque o médico, ao vivê-la, repetidamente, elabora mecanismos nem sempre saudáveis para confrontá-la. A preparação da personalidade profissional dentro das universidades de medicina prioriza a objetividade, destinando maior atenção a anomalias físicas e a exames laboratoriais. Porém, a realidade prática do médico, ao confrontar-se com o sofrimento, com a insegurança ante a enfermidade, com a constante presença da morte, o induz ao reconhecimento forçado das limitações da ciência e de suas próprias limitações como profissional. No entanto, o resultado entre o confronto dessa personalidade profissional e as limitações de sua realidade prática tem como alvo o paciente9. As observações em torno da primeira questão deste estudo reforçaram que, embora se ofereça todo o suporte clínico necessário para alívio da dor e desconforto do paciente terminal, o reconhecimento da limitação terapêutica, quando se fecha o diagnóstico para esse paciente como irreversível, e a frustração, proveniente do reconhecimento forçado da sua limitação profissional, induzem o médico a julgar sua presença inútil e embaraçosa junto ao leito, levando o paciente ao isolamento. Além disso, o mesmo estudo constatou que a recusa do médico em reconhecer a limitação terapêutica e sua própria limitação profissional despersonificam o paciente terminal ao classificá-lo como um desafio terapêutico a ser “solucionado” a qualquer custo1,3,9. Infelizmente, muitos médicos resolvem essa questão despersonalizando o contato com os enfermos e adquirindo uma crescente “habilidade” para se manterem à distância dos aspectos subjetivos deles. No entanto, de acordo com Campos (2005)10, entre outros fatores, a humanização envolve uma reforma que consiga combinar a objetivação científica do processo saúde/doença/intervenção com a incorporação do sujeito e de sua história desde o momento do diagnóstico até o da intervenção. Para Benevides e Passos11, humanização corresponde à alteração dos modos de fazer, de trabalhar, de produzir no campo da saúde, a fim de ultrapassar as fronteiras dos diferentes núcleos de saber/poder que se ocupam da produção da saúde. A autonomia na terminalidade da vida geralmente é vista e praticada pelos médicos como sendo apenas A terminalidade da vida e o médico o direito do paciente (e familiares) de saber a verdade, estabelecendo que o consentimento informado é uma condição indispensável na relação médico-paciente. A fragilidade provocada pela doença torna presente, na situação terminal, a consciência da finitude da vida. Ao ultrapassar os limites biológicos da intervenção médica, configura-se a relação médico-paciente terminal numa dimensão mais profunda. O isolamento do paciente, característico da frustração ante a limitação terapêutica e de sua ação como médico, priva o paciente da possibilidade de diálogo. A maioria dos médicos entrevistados neste estudo acredita ser sua missão curar, no entanto, de acordo com os dizeres de Hipócrates, a obrigação do médico é tratar quando possível e cuidar sempre2. Esse cuidado é defendido pelo princípio da beneficência e autonomia como sendo a presença do médico junto ao paciente, respeitando o desejo deste de falar, de ser ouvido, de obter respostas para seus anseios, numa fase em que cada evento, cada palavra, cada pensamento, cada propósito, cada decisão e cada atitude assumem um significado novo2. Nesse contexto, diante da necessidade do paciente de se ver por meio dos olhos do médico, para avaliar sua situação e administrar sua relação com a doença, os princípios bioéticos, da não maleficência e da justiça reforçam a necessidade de uma relação de reciprocidade, evitando a despersonificação do paciente e a visão deste como um desafio clínico a ser solucionado, com a aplicação de terapêuticas desnecessárias e desrespeitosas para elevar o prestígio profissional do médico2. Os avanços tecnológicos aplicados à medicina criaram uma possibilidade teórica de retardar indefinidamente a morte, no entanto, por meio dos dados deste estudo, pode-se dizer que esses avanços induzem ao objetivismo técnico do profissional e a uma insegurança deste ao lidar com sua limitação profissional, bem como com os sentimentos inerentes à terminalidade da vida, e em nada contribuem para o homem (médico) adquirir consciência de que diante dele há outro homem8. 29 Os dados apresentados neste trabalho reafirmam que em primeiro lugar é indispensável haver um consenso em relação ao paciente terminal, para depois se discutirem as possíveis condutas. Os objetivos devem ser comuns entre familiares e equipe médica, sempre visando a mais conforto e menos sofrimento do paciente e a uma relação de reciprocidade embasada no diálogo entre o médico, o paciente e a família, que se consolida como a principal e a primeira terapêutica a ser adotada2. CONCLUSÃO Diante desses resultados, reafirma-se que o diálogo não só representa respeito à dignidade do paciente, mas também significa a prática da beneficência, o reconhecimento da autonomia do paciente, da liberdade do sujeito que se afirma sobre a fragilidade que a doença e a morte testemunham3, e evidencia-se a necessidade dos médicos de compreenderem os processos pelos quais passa o paciente terminal, constituindo-se como sua real missão médica a tarefa de colocar o paciente em condições de encontrar ele próprio um sentido para a sua vida8. A personificação da relação médico-paciente terminal mostrou-se, neste estudo, como essência ética dessa relação, mediante a qual se tem uma visão realista da doença; uma clara consciência do valor e da dignidade da vida, por meio da qual se reforça que o dever do médico é curar às vezes, aliviar frequentemente e confortar sempre8, estabelecendo que, quando o tratamento clínico atingiu o limite da possibilidade, o sentido ético da relação deve prevalecer2. AGRADECIMENTOS Aos familiares, pelo companheirismo incondicional; à professora Adriana, pela orientação, lições preciosas, sugestões e paciência; à Fapemig-Probic/Univás, pela bolsa de incentivo à pesquisa; e aos professores e colegas, pelas críticas, sugestões e incentivo. 30 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):24-30 Tabela 1. Considerações sobre o paciente terminal 1 – Para você, o que representa o paciente terminal? Quadro 1 – Ideia central, sujeito e frequência do tema “Considerações sobre o Paciente terminal” Ideia central Sujeito Frequência 1, 2, 13, 17 4 3, 8, 9, 11, 14, 15, 16, 19 8 4, 5, 7, 10, 18, 20 6 Alguém que cumpriu sua missão 6 1 Paciente sensível 12 1 Frustração Desafio Irreversível Total 20 Tabela 2. Relação médico-paciente terminal 2 – Para você, o que significa a relação médico-paciente terminal? Quadro 2 – Ideia central, sujeito e frequência do tema “Relação médico-paciente terminal” Ideia central Sujeito Frequência 1, 20 2 Complicada Sofrida 2 1 4, 8, 9, 3 5 1 Afastamento 6, 16 2 Difícil Focaliza o médico Superficial 10,17 2 Pacientes são iguais entre si 3, 7 2 Sincera 12 1 18, 19 2 11, 13, 14 3 15 1 Focaliza a família do paciente Conforto para o paciente Abordagem diferente Total REFERÊNCIAS 1. Gutierrez Pilar L. O que é o paciente terminal? Rev Assoc Med Bras [periódico na Internet]. 2001 Jun [acesso em 2007 Fev 15]; 47(2):92. 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Projeto e relatórios de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo: Atlas; 1998. 8. Moreira Filho AA. Relação médico-paciente – teoria e prática: o fundamento mais importante da prática médica – CRM-MG. 2. ed. Belo Horizonte: COOPMED Editora Médica; 2005, p. 3-17. 9. Alves E. Termo de consentimento livre e esclarecido. Ética Revista. 2005;3(2):26-7. 10. Campos GWS. Humanização da saúde: um projeto em defesa da vida. Interface. [periódico na Internet]. 2005 Mar/Ago [acesso em 2009 Mar 15]; 9(17):398-400. Disponível em: <http://www.scielo. br/pdf/icse/v9n17/v9n17a16.pdf>. 11. Benevides R, Passos E. A humanização como dimensão pública das políticas de saúde. Ciênc Saúde Coletiva [periódico na Internet]. 2005 Set [acesso em 2008 Dez 10]; 10(3):561-71. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-81232005000300014&lng=pt>. [doi: 10.1590/ S1413-81232005000300014]. relato de caso Amnésia global transitória: relato de caso Transient global amnesia: case report Francisca Magalhães Scoralick1, Wladimir Kummer de Paula2 Recebido em 13/12/10 Aceito em 20/2/11 RESUMO Apresenta-se neste texto relato de caso de um paciente de 60 anos com distúrbio isolado da memória anterógrada, de duração de aproximadamente 12 horas, com resolução completa do seu sintoma. A forma de apresentação e evolução e a exclusão de outras condições clínicas levaram ao diagnóstico de amnésia global transitória (AGT). A AGT geralmente resulta em grande angústia para o paciente e seus familiares, apesar de ser uma condição considerada benigna. A fisiopatologia ainda não está elucidada e é no idoso a sua maior incidência. Apesar de a queixa de memória ser frequente nessa faixa etária, a AGT é assunto pouco discutido na geriatria. Palavras-chave: Transtorno de memória, amnésia global transitória, idoso. ABSTRACT In this text we describe a case report of a 60 years old patient with a 12 hour anterograde memory disturbance and a complete resolution of this symptom after. The presenting symptom, a complete and spontaneous recovery and the exclusion of other neurologic conditions were consistent with the diagnosis of transient global amnesia (TGA). Transient global amnesia generally causes profound upset in the patients and their families although it is considered a benign condition. The physiopathology is yet to be elucidaded and the incidence is higher in the elderly. Memory complaints are very much discussed in this age group although the TGA is not much debated in geriatrics. Keywords: Memory disorder, transient global amnesia, aged. INTRODUÇÃO 1 Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). 2 Hospital Sarah Brasília, Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. A amnésia global transitória (AGT) é um estado reversível caracterizado por mau funcionamento agudo e bem limitado da memória declarativa episódica, sem qualquer alteração da função motora, sensitiva e perceptiva ou rebaixamento do nível da consciência. Comumente, episódios de AGT são motivo de visitas a serviços de urgência, e os diagnósticos aventados podem ser os mais variados possíveis, desde acidentes vasculares cerebrais até transtornos dissociativos1. Conceitualmente, a AGT não deixa déficits, mas provoca grande preocupação no paciente e familiares. Sintomas vegetativos residuais como cefaleia, náusea, sensação de instabilidade e alterações subclínicas neuropsicológicas podem persistir por alguns dias. Os médicos são Endereço para correspondência: Francisca Magalhães Scoralick • Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), SMHN – Área Especial, Asa Norte – 70335-900 – Brasília, DF • Telefax: (61) 3327-8471 • E-mail: [email protected] 32 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):31-3 em geral questionados quanto à gênese da alteração cerebral e se há implicação futura para o paciente, em especial se a AGT constitui fator de risco para o desenvolvimento de demência. Apesar de 75% dos episódios ocorrerem entre os 50 e 80 anos2, a AGT é assunto pouco discutido na geriatria. RELATO DO CASO prolongar-se por até 24 horas. Além da amnésia anterógrada e de pequeno acometimento da memória retrógrada (horas, dias, semanas, raramente anos), não há alteração do nível da consciência, do exame sensitivo-motor, da personalidade ou outras alterações cognitivas. O conteúdo mnéstico não explícito, tal como escrever, dirigir, cozinhar e olhar as horas, é preservado. O mesmo ocorre com o conteúdo declarativo semântico, isto é, os conceitos que permitem a relação da pessoa com o mundo. De forma geral, a explicação neuropsicológica mais provável baseia-se na disfunção do córtex temporal mesial, incluindo a formação hipocampal bilateralmente2. No caso apresentado, o paciente, apesar de questionamentos repetitivos, manteve-se cooperativo e atendeu aos comandos do examinador (Tabela 2). Paciente de 60 anos, do sexo masculino, psicólogo, foi atendido em unidade de emergência, levado por familiares que o encontraram confuso momentos antes. O sintoma iniciou quando, após ministrar uma aula, o paciente precisou do auxílio do filho, pois não encontrou seu carro no estacionamento. Ao chegar, o filho encontrou o paciente consciente e o aguardando em pé