educação de jovens e adultos: os sentidos da exclusão

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: OS SENTIDOS DA
EXCLUSÃO SOCIAL PRODUZIDA PELO CONTEÚDO E ENSINO
DE HISTÓRIA
Grupo Temático: Práticas Escolares e Não escolares e Organizações Alternativas
Tânia Barbosa Martins
Universidade Federal de São Carlos
Esta comunicação constitui uma síntese da nossa pesquisa de mestrado em
desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
São Carlos. Por se tratar de uma experiência em andamento a presente pesquisa necessita
de maiores embates frente aos sentidos em que os jovens e adultos estão construindo sobre
a exclusão social a partir do conteúdo e ensino de História.
Têm sido objeto de nossas preocupações as condições existenciais desses jovens e
adultos, que são sujeitos excluídos do acesso a cultura letrada e dos bens culturais, sociais e
dos direitos de cidadania, parte significante deles, se encontram carentes dos meios de vida
e fontes de bem-estar com rendimentos extremamente baixos, se encontram marginalizados
no mercado de trabalho, fato que é agravado pela falta de informações e precária qualidade
do ensino. Como relata ARROYO (2001), os lugares sociais reservados aos jovens e
adultos, são de marginalizados, oprimidos, excluídos, empregáveis e miseráveis. Nessa
perspectiva, quando pensamos nos sujeitos dessa modalidade educativa, a temática da
exclusão social, emerge como fenômeno característico desses jovens e adultos. Ao
contrário, do que podemos observar, os avanços tecnológicos e crescimento econômico não
vieram acompanhados de melhores condições de vida e progresso. Assim sendo, foi pelas
especificidades desses jovens e adultos que decidimos focalizar a questão da exclusão
social.
Acreditamos que é importante que o jovem e adulto adquira uma visão de mundo
mais consistente, uma percepção mais clara da sua realidade, enquanto sujeitos excluídos
dos seus direitos, dos bens culturais e materiais produzidos pela sociedade hegemônica,
para que possam refletir sobre a realidade em que estão inseridos, contribuindo para uma
ação mais crítica.
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Diante desse fato é que surgiram algumas perguntas: Como o jovem e adulto
constrói sentido sobre a exclusão social? Quais são as variáveis envolvidas nesse fenômeno
de desvendamento do mundo real? Como o jovem e adulto analisa e age sobre sua
realidade?
A história me pareceu uma disciplina essencial, para analisar e identificar os
sentidos em que os alunos da educação de jovens e adultos constroem sobre a exclusão
social e como esses sentidos influenciam nas suas análises sobre a realidade. Como afirma
BASSO (1994: p1), “nessa disciplina a seleção de conteúdos relevantes para a compreensão
da realidade, desvendamento do mundo real e da própria situação sócio-histórica do
educando se apresenta de forma mais direta e mais clara”. Assim, almejamos que o
conteúdo e ensino de História possam realmente contribuir para a formação dos sujeitos,
para que os alunos construam suas identidades, se posicionem no mundo como
protagonistas da história, conquistando sua autonomia, sua libertação, sua humanização, e,
portanto, comprometidos com uma nova ordem calcada na ética e solidariedade.
Após recorrer uma literatura tanto da área educacional quanto da sociológica,
tomamos como referencial teórico à filosofia de Habermas e Paulo Freire. Esta opção para
a abordagem de como os jovens e adultos estão percebendo a exclusão social a partir do
conteúdo e ensino de história se justifica, pois suas teorias articuladas ao ato educativo
podem apresentar alternativas a EJA, contribuindo para que a aprendizagem do aluno se
desenvolva fundamentado no questionamento, problematização e desvendamento do
mundo real. Um professor que inspira sua prática pedagógica nas teorias desses autores
pode contribuir para que os educandos compreendam melhor as contradições da
organização social em que estão inseridos, bem sua própria inserção na realidade.
Habermas faz crítica à racionalidade instrumental, responsabilizando-a por
contribuir para agudizar as desigualdades sociais e os processos de alienação, pois nesse
tipo de racionalidade emprega-se o conhecimento de forma monológica e estratégica. No
entanto, Habermas não permanece imerso no negativismo e pessimismo. Ele busca superar
o conceito de racionalidade instrumental, ampliando o conceito de razão em uma razão
comunicativa. É a através da racionalidade comunicativa que Habermas vislumbra a
possibilidade de que, através do diálogo, o homem possa retomar seu papel de sujeito, pois,
nesse tipo de racionalidade, a relação com o conhecimento acontece de maneira dialógica,
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visando o entendimento. Outro fato, de central importância na filosofia de Habermas é a
sua visão de sociedade. Ele concebe a sociedade em sistemas e mundo da vida, o primeiro
seria representado pelo sistema econômico e o sistema político, e o segundo, de duas
esferas, a esfera da vida privada e a esfera da opinião pública. Para ele, os sistemas tendem
a colonizar os aspectos mais íntimos da vida humana com sua ideologia homogenizadora,
mas quando se busca consolidar na educação uma relação de interação, de diálogo entre
mundo da vida e o sistema, a educação pode ir acompanhada de uma função emancipatória.
