Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica X. SILDENAFILA, CITRATO* 1 Introdução A hipertensão arterial pulmonar (HAP) ou hipertensão pulmonar (HP) compreende um conjunto de doenças que tem achados patológicos comuns, porém apresentam diferenças fisiopatológicas e prognósticas. Hemodinamicamente define-se por: pressão média de artéria pulmonar > 25mmHg em repouso ou > 30mmHg durante exercício, com pressão de oclusão de artéria pulmonar ou pressão de átrio esquerdo menor que 15mmHg, medidas através de cateterismo cardíaco direito. Pressão sistólica da artéria pulmonar superior a 35mmHg é sugestiva de hipertensão pulmonar, quando definida por ecocardiograma. 1 A HP é uma doença rara que acomete preferencialmente mulheres jovens, embora possa ser diagnosticada em qualquer sexo e em qualquer faixa etária. A incidência real é desconhecida, mas calcula-se que ocorra um a dois novos casos de HP primária por milhão de habitantes na população em geral. 2 A HP secundária é relativamente mais comum, mas freqüentemente é sub-diagnosticada. No último consenso, realizado em 2003 em Veneza, ficou estabelecida a classificação desta doença, considerando suas diversas etiologias. Essa classificação 7,9,10 estratificou cinco categorias, descritas a seguir: 1- Hipertensão arterial pulmonar 7,9,10 1.1- Idiopática 1.2- Familiar 1.3- Relacionada a doença vascular do tecido conectivo, cardiopatia congênita, Hipertensão portal, HIV, drogas, toxinas e outras 1.4- HAP com significativo envolvimento venoso e/ou capilar 1.5- Hipertensão pulmonar persistente do recém-nascido 2- Hipertensão pulmonar por doença do coração esquerdo 7,9,10 2.1. Doença cardíaca atrial ou ventricular esquerda 2.2. Valvopatias 3- Hipertensão pulmonar por doença pulmonar e/ou hipóxia 7,9,10 3.1. Doença pulmonar obstrutiva crônica 3.2. Doença pulmonar intersticial 3.3. Distúrbios do sono, hipoventilação alveolar, exposição crônica a grandes altitudes 3.4. Anormalidade do desenvolvimento Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected] Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica 4. Hipertensão pulmonar por doença trombótica e/ou embólica crônica 7,9,10 4.1. Obstrução tromboemebólica das artérias pulmonares próximas 4.2. Obstrução tromboembólica das artérias pulmonares distais 4.3. Embolia pulmonar de origem tumoral, parasitas, corpo etranho 5- Miscelânea 7,9,10 5.1. Sarcoidose, histiocitose, linfangiomatose, compressão de vasos (adenopatias, tumores, mediastinite fibrosante). Muitos pacientes apresentam um longo intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico de HP, o que retarda o seu tratamento e abrevia ainda mais o seu prognóstico. 2 A mortalidade associada à HP é extremamente elevada. Uma vez firmado o diagnóstico, a sobrevida média entre os adultos é de 2,8 anos e inferior a 1 ano entre as crianças. 2 Até o momento não existe cura, nem mesmo uma abordagem terapêutica que possa ser recomendada de maneira universal para pacientes com HP. Entretanto, recentes avanços na fisiopatogenia da HP e o surgimento de novos fármacos, com ação vasodilatadora seletiva sobre o leito vascular pulmonar, contribuíram para melhora da sobrevida desses pacientes. 2 A sildenafila é um inibidor seletivo da enzima fosfodiesterase-5, que é responsável pela degradação do monofosfato cíclico de guanosina (GMPc). O aumento da concentração do GMPc relaxa as células musculares lisas, com conseqüente vasodilatação pulmonar. 3 Em revisão sobre o uso de sildenafila na HP, Wannmacher, concluiu que apesar dos estudos terem número restrito de participantes, sildenafila evidencia melhorar sintomas, capacidade funcional e parâmetros hemodinâmicos em pacientes com hipertensão pulmonar grave, seja em monoterapia ou como coadjuvante do tratamento, tanto em adultos como em crianças e recém-nascidos. Em dose única, evita o surgimento de efeito rebote com a retirada de terapia com óxido nítrico. 4 * REMEME 2007, pág. 73. 2 Classificação CID-10 Código I27.0 I27.8 12 Descrição Hipertensão pulmonar primária Outras doenças pulmonares do coração especificadas* * Necessariamente a doença deve ser especificada. Não serão deferidos processos para doenças cuja indicação não esteja comprovada cientificamente. Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected] Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica 3 Critérios de Inclusão Tratamento de pacientes com hipertensão pulmonar (classe funcional III e IV), sem resposta clínica aos bloqueadores de canais de cálcio ou com contraindicação aos mesmos. 5,13 Prescrição médica e laudo para solicitação de medicamentos excepcionais emitidos por pneumologista ou cardiologista ou reumatologista. 