no estacionamento, com discurso coerente, porém repetitivo. Familiares notaram no comportamento algo indiferente, pouco reativo e por demais sorridente. O discurso não trazia o fato de que era necessário organizar-se para uma viagem que ocorreria naquele mesmo dia. Diante da estranheza do quadro, a família levou-o para atendimento em unidade de emergência médica. Ao exame, ele encontrava-se cooperativo, sem alterações sensitivo-motoras, porém não se recordava de fatos recém-ocorridos, como a sua aula, tampouco de compromissos que realizaria naquele mesmo dia. A tomografia computadorizada de crânio foi realizada e não evidenciou alterações, assim como o eletroencefalograma (EEG), o eletrocardiograma e os exames laboratoriais de rotina. Após uma noite em observação e com a recuperação completa da memória, o paciente foi liberado sem se recordar como havia chegado ali. Dois dias após, realizou uma ressonância de encéfalo que não mostrou alterações morfológicas ou evidências de lesão isquêmica aguda. Nenhum sintoma ou sinal residual foi percebido pelos familiares ou pelo paciente, que retomou às suas atividades sociais e laborais sem qualquer prejuízo. Não há consenso na literatura médica quanto à fisiopatologia da AGT. Algumas hipóteses têm sido levantadas para explicar a questão: etiologia vascular (arterial e venosa), enxaqueca ou depressão alastrante de Leão, epilepsia ou desordem psicogênica. Tradicionalmente, a explicação patológica mais aceita era a secundária à isquemia arterial. No entanto, estudos de caso-controle e uma metanálise evidenciaram que fatores de risco ateroscleróticos (como hipertensão, diabetes e dislipidemia) não estão associados à AGT1,7-9. Outros estudos de caso-controle encontraram associação entre enxaqueca e AGT. A depressão alastrante de Leão, responsável pela aura migranosa, apresenta-se como um mecanismo para explicar tão súbita, limitada e temporária manifestação clínica10. No entanto, os pacientes raramente tinham enxaqueca meses antes da AGT, indicando que esta não parece ser reflexo de um episódio de enxaqueca, com ou sem aura. DISCUSSÃO Tabela 1. Critérios diagnósticos da AGT por Caplan e Hodges A incidência de AGT entre a população geral é de 5,2 a 10 por 100 mil pessoas por ano, e naqueles com mais de 50 anos é de 23,5 a 32 por 100 mil por ano. O diagnóstico é feito em bases clínicas, utilizando os critérios de Caplan4 e Hodges5 (Tabela 1), auxiliado pela exclusão de outras causas por meio de exames complementares. Caracteriza-se por um distúrbio súbito e transitório da memória anterógrada que usualmente dura de quatro a seis horas, podendo Fatores desencadeantes como exercícios físicos extenuantes, contato com água ou alterações na temperatura corporal, estresse psicológico e ansiedade são identificados em até 90% dos pacientes2,3. História de recorrência é incomum6. Presença de amnésia anterógrada, testemunhada por um observador Ausência de perda de consciência ou da identidade pessoal Dano cognitivo limitado à amnésia Ausência de sinal focal neurológico ou sinal de epilepsia Ausência de história recente de trauma craniano ou epilepsia Resolução dos sintomas em até 24 horas Sintomas vegetativos leves (cefaleias, náusea e tonteira) podem estar presentes durante a fase aguda Amnésia global transitória Tabela 2. Guia prático para diagnóstico à beira do leito de AGT Sinais que suportam o diagnóstico Houve exercício físico extenuante ou algum evento emocional relevante que precedesse o início dos sintomas? Os sintomas são limitados à perda de memória? O paciente faz repetitivamente a mesma pergunta? O paciente é cooperativo, atende às solicitações e é capaz de nomear coisas corretamente? 33 lacionam à síndrome demencial. Apesar da fisiopatologia não ser totalmente elucidada, sabe-se que o prognóstico é benigno, sem correlação com risco de ataque isquêmico transitório (AIT) ou deterioração progressiva da memória e outras funções cognitivas. Uma vez que o diagnóstico diferencial da AGT inclui doenças prevalentes no idoso, faz-se necessário seu conhecimento pelos geriatras. Sinais que não suportam o diagnóstico Os autores declaram não apresentar nenhum conflito de interesse. Existem indicadores de hipoglicemia, trauma, convulsão ou alterações recentes de medicação? Os autores contribuíram para a execução de todas as etapas do projeto de forma semelhante. Há evidência de outros sinais neurológicos focais? O paciente está agitado, sonolento ou obnubilado? O paciente pode contar detalhes ou curso temporal do episódio agudo? Acometimento apenas da memória retrógrada? Episódios repetitivos de amnésia (mais de três por ano)? A amnésia transitória é uma das manifestações da epilepsia e foi aventada como uma das hipóteses de AGT. No entanto, em 47 pacientes que foram submetidos a EEG durante o episódio de AGT, não foi evidenciada descarga epiléptica em nenhum deles11. Outros estudos sugerem a alteração reológica venosa cerebral como outro possível mecanismo causador da AGT2. A hipótese de tratar-se de uma desordem psicogênica pode ser mais bem explicada bioquimicamente pela liberação excessiva de neurotransmissores excitatórios no lobo temporal, afetando transitoriamente a função hipocampal pelo mecanismo de excitoxicidade. Outra explicação seria a hiperventilação que ocorre durante a crise, levando a vasoconstrição e redução do fluxo cerebral12. O diagnóstico diferencial deve incluir, além de ataque isquêmico transitório (AIT) e epilepsia, amnésia pós-traumática, hipoglicemia e intoxicação por drogas como hipnóticos, benzodiazepínicos e antidepressivos. Por tratar-se de um diagnóstico de exclusão, sugere-se que a ressonância magnética do encéfalo e o EEG sejam realizados em todos os pacientes. REFERÊNCIAS 1. Quinette P, Guillery-Girard B, Dayan J, De la Sayette V, Marquis S, Viader F, et al. What does transient global amnesia really mean? Review of the literature and thorough study of 142 cases. Brain. 2006;129:1640-58. 2. Bartsch T, Deuschl G. Transient global amnesia: functional anatomy and clinical implications. Lancet Neurol. 2010;9:205-14 3. Miller JW, Petersen RC, Metter EJ, Millikan CH, Yanagihara T. Transient global amnesia: clinical characteristics and prognosis. Neurology. 1987;37(5):733-7. 4. Caplan L. Transient global amnesia. In: Vinken PJ, Bruyn GW, Klawns HL, eds. Handbook of clinical neurology. Amsterdam: Elsevier; 1985, p. 205-18. 5. Hodges JR, Warlow CP. Syndromes of transient amnesia: towards a classification: a study of 153 cases. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1990;53:834-43. 6. Bartsch T, Alfke K, Stingele R, Rohr A, Freitag-Wolf S, Jansen O, et al. Selective affection of hippocampal CA-1 neurons in patients with transient global amnesia without long-term sequelae. Brain. 2006;129(Pt 11):2874-84. 7. Zorzon M, Antonutti L, Mase G, Biasutti E, Vitrani B, Cazzato G. Transient global amnesia and transient ischemic attack: natural history, vascular risk factors, and associated conditions. Stroke. 1995;26(9):1536-42. 8. Chen ST, Tang LM, Hsu WC, Lee TH, Ro LS, Wu YR. Clinical features, vascular risk factors, and prognosis for transient global amnesia in Chinese patients. J Stroke Cerebrovasc Dis. 1999;8(5):29-9. 9. Enzinger C, Thimary F, Kapeller P, Ropele S, Schmidt R, Ebner F, et al. Transient global amnesia: diffusion-weighted imaging lesions and cerebrovascular disease. Stroke. 2008;39(8):2219-25. 10. Teive HA, Kowacs PA, Maranhão Filho P, Piovesan EJ, Werneck LC. Leao’s cortical spreading depression: from experimental “artifact” to physiological principle. Neurology. 2005;65(9):1455-9. CONCLUSÃO 11. Jacome DE. EEG features in transient global amnesia. Clin Electroencephalogr. 1989;20(3):183-92 A AGT acomete predominantemente idosos e, por ser uma doença da memória, muitos pacientes a re- 12. Pantoni L, Lamassa M, Inzitari D. Transient global amnesia: a review emphasizing pathogenic aspects. Acta Neurol Scand. 2000;102(5):275-83. RELATO DE EXPERIênCIA Atendimento de pacientes com doença de Alzheimer na clínica odontológica: desafios e diretrizes The challenges and guidelines in caring patients with Alzheimer’s disease in clinical dentistry Mirtes Helena Mangueira da Silva Dias1, Suzana Carielo da Fonseca2 RESUMO A incidência e o desenrolar da manifestação sintomática progressiva da demência do tipo Alzheimer (DA) é uma questão que se impõe a pesquisadores em diversos campos disciplinares e clínicos. Neste trabalho, discute-se a especificidade do manejo clínico-odontológico de tais pacientes, tanto na instância diagnóstica quanto na terapêutica propriamente dita. O objetivo desta pesquisa foi identificar possibilidades de obtenção da cooperação de pessoas portadoras de DA no tratamento odontológico, bem como o envolvimento do familiar/cuidador, visando a melhores resultados da intervenção clínica. Durante 24 meses, entre fevereiro/2004 e fevereiro/2006, foram assistidos, em ambulatório e/ou em domicílio, 51 pacientes com DA, do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, com idade entre 60 e 91 anos. Eles foram inseridos em três planos específicos de tratamento odontológico, segundo os estágios inicial, intermediário e avançado da doença, baseados no Manual da Doença de Alzheimer da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). Os resultados foram: Plano de Tratamento I – foram assistidos 39 pacientes, tratados em ambulatório, com a presença opcional do familiar e sem sedação; Plano de Tratamento II – 8 pacientes foram tratados em ambulatório, com a presença do familiar em todas as sessões e sem necessidade de sedação; Plano de Tratamento III – foram assistidos 4 pacientes, e o tratamento foi realizado em domicílio. Em dois casos, houve necessidade de sedação. Os resultados mostraram que a participação efetiva do cuidador, bem como a aposta no trabalho relacional com o paciente, constitui-se em base fundamental para obter sucesso terapêutico em todos os estágios da doença. Recebido em 13/12/10 Aceito em 23/2/11 Palavras-chave: Doença de Alzheimer, odontologia geriátrica, assistência odontológica a doentes crônicos. ABSTRACT The occurrence and the development of progressive, symptomatic manifestations of dementia of Alzheimer’s type (AD) are questions that researchers in different disciplinary and clinical fields must be concerned. This paper discusses the specifities of how the patients should be treated, both in the diagnostic phase and the treatment itself. The objective of this study was to identify ways of obtaining the cooperation of people with Alzheimer’s disease during the odontological treatment; also the involvement of family/caretaker to achieve better results in clinical intervention. During 24 months between February 2004 and February 2006, 51 patients with AD – age group between 60 and 90 years old were examined/followed in the outpatient clinic (Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo) or at home. They were inserted in three distinct odontological treatment plans, according to the early, moderate or late stages of the disease, based on Alzheimer’s disease guide from Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). The results were: Treatment plan I – 39 patients all of them treated in the outpatient clinic with the optional presence of a family member/caretaker and no sedation; Treatment plan II – 8 patients all of them treated in the outpatient clinic with the presence of a family member in all appointments and no need for sedation; Endereço para correspondência: Mirtes Helena Mangueira da Silva Dias • Rua Nemer Rahal, 59, Saúde – 04139-040 ­­– São Paulo, SP • Telefones: (11) 5072-6931/(11) 9222-1088 • E-mail: [email protected] Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) de São Paulo. 2 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). 