O significado das “pequenas cidades” na região da Quarta Colônia: tamanho e função conjugando valores Sandra Ana Bolfe¹ Silvane Spolaor² A valorização dos lugares não é mais colocada de forma hierárquica pelo seu tamanho, especificamente às “pequenas cidades”, incorporadas ao processo de globalização. “O período atual da globalização define possibilidades de contatos múltiplos entre cidades de todas as dimensões (...) rompendo as estritas hierarquias (Damiani, 2006, p.136). Nessas cidades coexistem lugares como locais que são mediadores ao desenvolvimento e a dinâmica socioespacial das regiões. Além de pensar as cidades da região da Quarta Colônia, classificadas como “pequenas” pelo seu tamanho populacional (menores que 20 mil habitantes) e como sedes administrativas (IBGE), elas se manifestam no espaço geográfico, enquanto comunidades que viabilizam a reprodução de modos de vida. Nessas cidades pequenas, a história de sua formação socioespacial construiu significados e identidades que procuram fortalecer e representar os valores culturais. Esses valores culturais presentes no modo de vida das comunidades incorporam outros valores que permitem sua revalorização e singularidade. Assim, se busca a identidade das pequenas cidades que formam a região da Quarta Colônia, a qual conjuga valores de modos de vida calcados na ruralidade, como aspecto fundamental para entender como se manisfesta a urbanidade. A partir da concepção de ruralidade e de urbanidade poderemos explicar o significado da “pequena cidade” na região da Quarta Colônia, como manifestações de modos de vida locais que se preservam mesclados com o “moderno”. “Sabe-se que o processo modernizador não se realiza da mesma forma em todos os lugares. Tem-se que, nas pequenas cidades, ele se poderia apresentar mais residualmente”. (Damiani, 2006, p. 137). Isso implica em diferenças temporais e espaciais produzidas pelo modo capitalista de produção que se manifesta nas cidades ou nos lugares representando desigualdades e contradições sociais e econômicas. A ruralidade pode ser observada na região da Quarta Colônia pelos indicadores socioeconômicos e demográficos como: o número da população rural no conjunto da população dos municípios; a proporção das pessoas que vivem nas áreas urbanas e trabalham no meio rural e ainda a proporção das pessoas ocupadas nas atividades agropecuárias sobre o conjunto das pessoas ocupadas no município. A ruralidade também pode ser vista no modo de vida da população que vive nas cidades da região da Quarta Colônia, conservam algumas atividades desenvolvidas no espaço rural como pequenas plantações cultivadas nos quintais das suas casas. Diante da dinâmica socioespacial das cidades da região da Quarta Colônia se destacam os papéis desempenhados por cada uma das suas cidades, sendo mediadoras das relações que acontecem no âmbito urbano/regional. Dentro destas especificidades pode-se citar a cidade de Agudo como destaque no comércio local/regional e a cidade de Faxinal do Soturno como prestadora de alguns serviços no setor da saúde. O espaço rural da região da Quarta Colônia deixa de ser o espaço por excelência da produção agrícola. Nesse sentido, alarga-se envolvendo também as pequenas cidades. Assim o modo de vida rural se faz presente no campo e na cidade e passa a ser denominado de ruralidade. E a urbanidade, da mesma forma, não esta restrita a vida urbana, mas a conquistas políticas da vida urbana diante das contradições da urbanização, buscando superar os problemas urbanos em torno de qualidade de vida e suas condições materiais e sociais. A urbanidade estimularia a organização coletiva da vida urbana e a participação social na gestão. Ainda tem o sentido de sociabilidade, de estar com o outro. (Endlich, 2006) Outro aspecto que dá significado a pequena cidade da região da Quarta Colônia é o seu caráter funcional. A função das cidades nessa região participa de uma rede urbana que se formaliza a partir do planejamento estratégico e se configura hierarquicamente pelo tamanho e funções, em que ainda o aspecto econômico possui o maior peso na valorização dos lugares. Cabe ressaltar que as atividades rurais comandam parte do desenvolvimento econômico das cidades da Região da Quarta Colônia e desta forma, o resultado da produção agropecuária é refletido rapidamente nas atividades econômicas urbanas, no comércio e na prestação de serviços. Sendo relevante considerar que as pequenas cidades diante do processo de urbanização e modernização agrícola deixaram de ser apenas cidades no campo e passaram a ser cidades do campo, desempenhando diversos papéis e funções. DAMIANI, A. L. Cidades médias e pequenas no processo de globalização. Apontamentos bibliográficos. En publicación: América Latina: cidade, campo e turismo. Amalia Inés Geraiges de Lemos,Mónica Arroyo, María Laura Silveira. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, San Pablo. Diciembre 2006. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/edicion/lemos/08damiani.pdf> Acesso: 16 nov. 2008. ENDLICH, Â. M. Pensando os papéis e significados das pequenas cidades do Noroeste do Paraná. Tese de doutorado– Presidente Prudente: [s.n.], 2006. ENGEL, S, A.; SOARES, R. B. O desenvolvimento das pequenas cidades orientado pelo processo de modernização agrícola. II SIMPÓSIO REGIONAL DE GEOGRAFIA “PERSPECTIVAS PARA O CERRADO NO SÉCULO XXI”. Disponível em: < http://www.ig.ufu.br/2srg/5/5-154.pdf> Acesso: 17 nov. 2008. -------------------------------------------------------------- ¹Professora de Geografia/UFSM ²Mestranda em Geografia/ UFSM