4 Critérios de Exclusão Hipersensibilidade à sildenafila Uso concomitante de nitrato 3,6 3,6 5 Posologia e Modo de Usar Em adultos, a dose usual para tratar hipertensão pulmonar é de 20mg, administrado por via oral, três vezes ao dia (a cada 4 a 6 horas), com ou sem alimento. Doses maiores que 20mg três vezes ao dia não demonstraram ser mais efetivas.6 Em recém-nascidos, um estudo controlado, randomizado, avaliou o efeito da sildenafila sobre a oxigenação em crianças entre 35,5 semanas de gestação e 3 dias de idade, na dose de 1mg/kg (em solução preparada a partir de comprimido de 50mg) a cada 6 horas, por via oral, para tratar a hipertensão pulmonar persistente. No grupo tratado, a oxigenação melhorou em todos os pacientes, com sobrevida de 6 num grupo de 7. No grupo placebo, um de 6 sobreviveu. 8 6 Recomendações para Acompanhamento Terapêutico O uso de sildenafila deve ser feito com cautela nas seguintes condições: Deformação anatômica do pênis; Desordens de sangramento ou úlcera péptica ativa; Doença cardiovascular (ex. Isquemia coronariana, falência cardíaca congestiva); Uso concomitante de inibidores do citocromo P450 3A4 (cimetidina, eritromicina, 3,6 cetoconazol, inibidores da protease); 6 6 Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected] 6 Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica Condições que predisponham ao priapismo (ex.: leucemia, mieloma múltiplo, etc); 3,6 Doença hepática; Tratamento antihipertensivo com múltiplos medicamentos; Insuficiência renal; Retinite pigmentosa ou outras anormalidades da retina. 6 6 6 6 Sildenafil é geralmente bem tolerado, com efeitos adversos leves a moderados e em geral transitórios. 11 No tratamento de HP, o índice de descontinuação do tratamento devido aos efeitos adversos foi o mesmo do placebo: 3%. 11 Dor de cabeça é o efeito adverso mais comum, ocorrendo em cerca de 46% dos pacientes com HP, embora menos de 2% tenham interrompido o tratamento por esta razão. 3,11 Outros efeitos adversos: insônia (7%), parestesia (3%), dispepsia (13%), diarréia (9%), alterações visuais, sensibilidade à luz, visão borrada, hemorragia na retina (até 1,9%), hemorragia ocular (1,4%), congestão nasal, epistaxe (13% em HP secundária a doença do tecido conectivo e 3% em HP primária), mialgia (7%). 3,11 Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected] 7 Referências 1 Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica CLASSIFICAÇÃO e avaliação diagnóstica da hipertensão pulmonar. J. bras. pneumol.São Paulo, v. 31, s. 2, p.S1-S8, ago. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S180637132005000800002&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 07 fev. 2008. 2 RICACHINEVSKY, Cláudia Pires; AMANTÉA, Sérgio Luís. Manejo farmacológico da hipertensão arterial pulmonar. J. Pediatr. Rio de Janeiro, v. 82, n..5, p.S153-S165, nov. 2006. ISSN 0021-7557. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S002175572006000700005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 07 fev. 2008. 3 CADA, Dennis J. Drug: facts and comparisons. 61th ed. St. Louis: Wohers Klewer, 2007. p. 814. 4 WANNMACHER, Lenita. Sildenafil: mais potencial do que potência?. Uso racional de medicamentos: temas selecionados, Brasília, v.3, n. 6, p. 1-6, mai. 2006. 5 TRATAMENTO da hipertensão arterial pulmonar. J. bras. pneumol. São Paulo, v. 31, s. 2, p. S17-S23, AGO 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v31s2/25805.pdf. Acesso em: 07 fev. 2008. 6 SILDENAFIL (therapeutic Uses). In: DRUGDEX® Evaluations. USA: T. Micromedex. c19742006. MICROMEDEX® Healthcare Series. Disponível em: http://www.thomsonhc.com/hcs/librarian/ND_PR/Main/SBK/20/PFPUI/lpLD0o2fkOXSp/ND_PG/ PRIH/CS/878535/ND_T/HCS/ND_P/Main/DUPLICATIONSHIELDSYNC/EFA462/ND_B/HCS/PFActi onId/hcs.common.RetrieveDocumentCommon/DocId/0522/ContentSetId/31/SearchTerm/clopid ogrel%20/SearchOption/BeginWith. Acesso em: 07 fev. 2008 7 YOUNG, Thomas E., MANGUN, Barry. Neofax®: A manual of drugs used in neonatal care. 20 8 th ed. North Carolina (USA): Acorn Publishing Neonatal Care. 2007. p. 146. BAQUERO, H.; SOLIZ, A. ; NEIRA, f.; VENEGAS, Sola A. 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Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected] Gerência Estadual de Assistência Farmacêutica 12 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID-10. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas à Saúde. 10. ed. rev. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1997. 13 BADESCH, D.B.; ABMAN, S.H.; SIMONNEAUS, G. et al. Medical therapy for pulmonary arterial hypertension: updated ACCP evidence-based clinical practice guidelines. Chest, v.131, n.6, jun. p.1917-28. 2007. Av. Marechal Mascarenhas de Moraes, 2025 – Bento Ferreira, Vitória/ES – 29052-121 Telefones: (27) 3137-2426 – 3137-2326 (fax) www.saude.es.gov.br - [email protected]