1 Doença de Alzheimer na clínica odontológica 35 Treatment Plan III – 4 patients were assisted at their homes. In two of these cases, there were needs for sedation. The results showed that the effective participation of the caretaker; as well as the commitment to the relationship work with the patient, constitute an essential requirement for therapeutic success in all stages of the disease. Keywords: Alzheimer’s disease, geriatric dentistry, dental care for the chronically ill. INTRODUÇÃO Com início insidioso e deterioração progressiva, a demência do tipo Alzheimer (DA) é uma patologia neurodegenerativa de origem ainda misteriosa e incurável, que atinge, atualmente, entre 17 e 25 milhões de pessoas, no mundo, com mais de 65 anos de idade. Esse número representa 70% do conjunto de doenças que afetam a população geriátrica. No Brasil, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz)1, há cerca de 1.200.000 sujeitos com DA, cuja incidência é a terceira maior causa de morte em países desenvolvidos, depois das doenças cardiovasculares e do câncer. A DA, que pode impor uma condição de fragilização à velhice, tem suscitado uma gama de questões (teóricas e clínicas) e, em diferentes abordagens, discussões que voltam o foco para a identificação de especificidades implicadas no atendimento a tais pacientes. Neste trabalho, a reflexão é movimentada a partir da hipótese de que uma intervenção clínica, para se viabilizar – inclusive no campo da odontologia –, tem como base o necessário estabelecimento de uma relação de confiança entre terapeuta e paciente2. Isso significa que, do lado do paciente, está em causa a suposição de que o clínico “sabe como fazer” para enfrentar a sua condição sintomática específica. Por sua vez, do lado do terapeuta, é preciso considerar que o êxito do tratamento depende, muitas vezes, da necessidade de se levarem em conta demandas singulares implicadas em cada caso. À base comum que orienta ações no exercício da clínica odontológica se acrescenta, então, a necessidade de intervenções específicas suscitadas a cada atendimento, inclusive sutilezas subjetivas que se impõem à relação terapeuta-paciente. No que diz respeito ao atendimento odontológico de pacientes com DA, algumas características específicas relativas ao quadro patológico devem estar, portanto, no horizonte do clínico, quais sejam: a progressão da doença pode levar os pacientes a apresentarem dificuldades cada vez mais acentuadas para a realização de atividades de vida diária (AVDs)3,4, tais como vestir-se, alimentar-se, locomover-se, banhar-se. Como a realização da higiene bucal insere-se nesse rol, não se deve marginalizar o fato de que a dificuldade para mantê-la pode responder por um estado bucal precário, com aumento da prevalência de doença periodontal e cárie. Os cuidados odontológicos específicos devem, então, ser ministrados pelo profissional desde o início da DA, com objetivo de prevenir doenças bucais nos estágios mais avançados. Nessa perspectiva, Goiato et al.5 afirmam: “[...] os indivíduos portadores dessa demência apresentam maiores problemas orais em relação aos indiví­duos sem demência. Portanto, cabe ao cirurgião-dentista prever o declínio da saúde oral dos pacientes com essa doença, adotando medidas preventivas, como aplicação tópica de flúor, aplicação de clorexidina, restabelecer a função mastigatória dos pacientes portadores de próteses e estimular o paciente a realizar retornos frequentes ao cirurgião-dentista. Além disso, deve-se advertir para que os cuidadores e membros da família assistam a higiene oral do paciente”. A afirmação acima está em consonância com uma tendência dominante no campo odontológico geriá­ trico, qual seja: no atendimento de pacientes com DA, é preciso, de alguma forma, assegurar que o tratamento preventivo seja realizado. Vale assinalar que, em estágios mais avançados da manifestação da doen­ ça, o uso da anestesia geral para realização dos procedimentos odontológicos torna-se, na maioria dos casos, condição necessária. Entretanto, Fernandes e Ruiz Neto6 advertem “que a idade avançada (65 anos ou mais) constitui fator de risco importante para as complicações pulmonares no pós-operatório (CPP)”. Tendo isso em vista, pode-se avaliar a importância das ações preventivas desde o início da doença. Na literatura pertinente ao tema7, ressalta-se o importante papel dos “cuidadores” na promoção da saúde bucal de idosos acometidos pela DA. A inclusão da família (cuidadores) no processo de tratamento tem dupla função: de um lado, ela pode tornar-se coadjuvante importante (cooperadora) e, de outro, pode dar-lhes o suporte necessário (informações desmistificadoras, escuta para os conflitos que emergem, busca de soluções para alguns problemas enfrentados etc.) para que se posicionem melhor ante o drama que é a demência. Isso não significa, entretanto, a exclusão da participação do paciente. Ao contrário, a avaliação da possibilidade de inclusão dele no proces- 36 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):34-9 so do tratamento deverá ser sempre avaliada pelo cirurgião-dentista. Essa afirmação encontra sustentação no estudo sobre DA encaminhado pelo psicanalista Messy8, autor que faz um alerta bastante importante: “não é porque a comunicação é interrompida que não há apelação, nem recepção [...] com tais doentes é preciso continuar a emitir nossas mensagens, captar os apelos, sejam quais forem nossas impressões de ‘doente ausente’”. Note-se que o pesquisador propõe que se mantenha um “trabalho relacional” com tais pacientes. Isso significa que, a despeito do quadro degenerativo em curso, Messy8 reconhece que há sempre uma porção subjetiva no corpo atingido pela demência, razão para sustentar o paciente num “banho de palavras”: dirigir-lhe mensagens e tentar decifrar os possíveis e enigmáticos apelos por ele emitidos. De acordo com o pesquisador, esse banho simbólico pode produzir resultados muito interessantes: “estabilizações e até mesmo progressos podem ser obtidos graças a um meio ambiente afetuoso e atento, constituído por um pessoal formado e acompanhado de maneira especial”8. Se o cirurgião-dentista não está alheio à necessária manutenção de um “trabalho relacional”2,8,9 e às particularidades que insistem em se fazer presentes no atendimento de cada paciente, ele pode obter como resultado a possibilidade de cooperação para manter uma condição bucal saudável. Advoga-se, portanto, que a insistência no referido “trabalho relacional” possa se constituir – nos diversos estágios de manifestação da DA – como importante ponto de sustentação para a eficácia do tratamento odontológico, na medida em que, por meio dele, medos, angústias e ansiedades do paciente, e também de sua família, podem ser acolhidos, propiciando ao cirurgião-dentista a descoberta de limitações específicas e modos de manejá-las. O objetivo desta pesquisa foi identificar possibilidades de obtenção da cooperação de pessoas portadoras de doença de Alzheimer no tratamento odontológico, bem como o envolvimento do familiar/cuidador, visando a melhores resultados da intervenção clínica. MÉTODOS Participaram deste estudo 51 idosos assistidos em ambulatório e/ou pelo Serviço de Assistência Domiciliária do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM) de São Paulo, num período de 24 meses, entre fevereiro/2004 e fevereiro/2006. Foram incluídos no estudo pacientes que necessitavam de tratamento odontológico, de ambos os gêneros, com idade entre 60 e 91 anos, portadores de demência do tipo Alzheimer em todos os estágios (inicial, intermediário e avançado). Pacientes com outros tipos de demência, abaixo de 60 anos ou cujo período de tratamento/ acompanhamento odontológico excedesse o período citado acima foram excluídos. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do próprio hospital (HSPM) – Parecer nº 53/2006. Antes de esclarecer a metodologia da pesquisa rea­ lizada, entende-se que seja preciso uma explicação sobre o método clínico que sustentou a proposta de tratamento de tais pacientes. Só assim é possível abordar as expectativas quanto à cooperação do paciente e/ou do cuidador no tratamento odontológico. Foi desenvolvida pela Clínica de Odontogeriatria do HSPM uma proposta de tratamento odontológico para portadores da doença de Alzheimer, chamada Planos de Tratamento. Ela teve como base a experiência clínica desde 1997. Para a inclusão dos grupos de pacientes nesses planos, levou-se em conta as características (memória e cognição) manifestas em cada estágio da doença – inicial, intermediário e avançado –, basea­ das no Manual da Doença de Alzheimer da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz)1, elencadas a seguir. – Estágio inicial: esquecimento frequente dos fatos recentes (memória recente é afetada e a retrógrada se mantém); distração; ligeiras confusões; dificuldade de lembrar nomes e palavras; dificuldades para aprender novas informações; discreta mudança de humor e personalidade; desorientação em ambientes familiares; redução das atividades sociais dentro e fora de casa e atividades rotineiras realizadas mais lentamente. Pacientes com pequena dependência. – Estágio intermediário: crescente perda de memória; dificuldade para organizar o raciocínio; esquecimento de palavras, diminuição do conteúdo e da variação da fala10; dificuldade em nomear objetos; orientação de tempo e espaço prejudicada; perde-se com facilidade; perda da iniciativa; inquietação e impaciência; às vezes agressão verbal ou até mesmo física. Pacientes com dependência moderada. – Estágio avançado: há pouca ou nenhuma comunicação com palavras; a fala torna-se monossilábica11 e, mais tarde, desaparece; transtornos emocionais e de comportamento; piora da marcha, tendendo a ficar mais assentado ou no leito; dificuldade parcial ou total para movimentar-se, alimentar-se e banhar-se, incontinência urinária e fecal, e perda completa da memória. Pacientes com dependência total. Doença de Alzheimer na clínica odontológica Esclarecem-se, a seguir, os planos de tratamento que se relacionam a cada um dos estágios da doença de Alzheimer. Plano I (estágio inicial) – Anamnese: o cirurgião-dentista direciona as perguntas ao próprio paciente (olhando em seus olhos), porém com a supervisão do acompanhante, para que, caso seja necessário e de maneira sutil, ele possa confirmar (ou não) a veracidade das informações prestadas e que seriam relevantes para o atendimento. – Sessões: realizadas em ambulatório, com a presença opcional do familiar. Decisão tomada em conjunto com o paciente2. A duração média de cada sessão é de 50 minutos. – Manejo da demanda de cooperação: comunica-se ao paciente sobre os passos da intervenção a ser realizada naquela sessão, as ações que se espera que ele realize e o resultado que se pretende alcançar12. A partir de uma escuta atenta, deve-se valorizar e incentivar o paciente para que ele se implique no tratamento. – Higiene bucal: as instruções/demonstrações são feitas no consultório e repetidas em todas as sessões. Propõe-se ao paciente que ele as realize em casa e orienta-se o familiar e/ou cuidador para, de modo discreto, supervisionar esse trabalho5. Plano II (estágio intermediário) – Anamnese: perguntas direcionadas ao próprio paciente, mas o cirurgião-dentista deve voltar sua atenção para o modo como o interpela – com uma fala mais breve e pausada e/ou atendendo a possíveis demandas de reformulação de enunciados. Caso necessário, deve-se contar com a participação do familiar para esclarecer/ratificar qualquer ponto importante de que o paciente não consegue lembrar ou a que não é capaz de responder2. – Sessões: realizadas em ambulatório, com a presença do familiar e/ou cuidador. As sessões devem ser realizadas no período da manhã ou início da tarde. Isso porque alguns dos portadores da DA, a partir desse estágio, tornam-se mais agitados, inseguros e confusos na medida em que se aproxima o final do dia (“efeito crepúsculo”)13. A duração do atendimento é, em média, de 30 minutos, porque há uma tendência ao cansaço e à irritação, fatores que interferem na eficiência e manutenção do atendimento. Neste plano, o paciente também é comunicado acerca do que será feito pelo cirurgião-dentista naquela sessão, bem como sobre o que se espera dele12,13. Considera-se 37 extremamente relevante mostrar-lhe, ao final da sessão, o resultado do trabalho realizado para que ele possa perceber a importância de sua participação2,12. – Higiene bucal: as instruções e demonstrações são realizadas no consultório e reforçadas em todas as sessões. Considera-se prudente que, em casa, se utilize a técnica de revezamento14: ora o paciente, ora o familiar/cuidador responde pelo trabalho de higienização bucal. Dessa forma, o paciente é incentivado ao autocuidado9 e, ao mesmo tempo, se afasta a ideia de incapacidade. Entretanto, recomenda-se que, pelo menos uma vez ao dia, a higiene bucal seja realizada pelo familiar e/ou cuidador para assegurar a sua efetividade. Plano III (estágio avançado) – Anamnese: mesmo que a comunicação pela via da linguagem oral esteja prejudicada, perguntas são dirigidas ao paciente, buscando manter o seu envolvimento, ou seja, apostando na via do “trabalho relacional”8 e nos efeitos (imprevisíveis) que possam se desdobrar dessa demanda criada pelo clínico. Não se dispensa, contudo, a contribuição do familiar/cuidador para a obtenção de informações fidedignas relativas ao paciente2. – Sessões: se há dificuldade de locomoção, as sessões são realizadas em domicílio. Caso contrário, a intervenção é feita em ambulatório. Inicialmente, tentativas de realização de intervenções sem sedação são realizadas, mas, se necessário, considera-se sua administração. Em alguns casos, a realização da intervenção clínica é feita em centro cirúrgico. – Higiene bucal: as instruções e demonstrações são feitas tanto para o paciente como para o familiar/ cuidador. Entretanto, não será surpresa se, na maioria das vezes, for realizada apenas pelo familiar/cuidador. Técnicas e materiais de higiene bucal recomendados nos três planos de tratamento: – Escova dental (Figura 1): utilizar escova convencional (cabeça pequena e cerdas macias) e, se necessário, complementar a escovação com escovas interdentais. Nos casos em que há prejuízo da habilidade motora, a escova elétrica é indicada. – Fio dental (Figura 2): o uso do fio ou fita dental também se faz necessário e, para aqueles cuja cognição está mais comprometida, o uso do segurador de fio dental é de grande ajuda. – Limpador lingual (Figura 3): para remover restos de alimentos da língua ou saburra lingual (composta por restos de alimentos, bactérias e células epiteliais descamadas)15, torna-se necessário o uso de limpador lingual. 