FILOSOFIA - UFPR - 2015-2a fase

Propaganda
FILOSOFIA
COMENTÁRIO DA PROVA
A prova foi excelente! Exigente e densa mas evitando temas secundários ou muito prolixos. Pela primeira vez
extrapolou à mera leitura dos textos e trouxe a discussão para o mundo não acadêmico, usando um texto jornalístico.
Cumpriu assim todas as etapas de uma prova de filosofia: contexto, conceito, texto, relação entre textos e extrapolação. Só
podemos parabenizar aos formuladores e esperar novos desafios para o ano que vem. Talvez os professores do
Departamento de Filosofia não saibam o bem que essa prova vem promovendo na melhoria da leitura, reflexão e debate no
Ensino Médio. Oxalá pudesse a prova de Filosofia ser dirigida para todos os alunos e alunas, independente de suas
opções para o ensino superior. O crescimento e a qualidade em termos de leitura, formulação de perguntas pertinentes e
críticas fundamentadas e consequentes é espantosa após alguns meses de estudo de Filosofia. Mais uma vez, parabéns!
Professores de Filosofia do Curso Positivo.
Resolução:
Segundo o filósofo Aristóteles, os vícios tanto do excesso quanta da falta são características da deficiência moral. Porque
os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, enquanto a virtude
encontra e escolhe o meio-termo (mediana) (uma característica da excelência moral) e que está em um ponto equidistante
em relação às extremidades (vício da falta e do excesso).
“A virtude é, portanto, uma disposição adquirida voluntária, que consiste, em relação a nós, na medida, definida pela razão
em conformidade com a conduta de um homem ponderado. Ela ocupa a média entre duas extremidades lastimáveis, uma
por excesso, a outra por falta. Digamos ainda o seguinte: enquanto, nas paixões e nas ações, o erro consiste ora em
manter-se aquém, ora em ir além do que é conveniente, a virtude encontra e adota uma justa medida. Por isso, embora a
virtude, segundo sua essência e segundo a razão que fixa sua natureza, consista numa média, em relação ao bem e à
perfeição ela se situa no ponto mais elevado.” (Ética a Nicômaco, II, 6)
1
FILOSOFIA
Resolução:
Segundo o filósofo Aristóteles, o agir virtuoso pressupõe em agir conscientemente, deliberadamente e baseado em uma
disposição moral firme e imutável. Logo, agir de modo virtuoso depende essencialmente das ações habituais, ou seja,
costumeiras. Afinal, trata-se de como agir e não necessariamente agir sempre do mesmo modo. Porque para que seja
possível o agir ético é necessário também que se tenham condições para praticá-lo. Para que isto ocorra, deve-se ter
conhecimento do que fazer; em seguida, deve-se escolher o ato, e escolhê-lo por ele mesmo; e por fim, sua ação deve
proceder de um caráter firme e imutável.
“Também é mister que o agente se encontre em determinada condição ao praticá-los: em primeiro lugar deve ter
conhecimento do que faz; em segundo, deve escolher os atos, e escolhê-los por eles mesmos; e em terceiro, sua ação
deve proceder de um caráter firme e imutável.” (Ética a Nicômaco, II, 4)
Resolução:
Observe que o próprio texto já traz a resposta para a questão:
“A experiência mostra que, em quase todos os casos, os esforços repetidos, quer do indivíduo, quer do grupo
profissional, acabam finalmente por produzir, dentro do âmbito do paradigma, uma solução mesmo para os problemas mais difíceis.”
Assim, a manutenção do paradigma garante uma estabilidade para que as práticas científicas tenham tempo de amadurecer, desenvolver e alcançar resultados positivos.
2
FILOSOFIA
Resolução:
Segundo Kuhn, a sucessão entre concepções científicas distintas, como o modelo geocêntrico sendo substituído pelo
modelo heliocêntrico, são acontecimentos denominados de revoluções científicas.
As revoluções científicas se caracterizam pela mudança de paradigma.
Resolução:
Porque as ciências maduras apresentam paradigmas fortemente enraizados na comunidade científica, o que dificulta
mudanças nas visões de mundo ou seja, dificulta “a sucessão entre concepções científicas distintas”.
Obs.: Uma referência importante pode ser encontrada no início do livro proposto pela UFPR.
