Michelle da Silva Rocha RA: 045401 12/02/2010 Seminário de Doença Renal Crônica 1. Definição e classificação (estadiamento) da doença renal crônica. Doença renal crônica é uma síndrome caracterizada pela progressiva perda da função renal, devido a lesão renal e é baseada nos seguintes critérios, definidos pela National Kidney Foundation: diminuição da TFG abaixo de 60 ml/min por mais de 3 meses com ou sem a presença de lesão renal presença de lesão renal com ou sem diminuição da TFG por mais de 3 meses. A presença de lesão renal é definida por qualquer alteração funcional ou anatômica diagnosticada por exame anátomo-patológico ou por marcadores de lesão renal, como alterações em exame de sangue, urina ou por exame de imagem PS: a inclusão de indivíduos com lesão renal sem perda de função é devido ao fato de estes pacientes terem um maior risco de perda de função renal e de eventos cardiovasculares. Classificação da doença: – lesão renal com taxa de filtração glomerular (TFG) normal ou aumentada (> 90ml/min/1,73m2); – lesão renal com TFG entre com diminuição leve (90 e 60 ml/min/1,73m2); – diminuição moderada da TFG (entre 59 e 30 ml/min/1,73m2); – diminuição severa da TFG (entre 29 e 15 ml/min/1,73m2); – Insuficiência renal (TFG menor que 15ml/min/1,73m2) 2. Fatores de risco para desenvolvimento de doença renal crônica. Os principais fatores de risco para a doença renal crônica são: - Clínicos: Diabetes mellitus, HAS, nefrolitíase, ITU e infecções sistêmicas, transplante renal, história familiar de DRC, neoplasia, antecedente de IRA, diminuição de massa renal, exposição a drogas e produtos químicos e baixo peso ao nascer. - Sócio-economicos: idade avançada, baixa remuneração e educação, e algumas etnias. 3. Como identificar a causa primária (etiologia) da doença renal crônica? Avaliação clínica e laboratorial. A história clínica detalhada em pacientes que apresentam fatores de risco associada ao exame físico ( medição de PA, fundoscopia, exame do precordio, abdômen e neurológico e avaliação da presença de edema) e aos exames laboratoriais sugere o diagnóstico da doença de base. A nefropatia diabética e a nefropatia hipertensiva são as causas mais comuns de DRC. Outras causas incluem: glomerulonefrites, pielonefrite crônica, obstrução do trato urinário, doença policística. Os principais exames laboratoriais que auxiliam no diagnóstico são: avaliação da TFG através do clearence de creatinina, avaliação da presença de marcadores de lesão renal (proteinúria de 24h, principalmente).Não há necessidade da presença de qualquer manifestação clínica para o diagnóstico, pois há tendência de aparecerem apenas tardiamente. 4. Quais os mecanismos hemodinâmicos e humorais envolvidos na progressão da doença renal crônica? Há redução progressiva da massa renal que provoca hipertrofia estrutural e funcional dos nefrons remanescente. Essa hipertrofia compensatória é mediada por moléculas vasoativas, citocinas e fatores da crescimento, sendo, no inicio causada por hiperfiltração adaptativa, mediada por aumentos de pressão e do fluxo dos capilares glomerulares. Com o passar do tempo ocorre esclerose dos nefrons remanescente, devido a essas adaptações inapropriadas. Em função disso há distúrbio hidroeletrolítico e do equilíbrio acido base, além de ter uma produção renal de eritropoetina e de 1,25-diidroxicolecalciferol diminuídas. 5. Como diferenciar Insuficiência renal aguda de crônica? Perda da função renal lenta e progressiva, presença de sinais e sintomas de uremia avançada (anemia, coloração amarelo palha, sintomas neurológicos e digestivos) e presença de cilindros largos no sedimento urinário são sugestivos de DRC. Caso haja dúvida, a US pode mostrar rins contraídos ou hipercogênicos na DRC e rins de aspecto normal ou aumentados na IRA. 6. Quais as causas da anemia no doente renal crônica? A principal causa de anemia é a deficiência de eritropoetina, levando a uma anemia normocítica e normocrônica. Porém, associa-se freqüentemente a deficiência de ferro, que ocorre por ingestão insuficiente e por deficiência de absorção no trato gastrintestinal. Contribui ainda a redução da meia-vida das hemácias, deficiência de folato ou vitamina B12. A presença de perdas por sangramentos deve ser pesquisada sempre que houver suspeita clínica ou anemia desproporcional à perda de função renal. 