38 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):34-9 dador, com o auxílio de abridor de boca (Figura 4), usando-se escova dental (pacientes com dentes) ou gaze (pacientes sem dentes) embebida em enxaguatório bucal, de preferência em solução de gluconato de clorexidina a 0,12%. Salivas artificiais podem ser usadas em pacientes com redução de fluxo salivar. Para usuários de aparelhos protéticos (prótese parcial removível ou prótese total), considera-se importante que eles sejam higienizados fora da boca e em lugar livre de quedas, para evitar fraturas indesejáveis16. Figura 1. Escovas dentais. Figura 4. Abridor de boca. RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 2. Fio dental e segurador de fio. Figura 3. Limpadores linguais. – Dentifrício (creme ou gel) e enxaguatório bucal: o dentifrício deve ser utilizado em pequena quantidade, ocupando apenas um terço das cerdas. Em estágios mais avançados em que o sujeito não consegue fazer bochecho, não se utiliza dentifrício, e sim a escova molhada em enxaguatório bucal para realizar a escovação. Nos casos em que os pacientes não conseguem realizar sua higiene bucal, ela é feita pelo familiar/cui- O envolvimento do familiar/cuidador no tratamento odontológico e no cuidado com a higiene bucal dos pacientes com DA teve um papel importante nos resultados2,8 e contribuiu para a promoção da saúde bucal deles7. É claro que o treino dos cuidadores é de fundamental importância, como conclui também o estudo de Saliba et al. realizado com cuidadores17. Os resultados desta pesquisa demonstraram que, nos estágios intermediário e avançado, os pacientes se sentem mais seguros estando sob o olhar de pes­soas que eles conhecem e em que confiam, bem como quando mantêm contato físico com elas (segurar a mão, por exemplo), resultados em consonância com o trabalho de Gitto et al.2. É certo que essa participação deve ser fruto de uma decisão tomada de comum acordo entre o paciente e o familiar/ cuidador. Visto do lado do familiar/cuidador, esse envolvimento, bem como as orientações fornecidas pelo cirurgião-dentista, fez com que eles se sentissem mais seguros quanto ao trato dos sujeitos acometido pela DA18. Ao manter um trabalho relacional8 com o paciente, implicando-o no tratamento, o cirurgião-dentista teve como resultado sua cooperação12, isso porque pôde descobrir limitações e, consequentemente, modos de manejá-las de forma a chegar num equilíbrio entre as implicações do comprometimento cognitivo dos pacientes e as demandas de tratamento odontológico. Doença de Alzheimer na clínica odontológica 39 CONCLUSÃO Plano de tratamento I Plano de tratamento II Plano de tratamento III 39 pacientes 8 pacientes 4 pacientes Anamnese respondida pelo paciente: relatos com ligeiro esquecimento Anamnese respondida pelo paciente: relatos com esquecimento/ ligeira confusão Anamnese respondida pelo cuidador: relatos precisos Procuraram o dentista por vontade própria Foram conduzidos ao dentista pelo familiar As famílias chamaram o dentista no domicílio Queixa: dor/ incômodo Queixa: dor/ incômodo ou observação do familiar Queixa: incômodo/ agitação/gemido/ reflexos de sucção e movimentos involuntários da mandíbula Proposta de tratamento: para o paciente Proposta de tratamento: para o paciente e família Proposta de tratamento: para a família Tratamento realizado por completo e em ambulatório Tratamento realizado por completo e em ambulatório Tratamento realizado por completo e em domicílio Sem sedação Sem sedação Com sedação medicamentosa em 2 pacientes – maleato de midazolan (Dormonid) na dose de 15 mg 1h antes do tratamento 7. Henry RG. Alzheimer’s disease and cognitively impaired elderly: providing dental care. J Calif Dent Assoc. 1999;27:709-17. 10. Lier-DeVitto MF, Fonseca SC, Landi R. Vez e voz na linguagem: o sujeito sob efeito de sua fala sintomática. Revista Kairós. 2007;10(1):19-34. Presença do cuidador nas sessões: às vezes Presença do cuidador nas sessões: todas Presença do cuidador nas sessões: todas Higiene bucal: 34 realizaram sozinhos e 5 com revezamento Higiene bucal: 8 com revezamento (todos) Higiene bucal: somente pelo cuidador (todos) Considera-se, pois, que os planos de tratamento odontológico descritos acima constituem um protocolo inicial para atendimento de pacientes acometidos pela doença de Alzheimer. Outros estudos semelhantes a este podem ampliar esse horizonte, desenvolvendo uma perspectiva mais completa e cada vez mais específica ao atendimento de pacientes com DA. Porém, a importância do trabalho relacional, descrito anteriormente e base dos atendimentos que figuram nesta pesquisa, não deve sair da visão do clínico, principalmente no campo da odontogeriatria. A participação do familiar/cuidador, bem como o trabalho relacional implicando o paciente no atendimento clínico, constitui-se em base fundamental para o sucesso terapêutico em todos os estágios da doença de Alzheimer. REFERÊNCIAS 1. Associação Brasileira de Alzheimer. Manual sobre a doença de Alzheimer, 2008. Disponível em: <http://www.alzheimer.med.br>. 2. Gitto CA, Moroni MJ, Terezhalmy GT, Sandu S. The patient with Alzheimer’s disease. Quintessence Int. 2001;32(3):221-31. 3. Vieira EB. Atividade da vida diária – AVD. In: Vieira EB. Manual de gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Revinter; 2004, p. 41-2. 4. Paschoal SMP. Autonomia e independência. In: Papaléo-Netto M. Tratado de gerontologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2007, p. 609-21. 5. 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O dentista como parte integrante da equipe interdisciplinar do Serviço de Assistência Domiciliária. Rev Canal Científico [periódico na Internet]. 2005 [acesso em 2005 nov/ dez];5(5). Disponível em: <http://www.editorasantos.com.br>. 15. Tárzia O. Halitose. 2. ed. Rio de Janeiro: Publicações Científicas Ltda.; 1996. 16. Dias MHMS. Odontologia geriátrica: alterações orais na senescência e na senilidade. In: Papaléo-Netto M. Tratado de gerontologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2007, p. 537-46. 17. Saliba NA, Moimaz SAS, Marques JAM, Prado RL. Perfil de cuidadores de idosos e percepção sobre saúde bucal. In: Interface – Comunicação, Saúde e Educação. 2007;11(21):39-50. 18. Goldfarb DC. Demências: clínica psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2004. ARTIGO de revisÃO Teste ergométrico em idosos Exercise test in elderly Betty Janny Maia Siqueira1, Brivaldo Markman Filho1, Odwaldo Barbosa e Silva1 RESUMO Vem acontecendo uma importante mudança no perfil da população mundial com aumento do número idosos, da expectativa de vida e da prevalência de doenças crônicas, com destaque para as doenças cardiovasculares. Esse panorama requer o domínio de métodos eficazes de diagnóstico e prevenção cardiovascular. O envelhecimento promove alterações na fisiologia do indivíduo que implicam mudanças nos valores normais dos exames, nas morbidades associadas ou mesmo nas preferências dos pacientes por procedimentos menos invasivos. Com o objetivo de revisar a bibliografia sobre o teste ergométrico em idosos, foi realizada pesquisa com os descritores “exercise stress testing”, “treadmill stress testing X elderly” e “aged”, nas bases de dados Medline, SciELO e Lilacs. Os autores avaliaram indivíduos idosos durante o teste ergométrico, demonstrando a segurança e a eficácia do método e sua utilidade nesse grupo. O exame deve ser aplicado na avaliação clínica diagnóstica e, principalmente, na avaliação da capacidade funcional, na qual tem importante valor prognóstico. Recebido em 16/10/10 Aceito em 21/2/11 Palavras-chave: Teste ergométrico, idoso, esforço, envelhecimento. ABSTRACT It has been happening an important change in the world population with increasing number of older people, life expectancy and prevalence of chronic diseases mainly the cardiovascular disorders. To manage this condition is important to have efficient methods of diagnosis and cardiovascular prevention. Aging promotes physiologic changes which influence the normal parameters of the tests. It may also alter the associated enfermities and the wishes of the patients for less invasive procedures. To update the bibliography about treadmill test in the elderly, the research was carried out with the keywords: “exercise test”, “treadmill stress test X elderly” and “aged” on the Medline, SciELO and Lilacs. Authors which have evaluated older patients during the test showed the efficacy and security of this method as well as its indication. The examination should be applied to clinical evaluation and mainly evaluation of the functional capacity, with important prognostic value. Keywords: Treadmill test, elderly, exercise, aging. Endereço para correspondência: Betty Janny Maia Siqueira • Rua Cardeal Arcoverde, 100, ap. 701 Graças – 52011-240 – Recife, PE • E-mail: [email protected] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). 1 Teste ergométrico em idosos INTRODUÇÃO As alterações fisiológicas que caracterizam o envelhecimento humano, somadas ao maior tempo de exposição a fatores de risco, conferem ao indivíduo idoso maior suscetibilidade ao desenvolvimento de lesões cardiovasculares1. De fato, essa população é considerada de alto risco para doença ateromatosa, e a constatação do aumento na prevalência de doenças cardiovasculares com progressão da idade confirma esse risco2. Essas características requerem o domínio de técnicas diagnósticas, prognósticas e terapêuticas eficazes e seguras para essa população. O teste ergométrico (TE) se destaca dentre os métodos de diagnóstico cardiovascular. Exame não invasivo mostra-se seguro, eficaz e de boa relação custo-benefício para os pacientes idosos3-5. As Sociedades Brasileiras de Medicina do Esporte e de Geriatria e Gerontologia recomendam a realização de TE na avaliação inicial de programas de atividades físicas em idosos. O exame tem como objetivos principais a determinação da tolerância ao exercício e o diagnóstico de isquemia miocárdica induzida pelo esforço6. A aplicação mais comum do TE é para avaliação de isquemia miocárdica4,7,8. São relativamente poucos os dados sobre o método em idosos, todavia patologias cardiovasculares prevalentes como doença ateromatosa coronariana (DAC) e hipertensão arterial, bem como as evidências do benefício da atividade física no processo de envelhecimento e da reabilitação cardiovascular, têm motivado o estudo e a indicação do TE para esse grupo nas últimas décadas9,10. METODOLOGIA O estudo se constituiu em uma revisão bibliográfica utilizando os descritores “exercise stress testing”, “treadmill stress testing X elderly” e “aged” para pesquisa nas seguintes bases de dados: Medline, SciELO e Lilacs. Foram revisados também capítulos de livros e referências citadas nos artigos obtidos a partir da pesquisa. O teste ergométrico O teste ergométrico é a avaliação de parâmetros cardiovasculares durante aplicação de exercício físico com utilização de ergômetros. É considerado um dos principais métodos de avaliação e diagnóstico da função cardíaca, principalmente por se tratar de um procedimento relativamente simples, seguro, bastante confiável e de baixo custo11. 