Já Paulo Freire, aponta para a necessidade de transpormos de uma educação
bancária para uma educação libertadora. A primeira, é reflexo de uma sociedade opressora,
que tende a promover a cultura do silêncio para assegurar, dessa forma, sua situação de
privilégio. Nesse tipo de educação, os educadores controlam todo o processo de
comunicação a fim de passar os conhecimentos (dominantes) considerados válidos. O
educador é o dono do saber e o aluno, apenas ouvinte, que nada sabe. Em geral, esse tipo de
educação tende a coisificar as pessoas, reproduzindo as relações de poder do sistema
dominante.
Na educação libertadora, ocorre o contrário, entre vários princípios, há
interação entre educador e educando e ambos constroem juntos o conhecimento. O diálogo
entre iguais tem um papel de suma importância, possibilitando uma educação libertadora e
reconhecendo as pessoas como sujeitos do conhecimento. Para Paulo Freire, o papel da
educação deve ter como objeto maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens,
transformando-os para que eles transformem o mundo.
Esses dois autores possuem algumas semelhanças teóricas. Entre várias
aproximações, eles concordam que o advento da nova sociedade da informação agudiza os
processos de exclusão social, principalmente daqueles setores com menos recursos
formativos e que, nesse contexto, a educação possui um papel importante, não só pela sua
função ilustradora, mas sim por sua capacidade de promover o debate público e os
processos de participação social. Segundo GONZÁLEZ, Habermas com a Teoria da Ação
Comunicativa, situa o diálogo e a ação humana no centro das ciências sociais, do mesmo
modo, que anos antes, Paulo Freire, havia concebido a educação como um processo
dialógico no qual educadores e educandos constroem intersubjetivamente o conhecimento.
Enfim, são muitos os elementos que coincidem, eles se situam numa perspectiva
emancipatória apoiados no reconhecimento das capacidades cognitivas e sociais do sujeito
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que aprende e age, ao mesmo tempo, não nega as relações de poder e o intento de
dominação dos sistemas (Habermas) ou a Cultura do silêncio (Paulo Freire). Eles, embora,
partem de pontos diferentes, chegam à mesma conclusão, que a democracia e a igualdade se
fundamentam no diálogo e na comunicação humana.
A partir dessas considerações, acreditamos que essas teorias articuladas ao ensino
de História, destinados aos jovens e adultos, possam contribuir, ao menos, para denunciar
de forma crítica, a situação de exclusão social e para a construção de conhecimentos e
soluções de problemas que visam a inclusão social. Acreditamos que podem contribuir para
um ensino que atenda de maneira mais consistente as necessidades e especificidades desses
jovens e adultos, que provoque o jovem e adulto não somente a ter consciência da realidade
em que estão inseridos, mas para que se mobilizem a favor da concretização dos seus
sonhos, ideais e emancipações. Uma educação que vai além de sua função ilustradora, que
esteja comprometida com as questões sociais, que se preocupe com a baixa auto-estima
desses jovens e adultos, com as dificuldades em colocar-se intelectualmente frente a um
determinado problema e com as afirmações constantes de que não são inteligentes e
possuem dificuldades de aprendizagem e comunicação.
Assim, é tendo em vista esses horizontes que é possível a conquista de uma
consciência mais clara sobre a realidade, que é possível, ainda que na contramão da
história, encontrarmos força para sonhar e ter esperança numa sociedade mais justa e
humana, que objetivamos desenvolver nossa pesquisa com um(a) professor(a), cuja prática
pedagógica é marcada por esses ideários de lutas e sonhos, de desvendamento do mundo
real e confiança nas capacidades desses jovens e adultos como atores sociais, que aprendem
e agem.
Para alcançar o nosso objetivo delinearemos uma metodologia de abordagem
qualitativa do fenômeno a ser investigado. A coleta de dados realizará por meio de
questões auto-aplicáveis, entrevistas semi-estruturadas com alunos e um professor/a e
observações em sala de aula. Além disso, pretendemos dar considerável importância mais
ao processo do que propriamente ao produto, preocupando principalmente com os
significados e sentidos das variáveis contidas na investigação. Pretendemos fazer a
investigação em uma sala de EJA de Pós-alfabetização, que corresponderia a terceira e
quarta séries, por considerar a existência da disciplina de história.
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