7. Como ocorrem as alterações no metabolismo do cálcio (Ca), fósforo(P) e PTH na Insuficiência renal crônica? Como identificá-las? Há retenção de fósforo inorgânico devido à redução do clearance com conseqüente diminuição de cálcio iônico e diminuída síntese de calcitriol. A hiperfosfatemia com a conseqüente hipocalcemia estimula a secreção de PTH e ocasiona a diminuição da síntese de calcitriol, que é agravada pela diminuição da função renal. A deficiência de calcitriol leva a diminuição da absorção intestinal de cálcio, hipocalemia e estimulo a secreção de PTH, que juntamente com a hiperfosfatemia ocasionam um hiperparatireoidismo secundário. O exame laboratorial de dosagem seriada dos níveis plasmáticos de cálcio, fósforo e PTH ajuda a identificar essas alterações. 8. Qual o quadro clínico e as complicações da doença renal crônica progressiva? A DRC tem influência sobre a maioria dos sistemas do organismo e por se tratar de uma síndrome insidiosa, muita vezes o paciente apresenta-se oligossintomáticos até as fases tardias da doença. Nas fases mais avançadas paciente pode apresentar: HAS, doença cardiovascular (cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, doença cérebro-vascular e doença vascular periférica), anemia, doença óssea (principalmente hiperparatireoidismo secundário, doença adinamica e a osteomalácia), acideose metabólica, desnutrição, edema, hipercalemia, diastases hemorrágicas (devido a alterações do da função plaquetária aumentando o risco de sangramento prolongado), alterações dermatológicas (pele com pigmentação acastanhada, xerática, podendo evoluir com liquenificação, prurido), manifestações neurológicas (mioclonus, flapping, polineuropatia periférica, convulções e encefalopatia uremica), alterações do TGI (anorexia, náusea, vomito,estomatite, gengivite, gastrite, ulceras, pancreatite e diarréias), alem de anormalidades do sistema endocrinológico e imunológico(indivíduo fica mais propenso a infecções). 9. Quais as medidas terapêuticas para retardar a progressão da doença renal crônica? As medidas terapêuticas incluem desde a prevenção dos fatores de risco para a DRC até a instituição de medicação quando essa se faz necessária e indicação do inicio da terapia dialítica em tempo adequado. - tratamento não medicamentoso: controle pressórico( deve ficar em torno de 130x80mmHg), controle da glicemia, dieta hipoproteica, controle da proteinúria, controle da dislipidemia e obesidade, cessação do fumo, evitar desidratação. - tratamento medicamentoso: HAS: IECA ou inibidor do receptor de angiotensina (qdo o paciente apresenta efeitos colaterais ao uso de IECA); freqüentemente faz-se necessária a introdução de um diurético em associação. Proteinúria: IECA e inibidor do receptor de angiotensina, principalmente. Hiperglicemia: uso de insulina para pacientes diabéticos. Anemia: reposição com eritropoetina recombinante humana e correção de eventuais deficiências nutricionais (ferro, acido fólico, vitamina B12). Hiperpotassemia: quelantes de fósforo (carbonato de cálcio, acetato de cálcio, hidroxido de alumínio) Acidose: bicarbonato de sódio. 10. Quais os principais sinais e sintomas da uremia? - Retenção hídrica: edema, hipertensão arterial, hipervolemia, edema agudo de pulmão - Anemia, imunodepressão, tendência a sangramentos - Anorexia, náuseas, vômitos, desnutrição, hemorragia digestiva alta - Adinamia, cefaléia, perda da concentração, monoparesias, asterixis, letargia, torpor, coma, convulsões - Pleurite, pericardite, peritonite - Deficiência de eritropoetina: anemia; deficiência de vitamina D: aumento do PTH e doença óssea; deficiência de hormônios gonadotróficos: amenorréia, oligospermia - Dor, fraturas, deformidades - Prurido, pigmentação - Acidose metabólica, hiperpotassemia - Hálito urêmico 11. Quando indicar terapia substitutiva no doente renal crônico? Quando a depuração de creatinina for menor que 10ml/min ou 15ml/min em pacientes diabíticos e pacientes que estajam nos estágios 4 e 5 deverão receber orientações sobre terapia renal substitutiva. Embora o Tx renal seja a melhor escolha o paciente deverá permanecer em diálise por algum tempo antes da realização do Tx. 12. Quais as alternativas de terapia renal substitutiva? - hemodiálise; - diálise peritoneal; - transplante renal 13. Quando indicar o transplante renal? Existem poucas contra-indicações absolutas ao transplante renal. O paciente deve passar por uma avaliação rigorosa para avaliar risco/benefício; ter expectativa de vida > 5 anos, devido a grande fila de espera. As contra-indicações absolutas são: AIDS e hepatites ativas e existência de anticorpo potencialmente deletério contra o rim doador.