41 O exercício na avaliação da função cardíaca teve início com Master e Oppenheimer, em 1929, que foram os autores da primeira publicação sobre TE descrevendo a metodologia da utilização do esforço em uma escada de dois degraus. A capacidade cardíaca era avaliada pela resposta da frequência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA), mas não foi reconhecido o valor do eletrocardiograma (ECG)12. Só em 1941 o TE foi proposto como um método diagnóstico para a detecção de isquemia induzida pelo esforço, quando Master e Jaffe sugeriram a realização do ECG antes e após o exercício, para identificar insuficiência coronariana13. Outros estudos se seguiram e foi na bicicleta ergométrica que, em 1954, Astrand e Rhyming estabeleceram as bases fisiológicas para o teste de esforço, correlacionando o consumo de oxigênio (VO2) com a frequência cardíaca durante o exercício14. Bruce, em 1956, introduziu a esteira rolante e descreveu o primeiro protocolo para esse ergômetro15, que ainda é largamente utilizado nos dias de hoje7,9. Já em 1981, Whipp et al. descreveram a metodologia do primeiro protocolo individualizado em rampa, utilizando um cicloergômetro16. Myers et al., em 1991, publicaram o primeiro trabalho comparando o protocolo em rampa a outros protocolos e forneceram base para a utilização da rampa na esteira ergométrica17. Utilizado mais frequentemente para diagnóstico de insuficiência coronariana4,7, o TE tem o eletrocardiograma como parâmetro mais divulgado entre os avaliados8. Entretanto, durante a realização do exame são analisadas respostas que se traduzem em importantes dados diagnósticos e prognósticos da condição cardiovascular do indivíduo. Durante o TE, devem ser observados sintomas e sinais ao exame físico que, considerados as características, o tempo de surgimento e a associação com outros parâmetros, têm importante valor diagnóstico. Por exemplo, a dor precordial desencadeada pelo exercício, bem caracterizada, é quase sempre preditora de DAC grave, principalmente se associada a alterações eletrocardiográficas significativas11. A frequência cardíaca é um dos principais parâmetros analisados no TE e, juntamente com a pressão arterial sistólica, estabelece dados para análise das reservas cronotrópicas e inotrópicas do organismo11. O comportamento considerado normal da FC é a elevação gradual e proporcional à intensidade do exercício. Nos idosos, em cargas submáximas, pode-se observar uma menor elevação da FC relacionada à menor resposta beta-adrenérgica9-11. A PA sistólica 42 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):40-5 deve apresentar elevação gradual determinada pelo aumento do débito cardíaco decorrente do aumento do retorno venoso e da FC. Já a PA diastólica deve sofrer discreta elevação, manutenção ou mesmo queda durante o TE11. Estudos demonstram que a tolerância ao exercício, avaliada pelo consumo máximo de oxigênio (VO2máx), é considerada o melhor indicador da capacidade aeróbica do indivíduo9,10,18-20. O exercício realizado deve, portanto, favorecer a máxima extração de oxigênio pela musculatura em atividade. A capacidade de exercício pode também ser expressa em equivalentes metabólicos (MET) e tem importante valor prognóstico, principalmente entre idosos4,19-21. A análise dos parâmetros obtidos com o TE permite, portanto, a aplicação do método com os objetivos: diagnóstico (probabilidade de o indivíduo apresentar coronariopatia obstrutiva), prognóstico (estimando a gravidade e a probabilidade de complicações cardiovasculares), funcional (avaliação objetiva da capacidade do indivíduo) ou terapêutica (documentando os efeitos de um tratamento aplicado)7,22. O idoso Os indivíduos idosos apresentam peculiaridades fisiológicas que tornam a execução e a interpretação do TE mais difíceis nesse grupo4,9. O envelhecimento altera a modulação do sistema nervoso autônomo sobre a função cardiovascular. Uma hiperatividade simpática relacionada à idade com consequente dessensibilização progressiva dos receptores beta-adrenérgicos nos idosos comprometeria o cronotropismo, o inotropismo e a vasodilatação arterial23,24. Fleg et al., em 1994, avaliaram os efeitos do bloqueio dos receptores beta-adrenérgicos durante o exercício em indivíduos de 28 a 72 anos e obtiveram valores de FC e PA durante o esforço e de fração de ejeção, volume sistólico final e volume diastólico final, por cintilografia. Os valores foram menores nos pacientes que usaram o betabloqueador imediatamente antes do exercício. No entanto, a redução desses valores foi significativamente maior nos voluntários jovens que nos idosos, sugerindo que o declínio da FC e da contratilidade ventricular associados à idade são manifestações da menor responsividade dos receptores beta-adrenérgicos com o envelhecimento23. Menor reatividade dos receptores beta-adrenérgicos, diminuindo a capacidade de vasodilatação, é também um dos mecanismos implicados no aumento da pressão arterial sistólica25,26. Além disso, as paredes das artérias sofrem mudanças estruturais com a idade, incluindo aumento da deposição do colágeno e hipertrofia da musculatura lisa, o que leva à perda da elasticidade arterial, com aumento da pressão arterial sistólica e da pós-carga27. Essas mudanças contribuem com a alteração funcional miocárdica associada à idade, em que se observa primariamente alteração da função diastólica. A atividade beta-adrenérgica diminuída no miocárdio também contribuiria com alterações no relaxamento desse músculo27. As evidências indicam que, a despeito das modificações relatadas, o comportamento das variáveis cardiovasculares em repouso, com exceção da PA, pouco se modifica28,29. Durante esforço físico, entretanto, a capacidade de adaptação diminui. Essa perda de desempenho diante do exercício é expressa no TE com valores calculados de VO2 progressivamente menores com a idade25,30-32. Em um estudo longitudinal, Fleg et al.20 avaliaram 810 indivíduos saudáveis, com idades de 21 a 87 anos, analisando a medida direta do VO2máx durante o exercício ergométrico em relação às décadas de vida. Eles constataram que o declínio longitudinal no pico de VO2 foi de cerca de 5% por década na faixa dos 30 anos de idade, valor semelhante aos encontrados em estudos seccionais25,32. A partir dos 70 anos, no entanto, a queda no valor do VO2 se aproximou de 20% a cada 10 anos, percentual substancialmente maior que os previstos em estudos anteriores20. A redução de VO2máx com a idade pode estar relacionada à diminuição do débito cardíaco máximo e à diminuição da diferença arteriovenosa de oxigênio, por prejuízo na extração periférica de O2. Isso acontece por diminuição do fluxo sanguíneo para os músculos ativos, redução da massa muscular e do número de unidades motoras, redução da capacidade de perfusão sanguínea muscular e redução da capacidade enzimática oxidativa25,33. Teste ergométrico em idosos Frequentemente, condições não cardíacas como artropatias, doença pulmonar obstrutiva crônica, tonturas e neuropatias podem dificultar a realização do TE no idoso. Idosos frágeis, com limitações físicas e problemas comuns no envelhecimento, geralmente não são considerados para o TE. Indivíduos com essas características foram examinados por Thompson et al., que relataram boa tolerância e baixo risco na determinação da capacidade funcional antes da prescrição de exercícios. A abordagem do paciente pela Teste ergométrico em idosos 43 equipe examinadora, identificando corretamente as limitações, fornecendo explicações claras, passando segurança e motivação, é fundamental para aquisição de melhores resultados no indivíduo idoso34. mortalidade em populações com idade a partir dos 65 anos e de 75 anos ou mais. Esses trabalhos mostram que a tolerância ao exercício durante o TE se associa inversamente com risco de eventos e morte4,19,21,39. A avaliação de idosos pelo TE segue os critérios estabelecidos para os exames em geral7,29, e a indicação mais recomendada é para o diagnóstico de isquemia miocárdica4,7. As diretrizes norte-americanas para o TE estimam, para diagnóstico de DAC em idosos, maior sensibilidade (84%) e menor especificidade (70%) em relação aos jovens29. Em uma coorte, avaliando resultados do TE de jovens e idosos, Goraya et al. reportaram que os idosos tiveram significativamente menor sobrevida e maior índice de eventos cardiovasculares, sendo, após análise multivariada, a capacidade de exercício (estimada em MET) a única variável do TE preditiva de morte ou eventos, com similar efeito prognóstico entre idosos e jovens4. Direcionando para o diagnóstico de isquemia, Oliveira e Silva avaliaram idosos com hipertensão arterial sistólica isolada (HASI) e encontraram prevalência de testes alterados, significativamente maior no grupo de hipertensos que nos controles sem HASI. Diante dos resultados, concluíram ser o TE exame de baixa morbidade e altamente preditivo para estratificar o paciente idoso hipertenso35. Em estudo multicêntrico publicado em 2004, Jeger et al. objetivaram estabelecer valor prognóstico ao TE para indivíduos com DAC crônica estável e idade acima de 75 anos. Observaram inicialmente que um TE limitado por sintoma é possível em mais da metade desses indivíduos. Os pacientes que apresentaram sintomas, a despeito da terapia, tiveram seis vezes mais risco de morte e oito vezes mais risco de infarto não fatal. Os idosos sem sinais de isquemia ao TE tiveram prognóstico favorável em um ano e menor risco de procedimentos invasivos36. Em trabalho semelhante, com idosos acima de 65 anos e DAC estável, Ochiai et al. correlacionaram a presença de dor precordial durante o TE e a FC no início do sintoma com eventos cardíacos no seguimento desses pacientes, concluindo que o TE apresenta importante valor prognóstico e deve ser utilizado em idosos com doença aterosclerótica coronariana estável para melhorar a avaliação de risco37. Vacanti et al. analisaram um grupo de pacientes com 75 anos ou mais submetidos ao TE e à cintilografia de perfusão miocárdica e concluíram que o TE em rampa é seguro e factível em indivíduos muito idosos e concordante com cintilografia de perfusão na detecção de isquemia miocárdica38. A avaliação da capacidade funcional vem sendo indicação crescente diante das evidências de benefício da atividade física e do valor prognóstico dessa variá­vel4,6. Estudos longitudinais demonstraram o valor prognóstico do TE em idosos saudáveis, ao avaliar a relação entre parâmetros do exame e eventos cardíacos ou Myers et al. demonstraram, em estudo com 6.213 homens de todas as idades, que a capacidade máxima de exercício foi o melhor preditor de risco de morte por causa cardiovascular, tanto entre os pacientes com história de DAC quanto entre os com TE normal e sem história de DAC19. Comparando jovens e idosos sem história de DAC submetidos à prova de esforço, Spin et al. demonstraram que a carga de exercício tolerada foi a variável mais associada à mortalidade por todas as causas nos indivíduos idosos21. A escolha do protocolo de exame pode influenciar no resultado do TE, interferindo na interrupção do exame e na quantidade de trabalho realizado, alterando, assim, os parâmetros avaliados40. Há orientações para que o protocolo a ser executado sempre leve em consideração as condições específicas do paciente examinado. Para tanto, uma escolha individualizada de velocidade e inclinação da esteira deve ser considerada de acordo com a capacidade do indivíduo, estimada durante a anamnese7. Em idosos, intensidades elevadas no início da prova acarretam risco de interrupção precoce do exercício por conta das limitações de ordem periférica. A diferença entre as cargas não deve ser muito alta, para evitar fadiga localizada. Por outro lado, a intensidade muito baixa no início, ou entre cargas, pode levar a um teste prolongado e depleção dos substratos energéticos, elevação da temperatura corporal e estresse físico ou cansaço psicológico antes de o indivíduo chegar ao seu potencial máximo9. Um dos protocolos mais empregados em esteira rolante é o de Bruce. Mesmo não atendendo de certa forma às recomendações mencionadas, a familiaridade, conveniência e tradição tornam esse protocolo o mais