“A educação científica ‘semeia’ o que a comunidade científica, com dificuldade, alcançou até aí – uma adesão profunda a
uma maneira particular de ver o mundo e praticar a ciência. Tal adesão pode ser, e é, de tempos em tempos, substituída por
outra, mas nunca pode ser facilmente abandonada.”
3
FILOSOFIA
Resolução:
0 retorno ao político em Habermas implica a recuperação da capacidade de construção do espaço público no qual seja
exercida a fala e o diálogo e se obtenha o consenso não coercitivo. Trabalhamos essa passagem do texto em nossas aulas,
destacando o sentido crítico que Habermas atribui ao termo “hobbesiano” e o significado de “político” que ele busca
alcançar.
Resolução:
Um dos aspectos mais relevantes e, ao mesmo tempo, delicados do texto, é abordado nesta questão. Habermas deixa
claro que a secularização é a apropriação pelo Estado de funções do Igreja e não a subtração dos sentimentos religiosos
das pessoas. Afirma também que essa postura de uma racionalidade que deseja simétrica à autocompreensão não é bem
sucedida e as pessoas mantêm os resíduos religiosos como componentes de suas visões de mundo, mesmo nos países
nos quais a secularização se deu de maneira intensa e há muito tempo. Com base nisso, Habermas destaca os problemas
que ocorreram em países nos quais a secularização ocorreu de maneira incompleta, inadequada, gerando a sensação de
perda e ressentimento, combustível para o fundamentalismo. Daí o chamamento à reflexão: se nas sociedades
pós-seculares, o resíduo religioso e o sentimento de vazio que afetam o senso comum cientificamente esclarecido é
evidente, o que dizer das sociedade nas quais a secularização tirou mais do que ofereceu, gerando ressentimento e
frustração?
4
FILOSOFIA
Resolução:
Aqui que as palavras “porosidade”, “permeabilidade” ganham sentido. A autocompreensão secular da sociedade não está
livre da perspectiva religiosa. Por isso, qualquer decisão secular deve ouvir aqueles que resistem por razões religiosas,
afinal, os fundamentos morais do Estado liberal e democrático vem da fonte mesma que resiste e contesta. Considerar
essa objeção como uma espécie de veto suspensivo parece ser prudente e uma chance importante de aprendizado.
E qual a principal razão desse cuidado todo com a herança religiosa? Porque ela a [herança religiosa] não se dissipou na
sociedade utilitarista na qual estamos encerrados. Como alerta Habermas: linguagens seculares que apenas eliminam
aquilo em que se acreditava causam perturbação.
5
FILOSOFIA
Resolução:
Discordância de Kuhn em relação à argumentação dos três leitores:
A polêmica começa com o título da obra “A Função do Dogma na Investigação Científica”. Nesta obra o autor defende que
a ciência não está livre do dogma, como crê o senso comum expressado na opinião dos três leitores. Desta forma,
Thomas Kuhn pretende demonstrar que as ciências naturais não estão baseadas no princípio de neutralidade como se
supõe. Ele defende que a ciência tem seu lado dogmática, parte de preconceitos (determinados pelo paradigmas), além
de receber direcionamento e influências econômica e ideológica.
Resolução:
Uma sugestão, partindo do que estudamos, é concordar com o editorial e afirmar, dentro do que Habermas denominou de
Tradução cooperativa de conteúdos religiosos: o senso comum não tem a pretensão de ser exato como as ciências
naturais, mas guarda relações fortes com ela, sem se desprender de sua fonte religiosa. O ponto forte do senso comum
mais apurado é a exigência de justificativas racionais e é o que o aproxima do Estado constitucional democrático. Isto é,
não se trata de um ou outro, de uma exclusão, mas de um combinado no qual o direito racional e as fontes da tradição
religiosa tem vez e voz.
O problema (para muitos religiosos) reside na postura adotada pelos Estados liberais, compostos pelo que Habermas
denomina de senso comum democraticamente esclarecido: ele não reside sobre a visão de uma comunidade religiosa,
mas exige que os crentes estabeleçam uma postura clara de sua fé na dimensão pública — na qual o pluralismo tem de ser
respeitado — e privada — onde é possível exercer plenamente seus dogmas e rituais, desde que não fira as regras
constitucionalmente garantidas para todos.
Em suma: Em um Estado Liberal e Democrático são os religiosos que têm de traduzir as suas convicções de fé para uma
linguagem secular antes de tentar, com seus argumentos, obter o consentimento das maiorias.
6
Download