divulgado entre estudos publicados e o mais utilizado em nosso meio7,9. O protocolo em rampa tem características que se aproximam das recomendadas nas diretrizes. Caracteriza-se por aplicação de carga de forma individua- 44 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):40-5 lizada para sexo, idade e capacidade de atividades do indivíduo. É prescrito aumento frequente de intensidade, permitindo ao paciente executar o exercício de maneira mais confortável e mais bem ajustada à sua condição física17,40. Em geral, os idosos necessitam de um tempo maior para se adaptar ao esforço, e é sugerido que seja incorporado aos protocolos para essa população um período de aquecimento9. Comparando protocolos para mensuração de VO2máx em idosos, Thomas et al. obtiveram resultados sugestivos de que protocolos com incrementos pequenos e contínuos de carga e inclinação, do tipo rampa, sejam os mais apropriados para idosos saudáveis41. Silva e Sobral Filho, avaliando parâmetros do TE de 1.840 indivíduos entre 4 e 79 anos, executados no protocolo em rampa, observaram que o protocolo foi bem tolerado em todas as faixas etárias, com tempo de esforço dentro do recomendado. Seus resultados, apresentados por faixa etária, orientam valores de inclinação e velocidade na prescrição do protocolo em rampa para os indivíduos idosos em nosso meio42. Poucos pacientes idosos são incluídos em estudos de validação prognóstica. Os trabalhos realizados são conduzidos em populações específicas – sintomáticos, hipertensos, coortes de voluntários saudáveis – e não é certo que os resultados possam ser generalizados para todas as comunidades da população de idosos4. No Brasil, Vivacqua et al., em 1997, apresentaram resultados de análise retrospectiva de 1.528 exames em idosos, descrevendo seus principais resultados e observando que a maioria dos pacientes apresentou parâmetros indicativos de eficiência miocárdica3. Anos depois, Vacanti et al. apresentaram os resultados de estudo com TE de indivíduos considerados muito idosos (75 anos ou mais). De forma semelhante, obtiveram eficácia na maioria dos exames e consideraram o TE, limitado por sintoma, útil e seguro para avaliação diagnóstica nesse grupo5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O envelhecimento da população mundial representa o desafio de promover saúde e qualidade de vida a indivíduos cada vez mais sujeitos a doenças crônicas. Atividades físicas adequadas podem ter papel importante na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares18, e o TE se presta às ações de prevenção, diagnóstico e seguimento de idosos saudáveis ou com patologias cardiovasculares. À luz das evidências, o TE deve ser aplicado na avaliação clínica diagnóstica, funcional ou terapêutica também para indivíduos acima de 60 anos e até acima dos 75 anos3,5. Entretanto, não estão estabelecidos os resultados esperados para esses pacientes, sendo a interpretação dos exames guiada por estudos com indivíduos de todas as idades. É necessário conhecer melhor o comportamento dessa crescente fração da população e estudos específicos devem ser encorajados. REFERÊNCIAS 1. Fried LP, McNamara RL, Burke GL, Siscovick DS. Heart health in older adults: import of heart disease and opportunities for maintaining cardiac health. West J Med. 1997;167:240-6. 2. Franken RA, Taddei CFG, Maia IG, Batlouni M, Sousa JEM, Wajngarten M, et al. I Diretrizes do Grupo de Estudos em Cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2002;79(Supl. I):1-46. 3. Vivacqua R, Serra S, Maciel R, Miranda M, Bueno N, Campos A. Teste ergométrico em idosos: parâmetros clínicos, metabólicos, hemodinâmicos e eletrocardiográficos. Arq Bras Cardiol. 1997;68(1):9-12. 4. Goraya TY, Jacobsen SJ, Pellikka PA, Miller TD, Khan A, Weston SA, et al. 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ARTIGO de revisão Disposições para um novo envelhecimento: reflexões sobre ser velho na contemporaneidade Arrangements for a new aging: reflections on being old in modernity Paula Fabrícia Brandão Aguiar Mesquita1 RESUMO Este artigo aponta reflexões sobre velhice e sexualidade e pondera acerca de uma “nova” velhice concebida no prisma das transformações da sociedade contemporânea, conceituando-a e trazendo algumas expressões desse fenômeno. Pretende-se discutir as disposições diversas que caracterizam o ser velho hoje e a descoberta de novos papéis sociais. Recebido em 5/9/10 Aceito em 9/3/11 Palavras-chave: Velhice, modernidade, disposições, sexualidade. ABSTRACT This article presents initial reflections of the author in his doctoral research on aging and sexuality, and weighs about a “new” old conceived in light of the transformations of modern society, conceptualizing it and bring out some expressions of this phenomenon. Discusses miscellaneous provisions that characterize today being old and the discovery of new social roles. Keywords: Old age, modern, arrangements, sexuality. Endereço para correspondência: Paula Fabrícia Brandão Aguiar Mesquita • Rua Coronel Jucá, 330, ap. 2002, Meireles – 60170-320 – Fortaleza – CE • Telefone: (85) 9998-9986 • E-mail: [email protected] Universidade Federal do Ceará (UFC). 1 Disposições para um novo envelhecimento 47 INTRODUÇÃO da não têm um lugar definido, mas estão em processo de definição. A velhice é uma condição humana, vivenciada das mais diversas formas em sociedades e épocas diferentes. Do ponto de vista sociológico, ela pode ser pensada como uma construção cultural e social, pois o que é considerado velhice em nossas sociedades tem variado bastante desde as comunidades ditas primeiras. Outra consideração preliminar é que o lugar que o velho ou idoso ocupa na sociedade também é bastante variável, de acordo com sua (des)importância e os valores comunitários. Acredito que o próprio fluxo da modernidade levou a repensar o lugar dos velhos na sociedade, cujos valores centrais estão condicionados pela capacidade dos indivíduos de serem ágeis e capazes de adaptarem-se à eterna novidade. As reflexões ora apresentadas advêm de pesquisa* sobre indivíduos com mais de 60 anos, das camadas médias urbanas da cidade de Fortaleza. Procurou-se privilegiar os aspectos morais, valorativos e estéticos desses grupos, ou seja, o ethos2, a partir de um aspecto singular de suas vidas: a sexua­ lidade. Ousamos pensar esse tema, à luz de autores diversos, focando nas contribuições de Balandier3 e Lahire4, no que se refere, respectivamente, à complexidade da modernidade e às disposições dos indiví­ duos em sociedade. Ao longo da modernidade, a velhice passa por ressemantizações que refletem a possibilidade de um novo lugar. Constato a invenção contínua de vocábulos para substituir a palavra “velho”, como se esta carregasse em si uma conotação negativa. Peixoto1 refere que na França, até os anos 1960, as pessoas acima de 60 anos eram chamadas de velhas ou, num sentido pejorativo, de velhote (vieillard). Mas aquelas que possuíam um estatuto social como presidentes da república, atores e empresários não eram jamais considerados velhos. Nas classes superiores, a velhice não era aparente. Com o advento de novas políticas de aposentadorias, da elevação das pensões, entre outros fatores que modificaram a qualidade de vida desses indivíduos, esse velho assume um novo status social e há a necessidade de criação de outro termo que o defina, sobretudo, de maneira menos pejorativa. Passa-se então a chamá-lo de idoso. Embora muito criticado por estudiosos do tema na época, por não ser tão preciso quanto velho, aquele termo atribui certa respeitabilidade a esses indivíduos. Diante de aposentados considerados jovens e ainda plenamente ativos, e que transformaram a ociosidade da velhice num momento de novas possibilidades, inventa-se outra expressão: “terceira idade”. Concomitantemente, vê-se a necessidade de criação de um diferenciador, que não unifique todos os aposentados na mesma categoria. Há um esforço para separar os “jovens idosos” dos “idosos velhos”, surgindo o termo “quarta idade”, que designaria aqueles com mais de 75 anos, vinculados à imagem tradicional da velhice como incapacidade e decadência. Essa expressão estigmatiza ainda mais esse “novo velho” que possui mais de 75 anos. Contudo, a presença de tantos termos para designar a velhice reflete, sobretudo, a reformulação por que essa categoria vem passando nos últimos 50 anos. A velhice hoje é algo “novo”, e esses atores sociais ain- Reflexões sobre o lugar da velhice na modernidade Ao refletir sobre a modernidade, Balandier3 se propõe a compreendê-la em sua multiplicidade conceitual como movimento. Fazendo uma breve retrospectiva do que é dito sobre o termo, ele a concebe a partir de sua realidade fragmentada, temporalidade despedaçada e lugar do imediato, dispensando tudo aquilo que finda, o que é concluído. Templo da cultura do efêmero, a sociedade moderna requer a solicitação de tudo o que é novo, deixando para traz o tradicional e o acabado, relegando, portanto, as certezas da vida a um passado distante. O cotidiano dos indivíduos se submete ao crivo do olhar do outro, solicitando atualizações constantes da moda e das formas de comportamento. Enquanto o Estatuto do Idoso5 assegura legalmente o início da velhice aos 60 anos, percebemos, a olhos nus, que as pessoas dessa idade hoje não se consideram velhas. Portanto, refletir sobre a velhice na sociedade moderna requer especial sutileza, uma vez que implica lidar com uma nova geração, composta de pessoas que seguramente conviveram com valores culturais que mudaram o seu envelhecer, quais sejam, a liberdade, a emancipação feminina, o surgimento da pílula anticoncepcional, entre outros. Essa geração que possui idade acima de 60 anos, independentemente do nome atribuído a ela, revela novas formas de envelhecer e lidar com esse período da vida. * A pesquisa, intitulada Velhicidade: um estudo sobre a velhice na cidade contemporânea, foi proposta como requisito da seleção de doutorado em sociologia da Universidade Federal do Ceará e encontra-se em estágio inicial. 48 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):46-51 Balandier3 afirma que na modernidade o próprio corpo torna-se reduto de informações imprecisas: “[...] as idades da vida não são mais claramente separadas, a saúde é cada vez mais assistida pela medicina, o envelhecimento e, com ele, a morte recuam ou são escamoteados”. A saúde é assistida pela criação de novos medicamentos e de uma medicina que prima pelo rejuvenescimento e responsabiliza esses indivíduos pela sua saúde, que deve ser vigiada e mantida por meio de exercícios físicos, dietas e cirurgias plásticas que possibilitem a eles aparência mais jovem (ou não tão velha) e melhor qualidade de vida. Essa é a nova imagem da velhice criada na modernidade! O corpo é submetido a todo tipo de intervenção médica e, se assim não o for, o indivíduo deve responsabilizar-se pela velhice escamoteada3. Entra em cena o discurso da ciência, e a velhice bem aceita requer, sobretudo, um olhar atento e cuidados permanentes com a saúde do idoso. Ousamos pensar que a velhice hoje aceita e bem-vinda é aquela que pode ser responsabilidade pessoal do indivíduo em pleno gozo de sua saúde, independente e de uma classe social que permita a ele utilizar todos os meios à sua disposição para rejuvenescer, para uma qualidade de vida melhor. Mas essa “melhor idade” é consequência de uma série de disposições anteriores à chegada da velhice. Envelhece bem aquele que teve uma vida de qualidade e cuidados anteriores. A velhice da modernidade tardia é diferente de outros tempos. Ela tem um frescor da juventude. Ainda de acordo com Balandier3, a retórica da modernidade é da ruptura com o antigo e de ascensão do inédito. Há uma degradação de modelos antes estabelecidos e que forneciam elementos para as condutas sociais. O passado é levado em conta para ser desconstruído e modificado. Balandier afirma ainda que isso reflete até mesmo no que nomeia “fases da vida”, cada vez mais imprecisas: “A imprecisão das fronteiras entre gerações, a substituição da maturidade pela juventude como ideal, a flutuação dos sinais em uma cultura continuadamente mutante, que leva ao sentimento de uma constante imigração no tempo, a escolha do instante cortado do passado e contrário a todo projeto e a toda herança são as manifestações mais frequentemente expostas do pagamento ou da confusão dos referentes temporais.” (Balandier, 1997, p. 160)3 As pessoas com mais de 60 anos, ao saírem dos espaços convencionalmente atribuídos a elas, ocupam um não lugar. Augé6 refere-se ao não lugar como espaços que nunca se realizam totalmente. Arriscamos transpor esse conceito para pensar a dimensão da temporalidade. O termo “ageless” foi utilizado por Kaufman7 para definir indivíduos que não têm idade, por não se reconhecerem nas categorias etárias tradicionais. Isso reflete exatamente o que escutei de uma pessoa que busca definir sua referência depois dos 60 anos e diz: “sou nova demais para ser velha e velha demais para ser nova” [sic]. A possibilidade da abertura para pensar a velhice também gera um espaço de desconforto. Os lugares antes a ela relegados eram de papéis sociais dissonantes no contexto do século XXI, qual seja, o de cuidar dos netos, de ter suas vidas conduzidas por seus filhos e familiares, de aposentar-se do trabalho e da vida ativa. As pessoas consideradas idosas neste novo século não querem assumir essas funções e ainda procuram identificações que possam nortear seus comportamentos, próteses identitárias que possam lhes servir, ainda que para contrariá-las. Bobbio8, em um texto autobiográfico no qual pede autorização ao leitor para falar como velho e não como professor, diz que: “Hoje um sexagenário está velho apenas no sentido burocrático, porque chegou à idade em que geralmente tem direito a uma pensão. O octogenário, salvo exceções, era considerado um velho decrépito, de quem não valia a pena se ocupar. Hoje, ao contrário, a velhice, não burocrática, mas fisiológica, começa quando nos aproximamos dos oitenta, que é afinal a idade média da vida. [...] O deslocamento foi tamanho que o curso da vida humana, tradicionalmente dividido em três idades [...] foi prolongado para aquela que se convencionou chamar de ‘quarta idade’.” (p. 18)8 Enquanto essas redefinições se fazem, há uma ausência de referente, um vazio, em que tudo pode ser colocado. Disposições para a vida: velhice e sexualidade As pessoas que possuem mais de 60 anos hoje são consideradas velhas apenas burocraticamente, contudo reivindicaram para si papéis sociais diferenciados daqueles antes matizados. Aquela velhice excluída socialmente, enfatizada nos anos 1970, nas palavras de Beauvoir9, como uma espécie de segredo vergonhoso para a sociedade, tanto que a autora se propõe a quebrar a conspiração do silêncio, certamente é uma voz cada vez mais ruidosa! Foram criadas políticas públi- Disposições para um novo envelhecimento cas dirigidas para o aumento da qualidade de vida dos idosos, estatutos e leis, e o próprio mercado capitalista se volta assiduamente a esse público: são pacotes de viagens, cirurgias plásticas, indústrias de cosméticos com promessas de rejuvenescimento, casas noturnas, grupos religiosos dirigidos por eles etc. Há uma miríade de informações sobre o envelhecimento, sobretudo como viver o que seria uma melhor idade. Contudo, é necessário estar atento constantemente a esses discursos sobre a velhice, que só a veem de um modo específico – aquela que é bem-sucedida, celebrada pelos meios de comunicação e pelo mercado –, que dialogam com o tema de modo bastante superficial. Claro está que a velhice bem-sucedida é fruto de um contexto que produz disposições que contrariam o lugar da acomodação, aquele antes assegurado para quem chegava aos 60 anos. Por ocasião de uma conversa com meu pai, este me relatou: “É, já estou prestes a completar sessenta anos. Pela Lei, com sessenta já se é idoso. Mas isso pra mim não tem importância, porque eu sei que eu não sou! Isso aí são resquícios de leis antigas, do começo do século passado em que as pessoas tinham uma baixa expectativa de vida, e com sessenta anos já estavam com a vida quase ao final. Hoje em dia não! Hoje ainda se está na flor da idade. Eu não me considero velho não! Ainda tô trabalhando, fazendo mil coisas.” [sic]. Diário de Campo: 15/3/2008. Esse relato paterno foi um dos primeiros a me despertar para um novo sentido do envelhecimento na sociedade em que vivemos! Mas, ao mesmo tempo, deixou-me profundamente atenta para uma perspectiva própria das classes médias e alta, que certamente têm como atribuir a esse período da vida um momento de plenas realizações e de retomadas de projetos antes engavetados**. Ao estudar segmentos de classe média, Velho observou que, mesmo advindos da mesma posição socioeconômica, os indivíduos possuíam estilos de vida diferentes, baseados em suas trajetórias individuais10. Essas trajetórias explicariam a escolha de um projeto compreendido como uma conduta que privilegia a escolha consciente individual para compreender determinados aspectos globais de transformação da sociedade. ** Esse exemplo que busquei em minha própria família reflete isso, pois o meu pai, ao aposentar-se do Banco do Brasil, fez vestibular e formou-se em Direito, sonho que cultivou ao longo de sua vida, mas que deixou de lado. 49 Refletindo sobre essa perspectiva e partindo da análise inicial de grupos de idosos de classe média de Fortaleza, temos observado o surgimento de um contexto diferenciado de visibilidade desses sujeitos: eles frequentam espaços variados de lazer e se posicionam como legítimos fundadores de um novo lugar, esse de visibilidade. Esses indivíduos não estão escondidos, mas mostram suas faces no cotidiano urbano, usando a cidade das mais variadas formas. Contudo, esses idosos são portadores de um status social, cultural e econômico que garantiu que eles chegassem onde estão com certa confiança nos novos papéis que portavam como protagonistas de um novo envelhecimento. De acordo com relatos de campo, temos observado cada vez mais que essas pessoas têm se diferenciado e se afastado de lugares antes relegados à velhice. Elas namoram, se exercitam, trabalham, entram em salas de bate-papo on-line, buscam engajamento em novos projetos, sejam eles sociais, religiosos ou culturais. Quando chega à aposentadoria, há uma reorganização de seus projetos de vida, antes voltados para a família, o trabalho e determinados afazeres, dos quais agora se sentem liberados, e são construídas negociações em torno da sua condição recente e daquele que seria seu derradeiro e verdadeiro projeto de vida. O que antes não era permitido por pertencer a um determinado grupo social, para responder a determinadas expectativas, e que agora não importa mais? Que contextos sociais criam disposições diferentes que contemplam a mudança? Nesse sentido, percebemos que é necessário refletir o que seria essa “nova” velhice. Que contexto social cria disposições para um envelhecimento diferente? Como o envelhecimento permite que as pessoas mudem o roteiro de suas vidas? Em que momento as disposições geram uma tentativa de reinventar uma nova idade? Depois dos 60 anos, o que não importa mais e o que passa a ganhar relevância? Lahire4 afirma que cada indivíduo é depositário de disposições de pensamento, sentimento e ação que são produtos de experiências socializadoras múltiplas. O indivíduo é, portanto, definido por essas relações e pertencimentos a diversos grupos. Assim, por ter uma vida multifacetada, constitui-se por vários aspectos ao mesmo tempo. Para ele, não há nada mais social que os problemas pessoais, aqueles que não são indiferentes a nenhum ser humano. Nas diversas escalas de atividades, existem incompatibilidades entre o que somos e o que exigem de nós. Para ele, o mundo social está dentro e também fora de nós. 50 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(1):46-51 Lahire4 afirma, ainda, que, quando refletimos sobre os hábitos dos indivíduos, devemos apreender como esses foram adquiridos e o momento da biografia individual que encontra disposições para agir de determinada forma. É necessário compreender os agenciamentos individuais para conduzir, a exemplo de minha reflexão, uma velhice com projetos de vida positivos. Como esses novos velhos reagem às tensões da modernidade depende também de vivências passadas, como deram respostas ao longo de sua vida a determinadas situações, e dos investimentos pessoais em diversas escalas da vida. Disposições para a sexualidade na velhice “[...] Não tenho, portanto, nenhuma intenção de me apegar tenazmente à vida, mas uma vez que continuo vivo, não posso deixar de sentir atração pelo sexo oposto. E acredito que a atração persistirá até o momento de minha morte.” (Tanizaki, 2007)11 Ao estudar a questão da sexualidade na velhice, eis que possivelmente surge um campo ainda nebuloso. Embora seja mostrada com nova roupagem, resquícios da forma antiga de percebê-la ainda permanecem. Difícil encontrar estímulos e reforço para o exercício da sexualidade plena, quando o vigor, nessa esfera, permanece nas mãos dos jovens. É raro encontrar, na literatura, ou ainda em filmes, novelas, propagandas, casais idosos fazendo sexo, ou mesmo em cenas quentes que despertem a atenção para o desejo. Eles podem, sim, viajar, passear, rejuvenescer, mas parece haver uma rejeição para compreendê-los como sujeitos desejantes, característica fundamental do ser humano do ponto de vista psicanalítico. Lahire4, ao falar das disposições como um campo de infinitas possibilidades, permite pensar que ambientes favorecem o aparecimento do outsider, daquele que, embora tenha um contexto aparentemente inóspito, consegue mobilizar forças e sobressair às adversidades. O ageless, que é aquele que nem é velho nem é novo, reinventa uma nova idade que ainda nem sabe qual é. Esse é o tempo de uma, talvez, assertiva “melhor idade”, mas sendo esta completamente livre de faixas etárias e papéis fortemente agregados. Um relato*** de vida em particular serve para mostrar esses novos lugares conquistados por esses indivíduos, obrigando-nos a arejar nossas ideias convenientes. Trata-se de uma senhora de 82 anos que foi casada ao longo de mais de 30 anos com um ho*** Diário de Campo, março/2010. mem e com ele teve uma filha. Ela disse que nesse relacionamento nunca houve muito romance e que, embora gostasse do marido, não se tratava de amor. Em sua época de casada, o marido, quando desejava ter relações sexuais com ela, passava pela sala assoviando, sinal de que naquela noite ela teria que se deitar com ele. Esse casamento foi bom para ela e representou sua independência financeira, mas o marido faleceu. Viúva, ela disse que, enfim, conheceu o amor. Alguns estudiosos de velhice têm mostrado que muitas mulheres que hoje têm 80 anos acreditam que a sua viuvez deu maior liberdade, tendo em vista que passaram das mãos do pai para as do marido. Este último, muitas vezes, era escolhido de acordo com uma série de critérios estabelecidos socialmente; elas consideravam, além da simpatia, questões referentes a classe social, pertencimentos às famílias tradicionais da cidade, cargos ocupados pelo pretendente etc. No entanto, esse amor que ela traz hoje como perspectiva para a sua vida com mais de 80 anos era, muitas vezes, deixado de lado. Essa mulher idosa vive o presente, pouco importando o futuro. E eis que sua condição atual, advinda de disposições que foram embasadas por um passado determinado, permite que ela possa experimentar novas sensações e sentimentos. E ela ousa. Agora não importa mais classe social, beleza, família, mas o interesse mútuo por um relacionamento com um companheiro que possa preencher sua perspectiva de amor. E eis que, com essa representação em mente, ela começa um namoro em uma viagem para o exterior, que duraria mais de 10 anos e em que estaria até hoje se ele não a tivesse traído. Esse segundo homem que apareceu em sua vida, ela diz ter amado de fato: conheceu e apaixonou-se. Permitiu apaixonar-se mesmo que sua idade já estivesse para lá da chamada meia-idade. Ela aceitou viver dividida entre dois continentes e encarar um namoro “de verdade”, aquele idealizado ao longo dos anos. Contudo, a traição, que poderia ter sido suportada e até silenciada nos anos de seu casamento, agora já não era irrelevante. Afinal, dessa vez, os critérios de escolha do namorado foram totalmente livres de determinantes sociais e estritamente vinculados a desejos pessoais. Isso desperta o interesse da pesquisadora para pensar: o que de fato importa quando não se tem mais a vida inteira pela frente? Essa resposta deverá ser ainda muito fatigada. Hoje ela diz ter um terceiro namorado, que encontrou em salas de bate-papo na internet. Fala dele com muito carinho e não parece sentir vergonha ou negligenciar a sua sexualidade. A filha de seu primeiro Disposições para um novo envelhecimento 51 casamento mora com ela e já tem mais de 60 anos e não se conforma com o fato de a mãe namorar um homem doente e pobre [sic]. Mas a mulher não se deixa abalar pela falta de entusiasmo da filha. Ela hoje pode namorar quem quiser: doente, pobre, feio. dos múltiplos e que traz em seu bojo novos sentidos para práticas tradicionais. Entra em cena uma forma de envelhecer que transpõe categorias etárias historicamente fincadas e que deixa aberto amplamente o plano das ressemantizações. A questão que está por trás de seu interesse é o convívio com alguém que ela escolheu, sem preocupar-se com exigências que antes seriam importantes para nortear sua posição em relação a um homem. Não importa mais se ele tem dinheiro, isso era antes, quando ainda tinha que pensar em seu futuro. Os velhos parecem vivenciar apenas o presente e suas possibilidades. E esse aspecto difere daqueles dos estudos feitos sobre a juventude, cuja preocupação é o jovem como detentor do futuro em suas mãos. A velhice não! O futuro é algo incerto demais para preocupar-se com ele! O idoso hoje está no centro da sociedade capitalista, e não mais relegado às franjas dela. Ele não mais se esconde, sobretudo porque não precisa mais envergonhar-se de ter envelhecido. O que hoje poderia causar vergonha, diante de discursos tanto da ciência quanto da mídia, é não cuidar-se para atingir uma tão almejada “melhor idade”. Os indivíduos acabam por tornarem-se reféns de lógicas e discursos de rejuvenescimento, que parecem privilegiar apenas aqueles que possuem meios para utilizarem essas práticas em seu proveito. Haverá certamente negociações entre aquilo que tem que fazer e o que pode fazer. Depois de certa idade, parece existir uma liberação do que pode ou não ser feito. Parece mesmo haver um afrouxamento das regras antes estabelecidas tão rigidamente. Lahire4, ao tratar das diferentes experiências socializadoras, diz que não podemos desconsiderar que o passado sedimenta, de alguma forma, como os indivíduos reagem de forma diferente ao mesmo stimuli externo e serve de referência para pensar as maneiras “de ver, sentir e agir, isto é, em características disposicionais: propensões, inclinações, hábitos, tendências, persistentes maneiras de ser [...]” (p. 27). Outra consideração importante foi a reflexão sobre diferentes formas socializadoras que sedimentam o passado, gerando disposições nos indivíduos para agir de determinado modo, de acordo com valores e práticas pessoais. Essas disposições refletem na biografia das idosas outsiders, cuja velhice não é o fim, mas a porta de entrada para seguir novos projetos, inclusive no que se refere a buscar relacionamentos afetivos diferenciados daqueles antes vividos. Esse indivíduo idoso, que é plenamente responsável pelo direcionamento de seus desejos e cujas atitudes vão ao encontro do que acredita, certamente tem dispositivos do passado que são acionados para dar conta de sua nova realidade individual. Sua biografia carrega hábitos adquiridos anteriormente e que nesse momento encontra disposição para agir de tal modo, um reflexo de como já vinha sendo conduzida sua vida a partir de seus valores e práticas sociais, que legitimam seu lugar atual na sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo objetivou apresentar impressões primeiras de um estudo sobre a velhice na cidade de Fortaleza: como esses indivíduos se percebem e como organizam suas vidas quando completam 60 anos, idade em que é estabelecida burocraticamente a entrada na velhice. Para tanto, foi necessária uma análise conceitual do que é a velhice e sobre aspectos reflexivos da sociedade moderna. Esta modernidade carregada de senti- Percebo que, mesmo que o aspecto de tabu tenha se esvaído dos estudos da velhice, ainda há algum preconceito com relação à abordagem da sexualidade desses indivíduos. REFERÊNCIAS 1. Peixoto C. Envelhecimento e imagem: as fronteiras entre Paris e Rio de Janeiro. São Paulo: Annablume; 2004. 2. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC; 1989 3. Balandier G. O contorno: poder e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 1997. 4. Lahire B. Retratos sociológicos: disposições e variações indivi­ duais. Porto Alegre: Artmed; 2004. 5. Brasil. Estatuto do Idoso: Lei Federal nº 10.741/2003. 6. Augé M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo: Papirus; 1994. 7. Kaufman SR. The ageless self: sources of meaning in late life. Madison: University of Wisconsin Press; 1986. 8. Bobbio N. O tempo da memória: de senectute e outros escritos autobiográficos. São Paulo: Editora Campus; 1997. 9. Beauvoir S. A velhice. São Paulo: Nova Fronteira; 1970. 10. Velho G. Individualismo e cultura. São Paulo: Jorge Zahar; 2008. 11. Tanizaki J. Diário de um velho louco. São Paulo: Estação Liberdade; 2007. AGENDA DE EVENTOS Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP, ou por e-mail: [email protected] VII Congresso Sul-Brasileiro de Geriatria e Gerontologia / II Simpósio Sul-Americano de Geriatria e Gerontologia / XIII Jornada de Inverno da SBGG-RS / XIII Simpósio Internacional do Instituto de Geriatria e Gerontologia PUCRS Realização: SBGG-RS Data: 2 de junho de 2011 a 4 de junho de 2011 Cidade: Porto Alegre Local: Centro de Eventos PUCRS Seccional: Rio Grande do Sul I Simpósio Baiano de Assistência Domiciliar ao Idoso / II Seminário Temático da SBGG Bahia Realização: SBGG-BA Data: 3 de junho de 2011 a 4 de junho de 2011 Cidade: Salvador, BA Local: Hotel Vila Galé Seccional: Bahia Informações: http://www.planetazulcomunicacao.com.br/ sbgg/sbggjunho2011.htm Curso de Revisão em Temas Geriátricos Realização: SBGG-MG Data: 12 de junho de 2011 Cidade: Belo Horizonte, MG Local: Colégio Arnaldo Seccional: Minas Gerais Informações: [email protected]. VI Congresso Norte-Nordeste de Geriatria e Gerontologia Realização: SBGG-PE Data: 27 de julho de 2011 a 30 de julho de 2011 Cidade: Porto de Galinhas, PE Local: Hotel Armação Seccional: Pernambuco Informações: www.gerontoporto.com.br. VI Congresso de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais Realização: CCM Eventos Data: 24 de agosto de 2011 a 27 de agosto de 2011 Cidade: Ouro Preto, MG Local: Parque Metalúrgico Augusto Barbosa / Centro de Artes e Convenções da UFOP Seccional: Minas Gerais Informações: http://www.ccmeventos.com.br/sbggmg2011/ VI Congresso Centro-Oeste de Geriatria e Gerontologia / IV Jornada Goiana de Geriatria e Gerontologia Realização: SBGG-GO Data: 8 de setembro de 2011 a 11 de setembro de 2011 Cidade: Rio Quente Local: Rio Quente Resort Seccional: Goiás Informações: http://congressocoger2011.com. IAGG Pan American Congress 2011 – “New Directions for Aging” Realização: IAGG Data: 21 de outubro de 2011 a 23 de outubro de 2011 Cidade: Ottawa, Canadá Local: Westin Ottawa Hotel Informações: www.cagacg.ca Instruções aos autores Informações gerais Tipos de artigos publicados A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é a publicação científica tri- A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e Comentários. Esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos Originais. Contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30]. Artigos de Revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estudos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com Introdução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clí­nicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências. Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências bibliográficas. Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências. mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, para veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: revista [email protected]; [email protected], ou por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordância com a cessão de direitos autorais. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução]. Devem ser apresentados na sequência: a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, telefone(s), fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/ mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Métodos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados. Devem se limitar a des­crever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Conflito de interesses Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Require­ments for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www. icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabili­dade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Artigos em periódicos eletrônicos Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Instructions for authors Background Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aim­ing the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members, and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br. Instructions for Manuscript Sending Papers should be sent either by e-mail to: [email protected]; [email protected] or by mail in CD or DVD to: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will receive message acknowledging the paper receipt; should this do not occur up to seven working days from the sending, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stat­ing that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the cession of copyright. Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the their scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized. Research Involving Human Subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (in­stitutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific law requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term. Categories of Manuscripts G&G accepts the following submissions: Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowl­edge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures [not exceed­ing 5]) and references [not exceeding 30]. Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on a certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief Communications. These manuscripts are short articles aiming at release of preliminary results of research; study results involving low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The structure should follow what is requested in an original article. Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduction, Case Report (describing the patient, clinical examination results, follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature), and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and should not exceed 1,500 words and 15 references. Letters to the Editor. Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references. Instructions for Manuscript Preparation Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables); fig­ures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters; b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other man­uscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six key words should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu script theme, words or expressions of known use might be indicated. Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods. This section should have clear and brief description of proceedings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results. This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of Interest Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent shar­ing related to marketed products or technology involved in the manu­ script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. References Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedic­al Journals. Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Examples of reference style: Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Book chapters Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Essays and theses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc. Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Articles from electronic journals Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Texts in electronic format Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 • www.segmentofarma.com.br • [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Relações institucionais: Valeria Freitas Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Marcela Crespi, Philipp Santos e Valeria Freitas Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Designer: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 12102.6.11 Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº 96/08.